Bezerra Coelho, defendendo o indefensável e usando a velha e surrada tese do preconceito nacional:
"Não se pode discriminar Pernambuco por ser estado do ministro. Não é correto. Não é justo".
Não é correto nem justo inventar discriminação para com o Estado de Pernambuco, quando o malfeitor dos malfeitos é o próprio ministro que se defende e não o Estado.
Os pernambucanos agradecem o uso e abuso do ministro. O Brasil deplora o oportunista com banca de ministro preconceituoso.
Um painel político do momento histórico em que vivem o país e o mundo. Pretende ser um observatório dos principais acontecimentos que dominam o cenário político nacional e internacional, e um canal de denúncias da corrupção e da violência, que afrontam a cidadania. Este não é um blog partidário, visto que partidos não representam idéias, mas interesses de grupos, e servem apenas para encobrir o oportunismo político de bandidos. Não obstante, seguimos o caminho da direita. Semitam rectam.
"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)
"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
domingo, 8 de janeiro de 2012
ANOTAÇÕES DO SANATÓRIO 2
PANDILHA
O governo Dilma perdeu pelo menos um funcionáriop por dia, em razão de denúncias de corrupção que nunca partiram do próprio governo. Muito mais do que esses que foram flagrados no contrapé, continuam lépidos e faceiros corroendo a máquina estatal.
MODO DE DIZER
Pelo menos 35 pessoas morrem em mais um dia de repressão na Síria. Olha só o jeito que essa gente diz as coisas. Dá a impressão de que els estão contando que ainda bem que pelo menos 35 pessoas não continuaram vivas na Síria. Vai ver que é isso mesmo que eles querem dizer.
FOI ELE
Integração Nacional se contradiz ao explicar transferência de verba. Pasta tenta explicar nos últimos dias os critérios para o repasse de verbas para obras antienchente. Pasta, Integração? Um pinóia! Quem se contradisse foi o próprio ministro, candidato a prefeito de Recife.
SAUDADE DAS SACANAGENS
Lula está animado para voltar à política, diz líder do PT na Câmara. Ex-presidente fez, nesta sexta, a terceira sessão de radioterapia no tratamento contra o câncer na laringe. Na verdade, com essa declaração o líder quis mesmo foi se exibir pra todo mundo mostrando que se dá bem com Lula e coisa e tal. O que o pessoal não aguenta mais é essa saudade enorme de se espantar com as sacanagens que o convalecente presidente de honra do PT apronta, quando está em plena forma.
ARROCHO NA VELHARADA
Aposentados que ganham acima do mínimo terão reajuste de 6,08%.
Índice corresponde à inflação de 2011; segurados que recebem acima do piso não terão reajuste real. Quem há menos de dez anos se aposentou com 10 salários mínimos, hoje está ganhando menos de quatro. Como é que esses mais de 9 milhões de achincalhados não esfregam Mantega na rampa do Palácio é que não dá para entender. Seria pelo menos uma chance de se ver uma presidenta insensível resvalar pela Esplanada dos Ministérios - antro de ladrões podres de rico.
06.01.2012
sanatorio da noticia
O governo Dilma perdeu pelo menos um funcionáriop por dia, em razão de denúncias de corrupção que nunca partiram do próprio governo. Muito mais do que esses que foram flagrados no contrapé, continuam lépidos e faceiros corroendo a máquina estatal.
MODO DE DIZER
Pelo menos 35 pessoas morrem em mais um dia de repressão na Síria. Olha só o jeito que essa gente diz as coisas. Dá a impressão de que els estão contando que ainda bem que pelo menos 35 pessoas não continuaram vivas na Síria. Vai ver que é isso mesmo que eles querem dizer.
FOI ELE
Integração Nacional se contradiz ao explicar transferência de verba. Pasta tenta explicar nos últimos dias os critérios para o repasse de verbas para obras antienchente. Pasta, Integração? Um pinóia! Quem se contradisse foi o próprio ministro, candidato a prefeito de Recife.
SAUDADE DAS SACANAGENS
Lula está animado para voltar à política, diz líder do PT na Câmara. Ex-presidente fez, nesta sexta, a terceira sessão de radioterapia no tratamento contra o câncer na laringe. Na verdade, com essa declaração o líder quis mesmo foi se exibir pra todo mundo mostrando que se dá bem com Lula e coisa e tal. O que o pessoal não aguenta mais é essa saudade enorme de se espantar com as sacanagens que o convalecente presidente de honra do PT apronta, quando está em plena forma.
ARROCHO NA VELHARADA
Aposentados que ganham acima do mínimo terão reajuste de 6,08%.
Índice corresponde à inflação de 2011; segurados que recebem acima do piso não terão reajuste real. Quem há menos de dez anos se aposentou com 10 salários mínimos, hoje está ganhando menos de quatro. Como é que esses mais de 9 milhões de achincalhados não esfregam Mantega na rampa do Palácio é que não dá para entender. Seria pelo menos uma chance de se ver uma presidenta insensível resvalar pela Esplanada dos Ministérios - antro de ladrões podres de rico.
06.01.2012
sanatorio da noticia
ANOTAÇÕES DO SANATÓRIO
RADIOTIVIDADE
O cordão dos puxassacos cada vez aumenta mais em torno da casa do convalescente guru Luiz Erário Lula da Silva. É ano de eleição. Os caras não respeitam nem mesmo a radioterapia do honrado presidente de seu partido. Sabem que precisam dele nos palanques. Ainda mais agora que Lula é radioativo.
ENDIVIDADOS
O Ipea, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, revelou que 47% dos brasileiros estão endividados. Devem os olhos da cara. Acreditaram na basófia de Luiz Erário da Silva e foram às compras. Não têm como pagar. Usaram o 13° salário para abater os débitos. Foi pouco, não deu pra nada.
IN/DEFESA CIVIL
A tragédia anunciada pela natureza na região serrana do Rio, em Minas Gerais, Espírito Santo, afora a estiagem no Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina, repercute no mundo inteiro. O espanto internacional empata com o daqui da casa. A Defesa Civil só agora ficou sabendo do desastre. Parece que já avisou ao governo Dilma.
ARREPIO À LEI
O governo Dilma, usaou Mantega uma vez mais para dar aumento abaixo da inflação para os 9 milhões de aposentados que ganham acima de um salário mínimo. Dessa vez foi 6%. Quem se aposentou com o equivalente a dez salários mínimos, hoje ganha menos de quatro salários mensais. O governo usa como argumento legal o fator previdenciário, criado por FHC, aprimorado por Lula e mantido por Dilma com enorme prazer. É legal, mas não é legítimo. Arrepia a Constituição no seu maior e mais profundo valor: o espírito da lei.
SABEM DE TUDO
O híbrido Bezerra Coelho quer ir ao Congresso Nacional explicar que fez muito bem favorecer descaradamente seu filhos, seus parentes e amigos do peito com mais de 90% das verbas antienchentes do seu ministério. Vai dizer que Dilma sabia de tudo e que o procedimento foi legal. Não é disso que se está falando. O protecionismo, o uso e abuso, o malfeito tem cara de legal, mas é imoral. Bezerra Coelho é um malfeitor. E Dilma, como ele mesmo diz, sabe disso. Sabe de tudo. Foi ela quem escolheu a dedo cada ministro desses que agora ela promete descartar.
REDE DE ESCANDALOS
A revista Veja, outra vez, presta um serviço à memória combalida e mal-acostumada dos brasileiros. Acesse o endereço abaixo e sinta que hoje é um novo dia de um novo tempo. Entre, hoje a festa é sua, hoje a festa é nossa, é de quem quiser, quem vier: http://veja.abril.com.br/infograficos/rede-escandalos/rede-escandalos.shtml
CADÊ?!?
E cadê os ministros corruptos, todos indicados por Luiz Erário da Silva que Dilma não demitiu, mas saíram pela porta dos fundos? Cadê, onde estão; onde foram parar? Seus asseclas estão todos à sua espera em cada ministério, como dantes no quartel de Abrantes. Cadê, cadê?!? Cadê Erenice; cadê Palocci, cadê Alfredo Nascimento; cadê Wagner Rossi; cadê Pedro Novais; cadê ONGlando Silva; cadê Carlos Lupi? Cadê Zé Dirceu e seus 40 mensaleiros?!?
POBRE DE NOVO
E o Pré-Sal não vale mais nada? Foi só o Luiz Erário Lula da Silva sair de cena e cair de cama, para o Brasil ficar pobre de novo?!? Ninguém mais é radioativo nesse país?!?
RENAN FEZ A REFORMA
O caubói Renan Calheiros, criador de gado fantasma, é candidato ao lugar de Sarney quando chegar a hora. De quando em vez ele dá o ar da graça. Sobre a reforma ministerial ele foi peremptório, como um desses Tarsos Genros que andam por aí: "Não vai haver reforma ministerial. Ela já foi feita"! Para ele, desemprego de ministro malfeitor é faxina e basta. Até parece que os outros ministros de Dilma fizeram alguma coisa que prestasse até aqui.
07/01/2012
sanatorio da noticia
O cordão dos puxassacos cada vez aumenta mais em torno da casa do convalescente guru Luiz Erário Lula da Silva. É ano de eleição. Os caras não respeitam nem mesmo a radioterapia do honrado presidente de seu partido. Sabem que precisam dele nos palanques. Ainda mais agora que Lula é radioativo.
ENDIVIDADOS
O Ipea, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, revelou que 47% dos brasileiros estão endividados. Devem os olhos da cara. Acreditaram na basófia de Luiz Erário da Silva e foram às compras. Não têm como pagar. Usaram o 13° salário para abater os débitos. Foi pouco, não deu pra nada.
IN/DEFESA CIVIL
A tragédia anunciada pela natureza na região serrana do Rio, em Minas Gerais, Espírito Santo, afora a estiagem no Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina, repercute no mundo inteiro. O espanto internacional empata com o daqui da casa. A Defesa Civil só agora ficou sabendo do desastre. Parece que já avisou ao governo Dilma.
ARREPIO À LEI
O governo Dilma, usaou Mantega uma vez mais para dar aumento abaixo da inflação para os 9 milhões de aposentados que ganham acima de um salário mínimo. Dessa vez foi 6%. Quem se aposentou com o equivalente a dez salários mínimos, hoje ganha menos de quatro salários mensais. O governo usa como argumento legal o fator previdenciário, criado por FHC, aprimorado por Lula e mantido por Dilma com enorme prazer. É legal, mas não é legítimo. Arrepia a Constituição no seu maior e mais profundo valor: o espírito da lei.
SABEM DE TUDO
O híbrido Bezerra Coelho quer ir ao Congresso Nacional explicar que fez muito bem favorecer descaradamente seu filhos, seus parentes e amigos do peito com mais de 90% das verbas antienchentes do seu ministério. Vai dizer que Dilma sabia de tudo e que o procedimento foi legal. Não é disso que se está falando. O protecionismo, o uso e abuso, o malfeito tem cara de legal, mas é imoral. Bezerra Coelho é um malfeitor. E Dilma, como ele mesmo diz, sabe disso. Sabe de tudo. Foi ela quem escolheu a dedo cada ministro desses que agora ela promete descartar.
REDE DE ESCANDALOS
A revista Veja, outra vez, presta um serviço à memória combalida e mal-acostumada dos brasileiros. Acesse o endereço abaixo e sinta que hoje é um novo dia de um novo tempo. Entre, hoje a festa é sua, hoje a festa é nossa, é de quem quiser, quem vier: http://veja.abril.com.br/infograficos/rede-escandalos/rede-escandalos.shtml
CADÊ?!?
E cadê os ministros corruptos, todos indicados por Luiz Erário da Silva que Dilma não demitiu, mas saíram pela porta dos fundos? Cadê, onde estão; onde foram parar? Seus asseclas estão todos à sua espera em cada ministério, como dantes no quartel de Abrantes. Cadê, cadê?!? Cadê Erenice; cadê Palocci, cadê Alfredo Nascimento; cadê Wagner Rossi; cadê Pedro Novais; cadê ONGlando Silva; cadê Carlos Lupi? Cadê Zé Dirceu e seus 40 mensaleiros?!?
POBRE DE NOVO
E o Pré-Sal não vale mais nada? Foi só o Luiz Erário Lula da Silva sair de cena e cair de cama, para o Brasil ficar pobre de novo?!? Ninguém mais é radioativo nesse país?!?
RENAN FEZ A REFORMA
O caubói Renan Calheiros, criador de gado fantasma, é candidato ao lugar de Sarney quando chegar a hora. De quando em vez ele dá o ar da graça. Sobre a reforma ministerial ele foi peremptório, como um desses Tarsos Genros que andam por aí: "Não vai haver reforma ministerial. Ela já foi feita"! Para ele, desemprego de ministro malfeitor é faxina e basta. Até parece que os outros ministros de Dilma fizeram alguma coisa que prestasse até aqui.
07/01/2012
sanatorio da noticia
"SE QUISEREM..."
Voltando aos nóias do centro de São Paulo. Depois de ignorar o problema por duas décadas, as autoridades decidiram atacá-lo de frente... com uma política de mosca tonta em relação aos drogados. Baseados em uma exótica estratégia de "dor e sofrimento" de usuários de crack, pela primeira vez Prefeitura e Estado definiram medidas para tentar esvaziar a Cracolândia.
A estratégia está dividida em três etapas – diz o Estadão. A primeira consiste na ocupação policial, cujo objetivo é "quebrar a estrutura logística" de traficantes que atuam na área. Além de barrar a chegada da droga, policiais foram orientados a não tolerar mais consumo público de crack. Usuários serão abordados e, se quiserem, encaminhados à rede municipal de saúde e assistência social. Em uma segunda etapa, a ação ostensiva da PM, na visão de Prefeitura e Estado, vai incentivar consumidores da droga a procurar ajuda. Na terceira fase, a meta será manter os bons resultados.
Atenção ao “se quiserem”. Se o drogado quiser, será encaminhado a tratamento. Se não quiser, pode continuar cachimbando seu crack, sob o olhar complacente dos policiais. "A falta da droga e a dificuldade de fixação vão fazer com que as pessoas busquem o tratamento. Como é que você consegue levar o usuário a se tratar? Não é pela razão, é pelo sofrimento. Quem busca ajuda não suporta mais aquela situação. Dor e o sofrimento fazem a pessoa pedir ajuda", diz o coordenador de Políticas sobre Drogas da Secretaria de Estado da Justiça e da Defesa da Cidadania, Luiz Alberto Chaves de Oliveira.
Alguém já viu um drogado buscar tratamento? Pode até acontecer que alguém, filho de uma família estruturada e com algum futuro pela frente, busque tratar-se. É pessoa que tem algo a perder. Mas pessoas sem nenhum laço familiar ou social, sem emprego nem profissão? Me permito a dúvida. Para estes pobres diabos, a droga é uma espécie de muleta.
A Cracolândia será vigiada durante um mês, 24 horas por dia. E depois deste mês? Os nóias não estão esperando nem 24 horas para voltar a seu território. Hoje, leio nos jornais, foram dispersos com bombas de efeito moral e balas de borracha. Curiosa estratégia, combater a droga com balas de borracha. Há muito, os nóias vêm se esparramando pelo centro da cidade. O governo aposta em que, coibindo o tráfico na Cracolândia, o problema estará resolvido. Ora, o tráfico é ágil. Do dia para a noite, saberá como encontrar sua clientela. Se entra até nas prisões, não lhe será difícil abastecer o mercado nas ruas.
Os craqueiros foram empurrados pela Avenida Duque de Caxias até a Alameda Barão de Limeira, onde se dispersaram – noticia a Folha de São Paulo –. Cerca de meia hora depois, um grupo com cerca de 50 pessoas voltou a se aglomerar na Avenida Rio Branco, ao lado da Praça Princesa Isabel. A PM novamente usou a força contra o grupo, que correu em direção à Rua Aurora. Ou seja, a ação policial está apenas empurrando os nóias para ruas vizinhas.
Em meio a isso, um senhor cujas sandices já tive ocasião de comentar, considera que o governo está oficializando a tortura. Em artigo para o Terra, escreve Wálter Fanganiello Maierovitch:
- É inacreditável. Em tempos de Tribunal Penal Internacional e de luta sem fronteiras por respeito aos direitos humanos e contra a tortura, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, e o governador do estado paulista, Geraldo Alckmin, adotam, na conhecida Cracolândia, violência contra dependentes de crack. A dupla de governantes acaba de oficializar a tortura.
Maierovitch considera tortura obrigar os dependentes que vivem na Cracolândia a buscar ajuda, “pela dor e sofrimento” decorrentes da abstinência, junto às autoridades sanitárias ou redes de saúde. E compara a atitude do governo – inócua, diga-se de passagem – às torturas do DOI-CODI e aos campos nazistas. Curiosamente, não a comparou aos campos de concentração stalinistas. O que é significativo.
- A tortura indireta posta em prática pela dupla Kassab-Alckmin tem o mesmo fundamento dos campos de concentração nazista. E a tortura imperava no DOI-CODI, de triste memória.
E acena com a criação de narcossalas para o consumo da droga:
- As federações do comércio e da indústria da Alemanha apóiam os programas de narcossalas com um milhão de euros. E ninguém esquece a lição do professor Uwe Kemmesies, da Universidade de Frankfurt: “Podemos reconhecer que a oferta de salas seguras para o consumo de drogas melhorou a expectativa e a qualidade de vida de muitos toxicodependentes que não desejam ou não conseguem abandonar as substâncias”.
Ora, salas seguras para o consumo da droga significa também fornecer a droga aos usuários. Neste país em que milhões de chefes de família mal têm como botar o feijão na panela e fazem das tripas coração para dar educação aos filhos, o articulista propõe que o contribuinte financie a droga aos drogados.
Se o leitor me perguntar qual seria a solução para o problema, minha resposta é: não sei. Só sei que financiar crack aos craqueiros, contemplá-los de braços cruzados enquanto fumam ou deslocá-los de uma rua para outra não é solução.
A Prefeitura está tocando um projeto que chamou de Nova Luz. Uma vasta área está sendo desapropriada e será demolida para dar lugar a um centro administrativo. O que me parece uma ótica de cegos. Centros administrativos se tornam desertos depois das seis da tarde. Mesmo que os marginais sejam afastados durante o dia, todos voltarão à noite a seu habitat. Todas as semanas, os jornais nos trazem fotos de pobres coitados fumando crack. Alguns permanecem dias deitados, já nem conseguem parar em pé. Só a polícia, que tem um distrito policial justo na Cracolândia, parece não ver nada.
A Prefeitura quer revitalizar a Cracolândia. O resto da cidade que se lixe.
janer cristaldo
A estratégia está dividida em três etapas – diz o Estadão. A primeira consiste na ocupação policial, cujo objetivo é "quebrar a estrutura logística" de traficantes que atuam na área. Além de barrar a chegada da droga, policiais foram orientados a não tolerar mais consumo público de crack. Usuários serão abordados e, se quiserem, encaminhados à rede municipal de saúde e assistência social. Em uma segunda etapa, a ação ostensiva da PM, na visão de Prefeitura e Estado, vai incentivar consumidores da droga a procurar ajuda. Na terceira fase, a meta será manter os bons resultados.
Atenção ao “se quiserem”. Se o drogado quiser, será encaminhado a tratamento. Se não quiser, pode continuar cachimbando seu crack, sob o olhar complacente dos policiais. "A falta da droga e a dificuldade de fixação vão fazer com que as pessoas busquem o tratamento. Como é que você consegue levar o usuário a se tratar? Não é pela razão, é pelo sofrimento. Quem busca ajuda não suporta mais aquela situação. Dor e o sofrimento fazem a pessoa pedir ajuda", diz o coordenador de Políticas sobre Drogas da Secretaria de Estado da Justiça e da Defesa da Cidadania, Luiz Alberto Chaves de Oliveira.
Alguém já viu um drogado buscar tratamento? Pode até acontecer que alguém, filho de uma família estruturada e com algum futuro pela frente, busque tratar-se. É pessoa que tem algo a perder. Mas pessoas sem nenhum laço familiar ou social, sem emprego nem profissão? Me permito a dúvida. Para estes pobres diabos, a droga é uma espécie de muleta.
A Cracolândia será vigiada durante um mês, 24 horas por dia. E depois deste mês? Os nóias não estão esperando nem 24 horas para voltar a seu território. Hoje, leio nos jornais, foram dispersos com bombas de efeito moral e balas de borracha. Curiosa estratégia, combater a droga com balas de borracha. Há muito, os nóias vêm se esparramando pelo centro da cidade. O governo aposta em que, coibindo o tráfico na Cracolândia, o problema estará resolvido. Ora, o tráfico é ágil. Do dia para a noite, saberá como encontrar sua clientela. Se entra até nas prisões, não lhe será difícil abastecer o mercado nas ruas.
Os craqueiros foram empurrados pela Avenida Duque de Caxias até a Alameda Barão de Limeira, onde se dispersaram – noticia a Folha de São Paulo –. Cerca de meia hora depois, um grupo com cerca de 50 pessoas voltou a se aglomerar na Avenida Rio Branco, ao lado da Praça Princesa Isabel. A PM novamente usou a força contra o grupo, que correu em direção à Rua Aurora. Ou seja, a ação policial está apenas empurrando os nóias para ruas vizinhas.
