"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 8 de maio de 2012

RELATOR DO CASO DO MENSALÃO NO SUPREMO, JOAQUIM BARBOSA NEGA DESMEMBRAMENTO DO PROCESSO


Outro não – Ministro do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa negou novo pedido de desmembramento do processo do Mensalão do PT, feito pelo criminalista Márcio Thomaz Bastos. Um eventual desmembramento permitiria que parte dos 38 réus (inicialmente eram 40) respondesse na Justiça comum, não no STF.

A decisão, tomada na última quarta-feira (2) e anunciada nesta terça (8), é idêntica à resposta dada a pleito formulado por Thomaz Bastos em dezembro de 2011, que preferiu recorrer. O ex-ministro da Justiça defende José Roberto Salgado, então dirigente do Banco Rural e apontado pelo Ministério Público Federal como um dos responsáveis pelo financiamento que permitiu a manutenção do esquema de pagamento de mesadas em troca de apoio político no Congresso.
Salgado foi acusado pelos crimes de lavagem de dinheiro, evasão de divisas, gestão fraudulenta e formação de quadrilha.

Márcio Thomaz Bastos alega que em alguns casos, como o de seu cliente, a tramitação do processo no STF fere a Constituição Federal, pois tira do acusado o direito de recorrer a instâncias superiores em caso de sentença condenatória. No contraponto, o Supremo mantém o processo sob sua tutela com base no foro privilegiado de alguns acusados, como os deputados federais João Paulo Cunha (PT-SP), Valdemar Costa Neto (PR-SP) e Pedro Henry (PP-MT).

O artifício usado por Márcio Thomaz Bastos é oportunista, pois quando é do interesse do réu o processo tramita sem problemas no STF. É o caso do ex-governador da Paraíba, Ronaldo Cunha Lima, que deixou o processo a que responde correr no STF. Na iminência de ser condenado pelo Supremo, Cunha Lima renunciou ao mandato de deputado federal, em 31 de outubro de 2007, para que o processo retornasse à Justiça comum.

Ronaldo Cunha Lima responde a processo por tentativa de homicídio contra o ex-governador da Paraíba, Tarcísio de Miranda Buriti, em 5 de dezembro de 1993. Passados quase duas décadas do crime, o acusado continua impune.

08 de maio de 2012
ucho.info

POR FALAR EM CENSURA, UMA PRIMEIRA PÁGINA HISTÓRICA DO JB APÓS O AI-5





Fora a foto de Garrincha sendo expulso em 1962 e a de Costa e Silva fora do prumo, a previsão do tempo, a menção ao Dia dos Cegos e o anúncio em que (Pedro) Aleixo, Vice-Presidente da República que não votou a favor do AI-5 e sim pelo Estado de Sítio, e Hélcio (Simões), capitão-médico do Presidente, vendendo uma mesa PBX foram os detasques malocados dessa primeira página.
08 de maio de 2012

AFINAL, QUEM LEVA VANTAGEM NA JUSTIÇA DO TRABALHO?

Não é de agora que assistimos nas sessões do Supremo, quadros que são autênticas operetas, cada qual interpreta seu papel, tudo em nome da camaradagem, tipo: finge que vence que eu finjo que fui voto vencido, essa é a tônica dos ministros. Os votos que sai aos montes das cortes: o ideológico é um êxtase, uma epopeia, não fosse à madrasta do tempo, o parlamento Romano, teria inveja.

Nas demandas trabalhistas, empresas governamentais sempre levam a melhor, obviamente porque não incorporam passivos da terceirização mal engendrada, é o estado não “fazes o que eu mando e não fazes o que faço”. Se a empresa é privada, o vitorioso quase nunca é o patrão, comprovando que as decisões não contemplam os fatos. O juiz, bem esse está por conta da toga vetusta, indumentária corvo, tamanho seu espectro de vilão dos ricos e Robbin Hood dos pobres, tipo: Divina Comédia de Dante Alighieri, – “do inferno ao purgatório”.

O que se pretende demonstrar é que o maior patrimônio de um juiz é a sua independência, “e para não dizer que não falei das flores”…, começa pelo mais alto salário público do planeta, então seu patrimônio enriquece, ostensivo, ofuscante, refletindo nos pés de trabalhadores que não podem participar de audiência calçando chinelos.

Essa é a ferramenta ímpar para ele ultrapassar a barreira da democracia formal e galgar as fronteiras da democracia substantiva, seara onde deve julgar, conforme a consciência, indo até contra a vontade de maiorias, defendendo direitos fundamentais, não se curvando às pressões midiáticas nem às correntes de opinião.

No Rio de Janeiro um magistrado processa o condomínio onde mora para ser chamado de “doutor” pelo porteiro. Na cidade de Franca (SP), manda prender um policial de trânsito que lhe repreende por falar ao celular no volante. Um procurador de São Paulo ameaça prender uma aluna que questiona seus métodos de ensino na aula. “Esse é um dos problemas crônicos do sistema de Justiça brasileiro. Há um problema comportamental que envolve vaidade e prepotência”, afirma o promotor Tiago Essado, presidente da AJE (Associação Jurídico-Espírita do Estado de São Paulo).

Não se pretende aqui defender a ideia de que o juiz precisa vestir o figurino da neutralidade, ele pode se posicionar não naquele décor móbile, com o membro do Ministério Público abaixo de sua estatura na sala de sessão e audiência, o povo sai em movimento, queremos juízes insípidos, inodoros e insossos, é que esses tendem a serem os piores.

Faltou juiz na Junta Governamental do AI 5, quem sabe, ali não estavam invisíveis, tal qual acontece nos pregões de segundas e sextas nas varas judiciais? A sociedade contribuinte (que paga o seu salário) quer resgatar no Judiciário as virtudes que tanto enobrecem a magistratura e outros serventuários da Justiça: independência, saber jurídico, honestidade, coragem e capacidade de enxergar o ideal coletivo, interação, educação e de preferência “bom humor”.

O filósofo Bacon já pregava: “Os juízes devem ser mais instruídos que sutis mais venerados que aclamados, mais circunspetos que audaciosos. Acima de todas as coisas, a integridade é a virtude que na função os caracteriza”. Por que estes valores têm sido tão fragmentados? Afinal o exercício da autoridade dispensa a conduta prepotente, arrogante, violenta ou permissiva de quem ocupa um cargo público.

08 de maio de 2012
Roberto Monteiro Pinho

VENEZUELA, SALÁRIO MÍNIMO E MENTIRAS

Desde o dia primeiro de maio a Venezuela tem o mais alto salário mínimo de toda a América Latina, equivalente a R$ 1.310, contando com o ticket alimentação, obrigatório. Lá pagam-se, obrigatoriamente 15 salários anuais – o famoso “aguinaldo” -, assim, na média, o ganho mensal do trabalhador que recebe salário mínimo passa a ser de R$ 1.637.

O aumento beneficiará a 4 milhões de venezuelanos, incluindo cerca de 2 milhões de aposentados e pensionistas. Terá impacto político importantíssimo na guerra que o imperialismo e a oligarquia venezuelana travam, sem cessar, contra Chávez. Apresentam a Venezuela como um país caótico, desordenado. Agora, agregam à guerra ideológica permanente uma overdose de veneno para explorar a doença de Chávez.

Até setores progressistas, distraídos, impressionam-se ante este dilúvio de mentiras e repetem que Chávez impediu o surgimento de novas lideranças ou que não resolveu o caos do abastecimento.
Na realidade, a Revolução Bolivariana promove intensamente o florescimento de milhares e milhares de novas lideranças, estimula a politização das massas. Segmentos antes avessos à política hoje andam com a Constituição no bolso, conscientes de seus direitos.
A nova Lei do Trabalho vai formalizar conquistas, quando na Europa se destrói o Estado do Bem-Estar Social. Foi ampliada a comunicação pública e estimulada a leitura de jornais e livros, com distribuição gratuita e pesquisas apontam a Venezuela como o terceiro país em que mais se lê na América Latina. E sem analfabetismo.

O uso da TV por Chávez é uma verdadeira escola de quadros a céu aberto estimulando o povo a pensar em política, ideologia, economia, história e cultura. Estimula, também, um controle popular para enfrentar a sabotagem ao abastecimento – a burguesia esconde toneladas de alimentos – já há filmes denunciando esta crime, também combatido com a criação de mercados estatais que vendem produtos a preços 70 % mais baixos.
Chávez enfrenta o câncer e a Revolução Bolivariana consolida-se para enfrentar os desafios que toda revolução enfrenta.
(Fonte: Brasil de Fato)
08 de maio de 2012
Beto Almeida

HOLLANDE, UM NOVO PRESIDENTE PREDESTINADO A DECEPCIONAR

  • Charles Platiau/Reuters
    O recém-eleito presidente comemora sua vitória
        O recém-eleito presidente comemora sua vitória

Os franceses escolheram François Hollande porque ele prometeu ser um presidente diferente de Nicolas Sarkozy. Mas ele conquistou um dos empregos mais difíceis do planeta: reformar a França. Para ter sucesso, ele terá que decepcionar muitos de seus eleitores. Mas Hollande é um pragmático, não um ideólogo –e isso pode até mesmo ajudá-lo a se entender com Angela Merkel.

Até o final, o presidente Nicolas Sarkozy buscou fazer o mundo acreditar que ainda poderia vencer e que seria uma disputa extremamente apertada. Ele estava errado. Pela segunda vez na história da Quinta República, os franceses votaram em um candidato do Partido Socialista para a presidência. A última vez que isso aconteceu foi em 1981, quando François Mitterrand se tornou presidente.

