"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 16 de setembro de 2012

CANDIDATO "CARMINHA" E OUTROS MAIS: CONHEÇA OS TIPOS MANJADOS DA ELEIÇÃO



Com a volta do horário eleitoral gratuito no rádio e na televisão, o brasileiro passou a conviver mais uma vez com os tipos excêntricos da política brasileira.
Aproveitando o pleito municipal, Moacyr Hoffmann, sociólogo e pesquisador da USP, lançou um livro com os perfis mais manjados de candidatos a vereador. Conheça alguns abaixo:

O candidato “Pedro Bial” (metido a poeta): “Chegou a hora de renovar. Nesta eleição, vereador é Valdemar” ou “Quer educação? Vote Tião” ou ainda “Trabalho e eficácia: seu vereador é o Jaime da Farmácia”.

O candidato “ex-BBB” (quem mesmo?): “Você não se lembra de mim, mas eu fui o vereador mais votado em 2004.”

O candidato “Joselito” (sem noção): “Se eleito vereador, vou lutar por mudanças no Código Penal e pela ampliação do Metrô em nossa cidade.”

O candidato competente (só compete e nunca ganha): “É a minha nona eleição e desta vez tenho convicção na vitória.”

O candidato “mais do mesmo”: “Por mais espaço para a mulher na sociedade” ou “É preciso investir no transporte coletivo”.

O candidato “fim de casamento”: “Chega da mesmice! É hora de buscar novos horizontes.”

O candidato “Carminha” (me engana que eu gosto): “Uma sociedade se constrói com base na família. É nisso que eu acredito e por isso eu peço o seu voto.”

O candidato “filhinho do papai”: “Olá, sou Olavo Pereira, o famoso locutor da rádio Cidade. Se você confia em mim, vote em Olavinho, o meu filho. Ele fala pouco, mas trabalha muito.”

O candidato “Gilberto Gil”: “A nossa cidade, enquanto simulacro de políticas públicas eficientes, demanda uma ruptura à nível de gestão.”

O candidato “Adriano, o Imperador”: “Chegou a hora do recomeço, do trabalho duro. Preciso de sua confiança.”

16 de setembro de 2012
@duda_rangel

CBF VAI TROCAR SELEÇÃO BRASILEIRA POR TIME DA PARALIMPÍADA


 
Depois da vitória por uma zero sobre a Argentina, a CBF anunciou hoje que vai trocar o time principal do país. A partir da semana que vem entram em campo como seleção oficial os jogadores brasileiros da Paralimpíadas. “Eles estão nos dando muito mais orgulho”, explicou um dirigente. A seleção paralímpica brasileira vai disputar a final e tem a chance de trazer a medalha de ouro para casa, feito que a seleção tradicional até hoje não foi capaz de alcançar.


Outra possibilidade em estudo é escalar a jogadora Martha no lugar de Neymar. “Pelo menos ela tem motivo para usar salto alto”.

16 de setembro de 2012
sensacionalista

NOTA AO PÉ DO TEXTO

DEPOIS DE TANTA NOTÍCIA "BOA", UMAS DUAS OU TRÊS PARA DESOPILAR.
m.americo

MÃE DE SANTO RACISTA SE RECUSA A RECEBER PRETO VELHO




 A ONG Afroarte entrou com uma representação na Justiça contra a mãe de Santo Janaína Silveira, do Rio de Janeiro. Segundo a ONG, a mãe de santo seria racista e estaria se recusando a receber um preto velho

Janaína também estaria se aproveitando da religião para ganhar dinheiro. Para atrair consumidores das religiões afro-brasileiras, ela lançou uma fábrica de fio chamada “Zifio”. Ela também se recusa a receber tranca rua, afirmando que a cidade já está muito engarrafada.  Todas as vezes que o preto velho começa a querer se manifestar, Janaína corta a comunicação. Eugenio Ferreira, presidente da ONG, está revoltado: “Ela já disse muitas vezes em tom de deboche que não gosta de preto velho e que prefere um branco novo”.

16 de setembro de 2012
sensacionalista

NOTA AO PÉ DO TEXTO

DEPOIS DE TANTA NOTÍCIA " BOA", PELO MENOS UMAS DUAS OU TRÊS PARA DESOPILAR...
m.americo
 

ASSANGE PEDE ASILO EM BRASÍLIA...




                        “Ouvi dizer que lá ninguém vai preso”

O criador do Wikileaks conseguiu um lugar seguro para não ser preso. Ele acaba de enviar um pedido de asilo à Brasília.

“Ele fez uma extensa busca em todos os lugares do mundo e descobriu o único local seguro para ficar longe da polícia do Reino Unido”, disse um amigo.

Assange relutou muito pois temia ser assaltado. “Ele ouviu dizer que Brasília tem muitos ladrões”, afirmou o amigo.

A embaixada da Argentina ofereceu asilo a Assange, mas ele não quis. “Prefiro ficar preso na Suécia a ser livre na Argentina”, disse ele.

16 de setembro de 2012
Otileno Junior

NOTA AO PÉ DO TEXTO

DEPOIS DE TANTA NOTÍCIA "BOA", UMAS DUAS OU TRÊS PARA DESOPILAR...
m.americo

O QUE ESTÁ POR TRÁS DA ONDA DE PROTESTOS NOS PAÍSES ÁRABES?

Protestos | Foto: Reuters

Filme de conteúdo anti-islâmico seria apenas estopim de crise, aponta analista de Harvard
 
Mais de três anos atrás, o presidente americano, Barack Obama, disse a uma plateia no Cairo que "nós nos encontramos em uma época de grande tensão entre os Estados Unidos e os muçulmanos ao redor do mundo". Seu discurso, entitulado Um Novo Começo, buscava transcender a animosidade da era Bush.
 
Esta semana, enquanto protestos se espalharam pelo norte da África e Oriente Médio, Obama pode ter-se perguntado: o que deu errado?
A verdade é que não há uma explicação única.
Uma resposta é que a onda de revoltas políticas do ano passado, conhecida como a Primavera Árabe, é responsável.

Afinal, os protestos começaram no Egito, que no ano passado tornou-se a democracia mais populosa do mundo árabe, e se espalhou para a Líbia, que tornou-se a maior em área geográfica.
A Primavera Árabe, de fato, deu força a uma série de movimentos islâmicos e enfraqueceu as capacidades de reforçar a lei destes países.

Neste ambiente político febril, os protestos podem ter tido mais facilidade para começarem, mais simplicidade de serem explorados por extremistas, e mais dificuldade de serem gerenciados por forças de segurança confusas.

O filme como estopim

Mesmo assim, só isso não explica por que alguns dos episódios de violência mais sérios desta semana ocorreram no Sudão, e outras manifestações em locais geralmente mais calmos, como o Catar.
Além disso, tal tipo de violência já ocorre muito antes da Primavera Árabe e frequentemente ocorria sob os olhos de ditadores, sendo os exemplos mais recentes as reações à publicação de charges do Profeta Maomé por um jornal da Dinamarca, em 2006.

O segundo argumento é que estamos testemunhando um profundo sentimento de antiamericanismo, silencioso por grande parte do ano passado, fundido ao extremismo religioso, tendo o controverso filme Innocence of Muslims (Inocência dos Muçulmanos, em tradução livre), apenas como estopim.
De acordo com uma pesquisa de opinião do instituto Pew, de junho deste ano, apenas 15% das pessoas em países muçulmanos têm uma opinião positiva dos Estados Unidos, uma redução em comparação aos 25% de 2009.

As pesquisas indicam que o sentimento de antiamericanismo se origina de uma série de queixas, entre elas a política externa de Washington com relação ao conflito entre israelenses e palestinos, as guerras dos EUA no Oriente Médio (Iraque e Afeganistão) e o apoio americano a ditadores da região.
A ironia é que, enquanto Barack Obama é muitas vezes ridicularizado por seus críticos no Ocidente por apoiar revoluções de forma ingênua, a maior parte dos árabes vê suas ações como demasiadamente tardias e insuficientes.

Na Tunísia, por exemplo, somente um terço da população acredita que a resposta americana à revolução teve um impacto positivo.

Nuances

É necessário, no entanto, diferenciar o sentimento de antiamericanismo do extremismo religioso.
Há várias nuances neste campo entre a população atual de alguns dos países envolvidos nos protestos mais violentos que ocorreram nesta semana.