Em meio a isso, um senhor cujas sandices já tive ocasião de comentar, considera que o governo está oficializando a tortura. Em artigo para o Terra, escreve Wálter Fanganiello Maierovitch:
- É inacreditável. Em tempos de Tribunal Penal Internacional e de luta sem fronteiras por respeito aos direitos humanos e contra a tortura, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, e o governador do estado paulista, Geraldo Alckmin, adotam, na conhecida Cracolândia, violência contra dependentes de crack. A dupla de governantes acaba de oficializar a tortura.
Maierovitch considera tortura obrigar os dependentes que vivem na Cracolândia a buscar ajuda, “pela dor e sofrimento” decorrentes da abstinência, junto às autoridades sanitárias ou redes de saúde. E compara a atitude do governo – inócua, diga-se de passagem – às torturas do DOI-CODI e aos campos nazistas. Curiosamente, não a comparou aos campos de concentração stalinistas. O que é significativo.
- A tortura indireta posta em prática pela dupla Kassab-Alckmin tem o mesmo fundamento dos campos de concentração nazista. E a tortura imperava no DOI-CODI, de triste memória.
E acena com a criação de narcossalas para o consumo da droga:
- As federações do comércio e da indústria da Alemanha apóiam os programas de narcossalas com um milhão de euros. E ninguém esquece a lição do professor Uwe Kemmesies, da Universidade de Frankfurt: “Podemos reconhecer que a oferta de salas seguras para o consumo de drogas melhorou a expectativa e a qualidade de vida de muitos toxicodependentes que não desejam ou não conseguem abandonar as substâncias”.
Ora, salas seguras para o consumo da droga significa também fornecer a droga aos usuários. Neste país em que milhões de chefes de família mal têm como botar o feijão na panela e fazem das tripas coração para dar educação aos filhos, o articulista propõe que o contribuinte financie a droga aos drogados.
Se o leitor me perguntar qual seria a solução para o problema, minha resposta é: não sei. Só sei que financiar crack aos craqueiros, contemplá-los de braços cruzados enquanto fumam ou deslocá-los de uma rua para outra não é solução.
A Prefeitura está tocando um projeto que chamou de Nova Luz. Uma vasta área está sendo desapropriada e será demolida para dar lugar a um centro administrativo. O que me parece uma ótica de cegos. Centros administrativos se tornam desertos depois das seis da tarde. Mesmo que os marginais sejam afastados durante o dia, todos voltarão à noite a seu habitat. Todas as semanas, os jornais nos trazem fotos de pobres coitados fumando crack. Alguns permanecem dias deitados, já nem conseguem parar em pé. Só a polícia, que tem um distrito policial justo na Cracolândia, parece não ver nada.
A Prefeitura quer revitalizar a Cracolândia. O resto da cidade que se lixe.
janer cristaldo
AHMADINEJAD E O NEGÓCIO DO URÂNIO NA VENEZUELA
Internacional - América Latina
Neste fim de semana a Venezuela recebe dois presidentes indesejáveis: Ollanta Humala, do Peru, que chegou ontem (7) para estreitar laços com Chávez após acertos feitos durante a inútil reunião da CELAC, e hoje à noite o ditador do Irã, Mahmoud Ahmadinejad. Ele diz que vem “estreitar laços” com os países da América Latina, mas na verdade o que significa sua presença na Venezuela, Nicarágua, Cuba e Equador, é conspirar junto com seus aliados contra os Estados Unidos e Israel.
A esse respeito, existe muita preocupação por parte dos venezuelanos residentes no país e exilados no exterior, mas muito mais por parte de congressistas republicanos, notadamente a cubano-americana Ileana Ros-Lehtinen, que faz parte do Comitê de Relações Exteriores dos Estados Unidos. Todos pedem ao governo Obama que tome medidas mais drásticas em relação às investidas de Ahmadinejad que, como retaliação “preventiva”, fez um ensaio de mísseis de Teerã no Estreito de Ormuz.
Ahmadinejad já anunciou que empregaria toda sua força caso Washington não renuncie à presença de sua força naval no Golfo Pérsico, coisa que a Casa Branca já alertou que não fará, e o ditador iraniano ameaçou fechar o Estreito de Ormuz por onde transita 35% do tráfego marítimo de petróleo.
É sabido há anos que a Venezuela é rica não só em petróleo mas também em urânio, e que o interesse do Irã por aquele país não é somente por afinidades ideológicas com Chávez. Desde 2005 eu venho alertando sobre os negócios do urânio entre Venezuela e Irã, que pode-se ler numa nota desta edição aqui. Depois disso eu falei mais a respeito, inclusive nos misteriosos vôos Teerã-Caracas, nas fábricas de cimento, tratores e bicicletas, e os estados ricos nesse mineral, mas o tempo exíguo de que disponho para fazer esta edição não me permitiu pesquisar mais para re-publicar.
Entretanto, como esse tema agora tem tido comprovações e denúncias daquilo que os venezuelanos já desconfiam há tempo, publico nesta edição um artigo publicado pelo jornal espanhol ABC em 12 de dezembro passado que é praticamente uma seqüência de outro publicado simultaneamente pelos sites Mídia Sem Máscara e Papéis Avulsos do Heitor De Paola. A foto que ilustra esta edição é uma vista aérea da “fábrica de tratores Venirán” que é, na verdade, uma empresa de fachada. Não deixem de ler os links indicados para compreender toda a trama por trás desta “inocente” visita, e o perigo que todos nós sul-americanos corremos com estas alianças nefastas. Fiquem com Deus e até a próxima!
O Irã procura urânio na Venezuela para desenvolver seu programa nuclear
O regime de Teerã utiliza suas concessões para a extração de ouro no país bolivariano e emprega várias empresas civis como fachada
Emili J. Blasco/Correspondente em Washington
Técnicos iranianos estabeleceram quais são as áreas de maior riqueza de urânio na Venezuela e já estariam extraindo o estratégico mineral sob a cobertura do regime de Hugo Chávez, de acordo com documentação confidencial à qual o jornal ABC da Espanha teve acesso. Não só o acordo de colaboração nuclear firmado entre ambos os países viola as sanções internacionais impostas a Teerã, senão que, além disso, uma complexa trama de empresas e bancos estaria permitindo ao Irã a lavagem de dinheiro para seu alívio financeiro.
Os últimos dados sobre colaboração militar, com a venda de aviões não-tripulados à Venezuela (transações comprovadas por este jornal) e a possibilidade de que também mísseis de fabricação iraniana já estejam em solo venezuelano (assim apontam algumas fontes mas sem evidência gráfica), fizeram soar os alarmes nos Estados Unidos. Esta semana a consulesa da Venezuela em Miami, Livia Acosta, poderia ser expulsa do país, depois que um documentário de Univisión revelou com uma câmera oculta sua implicação na obtenção de informação para cometer atentados em solo norte-americano.
A conexão do regime de Chávez com elementos do Hizbolah, já levou Washington a tomar medidas no passado, porém em meio à presente crise entre o Irã e os Estados Unidos a vinculação entre a república islâmica e a bolivariana começa a atrair a atenção da CIA. Assim revelou Roger Noriega, alto funcionário na administração Bush, que agora investiga a penetração do Irã na América Latina, em uma recente intervenção no American Enterprise Institute. A aproximação entre os dois países consumou-se em 2005, ano em que o presidente Jatami visitou Caracas. Chávez devolveu a visita em 2009, correspondida meses depois pelo presidente Ahmadinejad. Na documentação oficial desses encontros, que ABC pôde consultar, se contabilizavam alguns projetos de colaboração de 30 bilhões de dólares, cifra desmedida quando se analisa pormenorizadamente cada investimento. As vultosas quantias teriam como finalidade facilitar divisas ao Irã.
Entre os suspeitos investimentos está a fábrica de cimento Cerro Azul (na foto), no estado Monagas. Seu orçamento é de 750 milhões de dólares, o que no julgamento de consultores externos é desproporcional para a produção que deseja realizar. O fato de que há seis anos seja planejada e ainda não tenha começado a produzir levou os grupos opositores a pensar que pode se tratar de uma empresa de fachada, principalmente quando, ademais, está proibido seu sobrevôo. Suspeitas não confirmadas apontam que a instalação, com fácil acesso ao rio Orinoco, poderia servir como lugar de carga do urânio que o Irã poderia estar obtendo no vizinho estado Bolívar, em uma concessão para a suposta extração de ouro.
Esta mina, igualmente sem permissão de sobrevôo, encontra-se em uma das áreas mais ricas em urânio da Venezuela. Embora a zona conte com jazidas de ouro, curiosamente a empresa pública iraniana que a explora, IMPASCO, não aparece na relação de companhias que extraem ouro na Venezuela. A IMPASCO, além de se ocupar de diversos minerais, está vinculada ao programa nuclear iraniano.
Determinar precisamente onde se encontram os pontos mais eficientes para a obtenção de urânio foi tarefa dos técnicos iranianos que realizaram estudo geológico em 2007, para o Instituto de Indústria e Minas (INGEOMIN). O estudo foi apresentado depois por Chávez ante a OIEA para explicar seu projeto de erigir uma usina nuclear própria, cuja construção se encarregou a mesma companhia russa que levantou a central iraniana de Bushehr. Outra das zonas com potencial de urânio é em Baúl, no estado Cojedes.
Similar falta de atividade normal para o que seria sua produção declarada é a fábrica de tratores Venirán. Supostamente, o acoplamento de peças trazidas do Irã permitiria tirar da cadeia de montagem cerca de 3 mil tratores por ano, segundo os dados oficiais. Porém, o escasso número de trabalhadores e as medidas especiais de segurança fazem pensar em outro uso. Com duplo muro de segurança, o exterior está custodiado pela Guarda Nacional Venezuelana. Parte de seu interior só é acessível a pessoal iraniano. Em 2008, um total de 22 contêineres que partiam do Irã e se dirigiam à fábrica de tratores foram interceptados na Turquia: tratava-se de material químico supostamente para a fabricação de explosivos.
Graça Salgueiro, 08 Janeiro 2012
Neste fim de semana a Venezuela recebe dois presidentes indesejáveis: Ollanta Humala, do Peru, que chegou ontem (7) para estreitar laços com Chávez após acertos feitos durante a inútil reunião da CELAC, e hoje à noite o ditador do Irã, Mahmoud Ahmadinejad. Ele diz que vem “estreitar laços” com os países da América Latina, mas na verdade o que significa sua presença na Venezuela, Nicarágua, Cuba e Equador, é conspirar junto com seus aliados contra os Estados Unidos e Israel.
A esse respeito, existe muita preocupação por parte dos venezuelanos residentes no país e exilados no exterior, mas muito mais por parte de congressistas republicanos, notadamente a cubano-americana Ileana Ros-Lehtinen, que faz parte do Comitê de Relações Exteriores dos Estados Unidos. Todos pedem ao governo Obama que tome medidas mais drásticas em relação às investidas de Ahmadinejad que, como retaliação “preventiva”, fez um ensaio de mísseis de Teerã no Estreito de Ormuz.
Ahmadinejad já anunciou que empregaria toda sua força caso Washington não renuncie à presença de sua força naval no Golfo Pérsico, coisa que a Casa Branca já alertou que não fará, e o ditador iraniano ameaçou fechar o Estreito de Ormuz por onde transita 35% do tráfego marítimo de petróleo.
É sabido há anos que a Venezuela é rica não só em petróleo mas também em urânio, e que o interesse do Irã por aquele país não é somente por afinidades ideológicas com Chávez. Desde 2005 eu venho alertando sobre os negócios do urânio entre Venezuela e Irã, que pode-se ler numa nota desta edição aqui. Depois disso eu falei mais a respeito, inclusive nos misteriosos vôos Teerã-Caracas, nas fábricas de cimento, tratores e bicicletas, e os estados ricos nesse mineral, mas o tempo exíguo de que disponho para fazer esta edição não me permitiu pesquisar mais para re-publicar.
Entretanto, como esse tema agora tem tido comprovações e denúncias daquilo que os venezuelanos já desconfiam há tempo, publico nesta edição um artigo publicado pelo jornal espanhol ABC em 12 de dezembro passado que é praticamente uma seqüência de outro publicado simultaneamente pelos sites Mídia Sem Máscara e Papéis Avulsos do Heitor De Paola. A foto que ilustra esta edição é uma vista aérea da “fábrica de tratores Venirán” que é, na verdade, uma empresa de fachada. Não deixem de ler os links indicados para compreender toda a trama por trás desta “inocente” visita, e o perigo que todos nós sul-americanos corremos com estas alianças nefastas. Fiquem com Deus e até a próxima!
O Irã procura urânio na Venezuela para desenvolver seu programa nuclear
O regime de Teerã utiliza suas concessões para a extração de ouro no país bolivariano e emprega várias empresas civis como fachada
Emili J. Blasco/Correspondente em Washington
Técnicos iranianos estabeleceram quais são as áreas de maior riqueza de urânio na Venezuela e já estariam extraindo o estratégico mineral sob a cobertura do regime de Hugo Chávez, de acordo com documentação confidencial à qual o jornal ABC da Espanha teve acesso. Não só o acordo de colaboração nuclear firmado entre ambos os países viola as sanções internacionais impostas a Teerã, senão que, além disso, uma complexa trama de empresas e bancos estaria permitindo ao Irã a lavagem de dinheiro para seu alívio financeiro.
Os últimos dados sobre colaboração militar, com a venda de aviões não-tripulados à Venezuela (transações comprovadas por este jornal) e a possibilidade de que também mísseis de fabricação iraniana já estejam em solo venezuelano (assim apontam algumas fontes mas sem evidência gráfica), fizeram soar os alarmes nos Estados Unidos. Esta semana a consulesa da Venezuela em Miami, Livia Acosta, poderia ser expulsa do país, depois que um documentário de Univisión revelou com uma câmera oculta sua implicação na obtenção de informação para cometer atentados em solo norte-americano.
A conexão do regime de Chávez com elementos do Hizbolah, já levou Washington a tomar medidas no passado, porém em meio à presente crise entre o Irã e os Estados Unidos a vinculação entre a república islâmica e a bolivariana começa a atrair a atenção da CIA. Assim revelou Roger Noriega, alto funcionário na administração Bush, que agora investiga a penetração do Irã na América Latina, em uma recente intervenção no American Enterprise Institute. A aproximação entre os dois países consumou-se em 2005, ano em que o presidente Jatami visitou Caracas. Chávez devolveu a visita em 2009, correspondida meses depois pelo presidente Ahmadinejad. Na documentação oficial desses encontros, que ABC pôde consultar, se contabilizavam alguns projetos de colaboração de 30 bilhões de dólares, cifra desmedida quando se analisa pormenorizadamente cada investimento. As vultosas quantias teriam como finalidade facilitar divisas ao Irã.
Entre os suspeitos investimentos está a fábrica de cimento Cerro Azul (na foto), no estado Monagas. Seu orçamento é de 750 milhões de dólares, o que no julgamento de consultores externos é desproporcional para a produção que deseja realizar. O fato de que há seis anos seja planejada e ainda não tenha começado a produzir levou os grupos opositores a pensar que pode se tratar de uma empresa de fachada, principalmente quando, ademais, está proibido seu sobrevôo. Suspeitas não confirmadas apontam que a instalação, com fácil acesso ao rio Orinoco, poderia servir como lugar de carga do urânio que o Irã poderia estar obtendo no vizinho estado Bolívar, em uma concessão para a suposta extração de ouro.
Esta mina, igualmente sem permissão de sobrevôo, encontra-se em uma das áreas mais ricas em urânio da Venezuela. Embora a zona conte com jazidas de ouro, curiosamente a empresa pública iraniana que a explora, IMPASCO, não aparece na relação de companhias que extraem ouro na Venezuela. A IMPASCO, além de se ocupar de diversos minerais, está vinculada ao programa nuclear iraniano.
Determinar precisamente onde se encontram os pontos mais eficientes para a obtenção de urânio foi tarefa dos técnicos iranianos que realizaram estudo geológico em 2007, para o Instituto de Indústria e Minas (INGEOMIN). O estudo foi apresentado depois por Chávez ante a OIEA para explicar seu projeto de erigir uma usina nuclear própria, cuja construção se encarregou a mesma companhia russa que levantou a central iraniana de Bushehr. Outra das zonas com potencial de urânio é em Baúl, no estado Cojedes.
Similar falta de atividade normal para o que seria sua produção declarada é a fábrica de tratores Venirán. Supostamente, o acoplamento de peças trazidas do Irã permitiria tirar da cadeia de montagem cerca de 3 mil tratores por ano, segundo os dados oficiais. Porém, o escasso número de trabalhadores e as medidas especiais de segurança fazem pensar em outro uso. Com duplo muro de segurança, o exterior está custodiado pela Guarda Nacional Venezuelana. Parte de seu interior só é acessível a pessoal iraniano. Em 2008, um total de 22 contêineres que partiam do Irã e se dirigiam à fábrica de tratores foram interceptados na Turquia: tratava-se de material químico supostamente para a fabricação de explosivos.
Graça Salgueiro, 08 Janeiro 2012
TCHUTCHUCAS E TIGRÕES
Artigos - Cultura
O que havia de melhor na nossa cultura e no nosso ensino foi morrendo de velhice e de tristeza.
Alguém teve a feliz ideia de me mandar uma seleção de músicas populares brasileiras que, através dos tempos, exaltam a mulher. Nos anos 40, cantava-se que "a deusa da minha rua tem olhos onde a lua costuma se embriagar". Nos anos 50, "o teu balançado é mais que um poema; é a coisa mais linda que já vi passar". Nos anos 60, "nem mesmo o céu nem as estrelas, nem mesmo o mar e o infinito não é maior que meu amor, nem mais bonito".
Hoje, a coisa está assim: "Tchutchuca vem aqui com teu tigrão. Vou te jogar na cama e te dar muita pressão". Ou, então: "Pocotó, pocotó, pocotó, minha eguinha pocotó". Ou ainda: "Hoje é festa lá no meu apê. Pode aparecer, vai rolar bunda lelê".
E, para arrematar: "Eu sou o lobo mau, au au". "E o que você vai fazer? Vou te comer, vou te comer, vou te comer".
Sei que tem gente adorando. Sei que existem pedagogos deslumbrados com esses exercícios poéticos e libertários através dos quais se está realizando, com prodigalidade, o sonho de uma sociedade de cabeça fraca, destituída de juízo moral, bom gosto e senso crítico, pronta para ser levada pelo nariz para onde bem entenderem seus condutores.
Não me perguntem como foi que nos tornamos assim. Minha resposta vai magoar muita gente, porque isso não se instalou por geração espontânea. Isso foi espargido estrategicamente, por gente adulta, dedicada a destruir os valores de uma civilização, contando com a colaboração de pais omissos, professores instrumentalizados e religiosos mais interessados em ideologias do que na salvação das almas.
O agente laranja que jogaram em cima da sociedade reduziu-a a galhos secos onde não se reconhecem os frutos da boa semente nem a existência de vida inteligente.
Que queiram fazer isso conosco é fácil entender. Os agentes do mal são astutos e insidiosos. Mas que nos deixemos levar para as profundezas da baixaria e do mau gosto, é incompreensível.
Que os rapazes das danceterias se deliciem com as sugestões lascivas das letras e com a coisificação da mulher, reduzida à condição de instrumento de prazer, até se pode explicar, num contexto de libertinagem.
Mas que as mulheres não se sintam ultrajadas e entrem na pista com prontidão e requebros de vaca para touro, isso fica alguns anos à frente da minha capacidade de compreensão.
"E daí?", talvez esteja se perguntando o leitor. Daí, meu caro, que o mau gosto e o deboche arruínam a dignidade da pessoa humana, afetam seu juízo moral, reduzem o discernimento e a capacidade de compreender a realidade.
A superficialidade passa a presidir as ações e as relações sociais e a mente torna-se um disco rígido que vai reduzindo sua capacidade à proporção da minguada utilização que lhe é dada.
Eis por que todos correm atrás de um diploma, mas poucos se preocupam em fazer jus a ele através do estudo.
Queiramos ou não, a cultura tem um papel determinante nos padrões da vida social e a dedicação ao estudo cumpre função importante no progresso individual e social.
O que havia de melhor na nossa cultura e no nosso ensino foi morrendo de velhice e de tristeza. Ou não?
As Tchutchucas e as eguinhas pocotós agasalharão entre seus quadris as futuras gerações de brasileiros. E não é difícil prever o que vem por aí, não é mesmo, Tigrão?
Percival Puggina,08 Janeiro 2012
O que havia de melhor na nossa cultura e no nosso ensino foi morrendo de velhice e de tristeza.
Alguém teve a feliz ideia de me mandar uma seleção de músicas populares brasileiras que, através dos tempos, exaltam a mulher. Nos anos 40, cantava-se que "a deusa da minha rua tem olhos onde a lua costuma se embriagar". Nos anos 50, "o teu balançado é mais que um poema; é a coisa mais linda que já vi passar". Nos anos 60, "nem mesmo o céu nem as estrelas, nem mesmo o mar e o infinito não é maior que meu amor, nem mais bonito".
