"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

A RENÚNCIA DE BENTO 16 - UMA MÁ E UMA BOA NOTÍCIA PARA OS CATÓLICOS

 


Má notícia para os católicos: “Bento 16 anunciou a sua renúncia”. Boa notícia para os católicos: “Bento 16 anunciou a sua renúncia”. Para que se entenda direito o que quero dizer, será preciso voltar um pouco no tempo, ao processo sucessório que resultou na escolha do então cardeal Josef Ratzinger para o Trono de Pedro.
Que eu me lembre (se estiver errado, alguém o demonstrará), fui dos poucos, talvez o único, dos que escreveram sobre o assunto a fazer a aposta certa no site Primeira Leitura. Dizia-se, então, que, depois de João Paulo II, era chegada a hora de um “papa progressista”, de um papa latino-americano, de um papa africano — misturando-se, de resto, geografia com categoria teológica.
 
Um papa africano não quer dizer, necessariamente, um papa “progressista” segundo os critérios mixurucas que se empregam por aí para definir o “progressismo”. O cardeal Peter Turkson, de Gana, por exemplo, é um crítico das violências cometidas na África por grupos islâmicos.
Os europeus ou os “teólogos da libertação” da América Latina costumam se calar. Mas retomo: todos os que, no fundo, não gostam da Igreja e rejeitam seus postulados — e seu apostolado — tinham uma boa saída para a sucessão de João Paulo II. E valia qualquer um, menos o tal Ratzinger, que, no entanto, se fez papa.
 
Com a renúncia de agora, abre-se a nova temporada de apostas. “Um progressista”, “um não europeu”, “um latino-americano”, o “primeiro papa negro”… Pode acontecer uma dessas coisas ou duas ou três combinadas, claro!, mas o menos provável é que o sucessor de Bento 16 abrace a plataforma do sonho dos laicistas ou “progressistas”, que, para triunfo da lógica (embora tentem fingir o contrário), não têm uma plataforma para fortalecer a Igreja, mas para destruí-la, certo?
Se a Santa Madre adere à plataforma que muita gente pretende modernizadora, a instituição ficaria mais próxima, deixem-me ver, das alas mais à esquerda do Partido Democrata… E a Igreja, é preciso convir, é outra coisa.
 
É, sim, uma má notícia a renúncia de Bento 16 porque ele tem levado adiante uma plataforma de moralização da Igreja — sem promover a carnificina pela qual muitos torciam e sem fazer concessões em matéria doutrinária.
Mas também é uma boa notícia para os católicos (e se está dando pouco relevo a este aspecto) porque papa morto não fala; se não fala, também não intervém, não articula, não negocia, não faz política — tudo aquilo que, vivo, Bento 16 pode fazer nos próximos dias e mesmo nos dias seguintes à sua renúncia, no curso do mês de março, quando, então, se vai decidir o seu sucessor.
 
A primeira renúncia de um papa em mais de seis séculos não é um fato corriqueiro, é evidente.
O fato, em si, evidencia que ele próprio tem claro que deixar a sucessão para depois de sua morte traz embutidos alguns perigos. As teorias conspiratórias se avolumam.
A Igreja sempre excitou a imaginação dos caçadores de tramas secretas. Alguns eventos recentes serviram para conferir verossimilhança mesmo às hipóteses mais estrambóticas.
O jornal italiano Il Fatto Quotidiano, por exemplo, noticiou que o bispo colombiano Darío Castrillón Hoyos enviou uma carta ao papa em que relata uma viagem empreendida à China por Paolo Romeo, arcebispo de Palermo, na Sicília.
Nessa viagem, teria comentado com autoridades chinesas que o papa estaria morto em um ano… 
A China envolvida numa conspiração para matar o papa e entronizar na Santa Sé um agente de seus interesses rende um eletrizante filme B.
A morte de João Paulo I gerou especulações as mais variadas: inventou-se o mito de que queria distribuir as riquezas do Vaticano e, por isso, fora assassinado.
 
Tendo a dar pouca importância a essas hipóteses muito rocambolescas. O mesmo cardeal Ratzinger, que respondeu pela doutrina durante o pontificado do midiático João Paulo II, está presente no papa Bento 16.
Parece-me que ele antecipa a sua sucessão para ter a certeza de que a Igreja não vai se converter apenas num clube de pessoas bem-intencionadas, tarefa que pode ser cumprida por partidos, por ONGs, por associações laicas.
Seu sucessor vai dizer se a renúncia foi o último gesto do cardeal de pulso firme — é a minha aposta — ou se deixa o Pontificado porque incapaz de conciliar as várias correntes da Igreja.
 
13 de fevereiro de 2013
Por Reinaldo Azevedo

2013 COM MAIS INFLAÇÃO E MENOS CRESCIMENTO. É O BRASIL PAGANDO O PREÇO DOS 10 ANOPS DE PT NO PODER


A projeção de inflação medida pelo IPCA para 2013 subiu pela sexta semana consecutiva, de 5,68% para 5,71%, de acordo com a pesquisa Focus divulgada nesta quarta-feira pelo Banco Central. Há quatro semanas, a estimativa estava em 5,53%. Para 2014, a projeção segue em 5,50% há 13 semanas. A projeção de alta da inflação para os próximos 12 meses subiu de 5,47% para 5,49%, conforme a projeção suavizada para o IPCA. Há quatro semanas, estava em 5,53%.
Entre todos os analistas ouvidos pelo BC, a mediana das estimativas para o IPCA em fevereiro de 2013 subiu de 0,40% para 0,41%, abaixo do 0,45% previsto há um mês. Para março de 2013, segue em 0,40%. Há quatro semanas, estava em 0,40%.
Já a projeção de crescimento da economia brasileira em 2013 recuou de 3,10% para 3,09%. Para 2014, a estimativa de expansão subiu de 3,70% para 3,80%. Há quatro semanas, as projeções eram, respectivamente, de 3,20% e 3,60%. A projeção para o crescimento do setor industrial em 2013 caiu de 3,17% para 3,10%. Para 2014, economistas seguem prevendo avanço industrial de 3,70%, mesma projeção da pesquisa anterior. Um mês antes, a Focus apontava estimativa de expansão de 3,24% para 2013 e de 3,90% em 2014 para o setor.
Analistas elevaram ainda a previsão para o indicador que mede a relação entre a dívida líquida do setor público e o PIB em 2013, de 34% para 34,25%. Para 2014, a projeção caiu de 33,10% para 33%. Há quatro semanas, as projeções estavam em, respectivamente, 34% e 33% para esses dois anos.
Juros - Quanto à taxa básica de juros, a Selic, os economistas consultados na pesquisa Focus do Banco Central mantiveram a previsão dos 7,25% atuais ao ano até o fim de 2013. Para o fim de 2014, as projeções seguem em 8,25% ao ano há sete semanas. A projeção para Selic média em 2013 segue em 7,25% ao ano. Para 2014, a Selic média subiu de 8,21% para 8,23% ao ano, ante 8,35% há quatro semanas.
13 de fevereiro de 2013
(Veja com Estadão Conteúdo)
in coroneLeaks