A vitória de François Hollande é, acima de tudo, um acerto de contas político com Sarkozy. Quando ele iniciou seu mandato há cinco anos, Sarkozy desfrutava de um índice de aprovação de mais de 60%, mas ao final ele se tornou o presidente mais impopular da Quinta República, que teve início em 1958 com a reforma constitucional que fortaleceu enormemente o papel do presidente.

A falta de popularidade de Sarkozy foi, em grande parte, produto da crise econômica que já derrubou outros nove líderes europeus. Mas a rejeição a Sarkozy vai mais fundo: muitos franceses sentem que Sarkozy profanou o cargo, que não exibia dignidade suficiente, que era um novo rico que frequentemente se confundia com o Estado e agia como um Napoleão moderno. No final, até mesmo no campo conservador havia muitos que simplesmente o odiavam. Hollande, resumindo, foi conduzido à presidência pela força do desejo francês de se livrar de Sarkozy, cujo romance com os franceses terminou em ódio.

Após terem um presidente tão anormal, os franceses agora anseiam por um mais normal – e é precisamente isso que Hollande promete. Há não muito tempo, ninguém confiaria o cargo a Hollande. Ele era considerado pouco mais que uma piada. O candidato populista de esquerda, Jean-Luc Mélenchon, até mesmo o desdenhou como um “capitão de pedalinho” para riso geral. Afinal, ele foi apenas a segunda opção dos socialistas, escolhido depois que o ex-favorito Dominique Strauss-Khan caiu em desgraça após seus escândalos sexuais.

Mas, ao longo da campanha eleitoral, Hollande teve sucesso em convencer a maioria dos franceses de que tinha condições de ser presidente. Ele desenvolveu lentamente uma aura presidencial e, em discursos, se colocou na mesma categoria de François Mitterrand. E finalmente, no debate da semana passada contra Sarkozy, ele se coroou, iniciando 16 sentenças seguidas com “Eu, como presidente...”

Até mesmo o amigo próximo e conselheiro de Sarkozy, Alain Minc, reconheceu recentemente à agência de notícias “Reuters”: “Eu acho que todos nós subestimamos o sujeito. Ele demonstrou uma força de espírito incomum neste ano. O François Hollande que estamos vendo hoje é diferente daquele que todos nós conhecíamos. Nós o julgamos de modo diferente do que ele é. Ou estávamos errados ou ele mudou”. Por sua vez, Sarkozy subestimou Hollande até o final.

Durante a campanha, Hollande se posicionou claramente à esquerda. Ele prometeu criar um imposto de 75% para qualquer renda acima de 1 milhão de euros. Ele também disse que mudaria de volta a idade de aposentadoria na França de 62 anos para 60 anos. E prometeu um fim às políticas de austeridade europeias –se posicionando como a antítese de Angela Merkel e dizendo aos seus eleitores: “Eu não quero uma Europa de austeridade, onde os países são forçados a ficar de joelhos”.

Hollande decepcionará amargamente os eleitores

Ainda assim, é altamente improvável que Hollande será um presidente socialista gastador. E consequentemente ele decepcionará amargamente muitos de seus eleitores. Hollande será o presidente de um país economicamente doente. A dívida pública está em 90% do Produto Interno Bruto, a França não possui um orçamento equilibrado desde 1974 e, em quase 57%, a relação mais alta entre gastos do governo e PIB dentre os 17 países da zona do euro. Além disso, o desemprego se encontra em aproximadamente 10% e há toda uma geração de filhos de imigrantes que cresceu nos subúrbios parecidos com guetos, quase sem contato com o mercado de trabalho. Durante a campanha eleitoral, esses problemas tiveram apenas um papel secundário. Mas para o presidente recém-eleito, eles terão um papel central.

A grande pergunta é se Hollande poderá reunir o poder que precisará para reformar profundamente a França. No nível mais básico, ele é pragmático e, falando em “off”, muitos dos seus colegas até mesmo o descreveram como sendo um “social democrata”. Ele também prometeu repetidamente introduzir um orçamento equilibrado e será avaliado pela forma como cumprirá sua palavra.

Haverá uma grande celebração na Praça da Bastilha na noite de domingo. Mas, na segunda-feira, toda a França acordará com ressaca. Tempos difíceis aguardam o presidente e o país. Durante sua campanha, Hollande evocou repetidamente a grandeza da França. Mas essa grandeza agora é ameaçada precisamente pela fraqueza econômica que Hollande terá que enfrentar. Ele não poderá dar continuidade à tradição de incorrer em mais e mais dívida e não poderá transformar o país sem alienar muitas das pessoas que acabaram de votar nele. Hollande pode ter conquistado a presidência, mas seu novo emprego é um dos mais difíceis do mundo.

Um melhor parceiro para Merkel?

Apesar de sua retórica de campanha às vezes agressiva, não se deve esperar que Hollande se torne o maior antípoda de Merkel na Europa. Ele sem dúvida defenderá vigorosamente as posições francesas com a legitimidade adicional que os resultados eleitorais lhe deram. Mas muitos observadores políticos acreditam que as posições de Hollande em relação ao euro, ao Banco Central Europeu (BCE) e ao pacto financeiro serão semelhantes às de Sarkozy.

De fato, mesmo no final do ano passado, alguns dos assessores de Sarkozy estavam adotando posições que poderiam facilmente vir da plataforma de campanha de Hollande. Havia oposição a uma estratégia concentrada exclusivamente em austeridade e muitos eram favoráveis a uma intervenção direta do BCE. Logo, apesar das faces serem diferentes, a posição francesa provavelmente não mudará radicalmente.

É até mesmo possível que Merkel e Hollande consigam forjar um forte laço pessoal – e um ainda melhor do que o antes compartilhado por Merkel e Sarkozy. De certo modo, talvez seja até mesmo possível descrever Hollande como o Merkel francês: ele é pragmático, não um ideólogo. Ele busca o consenso e considera os resultados mais importantes do que poder exibi-los. Ele é um sujeito pé no chão e que demonstra empatia. E, na condição de economista que antes lecionava na universidade de elite Sciences Po, ele também compartilha a formação científica de Merkel.

Hollande poderá fazer uso de seus modos agradáveis em seu novo cargo. Esta eleição francesa revelou um país atolado em autoquestionamento e extremamente ansioso em relação ao futuro. Também é um país profundamente dividido em vários campos e com um número crescente de pessoas decepcionadas e frustradas. Como presidente, Hollande terá que unir esses campos. Nos tempos turbulentos enfrentados por seu país, ele deverá ser uma figura paterna que possa unir a esquerda e a direita.

Uma esquerda triunfante, uma direita rachada

Para a esquerda, a vitória eleitoral de Hollande é um triunfo. Ela não faz parte do governo há dez anos e não ocupa a presidência há 17 anos. Se a esquerda obtiver a maioria na eleição parlamentar do mês que vem, ela voltará ao poder após um longo período. Hollande libertou a esquerda do medo do fracasso que a atormentava desde que Lionel Jospin não conseguiu chegar nem ao segundo turno da eleição presidencial de 2002, após as pesquisas indicarem que ele venceria. Mesmo assim, ainda resta ver quão bem-sucedidos os socialistas serão no poder.

A direita, por sua vez, ficou em pedaços com a derrota de Sarkozy. Ao assumir uma posição dura sem precedentes em relação aos imigrantes e ao Islã, sua campanha acabou transformando seu partido conservador União por um Movimento Popular (UMP) em um quase espelho da Frente Nacional de extrema direita de Marine Le Pen. Ao final da campanha, o ministro da Defesa do UMP, Gérard Longuet, até mesmo cometeu um ato falho quando disse, “Nós da Frente Nacional...”, em uma entrevista de rádio, antes de se corrigir rapidamente, mas não o bastante.

Agora o campo da direita corre o risco de rachar em uma facção conservadora-liberal, que se sentiu incomodada com as táticas de campanha de Sarkozy, e uma facção mais à direita que até mesmo poderia se unir à Frente Nacional. Esse era o grande sonho de Marine Le Pen, que já se declarou “líder da oposição”. Mas, para o recém-eleito presidente François Hollande, seria um pesadelo.

Jornais Internacionais - Der Spiegel Uma análise de Mathieu von Rohr
Em Tulle (França)
08 de maio de 2012
(Tradução: George El Khouri Andolfato)

ESQUELETO DE MUSEU

Se estou bem lembrado, faz um mês, pouco mais, ao tempo em que a desindustrialização causou o rebuliço que tirou o governo da modorra em que dormitava, que a senhora presidente falou pela primeira vez nas peculiaridades do nosso sistema financeiro. A consequência desse fato levou o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal a reduzirem juros.

Quando se falou em estender a mesma orientação aos bancos privados, foi uma surpresa, pois, durante o octonato do ex-presidente Luiz Inácio, o Banco Central permaneceu impermeável a qualquer ideia a respeito. Mas, como seria de esperar, os maiores bancos, sem demora, falaram em reduzir a taxa por eles assentada e tendo um dirigente da Federação Nacional dos Bancos, salvo engano, que se pronunciara contrário à nova orientação, foi desaprovado publicamente e logo se retirou ou foi retirado da posição ocupada.

