"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 14 de agosto de 2012

EM TEMPOS DE MENSALÃO, UMA OLHADA NO RETROVISOR...

LULA E OS CARTÕES CORPORATIVOS

ELE É UM DOS AUTORES DA CARTILHA DO MEC

CUIDADO!!! ELES ESTÃO CHEGANDO!

AS MEDIDAS DO MAL


Corrupção não se mede. É da sua natureza ser fugidia, clandestina, sombria. É dinheiro que escapa pelas franjas, por atores que se escondem e camuflam. O diretor da Transparência Brasil Claudio Weber Abramo acha que os números que aparecem são fantasiosos. Gil Castello Branco, do Contas Abertas, diz que é possível estimar as perdas e que os dados reforçam a luta contra o mal.

A Fiesp calculou entre R$ 50 bilhões e R$ 85 bilhões de perdas anuais no Brasil. Gil pensa que essas estimativas, feitas com base em cruzamento de dados, têm solidez. Existe também o índice de percepção da corrupção. Pesquisas com empresários que fazem negócios no Brasil e com o Brasil. Juntos dariam uma boa ideia da dimensão do problema e são coerentes entre si.

Abramo pensa diferente. Ele analisou os cálculos e diz que as bases de dados são frágeis e que as conclusões não passam por qualquer teste. Isso não o leva à conclusão de que o problema não seja sério.

— Pode custar mais ou menos. Mas existe um problema (no cálculo): base metodológica frágil. O crime é escondido. Estimá-lo é difícil. A melhor opção é dizer: não sei quanto é. Isso não significa dizer que não exista a corrupção ou que não se conheça suas consequências. Um número serve para quê? Para dizer que existe corrupção no Brasil? Ora, isso é óbvio, todo mundo sabe — diz Abramo.

— É difícil quantificar, mas é um referencial. O Banco Mundial faz seu esforço de quantificação, compatível com os dados da Fiesp. O professor Marcos Fernandes, da FGV, somou os casos de desvio no Governo Federal de 2002 a 2008 e chegou à conclusão de R$ 40 bilhões. Essa é a ponta do iceberg.
O Brasil é o quarto país em volume de dinheiro em paraísos fiscais. É válido medir e trabalhar com extrapolações. São valores substanciais. É bom ter parâmetro. Esse patamar mínimo do estudo da Fiesp, R$ 50 bi, equivale ao investido pelo PAC I em infraestrutura — rebate Gil.

Um problema e duas visões que coincidem num ponto: é necessário combater o mal. Conversei com os dois esta semana e os entrevistei na Globonews. Um interessante conflito de ideias, porque ambos dão contribuições importantes na luta contra os desvios. Abramo acha que a questão mais interessante é o combate.

— Corrupção é um problema objetivo. Não é subjetivo. Não é um problema moral. A corrupção não acontece porque existe gente desonesta no mundo, mas porque gente desonesta pode agir desonestamente. Tem que se ver as condições institucionais e as práticas administrativas. Um foco de corrupção no Brasil é o excessivo número de indicações políticas dos chefes do Executivo — diz Abramo.

Gil acha que a grande medida a tomar para reduzir a corrupção é a adoção do financiamento público de campanha. Ele admite que já há esse financiamento, através do programa eleitoral e do fundo partidário, mas acha que é possível aperfeiçoar:

— As eleições são caríssimas e isso alimenta o caixa dois. As empresas doam para ter proveito.

— É ilusão achar que isso resolve. Se for proibido o financiamento privado, o caixa um vai virar caixa dois. Já foi tentado em outros países com resultado horroroso — diz Claudio Abramo.
Ele acha que usar cargos públicos como moeda de troca produz outro efeito nocivo: o legislativo deixa de fiscalizar e legislar.

A Transparência Brasil foi quem fez a primeira sugestão para se ter no Brasil a Lei de Acesso à Informação. Abramo lembra que a lei não vai criar informação. Cria condições de acesso. Gil Castello Branco lembra que mesmo com a Lei de Acesso à Informação há dificuldades de se conseguir dados de órgãos públicos e das estatais. E as empresas públicas “movimentam um PIB argentino por ano”.

14 de agosto de 2012
Miriam Leitão, O Globo

QUANDO A HONESTIDADE É INSUFICIENTE

O candidato é honesto, domina a dinâmica de funcionamento da máquina administrativa e é comprometido com a ética na política. Seu partido não se envolve com fraudes e é composto de pessoas bem intencionadas.


Vitorioso, ele fará uma boa gestão e sairá dela sem os arranhões morais que caracterizam quase 100% dos candidatos a qualquer coisa.
Mas, nem isso tudo garante que o Estado descentralizará renda e poder, nem que a participação da maioria oriente os rumos gerais do governo.
Em outras palavras: ser honesto é ótimo, mas insuficiente.
Mesmo que algum herói mitológico consiga fazer tudo isso, ainda estará a anos-luz de distância de administrar um Estado independente de corporações e imune às pressões que o poder econômico costuma usar para garantir que seus interesses se sobrepunham aos da maioria.
O problema não está, enfim, nas pessoas. Localiza-se no enquadramento institucional que isola a política da economia e transformar os sucessivos processos eleitorais em mera formalidade útil à manutenção de um modelo econômico que prescinde da participação popular como método de governo.
Nenhum partido do escopo eleitoral brasileiro escapa dessa lógica viciada. Uns são mais simpáticos, angariam muitos apoiadores e até mobilizam a juventude que, diz-se, é alienada. Mas, nenhum coloca como objetivo central a reforma de um Estado feito para se articular com diferentes frações do poder econômico para sua própria perpetuação.
Nestas próximas eleições municipais, poucos ainda se lembrarão daquele PT do início dos anos 1980, quando a participação da base no processo decisório era contínua, naquilo que alguns politicólogos classificavam de “partido-movimento”, ou, em sua versão mais, digamos, “progressista”, de “partido em movimento”.
Ainda que aquele PT carregasse uma espécie de gene do esquecimento de lutas sociais anteriores a ele, como se a história popular brasileira tivesse começado somente em 1979 no ABCD paulista, e que carregasse um certo nojo de tudo que dissesse respeito ao Estado, o Partido dos Trabalhadores tinha a coragem de propor o novo.
Agora, há um vazio de novidades democráticas que compromete todo o processo eleitoral, em um País que continua a exercer diversos pequenos autoritarismos como profissão de fé. A rigor, no frigir dos ovos, devemos ter em mente que as próximas eleições são apenas isso: apenas outro capítulo da mesma velha novela.

14 de agosto de 2012
Carlos Tautz, jornalista, é coordenador do Instituto Mais Democracia – Transparência e Controle Cidadão de Governos e Empresas

MARCO AURÉLIO DEFENDE STF APÓS ACUSAÇÃO DA DEFESA DE JEFFERSON


O ministro do STF Marco Aurélio Mello
Foto: O Globo / O Globo
O ministro do STF Marco Aurélio MelloO Globo / O Globo
BRASÍLIA - O ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), defendeu o tribunal dos ataques do advogado Luiz Francisco Barbosa, contratado pelo presidente do PTB, Roberto Jefferson, para defendê-lo no processo do mensalão.
Na segunda-feira, o advogado disse que o Tribunal poderia ter incluído o presidente Luiz Inácio Lula da Silva entre os réus, diante de supostas evidências de participação no esquema. O ministro refutou a tese.


- O procurador-geral da República é o titular exclusivo da ação penal pública. O STF é um órgão inerte, não adita denúncia para incluir este ou aquele investigado. O Judiciário não tem a iniciativa em ação penal pública contra quem quer que seja. Não podemos puxar a orelha dele (do procurador-geral) - disse o ministro nesta terça-feira.