CARAVANA DE LULA SERÁ PRÉ-CAMPANHA DE DILMA


Em privado, Lula diz que a “caravana” que fará nos próximos meses será “parte da pré-campanha” pela reeleição de Dilma Rousseff. “Ela não pode fazer campanha, mas eu posso”, afirma, referindo-se às limitações legais de sua afilhada política.
O morubixaba do PT conta que percorrerá o país “articulado” com Dilma. Já conversou com ela a respeito. Pediu-lhe que não dê ouvidos à “conversa fiada” segundo a qual ele poderia ser, de novo, candidato ao Planalto. “Não existe essa hipótese”, enfatizou na semana passada a petistas que o visitaram.
Lula diz que é preciso respeitar a “simbologia” da política. Acha que, se abandonasse Dilma, deixaria de fazer sentido. “Então eu escolho uma mulher, ela faz um bom governo e eu a atropelo? Não vou fazer isso”. Lula realça que a pupila está bem-posta nas pesquisas.
Mais: como que empenhado em esvaziar o balão de ensaio insuflado pelo pedaço do PT que sonha com seu retorno, Lula soa categórico: mais adiante, diz ele, “mesmo se a Dilma não estiver tão bem, eu vou me abraçar com ela.”
Há cinco dias, Lula livrou-se do último resquício do tratamento do câncer na laringe. Foi liberado pela fonoaudióloga. Diverte-se ao discorrer sobre o uso que pretende fazer da voz nos deslocamentos da propalada caravana.
“Vou falar um bocado de besteira”, diz Lula, entre risos.
Acha que os antagonistas do PT, à frente o tucanato, morderão a isca. “Vão brigar comigo e esquecerão a Dilma.”
Escorando-se na sua decantada intuição, Lula antevê o comportamento da oposição: uma parte dirá que Dilma é mais sóbria que o mentor. Outra parte dirá que o criador quer tomar o lugar da criatura. Num caso ou noutro, Dilma lucrará com a superexposição.
Lula vai preparar o flerte com os refletores num instante em que Dilma enfrenta uma conjunção de dois elementos venenosos: PIB em baixa e inflação em alta. Até onde a vista alcança, o governo está acuado. Na outra ponta, Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB), potenciais adversários de Dilma, estão assanhados
13 de fevereiro de 2013
josias de souza
NOTA AO PÉ DO TEXTO
Quanto a falar besteiras, nada demais, visto que o público que se dispuser a ouvi-lo sequer perceberá... A propósito, alguém poderia informar-me quando foi que ele deixou de falar besteiras? Será que alguém nas arquibancadas do circo gritará: "fale um pouco sobre o ''rosegate'! Não acredito... Mas seria interessante! Ou excitante ...
m.americo

PAPA DEFENSOR DE PEDÓFILOS QUER CANONIZAR OUTRO PAPA DEFENSOR DE PEDÓFILOS*


O papa Bento XVI, acobertador de pedófilos, afirmou há pouco que as autoridades do governo, a sociedade e as instituições italianas devem recuperar suas raízes morais.

"A vocação singular que a cidade de Roma exige hoje de vocês, autoridades de governo, é que ofereçam um bom exemplo da positiva e útil interação entre seu saudável status leigo e a fé cristã", disse a policiais de Roma.
Como se o Vaticano, hoje, tivesse alguma autoridade para reprovar a conduta moral de quem quer que seja.

A crítica do papa é endereçada a Silvio Berlusconi, que teria pago pelos serviços de Ruby, uma prostituta marroquina. Ainda há pouco, uma outra prostituta de luxo, Nadia Macri, disse à TV italiana RAI ter recebido 5.000 euros do premiê para participar de uma orgia no dia 24 de abril do ano passado. Ruby teria participado da "festa" e recebido a mesma quantia.

Em Antrosano, pequeno povoado dos Abruzios, o pároco Aldo Antonelli convocou uma greve de missas, em protesto pela “cumplicidade da hierarquia católica com a política suja”. Dom Antonelli não se referia à cumplicidade do Vaticano com os crimes de pedofilia, mas sua leniência com as orgias de Berlusconi. Ao qual pode se reprovar muita coisa, menos pagar mal às moças que lhe oferecem seus préstimos.

Nos primórdios da Igreja, havia uma grande dificuldade para declarar santo algum crente. Pouco se sabia sobre ele. Hoje, a dificuldade é inversa: sabe-se demais sobre o candidato a santo. Bento XVI está lutando pela beatificação de seu antecessor, João Paulo II. Vamos aos fatos.

Segundo The New York Times, o cardeal Joseph Ratzinger – hoje papa Bento XVI, é bom lembrar - não fez nada para impedir em 1980 que um padre acusado de pedofilia retomasse o sacerdócio em uma outra paróquia na Alemanha. No final de 1979 em Essen, Alemanha, o padre Peter Hullermann foi suspenso após várias queixas de pais que o acusavam de pedofilia. Uma avaliação psiquiátrica ressaltou seus instintos pedófilos.

Algumas semanas depois, em janeiro de 1980, Ratzinger, que era na época arcebispo de Munique, dirigiu uma reunião durante a qual a transferência do padre de Essen para Munique foi aprovada. O futuro pontífice recebeu alguns dias depois uma nota na qual foi informado de que o padre Hullermann havia retomado o serviço pastoral.

Em 1986, o mesmo padre foi declarado culpado de ter agredido sexualmente meninos em uma outra paróquia de Munique, após a transferência para a cidade bávara. Semana passada, novas acusações de pedofilia vieram à tona, envolvendo o início e o fim de seu sacerdócio. Segundo o jornal, "este caso é particularmente interessante porque ele revela que na época o cardeal Ratzinger estava em posição de lançar de processos contra o padre, ou pelo menos, de fazer com que não tivesse mais contato com crianças".

Nada fez. O futuro papa acobertou ainda abusos sexuais de um padre americano, Lawrence Murphy, acusado de ter abusado de 200 crianças surdas de uma escola do Wisconsin (norte dos Estados Unidos), entre 1950 e 1972. Segundo o jornal novaiorquino, o então prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé abriu mão de iniciar os trâmites contra o padre acusado de ter abusado de crianças surdas.

Vamos a seu antecessor, o Karol Wojtyla, mais conhecido como João Paulo II. Além de notório acobertador de pedófilos - sobre sua mesa haviam-se acumulado acusações de pedofilia contra milhares de sacerdotes e também queixas pelo encobrimento desses delitos por alguns prelados nos EUA, Irlanda, Itália, Áustria e inclusive na Espanha - foi o grande protetor do sacerdote mexicano Marcial Maciel, o fundador dos Legionários de Cristo.

Acusado de abusar sexualmente de mais de 20 seminaristas - incluindo os próprios filhos - Maciel teve filhos com várias mulheres e, como um outro santo moderno, o Martin Luther King, foi plagiador emérito: plagiou descaradamente o livro de cabeceira da legião, intitulado Saltério de Meus Dias, e impôs a toda a organização um quarto voto de silêncio para se proteger de denúncias. Um de seus antigos colaboradores o acusa inclusive de ter envenenado seu tio-avô, o bispo Guízar, que apoiou a bem-sucedida carreira eclesiástica do sobrinho no México dos anos 1930.

Deste santo senhor, temos fartas fotos sendo abençoado pelo papa João Paulo II, recebido em audiência especial no Vaticano. Centenas de denúncias sobre o padre Maciel chegaram à mesa de Wojtyla. O papa as desprezou. Maciel enchia praças e estádios de futebol em suas viagens pelo mundo. Era merecedor da benção papal.

Verdade que Ratzinger o expulsou do Vaticano, obrigando o padre Maciel a levar "uma vida reservada de oração e penitência, renunciando a qualquer forma de ministério público". Punição no mínimo carinhosa para um notório pedófilo.