Recordo o episódio para ressaltar que os bancos privados foram solícitos em acolher os novos dogmas. Mas o caminho preferido pela senhora presidente continuou a ser trilhado e, no dia 1º, Dia do Trabalho, retomou o tema com maior desembaraço, reclamando a “redução de taxas para empréstimos, cartão de crédito, cheque especial e crédito consignado”. Acerca da matéria, lembro que não é de hoje que me venho manifestando contra o delírio usurário oficial, razão pela qual nunca entendi como ele era publicamente praticado entre nós.

Mas, perdoe-me a senhora presidente, a história não me parece bem contada. Há coisa fora do lugar. É que os flagelos apontados não ocorreram nem de repente nem às escondidas. De resto, os fatos não podem ser ignorados, nem negados, mas analisados como realidades visíveis e palpáveis para apurar seu bom ou mau efeito.

Ora, o que agora está provocando a ira sagrada da senhora presidente se instalou às barbas do Conselho Monetário Nacional e do Banco Central, que tinham todos os poderes para impedir o conspícuo abuso ou extirpá-lo de uma vez. No entanto, nada disso sucedeu. Ao contrário, essa fauna financeira enraizou-se à sombra do Banco Central, como se este não existisse.
Embora a senhora presidente afirme que a grande maioria da população é pontual no pagamento de seus débitos, não é exato
 
Logo que circulou a nova diatribe presidencial contra as insânias cometidas de longa data, não faltaram manifestações de pessoas versadas no assunto. Começaram por observar que era indispensável saber o que custava ao banco o dinheiro por ele captado e o que o próprio Banco Central recebe sob o rótulo de depósito compulsório, que ele pode fazer quando e como lhe apraz; em outras palavras, vai uma diferença entre o que o banco privado capta e o que ele pode ou não aplicar em suas operações ordinárias; outrossim, é notória a crescente inadimplência e embora a senhora presidente afirme que a grande maioria da população é pontual no pagamento de seus débitos, não é exato, pois o endividamento das famílias é extremamente elevado e há setores em que as pessoas, honradas, sem dúvida, mas sem condições de enfrentar os débitos, têm-nas levado a entregar de graça o bem financiado desde que leve com ele a dívida financiada; de outro lado, é imperioso indagar qual o juro que a nação paga sobre a dívida pública; essa taxa não contribui para a fixação do juro das operações domésticas? São dados que têm de ser medidos e pesados um a um para saber, com a possível exatidão, o papel de cada um desses fatores.

Indo ao óbvio, o Banco Central não viu nem vê os escandalosíssimos juros vigentes em relação a cartões de crédito, cheque especial e o adocicado presente dado aos bancos no crédito consignado? O que parece estranho é a senhora presidente haver recorrido à televisão para dirigir-se a um serviço público federal.

Para dar uma ideia do caso, tratando-se do cheque especial, a taxa anual de juros varia quase ao infinito chegando a 100%, 169%, 175%, 202%, 219% e 225%. Será necessário recorrer a um filósofo genial para saber o nome dessa realidade e por que as melhores instituições terminam como esqueletos de museu?

Paulo Brossard
Fonte: Zero Hora, 07/05/2012

BRASIL TEM A SEGUNDA MAIOR TAXA DE MORTALIDADE EM ACIDENTES COM MOTOS

Trafegar em ziguezague ou em velocidade incompatível entre os carros no chamado “corredor da morte”, destruindo espelhos retrovisores, transitar sem o capacete de sgurança, inclusive os garupas, efetuar manobras arriscadas ou transitar em excesso de velocidade, ultrapassando veículos sem os cuidados indispensáveis à segurança de trânsito – estas são as irregularidades que constam num levantamento inédito e impressionante do Mapa da Violência 2012, feito pelo Instituto Sangari, numa pesquisa desenvolvida em 1 milhão de certidões de óbito.

O Brasil é segundo país do mundo em vítimas fatais em acidentes envolvendo moto e caminha a passos largos para ser o primeiro do ranking. São 7,1 óbitos para cada grupo de 100 mil habitantes. Só perde para o Paraguai, com 7,5 mortes para o mesmo grupo de habitantes. Nos últimos quinze anos (pasmem), a taxa de mortalidade sobre duas rodas aumentou 846,5%. A de carros, 58,7%.
A frota de motos, na última década, cresceu 246%. A de carros, no mesmo período, 65,3%. A frota de motos chega hoje a 18,5 milhões. A de carros, 37,2 milhões.
Os acidentes envolvendo motos no Brasil são consequência, além da imprudência de motociclistas e do desafio permante ao perigo, do crescimento da frota. Daqui a quatro anos, a estimativa é de que o número de motos já supere o de carros.

No Hospital das Clínicas, em São Paulo,em 2010, diz o estudo, os acidentes de moto com homens lideram o ranking das internações em decorrência de trauma. Os atropelamentos vem em segundo.
A pesquisa, no que se refere às partes do corpo mais afetadas nos acidentes com motos, conforme dados da Associação Brasileira de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares e dados do Hospital das Clínicas, mostra que a cabeça e o pescoço representaram 21,7% das lesões, 12,3% nos ombros, braço, cotovelos, antebraço, pulso e mão. No rosto a incidência foi de 10,2%.
Realmente estamos diante de números de uma verdadeira guerra, e de difícil solução, em que a primeira mudança deveria ser oestabelecimento de cursos de formação rigorosos, onde a educação e a disciplina consciente fossem os grandes diferenciais na tentativa da mudança comportamental.

Educar para o trânsito é educar para a vida. Por enquanto, a guerra das motos e dos carros prossegue produzindo tragédias e o Brasil prossegue, inevitávelmente, para assumir, em pouco tempo, a liderança mundial de vítimas fatais em acidentes com motos. Profundamente lamentável.

08 de maio de 2012
Milton Corrêa da Costa

A TENTATIVA DE INTIMIDAR O JORNALISMO

Leia editorial do jornal “O Globo”

Blogs e veículos de imprensa chapa branca que atuam como linha auxiliar de setores radicais do PT desfecharam uma campanha organizada contra a revista “Veja”, na esteira do escândalo Cachoeira/Demóstenes/Delta.

A operação tem todas as características de retaliação pelas várias reportagens da revista das quais biografias de figuras estreladas do partido saíram manchadas, e de denúncias de esquemas de corrupção urdidos em Brasília por partidos da base aliada do governo.
É indisfarçável, ainda, a tentativa de atemorização da imprensa profissional como um todo, algo que esses mesmos setores radicais do PT têm tentado transformar em rotina nos últimos nove anos, sem sucesso, graças ao compromisso, antes do presidente Lula e agora da presidente Dilma Roussef, com a liberdade de expressão.

A manobra se baseia em fragmentos de grampos legais feitos pela Polícia Federal na investigação das atividades do bicheiro Carlinhos Cachoeira, pela qual se descobriu a verdadeira face do senador Demóstenes Torres, outrora bastião da moralidade, e, entre outros achados, ligações espúrias de Cachoeira com a construtora Delta.
As gravações registraram vários contatos entre o diretor da Sucursal de “Veja” em Brasília, Policarpo Jr, e Cachoeira. O bicheiro municiou a reportagem da revista com informações e material de vídeo/gravações sobre o baixo mundo da política, de que alguns políticos petistas e aliados fazem parte.

A constatação animou alas radicais do partido a dar o troco. O presidente petista, Rui Falcão, chegou a declarar formalmente que a CPI do Cachoeira iria “desmascarar o mensalão”.
Aos poucos, os tais blogs começaram a soltar notas sobre uma suposta conspiração de “Veja” com o bicheiro. E, no fim de semana, reportagens de TV e na mídia impressa chapas brancas, devidamente replicados na internet, compararam Roberto Civita, da Abril, editora da revista, a Rupert Murdoch, o australiano-americano sob cerrada pressão na Inglaterra, devido aos crimes cometidos pelo seu jornal “News of the World”, fechado pelo próprio Murdoch.

Comparar Civita a Murdoch é tosco exercício de má-fé, pois o jornal inglês invadiu, ele próprio, a privacidade alheia.
Quer-se produzir um escândalo de imprensa sobre um contato repórter-fonte. Cada organização jornalística tem códigos, em que as regras sobre este relacionamento - sem o qual não existe notícia - têm destaque, pela sua importância.

Como inexiste notícia passada de forma desinteressada, é preciso extremo cuidado principalmente no tratamento de informações vazadas por fontes no anonimato.
Até aqui, nenhuma das gravações divulgadas indica que o diretor de “Veja” estivesse a serviço do bicheiro, como afirmam os blogs, ou com ele trocasse favores espúrios. Ao contrário, numa das gravações, o bicheiro se irrita com o fato de municiar o jornalista com informações e dele nada receber em troca.

Estabelecem as Organizações Globo em um dos itens de seus Princípios Editoriais: “(…) é altamente recomendável que a relação com a fonte, por mais próxima que seja, não se transforme em relação de amizade. A lealdade do jornalista é com a notícia”.
E em busca da notícia o repórter não pode escolher fontes. Mas as informações que vêm delas devem ser analisadas e confirmadas, antes da publicação. E nada pode ser oferecido em troca, com a óbvia exceção do anonimato, quando necessário.

O próprio braço sindical do PT, durante a CPI de PC/Collor, abasteceu a imprensa com informações vazadas ilegalmente, a partir da quebra do sigilo bancário e fiscal de PC e outros.
O “Washington Post” só pôde elucidar a invasão de um escritório democrata no conjunto Watergate porque um alto funcionário do FBI, o “Garganta Profunda”, repassou a seus jornalistas, ilegalmente, informações sigilosas.
Só alguém de dentro do esquema do mensalão poderia denunciá-lo. Coube a Roberto Jefferson esta tarefa.