O ministro não quis dizer se Gurgel foi ou não omisso ao não denunciar Lula, mas disse que essa questão já está resolvida – ou seja, que não haveria como incluí-lo no processo agora:
- As balizas já estão definidas neste caso.

O ministro informou que o relator do processo, ministro Joaquim Barbosa, pediu ao presidente da Corte, ministro Carlos Ayres Britto, para que fosse realizada uma sessão extra na sexta-feira, mesmo que isso não tenha sido previsto no cronograma do julgamento. Marco Aurélio quer que ocorram sessões extras, mas para que o plenário julgue outros processos.

- Devemos primar pela segurança, temos trabalho nos gabinetes. O tribunal se tornou tribunal de processo único, mas nós não, temos outros processos aguardando decisão - afirmou.

Informado pelo presidente que Joaquim Barbosa iniciaria seu voto na quarta-feira, após as sustentações orais dos últimos três advogados, Marco Aurélio protestou, pois o calendário só previa o início da votação na quinta-feira. No entanto, os demais ministros do STF concordaram com a proposta do relator.

- O relator tem poder, mas ele não é um todo-poderoso no processo. Ele não dita as regras, ele observa as regras - opinou. - Preservo muito a ordem natural das coisas, sou contrário a qualquer açodamento.
O ministro admitiu que o clima anda tenso entre os colegas.

- Tem (um clima tenso). Não deveria ter. É algo que nos entristece e nos deixa preocupados enquanto colegiado. Fica um grupo puxando para um lado, um grupo puxando para outro, quando deveria haver respeito ao consenso. Estabelecida a regra, é tão fácil cumprir o combinado. A discussão deveria ser de ideias, e não descambar para o campo pessoal. Não disputamos nada. Se tivéssemos uma disputa, estaríamos impedidos de participar da decisão.

Marco Aurélio aproveitou para reclamar do excesso de regras da segurança e da reserva de muitas cadeiras para os advogados:

- Houve o caso de um senador que tentou entrar (no tribunal) e não conseguiu, e tem ficado muitas cadeiras vazias no plenário. Isso nunca houve no STF. Quando você cria obstáculos, você afasta o Judiciário do povo.
14 de agosto de 2012
Carolina Brígido

EU SOU O PAI DO ISLAMISMO (*)

 

"Meu nome é Sayyd Qtub. Nasci no vilarejo de Musha no Egito em 1906 e morri em 1966, no Cairo. Fui poeta, ensaísta e ativista político. Aos 10 anos já sabia o Alcorão de cor e salteado. Meus mestres admiravam a força com que eu batia a cabeça na pedra enquanto repetia os versículos do livro de meu profeta Maomé. Eu queria ser como ele, não um profeta - livre-me Alá da vaidade -, mas eu queria influir no espírito degenerado de meus conterrâneos e do mundo.
Vocês podem olhar as fotos que restam de mim no vergonhoso YouTube, registro da desagregação ocidental. Nos meus retratos meus olhos estão sem brilho, onde alguns veem a ferocidade calma dos tigres.
Em meus olhos está a vingança contra os cães do Ocidente. A imagem de Maomé está engastada dentro de meu peito como um tumor benigno e cada gesto meu será para arrasar a peste dos infiéis da Europa e dos Estados Unidos. Eles são culpados pela miséria de nossos povos no deserto do nada. Nossos corpos se despedaçam para despedaçá-los também.
Passei minha infância no frescor sombrio das mesquitas. Deitava-me no chão frio e sentia a respiração cálida de Alá sobre meu rosto. Meus colegas da 'madrassa' (escola) riam de mim. As meninas me chamavam de mudo, de boca de camelo, mas meu imã me dizia que eu seria um fundador, um portador da palavra de Alá.

Na adolescência fui estudar no Cairo e fiquei chocado com a atitude desonrosa das mulheres da capital, cadelas em sua maioria. Cada vez que uma mulher me atraía, um empurrão invisível me afastava delas - uma mão divina me protegia de um mal futuro.

Até que um dia vi uma moça que parecia pura. Vi seus olhos, negros, acima do véu, me olhando fixamente, como se rezasse. Conversamos muito na porta da mesquita sobre a vida e os 'suratas' do Alcorão.
Não nos tocávamos, e ela disse uma poesia: 'Quando o amor o chamar, /siga-o /embora seus caminhos sejam agrestes e escarpados'. Em seguida, ela arrancou o seu 'niqab' do rosto, me beijou violentamente chorando e me pediu um 'batkish' (gorjeta).
Fugi dali, arrastando minha alma.
Depois daquilo, vi que tinha de me dedicar somente à oração e ao sacrifício por Alá. Ofereci-lhe minha virgindade para sempre. Até que um dia, os judeus chegaram à Palestina, em 1948, e vi que era a hora da partida.

Meu corpo ardia no deserto de desejo e de ódio aos judeus, mas eu não cedia às tentações e continuava puro, casto e nunca me toquei; deixava a água jorrar de mim durante o sono, quando sonhava com o Paraíso e as 72 'huris' de olhos escuros, como pérolas bem guardadas para meu pênis que nunca amoleceria com minhas companheiras amorosas, como reza o Alcorão, na Surata 56 vers.12-40.
Fugi para os Estados Unidos em 1949 - queria ver a besta por dentro.

Meus sofrimentos aumentaram já no navio para a terra dos infiéis. No meio do oceano, uma mulher bêbada e seminua invadiu minha cabine para me possuir. Percebi que ela tinha garras em vez de mãos e de sua boca saía uma língua bífida como as najas de minha terra.
Empurrei-a para fora e ela sumiu com um grito. Fui diretamente para Washington, onde comecei a cuspir sangue logo que cheguei. Fui hospitalizado com um problema pulmonar e infelizmente tive de enfrentar um novo perigo: as enfermeiras do hospital me assediaram (como dizem hoje).
Mas, eu resisti a seus lábios sedentos, seios fartos, pernas macias, olhar sedutor e risada provocante. Eu resisti porque sabia que dentro delas moravam 'djins', demônios para me destruir.

Alá me curou e fugi mais uma vez para a cidadezinha de Greely, no Colorado. Estava atormentado pela solidão e me filiei a um clube organizado pela igreja da cidade. Achei que seria um pouco feliz, mesmo no ventre da baleia. Fui a uma festa deles. Era como um templo de luxúria também.
Lá tocava sem parar um tipo de música vertiginosa e ateia inventada pelos negros africanos embalados por seus instintos primitivos que chamavam de jazz e eu via aquela ciranda de coxas e quadris, eu via que tudo levava os seres para o prazer da carne.
Foi aí que uma mulher (mais uma 'harpia') me segredou palavras doces no ouvido, me beijou a orelha por trás. Confesso, em nome de Alá, que tive uma febre súbita e senti entre minhas pernas um enrijecimento. Trêmulo, fui tomado por um grande furor assassino.

Eu queria matar, matar aquelas pessoas que se agarravam numa dança negra e impura. Corri para o jardim e me joguei na terra, pedindo perdão a Deus por minha fraqueza.

E foi ali que tive a revelação. Um pequeno arbusto incandesceu-se como sarças de fogo. E eu ouvi dentro de mim, como uma boca dentro de meu peito que falava: 'Volte e salve seus irmãos e fuja dos jahiliyya (os bárbaros) que querem nos destruir. Os americanos são animais arrogantes, charmutas que não merecem viver. Volte!'