Maciel morreu em janeiro de 2008, no México. Segundo os jornais, Maciel não só teve aventuras amorosas, como em Madri vivia uma filha sua, com nome, sobrenome e um número concreto em luxuosos apartamentos na Calle de Los Madroños. A garota, já madura, chama-se Norma Hilda e fez um pacto de silêncio em troca de uma pensão vitalícia. Quem selou o acordo e cuidou de que a rocambolesca história acabasse aí foi o secretário de Estado do Vaticano, cardeal Tarcisio Bertone, durante uma visita semioficial à Espanha. Ocorreu nos primeiros dias de fevereiro do ano passado. O dinheiro não foi obstáculo. Há décadas que em ambientes hostis o grupo de Maciel é conhecido com ironia como os Milionários de Cristo.

O cardeal Tarcisio Bertone é aquele impoluto senhor que, em fevereiro do ano passado, afirmava ser necessário que os padres pedófilos reconhecessem "suas culpas, já que das provas pode surgir a renovação interior”. Na época do abuso sexual das 200 crianças surdas em Wisconsin, Ratzinger presidia a Congregação para a Doutrina da Fé e Bertone era seu vice. Oito meses depois da denúncia, cardeal Bertoni encarregou os bispos de Wisconsin de instruir um processo canônico secreto que teria podido levar ao afastamento do padre Murphy.

Bertone, segundo o NYT, encerrou o processo depois que padre Murphy escreveu pessoalmente ao então cardeal Ratzinger que não deveria ser submetido a processo porque estava arrependido e em precárias condições de saúde: “Quero simplesmente viver aquilo que me resta na dignidade de meu sacerdócio”, escreveu o padre, já perto de sua morte, o que ocorreu em 1998.

Se estava arrependido, não precisava levar a frente o processo. Não se tratou exatamente, no caso, de uma ação entre amigos. Mas de uma ação entre cardeais. Vai, meu filho, teus pecados te são perdoados.

Volto ao santo padre Marcial Maciel. A benção que lhe foi dada por João Paulo II desrecomenda qualquer santificação. Mesmo assim, Bento XVI quer beatificá-lo. Beatificar criminosos está se tornando norma no Vaticano. João Paulo II não beatificou aquela vigarista albanesa, Agnes Bojaxhiu, mais conhecida como madre Teresa de Calcutá, vigarista de alto bordo e apoiadora de ditadores como Envers Hodja e Baby Doc?

Um papa protetor de pedófilos quer santificar seu antecessor, outro notório protetor de pedófilos. Canonização está se tornando não uma ação entre amigos, mas um conluio de vigaristas. A Santa Madre Igreja Católica Apostólica Romana tem dias insólitos pela frente. Em seu hagiológio, poderemos ver um santo abraçando um pedófilo.


* 23/03/2011

13 de fevereiro de 2013
janer cristaldo

A QUAL INSTÂNCIA O VICE-DEUS APRESENTARÁ SUA RENÚNCIA?*


O cerco se fecha. A edição do New York Times de hoje revela que várias autoridades do Vaticano, entre elas o então cardeal Joseph Ratzinger, encobriram o abuso sexual de 200 crianças surdas por um religioso de Wisconsin, o padre Lawrence Murphy. Em 1996, Ratzinger não respondeu a duas cartas sobre o caso, enviadas pelo arcebispo de Milwaukee, denunciando os crimes.

A notícia repercutiu na primeira página dos mais importantes jornais da Europa, desde o Suddeutsche Zeitung ao Corriere della Sera, passando pelo Libération, Le Monde e El País. Só não encontrei nada no Osservatore Romano, que dá sua primeira página à uma audiência de Sua Santidade dedicada a São Alberto Magno, à celebração da Anunciação na tradição sírio-ocidental, ao encontro entre Obama e Netanyahu e a um plano de desenvolvimento de um bilhão de dólares na Índia.

A affaire envolve também o secretário de Estado do Vaticano, cardeal Tarcisio Bertone, que em fevereiro deste ano afirmava ser necessário que os padres pedófilos “reconheçam suas culpas, já que das provas pode surgir a renovação interior”. Na época das cartas do arcebispo de Milwaukee, Ratzinger presidia a Congregação para a Doutrina da Fé e Bertone era seu vice. Oito meses depois da denúncia, cardeal Bertoni encarregou os bispos de Wisconsin de instruir um processo canônico secreto que teria podido levar ao afastamento do padre Murphy.

Bertone, segundo o NYT, encerrou o processo depois que padre Murphy escreveu pessoalmente ao então cardeal Ratzinger que não deveria ser submetido a processo porque estava arrependido e em precárias condições de saúde: “Quero simplesmente viver aquilo que me resta na dignidade de meu sacerdócio”, escreveu o padre, já perto de sua morte, o que ocorreu em 1998.

Então tá! Se estava arrependido, não precisa levar a frente o processo. Não se tratou exatamente, no caso, de uma ação entre amigos. Mas de uma ação entre cardeais. Vai, meu filho, teus pecados te são perdoados.

Esta é a segunda denúncia, em menos de uma semana, a apontar diretamente para o sucessor de Pedro. Sábado passado, Elke Hümmeler, na Baviera, citava 120 relatos de abusos feitos desde que um padre foi transferido em 1980 para trabalhar com crianças em Munique, mesmo sendo suspeito de ter cometido abusos na cidade de Essen. A arquidiciose bávara foi presidida entre 1977 e 1982 por quem? Pelo cardeal Joseph Ratzinger. O sacerdote, em vez de ser denunciado à polícia, foi submetido a sessões de terapia, endossadas pelo atual pontífice.

Quem acoberta dois, acoberta dez, cem ou quantos forem necessários. Não será de espantar que surjam, nos próximos dias ou meses, novas denúncias da cumplicidade criminosa de Sua Santidade.

Ontem ainda, Bento aceitou a demissão de John Magee, bispo irlandês de 74 anos, secretário de três papas e acusado de encobrir casos de pedofilia na diocese de Cloyne. Em carta pastoral, o papa pediu perdão – mas não punição – pelo acontecido.

Magee pediu demissão ao vice-Deus. Pergunta que se impõe: a quem pedirá demissão o vice-Deus? Ao Big Boss?


* 25/03/2010
PS - Bertoni hoje é papabili.

13 de fevereiro de 2013
janer cristaldo

OS BOATOS NADA SANTOS

 


Esta coluna nega formalmente os rumores de que o senador José Sarney esteja pleiteando o cargo de papa, no lugar de Bento 16. O senador Renan Calheiros também rejeita qualquer pretensão.
 
Certamente têm razão:
num cargo desse tipo, não há como conciliar o trabalho com as exigências familiares. Roseana, Sarney Filho, Renanzinho, de que maneira poderiam auxiliar o trabalho dos pais?

O ex-presidente Lula não se manifestou sobre o assunto, o que só fará depois que viajar para o Vaticano para conversar com o papa renunciante. "Companheiro Santidade, tem mesmo de passar o dia lendo e rezando, junto com um monte de gringo vestido de vermelho que só fala língua esquisita?"
 
Talvez o Gilbertinho, por que não?
Foi seminarista, entende dessas coisas.
Mas quem é que vai lhe contar, depois, tudo o que a Dilma anda fazendo?
O Zé Dirceu, também não:
está com a ficha suja.
Conforme o próprio Zé contou, já foi coroinha, mas terminou sendo afastado da função porque se apropriava de hóstias.