Aqueles com menos de 35 anos, por exemplo, tendem a agir muito mais por motivação política do que religiosa. As pessoas dessa faixa etária, vistas como o verdadeiro motor por trás da Primavera Árabe, têm probabilidade muito menor de rezar diversas vezes ao dia, ir à mesquita regularmante ou ler o Alcorão diariamente.

Há números que também chamam a atenção. No Egito, 35% da população querem que as relações com os EUA permaneçam fortes, e 20% querem que a aliança se solidifique ainda mais. Na Tunísia, 60% dizem gostar dos ideais democráticos americanos e na Líbia 54% aprovam a liderança de Washington.

Os desafios para os EUA, no entanto, são cruciais. Legalmente, há muito pouco que Washington pode fazer para conter a divulgação do vídeo e a política externa não deve ser alterada para atender a queixas regionais.

As intervenções de Obama no conflito entre israelenses e palestinos, por exemplo, acabaram de forma humilhante anos atrás, após terem sido rejeitadas por Israel. Além disso, o programa nuclear do Irã ofuscou o processo de paz.

Egito e desafios

A maneira com que o governo egípcio vem lidando com os protestos abalou a confiança de dos EUA no novo presidente, Mohammed Mursi, que apesar da contínua dependência militar e financeira de Washnigton hesitou em condenar os protestos.

A declaração de Obama "Eu não acho que consideraríamos [o Egito] um aliado, mas não os consideramos um inimigo" mostra como as relações entre os dois países está mudando.
Veremos mais pressão para que os EUA deixem o Oriente Médio, passem a utilizar "embaixadas fortificadas" e acelerem o processo de focar mais atenção na Ásia.

A ironia é que justamente no momento em que os governos pós-revolucionários mais precisam de ajuda para construir suas instituições, pequenos grupos de suas populações estão tornando a tarefa muito mais difícil.

16 de setembro de 2012
*Shashank Joshi é pesquisador do instituto Royal United Services, um grupo de pesquisa na área de defesa, e doutorando em relações internacionais na Universidade de Harvard, nos EUA.

DOMÍNIO DOS FATOS, A TESE QUE COMPLICA OS MENTORES DO MENSALÃO

Argumento embasou condenações e ajuda a decidir destino de Dirceu


Afinados. Os ministros Celso de Mello e Rosa Weber citaram a teoria como referência para seus votos no processo
Foto: André Coelho/07-08-2012 / O Globo
Afinados. Os ministros Celso de Mello e Rosa Weber citaram a teoria como referência para seus votos no processoAndré Coelho/07-08-2012 / O Globo
 
BRASÍLIA — A teoria do domínio do fato, uma das mais temidas fórmulas de responsabilização criminal em processos com vários réus, serviu de referência a votos de condenação proferidos nos últimos dias pelos ministros Celso de Mello, Rosa Weber e Luiz Fux no julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal (STF). De origem alemã, a tese poderá definir o destino do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu.
A teoria está na base do pedido de condenação do ex-ministro formulado pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel, no primeiro dia do julgamento.
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Nos últimos dias, O GLOBO conversou sobre o assunto com cinco ministros do STF. Nenhum quis antecipar o voto, mas quatro deles entendem que a teoria, embora pouco difundida no país, está contemplada no direito brasileiro e pode ser aplicada dos casos mais simples aos mais complexos.

— Essa teoria tem, sim, acolhida no direito brasileiro. Inclusive já foi usada em alguns casos. Mas eu nem posso falar muito sobre ela porque os advogados já estão se preparando defesa sobre esse assunto — disse um dos ministros.

A teoria do domínio do fato surgiu na Alemanha no final da década de 30 e foi atualizada depois por Claus Roxin na década de 60. Segundo o advogado Nilo Batista, um dos maiores especialistas do país, a teoria foi aperfeiçoada para assegurar a punição dos chefes das tropas de Hitler e dos oficiais envolvidos no assassinato de fugitivos do Muro de Berlim.

Pelas leis comuns, só os soldados, que estavam na linha de frente e atiravam contra os fugitivos, eram passíveis de condenação. A teoria do domínio do fato permitiria a responsabilização criminal de coronéis e oficiais que, mesmo não estando no front, tinham o poder de impedir os crimes com uma simples ordem aos soldados de plantão.

Logo depois, a teoria começou a ser usada para punir chefes das máfias italianas e outras organizações criminosas, sob a mesma lógica. Os chefes quase nunca deixam digitais nos crimes cometidos pela base das quadrilhas. Restaria ao Estado, a responsabilização indireta.

No voto, a ministra Rosa Weber sustentou que “nos crimes de guerra punem-se, em geral, os generais estrategistas, que desde seus gabinetes planejam os ataques, e não os simples soldados que os executam”.
A ministra fazia referência à ideia central da teoria, que prevê a responsabilização criminal do chefe de uma organização, mesmo que ele não apareça na cena do crime. É o que os alemães chamam de “o autor por detrás do autor”.

A partir de amanhã, o relator Joaquim Barbosa começa a narrar os crimes atribuídos aos políticos da suposta organização, entre eles José Dirceu, colocando na mesa a discussão sobre autor, mandante e autor por detrás do autor.

Numa entrevista ao GLOBO na sexta-feira, o ministro Marco Aurélio disse que nem considera mais a teoria do domínio do fato uma novidade. Segundo ele, as linhas gerais da teoria estão previstas no artigo 29 do Código Penal.
O artigo define como autor todo aquele que, de forma direta ou indireta, participa de um ou contribui para um determinado crime. Ele argumenta, porém, que em qualquer dos dois casos, a condenação depende de um conjunto de provas ou indícios e não de uma mera dedução do juiz:

— Você tem que ter um elemento concreto que revele a participação ou a integração à quadrilha. Ou então a participação considerando o crime, no caso do José Dirceu, de corrupção ativa.
De início a fala de um co-réu não serve à condenação. Roberto Jefferson é co-réu, mas é um elemento que não se pode descartar. Você tem que somá-lo a outros para concluir pela culpabilidade ou não.

16 de setembro de 2012
Jailton de Carvalho
 

VALÉRIO ACUSA LULA

 

Às vésperas da primeira parte em que políticos petistas e outros, de partidos aliados, serão julgados pelo Supremo Tribunal Federal pela acusação de compra de votos em troca de apoio político, a revista “Veja” traz este fim de semana um relato, atribuído ao lobista Marcos Valério, incriminando o ex-presidente Lula no mensalão. Já condenado a muitos anos de prisão, e sendo provável que até o fim do julgamento deva ser condenado a outros tantos por novos crimes, Valério já tem a certeza de que ficará na cadeia por longo tempo e estaria revoltado com o abandono a que seus amigos do PT o relegaram.

Segundo o relato, Valério acusa Lula de ser o verdadeiro chefe da trama criminosa e dá detalhes de quem viveu por dentro a intimidade dos palácios presidenciais.

De concreto, em termos do julgamento, nem essas revelações nem as acusações anteriores de advogados dos réus têm o condão de incluir o ex-presidente no rol dos acusados nesta Ação Penal 470. Mas os estragos políticos são devastadores, e nada impede que uma denúncia seja feita contra Lula mais adiante.

No próprio julgamento, o advogado Luiz Francisco Barbosa, que defende Roberto Jefferson, acusou o ex-presidente Lula de ser o verdadeiro mandante dos crimes. Ele se baseou na tese do “domínio do fato”, que levou o procurador-geral a acusar o ex-ministro José Dirceu como o “chefe da quadrilha”.

“Não só sabia como ordenou o desencadeamento de tudo isso. Aqueles ministros eram apenas executivos dele”, garantiu o advogado, referindo-se a José Dirceu, Luiz Gushiken e Anderson Adauto.

Pelo menos um deles, José Dirceu, disse certa vez que não fazia nada sem o conhecimento de Lula. Para provar sua tese, Barbosa fez um relato muito semelhante ao do procurador-geral. E acusou Roberto Gurgel de prevaricação por ter “sentado em cima” de um pedido formal para incluir Lula entre os réus do mensalão.

Anteriormente, em setembro de 2011, o advogado Marcelo Leonardo afirmou, nas alegações finais apresentadas ao STF na defesa de Valério, que faltava alguém no banco dos réus.

Usando o mesmo raciocínio que a “Veja” atribui a Marcos Valério, segundo quem “apenas os mequetrefes” estão sendo condenados, escreveu o advogado na ocasião: “É um raríssimo caso de versão acusatória de crime em que o operador do intermediário aparece como a pessoa mais importante da narrativa, ficando mandantes e beneficiários em segundo plano. (...) Alguns, inclusive, de fora da imputação, embora mencionados na narrativa, como o próprio presidente Lula”.