A questão é como processar as informações obtidas da fonte, a partir do interesse público que elas tenham. E não houve desmentidos das reportagens de “Veja” que irritaram alas do PT.
Ao contrário, a maior parte delas resultou em atitudes firmes da presidente Dilma Roussef, que demitiu ministros e funcionários, no que ficou conhecido no início do governo como uma faxina ética.

08 de maio de 2012
Reinaldo Azevedo

CABRAL, O AMIGÃO DE LULA...

Amigão sujo do Lula bandido: Cabral se recusa a dizer quem foram os clientes de sua consultoria




O governador do Rio, Sérgio Cabral Filho (PMDB-RJ), se recusou a informar à Folha a lista dos clientes de sua empresa de consultoria em publicidade, a SCF, sigla que remete às iniciais do nome do peemedebista.

A propriedade da empresa foi declarada pelo governador à Justiça Eleitoral em 2010, no valor de R$ 90 mil, mas estaria "inoperante" desde 2006, segundo a assessoria de imprensa de Cabral.
Indagado sobre os clientes da empresa anteriores a janeiro de 2007, o governador respondeu, por meio de sua assessoria: "Trata-se de um assunto privado. Mas posso garantir que nem a Delta nem qualquer empresa prestadora de serviços do Estado foi cliente da SCF".

A Delta Construtora será investigada pela CPI do Cachoeira do Congresso por supostas relações com as atividades do empresário de jogos ilícitos Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira.
Seu dono, Fernando Cavendish, e Cabral foram flagrados juntos em vídeos recentes divulgados pelo site do deputado Anthony Garotinho (PR-RJ), adversário político do peemedebista, em viagens luxuosas à Europa.

Após a divulgação das imagens, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, pediu informações a órgãos de controle sobre os contratos da Delta com o governo do Rio e dois requerimentos foram apresentados à CPI do Cachoeira solicitando a convocação do governador.
Um dos sócios de Cabral na empresa de consultoria, Carlos Emanuel de Carvalho Miranda, é citado no relatório final da Operação Castelo de Areia, desencadeada em 2008 pela Polícia Federal para investigar a empreiteira Camargo Corrêa. Miranda é casado com uma prima-irmã de Cabral, de quem é "amigo desde a adolescência", segundo a assessoria do governador.
Miranda também é sócio de um irmão do governador em outra empresa.

Segundo o relatório, Miranda foi citado pelo doleiro de São Paulo Kurt Pickel, um suposto operador financeiro clandestino da empreiteira, e teria recebido propina de pelo menos R$ 177 mil em espécie como parte de um acordo de R$ 40 milhões feito entre o governo do Rio, a CC e a operadora do Metrô, a Opportrans, em torno da concessão para exploração do metrô.
Na residência de Pietro Bianchi, um consultor da empreiteira, a PF apreendeu manuscritos e uma tabela que, segundo a PF, ligavam pagamentos de pelo menos R$ 843 mil ao secretário e braço direito de Cabral, Wilson Carlos de Carvalho.

Em outras oportunidades, o governo negou irregularidades no acordo financeiro com a Opportrans e a CC. Em 2010, após a Folha revelar as citações ao secretário Wilson Carlos, ele "negou veementemente" qualquer recebimento de valores. Miranda, procurado ontem, não foi localizado.
O outro sócio do governador na empresa de consultoria é Ricardo Rocha Cota, é subsecretário de Comunicação Social do governo Cabral. Procurado ontem para falar sobre as atividades da empresa de consultoria, ele não ligou de volta para a Folha. Folha Online

CAROLINA DIECKMANN, UM CRIME CONTRA A SUA IMAGEM DE MULHER


CAROLINA DIECKMANN NUA, A BOLA DA VEZ

E a perversidade da rede mundial faz mais uma vítima.
A bola da vez foi a atriz global Carolina Dieckmann, que teve fotos suas em situações de intimidade expostas na rede.
A atriz alega que seu micro foi para o conserto e suas fotos foram roubadas por alguém da assistência técnica e publicadas, não sem antes haver uma tentativa de extorsão contra a atriz pela não publicação do material na internet.

Percebam a que ponto chegamos, você manda seu computador para o conserto e o técnico que deveria colocar a máquina para funcionar novamente, passa mais tempo fuçando na sua vida do que cuidando do equipamento.  

Essa curiosidade mórbida e sem ética que assoma grande parte da população já é cultural, e a intimidade das pessoas vira assunto para dar corda na mediocridade daqueles que adoram passar o tempo falando da vida alheia.
E sempre que possível, são capazes de fazer qualquer cretinice para satisfazer a mórbida curiosidade, sem ética, sem respeito e sem educação.
Cá entre nós, não gosto da atriz e nem sei nada sobre sua vida, o que sei é que mais uma vez a internet faz vitimas, não tão inocentes é claro. Apenas vítimas da falta de respeito e da falta de caráter de pessoas que tem acesso acidental à intimidade de outros e acabam cometendo um grave crime de invasão de privacidade. Além é claro, da desnecessária exposição da figura da atriz para o mundo.
É comum hoje em dia as pessoas tirarem fotos da própria intimidade, por curiosidade, por exibicionismo, ou simplesmente para manter algum jogo sensual com o parceiro.
Mas, mais comum ainda, é ver que o respeito ao próximo é atropelado por algum idiota que pensa ter tirado a sorte grande quando bateu com o fucinho nas imagens.
A atriz agora vai começar a via sacra para conseguir a reparação da exposição bandida a que foi vítima. Mas o estrago já está feito.
Ela já conseguiu que fossem retiradas as fotos dos sites que foram os primeiros a publica-las. Mas as cópias já estão rodando o mundo, e certamente são milhões delas espalhadas por tudo que é computador do planeta.
Assim como o caso de uma moça lá do Sul, Maria Aparecida, se não me engano, que passou pelo mesmo constrangimento. Só que a moça era alpinista social e se aproveitou do momento para ter lá seus meses de fama, e daí saiu pelada em tudo que é revista especializada da pocilga. Faturou algum e sumiu.
Com a Carolina a situação é outra, pois ela já é famosa, se recusou a posar para a Playboy, e agora com a divulgação das imagens, o cachê Playboy tende a cair, e muito. E o mundo já viu suas "partes".
O mais bizarro nessa situação é que agora as imagens da moça caíram em domínio público, por mais que ela lute na justiça para retirar as imagens das páginas, milhões de cópias de suas fotos estão armazenadas nos computadores do povão.
Este blogueiro já recebeu apenas nos últimos dias, aproximados 40 E-Mails com as fotos, ou com os links onde estão hospedadas.
A guerra contra a exposição das imagens já está perdida, a crueldade e a velocidade que a rede expõe as pessoas sempre vence.
O que a atriz precisa agora é pegar quem roubou as imagens e as jogou na rede e processar pesado para mostrar aos outros idiotas de plantão que impunidade de verdade só em Brasília. Para o resto dos mortais, e ainda mais para os idiotas, a lei tem que ser pesada.
Isto é: Se as fotos foram mesmo roubadas do computador da moça, agora, se foi uma jogada de marqueting para aparecer na mídia, quem tem que ser presa e processada é a vítima.
Mas isso apenas as investigaçlões irão mostrar.
E o mais bizarro, esse assunto tomou conta do noticiário da pocilga. A imprensa mundo cão se amontoou diante da delegacia expondo ainda mais a figura da moça.
As redes sociais explodiram com a fofoca da semana.
Como se já não bastasse todo o stress sofrido por ver sua intimidade exposta como carne em um açougue, ainda ter que enfrentar a sanha dos jornaleiros mediocres que vivem de fazer notícia com a desgraça alheia é dose para elefante.

E nesta semana o EX presidente, o Enfermo Defuntus Sebetus conseguiu uma liminar na justiça para não ser ouvido no julgamento do mensalão.
Um assunto grave e sério que expõe a falência do judiciário Tupiniquim, mas o povão e a imprensa amestrada estavam as voltas com a proibida nudez da Carolina, e nem perceberam nada.
08 de maio de 2012
omascate

OPINIÃO DE O GLOBO: ROBERTO CIVITA NÃO É RUPERT MURDOCH

 



Blogs e veículos de imprensa chapa-branca que atuam como linha auxiliar de setores radicais do PT desfecharam uma campanha organizada contra a revista “Veja”, na esteira do escândalo Cachoeira/Demóstenes/Delta.

A operação tem todas as características de retaliação pelas várias reportagens da revista das quais biografias de figuras estreladas do partido saíram manchadas, e de denúncias de esquemas de corrupção urdidos em Brasília por partidos da base aliada do governo. É indisfarçável, ainda, a tentativa de atemorização da imprensa profissional como um todo, algo que esses mesmos setores radicais do PT têm tentado transformar em rotina nos últimos nove anos, sem sucesso, graças ao compromisso, antes do presidente Lula e agora da presidente Dilma Rousseff, com a liberdade de expressão.

A manobra se baseia em fragmentos de grampos legais feitos pela Polícia Federal na investigação das atividades do bicheiro Carlinhos Cachoeira, pela qual se descobriu a verdadeira face do senador Demóstenes Torres, outrora bastião da moralidade, e, entre outros achados, ligações espúrias de Cachoeira com a construtora Delta. As gravações registraram vários contatos entre o diretor da sucursal de "Veja" em Brasília, Policarpo Jr., e Cachoeira. O bicheiro municiou a reportagem da revista com informações e material de vídeo/gravações sobre o baixo mundo da política, de que alguns políticos petistas e aliados fazem parte.