O senador Eduardo Suplicy poderia ser um nome interessante, até porque sua característica maneira de falar já lembra o tradicional cantochão eclesiástico. Mas, quando terminasse de explicar o seu projeto de renda mínima ao Colégio de Cardeais, já estaria na hora do novo conclave.

Há quem lembre um nome tucano, mas até que consigam decidir se é Aécio, Alckmin ou Serra, vários papas terão passado pelo Trono de Pedro. E Serra nem teria como aceitar:
quem acha que é Deus não pode exercer cargos mais baixos.
Predestinados
Mas bem que um político brasileiro mereceria ocupar o cargo. Muitos são extremamente religiosos e sempre carregam um terço no bolso.
Sucesso e insucesso


O abaixo-assinado que pede o impeachment do presidente do Senado, Renan Calheiros, alcançou perto de 1,4 milhão de assinaturas.
Com este número (que a Justiça Eleitoral ainda tem de confirmar), é possível apresentar um projeto de lei de iniciativa popular.
 
Mas, se o caro leitor é contra Renan, não se entusiasme ainda: entre as possíveis leis de iniciativa popular, não há referência a casos de impeachment ou mesmo de afastamento de postos no Congresso. Na mais favorável das hipóteses, o que poderá ocorrer será uma longa batalha judicial.

E, cá entre nós, ache cada um o que achar de Renan Calheiros, será uma batalha injusta:
ele foi legalmente eleito.
Os eleitores de seu Estado, Alagoas, o escolheram para representá-los. Terão os eleitores de outros Estados preferência sobre os alagoanos, na escolha dos representantes de Alagoas?
 
E Renan foi regularmente eleito presidente do Senado por seus pares, que por ele se acham bem representados. Se irregularidades havia, deveriam ter sido levantadas antes da votação.

Desta vez, não
As ações da Petrobras estão caindo, a inflação está subindo, importa-se gasolina e diesel, o crescimento do Produto Interno Bruto é minúsculo, há algumas divergências a respeito da maneira pela qual as contas oficiais estão sendo acertadas.
 
Mas não se pode colocar a culpa em Guido Mantega:
não foi ele que suspendeu os leilões de lotes petrolíferos, não foi ele que obrigou a Petrobras a vender seus produtos no mercado interno a preços mais baixos do que pagou, não foi ele que criou despesas e cargos para atender a demandas político-partidárias.

Tudo isso chegou pronto a ele, que leva a culpa por ser quem anuncia as más notícias. Mas quem conhece Guido Mantega tem a certeza absoluta de que não é ele o culpado pelos acontecimentos indigestos.

Como de costume, ele não fez nada.

Às armas! 1

O novo Fórum de São José dos Campos, SP, não é um prédio adaptado:
foi construído levando em conta suas finalidades.
Não é uma construção baratinha, para quebrar o galho:
custou R$ 30 milhões.
 
E, mesmo assim, a carceragem, o local onde ficam os presos, muitos deles perigosos, está exatamente em frente ao depósito de armas.
Apenas duas portas, a da carceragem e a do depósito, separam os presos das armas ali armazenadas. Mais uma crônica da tragédia anunciada.
Às armas! 2


A Rodovia dos Tamoios, que liga o Vale do Paraíba ao Litoral Norte do Estado de São Paulo, está sendo duplicada pelo Governo do Estado. A época escolhida pelo governador Geraldo Alckmin, PSDB, não poderia ser menos adequada:
dificulta o trânsito durante as férias, os feriados de fim de ano, o Carnaval e a Semana Santa.
 
Mas há coisa pior:
construíram casinhas ao longo da estrada e ali armazenaram a dinamite necessária para as obras.

Os bandidos aceitaram o gentil convite e já roubaram, só ali, 85 toneladas, prontinhas para facilitar seus assaltos.

Questão de justiça


Tudo bem, os políticos brasileiros estão fora de cogitação para o lugar do papa. Mas, no país do Carnaval, quantos deles poderiam ser eleitos, cantando Mamãe eu Quero, para Rei Eu Mamo?
 
carlo brickmann
13 de fevereiro de 2013

HÁ ENORME PERPLEXIDADE DENTRO DO GOVERNO DILMA COM A DISPARADA DA INFLAÇÃO

Perplexidade
 
Nos últimos dias, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, deu declarações que não são do seu estilo. Reconheceu que está “desconfortável” com a escalada dos preços e admite que essa inflação persistirá nos próximos meses.
Por enquanto, põe fé em que lá pelo final deste ano voltará a convergir mais ou menos espontaneamente para a meta.

A estratégia de esperar para ver parece perigosa. Não está claro se o governo Dilma está em condições de enfrentar o estresse de uma inflação acima de 6% ao ano por mais cinco ou seis meses. Além disso, está operando muito próximo dos limites. Não há folga para enfrentar imprevistos nem o que o então deputado Tancredo Neves chamava de “o imponderável”.

MANTEGA_TOMBINI_RICARDO_MORAES_REUTERS.JPG
Mantega e Tombini. Sem sintonia (FOTO: RICARDO MORAES/REUTERS)

Do ponto de vista das atuais autoridades, essa inflação aí já é parte do imprevisto e do imponderável. Nem o Banco Central nem a Fazenda esperavam por tanto. No último Relatório de Inflação, editado em dezembro, o Banco Central projetou para todo o ano de 2013 uma inflação de apenas 4,8% – número que, pouco mais de um mês depois, aparece como fortemente irrealista.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, por sua vez, vinha apontando a baixa ou a relativa estabilidade dos preços internacionais das commodities como fator decisivo para redução das pressões inflacionárias internas.

Em outras palavras, todo o governo Dilma vem sendo surpreendido pelos fatos. Apostou todas as fichas na forte reaceleração da economia e vem trombando com a sucessão de pibinhos. Anunciou grandes investimentos, mas não consegue agilizá-los.

Proclamou que a inflação seguiria comportada sem a necessidade de novos antídotos e, no entanto, vai sendo atropelado por esses números preocupantes do IBGE. Imaginava que a desvalorização cambial (alta do dólar) devolveria a competitividade ao setor produtivo, mas não consegue garantir o câmbio real (descontada a inflação) pretendido.

Se é surpreendido pelos fatos, é óbvio que o governo não conduz o processo. Está, sim, sendo conduzido por ele.

Às vezes as autoridades dão sinais de que percebem a desarrumação dos fundamentos da economia. Mas não conseguem garantir nem disciplina orçamentária, nem inflação na meta, nem o câmbio prometido e muito menos o crescimento econômico projetado.

Basta ver a série recente das estatísticas do IPCA para saber que, ao menos por seis meses, a inflação anual tenderá a ficar acima dos 6,0%. É um período longo demais para que o Banco Central e a Fazenda sigam somente divergindo e se omitindo mutuamente, vendendo essas diferenças como prova de independência recíproca.

Caso as despesas públicas sigam o ritmo previsto; caso o câmbio não possa ser usado como âncora dos preços; e caso o Banco Central siga impedido de puxar pelos juros, o ajuste se fará com mais inflação e menos crescimento econômico.

O problema é que essas coisas cobram um preço. Por enquanto, a presidente Dilma ostenta uma enorme poupança política. As classes médias brasileiras parecem satisfeitas porque hoje tem mais emprego, compraram carro, se alimentam melhor e, se não viajaram para Miami, já estão providenciando passaporte.