Relatos anteriores davam conta que Marcos Valério, deprimido, enviara mensagens para seus interlocutores no PT, principalmente a Paulo Okamoto, ex-tesoureiro do PT e amigo íntimo de Lula, ameaçando revelar detalhes do envolvimento do ex-presidente no mensalão.

Okamoto admitiu recentemente ter conversado com Valério, mas ao contrário de acalmar o publicitário mineiro, as conversas tinham um motivo mais trivial do que chantagens, embora inverossímil: “Ele queria me encontrar porque às vezes queria saber como está a política, preocupado com essas coisas”.

Lembrando que o próprio procurador-geral da República, Roberto Gurgel, acusou o esquema de ter sido tramado de dentro do Palácio do Planalto, o advogado de Jefferson disse que seria uma ofensa a Lula afirmar que ele não sabia de nada.

“Claro que sua excelência (Gurgel) não pode afirmar que o presidente da República fosse um pateta, um deficiente, que sob suas barbas estivessem acontecendo tenebrosas transações e ele não soubesse nada”, concluiu Luiz Francisco Barbosa.

Nas vezes anteriores em que deixou vazar ameaças contra seus parceiros petistas, Valério recuou. Diante da situação concreta de se ver na cadeia, é possível que tenha perdido a esperança de ser salvo, apesar das promessas que diz ter recebido. Os petistas garantiram a ele que adiariam o julgamento o quanto pudessem e que as penas seriam brandas. A realidade tem sido bastante diferente.

Ministros do Supremo deixaram escapar que, pela tese do “domínio do fato”, se a cadeia de comando não terminasse no ex-ministro José Dirceu, teria que subir um patamar e atingir Lula.

16 de fevereiro de 2012
Merval Pereira, O Globo

QUANDO O HUMOR DESENHA A REALIDADE



16 de setembro de 2012

O PODER DA CRENÇA

Ontem assisti um exemplo de fé que me fez recordar outros dois:

O primeiro foi em Lourdes, França, diante da gruta onde Nossa Senhora apareceu para Bernadette. Vi um jovem ser levado no colo pelos pais até onde jorrava a água benta. Depois de banhado, ainda trôpego, saiu andando uns passos, sem ajuda. E depois se apoiou no braço do pai e desapareceram na escuridão. Era uma multidão, noite de marcha das tochas e vi muitas pessoas se ajoelharem aos prantos.

O segundo em Nova Jerusalém, Fazenda Nova, PE. A encenação da Paixão ainda não era o que é hoje, os atores eram pessoas dali, eu os conhecia. Fui assistir com um grupo de amigos aqui do Rio e a nós se juntou um casal de Arcoverde, idosos que cumpriam uma promessa. No exato momento em que Cristo morre, os dois se ajoelharam e chorando convulsamente, começaram a rezar em voz alta. E se abraçaram agradecendo a Deus estarem ali, juntos.

O terceiro foi ontem. Marcos Valério, condenado, sentindo-se traído, confirmou aquilo que todo o Brasil já sabia de longa data: Lula não é imbecil, não é retardado, nem atoleimado.

Portanto Dirceu não mentiu ao dizer que não fez nada sem as ordens de Lula.

E os lulopetistas? Sofridos, calaram-se? Não. Deram foi uma extraordinária demonstração do que antigamente se chamava fé de carvoeiro, fé cega.

Duvidaram da VEJA por ela publicar o que a paixão não permitia que notassem. Disseram o diabo da revista e de seus donos e membros da redação. Queriam um vídeo! E foto do MV com Lula! Perguntaram se a 'entrevista' está gravada e onde foi feita e quem a fez.

Pelas perguntas via-se que ainda não tinham lido a revista, mas já a chamavam de panfleto sem credibilidade! Sequer acreditavam que MV houvesse desabafado com amigos e conhecidos!

Nem fé de carvoeiro pode ser tão cega assim! Mas se não for fé, será o quê?

16 de setembro de 2012
Maria Helena RR de Sousa



 

AGORA, JOSÉ DIRCEU

O ex-ministro começa a ser julgado pelo STF por corrupção ativa. E, apesar da provável condenação, ele ainda luta para ampliar sua influência no governo


chamada.jpgÚLTIMA CARTADA
Dirceu acha que pode ser preso e articula para não perder poder político
 
Em cinco semanas do julgamento do mensalão, com 23 sessões que somaram 200 horas, o Supremo Tribunal Federal já definiu muita coisa sobre o escândalo político denunciado sete anos atrás. Com os votos proferidos até agora, os ministros do STF mostraram que o esquema de corrupção foi abastecido com dinheiro público e que uma “sofisticada organização criminosa” se valeu de empréstimos fictícios no Banco Rural e recorreu a esquemas de lavagem de dinheiro para esconder seus delitos. Três réus foram condenados por gestão fraudulenta, oito por lavagem de dinheiro e em cinco casos o Tribunal entendeu que os acusados cometeram crimes de peculato e corrupção passiva. Agora, a partir desta semana, chegou a vez de mirar o chamado “núcleo político” do mensalão identificado pela Procuradoria-Geral da República. Ou seja, é a hora H para uma turma de homens públicos liderados, conforme a acusação, pelo ex-todo-poderoso ministro da Casa Civil do governo Lula José Dirceu. Depois de descrever como funcionava o conluio do mensalão, os ministros do Supremo vão mostrar quem mandava nele. De início, o Tribunal vai tratar do pagamento de propinas a políticos da base aliada do governo. Nesse capítulo, Dirceu será julgado por corrupção ativa.

ZE_02_IE_NOVA.jpgDESPRESTÍGIO
Presidenta Dilma Rousseff tem barrado tentativa de Dirceu de aumentar seu poder no governo

Só na última semana do julgamento, o STF partirá para o crime de formação de quadrilha.
A sistemática que vem sendo adotada no julgamento e o conteúdo dos votos dos ministros do STF não favorecem José Dirceu. Pelo contrário. Seguindo a eficiente estratégia de “fatiar” o julgamento, proposta pelo relator, ministro Joaquim Barbosa, o Supremo aceitou os principais pontos da tese da denúncia. Com o processo analisado por capítulos, cada condenação acabou dando lógica e suporte ao julgamento do item seguinte. Por isso, na semana passada, pela primeira vez, Barbosa já vinculou Dirceu ao repasse de dinheiro do esquema, influenciando também os demais ministros. Como se vê, seu futuro não parece nada alvissareiro.


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O horizonte sombrio da provável condenação já é admitido pelo próprio José Dirceu em conversas com amigos e advogados. Ele acredita até na possibilidade de ser preso. Para não se abater por completo, no entanto, o ex-ministro tem intensificado articulações para buscar saídas e se manter ativo politicamente no PT. Ele ainda é influente no partido e nunca deixou de ter poder no governo. No mês passado, por exemplo, apesar de toda a exposição negativa de seu nome, Dirceu fez movimentos para emplacar aliados em postos-chaves da administração federal. Entre eles o cobiçado cargo de secretário-executivo da Secretaria de Comunicação da Presidência da República. Recentemente também indicou afilhados políticos para os setores de energia, telecomunicações, transporte e fundos de pensão. A maioria dessas tentativas, no entanto, foi em vão. Apesar de manter uma boa relação no plano pessoal com o ex-ministro, a presidenta Dilma Rousseff não quer Dirceu influenciando seu governo. “Há alguns ministros que já nem retornam suas ligações”, diz um aliado do petista.

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A perda de espaço de Dirceu no governo faz parte de um processo de esvaziamento de poder que começou no início do governo Dilma e se intensificou nos últimos meses. Técnicos do PT confirmaram à ISTOÉ que o total de funcionários do primeiro ao terceiro escalão, considerados da cota de Dirceu, caiu de aproximadamente 1,5 mil indicados para menos de mil. A derrota mais recente do ex-ministro no coração do poder em Brasília foi a tentativa dele de colocar um apadrinhado no posto de secretário-executivo da Secretaria de Comunicação da Presidência da República, comandada pela ministra Helena Chagas. Com a aposentadoria da funcionária de carreira do Banco do Brasil Yole Mendonça, Dirceu procurou emplacar o deputado André Vargas (PT-PR), secretário de Comunicação do PT. Fez isso de olho na gestão dos milionários contratos de publicidade institucional do governo. Mas fracassou. Helena Chagas prefere negar a ofensiva. “Garanto que ele nunca me telefonou ou fez qualquer tipo de gestão”, disse ela. Vargas, por sua vez, saiu pela tangente. “Houve um buchicho de que eu queria o lugar da Yole, mas estou feliz como deputado”, afirma. “Defendo a frente parlamentar de mídia regional. Faço um debate, mas não para participar do governo.” O cargo, por desejo de Dilma, foi entregue a Roberto Messias, um técnico.