Hoje, a coisa está assim: "Tchutchuca vem aqui com teu tigrão. Vou te jogar na cama e te dar muita pressão". Ou, então: "Pocotó, pocotó, pocotó, minha eguinha pocotó". Ou ainda: "Hoje é festa lá no meu apê. Pode aparecer, vai rolar bunda lelê".
E, para arrematar: "Eu sou o lobo mau, au au". "E o que você vai fazer? Vou te comer, vou te comer, vou te comer".
Sei que tem gente adorando. Sei que existem pedagogos deslumbrados com esses exercícios poéticos e libertários através dos quais se está realizando, com prodigalidade, o sonho de uma sociedade de cabeça fraca, destituída de juízo moral, bom gosto e senso crítico, pronta para ser levada pelo nariz para onde bem entenderem seus condutores.
Não me perguntem como foi que nos tornamos assim. Minha resposta vai magoar muita gente, porque isso não se instalou por geração espontânea. Isso foi espargido estrategicamente, por gente adulta, dedicada a destruir os valores de uma civilização, contando com a colaboração de pais omissos, professores instrumentalizados e religiosos mais interessados em ideologias do que na salvação das almas.
O agente laranja que jogaram em cima da sociedade reduziu-a a galhos secos onde não se reconhecem os frutos da boa semente nem a existência de vida inteligente.
Que queiram fazer isso conosco é fácil entender. Os agentes do mal são astutos e insidiosos. Mas que nos deixemos levar para as profundezas da baixaria e do mau gosto, é incompreensível.
Que os rapazes das danceterias se deliciem com as sugestões lascivas das letras e com a coisificação da mulher, reduzida à condição de instrumento de prazer, até se pode explicar, num contexto de libertinagem.
Mas que as mulheres não se sintam ultrajadas e entrem na pista com prontidão e requebros de vaca para touro, isso fica alguns anos à frente da minha capacidade de compreensão.
"E daí?", talvez esteja se perguntando o leitor. Daí, meu caro, que o mau gosto e o deboche arruínam a dignidade da pessoa humana, afetam seu juízo moral, reduzem o discernimento e a capacidade de compreender a realidade.
A superficialidade passa a presidir as ações e as relações sociais e a mente torna-se um disco rígido que vai reduzindo sua capacidade à proporção da minguada utilização que lhe é dada.
Eis por que todos correm atrás de um diploma, mas poucos se preocupam em fazer jus a ele através do estudo.
Queiramos ou não, a cultura tem um papel determinante nos padrões da vida social e a dedicação ao estudo cumpre função importante no progresso individual e social.
O que havia de melhor na nossa cultura e no nosso ensino foi morrendo de velhice e de tristeza. Ou não?
As Tchutchucas e as eguinhas pocotós agasalharão entre seus quadris as futuras gerações de brasileiros. E não é difícil prever o que vem por aí, não é mesmo, Tigrão?
Percival Puggina,08 Janeiro 2012
MORREU BEATRIZ BANDEIRA RYFF, A ÚLTIMA SOBREVIVENTE DA CELA 4
08 de janeiro de 2012
Luiz Antonio Ryff
Morreu, aos 102 anos, Beatriz Bandeira, a última sobrevivente da famosa Cela 4 – onde foram presas, na Casa de Detenção, no Rio de Janeiro, então Distrito Federal, as poucas mulheres que participaram da revolta comunista de 1935 no Brasil.
Foi na Cela 4 que ficaram confinadas Olga Benário (esposa do líder da intentona, Luiz Carlos Prestes), a futura psicanalista Nise da Silveira, a advogada Maria Werneck de Castro e as jornalistas Eneida de Moraes e Eugênia Álvaro Moreyra.
Por conta dessa passagem, Beatriz virou personagem de livros como “Memórias do Cárcere”, o relato biográfico de Graciliano Ramos, que também esteve preso por causa da revolta.
Pouco antes, como militante comunista e da Aliança Nacional Libertadora (ANL), Beatriz conheceu seu marido, Raul Riff, jornalista, que viria a ser secretário de Imprensa do governo João Goulart (1961-1964). Com ele se casou três vezes.
Os dois foram exilados duas vezes. Em 1936, depois da libertação, foram expulsos para o Uruguai. Em 1964, após o golpe militar, receberam abrigo na Iugoslávia e, posteriormente, na França.
Ao regressar ao Brasil, Beatriz continuou a militância política nos anos 70 e 80. Foi uma das fundadoras do Movimento Feminino pela Anistia e Liberdades Democráticas, que lutou pelo fim da ditadura no País.
Beatriz nasceu em uma família positivista. Seu pai, o coronel do exército Alípio Bandeira, foi abolicionista. Militar, trabalhou no Serviço de Proteção ao Índio (SPI) e ajudou o Marechal Cândido Rondon na instalação de linhas telegráficas no interior do País e no contato com tribos isoladas – Alípio liderou o encontro com os Waimiri Atroari em 1911, por exemplo.
Além de militante política, Beatriz foi poeta (publicou “Roteiro” e “Profissão de Fé”) e professora (foi demitida pelo regime militar da cadeira de Técnica Vocal do Conservatório Nacional de Teatro). Também escreveu crônicas e colaborou para o jornal A Manhã e as revistas Leitura e Momento Feminino.
Há dez anos ela contou um pouco de sua história em uma entrevista à TV Câmara.
Beatriz morreu na noite de segunda (dia 2) após um AVC. Foi enterrada no final da tarde de hoje (dia 3) no Cemitério São João Batista, em Botafogo.
***
UMA NOTA PESSOAL
Beatriz Bandeira Ryff era minha avó. Nos últimos anos de sua vida centenária a senilidade tinha lhe tirado totalmente a visão. Ela quase não falava e mal se comunicava com o mundo.
Há uns dez dias, fui visitá-la levado pelo meu filho de 8 anos que queria dar um beijo na “bisa”. Encontramos ela mais presente do que em todas as visitas nos anos anteriores. Chegou a cantarolar algumas músicas que costumava embalar o sono dos netos quando pequenos, como os hinos revolucionários “Internacional”, “A Marselhesa” (embora ela também cantasse obras não políticas, entre elas a “Berceuse”, de Brahms).
Ao me despedir, perguntei-lhe se lembrava o trecho do poema “Canção do Tamoio”, de Gonçalves Dias, que ela costumava recitar. Ela assentiu levemente com a cabeça e começou, puxando do fundo da memória. Foram suas últimas palavras para mim.
“Não chores, meu filho;
Não chores, que a vida
É luta renhida:
Viver é lutar.
A vida é combate
Que os fracos abate,
Que os fortes, os bravos,
Só pode exaltar.”
(“Canção do Tamoio”, Gonçalves Dias)
08 de janeiro de 2012
Luiz Antonio Ryff
Luiz Antonio Ryff
Morreu, aos 102 anos, Beatriz Bandeira, a última sobrevivente da famosa Cela 4 – onde foram presas, na Casa de Detenção, no Rio de Janeiro, então Distrito Federal, as poucas mulheres que participaram da revolta comunista de 1935 no Brasil.
Foi na Cela 4 que ficaram confinadas Olga Benário (esposa do líder da intentona, Luiz Carlos Prestes), a futura psicanalista Nise da Silveira, a advogada Maria Werneck de Castro e as jornalistas Eneida de Moraes e Eugênia Álvaro Moreyra.
Por conta dessa passagem, Beatriz virou personagem de livros como “Memórias do Cárcere”, o relato biográfico de Graciliano Ramos, que também esteve preso por causa da revolta.
Pouco antes, como militante comunista e da Aliança Nacional Libertadora (ANL), Beatriz conheceu seu marido, Raul Riff, jornalista, que viria a ser secretário de Imprensa do governo João Goulart (1961-1964). Com ele se casou três vezes.
Os dois foram exilados duas vezes. Em 1936, depois da libertação, foram expulsos para o Uruguai. Em 1964, após o golpe militar, receberam abrigo na Iugoslávia e, posteriormente, na França.
Ao regressar ao Brasil, Beatriz continuou a militância política nos anos 70 e 80. Foi uma das fundadoras do Movimento Feminino pela Anistia e Liberdades Democráticas, que lutou pelo fim da ditadura no País.
Beatriz nasceu em uma família positivista. Seu pai, o coronel do exército Alípio Bandeira, foi abolicionista. Militar, trabalhou no Serviço de Proteção ao Índio (SPI) e ajudou o Marechal Cândido Rondon na instalação de linhas telegráficas no interior do País e no contato com tribos isoladas – Alípio liderou o encontro com os Waimiri Atroari em 1911, por exemplo.
Além de militante política, Beatriz foi poeta (publicou “Roteiro” e “Profissão de Fé”) e professora (foi demitida pelo regime militar da cadeira de Técnica Vocal do Conservatório Nacional de Teatro). Também escreveu crônicas e colaborou para o jornal A Manhã e as revistas Leitura e Momento Feminino.
Há dez anos ela contou um pouco de sua história em uma entrevista à TV Câmara.
Beatriz morreu na noite de segunda (dia 2) após um AVC. Foi enterrada no final da tarde de hoje (dia 3) no Cemitério São João Batista, em Botafogo.
***
UMA NOTA PESSOAL
Beatriz Bandeira Ryff era minha avó. Nos últimos anos de sua vida centenária a senilidade tinha lhe tirado totalmente a visão. Ela quase não falava e mal se comunicava com o mundo.
Há uns dez dias, fui visitá-la levado pelo meu filho de 8 anos que queria dar um beijo na “bisa”. Encontramos ela mais presente do que em todas as visitas nos anos anteriores. Chegou a cantarolar algumas músicas que costumava embalar o sono dos netos quando pequenos, como os hinos revolucionários “Internacional”, “A Marselhesa” (embora ela também cantasse obras não políticas, entre elas a “Berceuse”, de Brahms).
Ao me despedir, perguntei-lhe se lembrava o trecho do poema “Canção do Tamoio”, de Gonçalves Dias, que ela costumava recitar. Ela assentiu levemente com a cabeça e começou, puxando do fundo da memória. Foram suas últimas palavras para mim.
“Não chores, meu filho;
Não chores, que a vida
É luta renhida:
Viver é lutar.
A vida é combate
Que os fracos abate,
Que os fortes, os bravos,
Só pode exaltar.”
(“Canção do Tamoio”, Gonçalves Dias)
08 de janeiro de 2012
Luiz Antonio Ryff
NEGROMONTE ESQUECE DA FESTA DO BODE E AINDA IRONIZA OS JORNALISTAS
Semana passada, em Salvador, o ainda ministro das Cidades, Mário Negromonte, disse aos jornalistas que a enxurrada de denúncias surgidas no ano passado contra a sua pasta teria sido apenas “uma indústria de fumaça”. Descontraído, ele comentou que iria receber um troféu da imprensa pelo fato de as denúncias publicadas não terem, até o momento, sido comprovadas.
- As denúncias não vingaram. Não tem nada do Ministério Público, do TCU, da Controladoria Geral da União. Zero – disse ele.
Segundo a Agência A Tarde, o ministro voltou a atribuir as denúncias a “fogo amigo” e ao fato do Ministério das Cidades contrariar “interesses”. Esses interesses seriam nas áreas de mobilidade urbana, habitação e saneamento.
- Tem gente de todo o canto (interessada na pasta). É gente do PMDB, do PT, de todos os partidos. Menos do Planalto – declarou, fazendo questão de enfatizar ter conversado com os principais interlocutores da presidente Dilma Rousseff: a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, e o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho.
- Eles me disseram que não existe nada de parte do governo contra o ministério e a minha pessoa – declarou. Negromonte garantiu que ninguém do governo comentou sobre uma eventual substituição na pasta. Segundo ele, a mesma garantia foi dada ao presidente nacional do seu partido, o senador Francisco Dornelles (PP-RJ).
Pode até ser que ele continue no ministério. Tudo é possível. Mas não há dúvida de que Negromonte anda com a memória fraca. Já esqueceu o patrocínio concedido à Festa do Bode, para pavimentar o terreno rumo à eleição do filho Mário como prefeito de Paulo Afonso, maior cidade de sua base eleitoral no norte da Bahia.
Além de ajudar a eleger a mulher, Ena Vilma, para a Prefeitura de Glória, Negromonte usou dinheiro público para se promover e fortalecer também a imagem de Mário Filho, que é deputado estadual. Tudo isso faz parte da estratégia de controle político da região pela família do ministro.
Como se sabe, as festas do bode fazem parte da tradição do Nordeste. Mas na realização de uma desses eventos, em Paulo Afonso, município no norte da Bahia, os cartazes espalhados pelas ruas destacaram o nome e o cargo de Negromonte e do filho Mário, ao lado dos logotipos de sete órgãos públicos apresentados como patrocinadores, que o próprio ministro pressionou para que liberassem as verbas.
A repórter Isabel Clemente, da Época, procurou especialistas para ouvir opiniões sobre a exibição do nome de ministro e do deputado na propaganda da festa. “Por si só, o cartaz com o nome de uma autoridade associada a alguma realização fere o princípio constitucional da impessoalidade, segundo o qual nenhuma obra ou realização é fruto do esforço de uma pessoa, mas de um governo, uma prefeitura”, disse a procuradora da República Janice Ascari, de São Paulo.
O procurador da República Rogério Nascimento, que já atuou pelo Ministério Público Eleitoral, também tem preocupações relacionadas à exposição de nome de políticos em cartazes. “Se adversários se sentirem prejudicados e a situação configurar abuso de poder econômico e político, independentemente de haver improbidade, pode ser um caso de propaganda antecipada para o qual a lei prevê multas”, destacou Nascimento.
Depois dessa lambança, Negromonte, que está cotado para deixar o cargo na próxima reforma ministerial, ao invés de ficar calado, ainda se julga no direito de provocar os jornalistas. Era só o que faltava.
08 de janeiro de 2012
Carlos Newton
- As denúncias não vingaram. Não tem nada do Ministério Público, do TCU, da Controladoria Geral da União. Zero – disse ele.
Segundo a Agência A Tarde, o ministro voltou a atribuir as denúncias a “fogo amigo” e ao fato do Ministério das Cidades contrariar “interesses”. Esses interesses seriam nas áreas de mobilidade urbana, habitação e saneamento.
- Tem gente de todo o canto (interessada na pasta). É gente do PMDB, do PT, de todos os partidos. Menos do Planalto – declarou, fazendo questão de enfatizar ter conversado com os principais interlocutores da presidente Dilma Rousseff: a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, e o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho.
- Eles me disseram que não existe nada de parte do governo contra o ministério e a minha pessoa – declarou. Negromonte garantiu que ninguém do governo comentou sobre uma eventual substituição na pasta. Segundo ele, a mesma garantia foi dada ao presidente nacional do seu partido, o senador Francisco Dornelles (PP-RJ).
Pode até ser que ele continue no ministério. Tudo é possível. Mas não há dúvida de que Negromonte anda com a memória fraca. Já esqueceu o patrocínio concedido à Festa do Bode, para pavimentar o terreno rumo à eleição do filho Mário como prefeito de Paulo Afonso, maior cidade de sua base eleitoral no norte da Bahia.
Além de ajudar a eleger a mulher, Ena Vilma, para a Prefeitura de Glória, Negromonte usou dinheiro público para se promover e fortalecer também a imagem de Mário Filho, que é deputado estadual. Tudo isso faz parte da estratégia de controle político da região pela família do ministro.
Como se sabe, as festas do bode fazem parte da tradição do Nordeste. Mas na realização de uma desses eventos, em Paulo Afonso, município no norte da Bahia, os cartazes espalhados pelas ruas destacaram o nome e o cargo de Negromonte e do filho Mário, ao lado dos logotipos de sete órgãos públicos apresentados como patrocinadores, que o próprio ministro pressionou para que liberassem as verbas.
A repórter Isabel Clemente, da Época, procurou especialistas para ouvir opiniões sobre a exibição do nome de ministro e do deputado na propaganda da festa. “Por si só, o cartaz com o nome de uma autoridade associada a alguma realização fere o princípio constitucional da impessoalidade, segundo o qual nenhuma obra ou realização é fruto do esforço de uma pessoa, mas de um governo, uma prefeitura”, disse a procuradora da República Janice Ascari, de São Paulo.
O procurador da República Rogério Nascimento, que já atuou pelo Ministério Público Eleitoral, também tem preocupações relacionadas à exposição de nome de políticos em cartazes. “Se adversários se sentirem prejudicados e a situação configurar abuso de poder econômico e político, independentemente de haver improbidade, pode ser um caso de propaganda antecipada para o qual a lei prevê multas”, destacou Nascimento.
Depois dessa lambança, Negromonte, que está cotado para deixar o cargo na próxima reforma ministerial, ao invés de ficar calado, ainda se julga no direito de provocar os jornalistas. Era só o que faltava.
08 de janeiro de 2012
Carlos Newton
EUA ADMITEM PLANO PARA INFECTAR PRESIDENTES LATINO-AMERICANOS COM O VÍRUS DA ESTUPIDEZ
Em um comunicado conjunto emitido pelo Pentágono, a CIA e o Departamento de Estado da Casa Branca, o governo dos Estados Unidos admitiu oficialmente, pela primeira vez, a existência de um plano para infectar presidentes latino-americanos com estupidez.
A secretária de Estado, Hillary Clinton, reconheceu que as missões secretas para infectar vários presidentes latino-americanos foram concluídas com sucesso. “Nosso plano original era infectar com câncer vários presidentes do continente sul-americano, mas descobrimos rapidamente que isso era inviável. Ao invés disso, optamos pela a infecção com estupidez galopante que é mais barata, mais simples e se dissemina com mais facilidade. Um relincho durante uma reunião do Foro de São Paulo fez todo o serviço”, disse Clinton.
O presidente venezuelano, Hugo Chávez, disse que foi vítima da conspiração dos Estados Unidos. “Eu sabia que os americanos tinham essas armas secretas diabólicas. Percebi que haviam me infectado com estupidez quando atribuí o meu câncer a um raio imaginário. Viram como sou inteligente? Assim se desmascara uma conspiração imperialista!", disse o presidente, que está escondido num bunker anti-estupidez construído pelos russos em Fort Tiuna e que custou 800 milhões de dólares.
Outros presidentes latino-americanos também afirmaram que foram vítimas da conspiração americana. O presidente boliviano, Evo Morales disse que sentiu essas rajadas de estupidez por um longo tempo, “quase desde o nascimento”, assim achou melhor se trancar em sua cabana. “Para me proteger, eu uso este colete feito de pele de Alpaca. Mas esta não é a única precaução que eu tomo. Também mastigo centenas de folhas de coca colhidas por mim mesmo todos os dias”, afirmou o Índio de Araque.
Questionado sobre a possibilidade de Dilma Rousseff ter sido vítima dos raios idiotizantes, um porta-voz da presidência afirmou que isto era “muito pouco provável”. “Dilma já ministrou aulas de marxismo-leninismo, os americanos não perderiam tempo e dinheiro infectando uma mente que já está neste estado calamitoso”, conclui o porta-voz.
Escrito por Chigüire Bipolar
CRÍTICA SOBRE O CARNAVAL
Jornalista Rachel Sheherazade - Tambaú Notícias - Atualmente ela apresenta Jornal no SBT.
CARNAVAL está chegando. - A jornalista fala a respeito do evento anual que movimenta milhões de reais.
CARNAVAL está chegando. - A jornalista fala a respeito do evento anual que movimenta milhões de reais.
A DESINTEGRAÇÃO NACIONAL
Não basta desmamar Bezerra. É atroz a prática de cada ministro favorecer seu Estado, seu padrinho
Sou contra personalizar, em apenas um ministro, a tragédia anunciada das enchentes. Claro que a presidente Dilma pode aproveitar as águas de janeiro para afogar o titular da (Des)integração Nacional, Fernando Bezerra, pernambucano com muito orgulho e pouco tino para distribuição de orçamentos.
Dos rios turvos que inundam as cidades e desabrigam inocentes, uma conclusão clara podemos tirar. Está uma zona a divisão de verba da União. Não só nos ministérios da Integração ou das Cidades. Em qualquer pasta ministerial. É só investigar um pouco mais ou acontecer algum acidente que o dique se rompe e o ministro submerge.
Não invejo Dilma por ter herdado um sistema viciado e loteado, mas admiro algumas de suas ações. Em vez de fazer discursos populistas nas áreas alagadas, ela interrompeu as férias e convocou Gleisi, a xerife da Casa Civil, para ir atrás do ralo da grana. Pode chamar de intervenção branca ou loura, ou simplesmente uma ação cosmética. Mas a entrada de Gleisi balançou a confiança de Bezerra. Ele se rebelou com a aparente perda de autonomia: “Não me chame para cumprir meia tarefa”.