A constatação animou alas radicais do partido a dar o troco. O presidente petista, Rui Falcão, chegou a declarar formalmente que a CPI do Cachoeira iria "desmascarar o mensalão". Aos poucos, os tais blogs começaram a soltar notas sobre uma suposta conspiração de "Veja" com o bicheiro. E, no fim de semana, reportagens de TV e na mídia impressa chapas-brancas, devidamente replicadas na internet, compararam Roberto Civita, da Abril, editora da revista, a Rupert Murdoch, o australiano-americano sob cerrada pressão na Inglaterra, devido aos crimes cometidos pelo seu jornal "News of the World", fechado pelo próprio Murdoch.

Comparar Civita a Murdoch é tosco exercício de má-fé, pois o jornal inglês invadiu, ele próprio, a privacidade alheia. Quer-se produzir um escândalo de imprensa sobre um contato repórter-fonte. Cada organização jornalística tem códigos, em que as regras sobre este relacionamento – sem o qual não existe notícia – têm destaque, pela sua importância. Como inexiste notícia passada de forma desinteressada, é preciso extremo cuidado principalmente no tratamento de informações vazadas por fontes no anonimato. Até aqui, nenhuma das gravações divulgadas indica que o diretor de "Veja" estivesse a serviço do bicheiro, como afirmam os blogs, ou com ele trocasse favores espúrios. Ao contrário, numa das gravações, o bicheiro se irrita com o fato de municiar o jornalista com informações e dele nada receber em troca.

Estabelecem as Organizações Globo em um dos itens de seus Princípios Editoriais: "(…) é altamente recomendável que a relação com a fonte, por mais próxima que seja, não se transforme em relação de amizade. A lealdade do jornalista é com a notícia." E em busca da notícia o repórter não pode escolher fontes. Mas as informações que vêm delas devem ser analisadas e confirmadas, antes da publicação. E nada pode ser oferecido em troca, com a óbvia exceção do anonimato, quando necessário.

O próprio braço sindical do PT, durante a CPI de PC/Collor, abasteceu a imprensa com informações vazadas ilegalmente, a partir da quebra do sigilo bancário e fiscal de PC Farias e outros. O "Washington Post" só pôde elucidar a invasão de um escritório democrata no conjunto Watergate porque um alto funcionário do FBI, o Garganta Profunda, repassou a seus jornalistas, ilegalmente, informações sigilosas. Só alguém de dentro do esquema do mensalão poderia denunciá-lo. Coube a Roberto Jefferson esta tarefa.

A questão é como processar as informações obtidas da fonte, a partir do interesse público que elas tenham. E não houve desmentidos das reportagens de "Veja" que irritaram alas do PT. Ao contrário, a maior parte delas resultou em atitudes firmes da presidente Dilma Rousseff, que demitiu ministros e funcionários, no que ficou conhecido no início do governo como uma faxina ética.

08 de maio de 2012
abobado

IMAGINÁRIOS DA DESTRUIÇÃO - PARTE 3


c. O estudo do cinema nazista
No ensaio “Estilo e meio do filme” (1947), Erwin Panofsky observou: “Queiramos ou não, os filmes é que moldam, mais do que qualquer outra força isolada, as opiniões, o gosto, a linguagem, a vestimenta, a conduta e até mesmo a aparência física de um público que abrange mais de 60% da população da Terra. Se todos os poetas líricos, compositores, pintores e escultores sérios fossem obrigados a cessar suas atividades, uma fração bem pequena do público em geral tomaria conhecimento do fato e outra ainda menor iria lamentá-lo seriamente. Se a mesma coisa acontecesse com o cinema, as conseqüências sociais seriam catastróficas”.

Essa constatação de Panofsky sempre me pareceu apenas parcialmente verdadeira. Se, de fato, o cinema modelava mais de 60% da população do planeta, as conseqüências sociais catastróficas do que Theodor Adorno e Max Horkheimer conceituaram como “indústria cultural” em Dialética do Esclarecimento (1947) não eram mais uma hipótese virtual, a se cumprir caso se operasse a interrupção de suas atividades, mas uma realidade produzida há décadas, diariamente, por sua emulação ininterrupta. O controle do clima psicológico de nações inteiras tornou-se possível graças ao monopólio das mídias.

Refletido sobre o mundo atual, Anita Novinsky observou: “Pode-se hoje transformar qualquer povo em qualquer coisa, pode-se criar um abismo em poucos meses com os meios de comunicação de massa, a técnica, a televisão.”[14] De fato, não podemos sequer imaginar o poder devastador que se acumula no universo das comunicações contemporâneas, e que permanece em posição de ameaça permanente à liberdade.

Basta observar como as mídias do neocapitalismo dito democrático conseguem integrar até o último homem na sociedade de consumo, com suas incitações às compras, seus programas digestivos, jogos, loterias, lançamento de modas e manias, seu ininterrupto bombardeio de sucessos. As mídias tornaram-se uma espécie de válvula condutora da vida, o imprescindível universo portátil, o espaço exterior domesticado em gadgets. Essa assustadora realidade não surgiu de repente, mas foi se formando ao longo de todo o século passado. O momento mais devastador dessa realidade em perigosa progressão foi, sem dúvida, a Segunda Guerra Mundial, durante a qual todos os meios de comunicação conhecidos na época se voltaram para a propaganda.

Na Revolução Russa de 1917, o jornal, o rádio e o cinema haviam sido largamente utilizados como instrumento de propaganda O uso propagandístico do cinema atingiu a perfeição estética nos anos de 1920, nos filmes mudos de Sergei Eisenstein, Alexander Dovjenko, Grigori Kozintzev, Lev Koulechov, Vsevolod Pudovkin, Leonid Trauberg, Dziga Vertov, que empregavam, para difundir a mensagem revolucionária, o exagero e a farsa, elementos do vaudeville e do teatro de revistas, estilemas do surrealismo e do expressionismo, e até mesmo as piadas obscenas

Em 1931, cumprindo uma ordem do Comissariado de Transportes do Povo que decretava a necessidade de usar o cinema “para mobilizar as massas trabalhadoras em torno das tarefas da construção socialista e da renovação do transporte ferroviário”, Alexander Medvedkin montou uma equipe cinematográfica dentro de um trem, percorrendo o país e realizando e projetando filmes contra os “elementos malvados” e “nocivos à revolução”, numa estética ainda livre à experimentação. A ditadura estética do realismo socialista seria imposta apenas em 1934, com Chapaiev, dos irmãos Vasiliev, encerrando a fase vanguardista do cinema soviético [15].

Na República de Weimar, o cinema alemão, nascido como fruto de interesses propagandísticos durante a Primeira Guerra Mundial, foi o palco de grandes experimentações estéticas até transformar-se, no fim dos anos 20, num campo de batalha ideológico entre os partidários da democracia e os simpatizantes dos movimentos comunista e nazista. Com a ascensão de Hitler ao poder, todos os meios de comunicação de massa foram progressivamente controlados e monopolizados pelo Estado.

Na Itália fascista, desde 1925-1926 o Estado assegurou o monopólio da produção dos filmes documentários e de atualidades, enquanto um decreto ordenava a projeção de cinejornais informativos visando desenvolver uma constante e intensa ação de ensino civil, propaganda e cultura [16]. Com a ascensão de Hitler ao poder, todos os meios de comunicação de massa foram coordenados pelo Estado nazista, inspirando Mussolini a fundar a Cinecittà em 1937.

Criada em 1922, a televisão alemã atingiu, em 1933, 180 linhas: desde então, foram realizadas emissões cotidianas e, em 1936, durante os Jogos Olímpicos em Berlim, sua imagem foi, pela primeira vez, diretamente projetada num telão para milhares de espectadores.

Em 1934, Goebbels ordenou a fabricação de aparelhos de rádio acessíveis a todos os bolsos e já em 1935 ele estimava que, com o receptor do engenheiro Otto Griesing e os alto-falantes colocados em escolas, fábricas e lugares, cada discurso do Führer atingia mais entre 5 e 6 milhões de ouvintes: “Com o rádio nós aniquilamos o espírito da rebelião” [17]. Em 1938, o número de ouvintes passou a 9,5 milhões e, em 1939, com a comercialização de um aparelho novo e menor, o rádio atingiu praticamente toda a população da Alemanha.

Contudo, no mundo entre guerras, o meio que representou a indústria cultural como um todo foi, sem divida, o cinema. Ao contrário do jornal e do rádio, o caráter “artístico” do cinema encobriu seu caráter de instrumento de modelagem e as polemicas em torno da indústria cultural só ganharam relevância após a guerra, quando a massificação da TV substituiu o cinema na modelagem de um contingente ainda maior da população do planeta.

No século XX, a superpopulação, a unificação tecnológica do planeta e os confrontos ideológicos em torno do “capitalismo” reconduziram a humanidade a um estágio de barbárie semelhante ao das tribos primitivas, através de revoluções, guerras mundiais e totalitarismos que restauraram a necessidade, característica dos povos arcaicos, de uma modelagem direta dos corpos através de novos instrumentos técnicos capazes de atingir e arregimentar milhões de indivíduos.