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Este ano, Dirceu também quis emplacar Afonso Carneiro Filho na Valec, mas, outra vez, não obteve êxito. Como prêmio de consolação, encaixou o aliado em uma diretoria da Secretaria de Política Nacional de Transportes. O emprego do apadrinhado na direção da secretaria, entretanto, durou pouco: ele foi exonerado no dia 12 de abril e voltou para a regional da CBTU em Belo Horizonte. Nos últimos meses, o ex-ministro também lutou para manter sua influência sobre a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Dirceu, que já teve o indicado Plínio Aguiar Júnior na presidência da agência, não conseguiu sustentar Luiz Tarcísio Teixeira no cargo de conselheiro. Ele ainda viu minguar sua influência na Caixa Econômica, com a saída de Maria Fernanda Coelho, e na Previ, com a queda de Ricardo Flores, depois de uma intensa disputa de bastidores com o Palácio do Planalto. No ano passado, Dirceu já havia perdido influência na Petrobras. A mudança no comando da estatal implicou uma ampla renovação nos quadros de direção aparelhados por Dirceu. Foi o caso da estratégica diretoria de Engenharia. A nova presidenta da estatal, Maria da Graça Foster, trocou Renato Duque por Richard Olm. Antes, porém, o ex-ministro tentou emplacar Roberto Gonçalves no cargo, sem sucesso. Ele ainda conseguiu manter posições para Wilson Santarosa e José Eduardo Dutra, mas deve perder em breve outro aliado, o diretor de recursos humanos Diego Hermanez.

ZE-04-IE-2236.jpgA ACUSAÇÃO E A DEFESA
O ministro-relator Joaquim Barbosa (acima) já relaciona Dirceu ao valerioduto.

O advogado do petista, José Luís de Oliveira (abaixo), nega o vínculo
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Diante da resistência cada vez maior no plano federal, Dirceu tem buscado alternativas regionais para garantir influência e bons negócios. Durante a crise do governo Agnelo Queiroz, no Distrito Federal, o ex-ministro emplacou Swedenberger Barbosa na Casa Civil local e Luiz Paulo Barreto na Secretaria de Planejamento. A assessoria de imprensa de Dirceu nega que o ex-ministro tenha cargos no governo e atribui a “fogo amigo” as informações de que sua condenação já é vista por ele e outros líderes petistas como fato consumado. Sua assessoria argumenta que o caso do ex-ministro é diferente do de João Paulo Cunha, o deputado petista já condenado por corrupção no julgamento do mensalão, que concorria à Prefeitura de Osasco, em São Paulo. As denúncias contra Dirceu realmente não envolvem saques de dinheiro na boca do caixa, como aconteceu com João Paulo.

Embora nesta fase do julgamento as provas contra os réus sejam basicamente testemunhais, pois não há documentos que formalizem a compra de votos, a perspectiva de condenação é concreta. O julgamento do chamado “núcleo político”, que se inicia nesta semana, é considerado fundamental para provar a existência do esquema de compra de apoio político dentro do Congresso para a votação de projetos de interesse do então governo Lula. Sob o crime de corrupção ativa, cuja pena varia de 1 a 15 anos de prisão, estão na berlinda 23 pessoas, integrantes do PT, PMDB, PP, PTB e PL, além de Dirceu. Pesa contra o ex-ministro sua relação com Marcos Valério. O publicitário mineiro, que operou com o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, confirmou em depoimento que os empréstimos para o PT foram feitos com aval de Dirceu, deu detalhes das reuniões com representantes do Banco Rural e confirmou os negócios imobiliários de Ângela Saragoça, ex-mulher de Dirceu, com Rogério Tolentino, ex-sócio do publicitário mineiro. Valério, certamente a pedido do ex-ministro, conseguiu um emprego para Ângela no banco BMG. Apesar de Dirceu negar os fatos, a ex-secretária de Valério Fernanda Karina Somaggio confirmou os contatos entre o “chefe da quadrilha” e o publicitário. Em depoimento, o ex-deputado do PP Pedro Corrêa também complicou Dirceu, ao garantir que o ex-ministro cuidava pessoalmente das negociações de transferência de recursos entre as siglas.


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Os sinais de que Dirceu pode mesmo ser condenado levaram o ex-presidente Lula a convocar uma reunião de emergência na sede de seu instituto, em São Paulo. Do encontro a portas fechadas, além de Dirceu e Lula, participaram apenas o presidente do PT, Rui Falcão, o ex-ministro Márcio Tomaz Bastos e o ex-deputado e advogado Sigmaringa Seixas. O grupo avaliou todo o cenário do julgamento, repassou pontos da acusação e concluiu que as chances de condenação são reais. O grupo avaliou ainda o impacto na imagem do partido, que começa a apresentar rachas internos. E foi traçada uma estratégia de reação.

A contraofensiva ficou clara no lançamento da candidatura do substituto de João Paulo Cunha na campanha de Osasco. Falcão falou do “grande golpe” contra o partido e lançou ameaças. “Não mexam com o PT, porque quando o PT é provocado ele cresce”, disse. Em artigo publicado na internet, o coordenador da Comissão Nacional de Ética do partido, Francisco Rocha, o Rochinha, foi ainda mais enfático. Acusou o STF de acatar a denúncia do MP sem dar aos petistas o direito de ampla defesa. “Aqui entramos num ponto crucial, aquele que a Justiça chama de Ação Penal 470, que as vestais chamam de mensalão e que eu chamo de tentativa de golpe político”, escreveu Rochinha. O ataque à mais alta instância do Judiciário brasileiro foi visto por petistas mais equilibrados como um verdadeiro tiro no pé. “Não faz sentido atacar uma Corte formada majoritariamente por ministros que foram indicados pelo próprio Lula”, diz um cacique petista. Para o advogado de um dos réus, atacar o STF é contraproducente, antidemocrático, depõe contra o partido e “não ajuda em nada” numa tentativa de absolvição.

É nesse clima que o destino de Dirceu será traçado. Sua condenação, certamente, terá impacto dentro e fora do PT. Na possibilidade cada vez mais remota de ele ser absolvido, o petista ganharia uma sobrevida política e, no curto prazo, poderia voltar a dar as cartas no partido. Com a palavra, os ministros do Supremo Tribunal Federal.


16 de setembro de 2012
Claudio Dantas Sequeira e Josie Jeronimo - ISTOÉ
Fotos: WILSON DIAS-ABR/Ag. Brasil; Nelson Jr./SCO/STF

VEJA DECIDE SE DIVULGA FITA COM A ENTREVISTA DE MARCOS VALÉRIO

 

A direção da revista VEJA está reunida para decidir se divulga ainda hoje em seu site a gravação da entrevista feita com Marcos Valério, um dos operadores do mensalão, onde ele aponta Lula como o chefe do esquema responsável pela arrecadação de algo como R$ 350 milhões para a compra de apoios políticos e o paganmento de despesas de campanha..

Foi na semana passada, em Belo Horizinte, que a VEJA entrevistou Valério. E gravou a entrevista.

Marcelo Leonardo, o advogado de defesa de Valério no processo do mensalão, ficou sabendo depois e foi contra a publicação.

"Não é hora de dar entrevistas", decretou ele. E com razão. Valério já foi condenado no Supremo Tribunal Federal por vários crimes. Pegará pena pesada. Mas ainda será julgado por outros.

A revista não concordou em jogar a entrevista no lixo. Ou em arquivá-la. Aí surgiu a ideia de se atribuir as declarações de Valério a amigos e parentes que as teriam ouvido diretamente dele. E reproduzido para a revista.

Na seção Carta ao Leitor, a revista afirma que não houve entrevista. Mas de Lula ao contínuo menos qualificado do PT, todo mundo sabe que Valério falou para a Veja, sim.

É por isso que os petistas quatro e cinco estrelas não caíram de pau na revista, muito menos em Valério. Sabiam que mais dia menos dia, Valério acabaria abrindo o bico.

Não querem provocá-lo a revelar mais do que já revelou. E muito menos agora - com um julgamento pela metade e uma eleição às portas.