O ministro repete o ritual dos pré-destituídos. Derrama o choro do Bezerra desmamado: “As relações (com Dilma) estão boas como sempre estiveram”. Dá desculpas inaceitáveis: “Não se pode discriminar Pernambuco por ser o Estado do ministro”. Isso, para justificar ter dado 90% da verba federal das enchentes para sua terra natal, a mesma do governador amigo Eduardo Campos, de seu partido, o PSB. Eduardo Campos enxerga um complô de injustiças contra o ministro: “Passou a impressão que todo o recurso da Defesa Civil foi para Pernambuco. Não é verdade. Foram R$ 25 milhões de R$ 31 milhões, negociados com a presidente”. Ah, bom. Está explicado.
Rio de Janeiro e Minas Gerais não reclamaram. Dá para entender. Esses dois Estados não podem mesmo reclamar. Porque foram incompetentes e não deram o devido valor à reconstrução das áreas destruídas. Se algum crédito deve ser dado ao governador de Pernambuco, Eduardo Campos, é perseguir a presidente para aprovar a construção de barragens num Estado onde enchentes anteriores haviam atingido 80 mil pessoas, deixando 25 mil desabrigados e destruindo 300 escolas.
Não basta desmamar Bezerra. É atroz a prática de cada ministro favorecer seu Estado, seu padrinho
É incompetência que, no ano passado, R$ 500 milhões da União não tenham sido gastos para prevenir enchentes, desabamentos e deslizamentos. Vou repetir para você anotar e não esquecer: dos R$ 2,75 bilhões do Orçamento de 2011 para prevenir desastres naturais, mais de R$ 500 milhões não foram sequer tocados ou reservados pelos ministros da Integração e das Cidades. Cada ministério culpa o outro no jogo de empurra já conhecido. Tem dinheiro, mas falta competência. Falta sensibilidade. Falta compromisso. Falta o que mais? Para que serve um ministro?
Em Teresópolis e Friburgo, na serra do Rio, o que aconteceu foi mais grave. Foi crime mesmo. E não vejo nenhuma indignação do governo estadual de Sérgio Cabral com os desvios, as propinas, os roubos de autoridades municipais. O prefeito de Teresópolis foi cassado, mas não devolveu nada. Famílias desabrigadas foram abandonadas, mantidas em situação precária, de desespero ou risco de vida. E agora de novo, o corre-corre, o pedido de socorro e a promessa de milhões. Que vão parar em bolsos de quem até janeiro de 2013?
Não basta desmamar Bezerra. O buraco é bem mais profundo. É um buraco do sistema. Além de provinciana e brega, é atroz essa prática de cada ministro favorecer seu Estado, seu partido, seu padrinho.
Em 2010, o ministro da Integração Nacional era baiano, Geddel Vieira Lima – e a Bahia foi o Estado mais beneficiado pela verba federal. No Turismo, o ex-ministro Pedro Novais, conterrâneo e apadrinhado do presidente vitalício do Senado, José Sarney, assinou convênios milionários e fraudulentos para treinar agentes de turismo no Amapá. O Amapá foi o Estado que, em 2006, elegeu Sarney senador e que tem a pororoca como sua maior atração. Quem está agora no olho da pororoca é Gleisi. O povo quer explicações e providências. Não apenas o sacrifício do Bezerra.
Li na semana passada uma entrevista na revista New Scientist com o brilhante físico que decifrou os buracos negros, o britânico Stephen Hawking. Ele tem uma doença neurodegenerativa, fez 70 anos e revelou não ter conseguido até hoje entender o sexo oposto, as mulheres: “Elas são um mistério completo”.
Como lido com questões nada metafísicas, para mim o maior mistério, o maior buraco negro, é nosso político profissional. O que afinal ele busca nessa sua passagem pela Terra Brasilis?
RUTH DE Aé colunista de ÉPOCA
Sou contra personalizar, em apenas um ministro, a tragédia anunciada das enchentes. Claro que a presidente Dilma pode aproveitar as águas de janeiro para afogar o titular da (Des)integração Nacional, Fernando Bezerra, pernambucano com muito orgulho e pouco tino para distribuição de orçamentos.
Dos rios turvos que inundam as cidades e desabrigam inocentes, uma conclusão clara podemos tirar. Está uma zona a divisão de verba da União. Não só nos ministérios da Integração ou das Cidades. Em qualquer pasta ministerial. É só investigar um pouco mais ou acontecer algum acidente que o dique se rompe e o ministro submerge.
Não invejo Dilma por ter herdado um sistema viciado e loteado, mas admiro algumas de suas ações. Em vez de fazer discursos populistas nas áreas alagadas, ela interrompeu as férias e convocou Gleisi, a xerife da Casa Civil, para ir atrás do ralo da grana. Pode chamar de intervenção branca ou loura, ou simplesmente uma ação cosmética. Mas a entrada de Gleisi balançou a confiança de Bezerra. Ele se rebelou com a aparente perda de autonomia: “Não me chame para cumprir meia tarefa”.
O ministro repete o ritual dos pré-destituídos. Derrama o choro do Bezerra desmamado: “As relações (com Dilma) estão boas como sempre estiveram”. Dá desculpas inaceitáveis: “Não se pode discriminar Pernambuco por ser o Estado do ministro”. Isso, para justificar ter dado 90% da verba federal das enchentes para sua terra natal, a mesma do governador amigo Eduardo Campos, de seu partido, o PSB. Eduardo Campos enxerga um complô de injustiças contra o ministro: “Passou a impressão que todo o recurso da Defesa Civil foi para Pernambuco. Não é verdade. Foram R$ 25 milhões de R$ 31 milhões, negociados com a presidente”. Ah, bom. Está explicado.
Rio de Janeiro e Minas Gerais não reclamaram. Dá para entender. Esses dois Estados não podem mesmo reclamar. Porque foram incompetentes e não deram o devido valor à reconstrução das áreas destruídas. Se algum crédito deve ser dado ao governador de Pernambuco, Eduardo Campos, é perseguir a presidente para aprovar a construção de barragens num Estado onde enchentes anteriores haviam atingido 80 mil pessoas, deixando 25 mil desabrigados e destruindo 300 escolas.
Não basta desmamar Bezerra. É atroz a prática de cada ministro favorecer seu Estado, seu padrinho
É incompetência que, no ano passado, R$ 500 milhões da União não tenham sido gastos para prevenir enchentes, desabamentos e deslizamentos. Vou repetir para você anotar e não esquecer: dos R$ 2,75 bilhões do Orçamento de 2011 para prevenir desastres naturais, mais de R$ 500 milhões não foram sequer tocados ou reservados pelos ministros da Integração e das Cidades. Cada ministério culpa o outro no jogo de empurra já conhecido. Tem dinheiro, mas falta competência. Falta sensibilidade. Falta compromisso. Falta o que mais? Para que serve um ministro?
Em Teresópolis e Friburgo, na serra do Rio, o que aconteceu foi mais grave. Foi crime mesmo. E não vejo nenhuma indignação do governo estadual de Sérgio Cabral com os desvios, as propinas, os roubos de autoridades municipais. O prefeito de Teresópolis foi cassado, mas não devolveu nada. Famílias desabrigadas foram abandonadas, mantidas em situação precária, de desespero ou risco de vida. E agora de novo, o corre-corre, o pedido de socorro e a promessa de milhões. Que vão parar em bolsos de quem até janeiro de 2013?
Não basta desmamar Bezerra. O buraco é bem mais profundo. É um buraco do sistema. Além de provinciana e brega, é atroz essa prática de cada ministro favorecer seu Estado, seu partido, seu padrinho.
Em 2010, o ministro da Integração Nacional era baiano, Geddel Vieira Lima – e a Bahia foi o Estado mais beneficiado pela verba federal. No Turismo, o ex-ministro Pedro Novais, conterrâneo e apadrinhado do presidente vitalício do Senado, José Sarney, assinou convênios milionários e fraudulentos para treinar agentes de turismo no Amapá. O Amapá foi o Estado que, em 2006, elegeu Sarney senador e que tem a pororoca como sua maior atração. Quem está agora no olho da pororoca é Gleisi. O povo quer explicações e providências. Não apenas o sacrifício do Bezerra.
Li na semana passada uma entrevista na revista New Scientist com o brilhante físico que decifrou os buracos negros, o britânico Stephen Hawking. Ele tem uma doença neurodegenerativa, fez 70 anos e revelou não ter conseguido até hoje entender o sexo oposto, as mulheres: “Elas são um mistério completo”.
Como lido com questões nada metafísicas, para mim o maior mistério, o maior buraco negro, é nosso político profissional. O que afinal ele busca nessa sua passagem pela Terra Brasilis?
RUTH DE Aé colunista de ÉPOCA
Ôôô, ANA JÚLIA!!!
Indicada para diretora de uma subsidiária do Banco do Brasil, com salário de R$ 30 mil, a ex-governadora do Pará está enrolada com o sumiço de R$ 77 milhões
CONTABILIDADE CONFUSA
Ana Júlia, o sistema viário de Belém (abaixo) financiado pelos bancos oficiais e uma das notas fiscais apresentadas duas vezes para justificar empréstimos diferentes (no fim). Segundo ela, foi apenas “um erro de informação numa planilha” (Foto: Antonio Cruz/Abr)
Entre 2007 e 2010, a petista Ana Júlia Carepa foi governadora do Pará, interrompendo 12 anos de administrações tucanas no Estado. Ana Júlia conquistou o cargo com denúncias contra velhos vícios da política, como o nepotismo, mas não tardou a aderir às mesmas práticas. Empregou os irmãos na máquina pública, entregou ao namorado, presidente do Aeroclube do Pará, um contrato de R$ 3,7 milhões para treinamento de pilotos de helicópteros e, por fim, contratou a cabeleireira e a esteticista como assessoras especiais de seu gabinete.
Depois de uma gestão marcada por denúncias de falta de verbas na Saúde e na Educação e por crises na Segurança Pública, Ana Júlia não conseguiu se reeleger. Mesmo com o apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a maré econômica favorável, perdeu nas urnas para seu antecessor no cargo, Simão Jatene, do PSDB.
A nomeação de Ana Júlia para a diretoria financeira da Brasilcap ainda depende de homologação da Susep
Ao longo de 2011, Ana Júlia ficou à espera de um cargo no governo federal. No fim do ano, a fila finalmente andou para a ex-governadora. Funcionária licenciada do Banco do Brasil, ela foi indicada para diretora financeira da Brasilcap, uma subsidiária do banco que opera títulos de capitalização, onde ganhará um salário mensal de R$ 30 mil.
A nomeação ainda depende de aval da Superintendência de Seguros Privados (Susep), a autarquia que fiscaliza as seguradoras e as empresas de capitalização. Cabe ao órgão avaliar o preparo técnico e a idoneidade de quem vai comandar essas empresas.
Se a Susep fizer direito seu trabalho, encontrará problemas na atuação de Ana Júlia que extrapolam o nepotismo e o favorecimento a parentes na administração pública.
(Foto: Oswaldo Forte/O liberal)
A Auditoria-Geral do Estado (AGE), órgão vinculado ao governo do Pará, apontou irregularidades em empréstimos contraídos pela gestão de Ana Júlia –R$ 366 milhões com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e R$ 100 milhões com o Banco do Brasil.
Os contratos foram assinados por Ana Júlia em 1o e 2 de julho de 2010, quando a campanha eleitoral oficial estava começando e a então governadora procurava se reforçar para a disputa da reeleição.
O dinheiro foi obtido para obras de pavimentação de ruas e avenidas na região metropolitana de Belém, saneamento, construção de escolas e hospitais em vários municípios do Pará.
Uma parcela também deveria ser destinada a obras patrocinadas pelos deputados estaduais do Pará por meio de emendas ao orçamento do Estado.
Ao verificar a prestação de contas da aplicação dos empréstimos, os auditores não conseguiram, porém, desvendar o paradeiro de R$ 77 milhões. De acordo com os técnicos da AGE, o dinheiro relativo ao financiamento do BNDES (R$ 366 milhões) foi movimentado sem transparência.
Há, segundo os técnicos do Estado, despesas em desacordo com o contrato de empréstimo e indícios de desvio de finalidade das verbas. Quando as duas prestações de contas, do BNDES e do BB, foram confrontadas, os técnicos constataram um problema mais grave. Um conjunto de 16 notas fiscais, emitidas por três empresas contratadas para as obras, apareceu nos dois processos.
Para justificar despesas diferentes, o governo apresentou as notas fiscais duas vezes. Juntas, elas somam os R$ 77 milhões, cujo destino os auditores da AGE tentam rastrear. Um dado relevante, segundo a AGE: as duas prestações de contas foram feitas por órgãos diferentes. Uma foi apresentada pela Secretaria de Projetos Estratégicos, no caso do financiamento do BB, e a outra pela Secretaria da Fazenda, no caso do BNDES.
Sem comparar as duas prestações de contas, BNDES e BB não identificaram problemas nas operações financeiras nem a repetição de notas fiscais. Com base nos papéis fornecidos pelo governo do Pará, o BNDES concluiu que a aplicação do empréstimo não obedeceu ao que estava na lei que autorizou o financiamento.
O BB não teve acesso à documentação da AGE do Pará e disse que “as operações contratadas pelo governo do Estado do Pará estão em situação de total regularidade”.
Ana Júlia atribuiu o uso repetido das 16 notas fiscais a um “erro de informação em uma planilha” e disse que os recursos foram transferidos para municípios paraenses.
Ela afirmou ainda que suas contas foram aprovadas pela Assembleia Legislativa do Pará e pelo Tribunal de Contas estadual.
A direção do PT do Pará acusou o governador Simão Jatene de usar a máquina estadual para produzir “factoides” com o objetivo de causar danos à imagem de Ana Júlia.
Apesar das alegações do PT de motivação política, autoridades federais também apuram o caso. A Procuradoria da República no Pará abriu uma investigação em setembro e pediu à Polícia Federal a instauração de um inquérito.
MARCELO ROCHA
SEMIÓLOGO NEOLUDITA ITALIANO AINDA NÃO ENTENDEU A INTERNET
Há dois anos, comentei as restrições de Umberto Eco ao livro eletrônico. No artigo "Da efemeridade das mídias", o semiólogo italiano brandia um único argumento a favor do livro impresso: uma pane ou um vírus nos computadores pode levar a perder definitivamente uma grande quantidade de informação, é por isso que os livros impressos seriam ainda importantes. Isso quer dizer que bibliotecas e museus terão a mesma finalidade?
Grossa bobagem de quem ainda não havia entendido o mundo da Internet. Há múltiplas formas de preservar informação. Mais ainda, a informação computadorizada está imune a traças e à ação do tempo. Panes são temporárias e vírus são evitáveis.
Pelo jeito, o lúcido Eco ainda não havia ouvido falar de pendrives, HDs externos, DVDs, que têm uma capacidade quase ilimitada de armazenamento – mais do que muitas bibliotecas -, isso sem falar dos sites que a Internet oferece para a preservação de dados. O argumento é dos mais precários, quase de um neoludita. Em Não Contem com o Fim do Livro,publicado pela Record, em um diálogo com Jean-Claude Carrière, Eco repetia estas bobagens.
- O livro ainda é o meio mais fácil de transportar informação. Os eletrônicos chegaram, mas percebemos que sua vida útil não passa de dez anos. Afinal, ciência significa fazer novas experiências. Assim, quem poderia afirmar, anos atrás, que não teríamos hoje computadores capazes de ler os antigos disquetes? E que, ao contrário, temos livros que sobrevivem há mais de cinco séculos?
Isto não é mais verdade. O livro transporta informação, é claro. Mas o livro nem sempre está onde dele precisamos. Sem ir mais longe, cito este nosso país. Já não mais existem livrarias nas pequenas cidades do Brasil. Quando existem, só vendem best-sellers. Onde você vai encontrar uma obra de Platão, ou de Tomás de Aquino, ou de Descartes, numa cidade do interior? Já não vou tão longe. Procure um Nietzsche, Orwell ou Koestler. Não encontrará. Mas se há telefonia em sua aldeia, e se você tem um computador, poderá ter esses autores – talvez nem todos, mas pelo menos os clássicos – em poucos segundos em sua tela.
Em recente entrevista à revista Época, Eco confessa ter-se rendido ao livro eletrônico:
- Sou colecionador de livros. Defendi a sobrevivência do livro ao lado de Jean-Claude Carrière no volume Não contem com o fim do livro. Fizemos isso por motivos estéticos e gnoseológicos (relativo ao conhecimento). O livro ainda é o meio ideal para aprender. Não precisa de eletricidade, e você pode riscar à vontade. Achávamos impossível ler textos no monitor do computador. Mas isso faz dois anos. Em minha viagem pelos Estados Unidos, precisava carregar 20 livros comigo, e meu braço não me ajudava. Por isso, resolvi comprar um iPad. Foi útil na questão do transporte dos volumes. Comecei a ler no aparelho e não achei tão mau. Aliás, achei ótimo. E passei a ler no iPad, você acredita? Pois é. Mesmo assim, acho que os tablets e e-books servem como auxiliares de leitura. São mais para entretenimento que para estudo. Gosto de riscar, anotar e interferir nas páginas de um livro. Isso ainda não é possível fazer num tablet.
Sem ainda ter optado pelos iPads ou Kindles da vida, vejo a declaração de Eco como um avanço. Claro que os leitores eletrônicos facilitam o transporte e armazenamento de livros. Uma Espasa Calpe em papel, sem ir mais longe, tem 115 volumes e exige uma estante especial em sua biblioteca. Imagine transportá-la. Em DVD, você poderia carregá-la no bolso. On line, ela está permanentemente à sua disposição, à distância de um clique, sem ocupar espaço algum. Isso sem falar que dispensaria os custos de impressão e papel. Opor-se aos livros eletrônicos é resistir ao amanhecer.
Em seu artigo, Eco questionava a capacidade de discernimento de quem está acessando a Internet. "Lá, encontramos tanto a Bíblia como Minha Luta, de Adolf Hitler. E o que fazer se uma obra não recomendável surgir na tela de alguém despreparado intelectualmente? Esse será o problema crucial da educação nos próximos anos".
Alto lá, companheiro! Em biblioteca que se preze, temos de ter acesso tanto à Bíblia quanto ao Minha Luta. Como entender o nazismo se não leio Hitler? Isso sem falar que encontramos na Bíblia massacres e convites ao genocídio que Hitler nenhum sonhou. Mas se Eco aderiu ao livro eletrônico, ainda reage como um neoludita à Internet:
- A internet ainda é um mundo selvagem e perigoso. Tudo surge lá sem hierarquia. A imensa quantidade de coisas que circula é pior que a falta de informação. O excesso de informação provoca a amnésia. Informação demais faz mal. Quando não lembramos o que aprendemos, ficamos parecidos com animais. Conhecer é cortar, é selecionar.
Que seja um mundo selvagem, caótico, sem hierarquia, disto não podemos discordar. Daí a considerá-la perigosa, me parece um exagero. É tão perigosa quanto a imprensa em papel. Os jornais manipularam a informação durante todo o século passado – particularmente no que dizia respeito ao comunismo – e continuam a manipulá-la neste.
Quanto ao excesso de informação, isto tampouco é novidade. Este excesso data de séculos atrás. Toda biblioteca gera um excesso de informação. O excesso de informação provoca amnésia? Claro que sim. A memória humana – ao contrário da do computador – tem seus limites. Se você tem uma mísera bibliotequinha de mil exemplares, já estará mais ou menos perdido em seus livros. Ou Eco acha que pode guardar em sua memória as quatro salas de livros que tem em seu apartamento em Milão?
Há uns três anos, comprei na Espanha Los Orígenes del Fundamentalismo, que li com muita atenção. Comentei, na época, como era bom estar em país onde se publicavam livros que não eram publicados no Brasil. Um leitor alertou-me que este livro havia sido publicado aqui no ano 2000, pela Companhia das Letras, com o título de Em Nome de Deus.
Fui pesquisar em minha biblioteca. O livro estava lá, e todo sublinhado por mim mesmo. Eu já nem lembrava dele. O problema destas obras de extrema erudição é que o autor joga tantos dados em uma só página que, mal acabamos de lê-la, não conseguimos memorizá-la. O remédio é sublinhar. Mas sublinhar tem seus limites. Quando o livro está quase todo sublinhado, é como se não estivesse. Se houve época em que tínhamos escassez de dados, hoje vivemos época inversa: os dados são tantos que nao conseguimos mais lembrá-los.
Eco profere outra bobagem ao condenar o excesso de dados que circulam na Internet. Este excesso é muito anterior. Pergunta o repórter: há uma solução para o problema do excesso de informação?
Responde o semiólogo:
- Seria preciso criar uma teoria da filtragem. Uma disciplina prática, baseada na experimentação cotidiana com a internet. Fica aí uma sugestão para as universidades: elaborar uma teoria e uma ferramenta de filtragem que funcionem para o bem do conhecimento. Conhecer é filtrar.
Ora, conhecer sempre foi filtrar. Eco está chovendo no molhado.
07 de janeiro de 2012
janer cristaldo
Grossa bobagem de quem ainda não havia entendido o mundo da Internet. Há múltiplas formas de preservar informação. Mais ainda, a informação computadorizada está imune a traças e à ação do tempo. Panes são temporárias e vírus são evitáveis.
