Enquanto o escândalo mais explosivo da década passada, o Mensalão, chega ao fim, o que deverá acontecer amanhã, se não houver algum percalço no Supremo Tribunal Federal, o espaço é ocupado por novo escândalo, que já está na praça há uma semana e meia. Não tem a dimensão do primeiro, mas, em compensação, é centralizado pelo Grande Chefe, Lula, ao lado de Rosemary e figuras que satelizavam no entorno da ex-secretária. Entre os dois, o primeiro tem uma dimensão mais densa, mas a segunda denúncia reúne a capacidade de prender as atenções de setores da população. A princípio, o povo não entendia – e muitos ainda não entendem – as engrenagens utilizadas pelos mensaleiros.
Em compensação, fica muito fácil compreender como Rosemary traiu Lula; com utilizou o íntimo relacionamento entre ambos; como ela própria propagava, para conseguir empregos, usufruir de vantagens, nomear pessoas para altos cargos e depois cobrar pelo trabalho realizado; com usava, sem o menor pudor, o nome de Luiz Inácio, como ela o chamava, além de se gabar de viajar com ele para o exterior e possuir passaporte diplomático. Em determinado momento, D. Marisa Letícia descobriu parte do que acontecia, especialmente em relação a Lula e Rose, passando a cortá-la das comitivas que viajavam no Aerolula pelos céus do mundo.
Em outras palavras, o Rosegate causa mais desgaste popular no ex-presidente do que o mensalão, que ele pretendia, depois do julgamento, demonstrar que tudo não passou de um episódio falso. Esqueceu-se da pretensão para se voltar, silencioso, para o que poderá vir acontecer na sua carreira política nas eleições de 2014. A verdade é que, depois que ele elegeu Dilma, e a presidente encontrou uma boa quantidade de ministros que o ex deixou na sua gestão e os demitiu, por corrupção, a situação está mudando para ele e para ela.
Para ele porque acoitava corruptos; para ela porque ganhou popularidade pelas medidas tomadas, varrendo-os dos cargos, tal como aconteceu com o grupo de Rosemary. Agora, no entanto, tem à frente uma gestão que não agrada e cujo PIB deste ano é desmoralizante. Se permanecer assim para 2013, ou se a economia não crescer a nível pelo menos aceitável, sua provável candidatura à reeleição ficará na corda bamba.
Enquanto a cada dia surgem informações que depõem contra Rosemary, como o fato de, por email, dizer a Paulo Vieira que Lula estava se transformando “num velho caquético” depois da queda que levou em casa, ficou pior para o presidente. Ele, que era de muito falar, passou a guardar um silêncio absoluto. Lê o que ocorre ou o que é informado sobre a vasta documentação recolhida pela Polícia Federal e nada diz.
O tempo não deve estar, também, “azul de bolinhas brancas”, em sua casa, como costumava dizer o ex-governador da Bahia, Luiz Viana Filho. D. Marisa Letícia que não dava palavra quando Primeira-Dama deve estar tiririca, falando tudo o que deve no silêncio da sua casa. Se assim for, deve estar um inferno para Lulinha que só queria paz e amor. Aliás, apenas numa comparação, não mais do que isso, D. Marisa Letícia e Rosemary são exatamente opostos. Uma silenciosa, a segunda falastrona, gastadora, lambaz, aproveitadora, complicada. É a lei do equilíbrio.
O pior estar para vir que, diante do acontecido e da corrupção bancada pela quadrilha, a PF quando reunir as provas que coletou, deve enviá-las ao Ministério Público que oferecerá denúncia ao Judiciário, tal como aconteceu no Mensalão, mas, no caso, no STF.
Lula e Rosemary devem estar arrependidos. O primeiro por proteger a ex-chefe do gabinete da Presidência da República em São Paulo e ele por ter se envolvido com uma pessoa tão nefasta e sem princípios. Mas o que fazer se tudo começou lá atrás, em 1994 quando ele já tinha perdido uma eleição presidencial e se preparava para disputar outra onde também seria derrotado?
É fato, repito, que Lula está em decadência, assim como acontece com o partido que fundou, o PT, que perdeu a aureola de uma legenda ética que teria nascido para mudar a concepção política da República estabelecendo um contraponto aos demais partidos. Na verdade, queiram ou não os petistas, está ficando pior em termos éticos e morais já que se especializou por aparelhar governos que comanda com figuras menores, sem competência para dar conta das suas responsabilidades.
Enfim, enfim, no Brasil sempre foi assim: onde entra mulher envolvendo-se em questões políticas inerentes aos seus amigos ou maridos, não dá certo. Muito diferente quando a mulher assume postos republicanos, seja ele qual for, sem depender de nenhum macho. E que, por ser dona do seu destino e competência, se recusa a ser chamada de “madame”, como acontece com a “madame” Rosemary.
05 de dezembro de 2012
Samuel Celestino