Voltei ao Egito, deixei crescer um bigode como o do Hitler, o matador de judeus, e parti para a vingança. Essa foi a revelação divina que virou meu lema e da Al-Qaeda que eu fiz nascer: morte a todos que não sejam submissos a Alá. Radicalizei a Irmandade Muçulmana que se deixava levar por pensamentos moderados, inventados pela depravada 'democracia', esse bacanal de indivíduos prostituídos.
Eu trouxe para o Oriente a retomada do 'wahabismo', com a lei da 'sharia', do fim do álcool, da música, das drogas, da dança, dos cabelos longos para homens e da forma de vestir das mulheres, essas perigosas traidoras inferiores em cujo ventre o Demônio costuma se abrigar.
Meu livro é considerado o Mein Kampf do islamismo, que o saudoso Bin Laden lia sempre.

Em 1966, fui enforcado pelo charmuta Anwar Sadat, que, mais tarde, os irmãos de Alá metralharam em nome de Deus.

Mas, continuei vivo nas ações heroicas dos mártires do Islã. Ninguém me viu, mas eu estava lá, no 11 de Setembro. Eu sou o pai do islamismo. Minha alma celebrava a vitória entre os escombros, entre os corpos dos cães infiéis. Eu dançava e cantava de felicidade: 'Alah U Aqbar!'"
(*) Tudo isso é pura verdade. A Al-Qaeda nasceu também de um grande trauma sexual.

14 de agosto de 2012
Arnaldo Jabor - O Estado de S.Paulo

PARADOXO POPULAR

 

Nem tudo que é popular é justo, aceitável, verdadeiro ou incontestável. Disso dá notícia a História, a vida e as duas vitórias eleitorais do PT para a Presidência da República depois do advento do mensalão.

Segundo pesquisa do instituto Datafolha, maioria expressiva (73%) da amostragem de 2.592 pessoas ouvidas uma semana depois de iniciado o julgamento no Supremo Tribunal Federal considera tratar-se de um caso de corrupção e espera pela condenação dos envolvidos.

Tal convicção não decorre da perfeição jurídica do relato dos autos, inacessíveis à avaliação leiga. A acusação não convence a maioria por estar juridicamente com a razão, mas porque sua narrativa faz sentido: conta que um partido valeu-se das facilidades do poder para arrecadar muito dinheiro e com ele conseguir sustentação política de que necessitava para governar.

Houve manipulação de grandes somas onde deveriam prevalecer posições políticas; é isso que as pessoas entendem e consideram impróprio.

Uma boa parte (43%), contudo, não acredita que haverá condenação, expressando algo que pode ser visto de duas maneiras: desconfiança na eficácia da Justiça e/ou antídoto prévio a frustrações devidas a um farto histórico de impunidade.

A adesão popular à tese defendida pela Procuradoria-Geral da República não quer dizer que o resultado do julgamento no Supremo Tribunal Federal vá ou deva necessariamente atender a essa demanda.

Tampouco é possível inferir que os resultados daquelas eleições vencidas pelo PT (reeleição de Lula e vitória de Dilma Rousseff) no pós-mensalão teriam sido diferentes se o enredo tivesse sido contado com a cadência e exposição de agora, porque a mesma pesquisa registra que 50% não se deixarão influenciar pelo resultado do julgamento na hora do próximo voto, em outubro.

Algumas conclusões, porém, são admissíveis. A primeira delas: o PT está longe da realidade quando diz que a população só quer saber de novela e de olimpíadas.

A segunda: a versão de que o mensalão é fruto de uma fantasia oposicionista simplesmente não pegou.

Um último aspecto, relacionado à desconexão entre o voto e o resultado do julgamento pode, em princípio, soar estranho em face da expectativa de condenação.

Mas, se lembrarmos que o PT ganhou duas eleições presidenciais com mensalão e tudo - uma delas ainda sob o eco da CPI - vamos acabar concluindo que a população exige rigor da Justiça, mas não é tão rigorosa assim na hora de votar.
Um dado para se pensar antes de reclamar dos políticos e dos juízes.

Sujeito oculto. Muito esperto o advogado de Roberto Jefferson tentando desmontar o trabalho do Ministério Público sob a alegação de que a acusação é nula porque não incluiu o "mandante", Lula.
Como teatro, eficiente. Para o julgamento, apenas um sofisma dada a proteção garantida pela ausência do personagem nos autos.
Para a imagem de Lula, porém, o chamamento ao centro da cena naqueles termos não é tão inócuo assim.
Desalinho. Na última sexta-feira, o ministro Antonio Dias Toffoli foi a uma festa em Brasília. Ia alta a madrugada quando explodiu em pesados palavrões referindo-se ao jornalista Ricardo Noblat que acabara de sair, mas voltou a tempo de ouvir e relatar a história em seu blog momentos depois.
Talvez pela interpretação de que se tratava de um caso atinente à vida particular de Dias Toffoli, os jornais não deram repercussão ao episódio e provavelmente por esse motivo o ministro não reagiu nem desmentiu.
A gravidade aí não está no fato de os impropérios terem sido dirigidos a um jornalista, mas por terem sido proferidos em público por um julgador de instância suprema cujo papel institucional requer equilíbrio, distinção, maturidade e, sobretudo, noção de limite.

14 de agosto de 2012
Dora Kramer - O Estado de S.Paulo

DILMA NA BANGUELA: DA DITADURA À DENTADURA, "UMA" DE PENSAMENTOS DESDENTADOS

 

Rio Pardo de Minas, norte do estado, mais de 700 km distante de BH. A presidente vai falar da importância de ter dentes na boca. Como ela insiste em ser chamada de presidenta, não é uma rima ─ e já não era uma solução.

De dedo em riste, num tom muito acima do normal, Dilma vai anunciar na cidade a ampliação do programa Brasil Sorridente, criado no primeiro ano do governo Lula. Uma espécie de PAC 2 odontológico, com a mesma dinâmica do plano-mãe: não se conhecem os resultados da primeira fase.

O Brasil ─ depois de oito anos de Lula ─ continua sendo um dos países mais desdentados do mundo, no qual 55% dos adolescentes já não têm todos os dentes e 40 milhões de adultos só têm na boca a língua e as gengivas. Lula, na verdade, se incomoda ao ver uma pessoa sem dente ─ é o que dirá Dilma, daqui a pouco.

Pelo discurso, porém, presume-se que, ao final dessa ampliação do BS, todos os brasileiros estejam de posse de seus 32 dentes, originais ou substituídos, exatamente na configuração que Deus nos deu: 8 incisivos, 4 caninos, 8 pré-molares, 12 molares.

Ao tentar explicar o programa, insistindo na tese surpreendente de que é melhor ter dentes do que não tê-los, assim como é melhor ter casa própria do que morar sob a ponte, Dilma tentou ser bastante incisiva.

Mas, se a Dilma sobram dentes, faltam palavras. Seus discursos, como os desdentados, não podem sorrir nunca ─ talvez de vergonha por sua dramática incapacidade de expressar as boas intenções que devem perpassar o neurônio solitário. Mas há dias especiais ─ em que as palavras de Dilma parecem cair da boca como dentes abalados na raiz. Rio Pardo de Minas presenciou um desses dias:
“No passado, ninguém olhava pra pessoa de uma forma completa”, começa ela, antropologicamente, sem esclarecer quem é essa pobre pessoa do passado a quem só se olhavam as partes.
Prossegue:

“E aí, a gente tratava aqui no Brasil de várias coisas, mas isquicia (sic) que um dos elementos fundamentais pra identidade de uma pessoa é ela ser uma pessoa inteira”.
Será o mesmo infeliz da frase anterior? Ou outro? Uma coisa é certa: desse monturo de sandices, a pessoa só sai mesmo aos pedaços.

Ok, mas essa pessoa está prestes a ser remontada, como um Robocop:
“Daí porque a importância que no Brasil Sorridente nós damos à saúde bucal, aos dentes, e nós olhamos não mais uma pessoa como uma parte, uma pessoa que tem uma doença, mas olhamos o que pode dá saúde integral pra ela”.