Pelo jeito, o lúcido Eco ainda não havia ouvido falar de pendrives, HDs externos, DVDs, que têm uma capacidade quase ilimitada de armazenamento – mais do que muitas bibliotecas -, isso sem falar dos sites que a Internet oferece para a preservação de dados. O argumento é dos mais precários, quase de um neoludita. Em Não Contem com o Fim do Livro,publicado pela Record, em um diálogo com Jean-Claude Carrière, Eco repetia estas bobagens.
- O livro ainda é o meio mais fácil de transportar informação. Os eletrônicos chegaram, mas percebemos que sua vida útil não passa de dez anos. Afinal, ciência significa fazer novas experiências. Assim, quem poderia afirmar, anos atrás, que não teríamos hoje computadores capazes de ler os antigos disquetes? E que, ao contrário, temos livros que sobrevivem há mais de cinco séculos?
Isto não é mais verdade. O livro transporta informação, é claro. Mas o livro nem sempre está onde dele precisamos. Sem ir mais longe, cito este nosso país. Já não mais existem livrarias nas pequenas cidades do Brasil. Quando existem, só vendem best-sellers. Onde você vai encontrar uma obra de Platão, ou de Tomás de Aquino, ou de Descartes, numa cidade do interior? Já não vou tão longe. Procure um Nietzsche, Orwell ou Koestler. Não encontrará. Mas se há telefonia em sua aldeia, e se você tem um computador, poderá ter esses autores – talvez nem todos, mas pelo menos os clássicos – em poucos segundos em sua tela.
Em recente entrevista à revista Época, Eco confessa ter-se rendido ao livro eletrônico:
- Sou colecionador de livros. Defendi a sobrevivência do livro ao lado de Jean-Claude Carrière no volume Não contem com o fim do livro. Fizemos isso por motivos estéticos e gnoseológicos (relativo ao conhecimento). O livro ainda é o meio ideal para aprender. Não precisa de eletricidade, e você pode riscar à vontade. Achávamos impossível ler textos no monitor do computador. Mas isso faz dois anos. Em minha viagem pelos Estados Unidos, precisava carregar 20 livros comigo, e meu braço não me ajudava. Por isso, resolvi comprar um iPad. Foi útil na questão do transporte dos volumes. Comecei a ler no aparelho e não achei tão mau. Aliás, achei ótimo. E passei a ler no iPad, você acredita? Pois é. Mesmo assim, acho que os tablets e e-books servem como auxiliares de leitura. São mais para entretenimento que para estudo. Gosto de riscar, anotar e interferir nas páginas de um livro. Isso ainda não é possível fazer num tablet.
Sem ainda ter optado pelos iPads ou Kindles da vida, vejo a declaração de Eco como um avanço. Claro que os leitores eletrônicos facilitam o transporte e armazenamento de livros. Uma Espasa Calpe em papel, sem ir mais longe, tem 115 volumes e exige uma estante especial em sua biblioteca. Imagine transportá-la. Em DVD, você poderia carregá-la no bolso. On line, ela está permanentemente à sua disposição, à distância de um clique, sem ocupar espaço algum. Isso sem falar que dispensaria os custos de impressão e papel. Opor-se aos livros eletrônicos é resistir ao amanhecer.
Em seu artigo, Eco questionava a capacidade de discernimento de quem está acessando a Internet. "Lá, encontramos tanto a Bíblia como Minha Luta, de Adolf Hitler. E o que fazer se uma obra não recomendável surgir na tela de alguém despreparado intelectualmente? Esse será o problema crucial da educação nos próximos anos".
Alto lá, companheiro! Em biblioteca que se preze, temos de ter acesso tanto à Bíblia quanto ao Minha Luta. Como entender o nazismo se não leio Hitler? Isso sem falar que encontramos na Bíblia massacres e convites ao genocídio que Hitler nenhum sonhou. Mas se Eco aderiu ao livro eletrônico, ainda reage como um neoludita à Internet:
- A internet ainda é um mundo selvagem e perigoso. Tudo surge lá sem hierarquia. A imensa quantidade de coisas que circula é pior que a falta de informação. O excesso de informação provoca a amnésia. Informação demais faz mal. Quando não lembramos o que aprendemos, ficamos parecidos com animais. Conhecer é cortar, é selecionar.
Que seja um mundo selvagem, caótico, sem hierarquia, disto não podemos discordar. Daí a considerá-la perigosa, me parece um exagero. É tão perigosa quanto a imprensa em papel. Os jornais manipularam a informação durante todo o século passado – particularmente no que dizia respeito ao comunismo – e continuam a manipulá-la neste.
Quanto ao excesso de informação, isto tampouco é novidade. Este excesso data de séculos atrás. Toda biblioteca gera um excesso de informação. O excesso de informação provoca amnésia? Claro que sim. A memória humana – ao contrário da do computador – tem seus limites. Se você tem uma mísera bibliotequinha de mil exemplares, já estará mais ou menos perdido em seus livros. Ou Eco acha que pode guardar em sua memória as quatro salas de livros que tem em seu apartamento em Milão?
Há uns três anos, comprei na Espanha Los Orígenes del Fundamentalismo, que li com muita atenção. Comentei, na época, como era bom estar em país onde se publicavam livros que não eram publicados no Brasil. Um leitor alertou-me que este livro havia sido publicado aqui no ano 2000, pela Companhia das Letras, com o título de Em Nome de Deus.
Fui pesquisar em minha biblioteca. O livro estava lá, e todo sublinhado por mim mesmo. Eu já nem lembrava dele. O problema destas obras de extrema erudição é que o autor joga tantos dados em uma só página que, mal acabamos de lê-la, não conseguimos memorizá-la. O remédio é sublinhar. Mas sublinhar tem seus limites. Quando o livro está quase todo sublinhado, é como se não estivesse. Se houve época em que tínhamos escassez de dados, hoje vivemos época inversa: os dados são tantos que nao conseguimos mais lembrá-los.
Eco profere outra bobagem ao condenar o excesso de dados que circulam na Internet. Este excesso é muito anterior. Pergunta o repórter: há uma solução para o problema do excesso de informação?
Responde o semiólogo:
- Seria preciso criar uma teoria da filtragem. Uma disciplina prática, baseada na experimentação cotidiana com a internet. Fica aí uma sugestão para as universidades: elaborar uma teoria e uma ferramenta de filtragem que funcionem para o bem do conhecimento. Conhecer é filtrar.
Ora, conhecer sempre foi filtrar. Eco está chovendo no molhado.
07 de janeiro de 2012
janer cristaldo
OS PARCEIROS INESCRUPULOSOS ENCENAM A FARSA DA 6ª RIQUEZA MAIS POBRE DO MUNDO
Encerradas as comemorações de fim de ano, sobrou a sensação de que 2011, no coletivo, não deixará saudade: ficará marcado como um dos mais medíocres anos políticos, caracterizado por crises sucessivas envolvendo os três Poderes da República. Não sei qual deles mais assombra os meus medos, mas sei que todos eles exacerbam minha mais profunda desconfiança.
Como tem acontecido nos últimos anos, o governo federal manteve sua aposta no turbilhão publicitário para amenizar o desmoronamento moral que o acompanha desde 2003. A propaganda oficial se destacou pelo conteúdo distorcido, mais preocupado em promover a logomarca do governo, e pelo indisfarçável viés eleitoreiro. Exibindo uma desfaçatez muito bem articulada, Lula e Dilma foram os principais protagonistas dos comerciais que vendem a imagem falsificada do Brasil.
Ambos também tiveram desempenho notável na manifestação mais sórdida de desrespeito à inteligência dos brasileiros, concebida para fazer de conta que tanto o escândalo do mensalão quanto os quinze ministros exonerados por envolvimento em casos de corrupção, se existiram, não foram produzidos por suas administrações. Tripudiaram sobre a parte da sociedade abandonada por uma oposição omissa, que se escondeu atrás de uma pretensa preservação da ordem institucional e, como tributo à covardia, se qualificou como a principal avalista do clima de desordem que hoje ameaça as instituições. Medrosa, traiu a confiança dos eleitores com as mesuras exageradas de seus governadores e contentou-se em ser espectadora privilegiada da farra bilionária proporcionada por ministros corruptos indicados por Lula e nomeados pela presidente Dilma Rousseff.
Ao entrarmos no décimo ano do governo petista, pouco há a ser comemorado. Os telejornais se engalanaram para encenar mais um ato de bajulação explícita ao governo federal, festejando com estardalhaço o ingresso do Brasil no grupo das cinco maiores economias do planeta. Pirotecnia demais e informação de menos, pois em momento algum registraram que o país figura entre as sete economias mais desenvolvidas desde o tempo da ditadura militar. A manobra inescrupulosa minimiza a verdade crua: um enorme vazio separa dezenas de milhões de brasileiros desse suposto avanço.
É desumano o júbilo que reveste a 5ª riqueza mais pobre do mundo. Não pode haver alegria quando os números do Brasil real apontam para um cenário desolador, que mostra mais de 19 milhões de filhos bastardos da opulência petista, que sobrevivem abaixo da linha da miséria. É imoral justificar qualquer presunção de sucesso econômico quando mais da metade da população não tem acesso ao esgoto tratado e à água potável, enquanto outra parcela considerável desfila pela avenida da submissão o estandarte da pobreza remunerada. Da mesma forma, é inadmissível vangloriar-se de uma fortuna que, se abarrota os cofres do governo, não chega até aos adolescentes que, desassistidos, perambulam entre os 40% de miseráveis e os 20% de analfabetos, realidade assustadora que coloca em xeque o futuro da nação e destrói no nascedouro o sentimento de nacionalidade.
Eleita com os votos da maioria esmagadora desses humilhados pelo esquecimento, a presidente Dilma Rousseff deixou escapar uma oportunidade única de reconciliar-se com o seu mandato ao esquivar-se da responsabilidade de comunicar à nação o sucesso da economia brasileira e, por conta disso, manifestar seu pesar pela incompetência na gestão dos recursos financeiros disponíveis ─ e, solidária aos miseráveis, expressar sua vergonha pelo acinte do trem-bala, pela ação criminosa de ONGs companheiras, pelo desvio de dinheiro público que passou de bilhão praticado por seis de seus ministros, pelo seu reveillon constrangedor que custou ao erário mais de meio milhão. Para concluir o ritual de reconciliação, deveria pedir perdão por todas as promessas que ficaram perdidas em algum lugar da campanha.
Tal postura seria menos comprometedora do que isolar-se numa base militar e transferir ao pior ministro da Fazenda da história republicana a tarefa de explicar que se os mensaleiros forem condenados e presos, se os ministros deixarem de assaltar os cofres públicos e se não houver superfaturamento nas obras da Copa do Mundo, daqui a vinte anos o governo do PT estará preparado para resgatar esses cidadãos da condição de sub-brasileiros.
Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff e Guido Mantega são a confirmação inequívoca de que, em se tratando de desenvolvimento humano, a sexta economia mais poderosa do planeta ainda continua com um dos seus tentáculos firmemente atolado nas cercanias da idade da pedra.
Mauro Pereira
Como tem acontecido nos últimos anos, o governo federal manteve sua aposta no turbilhão publicitário para amenizar o desmoronamento moral que o acompanha desde 2003. A propaganda oficial se destacou pelo conteúdo distorcido, mais preocupado em promover a logomarca do governo, e pelo indisfarçável viés eleitoreiro. Exibindo uma desfaçatez muito bem articulada, Lula e Dilma foram os principais protagonistas dos comerciais que vendem a imagem falsificada do Brasil.
Ambos também tiveram desempenho notável na manifestação mais sórdida de desrespeito à inteligência dos brasileiros, concebida para fazer de conta que tanto o escândalo do mensalão quanto os quinze ministros exonerados por envolvimento em casos de corrupção, se existiram, não foram produzidos por suas administrações. Tripudiaram sobre a parte da sociedade abandonada por uma oposição omissa, que se escondeu atrás de uma pretensa preservação da ordem institucional e, como tributo à covardia, se qualificou como a principal avalista do clima de desordem que hoje ameaça as instituições. Medrosa, traiu a confiança dos eleitores com as mesuras exageradas de seus governadores e contentou-se em ser espectadora privilegiada da farra bilionária proporcionada por ministros corruptos indicados por Lula e nomeados pela presidente Dilma Rousseff.
Ao entrarmos no décimo ano do governo petista, pouco há a ser comemorado. Os telejornais se engalanaram para encenar mais um ato de bajulação explícita ao governo federal, festejando com estardalhaço o ingresso do Brasil no grupo das cinco maiores economias do planeta. Pirotecnia demais e informação de menos, pois em momento algum registraram que o país figura entre as sete economias mais desenvolvidas desde o tempo da ditadura militar. A manobra inescrupulosa minimiza a verdade crua: um enorme vazio separa dezenas de milhões de brasileiros desse suposto avanço.
É desumano o júbilo que reveste a 5ª riqueza mais pobre do mundo. Não pode haver alegria quando os números do Brasil real apontam para um cenário desolador, que mostra mais de 19 milhões de filhos bastardos da opulência petista, que sobrevivem abaixo da linha da miséria. É imoral justificar qualquer presunção de sucesso econômico quando mais da metade da população não tem acesso ao esgoto tratado e à água potável, enquanto outra parcela considerável desfila pela avenida da submissão o estandarte da pobreza remunerada. Da mesma forma, é inadmissível vangloriar-se de uma fortuna que, se abarrota os cofres do governo, não chega até aos adolescentes que, desassistidos, perambulam entre os 40% de miseráveis e os 20% de analfabetos, realidade assustadora que coloca em xeque o futuro da nação e destrói no nascedouro o sentimento de nacionalidade.
Eleita com os votos da maioria esmagadora desses humilhados pelo esquecimento, a presidente Dilma Rousseff deixou escapar uma oportunidade única de reconciliar-se com o seu mandato ao esquivar-se da responsabilidade de comunicar à nação o sucesso da economia brasileira e, por conta disso, manifestar seu pesar pela incompetência na gestão dos recursos financeiros disponíveis ─ e, solidária aos miseráveis, expressar sua vergonha pelo acinte do trem-bala, pela ação criminosa de ONGs companheiras, pelo desvio de dinheiro público que passou de bilhão praticado por seis de seus ministros, pelo seu reveillon constrangedor que custou ao erário mais de meio milhão. Para concluir o ritual de reconciliação, deveria pedir perdão por todas as promessas que ficaram perdidas em algum lugar da campanha.
Tal postura seria menos comprometedora do que isolar-se numa base militar e transferir ao pior ministro da Fazenda da história republicana a tarefa de explicar que se os mensaleiros forem condenados e presos, se os ministros deixarem de assaltar os cofres públicos e se não houver superfaturamento nas obras da Copa do Mundo, daqui a vinte anos o governo do PT estará preparado para resgatar esses cidadãos da condição de sub-brasileiros.
Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff e Guido Mantega são a confirmação inequívoca de que, em se tratando de desenvolvimento humano, a sexta economia mais poderosa do planeta ainda continua com um dos seus tentáculos firmemente atolado nas cercanias da idade da pedra.
Mauro Pereira
PELO TELEFONE
O governador de Pernambuco, Eduardo Campos, recusa fortemente a acusação de que as verbas para enchentes recebidas pelo estado tenham a ver com uma política fisiológica, ou com o aparelhamento do Ministério da Integração Nacional, que seu partido, o PSB, ocupa por meio de Fernando Bezerra.
Ele telefona para reafirmar que todas as verbas foram autorizadas pela presidente Dilma Rousseff pessoalmente, logo no início de seu governo, quando uma das regiões mais pobres de Pernambuco foi atingida pela terceira enchente em dez meses, entre 2010 e 2011.
Na descrição do governador, as enchentes transformaram uma situação “dura e difícil socialmente” daquela região, “uma das mais pobres de Pernambuco”, em um “quadro de guerra”.
Mais de 80 mil pessoas foram atingidas, cerca de 25 mil ficaram sem moradia, 300 escolas foram destruídas pelas águas, linhas férreas, transformadas em montes de ferro.
Dezesseis cidades ficaram sem água e energia, foi realizado o maior resgate aéreo de todos os tempos e mil pessoas passaram mais de um ano vivendo em tendas.
Eduardo Campos diz que, se tivesse feito gestões pessoais junto ao Ministério da Integração Nacional para passar à frente de outros estados na obtenção de verbas, “estaria no meu papel de defender o estado, e a imprensa, no papel dela de denunciar o privilégio”.
Mas ele garante que nada disso aconteceu, e que a decisão sobre a prioridade para as obras em Pernambuco saiu de uma conversa que teve com a presidente Dilma.
“Lembro perfeitamente da conversa que tivemos ao telefone”, diz-me o governador, reproduzindo de memória o diálogo com a presidente, que fora empossada recentemente. A iniciativa de telefonar partiu dela, depois da terceira enchente:
— Outra vez, Eduardo — lamentou a presidente, que já lidara com os problemas das enchentes anteriores quando era chefe da Casa Civil no governo Lula.
— O que é preciso fazer? Quanto custa? — perguntou Dilma, de maneira direta.
— R$ 500 milhões — respondeu o governador.
Com a mesma rapidez, a presidente reagiu:
— É muito dinheiro, não tenho como ajudar. Estou tendo que cortar custos.
Foi na época em que o governo anunciou o corte de R$ 50 bilhões no Orçamento para equilibrá-lo. O governador Eduardo Campos fez uma proposta:
— A cada real que o governo colocar no projeto de prevenção de enchentes, o estado coloca outro.
Como consequência da conversa, o Palácio do Planalto divulgou uma nota oficial no começo de maio de 2011 anunciando que faria o projeto de prevenção de enchentes com o governo de Pernambuco.
Os estudos foram realizados pelo Instituto de Tecnologia de Pernambuco, utilizando a memória do que fora feito em Recife, que também sofreu muito com enchentes.
Entre 1966 e 1975, foram construídas quatro barragens, e a última foi concluída no governo de Fernando Henrique Cardoso.
Para a região em causa, é preciso construir cinco barragens, além de casas populares, recomposição das matas ciliares, reconstrução de pontes.
O programa Minha Casa Minha Vida está construindo 16 mil casas, e o governo de Pernambuco subsidia as moradias para os que ganham de 0 a 3 salários.
Como diz Eduardo Campos, grande parte dos projetos está sendo financiada com dinheiro “azul e branco”, as cores de Pernambuco.
Todo esse quadro indica, para o governador, uma mobilização para reformas estruturais necessárias à região que tem tudo a ver com a função do Ministério da Integração Nacional.
“As obras são de interesse também de Alagoas, que sempre sofre com as enchentes de Pernambuco”, ressalta.
O que para muitos representa um acordo tácito do PSDB com o PSB com vistas a uma ação eleitoral coordenada em 2014, quando Eduardo Campos poderia apoiar a candidatura de Aécio Neves à Presidência da República, ocupando quem sabe a vice na chapa tucana, para o governador de Pernambuco nada mais é do que o entendimento das políticas públicas que estão sendo executadas.
O governador Teotônio Vilela, do PSDB, apoiou as obras porque beneficiam também Alagoas. O governador Antonio Anastasia, de Minas, também não reclamou porque sabe os problemas que Pernambuco enfrenta. E também Sergio Cabral, do Rio de Janeiro, não acusou Pernambuco de estar sendo beneficiado por métodos escusos.
Isto é, nenhum governador de outros estados também afetados pelas chuvas, como Minas e Rio de Janeiro, reclamou de um suposto privilégio de Pernambuco: “O Anastasia não reclamou, o Sergio Cabral não reclamou, o Teo Vilela apoiou. Eles sabem que não houve privilégios”.
Para Eduardo Campos, o que há é muitos problemas e pouco dinheiro.
Na versão do governador, há um histórico de políticas fisiológicas no Ministério da Integração Nacional que contamina as decisões técnicas que estão sendo tomadas, mas ele rejeita a pecha de que esteja aparelhando o Ministério da Integração Nacional sob o comando de Fernando Bezerra.
Esse debate em torno de privilégios para Pernambuco está até mesmo trazendo dividendos eleitorais para seu governo, pois os eleitores acham que ele está defendendo os interesses do estado.
Ao mesmo tempo, Eduardo Campos teme que as críticas revolvam a percepção de um sentimento antinordestino que “não serve para o país”.
Toda essa crise poderia ter sido evitada, admite Eduardo Campos, se o Palácio do Planalto tivesse desde o primeiro momento confirmado que as obras eram necessárias e tinham a autorização da presidente Dilma.
O mal-entendido não quer dizer que o governador, um dos mais importantes aliados do governo Dilma, tenha razões para mudar de posição. Mas a compreensão dos tucanos e a possibilidade de que Ciro Gomes — hoje adversário de Campos dentro do PSB — assuma um papel importante no governo Dilma só fazem ressaltar as difíceis relações do PSB com o PT.
7 de janeiro de 2012
Merval Pereira
Fonte: O Globo, 06/01/2012
Ele telefona para reafirmar que todas as verbas foram autorizadas pela presidente Dilma Rousseff pessoalmente, logo no início de seu governo, quando uma das regiões mais pobres de Pernambuco foi atingida pela terceira enchente em dez meses, entre 2010 e 2011.