Beneficiadas pelos meios técnicos de comunicação, as tiranias do século XX adquirem uma especificidade toda sua, totalitárias na medida em que, à diferença dos regimes de forca do passado, podem apresentar, graças à propaganda, a evidência de uma popularidade. Os líderes revolucionários e totalitários não teriam podido mobilizar populações radicalizadas e fanatizadas pela fome, pelo ódio, pelo medo ou pela fé sem uma propaganda audiovisual massiva e altamente organizada. O controle do clima psicológico de nações inteiras tornou-se finalmente possível graças ao monopólio dos meios de comunicação de massa.

Através de todos os meios de comunicação conhecidos, estímulos psicológicos são produzidos enquanto se trabalha na remodelação total dos valores humanos. A propaganda eficaz é ininterrupta e onipresente. Nos regimes totalitários, dia e noite, o cidadão é informado e esclarecido sobre os acontecimentos e seus significados. No café da manha, os jornais apresentam-lhe fatos selecionados e comentados. Durante o dia, no trabalho, conversas com colegas confirmam suas idéias. Nos momentos de lazer, no cinema, no teatro, na leitura de revistas, sua visão de mundo consolida-se através de formas variadas, sublimadas e atraentes. À noite, antes de dormir, a última transmissão de notícias prepara-o para uma nova etapa de esclarecimento. A esfera privada é totalmente preenchida pela propaganda, multiplicada por centenas de vozes distintas, mas coordenadas por uma mesma e única fonte.

Antes do estabelecimento da indústria cultural, quando o poder era tomado à forca, por um grupo que impunha sua vontade ao resto da população, era possível que esta, mesmo conformada, não aceitasse, intimamente, o governo “ilegítimo”. No seu dia-a-dia, a população sofria a ditadura, silenciava ante a violência e até “tolerava” a opressão, porque, interiormente, subsistia uma vaga esperança de libertação. Já a ditadura totalitária moderna, com seus instrumentos técnicos de modelagem, penetra no âmago de cada cidadão.

No seu dia-a-dia, a população participa da tirania, da violência e da opressão, porque ressente, interiormente, sua participação nessa dominação como sua única possibilidade de escapar-lhe, sua esperança de libertação. Quando uma mente maniqueísta reflete sobre as circunstâncias que frustram seu bem-estar, toma o acaso que lhe acarreta prejuízos como o próprio Mal. Da mesma forma, a propaganda cria todo um coletivo maniqueísta, que se vê perseguido pelo Mal, ao mesmo tempo em que prepara o extermínio daqueles que aos seus olhos encarnam esse Mal.

A manipulação da paranóia fora originalmente uma ocupação dos xamãs, que se alimentavam do terror metafísico que dominava os selvagens. Seduzidos pelo “carisma” do xamã, que lhes apresentava soluções mágicas para a cura da incurável angústia provocada pela contingência, os selvagens unificavam-se num coletivo paranóico (a tribo) que não admitia qualquer dissensão.

O processo arcaico de transferência revela como foi possível reduzir, na Europa civilizado do século XX, o espaço mental de coletividades inteiras, através das mídias, aos elementos mais primitivos do pensamento. A paranóia coletiva projeta o Mal no mundo, e ao mesmo tempo em que se vê por ele perseguido, prepara o extermínio daqueles que, a seu ver, encarnam o Mal.

A passagem de certos homens pela Terra, capazes de mobilizar a paranóia coletiva, canalizando sua energia destrutiva para seus próprios fins delirantes, prova que, a par de sua significação religiosa, o Mal possui uma existência política. O ditador totalitário é o xamã do século XX, oferecendo à coletividade desintegrada pela técnica a panacéia do maniqueísmo, que satisfaz a psicose da massa, necessitada de acreditar em planos diabólicos tramados pelo Inimigo – por indivíduos e grupos que possam encarnar o Mal, para serem enfrentados concretamente, através de uma política de perseguição e extermínio.

Ao projetar toda carga destrutiva da paranóia coletiva sobre os judeus, Hitler chegou ao poder não como um político comum, mas como o profeta de uma nova religião monstruosa, que não apenas assimilou a tradição milenar do antissemitismo ocidental, como a radicalizou até a mais inconcebível utopia de destruição, que foi tornando verdadeira numa escala apenas factível com o auxílio da indústria cultural e da tecnologia moderna.

Analisando a cinematografia nazista fora do contexto da política biológica que a gerou, os historiadores consideraram que apenas 22 ou 24 dos 1.094 longas-metragens de ficção produzidos no ‘Terceiro Reich’ continham propaganda antissemita. Um número ínfimo de propaganda antissemita num meio em que o regime tanto investia. Haveria alguma discrepância entre a essência do nazismo e o cinema que ele produziu? Sendo o antissemitismo a essência do regime, desdobrado numa política, propagada totalitariamente, como explicar que o antissemitismo tenha ocupado um lugar tão modesto no seu principal veículo de propaganda, sob a coordenação direta de Goebbels?

Na verdade, em primeiro lugar, e antes de qualquer análise de seu conteúdo, esse cinema deve ser considerado como inteiramente antissemita. Não se pode omitir na análise da produção do cinema nazista que uma das primeiras medidas do regime, logo após a tomada do poder, em 1933, foi a supressão dos judeus da indústria cinematográfica.

O cinema alemão fora substancialmente edificado por empresários e artistas de ascendência judaica, num modo de produção que permitia a experimentação estética, gerando um expressionismo cinematográfico que marcou a cinematografia mundial [18]. Já o cinema nazista foi produzido por uma indústria cultural antissemita desde as bases “biológicas” de sua organização.

Iniciada em 1933 por Goebbels, como primeira medida do regime, assim que Hitler tomou o poder, a “arianização” promoveu o expurgo, a proibição de trabalho e o exílio de mais de 1500 artistas, produtores e técnicos de ascendência judaica, levados a fugir para a Áustria, a França, a Inglaterra, e depois para os EUA. Enquanto na Alemanha o nazismo censurava suas produções, a menção de seus nomes, a lembrança de seus feitos, controlando ao mesmo tempo as ascendências, relações sexuais e consangüíneas dos produtores culturais alemães, habilitados através de fichas de inscrição obtidas no Ministério da Cultura e da Propaganda, Hollywood via-se beneficiada com um influxo sem precedentes de talentos de tradição expressionista, revolucionando o realismo do cinema americano no filme noir, no thriller psicológico, no filme de espionagem, no terror atmosférico.

Após a “arianização” do cinema alemão, considerada completa em 1937, Goebbels elaborou para ele uma estética que associava os valores nacional-socialistas a formas narrativas consagradas, associando as deformações plásticas às deformações mentais; cultivando a saúde, o corpo, a natureza, o nudismo; professando o respeito cego à autoridade, à nobreza, à honra; adotando valores patrióticos, militaristas, racistas. Os artistas deviam seguir um padrão realista de narrativa, inspirado na literatura do naturalismo. Goebbels pôs fim ao sobrenatural, ao fantástico, ao horror, que haviam marcado o cinema alemão. Desenvolveu o filme histórico, o filme de guerra, o documentário cultural e o melodrama biológico. O racismo transformou-se em pano de fundo para comédias românticas, dramas policiais, operetas e musicais.

David Stuart Hull considerou como antissemitas apenas 4 filmes produzidos sob o Terceiro Reich: Robert und Bertram (1939), The Rotschilds (1940), Jud Süß (1940) e o documentário The Eternal Jew (1940). Em Antisemitische Filmpropaganda, Dorothea Hollstein aprofundou a superficial pesquisa de Hull e constatou a existência de 22 filmes e 2 projetos não realizados que considerou antissemitas. Desde então, pouco foi acrescentado. Na tese An Analytical Study of the Nazi Treatment of the Jews in Three Films, Wilhelm Bleckmann analisou três daqueles filmes. Régine Mihal-Friedman, em L’image et son Juif, concentrou-se em Jud Süß, sem modificar o quadro estabelecido por Dorothea Hollstein.

Em The Nazi Antissemitic Film: A Study of its Productional Rhetoric, Baruch Gitlis analisou outros daqueles mesmos filmes, observando com razão: “É surpreendente que, até 1938, filmes explicitamente antissemitas não tenham sido produzidos e exibidos publicamente” [19]. Mesmo constatando a existência de cenas antissemitas “sutilmente insinuadas e integradas” em filmes como Hitlerjunge Quex (1933) ou Hans Westmar (1933), Gitlis voltou a notar: “Por razoes políticas que ainda permanecem não esclarecidas, não houve filmes antissemitas alemães produzidos antes de 1938” [20].

Ora, 22 ou 24 filmes antissemitas, isto é, nos quais a imagem do judeu é apresentada de maneira detestável, numa produção de 1.097 filmes de ficção [21] não refletem a essência de um sistema político que preparava administrativamente a morte de milhões de judeus em toda a Europa. Era preciso que me lançasse ao fundo da questão: ou a essência do nazismo não era o antissemitismo (o que seria como colocar a realidade entre parênteses) ou a propaganda antissemita no cinema nazista não havia sido revelada pelos seus estudiosos em toda a extensão. Teria o cinema nazista desempenhado outro papel que não o de reforço ideológico? Estaria a massa de filmes nazistas limpa de um racismo concentrado em outros veículos? Mas, então, qual a necessidade de montar uma gigantesca indústria cultural ligada ao Ministério da Propaganda?