Afinal, o Brasil Sorridente é um projeto odontológico ou oftalmológico? De qualquer forma, o fim dos desdentados brasileiros começou com Lula – que não suporta ver um pela frente, mesmo que seja da família. É o que revela Dilma, relembrando a origem do programa:

“Assisti e presenciei o empenho do presidente Lula e o incômodo que ele tinha quando ele via um cidadão do nosso país, um brasileiro, um irmão, ou uma brasileira, uma irmã, sem os dentes”.
Um reparo: onde estava Lula, muito bem pago desde 1978, e com assistência sindical-odontológica completa extensiva à família, que deixou um irmão e uma irmã perder os dentes?
Na verdade, o Brasil de Dilma é um grande irmão:

“Nós precisamos de uma coisa importante em nosso país, que é a nossa autoestima. Olhar pra nós mesmos e sabê que esse país conta fundamentalmente conosco”.
Nesse fundamentalismo da presidente, era o caso de perguntar: quem é nosco?


Mais à frente, o povo de Rio Pardo de Minas será informado de que, além de resgatar todos os dentes, o governo de Dilma estará “assegurano” emprego para todos os brasileiros, incluindo crianças e aposentados. Sim, é um novo Brasil – no anterior, estar desempregado ou não trabalhar era um direito. Agora, não mais:

“Esse povo que pode e teve (sic) muitas vezes desempregado. Nós não queremos isso. Nós queremos todos os brasileiros empregados”.

Impactante. Empregos para todos, dentes para todos. É uma ordem de Dilma:
“Num pode perdê dente, num pode deixá que jovem perca os dentes ou qui criança não tenha acesso ao dentista”.


Então, faz um apelo tão claro quanto um molar cariado:
“Junto com uma prótese, que a gente fala uma (sic) mutirão de prótese, eu vou falá como o povo fala, junto com um mutirão de dentadura, nós temos de falá também num mutirão para tratar dos dentes de cada criança”


Mas ainda faltava, nesse extraordinário discurso de Dilma, aquela centelha do gênio, a palavra que marca para sempre. A versão Dilma de “I have a dream”.
Não espere mais. Ei-la:


“Aqui eu vi muitas crianças, vi muitos jovens, vi muitas mulheres e vi também muitos homens”.
Agora, sem sorrir: mesmo sendo um país de desdentados, o Brasil não merece uma presidente cujo raciocínio desce ladeira abaixo, sem rumo, atropelando o bom senso e a inteligência, na banguela.

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    Para marcar um ano da morte da juíza Patrícia Acioli, '21 cartuchos' foram colocados na praia de Copacabana, no Rio - Antonio Lacerda/EFE

    14 de agosto de 2012

    DELTA DO PAC DE DILMA MANDOU MILHÕES DE DÓLARES ÀS ILHAS CAYMAN

    As remessas de dinheiro da empreiteira de Cavendish a paraísos fiscais
     
    Remessas para Liechtenstein, Malásia e Cingapura
    A Delta Construções usou o Banco Safra para receber e mandar, a título de “empréstimos diretos”, milhões de dólares às Ilhas Cayman, notório paraíso fiscal. Um relatório enviado à CPI mista do Cachoeira pelo Banco Central mostra o ingresso de 24 milhões de dólares para a Delta, em março de 2011.
    Em dezembro do mesmo ano, a empreiteira de Fernando Cavendish enviou duas remessas, a primeira de 24 milhões de dólares, e a segunda de 300 000 dólares, a título de juros do empréstimo.
    Na relação de operações da Delta, enviada à CPI, ainda constam remessas da ordem de 41 500 euros para Liechtenstein, outro conhecido paraíso fiscal europeu, e outras remessas em euro e dólar para países como Malásia e Cingapura.
    14 de agosto de 2012
    Lauro Jardim - Veja

    BRASIL INTEIRO SABE QUE HOUVE CRIME NO MENSALÃO DE LULA, DIZ FHC


    O Brasil inteiro sabe que houve crime no mensalão, diz FHC. Ex-presidente afirmou que espera a condenação dos responsáveis

    O ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso participa de conferência da Rio+20, no Riocentro
    O ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso (Marcelo Sayão/EFE)

    O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) afirmou nesta terça-feira que espera que haja condenações no julgamento dos 38 réus do processo do mensalão, maior escândalo de corrupção da República. “Eu acho que houve crime, o Brasil inteiro sabe disso”, afirmou Fernando Henrique, após uma palestra em São Paulo.

    “Uma pesquisa mostrou que as pessoas estão acompanhando o julgamento, mas não acreditam que tenha alguma coisa (condenação). Eu acho que é preciso que tenha alguma coisa”, disse o ex-presidente. Questionado se acha que condenações manchariam o legado de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), presidente na época em que o escândalo eclodiu, FHC respondeu que sim.


    O tucano comentou ainda o fato de a presidente Dilma Rousseff (PT) manter bons índices de popularidade mesmo em meio ao julgamento do mensalão, que tem na mira prioritariamente petistas que articularam eO Brasil inteiro operacionalizaram o esquema de pagamento de mesada em troca de apoio parlamentar na Câmara dos Deputados durante o governo Lula. “A razão é óbvia: o povo está pensando que ela está direito, mesmo contrária a essas posições antigas do PT.”


    Greve – Fernando Henrique mostrou compreender a posição da presidente Dilma também em relação às greves do funcionalismo no país. “Ela enrijeceu. Eu não vejo que ela pudesse não enrijecer”, afirmou o ex-presidente. “A presidente Dilma está num momento de dificuldade financeira e de muita pressão dos funcionários, que se habituaram durante o governo Lula, que tinha mais folga, a receber aumentos. Ela não tem a mesma condição. Ela não pode.”


    Desde a semana passada, servidores federais têm feito greve para pressionar o governo a conceder a eles aumentos salariais. As paralisações travaram as estradas, prejudicaram o movimento nos portos e causaram caos nos aeroportos. Nesta terça-feira, a Presidência deu início a uma rodada de negociações com os sindicalistas.

    14 de agosto de 2012
    Carolina Freitas - Veja Online

    ENTARDECER SEM SUSTOS

     

    Façam chegar, a quem interessar possa ou responsável for, uma, vamos chamar de reivindicação que a necessidade do querer viver impõe. Trata-se de instalar computadores, Internet com banda estreita ou larga, em todos os asilos do Brasil.

    No lugar de remédios, alguns inúteis (velhice não se diverte com química), ocupar a mente dos idosos com tudo aquilo que envolve o tempo atual, a informática que os deixassem “ligados” com o presente, não abandonados “celebrando” pactos com a solidão:
    Internet, e com ela, Blogs, PPS, um teclado para comunicar-se, e confrontar-se com todo o conhecimento reunido no Google e similares.

    Não só, mas a aprendizagem no campo da informática, além do lazer, seria uma das portas para que os idosos fugissem da frustração.

    O órgão para o qual carrearam suas economias, e que eram para ser a garantia quando a vida entardecesse, transformou-se apenas em um pesadelo.
    O INSS está roubando-lhes a metade da aposentadoria, os valores estão sendo distribuídos para as “patrióticas divindades”. Vamos proporcionar o mínimo, quase nada, abrindo aos idosos a possibilidade de ocupar a mente, o tempo e neutralizar as suas dores.

    Voltariam como no passado, a ensinar os jovens que a saudação “BOM DIA” é o desejo que brota e inspira; O até logo exprime o desejo de um encontro brevemente; O até amanhã soando como o amanhã que desejamos fosse um interminável hoje.