Enfim, a conta ainda não foi apresentada. Mas pode começar a ser na hora mais imprópria para o governo, às vésperas das eleições de 2014.

CONFIRA


Aí está a evolução do valor do dólar americano em pesos argentinos, tanto no mercado oficial quanto no informal (dólar blue), desde março de 2012. A brecha entre as duas cotações, que em 31 de janeiro chegou ao patamar de 59,0%, recuou para 51,9% no último dia 8.

13 de fevereiro de 2013
Celso Ming - Estadão

"CINZAS E REPETIÇÕES"

Um jornalista um dia me perguntou:
como é que pode ter uma festa tão rica num país tão pobre?
Eu disse: precisamente por isso
 
Nessa vida todo mundo, querendo ou não, é pautado. Todos somos levados, obrigados, arrolados ou dirigidos a fazer muita coisa. Algumas impossíveis, como não mentir ou ser pusilânime. No caso do jornal temos que escrever; no caso da vida, de seguir alguma regra ou viver com ou sem o bom-senso.

Os planos para nossas vidas existem antes do nosso aparecimento no mundo. Antes do nosso nascimento pai e mãe tinham expectativas fulminantes relativamente às nossas vidas.

Nossas pautas existenciais são os projetos e esquemas que figuram na nossa sociedade e cultura: instruções do tipo como comer, vestir-se, limpar-se e dormir — caminhos simbólicos e reais a serem necessária e precisamente percorridos como a escolha de certas profissões e valores religiosos e políticos; rituais de crise de vida ou de passagem celebrados em nossa honra ou para os outros, os quais temos de — querendo ou não — acompanhar.

Do nascimento até a morte seguimos esquemas precisos e implacáveis e mesmo depois de termos partido, continuamos a segui-los porque não há sociedade que abandone seus mortos.

As festas nos pautam coletivamente. Antigamente como ritos obrigatórios, hoje como feriados que nos permitem a evasão. Tal experiência acaba de ocorrer com o carnaval que terminou ontem e, como eu tenho a obrigação de escrever na quarta-feira, todo ano eu tenho uma pauta suculenta sobre o qual escrever: o carnaval e seus arredores, que são densos, fartos, curiosos e inflamados de símbolos e textos.

As cinzas são a consumação do fogo. O fogo é sinal de vida ativa que passa de brasa a cinza. O pó para qual tudo tende. A entropia que sinaliza o desgaste final de qualquer forma ou armadura em fluxo.

Todo ano tem carnaval que é metaforicamente fogo e que termina metonimicamente na da Quarta-Feira de Cinzas. A repetição fala de algo planificado e anunciado. As celebrações são repetições que extinguem o tempo, ou pelo menos tentam lutar contra ele, como ocorre nas musicas e dramas quando o palhaço cai sempre no mesmo lugar.

A mesma festa no mesmo país numa mesma época promove um sentimento único de dizer quem somos. Tudo passou e mudou menos o momento da festa. Até mesmo a festa também mudou — seja o truísmo boboca — mas continua sendo a mesma festa. No carnaval, como sabemos, tudo cabe porque tudo é possível na celebração daquilo que não deve ser levado a sério, mas que é uma das instituições mais graves do Brasil.

Aceitamos incompetências e malandragens políticas, mas não aceitamos quem ofenda o carnaval. Mudamos algumas vezes o regime e tem gente trabalhando ferozmente para mudá-lo novamente. Mas não uma proposta para mudar o carnaval. Aliás, falar em suprimi-lo promoveria uma revolução.

Estou, pois, reiterando essa alternância de fogo com cinza, de carne com peixe, de riso com seriedade, de alegria com circunspecção, de exagero com controle que nós realizamos todo ano como carnaval sem saber de todas as suas implicações.

Tudo mudou e tudo continua na mesma. Meus amigos mais politizados estão saindo em blocos e dizem que estão revivendo um carnaval de rua que eu bem conheci. Os blocos são sintomáticos desse desejo insaciável de pertencer a um grupo fechado? Ou são, como no meu tempo, uma prova do desejo igualmente inextinguível de singularizar-se contra um outro grupo da mesma magnitude social, como ocorre nos grandes desfiles?

Do mesmo modo, num mundo de dinheiro racionalmente acumulado, de trabalho e poupança, onde o futuro tem que ser comprado ou se transforma em divida, o carnaval leva a gastar e apresenta uma estética de exagero e luxo, como definiu com propriedade Joãozinho Trinta. Rico gosta de pobreza, pobre adora luxo. Não vemos riqueza no carnaval. Vemos o luxo do desvalido vestido de deus ou deusa, espalhando riso e alegria. Um jornalista um dia me perguntou: como é que pode ter uma festa tão rica num país tão pobre?

Eu disse: precisamente por isso! Boas cinzas.

13 de fevereiro de 2013
Roberto DaMatta, O Globo

AÇÕES INTEGRADAS

 

A expansão do crack reclama ações urgentes em duas frentes, a do abastecimento e a do consumo.
Ambas têm indicadores alarmantes. O Brasil, que já se consolidou na triste posição de rota preferencial do tráfico internacional de cocaína, parece caminhar para também ocupar um lugar de ponta no mercado mundial dessa droga, segundo projeções da ONU.

Atualmente, somos o terceiro no mundo no ranking dos maiores consumidores da terrível substância. A previsão das Nações Unidas se assenta nessas duas evidências: o consumo interno aquecido e as rotas que asseguram o movimento de exportação e importação de entorpecentes são inquestionável sinal de que a situação pode descambar para o descontrole.

Na ponta do provimento do mercado, deve-se recorrer a ações integradas das três instâncias do poder público, com ênfase na repressão aos grupos de traficantes e à rede criminosa que garante a circulação da droga.

Disseminado por praticamente todo o país, o crack já causa problemas no sistema de saúde de 64% das cidades brasileiras, diz a Confederação Nacional de Municípios.

O Brasil consome até uma tonelada de crack por dia, segundo a Polícia Federal. Com tais números, o combate ao tráfico para asfixiar o abastecimento dos pontos de venda é uma unanimidade.

Já na outra ponta do problema, a das consequências, as ações envolvem questões mais complexas, principalmente no âmbito do tratamento a ser dispensado aos usuários.

Em São Paulo, o poder público retomou a política de recolhimento, nas cracolândias, e internação compulsórios de viciados.

O Rio divide-se entre adotar ou não essa linha de ação, ora hesitando em seguir tal procedimento, ora fazendo incursões em áreas de comércio e consumo da droga atrás de viciados.

A dificuldade de estabelecer uma política unificada, em todo o país, nessa ponta do flagelo, implica levar mais a fundo as discussões sobre os procedimentos mais indicados para enfrentá-lo. Algumas iniciativas são inquestionáveis (ainda que, infelizmente, a unanimidade sobre a sua necessidade não seja capaz de superar leniências do poder público na sua adoção).

É crucial, por exemplo, que qualquer política de redução de danos parta do princípio de que o crack espalha-se pelo país com características de uma epidemia — terreno, portanto, de tomar providências na área da saúde pública.

Também é imprescindível que municípios e estados criem sistemas multidisciplinares de atendimento (médico, psicológico, social) aos viciados, com a criação de espaços de acolhimento que não sejam meros depósitos de ineficazes programas de “prende-solta”.

Ao contrário, devem funcionar como estágio de recuperação dos usuários. Dentro dessa filosofia, o acolhimento compulsório tem de ser a última instância — aquela em que estão em jogo a vida, a integridade física do viciado, bem como a preservação da segurança da sociedade — e não a linha preferencial das ações de combate ao crack.