Na descrição do governador, as enchentes transformaram uma situação “dura e difícil socialmente” daquela região, “uma das mais pobres de Pernambuco”, em um “quadro de guerra”.
Mais de 80 mil pessoas foram atingidas, cerca de 25 mil ficaram sem moradia, 300 escolas foram destruídas pelas águas, linhas férreas, transformadas em montes de ferro.
Dezesseis cidades ficaram sem água e energia, foi realizado o maior resgate aéreo de todos os tempos e mil pessoas passaram mais de um ano vivendo em tendas.
Eduardo Campos diz que, se tivesse feito gestões pessoais junto ao Ministério da Integração Nacional para passar à frente de outros estados na obtenção de verbas, “estaria no meu papel de defender o estado, e a imprensa, no papel dela de denunciar o privilégio”.
Mas ele garante que nada disso aconteceu, e que a decisão sobre a prioridade para as obras em Pernambuco saiu de uma conversa que teve com a presidente Dilma.
“Lembro perfeitamente da conversa que tivemos ao telefone”, diz-me o governador, reproduzindo de memória o diálogo com a presidente, que fora empossada recentemente. A iniciativa de telefonar partiu dela, depois da terceira enchente:
— Outra vez, Eduardo — lamentou a presidente, que já lidara com os problemas das enchentes anteriores quando era chefe da Casa Civil no governo Lula.
— O que é preciso fazer? Quanto custa? — perguntou Dilma, de maneira direta.
— R$ 500 milhões — respondeu o governador.
Com a mesma rapidez, a presidente reagiu:
— É muito dinheiro, não tenho como ajudar. Estou tendo que cortar custos.
Foi na época em que o governo anunciou o corte de R$ 50 bilhões no Orçamento para equilibrá-lo. O governador Eduardo Campos fez uma proposta:
— A cada real que o governo colocar no projeto de prevenção de enchentes, o estado coloca outro.
Como consequência da conversa, o Palácio do Planalto divulgou uma nota oficial no começo de maio de 2011 anunciando que faria o projeto de prevenção de enchentes com o governo de Pernambuco.
Os estudos foram realizados pelo Instituto de Tecnologia de Pernambuco, utilizando a memória do que fora feito em Recife, que também sofreu muito com enchentes.
Entre 1966 e 1975, foram construídas quatro barragens, e a última foi concluída no governo de Fernando Henrique Cardoso.
Para a região em causa, é preciso construir cinco barragens, além de casas populares, recomposição das matas ciliares, reconstrução de pontes.
O programa Minha Casa Minha Vida está construindo 16 mil casas, e o governo de Pernambuco subsidia as moradias para os que ganham de 0 a 3 salários.
Como diz Eduardo Campos, grande parte dos projetos está sendo financiada com dinheiro “azul e branco”, as cores de Pernambuco.
Todo esse quadro indica, para o governador, uma mobilização para reformas estruturais necessárias à região que tem tudo a ver com a função do Ministério da Integração Nacional.
“As obras são de interesse também de Alagoas, que sempre sofre com as enchentes de Pernambuco”, ressalta.
O que para muitos representa um acordo tácito do PSDB com o PSB com vistas a uma ação eleitoral coordenada em 2014, quando Eduardo Campos poderia apoiar a candidatura de Aécio Neves à Presidência da República, ocupando quem sabe a vice na chapa tucana, para o governador de Pernambuco nada mais é do que o entendimento das políticas públicas que estão sendo executadas.
O governador Teotônio Vilela, do PSDB, apoiou as obras porque beneficiam também Alagoas. O governador Antonio Anastasia, de Minas, também não reclamou porque sabe os problemas que Pernambuco enfrenta. E também Sergio Cabral, do Rio de Janeiro, não acusou Pernambuco de estar sendo beneficiado por métodos escusos.
Isto é, nenhum governador de outros estados também afetados pelas chuvas, como Minas e Rio de Janeiro, reclamou de um suposto privilégio de Pernambuco: “O Anastasia não reclamou, o Sergio Cabral não reclamou, o Teo Vilela apoiou. Eles sabem que não houve privilégios”.
Para Eduardo Campos, o que há é muitos problemas e pouco dinheiro.
Na versão do governador, há um histórico de políticas fisiológicas no Ministério da Integração Nacional que contamina as decisões técnicas que estão sendo tomadas, mas ele rejeita a pecha de que esteja aparelhando o Ministério da Integração Nacional sob o comando de Fernando Bezerra.
Esse debate em torno de privilégios para Pernambuco está até mesmo trazendo dividendos eleitorais para seu governo, pois os eleitores acham que ele está defendendo os interesses do estado.
Ao mesmo tempo, Eduardo Campos teme que as críticas revolvam a percepção de um sentimento antinordestino que “não serve para o país”.
Toda essa crise poderia ter sido evitada, admite Eduardo Campos, se o Palácio do Planalto tivesse desde o primeiro momento confirmado que as obras eram necessárias e tinham a autorização da presidente Dilma.
O mal-entendido não quer dizer que o governador, um dos mais importantes aliados do governo Dilma, tenha razões para mudar de posição. Mas a compreensão dos tucanos e a possibilidade de que Ciro Gomes — hoje adversário de Campos dentro do PSB — assuma um papel importante no governo Dilma só fazem ressaltar as difíceis relações do PSB com o PT.
7 de janeiro de 2012
Merval Pereira
Fonte: O Globo, 06/01/2012
DESMATAMENTO E ASSOREAMENTO, CAUSAS DA DESTRUIÇÃO NO NORTE E NOROESTE DO RIO DE JANEIRO
Os desastres ambientais ocorridos em afluentes do Rio Muriaé nos anos 2003 e 2007, provocados por indústrias que atuam nas regiões Norte e Noroeste Fluminense, com despejo de pelo menos 400 mil litros de resíduos nos rios, contribuíram significativamente para a enchente e a destruição das duas regiões depois que as chuvas de Minas Gerais provocaram a cheia de rios já assoreados pelos resíduos que vazaram, explica o professor Gilberto Pessanha, engenheiro e geógrafo da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) que, “aponta ainda o desmatamento provocado por agricultores naquela região como a mais importante causa do caos vivido hoje pelos habitantes”.
De acordo com o professor Gilberto Pessanha, desde 2003 o rio Muriaé vive um processo de assoreamento que não pôde ser freado pelas prefeituras por falta de recursos, impedindo, assim, que os rios fossem dragados e que as enchentes fossem evitadas.
“Em 2003 e 2007 tivemos grandes vazamentos que assorearam os rios Pomba e Muriaé. Com as chuvas de Minas Gerais neste ano, os rios – sobretudo o Muriaé – transbordaram muito rapidamente, porque já estavam com grande quantidade de sedimentos. Assim, com a capacidade reduzida, não deram vazão às águas que chegavam de Minas Gerais e o resultado foi a cheia, alagamentos e destruição das cidades do Norte e Noroeste Fluminense”.
Segundo o professor, que monitora a região desde 2003, só foram feitas obras emergenciais superficiais. O dique da BR 356 (Itaperuna – Campos), por exemplo, teria sido mal construído, com ausência de impermeabilização do solo para que a construção suportasse a água das chuvas. O que se viu, portanto, foi a completa destruição do dique na última quinta-feira.
“O solo não foi compactado o suficiente. Então, não dá nem para chamar de dique, porque para ser um dique tem que se garantir a impermeabilização do solo. As obras no Rio de Janeiro devem ser feitas com mais seriedade. Não dá para dizer que custa caro construir um dique de boa qualidade, já que em áreas planas (como é o caso de Campos) é mais barato do que em terrenos acidentados”.
Para Carlos Augusto Figueiredo, professor do Instituto de Ciências Ambientais e de Biologia da UniRio, a prioridade dos governos federal e estadual nas duas regiões mais afetadas deve ser a revegetação de algumas áreas destinadas à agricultura, que avança principalmente com o plantio de hortifrutigrangeiros e cana de açúcar.
“Há um grande desrespeito ao Código Florestal, que determina que as propriedades rurais mantenham 20% da vegetação nativa intacta. Com o desrespeito à lei, quando chove a água incide diretamente no solo, provoca uma grave erosão e os sedimentos do solo vão para a calha dos rios. Assoreados, os rios enchem rapidamente e as enchentes são ineitáveis”.
Paulo Peres
07 de janeiro de 2012
De acordo com o professor Gilberto Pessanha, desde 2003 o rio Muriaé vive um processo de assoreamento que não pôde ser freado pelas prefeituras por falta de recursos, impedindo, assim, que os rios fossem dragados e que as enchentes fossem evitadas.
“Em 2003 e 2007 tivemos grandes vazamentos que assorearam os rios Pomba e Muriaé. Com as chuvas de Minas Gerais neste ano, os rios – sobretudo o Muriaé – transbordaram muito rapidamente, porque já estavam com grande quantidade de sedimentos. Assim, com a capacidade reduzida, não deram vazão às águas que chegavam de Minas Gerais e o resultado foi a cheia, alagamentos e destruição das cidades do Norte e Noroeste Fluminense”.
Segundo o professor, que monitora a região desde 2003, só foram feitas obras emergenciais superficiais. O dique da BR 356 (Itaperuna – Campos), por exemplo, teria sido mal construído, com ausência de impermeabilização do solo para que a construção suportasse a água das chuvas. O que se viu, portanto, foi a completa destruição do dique na última quinta-feira.
“O solo não foi compactado o suficiente. Então, não dá nem para chamar de dique, porque para ser um dique tem que se garantir a impermeabilização do solo. As obras no Rio de Janeiro devem ser feitas com mais seriedade. Não dá para dizer que custa caro construir um dique de boa qualidade, já que em áreas planas (como é o caso de Campos) é mais barato do que em terrenos acidentados”.
Para Carlos Augusto Figueiredo, professor do Instituto de Ciências Ambientais e de Biologia da UniRio, a prioridade dos governos federal e estadual nas duas regiões mais afetadas deve ser a revegetação de algumas áreas destinadas à agricultura, que avança principalmente com o plantio de hortifrutigrangeiros e cana de açúcar.
“Há um grande desrespeito ao Código Florestal, que determina que as propriedades rurais mantenham 20% da vegetação nativa intacta. Com o desrespeito à lei, quando chove a água incide diretamente no solo, provoca uma grave erosão e os sedimentos do solo vão para a calha dos rios. Assoreados, os rios enchem rapidamente e as enchentes são ineitáveis”.
Paulo Peres
07 de janeiro de 2012
O CUSTO DA VADIAGEM
Cota dos senadores custa R$ 15 milhões
Entre os que mais gastaram com passagens aéreas e verba indenizatória está a senadora amazonense Vanessa Grazziotin. Cinco parlamentares abriram mão do benefício em 2011
Entre os 81 senadores, a amazonense Vanessa Grazziotin (PCdoB) foi a que mais usou a verba indenizatória em 2011.
Com um total de R$ 403.334,68, ela teve um gasto mensal médio de R$ 36.666,79, considerando os 11 meses em que trabalhou desde que tomou posse, em fevereiro.
Seguindo Vanessa, aparece o piauiense Ciro Nogueira (PP), que recebeu R$ 369.972,38 de reembolso no ano passado.
No total, os senadores gastaram R$ 15,69 milhões em 2011.
O benefício, rebatizado de Cota para o Exercício da Atividade Parlamentar dos Senadores no ano passado, unindo a antiga verba de transporte aéreo com a indenizatória, pode chegar a R$ 45 mil mensais, caso dos senadores que moram em estados mais afastados, como o Amazonas.
O montante foi recalculado em junho último, incluindo os R$ 15 mil mensais, mais o valor correspondente a cinco passagens aéreas de ida e volta da capital do estado de origem do senador a Brasília a cada mês.
O gasto das passagens, calculado por uma tabela do governo, pode ser usado para outros fins. A verba não usada em um mês fica para o outro.
É o que ocorreu com a recordista Vanessa Grazziottin, cujo auge dos gastos foi em novembro, quando gastou R$ 103.062,15, e em dezembro, mês em que teve R$ 94.451,79 de reembolso.
A empresa Fábrica do Ímã recebeu um dos maiores pagamentos: R$ 34 mil.
Tratava-se da encomenda de 100 mil ímãs de geladeira, que seriam, de acordo com a senadora, para divulgar uma campanha pela aprovação da lei que garante a aposentadoria das donas de casa.
O item Divulgação da Atividade Parlamentar, aliás, é o que mais consumiu a cota da senadora, num total de R$ 144.910.
Procurada pelo Correio, Vanessa alegou que os altos gastos em 2011 tiveram a ver com a campanha pelas donas de casa e o seu deslocamento e de seus assessores entre Brasília e Manaus.
"Meus assessores não conheciam Manaus, era o primeiro ano do mandato", alegou. A divulgação de seu projeto de lei contou ainda com outdoors e comerciais de rádio, principalmente no interior do Amazonas.
Diante da comparação com outro senador pelo Amazonas, o peemedebista Eduardo Braga, que não usou a verba no ano passado, Vanessa alega que o ex-governador teria ferramentas de divulgação de que ela não dispõe. "Ele foi governador.
Eu nunca fui, minha única fonte é meu salário. Passo 40% do meu salário para o meu partido, o PCdoB. Já ele tem todas as ferramentas para divulgar o mandato", defende-se.
Plano de saúde
Na média mensal, além de Vanessa e Ciro, outros quatro senadores gastam mais do que recebem como salário:
Ângela Portela (PT-RR),
Fernando Collor (PTB-AL),
Sérgio Petecão (PSD-AC) e Wellington Dias (PT-PI).
Hoje, além do salário de R$ 26.723,13, os senadores ainda têm auxílio- moradia de até R$ 3.800; atendimento médico sem limites para o parlamentar e a família; cota para envio de correspondência; impressão de papéis até R$ 8.500 na gráfica do Senado; uso de combustível em Brasília; assinatura de jornais e revistas.
Na lanterna da lista dos maiores gastos estão os que preferiram não usar o benefício: Cristovam Buarque (PDT-DF),
Eduardo Braga (PMDB-AM),
Eunício Oliveira (PMDB-CE),
Lauro Antonio (PR-SE) e Rodrigo Rollemberg (PSB-DF).
Um dos cinco a não gastar com verba indenizatória, Cristovam Buarque defende que o alto salário é suficiente. Desde junho de 2010, o senador não usa mais verba indenizatória. Primeiro, parou para não ser acusado de usar a verba em benefício próprio durante a campanha para a reeleição, no ano passado.
"Depois, percebi que podia tocar sem a verba e parei de usar", explica. O único uso do senador era para fazer um jornal informativo, O Educacionista, que teve a circulação interrompida naquele mês.
"Foi um prejuízo para o meu mandato e para a luta pela educação, mas deixei de fazer." Ele ressalva, porém, que o uso das passagens aéreas por quem mora fora do Distrito Federal é fundamental.
Sem citar quantas, Cristovam lembra que fez algumas viagens em 2011 como senador e que preferiu pagar do próprio bolso. "Tivemos um reajuste no ano passado, dava para pagar a passagem".
O que é a cota?
A cota para o exercício da atividade parlamentar dos senadores é a soma da antiga verba indenizatória com o gasto para transporte aéreo. É usada para pagar locomoção, alimentação, escritórios políticos e divulgação da atividade parlamentar.
Quanto cada senador pode gastar?
Cada senador tem a sua cota, calculada de acordo com o estado em
que vive.
A cota é a soma dos antigos R$ 15 mil de verba indenizatória mais o dinheiro equivalente a cinco passagens aéreas entre Brasília e o estado de origem. O valor dessas passagens é calculado pelo governo. Pode ser acumulado de um mês para o outro.
R$ 15,6 milhões é o valor total gasto pelos senadores e suplentes ao longo de 2011
R$ 403 mil é o total gasto pela senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) em 2011
Guilherme Amado Correio
Entre os que mais gastaram com passagens aéreas e verba indenizatória está a senadora amazonense Vanessa Grazziotin. Cinco parlamentares abriram mão do benefício em 2011
Entre os 81 senadores, a amazonense Vanessa Grazziotin (PCdoB) foi a que mais usou a verba indenizatória em 2011.
Com um total de R$ 403.334,68, ela teve um gasto mensal médio de R$ 36.666,79, considerando os 11 meses em que trabalhou desde que tomou posse, em fevereiro.
Seguindo Vanessa, aparece o piauiense Ciro Nogueira (PP), que recebeu R$ 369.972,38 de reembolso no ano passado.
No total, os senadores gastaram R$ 15,69 milhões em 2011.
O benefício, rebatizado de Cota para o Exercício da Atividade Parlamentar dos Senadores no ano passado, unindo a antiga verba de transporte aéreo com a indenizatória, pode chegar a R$ 45 mil mensais, caso dos senadores que moram em estados mais afastados, como o Amazonas.
O montante foi recalculado em junho último, incluindo os R$ 15 mil mensais, mais o valor correspondente a cinco passagens aéreas de ida e volta da capital do estado de origem do senador a Brasília a cada mês.
O gasto das passagens, calculado por uma tabela do governo, pode ser usado para outros fins. A verba não usada em um mês fica para o outro.
É o que ocorreu com a recordista Vanessa Grazziottin, cujo auge dos gastos foi em novembro, quando gastou R$ 103.062,15, e em dezembro, mês em que teve R$ 94.451,79 de reembolso.
A empresa Fábrica do Ímã recebeu um dos maiores pagamentos: R$ 34 mil.
Tratava-se da encomenda de 100 mil ímãs de geladeira, que seriam, de acordo com a senadora, para divulgar uma campanha pela aprovação da lei que garante a aposentadoria das donas de casa.
O item Divulgação da Atividade Parlamentar, aliás, é o que mais consumiu a cota da senadora, num total de R$ 144.910.
Procurada pelo Correio, Vanessa alegou que os altos gastos em 2011 tiveram a ver com a campanha pelas donas de casa e o seu deslocamento e de seus assessores entre Brasília e Manaus.
"Meus assessores não conheciam Manaus, era o primeiro ano do mandato", alegou. A divulgação de seu projeto de lei contou ainda com outdoors e comerciais de rádio, principalmente no interior do Amazonas.
Diante da comparação com outro senador pelo Amazonas, o peemedebista Eduardo Braga, que não usou a verba no ano passado, Vanessa alega que o ex-governador teria ferramentas de divulgação de que ela não dispõe. "Ele foi governador.
Eu nunca fui, minha única fonte é meu salário. Passo 40% do meu salário para o meu partido, o PCdoB. Já ele tem todas as ferramentas para divulgar o mandato", defende-se.
Plano de saúde
Na média mensal, além de Vanessa e Ciro, outros quatro senadores gastam mais do que recebem como salário:
Ângela Portela (PT-RR),
Fernando Collor (PTB-AL),
Sérgio Petecão (PSD-AC) e Wellington Dias (PT-PI).
Hoje, além do salário de R$ 26.723,13, os senadores ainda têm auxílio- moradia de até R$ 3.800; atendimento médico sem limites para o parlamentar e a família; cota para envio de correspondência; impressão de papéis até R$ 8.500 na gráfica do Senado; uso de combustível em Brasília; assinatura de jornais e revistas.
Na lanterna da lista dos maiores gastos estão os que preferiram não usar o benefício: Cristovam Buarque (PDT-DF),
Eduardo Braga (PMDB-AM),
Eunício Oliveira (PMDB-CE),
Lauro Antonio (PR-SE) e Rodrigo Rollemberg (PSB-DF).
Um dos cinco a não gastar com verba indenizatória, Cristovam Buarque defende que o alto salário é suficiente. Desde junho de 2010, o senador não usa mais verba indenizatória. Primeiro, parou para não ser acusado de usar a verba em benefício próprio durante a campanha para a reeleição, no ano passado.
"Depois, percebi que podia tocar sem a verba e parei de usar", explica. O único uso do senador era para fazer um jornal informativo, O Educacionista, que teve a circulação interrompida naquele mês.
"Foi um prejuízo para o meu mandato e para a luta pela educação, mas deixei de fazer." Ele ressalva, porém, que o uso das passagens aéreas por quem mora fora do Distrito Federal é fundamental.
Sem citar quantas, Cristovam lembra que fez algumas viagens em 2011 como senador e que preferiu pagar do próprio bolso. "Tivemos um reajuste no ano passado, dava para pagar a passagem".
O que é a cota?
A cota para o exercício da atividade parlamentar dos senadores é a soma da antiga verba indenizatória com o gasto para transporte aéreo. É usada para pagar locomoção, alimentação, escritórios políticos e divulgação da atividade parlamentar.
Quanto cada senador pode gastar?
Cada senador tem a sua cota, calculada de acordo com o estado em
que vive.
A cota é a soma dos antigos R$ 15 mil de verba indenizatória mais o dinheiro equivalente a cinco passagens aéreas entre Brasília e o estado de origem. O valor dessas passagens é calculado pelo governo. Pode ser acumulado de um mês para o outro.