    Atualmente convivemos com o conceito de que asilo, (a maioria) tenha o nome do santo da sua preferência, passou a ser um mero “depósito” de velhos, a família fica aplacando a sua consciência, se auto-iludindo que o velhinho está sendo amparado.
    Não imagina que o tédio aproxima o idoso do desgosto. Só visitando-os é que ficaremos sabendo o que é nojo, a criatura não tendo mais cuidado nenhum com a sua condição humana, contristado aguardando o definitivo entardecer.
    Pouco, muito pouco, diria quase nada, comparado com o que roubam do povo, para dar a oportunidade ao idoso atualizar-se e entrar em sintonia com as suas necessidades: atividade física, atividade intelectual e cognitiva e até a dar valor à atividade social.
    Não importa o grau de criatividade, a Internet seria uma das atividades para preencher o tempo, fazer uso da sabedoria e torná-lo participativo.

    Parafraseando Oppenheimer: “O maior perigo da humanidade é o cientista alienado”. Uma das maiores desgraças de uma comunidade é deixar o idoso abandonado e as “empreiteiras e caixas dois eleitoral” casadas com os escárnios (e com que facilidade gera filhos).

    Existe um Conselho Nacional dos Direitos do Idoso, igual a outros Conselhos, todos elevados à categoria de Ministério, criados para abrigar companheiros que inconseqüentemente ficam praticando o esporte favorito dos brasilienses oficiais: O interminável blábláblá.

    “A leitura após certa idade distrai excessivamente o espírito humano das suas reflexões criadoras. Todo homem que lê de mais e usa o cérebro de menos adquire a preguiça de pensar”. (Albert Einstein)

    “Deve-se temer a velhice, porque ela nunca vem só. Bengalas são provas de idade e não de prudência”. (Platão)

    Para neutralizar o entardecer, as bengalas dos idosos deveriam ser acompanhadas de computador, Internet, teclado e deixar que eles soubessem de muitas coisas, perdessem a preguiça de pensar; Compusessem e cantassem as suas odes de amor ao próximo, bendizendo o ar, a luz e sentirem-se criaturas amadas.

    Pare erário público! Pare de alimentar as cachoeiras de deltas onde mensaleiros despreocupados se banham.

    14 de agosto de 2012
    Walter Marquart

    "SE SOUBESSE DA RELAÇÃO DE LULA COM O BMG O JOGARIA NÃO"


    Roberto Jefferson diz que não sabia da relação de Lula com BMG. ‘Se eu soubesse disso, jogaria ex-presidente no chão’, diz presidente do PTB

    O presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson, assistiu pela televisão à defesa feita por seu advogado Luiz Francisco Barbosa, no Supremo Tribunal Federal (STF). O petebista ficou em seu apartamento, na Barra da Tijuca, ao lado da mulher, Ana Lúcia Moraes, e de assessores.

    Ao GLOBO, Jefferson afirmou que “jogaria Lula no chão” há sete anos, quando denunciou o mensalão, se soubesse na época da suposta relação do ex-presidente com o banco BMG. Barbosa fundamentou a acusação contra Lula ao citar uma medida provisória baixada pelo governo que permitiu que bancos pudessem operar o crédito consignado.


    — Esse banco (BMG) que está denunciado (no mensalão) recebeu tratamento privilegiado do governo. Nunca imaginei essa relação tão íntima. Se eu soubesse disso, jogaria o Lula no chão. Na época, eu relatei apenas o que vi. O Barbosa falou o que ele pesquisou — disse Jefferson, que ainda se recupera da recente operação de retirada de um tumor no pâncreas.

    — Mas eu não quero acusar o Lula. A minha tribuna já foi encerrada lá atrás. Eu era o ator. Agora, sou expectador e acusado — disse o petebista.

    Em 2005, Jefferson culpou Dirceu

    A tese do advogado contraria as declarações de Jefferson, em 2005, em seu depoimento na Comissão de Ética da Câmara. À época, o presidente do PTB contou que foi ele quem avisou Lula sobre o mensalão. No mesmo depoimento, ao se referir ao ex-chefe da Casa Civil José Dirceu (PT), outro réu no processo, Jefferson defendeu Lula:

    — Zé Dirceu, se você não sair rápido daí (do governo), você vai fazer réu um homem inocente, que é o presidente Lula. Rápido, sai rápido, Zé, para você não fazer mal a um homem bom, correto, de quem eu tenho orgulho de ter apertado a mão.

    Apesar das divergências, Jefferson elogiou o desempenho de Barbosa.

    — O advogado é do mesmo quilate do cliente. Tem a mesma audácia. Eu adorei — disse.

    Nesta segunda-feira, em seu blog, Jefferson afirmou que a presidente Dilma já estaria a procura de novos ministros do STF:

    “Enquanto o julgamento do mensalão corre, paralelamente e de forma discreta, Dilma já começa a procura pelos próximos integrantes do STF. Em setembro, o ministro Cezar Peluso se aposenta e, logo a seguir, é a vez do atual presidente do tribunal, ministro Ayres Britto, deixar a Corte. Depois, o decano Celso de Mello também sai”.
     
    14 de agosto de 2012
    Cássio Bruno - O Globo

    A REVOLTA DOS MEQUETREFES

     


    RUTH DE AQUINO  é colunista de ÉPOCA raquino@edglobo.com.br (Foto: ÉPOCA)

    É revoltante a perseguição do Brasil a seus 81 senadores. Durante a vida toda, servindo a nação, eles receberam sem problema dois salários extras por ano, o 14º e o 15º. Nos valores atuais, R$ 53.400. Jamais pagaram algum imposto em cima desse valor. Zero. E, agora, vem a Receita Federal e decide cobrar deles o imposto devido nos últimos cinco anos, com multas e juros. Como se eles fossem uns mequetrefes. O Leão deu um prazo de 20 dias para Suas Excelências enviarem cópias de contracheques e comprovantes de rendimentos anuais.

    Os senadores deveriam aderir à onda das greves. Virou moda servidor público partir para o confronto com a presidente Dilma e, por tabela, infernizar a população na rua, nas universidades, nos hospitais e nos aeroportos. Não importa quanto ganhem. Não importa que tenham recebido aumentos nos últimos anos acima da inflação. Aumentos maiores que os da população, engarrafada pelo poder dos sindicatos.

    Uma greve dos senadores teria a vantagem de nem ser percebida, porque não faria a menor diferença para a vida de ninguém. Ou alguém acha que o país sofre durante os meses de recesso em que pagamos aos senadores para que eles não façam nada? Eles não fazem nada, e nós sofremos menos ainda.
    É revoltante a Receita perseguir os senadores. Eles deveriam aderir à onda das greves. Ninguém perceberia...
     
    Cada senador terá de devolver R$ 64.700, fora juros e multas, referentes aos anos de 2007 a 2011. Uma fortuna! Principalmente se calcularmos a merreca mensal que eles recebem de subsídio e verbas extras. Alguns deles também ganham aposentadoria de ex-governador. Um é o presidente do Senado, José Sarney, em seu terceiro mandato – que dá exemplo ao não revelar quanto ganha.

    Embora sua zelosa assessoria de imprensa se recuse a divulgar, calcula-se que, somando tudo, deve rondar os R$ 80 mil a remuneração mensal do maranhense que adotou o Amapá. Sarney recebe R$ 26.723,12 como senador, mais as aposentadorias de ex-governador do Maranhão e de servidor do Tribunal de Justiça, além das verbas extras, chamadas inexplicavelmente de “indenizatórias”.
    Se Sarney ganhar menos (e não mais), ÉPOCA receberá uma carta de Fernando Cesar Mesquita, da Secretaria Especial de Comunicação Social do Senado. Esperamos que ele nos informe o exato valor, discriminado, em nome da clareza.

    Pelo menos cinco outros senadores, do PTB, do DEM, do PMDB, do PP e do PT, ganham, como Sarney, aposentadoria de ex-governador, que varia de R$ 11 mil a R$ 24 mil. Vários senadores, flagrados pela imprensa, decidiram abrir mão do benefício.