O acerto de VEJA com Valério e o advogado passou também pela garantia dada pelos dois de que nada diriam que fosse capaz de pôr em dúvida o que a revista publicasse. Até porque eles leram com antecedência o que seria publicado - e aprovaram.


Ocorre que procurado por jornais, o advogado de Valério esqueceu o combinado.

Primeiro disse que Valério nem confirmava e nem desmentia o conteúdo da reportagem.

Depois avançou e disse que Valério não confirmava. Para ao cabo afirmar que ele desmentia.

Aí o caldo entornou - embora uma parcela da direção da VEJA ainda argumente que se deve honrar o compromisso assumido com Valério e o advogado de manter a fita em segredo...

16 de setembro de 2012
in Ricardo Noblat

PERSPECTIVA ELEITORAL

Os mais diversos boatos circulavam na ilha, a respeito do inexplicado sumiço de Zecamunista. Não deixou sinal de seu paradeiro, nem mesmo entre os amigos e correligionários mais chegados.
Uns especularam que, como aconteceu da vez em que ele desapareceu na Amazônia durante quatro anos e depois ressurgiu em Belém, casado com três índias e dando uma entrevista coletiva sobre a poligamia como agente de justiça social, ele tornara a embarcar numa missão impossível e muito tempo iria passar sem que puséssemos os olhos nele.
Outros, menos imaginosos, suspeitaram de novo episódio galante, em que a reação de algum marido ofendido o forçara a procurar refúgio alhures. E,
com tal indefinição, chegou-se a temer que, dessa feita, o marido afrontado não tivera tão má pontaria quanto seus inúmeros predecessores.

Mas, claro, não era nada disso. Apesar de apreensivo com as condenações no Supremo, que ameaçam seus planos de pôr em funcionamento o Instituto Político de Corrupção Aplicada, ele continuava a botar fé em seus projetos e não contara a ninguém aonde iria porque ele mesmo não sabia, tinha sido uma viagem cheia de improvisos e imprevistos.
As condenações o preocupavam um pouco, sim, porque, para os mais impressionáveis, podia sugerir que a corrupção, há tão pouco tempo uma carreira onde o céu era o limite, agora oferecia um destino sombrio a seus profissionais.
Mas, embora acreditasse que haveria condenações, elas não passariam de declarações e papelório, pois que ninguém é maluco de abrir o precedente e botar um graudete desses na cadeia, cadeia mesmo e não alguma solução para o perlustrar de britânicos, como falava o finado filósofo Walter Ubaldo, querendo dizer "para inglês ver".

- Em primeiro lugar - disse ele - vai haver recursos. Estive conversando com Lulu Adevogado, é cada recurso retado, é embargo pra lá, agravo pra cá, uma festa. Se soltarem eles mesmo, a primeira sentença definitiva sai em 2089, na comemoração do bicentenário de República.
Em segundo lugar, cadeia mesmo não vai haver, porque nesses casos não se usa, nunca se usou, é contra as tradições nacionais. Vai haver uns serviços comunitários, umas proibiçõezinhas que não atingem o dinheiro roubado, uma ou outra bobagem.
E ainda vão promover desagravos para eles, manifestações de solidariedade e assim por diante. E, finalmente, nada disso importa, diante da vocação histórica de nosso povo e da força da nossa cultura.
Ah, nem queiram saber, o que ele viu era coisa para um narrador fruto da cruza genética de Euclides da Cunha mais Gilberto Freire, o ladrão neurastênico luso-tropical é antes de tudo um forte, resistirá a qualquer ataque. Todo mundo sabe que as câmaras de vereadores são a preparação para voos mais altos.
É comum e muito compreensível para um jovem ambicioso que o ladrão municipal almeje vir a tornar-se ladrão estadual e - por que não sonhar? - ladrão federal.
Os exemplos mais que abundam, praticamente todos os que se elegeram se deram bem na vida e continuarão a dar-se.

- O pessoal parece que já nasce qualificado - explicou ele. - Eu conheci várias famílias onde todo mundo está colocado desde a primeira vez em que um deles se elegeu. O mais novinho de uma delas fez 18 agora, já é candidato e, quando fala em ser vereador, não se aguenta, esfrega as mãos como um faminto diante de uma mesa de comida e os olhos se acendem, chega a ser comovente, devia ser filmado. Aquela fome, sabe como é, aquela sede que não se mata nunca, quanto mais se bebe, mais se quer. Esse aí nem pretende fazer parte do êxodo rural como muitos colegas dele, vai querer ser vereador até o fim da vida, até porque pretende comprar e administrar mais umas duas fazendas, entre as muitas que a família já comprou, desde que o velho bisavô dele foi eleito, ainda no tempo de Getúlio.

- Mas não é possível que você não tenha visto nenhum candidato que merecesse confiança, inclusive candidatos realmente idealistas.

- Encontrei, encontrei. Mas é muito relativo. Na verdade, a maioria desses até pensa sinceramente que merece confiança. Mas ninguém passa na prova da fruta. Provou a fruta, não quer mais ficar sem ela. Não se vê nenhuma exceção, talvez algum anormal, que hoje deve estar internado a pedido da família. E outros são casos claros de idealismo funcional, conheço isso bem, é um fenômeno adaptativo, já vi centenas de casos.

- Não entendi nada.

- É o seguinte. O jovem político se dá melhor, na única turma que suporta sua convivência, com o pessoal idealista. Aí entra o fenômeno adaptativo. A opinião dele, opinião sincera mesmo, é essa, possibilita sua sobrevivência no meio a que está adaptado. Aí se elege e o meio muda. No começo deve haver um traumazinho, mas o fenômeno adaptativo vai fazendo seu papel e, depois de uns três mandatos e uns dois cargos públicos, a sobrevivência dele no novo nicho ecológico está garantida, ele já é um ladrão completo. E muitos deles continuam se apresentando como idealistas, faz parte.

- E o povo, você não tem achado que o povo está mais esclarecido?

- Está, está. Me contaram que já dá para comprar e vender votos pela internet, já bolaram vários métodos e o pagamento pode ser por boleto bancário ou cartão. Oficialmente, sai em nome de alguma caridade. E, por outro lado, eu estive num lugar em que um candidato disse que tinha espírito público e o concorrente está tirando votos dele, porque a maior parte do povo pensa que isso quer dizer que o candidato recebe uma entidade assombrada no meio da praça. Está tudo a mesma coisa e deixe de botar no jornal que eu quero profissionalizar os corruptos, antes que roubem minha ideia, se já não roubaram.

16 de setembro de 2012
João Ubaldo Ribeiro - O Estado de S.Paulo

"UMA SENHORA REVISTA"

 
O que predominava eram textos sobre a atividade artística, do cinema ao teatro, da poesia à música

Se houve, na história da imprensa brasileira, uma publicação até certo ponto inusitada por suas qualidades e características intrínsecas, foi a revista "Senhor", cujo primeiro número data de março de 1959 e o último, de janeiro de 1964.

Faço esta constatação ao manusear os dois volumes editados pela Imprensa Oficial do Estado de São Paulo e organizados por Ruy Castro, que nos oferecem a possibilidade de rever e reler algumas das páginas mais inteligentes e divertidas daquela revista que, nos seus cinco anos de vida, imprimiu a nossa imprensa um nível jornalístico, literário e gráfico raramente por ela alcançados.

Ao rever esta espécie de síntese da "Senhor" -de que fui leitor fiel e constante naquela época- surpreendo-me, não obstante, o que indica talvez não ter percebido, então, o que representava ela de audácia e renovação em nossa história editorial.

De fato, o que deu na cabeça de seus criadores e editores para pôr em circulação uma revista que, pelas matérias que trazia e pela imagem gráfica inovadora, não despertaria o interesse do leitor comum? E mais, não tinha ela o propósito jornalístico de cobrir os acontecimentos, o que a distanciava ainda mais daquele leitor.

A resposta a essa minha pergunta quem nos dá é Luiz Lobo, no texto intitulado "A Morte e a Morte da Senhor", de julho de 1999, incluído agora no primeiro volume da referida publicação, quando nos conta que ele, mais Nahum Sirotsky, Carlos Scliar e Paulo Francis, ao se encontrarem para inventar a nova revista, não tinham ideia clara do que deveriam fazer. Cada um deles tinha uma opinião diferente do que deveriam fazer, mas certamente não pretendiam pôr nas bancas de jornais uma revista igual às outras.

A verdade é que, pela heterogeneidade de suas respectivas opiniões quanto a criar uma nova revista naquele Brasil de então, nasceu uma publicação que nenhum empresário, com noção clara do mercado editorial e do hábito de leitura da maioria do público, jamais se disporia a bancar. Não obstante, houve um: Simão Waissman.