13 de fevereiro de 2013
Editorial O Globo

ONDA DE AUMENTOS: NEM O FEIJÃO COM ARROZ ESCAPA

Em dez anos, o feijão já subiu 197,22%. No ano passado, preço do arroz disparou: 36,67%


Segundo o IBGE, no acumulado de 2003 a 2012, os reajustes do preço do feijão chegaram a quase 200%
Foto: FOTO: Felipe Hanower / Agência O Globo
Segundo o IBGE, no acumulado de 2003 a 2012, os reajustes do preço do feijão chegaram a quase 200%FOTO: Felipe Hanower / Agência O Globo
 
BRASÍLIA — Os consumidores estão sem saída na hora de escolher a cesta de produtos que vão à mesa. Com a produção abalada por quebras de safras e problemas climáticos, nem mesmo os itens mais tradicionais do prato brasileiro escaparam da onda de aumentos registrada nos últimos dez anos, acentuada nos últimos meses.
Dados do IBGE mostram que, no acumulado de 2003 a 2012, os reajustes do preço do feijão chegaram a quase 200%, ante uma inflação de 76,62% no período.
 
O arroz, embora tenha permanecido com preço estável nos primeiros nove anos do governo petista, ficou 36,67% mais caro somente em 2012. Na década, subiu 38,55%.
No ano passado, os valores da dupla arroz e feijão subiram mais de 30%, enquanto o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou em 5,84%.
Veja também
 
O item da cesta que mais aumentou foi o feijão mulatinho, 197,22% desde 2003, mais que o dobro da média não apenas da inflação oficial medida pelo IPCA, mas de todo o grupo alimentação, que teve alta de 90,27%. O preço do feijão carioca (rajado) sofreu reajuste de 94,61% e o do preto, de 48,24% no mesmo período.
 
Salomão Quadros, superintendente adjunto de inflação da Fundação Getulio Vargas (FGV), atribuiu esse movimento, sobretudo, aos problemas na produção e à diminuição da área plantada. Nos momentos em que o cultivo de feijão fica menos vantajoso, os produtores migram para soja e milho.
— Há um deslocamento na produção. A de feijão, por exemplo, está sujeita a riscos. Se em um ano ela não está boa, no outro, melhora — destacou.
 
Sem vislumbrar um alívio no orçamento, a diarista Ivone Maria de Sousa faz pesquisa em, pelo menos, quatro supermercados antes de encher o carrinho. Ela lembrou que há dois anos pagava entre R$ 6 e R$ 7 por um pacote de cinco quilos de arroz, hoje o preço ultrapassa R$ 10.
— Além de realizar muita pesquisa, procuramos os dias de promoções específicas nos supermercados — disse.
 
A dona de casa Maria José Dias trocou as marcas dos alimentos. O pacote de feijão, que antes custava cerca de R$ 2, agora não sai por menos de R$ 4. A saída, disse ela, é andar de mercado em mercado e acompanhar as ofertas pela televisão para encontrar alimentos mais baratos.
Com uma dieta especial, o aposentado Marcelo Moreira do Bonfim notou que o preço do litro de leite de soja mais do que dobrou em um ano, de R$ 2,50 para R$ 5,19. As cestas de frutas e legumes também pesaram muito mais no bolso.
— Eu aproveito as promoções para comprar. Mesmo assim, em um ano, passou de R$ 32 para R$ 70 o meu gasto com esses alimentos.
 
A comerciante Tânia Barros reclamou do preço da farinha de mandioca. Não sem motivos. Segundo o IBGE, o item ficou em quarto lugar no ranking da inflação de alimentos na última década, com reajuste de 273,09% desde 2003, atrás do sal, do caranguejo e da mandioca.
— Custava R$ 4 no ano passado. Agora, pago R$ 7.
 
A gerente do IPCA, Irene Machado, observou que, para quem come fora de casa, os reajustes foram ainda mais salgados. Enquanto a alimentação no domicílio aumentou 77,15% em dez anos, as pessoas que comem na rua passaram a pagar, em média, 134,52% mais caro.
A maior elevação foi no caso do tradicional cafezinho, que sofreu reajuste de 142,24% em uma década. O café da manhã aumentou 134,06%; a refeição, 139,82%; e o lanche, 141,50%.
 
— Com a melhoria da renda, muitas pessoas absorvem esse aumento. Mas pode ser que outras até voltem a comer mais em casa — disse Irene..
 
O feirante Florentino Raimundo da Silva almoça cinco vezes por semana na rua. O prato, que no início de 2012 custava R$ 7, agora não sai por $ 9,50:
— Só como em casa duas vezes na semana.
 
Para atender à crescente demanda, o Brasil importa esses alimentos e tem hoje a China como principal fornecedor. As compras do país asiático cresceram 175% em valor e 132,4% em quantidade.
 
Os chineses tiraram a liderança da Argentina. O diretor de política agrícola da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Silvio Porto, espera uma queda nos preços do arroz e do feijão, graças ao aumento da produção.
Ele lembrou que, no ano passado, a colheita de arroz diminuiu dois milhões de toneladas:
— Serão mais de 12 milhões de toneladas de arroz e 3,3 milhões de feijão.

13 de fevereiro de 2013
Eliane Oliveira
Cristiane Bonfanti

O REI MOMO DO BRASIL

 

RUTH DE AQUINO  é colunista de ÉPOCA raquino@edglobo.com.br (Foto: ÉPOCA)Ele não pesa 100 quilos, mas foi coroado Rei Momo ao receber de mascarados as chaves do Senado, a Câmara alta do país.

O peemedebista Renan Calheiros, eleito com votos secretos dos camaradas, presidirá sua primeira farra: 14 dias de folia. A festa prolongada foi decretada depois de um mês e meio de recesso e apenas dois dias de “trabalho”.

Isso não existe em nenhum país com um Congresso que se preze. Mas quem exatamente se orgulha do atual Congresso brasileiro?

É prudente rasgar a fantasia de representantes do povo se saírem em algum bloco. O blocão dos envergonhados e sem-vergonhas só escapa de ovos e tomates porque está encastelado em Brasília e goza férias em ilhas da fantasia.

Segundo uma enquete do jornal Folha de S. Paulo, 56 senadores votaram em Renan, mas só 35 admitiram que sim. Ausente e alheio, o senador tucano Aécio Neves foi visto em cima de um muro, com cara de paisagem. Os tucanos fazem parte de uma espécie em extinção no Brasil: a oposição.

Enquanto os passistas assalariados precisam voltar ao batente na Quarta-feira de Cinzas à tarde ou na quinta-feira de manhã, a corte momesca de Renan e de sua rainha – o deputado Henrique Alves, presidente da Câmara – poderá prorrogar o Carnaval sem culpa ou temor.


Renan determinou que não haja votação quinta e sexta. Uma pequena manobra para pagar na íntegra os contracheques de R$ 26.700 aos travestidos de senadores. Está na hora de gastar o 14o e 15o salários a que têm direito, pelo regimento interno.

“Quando voltarmos do Carnaval (dia 19, terça-feira), vamos ter quórum para votar”, disse Renan, o ético. Nada foi votado na semana passada. Compreensível.