Apostando na hipótese lógica, passei a assistir a todos os filmes nazistas que eram programados em seminários, exibições especiais, cinematecas, etc. Engajado nesta busca, eu me transformei numa espécie de Simon Wiesentahl do cinema – enquanto ele caçava criminosos nazistas, onde quer que eles se refugiavam, eu caçava filmes nazistas, onde quer que eles fossem projetados…

Logo observei nesse cinema algo de inusitado, que não havia sido até então analisado. Um fenômeno que se repetia em diversos filmes de “entretenimento”: a presença de uma doença misteriosa que atingia personagens principais ou secundários, uma doença que se assemelhava a uma peste, e que era mesmo muitas vezes apresentada como a própria peste. Reatando esse fenômeno à propaganda antissemita retórica, expressa em artigos de jornal, manuais de eugenia e livros de doutrinação, concluí que a doença era um dos grandes leit-motivs do cinema nazista e, num paralelo com o papel do judeu na propaganda geral do sistema nazista, poderia ser interpretada como uma metáfora do judeu. Haveria, então, toda uma dramaturgia antissemita na própria linguagem do filme nazista, o núcleo da propaganda refletindo, finalmente, a essência do sistema.

De fato, o que diferenciaria filmes “mórbidos” em sua própria estrutura como Ein Volksfeind, La Habanera, Robert Koch, Verwehte Spuren, Ewiger Rembrandt, Kleider machen Leute, Das Herz muß schweigen, Opfergang ou Paracelsus dos filmes normalmente identificados como antissemitas pelos historiadores do cinema, como Robert und Bertram, Jud Süß, Die Rotschilds ou Der ewige Jude é que a propaganda antissemita no primeiro grupo de filmes é neles embutida numa dimensão cinematográfica, fluindo integrada à narrativa, sem a necessidade de um discurso verbal a explicitá-la.

Numa ação subconsciente, o primeiro grupo de filmes difunde o próprio pathos antissemita, em conexão com suas imagens, previamente disseminadas e assimiladas através de outros discursos. Essa constatação requeria uma série de provas, e um recuo de perspectiva até as origens da metáfora. Foi preciso examinar a organização do cinema nazista e seu papel dentro da estrutura geral e do conjunto significante do sistema de propaganda, e as diversas maneiras pelas quais a propaganda antissemita foi disseminada no filme nazista.
08 de maio de 2012

CAPÍTULO ANTERIOR - ARQUIVO DE 07 DE MAIO DE 2012

TEOCRACIA SECULAR: OS FUNDAMENTOS E A ESTUPIDEZ DA TIRANIA MODERNA


C. S. Lewis entendia que a Lei Natural se aplica a todo o comportamento humano incluindo aqueles praticados por oficiais do governo, e ele claramente dizia que o poder do governo era uma força perigosa que precisa ser estritamente limitada.

Parte 1
Vivemos em um mundo cada vez mais secularizado, de estados-nação massivos e perversos, nos quais a religião tradicional, especialmente o Cristianismo, não é bem vinda e é vista até mesmo como um perigo real ante um histórico de intolerância e de “violência religiosa”. Esta ideia pode ser encontrada na maioria dos domínios ditos “públicos”, incluindo instituições educacionais, empresariais, governamentais, de “bem estar social”, de transporte, recreativas, científicas, artísticas, de relações internacionais, econômicas, de entretenimento e midiáticas.

O governo, ao proporcionar um ambiente público secularizado, é visto como o provedor de um domínio neutro, racional e livre, que mantém as forças “irracionais” da religião para longe da criação de conflitos e trevas. Ainda nos dizem que o progresso verdadeiro requer a expansão deste domínio, empurrando a religião cada vez mais ao ostracismo, aos cantos remotos da sociedade, onde teria pouca ou nenhuma influência. Em resumo, a América moderna tem se tornado uma teocracia secular, com a religião civil da política nacional (ou nacionalismo) ocupando a esfera pública, na qual o governo tomou o lugar de Deus.

Para o renomado professor e escritor cristão, C. S. Lewis, tal visão peca moralmente, intelectualmente e espiritualmente; proporcionando, no século XX, a ascensão do estado total, de um estado generalizado de guerras e mega-genocídios. Para Lewis, o cristianismo provê a única visão de mundo coerente e verdadeira, e que se aplica a todas as aspirações e atividades humanas: “Eu acredito no cristianismo como eu acredito que o sol nasce, não porque eu o vejo, mas porque, por meio dele, vejo tudo o mais” (The Wheight of Glory)[1].
Em seu livro, The Discarded Image, Lewis revela que, para os cristãos medievais, não existia a distinção entre o sagrado e o secular; e que esta visão de mundo de esperança, júbilo, liberdade e propósito – unificada e teopolítica – por meio da graça de Deus, permitiu-lhes descobrir o que é objetivo, os princípios da ética da Lei Natural, a ciência e a teologia; tudo isto levando a um imenso florescimento da humanidade[2]. Lewis descreve a Lei Natural como um padrão objetivo de correção comportamental, coeso e interconectado:
Esta coisa que tenho chamado, por conveniência, de Tao; que outros chamam de Lei Natural, de Tradição Moral, de Princípios Básicos da Razão Prática ou de Primeiras Obviedades; não se trata de mais um sistema de valor em meio a uma série de outros sistemas possíveis. Trata-se da única fonte de todos os julgamentos de valor. Se este sistema for rejeitado, todos os outros o serão. Se qualquer valor for retido, assim o será.

O esforço de refutá-lo e de erigir um novo sistema de valores no seu lugar é algo auto-contraditório. Nunca houve – e nem haverá – um novo julgamento de valor radical na história do mundo. O que se diz serem os novos sistemas ou – como eles hoje os chamam “ideologias” – todas se constituem de fragmentos do Tao em si. Mesmo retirado arbitrariamente do seu contexto na totalidade e em seguida lançado à loucura do isolamento, pertence ao Tao – e somente a ele – a sua validade enquanto estes sistemas se desenvolvem.

Se o meu dever com relação aos meus pais é uma superstição, assim o será o meu dever com relação à minha posteridade. Se a justiça é uma superstição, assim o será o meu dever com relação ao meu país e à minha raça. Se a busca científica é um valor real, assim o é a fidelidade conjugal. (The Abolition of Man)[3]
Em seu recente livro, The Victory of Reason, Rodney Stark demonstrou, com profundidade, “Como o cristianismo proporciona a liberdade, o capitalismo e o sucesso no Ocidente”[4]. Similarmente, e antes da acensão do estado-nação secular americano, Alexis de Tocqueville documentou, em sua obra de 1835, Democracy in America, a impressionante flexibilidade, vitalidade e coesão da liberdade baseada no Cristianismo à disposição da sociedade americana; com as suas empresas, igrejas e instituições de caridade, fundações e outras instituições privadas e comunidades [5].

Em seu livro, The Mith of Religious Violence: Secular Ideology and the Roots of Modern Conflict, William Cavanaugh, de forma similar, nota que, para Santo Agostinho e o mundo antigo, a religião não era uma esfera separada da esfera secular. A origem do termo “religião” (religio) vem da Roma Antiga (re-ligare, religar ou reatar) como a séria obrigação de uma pessoa diante da Lei Natural (“religio para mim”) não apenas nos santuários, como também em juramentos civis e rituais familiares; que a maioria dos ocidentais poderia julgar, hoje, como sendo seculares. Na Idade Média, São Tomas de Aquino aprofundou a noção de religio, não como sendo apenas um conjunto de crenças privadas, mas como a devoção em direção à excelência moral em todas as esferas [6].

Entretanto, na Renascença, a religião começou a ser vista como um impulso “privado”, distinto da política, da economia e da ciência “seculares” [7]. Esta visão “moderna” deu início ao declínio da Igreja como a prática pública e comunal da religio. E, já nos anos do Iluminismo, John Locke fez a distinção entre a “força exterior” dos servidores públicos e a “persuasão interior” da religião. Ele acreditava que a harmonia civil requereria uma estrita divisão entre o estado – aqueles interessados no bem “público” – e a Igreja – cujos interesses são “privados” – limpando assim o terreno para o surgimento do domínio público puramente secular. Para Locke, a Igreja é uma “sociedade voluntária entre homens”, conquanto a obediência ao estado ser mandatória [8].
A subsequente ascensão do estado moderno – clamando o monopólio da violência, do rito legislativo e da obediência pública dentro de determinado território – depende da absorção da Igreja para dentro do estado ou de relegá-la à esfera privada. Como nota Cavanaugh:

A chave para este movimento é a alegação de que a religião é um assunto para a Igreja. A religião deve transparecer, assim, não o que a Igreja foi uma vez que foi esvaziada da relevância terrena, mas como o empreendimento humano imemorial e essencial no qual a busca da Igreja sempre deve estar confinada… No amanhecer da Reforma Protestante, príncipes e reis passaram a afirmar autoridade sobre a Igreja em seus reinos, como a Alemanha de Lutero e a Inglaterra de Henrique VIII… O novo conceito de religião facilitou o avanço do domínio do estado sobre a Igreja, por meio da distinção da busca humana interior, do corpo disciplinar do estado.[9]

Para figuras do Iluminismo, como Jean-Jacques Rousseau, que desprezam o direito natural; a “religião civil”, como observada em regimes democráticos, “é a nova criação que confere o status de sacralidade a instituições e símbolos democráticos” [10]. Em suas influentes obras, Edward Gibbon e Voltaire afirmam que as guerras entre religiões dos séculos XVI e XVII eram “o último resquício do barbarismo e fanatismo medievais antes da dispersão das trevas”.[11]

Gibbon e Voltaire acreditavam que após a Reforma Protestante ter divido o reino cristão justamente em suas bases religiosas, católicos e protestantes começaram a matar uns aos outros por mais de um século, dando mostras do perigo inerente à “religião pública”. A solução alegada era o estado moderno, no qual a lealdade religiosa estaria erigida e este asseguraria a si o monopólio da força. Logo, o fanatismo religioso seria domado, unindo todos em volta da lealdade ao estado secular.
Entretanto, este “mito da violência religiosa” é infundado. A ligação entre o surgimento de estados e guerras é bem documentada, como notou o historiador Charles Tily: “Guerras fazem estados e estados fazem guerras”.[12] À época do surgimento dos estados na Europa, a maior causa de violência – e fator central para o crescimento do estado – era a tentação de coletar impostos da população relutante, com as elites locais resistindo às investidas de reis e imperadores. O ponto central é que a ascensão do estado moderno não foi, de forma alguma, a solução para a violência religiosa. Pelo contrário, a absorção da Igreja pelo estado, que teve início muito antes da Reforma Protestante, foi crucial para a ascensão do estado e das guerras observadas nos séculos XVI e XVII.