    Às vésperas de sair da vida pública com uma vingança na manga (deixar Renan Calheiros em seu lugar), Sarney se diz feliz porque a Receita cobrou imposto apenas em cima dos últimos cinco anos: “Se fosse de todos os meus mandatos, não seria uma facada, seria um tiro.
    Nem se vendesse a Ilha de Curupu, que não é mais minha, daria para pagar”. Em 1970, Sarney se tornou senador pela primeira vez.

    Os senadores se insurgiram contra a cobrança retroativa. Os políticos estão inquietos com essa mania de remexer o passado em nome da moralização e da transparência. Tanto esforço para não ser tratado como homem comum, zé-ninguém, mequetrefe. E, de repente, todas as regalias são ameaçadas, e o “toma muito lá dá muito cá” passa a ser crime.
    Até os pares cassam mandato. Imagine ter de enfrentar a Justiça de verdade e, pior ainda, o ministro Joaquim Barbosa fazendo perguntas capciosas ao vivo, na televisão, de supetão, fora do roteiro, sem nada combinado? Por que o Brasil resolveu se tornar um país menos avacalhado e mais sério?

    Essa facada da Receita Federal não ficará assim não. Se a estratégia dos réus do mensalão é jogar a culpa no próximo, no subordinado ou no morto, os senadores também não assumem culpa de nada. Dizem que o erro foi do Senado, e não deles. Exigem uma negociação coletiva.

    O líder do PSDB, o senador Álvaro Dias (PR), não se conforma em retirar do próprio bolso um dinheiro que, a seu ver, é devido pela instituição. “O erro foi do Senado, e nós é que vamos pagar a conta?”, pergunta Dias, escandalizado. Provavelmente, Dias quer que a dívida dos 81 senadores com a Receita seja retirada dos cofres públicos, de nosso bolso.

    Nenhuma dessas raposas políticas sabia que teria de pagar Imposto de Renda sobre o 14º e o 15º salários. Eles achavam que isso era só ajuda de custo. Porque a vida deles custa muito.
    Não bastam auxílio-moradia, auxílio-passagem, auxílio-telefone, auxílio-combustível, auxílio-assessor, auxílio-correio, auxílio-refeição. Precisamos fazer um mutirão, uma vaquinha para ajudar os senadores amotinados. Caso contrário, eles podem fazer greve. Já pensou? Nem vou dormir.

    14 de agosto de 2012
    RUTH DE AQUINO é colunista de ÉPOCA

    A FILHA DO MENSALÃO

     


    Toda hora alguém descobre que Dilma é diferente, que não transige com os métodos do padrinho, que não admite os contrabandos éticos da ideologia companheira etc. Aí surge o ministro intocável para despertar esse povo crédulo de seus doces delírios. Gilberto Carvalho é a partícula de Deus do lulismo, a prova científica da matéria lulista em Dilma.

    E quando o Brasil se esquece desse fato, o próprio Gilberto Carvalho se encarrega de lembrá-lo. Tudo ia muito bem para o governo Dilma no julgamento do mensalão, com a opinião pública olhando para os réus do valerioduto como se aquilo fosse uma história de época, um filme de máfia sobre um passado que passou.
    Foi quando surgiu a voz sensata de Carvalho para avisar: “Quem aposta no desgaste do governo (com o julgamento do mensalão) vai se decepcionar!” Pronto. Ali estava o bóson de Higgs do governo popular se entregando no inconfundível estilo petista – fazendo o pênalti e depois levantando os braços para dizer “não fui eu”.

    Os braços levantados do zagueiro Carvalho, com seus dez anos de palácio unificando os gabinetes de Lula e Dilma, falam mais que mil palavras. Mas ele fez questão de ser didático. Comparando a repercussão atual do julgamento com a do escândalo em 2005, o ministro lembrou: no que “baixou a poeira do debate político”, o povo apoiou “o processo”, reelegendo Lula em 2006 e elegendo Dilma em 2010. Estava mais do que na hora de alguém gritar que “o processo” de Lula e Dilma é o mesmo, inclusive na testada e aprovada capacidade de ganhar eleições e manter a popularidade alta apesar das trampolinagens.

    A mensagem de Gilberto Carvalho ao país é muito rica, contendo alta carga conceitual, mas pelo menos uma tradução bem simples pode ser feita: percam as esperanças de nos desmascarar, porque o eleitorado não está nem aí para os nossos esquemas parasitários.

    O brado do ministro da Secretaria-Geral da Presidência foi ouvido, coincidentemente, depois da apresentação da defesa de José Dirceu no Supremo Tribunal Federal. O advogado do ex-ministro e suposto chefe da quadrilha lembrou que Dilma, quando ouvida no processo, proferiu um nada-consta sobre Dirceu quanto ao seu tráfico de influência junto aos bancos do mensalão. Um sutil gesto de solidariedade com o companheiro de armas que, no presente momento, poderia soar comprometedor – se a platéia fizesse um pequeno esforço para se lembrar que a venerável dama de ferro não veio de Marte.

    Dilma veio, precisamente, do planeta Dirceu. Sua ascensão à Casa Civil foi articulada pelo próprio, no exato momento em que ele caía em desgraça com o estouro do escândalo. Dilma é, portanto, filha do mensalão. E fez questão, em plena cerimônia de posse, de mostrar lealdade ao antecessor que afundava com as revelações sobre o valerioduto. Só a opinião pública consegue separar a presidente do grupo que está sendo julgado no Supremo – separação que nem ela mesma jamais fez.

    Os quase 80% que aprovam Dilma Rousseff de olhos fechados (e bem fechados) devem considerar mera coincidência as companhias que a afilhada de Dirceu cultiva em sua trajetória gerencial: Erenice Guerra, os consultores Antonio Palocci e Fernando Pimentel (este ainda pendurado no governo graças à grande gestora-amiga) e outros filhos do “processo” Lula-Dilma que ficaram pelo caminho, como Orlando Silva, Carlos Lupi e grande elenco parasitário – todos parentes políticos da grande família de mensaleiros e aloprados, com os quais a presidente, Deus a livre, não tem nada a ver.

    Quem tiver dúvidas, preste atenção às palavras do ministro Gilberto Carvalho encerrando o assunto: “A presidenta Dilma nos deu a orientação de seguirmos trabalhando rigorosamente, seguindo nossa tarefa de governo, numa atitude semelhante à que o presidente Lula já tomara em 2005.” Como se vê, o “processo”, “esquema” ou como se queira chamar esse caso de polícia com fantasia de revolução é exatamente o mesmo há dez anos. Marque o pênalti, seu juiz.

    14 de agosto de 2012
    guilherme fiuza
    (ÉPOCA – edição 743)

    APRENDAM, PETRALHAS: MEDALHA NÃO SE COMPRA

     



    O resultado da participação do Brasil nos Jogos de Londres foi um choque de realidade nos devaneios da administração petista. O desempenho, medíocre diante das alardeadas expectativas positivas do governo, serviu para mostrar que só impetuosidade patrioteira, com o consequente gasto descontrolado de dinheiro público, não basta para pavimentar o caminho ao Olimpo esportivo.

    O Comitê Olímpico Brasileiro (COB) obteve R$ 331 milhões entre 2009 e 2012 para financiar a preparação dos atletas que representaram o País em Londres.
    O valor é R$ 101 milhões superior ao repassado no período entre 2005 e 2008, visando aos Jogos de Pequim. O montante é resultado da chamada Lei Piva, que destina 2% da arrecadação das loterias federais ao comitê.
    Nesse total não está incluída a injeção de recursos do governo federal, que patrocina esportistas por meio de estatais e concede a chamada Bolsa-Atleta, ou da prefeitura do Rio, que deu R$ 10 milhões.