A prioridade é coisa pouca – o Orçamento de 2013, que deveria ter sido aprovado no ano passado.
Você lembra por que não foi. O Congresso, em greve branca, produziu uma pantomima antes do Natal para resistir às cassações de parlamentares pelo Supremo Tribunal Federal.
Renan Calheiros preside o Senado por culpa do rabo preso dos senadores e da falta de cultura política
 
Agora, o Orçamento não foi votado por um motivo, segundo Renan: “O óbice foi que a oposição não queria votar”. Óbice? Nosso idioma é muito rico, mas “óbice”? Olhei no dicionário. Sinônimos: atravanco, embaraço, empecilho, estorvo, impedimento, obstáculo. Não aguento Renan falando “óbice”. Soava mais convincente quando cantava para a amante Mônica Veloso “o que faço da minha vida sem você”.

Mônica o descreve, em seu livro O poder que seduz, de 2007, como “o docinho meigo e meio gordinho” que queria pular Carnaval de rua com ela na Bahia. O óbice era o casamento. Renan foi gravado em fitas por Mônica, já grávida, e tachado de “bobo” pela mulher, Verônica. Em epoca.com.br, há uma resenha minha, chamada
“Um livro escrito nas coxas. Mas que coxas”. Num trecho do relato, Mônica escreve que “a vida caminha mesmo em círculos”. Hoje, o clichê parece profecia.

Nem a denúncia da Procuradoria-Geral da República contra Renan, nem a petição pública com mais de 2.400 mil* assinaturas comoveram políticos.

No país da Ficha Limpa e do julgamento do mensalão, soa retrocesso. Sua foto rindo com Collor não me incomodou nem surpreendeu. O mesmo estofo, o mesmo cinismo, conterrâneos da safadeza... por que não dariam gargalhadas? Algum talento cara de pau Renan deve ter herdado, como marimbondo-mor de José Sarney. O padrinho agora pretende escrever sua autobiografia, escondendo, claro, a miséria a que ele e sua filha condenaram o Maranhão.

Surpreendente e positiva foi a reação organizada de centenas de milhares de brasileiros, que se insurgiram contra a dança viciada das cadeiras no Congresso. E em pleno verão, estação das consciências derretidas pelo calor. Não desanimem. Renan preside o Senado por culpa do corporativismo, do rabo preso dos senadores e da falta de cultura política. Não será assim para sempre. Renovar o Congresso exige tempo, investimento em educação, reforma partidária, voto consciente – e, a meu ver, não compulsório.

Quem lê, sabe que não foi concluído o processo contra Renan. Ele é acusado de usar notas falsas e bois-fantasmas para justificar o pagamento de uma pensão para a filha Catarina, da ex-amante. Há documentos provando que mentiu. Os R$ 16.500 eram entregues mensalmente em dinheiro a Mônica pelo lobista da empreiteira Mendes Júnior, beneficiada com uma obra no porto de Maceió. Segundo a denúncia do procurador Roberto Gurgel, Renan também desviou dinheiro do Senado. Em sua posse, Renan falou em nome da ética. Muitos pensaram ser ironia.

Leitores se sentiram ridicularizados.

Segundo a mitologia grega, o deus Momo acabou expulso do Olimpo porque se divertia ridicularizando as outras divindades. Na Roma antiga, o Rei Momo era coroado anfitrião de três dias de orgia. Desfrutava todas as regalias durante a festa, como comidas, bebidas e mulheres. A lenda é trágica: no fim, o Rei Momo era sacrificado no altar de Saturno.


Por onde anda esse Saturno?

13 de fevereiro de 2013
RUTH DE AQUINO é colunista de ÉPOCA
* ATUALIZANDO

RATZINGER E O PARADOXO DO CONSERVADORISMO


 



Por mais paradoxal que possa parecer, debatemos a renúncia do Papa Bento XVI em plena 4ª feira de cinzas, dia de encerramento da maior festa do país, por sinal, profana.

Como sempre, analiso o ocorrido sob o prisma da base da pirâmide. No caso, a partir de duas décadas de convivência com agentes de pastorais leigos, padres e freis vinculados à quase moribunda Teologia da Libertação, versão popular do cristianismo que o ex-secretário do polonês Karol Wotjyla tanto combateu.

Joseph Ratzinger, possivelmente, deixa o cargo por exaustão física e desgaste mental, ao perceber a incompatibilidade entre a produção intelectual de alto nível e a gestão executiva de um Estado supranacional, com burocracia autônoma e formas de financiamento pouco ou nada justificáveis.

Se analisarmos as relações de força por dentro da Cúria Romana e das congregações hoje hegemônicas, verificaremos que alas conservadoras como Opus Dei, Comunhão e Libertação e Legionários, brigam entre si como facções rivais sem distinção de projeto teológico.

No alto da pirâmide do apostolado romano, as relações entre fé e dinheiro são no mínimo promíscuas. Esta afirmação comprova-se com o império imobiliário denunciado pelo The Guardian e antes a falência fraudulenta do Banco Ambrosiano.

Em sua base, o conservadorismo católico afasta-se do dia a dia das pessoas comuns, reforçando a predileção pelo rito e disputando o rebanho com outras instituições religiosas de conversão massiva.

No Brasil, podemos fazer uma comparação nada esdrúxula. Qual seria a diferença substantiva entre um pastor neopentecostal fazendo pregação conservadora em um horário pago de TV e um padre ou bispo, realizando as mesmas pregações em um canal próprio? Talvez, a única distinção seja a da responsabilidade, pois para ser ordenado padre é preciso no mínimo oito anos de estudo, equivalente a dois cursos de nível superior.

Vivemos na plenitude da hipocrisia. Condena-se um pastor por sua grotesca pregação de homofobia, mas calamos diante de intelectuais de batina, em sua maioria filósofos e teólogos, falando exatamente a mesma coisa. Após servir lealmente para o avanço conservador no papado de João Paulo II, Ratzinger exauriu suas forças por também colher o que semeou.

O paradoxo da tristeza é ver, na América Latina, as obras de pessoas como Camilo Torres, Óscar Romero, Samuel Ruiz, Pedro Casaldáliga, Ignacio Ellacuría, Hélder Câmara, Paulo Cerioli, dentre milhares de outros religiosos, submetidos a este tipo de hierarquia eclesial.

13 de fevereiro de 2013
Bruno Lima Rocha é cientista político

VEM AÍ UM CONCLAVE INESQUECÍVEL

 

Tudo o que se pode esperar da escolha do sucessor de Bento XVI é o fim de um Vaticano eurocêntrico. Desde que Karol Wojtyla tornou-se João Paulo II, a Europa é o centro das atenções da Cúria. O Papa polonês cumpriu uma fenomenal missão histórica ajudando a desmontar décadas de tolerância com as ditaduras comunistas.

Seu sucessor teve um pontificado medíocre enrolado pela tolerância com escândalos sexuais e financeiros de sacerdotes. Um deles passou de raspão pelo Brasil, num trambique do namorado da atriz Anne Hathaway, sócio do sobrinho do atual decano do Colégio de Cardeais, o poderoso ex-secretário de Estado Angelo Sodano. A moça micou em US$ 135 mil e o rapaz foi preso nos Estados Unidos.

As dificuldades do Vaticano com suas finanças são antigas. Foi Pio IX quem avisou: “Posso ser infalível, mas estou falido.” Já os desempenhos sexuais de alguns sacerdotes, mesmo sendo coisa antiga, tornaram-se uma encrenca recente, com a qual João Paulo II e Bento XVI nunca conseguiram lidar direito, envenenando a missão pastoral de dioceses europeias e americanas.

