Ainda os caiovás. Falei há pouco do embuste do prometido suicídio dos caiovás. A carta anunciando o suicídio coletivo de uma tribo era obviamente obra de brancos, a começar pelo estilo burocrático em bom juridiquês, típico de funcionário público. Comentei, na ocasião, antigos embustes, todos patrocinados por brancos, como o de Gray Owl e a famosa carta do cacique Seattle. Mais recentemente, tivemos a farsa do massacre ianomâmi em 93, que rendeu três Bélgicas a dez mil índios (ou talvez menos da metade disso), que só passaram a ser ianomâmis a partir de 1973. Milagre do jornalismo eletrônico: jamais se construiu uma nação em tão pouco tempo.
E bem mais recentemente ainda, em agosto, tivemos mais um massacre de 80 ianomâmis na Venezuela, farsa que morreu em menos de uma semana. Não sem antes fazer manchete nos jornais do Brasil e do mundo inteiro.
A criação da “nação” ianomâmi foi obra de uma fotógrafa, ora húngara, ora romena, ora suíça, chamada Claudia Andujar, que ianomamizou uma babel de tribos que pouco ou nada tinham a ver entre si. A ficção tomou força na imprensa internacional e os “ianomâmis” passaram a “existir”. Quando Brasília se deu conta de que o reconhecimento de grupos indígenas requeria capacitação em Antropologia, o mal já estava feito: a fotógrafa havia criado uma nação. Cabe lembrar que a profissão de antropólogo, como a de prostituta ou psicanalista, não estão regulamentadas por lei no Brasil. A propósito, nestes dias, a fotógrafa está expondo fotos gigantescas de adoráveis criancinhas ianomâmis no centro de São Paulo.
Criancinha, como expliquei há pouco, é um poderoso recurso para comover a opinião pública. Claro que jamais são expostos os cadáveres das criancinhas que muitas tribos enterram vivas, só porque nascem com deficiências ou são gêmeas. Diga-se de passagem, tanto a Funai como o Cimi dão aval a estes assassinatos, por se tratarem de tradições culturais dos povos da selva.
A defesa de reservas indígenas imensas, desproporcionais ao número de selvagens que abrigam, tem sido o recurso mais utilizado pelas esquerdas, empresas multinacionais e missionários a serviço delas para impedir o progresso de um país e o uso de seus recursos minerais, hídricos e de sua agricultura. Índios e passarinhos são as melhores armas contra o desenvolvimento de países pobres.
Em 1990, quando vivia no Paraná, durante semanas foi vedete dos noticiários televisivos um pequeno pássaro, uma espécie de pardal, que estaria ameaçado de extinção. Chamava-se curiango-do-banhado e habitava nos arredores de Curitiba. Durante longos minutos, o bichinho era exibido em seus ângulos mais simpáticos, sempre com a mensagem: corre perigo de extinção. Ano seguinte, foi a vez de uma nova espécie de tapaculo, da família Rhinocryptidae, batizada com o nome popular de macuquinho-da-várzea. Também vivia nos arredores de Curitiba.
Algumas semanas mais tarde se soube ao que vinham o curiango-do-banhado e o macuquinho-da-várzea. Para preservá-los, era preciso preservar seu habitat natural. E para preservar seu habitat natural, as tais de ONGs fizeram uma ferrenha campanha para impedir a construção de uma barragem que abasteceria a capital paranaense. Me consta que o projeto de barragem morreu na casca.
Quando ouço falar de reservas indígenas, puxo os recursos naturais. Quando os defensores incondicionais das culturas nativas falam em waimiri-atroaari, leia-se cassiterita. E, quando se lê cassiterita, leia-se Paranapanema. Quando se fala em reserva ianomâmi leia-se cassiterita, mais ouro e fosfato. Macuxis, podemos traduzir por diamantes. A demarcação das terras indígenas pela Funai (Fundação Nacional do Índio) é sempre precedida pela descoberta de jazidas minerais.
Uma das raras denúncias desta estratégia na grande imprensa foi feita há mais de dez anos, por Marcos Losekan, no "Jornal Nacional" da Rede Globo:
"Os índios da Amazônia se tornaram os maiores latifundiários do mundo. As reservas dessa região ocupam um terço do território da Amazônia. A reserva dos Waimiri-Atroari no Amazonas, rica em cassiterita, dobrou do tamanho nos últimos anos. A reserva dos macuxis, em Roraima, recheada de diamante, aumentou duas vezes. A reserva dos ianomâmis no norte do Amazonas, rica em ouro, cassiterita e fosfato, cresceu cinco vezes. Em 1979 eram dois milhões de hectares. Em 85 passou para sete milhões e na demarcação definitiva em 1990 atingiu quase dez milhões de hectares. Hoje, a reserva ianomâmi é do tamanho de Portugal”.