    Com isso, a verba para os atletas brasileiros chegou a R$ 2 bilhões, mas o País ficou apenas em 22.º lugar no quadro de medalhas. O mesmo valor foi gasto pela Grã-Bretanha, anfitriã dos jogos e que ficou em terceiro na classificação geral, com 29 medalhas de ouro, contra 3 do Brasil.

    As 17 medalhas obtidas pelos brasileiros tornaram a performance do País equivalente à da competição anterior, na qual o Brasil subiu 15 vezes ao pódio.
    O Estado (13/8) revelou que esse resultado gerou uma crise entre o COB, que se disse "satisfeito", e o Planalto, que esperava ao menos 20 medalhas.
    Colocando-se esse desempenho em perspectiva, porém, o resultado é ainda pior. Como mostra a Folha (13/8), se o quadro de medalhas fosse um ranking de triunfos em relação ao número de atletas inscritos, o Brasil não seria o 22.º colocado, mas o 51.º.
    Como comparação, a Rússia, quarta colocada no quadro geral, ganhou uma medalha a cada 5,2 atletas, contra uma a cada 15,2 do Brasil.
    Tendo o PIB como critério, o País aparece em 68.º lugar – Cuba, cujo PIB é apenas 2% do brasileiro, obteve duas medalhas de ouro a mais que o Brasil e ficou em 15.º na classificação geral.

    Diante disso, não se pode esperar, como fazem crer as autoridades do esporte brasileiro, que o desempenho melhore muito na próxima Olimpíada, no Rio de Janeiro, daqui a quatro anos. Já se fala em conquistar ao menos 30 medalhas, isto é, praticamente o dobro do obtido em Londres e em Pequim.
    "O Brasil tem de ter um desempenho esportivo compatível com o de país-sede da Olimpíada até 2016. Queremos despontar como potência olímpica", disse em julho o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, ao embarcar para Londres para acompanhar a delegação brasileira. Essa utopia não é nova na gestão petista. Em 2009, logo depois da escolha do Rio como sede dos Jogos de 2016, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que "o Brasil não vai chegar na Olimpíada para disputar meia dúzia de merreca de medalhas".

    Mesmo considerando-se que o Brasil terá representantes em todas as modalidades, é difícil acreditar que, de uma hora para outra, surjam vencedores em esportes que os brasileiros nem começaram a praticar. Ademais, o ciclo para a formação de um atleta olímpico competitivo é de pelo menos dez anos.
    Como mostra o jornal Valor (13/8), a maioria das empresas no Brasil prefere patrocinar atletas somente quando estes já são razoavelmente bem-sucedidos, em vez de apostar em promessas que só vão se cumprir – se isso acontecer – após anos de investimento. Especialistas em marketing esportivo dizem que, em países com tradição olímpica, como os EUA, empresas como Coca-Cola e McDonald’s sabem que as estrelas das grandes competições só chegam a essa condição depois de um esforço de longo prazo e querem associar suas marcas a essa trajetória.

    Em resumo, medalhas não se compram. Elas são fruto não de voluntarismo ufanista, que é a marca da gestão petista, nem de oportunismo empresarial, mas de um esforço coordenado e persistente, para que o esporte olímpico seja introjetado na vida nacional não como um apêndice lúdico, do qual ouvimos falar de quatro em quatro anos, mas como parte da própria educação dos brasileiros.

    14 de agosto de 2012
    Editorial do Estadão

    RECORDAR É VIVER

    ACM diz que ‘o maior ladrão do Brasil está no Palácio do Planalto’


    06/06/2006
    ACM vê participação de Lula na manifestação dos sem-terra e conclama Forças Armadas a reagirem

    O senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) afirmou, nesta terça-feira (6), que a manifestação do Movimento de Libertação dos Sem Terra (MLST) na Câmara dos Deputados marca o início da campanha pela reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que, para ele, teria "participação direta" no episódio, na medida em que "incentiva os anarquistas".

    Antonio Carlos disse que o movimento deveria invadir o Palácio do Planalto, onde estaria "o maior ladrão do país, o presidente da República". O senador conclamou as Forças Armadas a tomarem providências.

    - Onde estão as Forças Armadas? Elas não podem ficar caladas. Esses comandantes estão obedecendo a um subversivo. Quero dizer neste instante, aos comandantes militares, não ao ministro da Defesa, que reajam enquanto é tempo, antes que o Brasil caia na desgraça de uma ditadura sindical, presidida pelo homem mais corrupto que já chegou ao governo da República – advertiu.

    O parlamentar criticou os presidentes da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que, segundo ele, não estavam presentes quando da eclosão da crise. Ele pediu medidas enérgicas.

    - Trata-se de momento grave na vida do Congresso Nacional. Nos momentos de dificuldades, os chefes não podem se ausentar. Agora, temos o dever de reagir. Não podemos ficar à mercê dos desordeiros. Se não, é melhor que fechemos as portas – afirmou.

    O senador Renan Calheiros esclareceu que, naquele instante, estava em seu gabinete, recebendo representantes da Associação Brasileira de Agências de Publicidade, e que, tão logo tomou conhecimento dos fatos, ligou para Aldo Rebelo e colocou a Polícia do Senado à disposição, para "tomar qualquer providência contra a arruaça".

    - Isso não é um movimento sem terra, é um movimento sem lei. Esse precedente contra o Congresso Nacional é contra a democracia. Esses arruaceiros têm que pagar pelo que fizeram, assim como têm que pagar pelos danos causados ao patrimônio público – disse Renan.