R$ 15,6 milhões é o valor total gasto pelos senadores e suplentes ao longo de 2011
R$ 403 mil é o total gasto pela senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) em 2011
Guilherme Amado Correio
EXPORTAÇÕES E RESERVAS CAMBIAIS DISPARAM, MAS QUAL É A PARTE DO POVO?
É absolutamente inegável o êxito do comércio externo brasileiro ao longo dos oito anos do governo Lula e agora no início da administração Dilma Rousseff. Basta examinar e comparar os números. O período FHC fechou, em 2002, com as exportações atingindo 70 bilhões de dólares e as importações 68 bilhões na moeda americana. Dando sequência à escalada que começou no exercício de 2003, agora, 2011, revela a reportagem de Martha Beck e Vivian Oswald, O Globo de terça-feira 3, as exportações fecharam com nada menos que 256 bilhões (de dólares) e as importações no patamar de 202 bilhões.
Quadro estatístico a cores elaborado pela editoria de arte do jornal torna ainda mais fácil a visualização da dança dos números. Sendo que as exportações, em 2011, cresceram 26% em relação às de 2010. E as importações em 24,5% no mesmo espaço de tempo. O saldo comercial foi 47% maior no ano passado em relação ao ano atrasado.
As exportações e as importações projetaram-se assim numa velocidade impressionante de algo em torno de 350% em nove anos. Muito mais do que a inflação do IBGE que assinala aproximadamente 70% no período e várias vezes a taxa demográfica que ficou em praticamente 11%. A economia brasileira no plano externo bateu recorde. Tanto assim, como destacam Martha Beck e Vivian Oswald, que, no final de dezembro, alcançaram um total acumulado de 352 bilhões de dólares. Cerca de 15% do PIB do país.
Em 2001, quando se fechavam as cortinas do governo FHC, as reservas somavam apenas 37,8 bilhões de dólares. Cresceram quase dez vezes, o equivalente a mil por cento. De 2010 para 2011, o avanço foi de 25%. Eram 288 bilhões, saltaram para 352 bilhões (de dólares). Impressionante o ritmo. Dilma Rousseff manteve o sucesso de seu antecessor na área comercial externa.
Entretanto, na área social interna, qual o reflexo positivo? Muito pouco. As favelas, na década, como escrevi há poucas semanas, com base no Censo de 2010 do IBGE, avançaram 75% para um crescimento populacional da ordem de 12,7%. Os recursos orçamentários destinados à Saúde aumentam este ano de 75 bilhões (de reais) para 82. Os remetidos à Educação, de 65 bilhões para 72 bilhões.
No país, um terço das habitações não contam com rede alguma de esgotos. Cinquenta por cento são atendidos por rede de tratamento civilizado, 18% através de fossas sépticas, incrível. Faltam 300 mil professores no sistema de ensino público nacional. As exportações e importações elevaram-se firmemente, mas no ano passado o consumo interno perdeu para o índice inflacionário de 6,7%. Qual pode ser a explicação?
Não adianta apelar para o papel e, como em Casablanca, mandar prender os suspeitos de sempre. É necessária uma tradução lógica para encontrar o ponto de fratura que separa a ponta entre a economia e a sociedade. Tem-se a impressão, pois o que existe aparece, como definiu o cientista Enrico Fermi, que os resultados concretos da arrancada econômica estão sendo depositados no exterior.
Não se encontra outra explicação. Já que os saldos existem e se acumularam através de nove anos de sucesso, eles têm que se encontrar em algum lugar. Não evaporaram, tampouco desapareceram como num passe de mágica. O saldo final acumulado, de 352 bilhões de dólares, como dizem os dados do Banco Central por Beck e Oswald, só pode estar dormindo em bancos internacionais.
Um colchão de segurança contra qualquer crise. Macio. Contrastando com a falta de colchões decentes para embalar o sono de pelo menos 30 milhões de favelados. Assim, a economia vai bem, mas o povo vai mal. Quem foi que disse isso antes? Exatamente o general Médici, em 70, quando Delfim Neto era o ministro da Fazenda. A realidade mudou para melhor na economia. No plano social, não.
Pedro do Coutto
08 de janeiro de 2012
Quadro estatístico a cores elaborado pela editoria de arte do jornal torna ainda mais fácil a visualização da dança dos números. Sendo que as exportações, em 2011, cresceram 26% em relação às de 2010. E as importações em 24,5% no mesmo espaço de tempo. O saldo comercial foi 47% maior no ano passado em relação ao ano atrasado.
As exportações e as importações projetaram-se assim numa velocidade impressionante de algo em torno de 350% em nove anos. Muito mais do que a inflação do IBGE que assinala aproximadamente 70% no período e várias vezes a taxa demográfica que ficou em praticamente 11%. A economia brasileira no plano externo bateu recorde. Tanto assim, como destacam Martha Beck e Vivian Oswald, que, no final de dezembro, alcançaram um total acumulado de 352 bilhões de dólares. Cerca de 15% do PIB do país.
Em 2001, quando se fechavam as cortinas do governo FHC, as reservas somavam apenas 37,8 bilhões de dólares. Cresceram quase dez vezes, o equivalente a mil por cento. De 2010 para 2011, o avanço foi de 25%. Eram 288 bilhões, saltaram para 352 bilhões (de dólares). Impressionante o ritmo. Dilma Rousseff manteve o sucesso de seu antecessor na área comercial externa.
Entretanto, na área social interna, qual o reflexo positivo? Muito pouco. As favelas, na década, como escrevi há poucas semanas, com base no Censo de 2010 do IBGE, avançaram 75% para um crescimento populacional da ordem de 12,7%. Os recursos orçamentários destinados à Saúde aumentam este ano de 75 bilhões (de reais) para 82. Os remetidos à Educação, de 65 bilhões para 72 bilhões.
No país, um terço das habitações não contam com rede alguma de esgotos. Cinquenta por cento são atendidos por rede de tratamento civilizado, 18% através de fossas sépticas, incrível. Faltam 300 mil professores no sistema de ensino público nacional. As exportações e importações elevaram-se firmemente, mas no ano passado o consumo interno perdeu para o índice inflacionário de 6,7%. Qual pode ser a explicação?
Não adianta apelar para o papel e, como em Casablanca, mandar prender os suspeitos de sempre. É necessária uma tradução lógica para encontrar o ponto de fratura que separa a ponta entre a economia e a sociedade. Tem-se a impressão, pois o que existe aparece, como definiu o cientista Enrico Fermi, que os resultados concretos da arrancada econômica estão sendo depositados no exterior.
Não se encontra outra explicação. Já que os saldos existem e se acumularam através de nove anos de sucesso, eles têm que se encontrar em algum lugar. Não evaporaram, tampouco desapareceram como num passe de mágica. O saldo final acumulado, de 352 bilhões de dólares, como dizem os dados do Banco Central por Beck e Oswald, só pode estar dormindo em bancos internacionais.
Um colchão de segurança contra qualquer crise. Macio. Contrastando com a falta de colchões decentes para embalar o sono de pelo menos 30 milhões de favelados. Assim, a economia vai bem, mas o povo vai mal. Quem foi que disse isso antes? Exatamente o general Médici, em 70, quando Delfim Neto era o ministro da Fazenda. A realidade mudou para melhor na economia. No plano social, não.
Pedro do Coutto
08 de janeiro de 2012
O "PUDÊ" DA CANALHICE!!!
"FAÇA O QUE DIGO, NÃO O QUE EU FAÇO": SUPERSALÁRIOS? SÓ PARA MANTEGA & CIA . MINISTROS EMBOLSAM MEGASSALÁRIOS
Assessores de Dilma que mais se opõem a reajustes para servidores dão um jeitinho de ganhar bem acima do teto do funcionalismo
Para engordarem o contracheque e embolsarem rendimentos superiores a R$ 26,7 mil estipulados como teto constitucional, integrantes da equipe econômica e outros seletos funcionários do primeiro e segundo escalões contam com uma ajuda extra:
as participações, também conhecidas como jetons, em conselhos administrativos e fiscais de instituições estatais e até privadas.
Esse grupo de privilegiados recebe entre R$ 28,8 mil e R$ 45,7 mil, como mostra reportagem de Ana D"Angelo e Cristiane Bonfanti.
Enquanto servidores brigam por reajustes, participações em conselhos de empresas engordam a renda de autoridades na Esplanada. Até mesmo o advogado-geral da União aumenta o contracheque graças a duas companhias privadas.
Época de mesas fartas, o Natal foi indigesto para uma parcela dos servidores públicos do Executivo e do Judiciário, incluindo juízes e ministros de tribunais superiores.
Eles viram ir para o ralo a esperança de receber do governo um bom aumento salarial em 2012, após a aprovação do Orçamento Geral da União em dezembro.
Entretanto, a guilhotina nas emendas de parlamentares prevendo recursos para os reajustes e a economia de gastos públicos nem passaram perto das remunerações e benesses recebidas pelas cabeças coroadas da equipe econômica, que viraram o ano liderando o bloco de uma turma seleta do funcionalismo que embolsa supersalários acima do limite constitucional de R$ 26,7 mil pagos a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
Donas das chaves dos cofres públicos, essas autoridades estão recebendo entre R$ 32 mil e R$ 41,1 mil por mês.
Ocupantes do primeiro e do segundo escalão na Esplanada estão engordando os altos salários com participações, também conhecidas como jetons, em conselhos administrativos e fiscais de empresas estatais e até privadas.
Os extras para comparecer, em geral, a cada dois meses às reuniões dessas companhias vão de R$ 2,1 mil a R$ 23 mil por mês.
Os ministros da Fazenda, Guido Mantega, e do Planejamento, Miriam Belchior, participam dos conselhos da Petrobras e da BR Distribuidora, que rendem, cada um, R$ 7 mil mensais, em média.
Com tudo somado, o chefe da equipe econômica e sua colega vêm embolsando, atualmente, R$ 40,9 mil brutos todo mês.
Miriam ainda tem assento no conselho do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), mas não recebe o jeton de R$ 5,5 mil da instituição. O decreto presidencial proíbe que membros do governo sejam remunerados por mais de dois conselhos.
O secretário executivo de Mantega, Nelson Barbosa, não tem o salário de R$ 26,7 mil pago a ministros de Estado.
Ele recebe em torno de R$ 14 mil, correspondentes ao vencimento de professor cedido da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mais a gratificação pelo cargo, de R$ 6,8 mil.
É um valor próximo da remuneração de qualquer servidor da elite do Executivo em início de carreira. Mas Barbosa também abocanhou um assento nos dois dos melhores conselhos existentes:
o da mineradora privada Vale e o do Banco do Brasil, que lhe pagam mais R$ 27,1 mil mensais, elevando seus ganhos para R$ 41,1 mil.
Felizardo
Na mineradora, o número dois do Ministério da Fazenda entrou em nome do governo de uma forma enviesada, como representante dos fundos de pensão de estatais — sócios de fato da companhia.
Mas é o conselho que melhor remunera.
Barbosa recebe R$ 23 mil por mês da empresa.
Depois do cargo da Vale, o destaque é para o da Hidrelétrica Itaipu, que paga, em média, R$ 19 mil mensais. O ministro felizardo é o da Defesa, Celso Amorim, com renda total de R$ 45,7 mil.
Nem a Fazenda nem o Planejamento comentaram o fato de os jetons não integrarem as remunerações sujeitas ao limite constitucional e não sofrerem o chamado abate-teto, como ocorre com os rendimentos de diversos outros servidores do Executivo e de parte do Judiciário.
Já o Planejamento informou apenas que o recebimento de verbas por participação nesses conselhos está previsto na Lei nº 8.112, de 1990, e que foi considerado constitucional pelo STF.
Conflito
Com tantas autoridades recebendo acima do limite constitucional e com os principais assentos nos conselhos já ocupados por quem está em ministérios vinculados às estatais, o ministro-chefe da Advocacia-Geral da União (AGU), Luís Inácio Adams, foi agraciado com dois jetons de empresas privadas para engordar ainda mais seus rendimentos.
Ele integra o conselho administrativo da Brasilprev Seguros e Previdência e o da Brasilcap.
A primeira é controlada pelo grupo norte-americano Principal Financial Group, com 50,1% do capital. A segunda tem como sócias majoritárias as companhias Icatu Hartford, Sul América e Aliança do Brasil. O Banco do Brasil detém 49,9% do capital das duas, por isso, tem direito a indicar metade dos membros dos respectivos conselhos.
Com os dois extras, os rendimentos de Adams estão na casa dos R$ 38,7 mil brutos. Na AGU, ele, que é procurador da Fazenda Nacional de carreira, é responsável por todas as ações judiciais da União contra empresas privadas, principalmente aquelas que cobram impostos de devedores.
Ao contrário das estatais e das demais autoridades, o advogado-geral da União e as duas companhias se recusaram a informar o valor mensal pago para que o titular da AGU dê palpites na administração dos dois grupos privados. Pelas informações obtidas pelo Correio, essa quantia é de pelo menos R$ 6 mil, em média, por conselho.
Em nota, a assessoria de imprensa da AGU afirmou que o valor "só pode ser obtido com o ministro, que se encontra em período de férias". O órgão negou a existência de incompatibilidade, alegando que Adams "já declarou à Comissão de Ética da Presidência da República seu impedimento de atuar quando presente eventual conflito de interesses", cabendo, aí, ao seu substituto agir no caso. (SIC)
A direção da AGU sustentou ainda que a rotina de Adams não chega a ficar comprometida pela atividade nos conselhos, que inclui viagens a São Paulo e ao Rio de Janeiro para a participação em reuniões que duram um dia inteiro.(SIC II)
Economista da Tendências Consultoria e especialista em finanças públicas, Felipe Salto avalia que os supersalários recebidos pelos ministros e secretários representam um entrave para o corte de gastos anunciado pelo governo.
"Esses valores servem como um mau exemplo e são prejudiciais para a constituição de uma estratégia fiscal de maior austeridade. Os funcionários que estão na base das carreiras sempre vão usar os que estão no topo como referência para pedir reajustes", afirma.
Para o cientista político Rafael Cortez, da Tendências Consultoria, além dos altos salários dos ministros de Estado, a atuação de Adams em empresas privadas é grave. "A AGU, em tese, defende os interesses da União.
Na medida em que o advogado-geral está em um conselho de capital majoritariamente privado e tem acesso a informações privilegiadas, há uma confusão entre o público e o privado", sustenta.
08 de janeiro de 2012
Ana D"Angelo e Cristiane Bonfanti Correio Braziliense
Assessores de Dilma que mais se opõem a reajustes para servidores dão um jeitinho de ganhar bem acima do teto do funcionalismo
Para engordarem o contracheque e embolsarem rendimentos superiores a R$ 26,7 mil estipulados como teto constitucional, integrantes da equipe econômica e outros seletos funcionários do primeiro e segundo escalões contam com uma ajuda extra:
as participações, também conhecidas como jetons, em conselhos administrativos e fiscais de instituições estatais e até privadas.
Esse grupo de privilegiados recebe entre R$ 28,8 mil e R$ 45,7 mil, como mostra reportagem de Ana D"Angelo e Cristiane Bonfanti.
Enquanto servidores brigam por reajustes, participações em conselhos de empresas engordam a renda de autoridades na Esplanada. Até mesmo o advogado-geral da União aumenta o contracheque graças a duas companhias privadas.
Época de mesas fartas, o Natal foi indigesto para uma parcela dos servidores públicos do Executivo e do Judiciário, incluindo juízes e ministros de tribunais superiores.
Eles viram ir para o ralo a esperança de receber do governo um bom aumento salarial em 2012, após a aprovação do Orçamento Geral da União em dezembro.
Entretanto, a guilhotina nas emendas de parlamentares prevendo recursos para os reajustes e a economia de gastos públicos nem passaram perto das remunerações e benesses recebidas pelas cabeças coroadas da equipe econômica, que viraram o ano liderando o bloco de uma turma seleta do funcionalismo que embolsa supersalários acima do limite constitucional de R$ 26,7 mil pagos a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
Donas das chaves dos cofres públicos, essas autoridades estão recebendo entre R$ 32 mil e R$ 41,1 mil por mês.
Ocupantes do primeiro e do segundo escalão na Esplanada estão engordando os altos salários com participações, também conhecidas como jetons, em conselhos administrativos e fiscais de empresas estatais e até privadas.
Os extras para comparecer, em geral, a cada dois meses às reuniões dessas companhias vão de R$ 2,1 mil a R$ 23 mil por mês.
Os ministros da Fazenda, Guido Mantega, e do Planejamento, Miriam Belchior, participam dos conselhos da Petrobras e da BR Distribuidora, que rendem, cada um, R$ 7 mil mensais, em média.
Com tudo somado, o chefe da equipe econômica e sua colega vêm embolsando, atualmente, R$ 40,9 mil brutos todo mês.
Miriam ainda tem assento no conselho do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), mas não recebe o jeton de R$ 5,5 mil da instituição. O decreto presidencial proíbe que membros do governo sejam remunerados por mais de dois conselhos.
O secretário executivo de Mantega, Nelson Barbosa, não tem o salário de R$ 26,7 mil pago a ministros de Estado.
Ele recebe em torno de R$ 14 mil, correspondentes ao vencimento de professor cedido da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mais a gratificação pelo cargo, de R$ 6,8 mil.
É um valor próximo da remuneração de qualquer servidor da elite do Executivo em início de carreira. Mas Barbosa também abocanhou um assento nos dois dos melhores conselhos existentes:
o da mineradora privada Vale e o do Banco do Brasil, que lhe pagam mais R$ 27,1 mil mensais, elevando seus ganhos para R$ 41,1 mil.
Felizardo
Na mineradora, o número dois do Ministério da Fazenda entrou em nome do governo de uma forma enviesada, como representante dos fundos de pensão de estatais — sócios de fato da companhia.
Mas é o conselho que melhor remunera.
Barbosa recebe R$ 23 mil por mês da empresa.
Depois do cargo da Vale, o destaque é para o da Hidrelétrica Itaipu, que paga, em média, R$ 19 mil mensais. O ministro felizardo é o da Defesa, Celso Amorim, com renda total de R$ 45,7 mil.
Nem a Fazenda nem o Planejamento comentaram o fato de os jetons não integrarem as remunerações sujeitas ao limite constitucional e não sofrerem o chamado abate-teto, como ocorre com os rendimentos de diversos outros servidores do Executivo e de parte do Judiciário.
Já o Planejamento informou apenas que o recebimento de verbas por participação nesses conselhos está previsto na Lei nº 8.112, de 1990, e que foi considerado constitucional pelo STF.
Conflito
Com tantas autoridades recebendo acima do limite constitucional e com os principais assentos nos conselhos já ocupados por quem está em ministérios vinculados às estatais, o ministro-chefe da Advocacia-Geral da União (AGU), Luís Inácio Adams, foi agraciado com dois jetons de empresas privadas para engordar ainda mais seus rendimentos.
Ele integra o conselho administrativo da Brasilprev Seguros e Previdência e o da Brasilcap.
A primeira é controlada pelo grupo norte-americano Principal Financial Group, com 50,1% do capital. A segunda tem como sócias majoritárias as companhias Icatu Hartford, Sul América e Aliança do Brasil. O Banco do Brasil detém 49,9% do capital das duas, por isso, tem direito a indicar metade dos membros dos respectivos conselhos.
Com os dois extras, os rendimentos de Adams estão na casa dos R$ 38,7 mil brutos. Na AGU, ele, que é procurador da Fazenda Nacional de carreira, é responsável por todas as ações judiciais da União contra empresas privadas, principalmente aquelas que cobram impostos de devedores.
Ao contrário das estatais e das demais autoridades, o advogado-geral da União e as duas companhias se recusaram a informar o valor mensal pago para que o titular da AGU dê palpites na administração dos dois grupos privados. Pelas informações obtidas pelo Correio, essa quantia é de pelo menos R$ 6 mil, em média, por conselho.
Em nota, a assessoria de imprensa da AGU afirmou que o valor "só pode ser obtido com o ministro, que se encontra em período de férias". O órgão negou a existência de incompatibilidade, alegando que Adams "já declarou à Comissão de Ética da Presidência da República seu impedimento de atuar quando presente eventual conflito de interesses", cabendo, aí, ao seu substituto agir no caso. (SIC)
A direção da AGU sustentou ainda que a rotina de Adams não chega a ficar comprometida pela atividade nos conselhos, que inclui viagens a São Paulo e ao Rio de Janeiro para a participação em reuniões que duram um dia inteiro.(SIC II)
Economista da Tendências Consultoria e especialista em finanças públicas, Felipe Salto avalia que os supersalários recebidos pelos ministros e secretários representam um entrave para o corte de gastos anunciado pelo governo.
"Esses valores servem como um mau exemplo e são prejudiciais para a constituição de uma estratégia fiscal de maior austeridade. Os funcionários que estão na base das carreiras sempre vão usar os que estão no topo como referência para pedir reajustes", afirma.
Para o cientista político Rafael Cortez, da Tendências Consultoria, além dos altos salários dos ministros de Estado, a atuação de Adams em empresas privadas é grave. "A AGU, em tese, defende os interesses da União.