O eurocentrismo da Cúria Romana refletiu-se no Brasil. Durante o pontificado de Paulo VI, Pindorama passou de dois para oito cardeais. Hoje tem cinco. Bento XVI deixou sem o barrete cardinalício as arquidioceses do Rio e de Brasília. Porto Alegre teve cardeal e está sem. Recife, a primeira sé cardinalícia brasileira, está na segunda divisão desde os anos 60, quando a ditadura hostilizava D. Helder Câmara e não queria vê-lo cardeal.

Se foi econômico com os barretes brasileiros, Bento XVI foi generoso aspergindo-os pela Europa. Elevou a diocese de Valencia (800 mil habitantes), na Espanha, mas não confirmou o barrete de Porto Alegre (1,5 milhão de habitantes).

Quem especular o nome do sucessor de Ratzinger pode jogar cara ou coroa. Nos seis últimos conclaves elegeram-se três favoritos (Ratzinger, Paulo VI e Pio XII) e três azarões (João Paulo II, João Paulo I e João XXIII, um gorducho que mal cabia nas vestes preparadas pelos alfaiates que trabalharam durante o conclave.)

Pode-se esperar que, depois de um Papa saído da academia de teólogos e da burocracia de Roma, venha um pastor, como os dois João Paulo e João XXIII. Um administrador de diocese do Terceiro Mundo uniria o útil ao agradável.

É assim que entra nas listas, com um sopro romano, o cardeal de São Paulo, D. Odilo Scherer, pastor de uma das maiores arquidioceses do mundo.

Aos 63 anos, teria um longo pontificado. Ele tem uma característica anfíbia. É brasileiro, mas, como quatro outros cardeais brasileiros (Claudio Hummes, Paulo Evaristo Arns, Aloisio Lorscheider e Vicente Scherer, seu parente distante), descende da imigração alemã. A mola mestra da eleição dos dois últimos papas foi a capacidade de articulação da hierarquia alemã.

D. Odilo lidera a facção conservadora do clero brasileiro, derrotada na última eleição da CNBB e nas eleições gerais em que se meteu. Para consumo mundial, preenche o requisito de um Papa do Terceiro Mundo, condição só superável pela escolha de um africano como Francis Arinze, de Lagos. Mais que africano, Arinze tem 80 anos e passou 25 em Roma. Seria um Papa de transição.

Com uma eleição marcada para o fim de março e um Papa vivo, vem aí um conclave inesquecível.

13 de fevereiro de 2013
Elio Gaspari é jornalista. O Globo

VATICANO AINDA RESISTE A PAPA NÃO-EUROPEU, DIZEM ANALISTAS

 


Papa Bento 16 / Reuters
 
Sucessor de Papa Bento 16 não deve vir de país emergente, diz vaticanista.
 
A possibilidade de a vaga deixada em aberto pela saída do papa Bento 16, que anunciou sua renúncia nesta segunda-feira, ser ocupada por um candidato vindo de fora da Europa existe, mas enfrenta forte resistência da máquina administrativa da Igreja, na opinião é do vaticanista americano Kevin Eckstrom.
 
Segundo ele, apesar de o Vaticano ter feito seguidos esforços de internacionalização, nomeando nos últimos anos cardeais de vários países emergentes, o sucessor do atual pontífice precisaria passar pelo aval da Cúria Romana, dominada por europeus, o que reduziria as chances de um potencial cardeal que não tenha nascido no continente ao posto, como por exemplo um latino-americano ou um asiático.
"As chances de que o novo papa seja um não-europeu são boas, mas seria preciso primeiro convencer a Cúria", afirma Eckstrom.
 
A Cúria, que significa "corte" em latim, é o órgão administrativo da Igreja Católica, responsável por zelar pelo bom funcionamento da máquina burocrática do Vaticano e que assiste o papa em suas funções.

Eckstrom acredita que o italiano Angelo Scola, de 71 anos, atual arcebispo de Milão, segue favorito na lista de sucessão papal. Correndo por fora, na sua avaliação, estaria o americano Timothy Dolan, de 62 anos, que se tornou a principal voz do catolicismo nos Estados Unidos depois de ter sido nomeado arcebispo de Nova York em 2009.
 
O professor de Teologia da PUC-Rio, Paulo Fernando Carneiro de Andrade, concorda e lembra que a definição dos critérios para a escolha do novo pontífice é complexa.
"A escolha do novo pontífice não necessariamente leva em conta o tamanho da população católica do país de onde ele vem", diz.
 
"O perfil buscado tem mais a ver com a capacidade de saber convergir os interesses da Cúria e, assim, garantir um bom funcionamento da Igreja Católica", acrescenta.

Brasil

Angelo Scola / AFP
 
Para o vaticanista Kevin Eckstrom, cardeal italiano Angelo Scola é favorito na disputa
Neste sentido, Carneiro de Andrade lembra que, embora o Brasil tenha a maior população católica do mundo, a importância geopolítica do país é inferior à de regiões onde a expansão do catolicismo tem sido foco de atenção da cúpula do Vaticano.

"A Igreja Católica tem olhado com bastante atenção o crescimento da população católica na Ásia e na África".

Para ele, um indicativo de que as chances de um novo pontífice não-europeu aumentaram no final do ano passado, veio quando, "surpreendentemente", o Vaticano nomeou seis novos cardeais, sendo cinco deles de países emergentes.

"Essa nomeação aconteceu depois de outra, no início de 2012, o que, para alguns, foi interpretado como um acréscimo na lista inicial de novos cardeais. Mas, no fim das contas, causou surpresa que a grande maioria dos indicados fosse de países emergente."

Em sua conta do Twitter, o teólogo brasileiro Leonardo Boff, fundador da chamada Teologia da Libertação e que chegou a conhecer pessoalmente o Papa Bento 16, pediu que seu sucessor viesse dos países emergentes.

"Os dois cardeais negros, Arinze (Nigéria) e Turkson (Gana) são mais romanos que Roma. 52% dos católicos vive no Terceiro Mundo. Merecemos um Papa. O meu é Madariaga (sic) (Oscar Andrés Rodríguez Maradiaga, de Honduras)."

Legado

Para os especialistas ouvidos pela BBC Brasil, o legado do papa Bento 16 pode ser classificado como dicotômico.

"Ao mesmo tempo em que Bento 16 focou em atrair a atenção dos seculares, incluindo os ateus, não teve sucesso em estabelecer um diálogo tão estreito com o Islã", diz Eckstrom.

"Além disso, não conseguiu solucionar questões internas da Igreja Católica, como as denúncias relacionadas à pedofilia", acrescenta.

Na visão de Carneiro de Andrade, da PUC-Rio, o papa Bento 16 cumpriu seu papel exclusivamente como um "pontífice de transição".

Para os dois analistas, entretanto, o próximo papa terá de encarar grandes desafios.
"A Igreja Católica está sofrendo uma sangria de fiéis. Será preciso que o sucessor de Bento 16 reavalie principalmente a forma como o Vaticano está se comunicando com os católicos", diz Eckstrom.

"Não se trata de uma mudança profunda de princípios, mas na maneira como as regras são discutidas com os membros da comunidade", acrescenta.

"A escolha de um não-europeu como próximo papa poderia ser interpretado como um sinal de renovação da Igreja", defende Carneiro de Andrade.

13 de fevereiro de 2013
Luís Guilherme Barrucho
Da BBC Brasil em São Paulo
 
Leia mais sobre esse assunto