    14 de agosto de 2012
    Agência Senado

    NAS FESTAS DA "CORTE DE BRASÍLIA" A PROMISCUIDADE CEV A CRENÇA NA IMPUNIDADE


    Em post em que comentou um evento envolvendo o Ministro do STF, Dias Toffoli e um jornalista do jornal O Globo, o Reinaldo Azevedo aponta acertadamente para o que denomina República dos Fidalgos e identifica a deletéria promiscuidade moral e ética entre os poderosos e seus áulicos, uma procissão de cortesãos que inclui variada gama de atividades:
    Ministros do Supremo, advogados que patrocinam causas lá ajuizadas, jornalistas, banqueiros, parlamentares e mais uma pá de gente que se encontra nas famosas "festas dos grã-finos" de Brasília. As festas servem para divertir e, sobretudo, resolver questões ligadas a interesses muito particulares que na maioria das vezes colidem frontalmente com os interesses da Nação.
    A excelente memória do jornalista Reinaldo Azevedo permitiu que retirasse do fundo do baú uma reportagem da revista Veja de setembro do ano passado, intitulada "A Festa dos Bodes", que reporta uma dessas, como diria, verdadeiras "festas de arromba", que tipifica a vida "social" da República dos Fidalgos, e que teve de tudo, inclusive lança-perfume... Para quem quiser conferir basta ir ao acervo de Veja, no site da revista e procurar pela edição de 28 de setembro de 2011.
    Aproveito a postagem de Reinaldo para transcrever na íntegra A Festa dos Bodes. Ao ler esta reportagem os prezados leitores poderão então entender por que crimes como o do mensalão, em julgamento pelo Supremo Tribunal Federal (STF), podem simplesmente resultar e nada ou, no máximo, cevar a crença na impunidade que livra das malhas da lei do ladrão vulgar ao primeiro mandatário da República.
    Leiam:
    Frascos de lança perfume, o famigerado entorpecente.
    Dá-se como regra que em Brasília os assuntos mais candentes não são resolvidos nos gabinetes e nos plenários, mas em restaurantes, quartos de hotel e festas particulares. Na semana passada, o Superior Tribunal de Justiça (STJ), a segunda mais alta corte do país, transformou em pó a mais extensa investigação já feita sobre a familia do presidente do Senado, José Sarney.
    Realizada entre 2007 e 2010, a operação mapeou os negócios do clã maranhense nas abas do poder público, f1agrou remessas milionárias para o exterior, além de dinheiro do contribuinte indo parar em contas de empresas controladas, segundo a polícia, por “laranjas” do primogênito do senador, o empresário Fernando Sarney.
    Transações quase sempre sustentadas por verbas de órgãos historicamente comandados por apadrinhados do superpoderoso parlamentar, como as estatais do setor elétrico. De tão complexo, o caso se desdobrou em cinco inquéritos. Três deles estavam prestes a se transformar em processos judiciais. Antes que isso acontecesse, porém, veio a decisão do STJ.
    Uma das turmas do tribunal considerou que juízes de primeira instância não poderiam ter autorizado a quebra dos sigilos fiscal, bancário e telefônico de Fernando Sarney e de outros investigados apenas com base em informações do Coaf, o órgão governamental encarregado de monitorar operações financeiras suspeitas.
    Foi uma transação de 2 milhões de reais, realizada no fim do ano eleitoral de 2006 e mapeada pelo Coaf, que serviu como ponto de partida para a investigação. Incumbidos da operação, Polícia Federal e Ministério Público discordam, obviamente, da decisão. Advogados criminalistas, claro, festejam. Independentememe de qual lado está com a razão, o fato é que o veredicto do STJ dá força à sensação de que os poderosos e aqueles que orbitam em seu redor nunca experimentam a força da lei no Brasil.
    É mais um elemento a confirmar a fama de paraíso da impunidade. Fama danosa ao país, mas que garante uma vida tranquila a figuras de proa da República às voltas com denúncias graves. Gente como os notórios Paulo Maluf, Luiz Estevão, Jader Barbalho e Renan Calheiros, beneficiados por um caldo cultural que tem como ingredientes a promiscuidade entre agentes públicos e empresários, a falta de apetite das instituições para punir certas castas e a letargia da população diante de malfeitos.
    Para entender as razões que protegem políticos e corruptores do acerto de contas com a Justiça, é preciso retroceder ao descobrimento. Diz o professor e doutor em história Ronald Raminelli, da Universidade Federal Fluminense:
    “A impunidade é uma prática que veio para cá com os portugueses. Na Europa daquele período, os nobres e poderosos tinham privilégios e não eram submetidos às mesmas leis dos homens comuns. A diferença é que os europeus foram se livrando dessa tradição ao longo do tempo, mas aqui ela perdura até hoje”.
    Na gênese dessa prática está a necessidade de autopreservação da elite política – comportamento que se cristaliza, por exemplo, nas absolvições de parlamentares criminosos e na dificuldade do Congresso em aprovar leis saneadoras na seara ética. “Para os poderosos, até hoje fica a interpretação da lei da melhor maneira possível. Há uma rede de proteção em que as leis são sempre interpretadas de acordo com os interesses dos grupos dominantes”. prossegue Raminelli.
    A Justiça é uma engrenagem indissociável desse processo. O problema começa na forma como são preenchidas as vagas nos tribunais superiores. Os ministros são escolhidos pelo presidente da República. Antes de assumirem, têm de ser sabatinados e aprovados pelo Senado. “O processo de escolha é uma verdadeira simbiose entre Legislativo. Executivo e Judiciário e foi levado a um ponto intragável, em que há sempre a perspectiva, por parte dos magistrados. de agradar aos políticos de plantão, que podem ajudá-los a galgar postos mais altos na Justiça”, afirma o procurador Alexandre Camanho, presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República. “Virou uma grande bancada de compadres, onde todos se protegem, se frequentam, e quem quiser ter vaga no STJ ou no STF tem de usufruir de proximidade e prestígio com os políticos.”
    Com mais de cinquenta anos de vida pública, ex-presidente da República e pela quarta vez no comando do Senado, ao qual cabe realizar as sabatinas, Sarney construiu uma rede de relações e de influência sem precedentes – com ramificações em todos os poderes, principalmente no Judiciário.
    Relator do caso que resultou no arquivamento do processo que investigou a família Samey, o ministro Sebastião Reis Júnior foi empossado em junho passado no STJ. Um de seus amigos diletos é o advogado Antonio Carlos de Almeida Castro. Kakay, como o advogado é conhecido em Brasília, também é amigo de Sarney e defensor do clã maranhense há tempos.
    Essa relação de proximidade entre os três teve alguma coisa a ver com a decisão da semana passada? Certamente não. Mas relações assim fomentam determinadas lendas. “O Sebastião é meu amigo há muito tempo, mas não atuei nesse caso, não conheço os detalhes do processo nem sabia que ele era o relator”. diz Kakay.
    Em fevereiro, o advogado organizou uma feijoada na mansão em que mora, em Brasília, que reuniu ministros. senadores e advogados famosos. Sebastião Reis era um dos convidados. Na ocasião, apesar de ainda ser aspirante à vaga no STJ. já. era paparicado como “ministro” por alguns convivas. O ministro do Supremo Tribunal Federal José Dias Toffoli também participou da feijoada. que varou a madrugada. Ah. as festas e os quartos de hotel em Brasflia.
    Festança

    No dia 17 passado, um sábado, Toffoli, Kakay e representantes de famosas bancas de advogados de Brasília voltaram a se encontrar em uma festa, em Araxá, Minas Gerais, no casamento de um dos filhos do ex-ministro do STF Sepúlveda Pertence. O aeroporto da cidade não via um movimento assim tão imenso fazia muito tempo.
    Os convidados mais famosos chegaram a bordo de aviões particulares, inclusive o ministro Dias Toffoli. Em nota, ele explicou que o avião lhe fora cedido pela Universidade Gama Filho, do Rio de Janéiro, onde dá aulas. Naquele dia, por coincidência, o ministro, que estava junto de sua companheira, informou que tinha um compromisso de trabalho no campus que a instituição mantém em Araxá.

    Sepúlveda Pertence é o presidente da Comissão de Ética Pública da Presidência – uma espécie de vigilante e fiscal do comportamento das autoridades do Executivo. Além de Kakay e Toffoli, ele recebeu como convidados o ex-senador Luiz Estevão (condenado a 31 anos de prisão e que deposita suas últimas esperanças em se safar da cadeia nos recursos que serão julgados no STJ e no Supremo) e o empresário Mauro Dutra (processado por desvio de dinheiro público) – e advogados que defendem ou já defenderam ambos.
    Toffoli é relator de um dos processos de Luiz Estevão no Supremo. Os quartos do hotel mais luxuoso da cidade foram ocupados, portanto, por juízes, réus e advogados que atuam em processos comuns. A feijoada de Brasília terminou na madrugada do dia seguinte, com um inofensivo karaokê. A festa de Araxá também avançou a madrugada, embalada por música eletrônica. Havia, porém, uma surpresa guardada para o final.
    Lança-perfume

    Depois das 3 da manhã, as bandejas dos garçons passaram a circular com frascos de lança-perfume, uma droga ilegal, que pode levar à prisão de quem a distribui. Quem a consome, se flagrado, também tem de se explicar à Justiça. “Teve gente que passou mal no banheiro, mas foi tudo de boa”, conta um dos convidados.
    Àquela hora, rezemos, os guardiães das leis, incluindo os anfitriões, já haviam se recolhido aos seus aposentos. Não teriam testemunhado, assim, o que, pelas leis vigentes no país, ainda é considerado crime.
    No dia seguinte, os jatinhos estacionados no aeroporto decolaram em direção a Brasília. Na segunda-feira, quando começa a semana de trabalho, os convivas passam a chamar-se de excelências. Voltam a ser juízes, advogados e réus. Só na aparência. infelizmente.
    14 de agosto de 2012
    in aluizio amorim