Se não há riquezas mineirais, é porque há uma agricultura próspera do malvado homem branco. Jornais como o Estadão e a Folha de São Paulo caíram como patinhos no recente conto dos guaranis-caiovás. Para salvar o bom jornalismo, só restou a Veja. Que, nesta sua última edição, denuncia a farsa forjada pela Funai e pelo Cimi. Segundo a revista, alguns antropólogos e indigenistas querem transformar o sul de Mato Grosso do Sul em uma única e extensa reserva indígena. Trata-se da área mais produtiva da região, onde são produzidos 60% da soja do Estado, 4,3% da soja colhida no país, gerando uma economia de 5 bilhões de reais. Funai e Cimi não se interessam por fixar bugres em terras sem subsolo rico ou agricultura próspera.
O episódio recente da carta-suicida dos caiovás fez com que o governo pedisse a suspensão da ordem de despejo dos caiovás que haviam invadido a fazenda Cambará. Depois que o ET de Xapuri passou a se assinar Marina Silva Guarani-Kaiowá, miríades de almas ingênuas passaram a assinar-se da mesma forma no Facebook, endossando a farsa da Funai e do Cimi. Vamos à Veja:
Com o episódio, o Cimi conseguiu mais uma vez aproveitar a ignorância das pessoas das grandes cidades sobre a realidade em Mato Grosso do Sul e, principalmente, sobre quais são as reais necessidades dos índios. As terras indígenas já ocupam 13,2% da área total do país. Salvo raras exceções, a demarcação de reservas não melhorou em nada a vida dos índios. Em alguns casos, o resultado foi até pior. A 148 quilômetros da Fazenda Cambará, no município de Coronel Sapucaia, há uma reserva onde os caiovás dispõem de confortos como escolas e postos de saúde, mas não têm emprego, futuro nem esperança. Ficam entregues à dependência total da Funai e do Cimi, sem a menor chance de sobrepujar sua trágica situação de silvícolas em um mundo tecnológico e industrial. São comuns ali casos de depressão, uso de crack e abuso de álcool. A reserva Boqueirão, próximo a Dourados, abriga caiovás submetidos ao mesmo estado desesperador. Levantamento feito por agentes de saúde locais revelou que 70% das famílias indígenas têm um ou mais membros viciados em crack. “Infelizmente, a vida dos 170 caiovás acampados na fazenda em Iguatemi não melhorará com um simples decreto de demarcação”, diz o antropólogo Edward Luz.
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Em sua percepção medieval do mundo, os religiosos do Cimi alimentam a cabeça dos índios da região com a ideia de que o objetivo deles é unir-se contra os brancos em uma grande “nação guarani”. Ocorre que o território dessa “nação” coincide com a zona mais produtiva do agronegócio em Mato Grosso do Sul. O Cimi e algumas ONGs orientam os índios a invadir propriedades. A Funai também apoia o expansionismo selvagem. Os 170 caiovás acampados na Fazenda Cambará moravam em uma reserva situada do outro lado da margem do Rio Hovy. Em novembro do ano passado, membros dos clãs Pyelito Kue e Mbarakay foram levados pelos religiosos e antropólogos a cruzar o rio e se estabelecer em uma área de 2 hectares. O secretário nacional de Articulação Social da Secretaria-Geral da Presidência da República, Paulo Maldos, visitou os caiovás em Iguatemi um dia antes e deu-lhes a garantia de que o governo federal zelaria pelos seus direitos. Ex-marido da presidente da Funai, Marta Azevedo, Maldos é um conhecido oportunista que não perde a chance de usar a desgraça alheia em favor de suas convicções políticas. “Além de terra, queremos ter condições de plantar e trabalhar, mas isso nem a Funai nem ninguém faz por nós”, diz o cacique caiová Renato de Souza, da aldeia Jaguapiru, em Dourados. Enquanto os índios tiverem a vida manipulada pelos medievalistas do Cimi, pelos ideólogos da Funai e pelas ONGs, seu destino será de sofrimento e penúria.
Há duas boas décadas venho denunciando estes senhores, os antropólogos e indigenistas, que empunham o discurso das terras indígenas para manter os indígenas na miséria e afastados da civilização, encerrados em uma jaula atemporal para contemplação dos homens do futuro. Por esta frase singela, pediram para mim cinco anos de prisão. Obviamente, não levaram.
Mas ainda conseguem enganar multidões, como é o caso destas almas ingênuas que freqüentam o Facebook e, só porque expressam o que pensam numa rede informática, acham que estão sendo solidários com os índios. Sem ter a mínima noção do que, no fundo, está em jogo.
06 de novembro de 2012
janer cristaldo