Conforme escreveu Nahum Sirotsky, a revista "Senhor" nasceu porque o empresário Simão Waissman, que pretendia criar "a mais interessante revista brasileira de todos os tempos", chamou-o e lhe entregou essa tarefa. Mas Waissman desejava que a revista se pagasse, o que não aconteceria.

Tendo aceito a tarefa, Nahum chamou Carlos Scliar, que chamou Glauco Rodrigues, para bolarem graficamente a revista. Foi feita uma "boneca", montada com recortes de algumas das mais belas publicações internacionais, e Waissman a aprovou.

Diz Nahum que o objetivo era fazer "uma revista que fosse ao mesmo tempo de pesquisas para escritores, artistas, economistas, sociólogos, educadores e que viesse a ser lida pelas pessoas mais responsáveis pela vida nacional, a fim de estimulá-las a considerar com mais seriedade os problemas culturais do país.

Não foi bem isso o que ela se tornou. Nela, de fato, colaboraram figuras representativas dos mais diversos campos da vida cultural brasileira mas, com raras exceções, o que predominava eram os textos sobre a atividade artística, do cinema ao teatro, da poesia à música popular, sem falar nos contos de Clarice Lispector, de João Guimarães Rosa, Scott Fitzgerald, Dorothy Parker e Jorge Amado, além dos ensaios de Armando Nogueira sobre o futebol de Pelé e Didi, ao lado de artigos sobre a Revolução Cubana, as Ligas Camponesas e a Guerra Fria, que opunha Khruschov a Eisenhower.

E, no meio de tudo isso, poemas de Carlos Drummond de Andrade e Mao Tsé-Tung, charges de Jaguar e ilustração de Glauco. Já está bom ou quer mais?

Evidentemente, não dava para concorrer com a "Manchete", que custava Cr$ 40 enquanto a "Senhor" custava Cr$ 70. Por isso mesmo, creio eu, com um ano, Waissman desistiu e vendeu a revista que, mesmo assim, sobreviveu por mais quatro anos.

Mas a gente de hoje certamente nem ouviria falar agora da "Senhor", não fosse uma menina de seis anos ter se encantado por ela naquela época. Essa menina era Maria Amélia Mello, que hoje, já crescidinha, tomou a iniciativa de ressuscitá-la, nesta edição encantada que tenho agora em minhas mãos.

16 de setembro de 2012
Ferreira Gullar,

"PÉS DE BARRO"

 
João Santana, o marqueteiro das estrelas, é um exímio construtor de mitos. Não o único, porque não se pode deixar de lado o papel de Duda Mendonça na arquitetura do "novo" Lula que ganhou a eleição presidencial de 2002 depois de perder três.

Mas Santana é mais sofisticado, analítico, menos intuitivo. Maneja emoções como ninguém. É um ás no ofício de transformar percepções difusas em cenários reais.

Em outras palavras: sabe levar as pessoas a ver as coisas como quer que sejam vistas.

Ciente desse talento, uma vez até revelou de público seu processo de criação. Foi em 2006, depois da espetacular reeleição de Lula em meio a escândalos que teriam derrubado qualquer um - mensalão e aloprados, para citar apenas dois -, numa entrevista ao jornalista Fernando Rodrigues, da Folha de S.Paulo.

Atribuiu em grande parte a vitória ao desenvolvimento da teoria do "fortão" e do "fraquinho": uma figura dupla de fácil identificação no imaginário popular. O primeiro encarnaria o humilde que virou poderoso e o segundo faria às vezes de vítima do preconceito das elites.

Nas palavras de Santana, depois que se elegeu em 2002, Lula passou a representar para os mais pobres uma projeção de sucesso. "É um deles e chegou lá". O "fortão", que rompe barreiras.

"Mas, quando Lula é atacado, o povão pensa que é um ato das elites para derrubar o homem do povo só porque é pobre". Nessa hora, dizia o marqueteiro, "vira o bom e frágil que precisa ser amparado e protegido". Dessa alternância se alimentaria o "caso de amor" entre Lula e o eleitorado. Teoria de êxito comprovado na prática.

Sobre a figuração preparada para Dilma Rousseff, João Santana não teorizou em entrevistas, mas não é difícil perceber que tipo de mito constrói: a presidente durona, trabalhadora, intolerante com "malfeitos", resistente a negociatas políticas, estadista que não mistura atos de governo com questões partidárias, muito menos eleitorais.

Deu certo. Dilma com isso agradou aos setores que renegavam os métodos de Lula sem perder apoio nas camadas encantadas com o "fortão" e o "fraquinho".

O problema é que as agruras penais, políticas e eleitorais do PT estão levando Dilma a descer do pedestal. Obrigam-na, por exemplo, a ir ao horário eleitoral prometer ao eleitor benefícios em troca de votos para seus correligionários.

Vantagem tão indevida quanto usar ministérios como moeda eleitoral ou fazer discurso de palanque no espaço de comunicação da Presidência da República em data nacional.

E quando a fábula afronta tão completamente a realidade, não há talento que esconda do mito os pés de barro.

Mal contado. Celso Russomanno é sócio majoritário de um belo bar a ser inaugurado logo após a eleição, à beira do lago Paranoá, em Brasília.

Não pôs dinheiro no negócio e, segundo ele, pagará sua parte de R$ 1,1 milhão em trabalho. "Vou administrar", informa.

É de se perguntar ao líder das pesquisas em São Paulo: caso eleito, cuida da cidade ou toma conta do estabelecimento?

Mas, o esquisito da história é mesmo o aumento de 100% entre 2010 e 2012 no patrimônio declarado à Justiça Eleitoral, tendo como justificativa o ganho futuro em negócio sem emprego presente de capital.

De Atenas. Sem prejuízo da qualidade de votos mais longos cujo conteúdo propicia sempre um aprendizado, chamam atenção a concisão e precisão das ministras Carmen Lúcia e Rosa Weber.

Renegam a escrita de que mulheres são prolixas por natureza.

Já levou. Fernando Haddad avisa que, se for eleito, Paulo Maluf "não levará nada" na Prefeitura de São Paulo. Como se restasse ainda algo para Maluf levar do PT, depois daquela foto.

Dora Kramer
O Estado de São Paulo

DILMA JOGA NO RALO REPUTAÇÃO DE DURONA AO USAR MÁQUINA A MANDO DE LULA



Ao ceder à pressão de Lula e do PT para colocar-se, e à máquina do governo, a serviço das candidaturas que interessam à companheirada nas principais capitais e cidades do País, Dilma Rousseff começou a jogar pelo ralo a reputação positiva de gerente durona e pouco afeita à politicagem que construiu em seu primeiro ano de governo e está por trás de seus altos índices de popularidade.

Como consequência, esses índices começam a declinar, conforme pesquisas recentes. Além disso, essa conversão da gerentona em palanqueira periga resultar num enorme furo n'água porque, ao que tudo indica, o PT deve levar uma surra nas urnas dos principais colégios eleitorais.

Dilma assumiu o governo, 20 meses atrás, ostentando portentosos índices de popularidade, bônus da vitória eleitoral e, em grande medida, efeito da transferência do enorme prestígio de seu padrinho. Ocorre que prestígio não se herda, pura e simplesmente. Cada um constrói o seu, tarefa que às vezes, como no caso, é facilitada pelo acúmulo de certo capital inicial.

Antes que o tempo se encarregasse de diluir o peso do voto de confiança que lhe era oferecido, Dilma tratou de fazer por merecê-lo. Não hesitou em afastar, numa exemplar faxina, vários ministros herdados de Lula com o rabo preso em, digamos, irregularidades, e deixou claro que, ao contrário de seu sucessor, estava disposta à tolerância zero com a politicagem rasteira do toma lá dá cá.

Chegou a dizer isso, com todas as letras - menos a referência a Lula, é claro -, diante das câmeras de televisão. Conquistou a boa vontade e a simpatia de segmentos da opinião pública historicamente avessos ao petismo. E entrou em 2012 com altíssimos índices de aprovação popular que já então eram seus por direito de conquista.

Mas 2012 trouxe também as eleições municipais. E com elas o aguçamento da incompatibilidade entre o figurino que a presidente tentava vestir e o comportamento que dela espera a companheirada. Dilma até que tentou sinalizar seu compromisso prioritário com o mandato de presidente e não com os interesses eleitorais de seu partido. Mas não resistiu por muito tempo, até porque a essa altura Lula já estava a pleno vapor na campanha, criando fatos políticos consumados.