Na medida em que o advogado-geral está em um conselho de capital majoritariamente privado e tem acesso a informações privilegiadas, há uma confusão entre o público e o privado", sustenta.
08 de janeiro de 2012
Ana D"Angelo e Cristiane Bonfanti Correio Braziliense
GALILEU GALILEI
Galileu Galilei nasceu na cidade de Pisa, na Itália, em 15 de fevereiro de 1564 e morreu em 8 de janeiro de 1642, em Florença.
Ele foi um dos primeiros a defender a teoria heliocêntrica de Copérnico, no qual a Terra giraria ao redor do Sol, que estaria no centro do universo. Contrariou as ideias de uma época em que se acreditava na Terra como centro.
Foi pioneiro em contestar teorias de Aristóteles, que foram as bases da Física até século XVII. Por isso, as contribuições de Galileu Galilei mudaram a ciência e influenciam a Física, a Matemática e Astronomia até hoje.
A vontade de sua família era que seguisse a carreira de religioso ou comerciante, mas acabou cursando Medicina na Universidade de Pisa. As aulas de Física na instituição o fascinaram, com isso decidiu abandonar a universidade em 1585 para estudar matemática.
Galileu foi criador do método experimental e dinâmico. Entre suas contribuições para a ciência está a lei do isocronismo do pêndulo que mais tarde contribuiu para invenção do relógio. Ele também provou que o peso não influencia na velocidade de corpos em queda, relação que era defendida por Aristóteles. Outro feito foi o aperfeiçoamento da luneta astronômica, que lhe permitiu observar com mais detalhes o espaço e fazer descobertas como os satélites de Júpiter, as fases de Vênus, os mares da Lua e as manchas do Sol.
Com isso, criticou a teoria geocêntrica de Ptolomeu e foi repreendido formalmente pelo Tribunal da Santa Inquisição. Mesmo assim, publicou o “Diálogo sobre os dois maiores sistemas do mundo” que rendeu ordens para se apresentar em Roma, já que foi acusado de heresia.
Em 1633, foi obrigado pela Igreja a negar suas ideias, teve sua obra proibida, assim como foi condenado à prisão domiciliar perpétua. Galileu morreu em 8 de janeiro de 1642, condenado pela Igreja.
Por 350 anos seu processo permaneceu arquivado, até que em 1983 o Papa João Paulo II reconheceu os erros da Igreja e absolveu o cientista.
8/01/2012
Ele foi um dos primeiros a defender a teoria heliocêntrica de Copérnico, no qual a Terra giraria ao redor do Sol, que estaria no centro do universo. Contrariou as ideias de uma época em que se acreditava na Terra como centro.
Foi pioneiro em contestar teorias de Aristóteles, que foram as bases da Física até século XVII. Por isso, as contribuições de Galileu Galilei mudaram a ciência e influenciam a Física, a Matemática e Astronomia até hoje.
A vontade de sua família era que seguisse a carreira de religioso ou comerciante, mas acabou cursando Medicina na Universidade de Pisa. As aulas de Física na instituição o fascinaram, com isso decidiu abandonar a universidade em 1585 para estudar matemática.
Galileu foi criador do método experimental e dinâmico. Entre suas contribuições para a ciência está a lei do isocronismo do pêndulo que mais tarde contribuiu para invenção do relógio. Ele também provou que o peso não influencia na velocidade de corpos em queda, relação que era defendida por Aristóteles. Outro feito foi o aperfeiçoamento da luneta astronômica, que lhe permitiu observar com mais detalhes o espaço e fazer descobertas como os satélites de Júpiter, as fases de Vênus, os mares da Lua e as manchas do Sol.
Com isso, criticou a teoria geocêntrica de Ptolomeu e foi repreendido formalmente pelo Tribunal da Santa Inquisição. Mesmo assim, publicou o “Diálogo sobre os dois maiores sistemas do mundo” que rendeu ordens para se apresentar em Roma, já que foi acusado de heresia.
Em 1633, foi obrigado pela Igreja a negar suas ideias, teve sua obra proibida, assim como foi condenado à prisão domiciliar perpétua. Galileu morreu em 8 de janeiro de 1642, condenado pela Igreja.
Por 350 anos seu processo permaneceu arquivado, até que em 1983 o Papa João Paulo II reconheceu os erros da Igreja e absolveu o cientista.
8/01/2012
HISTÓRIAS DO SEBASTIÃO NERY
No silêncio da noite
De repente, no silêncio da noite, como na canção de Peninha cantada por Caetano, voando sobre o Atlântico, já próximo de Pernambuco, ele acordou com a voz do comandante, falando em espanhol:
- Atenção, por favor, senhores passageiros. Os fortes ventos que estamos enfrentando nos obrigam a fazer uma escala técnica em Recife, para recarregar o combustível. A demora no aeroporto será de aproximadamente 45 minutos. Obrigado.
Ele percebe o perigo e diz ao jornalista uruguaio Jorge Otero, seu companheiro de viagem e vizinho de poltrona:
- Estou proibido de entrar em território brasileiro. Comprei esta passagem da Aerolineas Argentinas com o compromisso de não fazer uma só escala. Então, que o avião retorne à Europa.
E foram os dois à cabine falar com o comandante. Um comisssário de bordo tentou impedir. Mas, afinal, o comandante saiu e o ouviu:
- Sou o ex-presidente João Goulart, do Brasil. Estou como asilado na Argentina. (Era no Uruguai, mas vivia mais na Argentina.) Se o avião descer no Brasil, serei preso. O senhor deve devolver-me à Europa ou levar-me aonde quiser, a qualquer lugar, menos no Brasil.
***
JANGO
O comandante estava “rígido e surpreso, com burocrática energia”:
- É impossível atendê-lo. Os ventos frontais foram muito superiores aos previstos e por isso gastamos muito mais gasolina do que habitualmente. Quando o senhor comprou a passagem, tinha que saber das escalas assinaladas para uma emergência. Recife é o aeroporto mais perto.
- Mas, comandante, ninguém me avisou nada. Serei retirado do avião e preso. E o senhor será o responsável.
- Senhor, não entrará ninguém no avião. A esta hora só está acordado o responsável pela torre de controle, que vai chamar o pessoal do abastecimento. Não há ninguém no aeroporto.
- Desculpe, comandante. Mas meu nome está na lista de passageiros, que o senhor deverá entregar. Será só questão de minutos que venham do quartel e me levem preso. Contra mim, foi decretada uma ordem de prisão pela ditadura brasileira. Não posso entrar no Brasil, porque serei preso.
- Senhor, este é um avião argentino, sob meu comando. Não permitirei a ninguém que leve nenhum dos passageiros sob minha responsabilidade. Estamos em território argentino.
- Comandante, esta é uma aeronave civil. O senhor não vai poder fazer nada quando um punhado de soldados entrar aqui. A responsabilidade por isso, que surpreenderá o mundo, será exclusivamente do senhor.
- Vou ver o que posso fazer, mas não alimentem muitas esperanças.
***
RECIFE, NÃO
E voltou para a cabine. Jango e seu amigo, para os lugares deles. O jornalista uruguaio tentou aliviar a tensão de Jango:
- Presidente, o senhor me disse que em Madri comprou a passagem em nome de Belchior Marques. Talvez não se dêem conta de quem é.
- É possível, Jorge. Mas o chefe da guarnição militar de Recife foi promovido por mim. Tem que saber quem é o passageiro Belchior Marques
O tempo vai passando e nada. De repente, a voz do comandante:
- Atenção, por favor. Aqui fala o comandante. Quero informar que os cálculos do combustível que resta e a sensível melhora nos ventos tornam desnecessário descer em Recife. O vôo será sem escalas até Buenos Aires.
Jango, afinal, voltou a dormir. Era 12 de outubro de 76.
***
JUSCELINO
Esta história está no livro “João Goulart, recuerdos em su exílio uruguaio” (Ediciones la Plaza), de Jorge Otero, veterano jornalista de Montevidéu, ex-diretor do “El Dia”. Encontraram-se em Paris e embarcaram nas Aerolineas Argentinas direto para Buenos Aires.
Jango, proibido de entrar no Brasil e sem passaporte brasileiro, que a ditadura lhe tomara, viajava com passaporte do Paraguai. Hospedado no Hotel Claridge (Champs Élysées, 72), onde dias antes o encontrei, estava assustado com as macabras notícias da “Operação Condor” no Cone Sul (as ditaduras chilena, brasileira, argentina e uruguaia haviam planejado matar seus principais adversários) e sobretudo com o assassinato do general boliviano Juan José Torres, em Buenos Aires, e a misteriosa morte de Juscelino dois meses antes: 22 de agosto de 76.
Decidiu arrumar seus negócios no Uruguai e Argentina e voltar para morar em Paris e ficar mais perto dos filhos, que estudavam em Londres.
***
GEISEL
Menos de dois meses depois, em 6 de dezembro de 76, Jango apareceu morto em sua fazenda em Mercedes, na Argentina. No fim de 2007, o uruguaio Mario Neira Barreiro, ex-agente do serviço secreto da ditadura uruguaia, preso por assalto no Rio Grande do Sul, revelou a João Vicente, filho de Jango, e depois a Simone Iglesias, da “Folha”, que “durante quatro anos espionou Jango e ele morreu envenenado, por autorização do ex-presidente Geisel ao delegado Sergio Fleury, numa operação financiada pela CIA, com cápsulas envenenadas misturadas a remédios que tomava”.
O corpo foi trazido para São Borja sob as ordens de militares brasileiros, com o caixão lacrado e impedido qualquer tipo de autopsia.
Sebastião Nery
08 de janeiro de 2012
De repente, no silêncio da noite, como na canção de Peninha cantada por Caetano, voando sobre o Atlântico, já próximo de Pernambuco, ele acordou com a voz do comandante, falando em espanhol:
- Atenção, por favor, senhores passageiros. Os fortes ventos que estamos enfrentando nos obrigam a fazer uma escala técnica em Recife, para recarregar o combustível. A demora no aeroporto será de aproximadamente 45 minutos. Obrigado.
Ele percebe o perigo e diz ao jornalista uruguaio Jorge Otero, seu companheiro de viagem e vizinho de poltrona:
- Estou proibido de entrar em território brasileiro. Comprei esta passagem da Aerolineas Argentinas com o compromisso de não fazer uma só escala. Então, que o avião retorne à Europa.
E foram os dois à cabine falar com o comandante. Um comisssário de bordo tentou impedir. Mas, afinal, o comandante saiu e o ouviu:
- Sou o ex-presidente João Goulart, do Brasil. Estou como asilado na Argentina. (Era no Uruguai, mas vivia mais na Argentina.) Se o avião descer no Brasil, serei preso. O senhor deve devolver-me à Europa ou levar-me aonde quiser, a qualquer lugar, menos no Brasil.
***
JANGO
O comandante estava “rígido e surpreso, com burocrática energia”:
- É impossível atendê-lo. Os ventos frontais foram muito superiores aos previstos e por isso gastamos muito mais gasolina do que habitualmente. Quando o senhor comprou a passagem, tinha que saber das escalas assinaladas para uma emergência. Recife é o aeroporto mais perto.
- Mas, comandante, ninguém me avisou nada. Serei retirado do avião e preso. E o senhor será o responsável.
- Senhor, não entrará ninguém no avião. A esta hora só está acordado o responsável pela torre de controle, que vai chamar o pessoal do abastecimento. Não há ninguém no aeroporto.
- Desculpe, comandante. Mas meu nome está na lista de passageiros, que o senhor deverá entregar. Será só questão de minutos que venham do quartel e me levem preso. Contra mim, foi decretada uma ordem de prisão pela ditadura brasileira. Não posso entrar no Brasil, porque serei preso.
- Senhor, este é um avião argentino, sob meu comando. Não permitirei a ninguém que leve nenhum dos passageiros sob minha responsabilidade. Estamos em território argentino.
- Comandante, esta é uma aeronave civil. O senhor não vai poder fazer nada quando um punhado de soldados entrar aqui. A responsabilidade por isso, que surpreenderá o mundo, será exclusivamente do senhor.
- Vou ver o que posso fazer, mas não alimentem muitas esperanças.
***
RECIFE, NÃO
E voltou para a cabine. Jango e seu amigo, para os lugares deles. O jornalista uruguaio tentou aliviar a tensão de Jango:
- Presidente, o senhor me disse que em Madri comprou a passagem em nome de Belchior Marques. Talvez não se dêem conta de quem é.
- É possível, Jorge. Mas o chefe da guarnição militar de Recife foi promovido por mim. Tem que saber quem é o passageiro Belchior Marques
O tempo vai passando e nada. De repente, a voz do comandante:
- Atenção, por favor. Aqui fala o comandante. Quero informar que os cálculos do combustível que resta e a sensível melhora nos ventos tornam desnecessário descer em Recife. O vôo será sem escalas até Buenos Aires.
Jango, afinal, voltou a dormir. Era 12 de outubro de 76.
***
JUSCELINO
Esta história está no livro “João Goulart, recuerdos em su exílio uruguaio” (Ediciones la Plaza), de Jorge Otero, veterano jornalista de Montevidéu, ex-diretor do “El Dia”. Encontraram-se em Paris e embarcaram nas Aerolineas Argentinas direto para Buenos Aires.
Jango, proibido de entrar no Brasil e sem passaporte brasileiro, que a ditadura lhe tomara, viajava com passaporte do Paraguai. Hospedado no Hotel Claridge (Champs Élysées, 72), onde dias antes o encontrei, estava assustado com as macabras notícias da “Operação Condor” no Cone Sul (as ditaduras chilena, brasileira, argentina e uruguaia haviam planejado matar seus principais adversários) e sobretudo com o assassinato do general boliviano Juan José Torres, em Buenos Aires, e a misteriosa morte de Juscelino dois meses antes: 22 de agosto de 76.
Decidiu arrumar seus negócios no Uruguai e Argentina e voltar para morar em Paris e ficar mais perto dos filhos, que estudavam em Londres.
***
GEISEL
Menos de dois meses depois, em 6 de dezembro de 76, Jango apareceu morto em sua fazenda em Mercedes, na Argentina. No fim de 2007, o uruguaio Mario Neira Barreiro, ex-agente do serviço secreto da ditadura uruguaia, preso por assalto no Rio Grande do Sul, revelou a João Vicente, filho de Jango, e depois a Simone Iglesias, da “Folha”, que “durante quatro anos espionou Jango e ele morreu envenenado, por autorização do ex-presidente Geisel ao delegado Sergio Fleury, numa operação financiada pela CIA, com cápsulas envenenadas misturadas a remédios que tomava”.
O corpo foi trazido para São Borja sob as ordens de militares brasileiros, com o caixão lacrado e impedido qualquer tipo de autopsia.
Sebastião Nery
08 de janeiro de 2012
BONITA CAMISA, FERNANDINHO...
Até agora, diante de graves denúncias, somente dois ministros resistiram sem ser demitidos.
Fernando Pimentel, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, que sumiu para não ter que dar explicações sobre a fortuna recebida de empresários sem prestar serviços.
E agora Fernando Bezerra, da Integração Nacional, que pegou a verba contra catástrofes do Brasil e "distribuiu" para a família enterrar em municípios do seu Pernambuco.
Os dois Fernandos estão sendo defendidos com unhas, dentes e até alguns pontapés pela presidente Dilma, em nítido tratamento vip e diferenciado.
Já estão sendo conhecidos no Planalto como os "fernandinhos" da "poderosa chefona".E passam a compor o privilegado trio que foi instituído com a anistia concedida a Fernando Henrique Cardoso, em quem a "presidenta" não bate e não deixa bater.
coroneLeaks
ANOTAÇÕES DE CARLOS CHAGAS
Não falta ninguém
Com a antecipação de sua volta das férias, e mesmo com a decisão de só despachar a partir de amanhã no palácio do Planalto, a presidente Dilma Rousseff provocou intensa revoada de ministros para Brasília.
Seria bom conferir, mas é provável que mais nenhum deles se encontre descansando fora da capital. Quando a Madre Superiora aparece, as noviças entram em forma.
***
EM VEZ DE VAIAS, APLAUSOS RETUMBANTES
Os trabalhos da Assembléia Nacional Constituinte estavam na reta final absorvendo o ano de 1987 e entrando por 1988 num lento arrastar de conflitos entre os ditos democratas e os supostos progressistas. Parte da opinião pública começava a criticar o dr. Ulisses, todo-poderoso presidente, que diante de impasses intransponíveis encontrara a solução brasileira, mesmo contrária aos mais elementares princípios de Direito: o que não pudesse ser acordado para integrar a Lei Maior ficaria para a Lei Menor, ou seja, leis complementares e ordinárias decidiriam questões obrigatoriamente constitucionais.
Certa noite, em Brasília, o dr. Ulysses refugiara-se com alguns amigos na casa do jornalista Afrânio Nabuco, quando se lembraram de jantar. O velho manifestou desejo de comer churrasco. Como se encontrava no grupo o empresário Celso Kaufmann, veio a sugestão para que fossem a uma churrascaria de sua propriedade. Foram, mas tiveram a surpresa de ver a casa fechada para o público, posta à disposição de mais de uma centena de funcionários do Banco do Brasil, que lá confraternizavam. A primeira reação foi de buscarem outro restaurante, mas Kaufmann tomou-se de ares de patrão e, contrariando sua natureza amena, chamou o chefe dos garçons e disse que preparassem uma mesa extra para seus convidados.
Alguém alertou que precisariam passar pelos servidores públicos em festa, mas agastados com a negativa de alguma pretensão na Assembléia Nacional Constituinte. Seriam bem capazes de entoar vaias ao reconhecer o deputado paulista. Celso Furtado, Maria da Conceição Tavares e outros estimularam Ulisses a enfrentar a situação. Entraram pela porta principal e logo os comensais perceberam sua presença. Seguiu-se um segundo de espanto e de repente os funcionários todos prorromperam em monumental aplauso que durou dez minutos. Entusiasmado, ele encontrou um microfone e pronunciou vibrante discurso, feliz da vida.
Tempos depois Afrânio Nabuco ainda comentava o episódio quando Celso Kaufmann revelou: tivera tempo de reunir os garçons, determinando-lhes que cada um fosse para um dos cantos do salão. Quando o dr. Ulisses entrasse, deveriam bater vigorosas palmas e gritar com veemência o nome dele, estimulando a platéia a fazer o mesmo…
Carlos Chagas
08 de janeiro de 2012
Com a antecipação de sua volta das férias, e mesmo com a decisão de só despachar a partir de amanhã no palácio do Planalto, a presidente Dilma Rousseff provocou intensa revoada de ministros para Brasília.
Seria bom conferir, mas é provável que mais nenhum deles se encontre descansando fora da capital. Quando a Madre Superiora aparece, as noviças entram em forma.
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EM VEZ DE VAIAS, APLAUSOS RETUMBANTES
Os trabalhos da Assembléia Nacional Constituinte estavam na reta final absorvendo o ano de 1987 e entrando por 1988 num lento arrastar de conflitos entre os ditos democratas e os supostos progressistas. Parte da opinião pública começava a criticar o dr. Ulisses, todo-poderoso presidente, que diante de impasses intransponíveis encontrara a solução brasileira, mesmo contrária aos mais elementares princípios de Direito: o que não pudesse ser acordado para integrar a Lei Maior ficaria para a Lei Menor, ou seja, leis complementares e ordinárias decidiriam questões obrigatoriamente constitucionais.
Certa noite, em Brasília, o dr. Ulysses refugiara-se com alguns amigos na casa do jornalista Afrânio Nabuco, quando se lembraram de jantar. O velho manifestou desejo de comer churrasco. Como se encontrava no grupo o empresário Celso Kaufmann, veio a sugestão para que fossem a uma churrascaria de sua propriedade. Foram, mas tiveram a surpresa de ver a casa fechada para o público, posta à disposição de mais de uma centena de funcionários do Banco do Brasil, que lá confraternizavam. A primeira reação foi de buscarem outro restaurante, mas Kaufmann tomou-se de ares de patrão e, contrariando sua natureza amena, chamou o chefe dos garçons e disse que preparassem uma mesa extra para seus convidados.
Alguém alertou que precisariam passar pelos servidores públicos em festa, mas agastados com a negativa de alguma pretensão na Assembléia Nacional Constituinte. Seriam bem capazes de entoar vaias ao reconhecer o deputado paulista. Celso Furtado, Maria da Conceição Tavares e outros estimularam Ulisses a enfrentar a situação. Entraram pela porta principal e logo os comensais perceberam sua presença. Seguiu-se um segundo de espanto e de repente os funcionários todos prorromperam em monumental aplauso que durou dez minutos. Entusiasmado, ele encontrou um microfone e pronunciou vibrante discurso, feliz da vida.
Tempos depois Afrânio Nabuco ainda comentava o episódio quando Celso Kaufmann revelou: tivera tempo de reunir os garçons, determinando-lhes que cada um fosse para um dos cantos do salão. Quando o dr. Ulisses entrasse, deveriam bater vigorosas palmas e gritar com veemência o nome dele, estimulando a platéia a fazer o mesmo…
Carlos Chagas
08 de janeiro de 2012
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