Meses atrás, Dilma havia dito ao vice-presidente Michel Temer que não faria campanha para ninguém no primeiro turno. Mas Lula, preocupado com os prognósticos em cidades importantes como São Paulo, Belo Horizonte e Recife, tratou de fazê-la mudar de ideia. E ela começou então a fazer o contrário do que pregava como "presidente de todos os brasileiros".

Por exemplo, nos depoimentos obedientemente gravados para o horário eleitoral gratuito em São Paulo, tem declarado, sem a menor sutileza, que Fernando Haddad é o "nome certo" para que a cidade se beneficie do apoio federal. Não poderia fazer pior, pois induz o eleitor a imaginar que se ele votar num "nome errado" a sua cidade terá de viver sem a generosidade federal.

Mas, em matéria de colocar seu mandato a serviço de interesses partidários, Dilma fez muito pior em seu pronunciamento oficial em comemoração ao 7 de Setembro. É claro que a chefe do Governo tem todo o direito de fazer política, o que significa que não está impedida de promover seu partido e seus candidatos nas formas e ocasiões adequadas.

Mas sua investidura na primeira magistratura do País impõe limites éticos a essa ação, o que implica saber distinguir o público do privado. Assim, como presidente, Dilma Rousseff pode e deve, por exemplo, usar o dinheiro do Estado para prestar contas de sua administração. Mas não pode, a pretexto de prestar contas, fazer clara e abusiva propaganda política em benefício próprio e de seu partido.

Pois o pronunciamento da presidente às vésperas do 7 de Setembro foi uma indisfarçável peça de propaganda política construída com base em dois fundamentos do mais demagógico populismo: a exaltação mistificadora de realizações pretéritas e o ruidoso foguetório em torno de realizações futuras, ou seja, promessas e mais promessas, aliadas a duras críticas aos adversários, feitas com dinheiro do contribuinte, em tom de comício eleitoral. Assim não pode.

16 de setembro de 2012
Editorial de O Estado de S.Paulo

DIRCEU E A ELEIÇÃO

Mais notório quadrilheiro de Lula, Dirceu será julgado em cima da eleição  
 
O réu Dirceu: coincidência infeliz para o PT

Com o atraso no mensalão, é praticamente certo que José Dirceu seja julgado poucos dias antes da eleição. Ou seja, o ápice do julgamento será colado ao primeiro turno. Não é exatamente algo que vá ajudar o PT nas urnas.

Nas últimas semanas, espalhou-se que José Dirceu anda impassível, mesmo vendo os outros mensaleiros serem, um a um, condenados. Não é bem assim. Dirceu não tem dispensado um comprimido diário de Lexotan.

A propósito, dias atrás José Dirceu teve que ser dissuadido por assessores de dar uma entrevista. Convenceram-no que a hora não é de fazer barulho.

16 de setembro de 2012
Lauro Jardim - Radar - Veja Online

MINISTRO LUIZ FUX DECEPCIONA BANCA DO MENSALÃO DE LULA

Com voto duro, Luiz Fux decepciona banca do mensalão. Até agora, ministro preterido por Lula em 2006 e nomeado por Dilma em 2011 é o que mais vezes acompanhou o rigor de Joaquim Barbosa: só divergiu uma vez

Ministro Luiz Fux profere voto sobre crimes de lavagem de dinheiro
Luiz Fux: 'Também temos de nos preocupar com a dignidade da vítima, que é toda a sociedade brasileira' (Felipe Sampaio/SCO/STF)

O plenário do STF tem dado amplo acolhimento ao voto do ministro Joaquim Barbosa no julgamento do mensalão. Com três capítulos da denúncia concluídos e 38 sentenças proferidas, ele só foi vencido em três ocasiões.
Até agora, Luiz Fux é o ministro que mais vezes acompanhou o rigor do ministro relator. Divergiu uma única vez - a única vez em que Barbosa foi solitariamente vencido em seu voto.

O relator do processo só absolveu dois réus: o ex-ministro Luiz Gushiken, cuja condenação o Ministério Público também havia desistido de pedir, e a ré Ayanna Tenório, ex-executiva do Banco Rural. No caso de Ayanna, Barbosa frisou que desistiu de sua condenação por lavagem de dinheiro não por considerá-la inocente, mas porque o plenário havia decidido absolvê-la de gestão fraudulenta, crime antecedente necessário para a caracterização do segundo delito.

De Barbosa, até o mais otimista dos réus já esperava um voto duro. Foi assim no recebimento da denúncia, é assim agora. De Fux, não.

Magistrado de carreira, Fux foi o primeiro ministro nomeado por Dilma Rousseff, em 2011. À época, a escolha foi festejada pela banca – e recebida com desânimo pelo Ministério Público.

Fux estava no Superior Tribunal de Justiça, onde ganhou fama de conservador em processo penais, com críticas frequentes às investigações dos promotores. Mal assumiu a cadeira no STF, dizendo ter se preparado a vida toda para o cargo, Fux desempatou a votação da Lei da Ficha-Limpa – a favor dos fichas-sujas. Três meses depois, votou pela libertação do terrorista italiano Cesare Battisti.

No julgamento do mensalão, Fux tem sido implacável. Condenou até a ex-gerente financeira da agência do publicitário Marcos Valério, Geiza Dias, que o ministro Dias Toffoli comparou ao frentista do posto que vende combustível adulterado.

Infográfico

Esforço – Além de linha-dura, o voto de Fux tem chamado a atenção pelo esforço em aprofundar a doutrina e com isso: distinguir garantia constitucional de chicana jurídica (como na rejeição do desmembramento do processo); e desfazer distorções que a leitura de uma legislação penal antiquada (o Código Penal brasileiro é de 1940) pode ensejar, e que são exploradas com afinco pela defesa (como no caso das provas indiciárias).
É um esforço comum a outros ministros, que a ex-ministra Elle Gracie interpretou como uma tentativa de reequilibrar a Corte em casos criminais após anos de excessivo 'garantismo'.

Na primeira fatia do julgamento, quando se analisaram os desvios de dinheiro do Banco do Brasil e da Câmara dos Deputados, Fux lembrou em seu voto que o STF possui "há décadas jurisprudência consolidada no sentido de que os indícios, como meio de provas que são, podem levar a uma condenação criminal". Com isso, estava afastando a tese de que indícios não embasam condenações, como quis a banca dos mensaleiros.

No mesmo capítulo, Fux afirmou que o álibi cabe a quem alega: "Eu não posso dizer: 'não tem provas contra mim'. Eu tenho que dizer: 'não, isso decorreu disso' ". Foi maldosamente interpretado como uma tentativa de inverter o ônus da prova, que de fato cabe à acusação, não à defesa, questão primária que não havia sido ignorada pelo ministro.

Fux também é dado a frases de efeito, em que tem reiterado justa aversão à corrupção. Já disse que: "A cada desvio de dinheiro público, mais uma criança passa fome, mais uma localidade fica sem saneamento, sem mais um hospital, sem leitos". E que: "Se estamos preocupados com a dignidade dos réus, também temos de nos preocupar com a dignidade da vítima, que é toda a sociedade brasileira". Ao julgar a cúpula do Banco Rural, afirmou que os executivos cometeram "nem gestão fraudulenta, nem gestão temerária, mas gestão tenebrosa pelos riscos e consequências que acarreta à economia popular".

'Conversa fiada' – O voto de Fux não tem sido nada animador para os mensaleiros, mas não dá para antever que papel terá nas "cenas dos próximos capítulos", como disse Dias Toffoli. Até agora, o STF cuidou do desvio de dinheiro público e das tramoias bancárias que irrigaram o valerioduto. Na próxima semana, começa a analisar a compra de votos orquestrada pela cúpula do PT.

O deputado cassado José Dirceu, apontado o chefe da quadrilha pelo Ministério Público, chegou a gabar-se em rodas petistas de ter amizade com Fux e a dizer que o ministro "está bem alinhado comigo".
O senador cassado Demóstenes Torres também se gabou de conhecer o voto de Fux. Em conversa com o contraventor Carlinhos Cachoeira, interceptada pela Polícia Federal e revelada pelo jornal Folha de S.Paulo, o então senador comentou que o voto do ministro contra a aplicação da Lei da Ficha-Limpa às eleições de 2010 era uma das duas condições que aceitou para chegar ao STF. A outra era livrar a "turma do mensalão". "Bravata", reagiu Fux, sobre os áudios.

Preterido – Desde pelo menos 2006 Fux era candidato ao STF. Entre os nomes que o recomendavam, conforme VEJA revelou na edição de 1º de fevereiro de 2006, estavam: Antonio Palocci, então ministro da Fazenda; Delfim Netto, em seu quinto - e último - mandato como deputado federal; Roger Agnelli, então no comando da Vale e cotado para assumir a Petrobras; e até o chefão do MST João Pedro Stedile.

Apesar do lobby, Fux não emplacou em 2006. Lula preferiu Ricardo Lewandowski. Na decisão, o então presidente foi assessorado por seu ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos, hoje advogado de um dos réus do mensalão. Lewandowski é o ministro que mais divergiu de Barbosa: 15 vezes.

16 de setembro de 2012
Daniel Jelin - Veja Oline

IMAGEM DO DIA

Fazendeiro com roupas típicas carrega sua filha, na Alemanha
Fazendeiro com roupas típicas carrega sua filha, na Alemanha - Christof Stache/AFP
 
16 de setembro de 2012

O RISCO INSTITUCIONAL DAS PETRALHAGENS CONTRA O STF

 

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A petralhada arma alguns golpes para impedir que membros de sua cúpula mensaleira acabem condenados à prisão – e peguem cadeia – no julgamento da Ação Penal 470 no Supremo Tribunal Federal. A principal petralhagem será a tentativa de fabricar e soltar dossiês contra Joaquim Barbosa – assim que ele assuimir a presidência do STF, em 18 de novembro, após a aposentadoria compulsória de Ayres Britto, que completa 70 anos de idade.

O Partido da Imprensa Governista (o PIG) será mobilizado para desconstruir a imagem de herói agora cultivada por Barbosa. Motivo político: alguns petistas já enxergam como potencial candidato à Presidência da República. Motivo pragmático: atingindo-se o principal acusador dos mensaleiros, os petistas acham que terão mais facilidade para pressionar ou convencer outros ministros do supremo a pegarem mais leve com os mensaleiros na hora da chamada fase de dosimetria das penas – quando serão votadas as penas para cada um dos condenados.

Além do ataque covarde ao Barbosa, outras artimanhas são previsíveis. Primeira jogada: atrasar ao máximo o desfecho do caso, para além de novembro e, se possível, para o ano que vem, quando o STF terá dois novos ministros indicados pelo governo.
Segunda jogada: usar os advogados de defesa para embargarem ao máximo as decisõos dos ministros, atrasando também a decisão final. Terceira jogada: nos bastidores, pressionar ministros a aplicarem as penas mínimas possíveis, para que alguns crimes prescrevam e os réus petistas possam escapar da cadeia, cumprindo penas alternativas como “condenados primários”.

Dificilmente, o julgamento acaba, de fato, este ano. O STF só deve julgar os recursos contra as condenações no ano que vem. Na hora dos recursos, um condenado que pode encontrar salvação é João Paulo Cunha. O regimento interno do STF prevê recursos quando as decisões do plenário não são unânimes, desde que haja pelo menos quatro votos contra uma condenação. João Paulo tem chances de escapar da condenação por lavagem de dinheiro (que prevê de 3 a 10 anos de reclusão).

Motivo: o deputado federal foi condenado por 6 votos a 5. Por isso, vai esticar o máximo a corda e não renunciará ao mandato. Nem a Câmara, controlada pelo PT e aliados, botará sua cassasão em votação. A decisão de condenação no STF já seria suficiente para lhe tirar o emprego parlamentar. Mas como a decisão final não tem data exata para ser dada – após embargos de declaração e embargos infringentes –, João Paulo ganha tempo e continuará “deputando”.

Apesar de o chefão Lula da Silva – que milagrosamente teve o santo nome desligado do mensalão que ele jura nunca ter existido – liderar as manobras de bastidores para livrar os mensaleiros da condenação e cadeia, a petralhada está deprimida e com medinho. Semana que vem, o terror aumenta.
O relator Joaquim Barbosa começa seu longo voto da primeira acusação contra o poderoso José Dirceu de Oliveira e Silva, José Genoino e Delúbio Soares. O trio é acusado de corrupção ativa, cuja pena prevista oscila de dois a 12 anos de reclusão. Dirceu também é acusado de formação de quadrilha, mas este deve ser o último tópico do julgamento do Mensalão.

A pressão espúria de bastidores ou o trabalho pessoal e secreto sobre os ministros do Supremo – comandada por Lula e executada por grandes amigos e aliados dele – ocorrerá, a pleno vapor, para tentar salvar José Dirceu.
O chefão Lula sabe que a destruição de Dirceu é um investimento de curto prazo em sua própria desgraça. Por isso, serão covardes as petralhagens contra os ministros do STF que insistem em destoar da triunfal vontade nazipetralha.

O tempo é quem revelará se as pressões ocultas terão sucesso. Ou se a maioria do STF terá condições políticas e pessoais de agir conforme sua própria consciência de supremos magistrados independentes.
A corte suprema não pode sair desmoralizada deste caso. Se tamanha tragédia ocorrer, e o senso de injustiça prevalecer, o Brasil vai sofrer com a derrocada daquele que deveria ser o mais importante entre os três poderes.

O certo é que o resultado final do julgamento do mensalão tem tudo para ser um divisor de águas na nossa vida (nada) republicana. Se o Império (ou República) do Crime Organizado sair vitorioso, fatalmente, estará escancarado o caminho para uma ruptura institucional – cujo resultado é imprevisível para um País subdesenvolvido, sem soberania e com liberdades muito relativas.

Nesse cenário de ruptura institucional, o esquema do crime organizado só tem uma chance. Se o pirão não desandar na economia – com crises que baguncem demais a vida da maioria dos formadores de opinião, e das classes média e baixa -, nada se muda radicalmente e tudo fica está para os “puderosos de plantão”. Mas se alguma crise econômica se aprofundar, quem está no poder pode ser trocado.

O risco real, no Brasil, é a constante troca de seis por meia dúzia. Uma quadrilha é substituída por outra, com personagens renovados e diferentes, mas que agem da mesma forma: contra o interesse público nacional. Tal maquiagem institucional sempre beneficia o Governo do Crime Organizado que é operado transnacionalmente. As ordens mafiosas para inviabilizar o Brasil como nação soberana, independente e desenvolvida vêm de fora para dentro.

A organização político-administrativa do crime se consolida com ação permanente dos marionetes usados pela Oligarquia Financeira Globalitária: o esquema político no poder, a máquina estatal que toca a política-econômica e a aparelhagem repressiva fiscal-policial-judiciária, os agentes de influência (sobretudo a mídia) e as forças ocultas (os agentes operacionais do crime).

A perguntinha idiota a ser feita é: quem vai se habilitar a moderar a pancadaria que se desenha em nosso horizonte institucional – se houver quebradeira econômica? Quem souber, nem precisa responder. Basta agir concretamente para conter a ação do Sistema Transnacional do Crime Organizado. Os segmentos esclarecidos da sociedade têm condição de encarar tal missão com competência e sucesso?

Novamente, cabe indagar concreta e objetivamente: quem se habilita para esta parada dura?

PS 1 – É leitura obrigatória de quem precisa entender o Brasil o texto do doutor em economia Adriano Benayon publicado neste Alerta Total: “
Três Aniversários, e o Brasil não sai do beco”.

PS 2 – A banda boa do STF não vai deixar barato os ataques covardes promovidos pelos petralhas. Afinal, pau que dá em Chico também dá em Francisco. Quem tem telhado de vidro que se prepare para as contra-pedradas...

PS 3 – Vendo que vai puxar cana, o publicitário Marcos Valério começa sua vingança midiática. A revista Veja revela que Valério tem dito em conversas "com pessoas próximas" que o ex-presidente Lula era o "chefe" da quadrilha do Mensalão: "Não podem condenar apenas os mequetrefes. Só não sobrou para o Lula porque eu, o Delúbio e o Zé não falamos". Valério teria ameaçado: "O PT me fez de escudo, me usou como boy de luxo. Mas agora vai todo mundo para o ralo". Se Valério realmente falar em público o que a Veja informa que ele fala privadamente, o chefão Lula terá sua endeusada imagem seriamente demonizada. Para Lula, a língua de Valério (se aberta) pode ser mais fatal que um câncer de laringe.


Vida que segue... Ave atque Vale! Fiquem com Deus.
16 de setembro de 2012
Jorge Serrão é Jornalista, Radialista, Publicitário e Professor.