Todavia, Voltaire faz a distinção entre a “religião estatal” e a “religião teológica”, onde “A religião estatal nunca dará origem a confrontos. Isto não é verdade com relação à religião teológica; fonte de toda estupidez e conflitos imagináveis; mãe do fanatismo e da discórdia civil; inimigo da humanidade” [13]. Em contrapartida, Rousseau propôs suplementar a religião do homem puramente “privada” com a religião civil ou política, com a intenção de associar o cidadão ao estado: “Para aquele homem, compromissado publicamente com os artigos de fé do Estado, que age em qualquer circunstância como se não cresse neles, que a sua punição seja a morte. Ele cometeu o maior dos crimes: mentiu diante da lei” [14].

Parte 2

Durante o Iluminismo, o nacionalismo se tornou a nova religião civil, na qual o estado-nação não era apenas um substituto para a Igreja, mas um substituto de Deus; e a religião política se beneficiou ao se tornar mais tangível que a religião sobrenatural ao possuir os meios físicos da violência necessários para coagir a obediência e o seu financiamento. Os estados-nação providenciaram um novo tipo de salvação ou imortalidade: a morte de alguém não será em vão se é “pela nação”, que perdurará eternamente [15].
Este “mito da violência religiosa” toma vida com o teórico legalista John Rawls que dizia que o problema era de cunho teológico e a sua solução, política. Para Rawls, partindo do ponto de vista de que as pessoas acreditam na insolúvel rixa entre doutrinas teológicas sobre as quais matarão uns aos outros, um estado secular deve imperar [16]. De forma similar, a professora de Direito da Universidade de Stanford, Kathleen Sullivan – uma secularista – afirma que, como condição necessária para a paz, com o fim de impedir uma “guerra de uma seita contra todas as outras”, a religião deve ser banida do espaço público [17].
Como nota Canavaugh:

“Uma vez que o estado afirma a si mesmo como ente sagrado, ele voluntariamente o abandona, banindo o acesso à religião nos espaços públicos… assim, o que temos não é a separação entre a religião e a política, porém o contrário: a substituição da religião da Igreja pela religião do estado” [18].
Por conseguinte, em Abington Township School District vs. Schempp, o ministro da Suprema Corte de Justiça, Willian Brennan, declarou que a função do ensino público é:
(…) o de treinar o cidadão americano em uma atmosfera na qual as crianças devem assimilar a herança comum a todos os grupos e religiões americanas (…) Esta herança não é teísta ou ateísta, mas simplesmente cívica e patriótica. Uma fidelidade unida e patriótica aos Estados Unidos é a cura para as divisões públicas relacionadas à religião [19].
Discordando desta decisão, o juiz Potter Stewart, com acerto, alertou que a decisão do caso Abington não pode ser encarada “como a instituição da neutralidade dentro do estado, mas sim como a instituição da religião do secularismo.”[20]

A realidade de teocracia secular atual é o seu autoritarismo hipócrita que dribla os ensinamentos cristãos do direito natural. Cavanaugh resume bem a incoerência da teocracia secular que afirma que: “A violência deles – sendo maculada pela religião – é incontrolável, absolutista, fanática, irracional e divisiva. A nossa violência – sendo secular – é controlada, modesta, racional, benéfica, pacificadora e, às vezes, lamentavelmente, necessária para controlar a violência deles” [21]. O que é aterrador no “mito da violência religiosa” não é que ele se opõe a algum tipo de violência, mas que ele não apenas nega a condenação moral da violência secularista, como a considera como algo digno de elogio [22].

Em Politics as Religion, Emilio Gentile nota que a “religião da política” é “um sistema de crenças, mitos, rituais e símbolos que interpretam e definem o sentido e o fim da existência humana por meio da subordinação do destino dos indivíduos e da coletividade a uma entidade suprema”. A religião da política é a religião secular porque cria “uma aura de sacralidade em torno de uma entidade pertencente a este mundo” [23]. E, de acordo com Cavanaugh, “Às pessoas não é permitido matar ‘em nome do sectarismo religioso’ (…) Apenas o estado-nação pode matar (…) é este poder de organizar a morte que faz da religião civil americana a verdadeira religião da ordem social dos EUA” [24].

Entre a maioria dos cristãos dos Estados Unidos, por exemplo, poucos concordariam em matar em nome de Cristo, enquanto matar e morrer pelo estado-nação em uma guerra e suportar “nossas tropas” é plenamente aceitável. A divisória criada pela religião secular proporciona a lealdade dos cristãos à violência secular do estado-nação; incluindo guerras, torturas e “danos colaterais”; ao mesmo tempo em que evita o confronto direto com as crenças cristãs sobre a supremacia de Deus e os ensinamentos da Lei Natural [25].

Assim, a teocracia secular exalta a soberania e a força do estado que permeia toda a vida social e compele à obediência não apenas aos seus mandamentos mas também ao nacionalismo secular do Zeitgeist em si, no qual o povo é forçado a se conformar e a financiar. Esta visão de mundo domina o ambiente das escolas públicas, das universidades, da imprensa e de um crescente conjunto de domínios públicos no Direito, na saúde, no bem estar social, na previdência, no setor de transporte, no comércio, nos parques nacionais e nos centros de recreação, etc. Não coincidentemente, na era moderna, enquanto estados-nação desprezam a Deus, nota Cavanaugh, “pouco importa se a bandeira dos EUA não possua explicitamente uma referência a um deus. Ela não deixa de ser o objeto sagrado – talvez o mais sagrado – para a sociedade americana e é, por conseguinte, um objeto religioso de veneração” [26]. E a adoração na teocracia secular nas escolas e em eventos públicos consiste em cantar o hino nacional e a saudar a bandeira durante o “juramento de obediência”, o qual é descrito pelo autor socialista Francis Bellamy como sendo o “mesmo que o catecismo, ou a oração de um rei”.[27]

Em contraste, C. S. Lewis entendia que a Lei Natural se aplica a todo o comportamento humano incluindo aqueles praticados por oficiais do governo, e ele claramente dizia que o poder do governo era uma força perigosa que precisa ser estritamente limitada [28]. Ao contrário da interpretação secular da “Establishment Clause”, a questão não é a separação entre estado e Igreja em reinos distintos e conflitantes, mas a redução do poder estatal a níveis microscópicos com o objetivo de eliminar o establishment de uma igreja bancada pelo estado. Os indivíduos possuem direitos de propriedade que são sagrados e necessitam ser protegidos sob um estado de direito uniforme; o cristianismo nos instrui nas virtudes cívicas sobre as quais a lei depende, e bons fins apenas podem ser alcançados fazendo-se uso de bons meios. O resultado é o reconhecimento de que compelir as pessoas a algum regimento coletivista é ruim e produz imenso sofrimento humano. Lewis nota que:

Não gosto das pretensões do governo – as bases nas quais demanda a minha obediência – elevadas tão alto. Sou avesso às pretensões mágicas do curandeiro e ao Direito Divino dos Bourbon. Não apenas porque não creio em mágica ou na Politique dos Bossuet. Acredito em Deus, mas detesto a teocracia. Pois todo governo é constituído de meros homens e são, observados de forma estrita, um artifício temporário; se o governo inclui em seus mandamentos ‘Assim disse o Senhor’, ele mente, e mente perigosamente [29].
O ponto é que a Lei Natural é baseada na religio do cristianismo e determina uma fundação epistêmica e moral, e o contexto para a existência de todos como indivíduos; sendo que tais leis tornam possíveis a cooperação, as normas e as relações em uma comunidade. Atacar a Lei Natural em nome de uma teocracia secular é simultaneamente quebrar os laços de relação da comunidade, que servem de base para os direitos naturais de todos os indivíduos, estes entendidos como sendo livres e responsáveis.

Ademais, a solução é dar um fim à teocracia secular por meio da dessocialização do espaço público, não a sua tomada. Isto significa privatizar as escolas públicas, o transporte, os programas de bem estar social, a previdência, os parques nacionais e recreativos, o comércio, as áreas de destinação civil de todos os tipos, etc; e permitir que contratos e outras instituições privadas e comunitárias floresçam [30]. Aqueles que acreditam que tais domínios governamentais funcionam e que não devem obedecer aos princípios da Lei Natural estão todos enganando a si mesmos e terminarão abraçando o relativismo moral do utilitarismo.
Como notou mais adiante Lewis:

Cientes de que somos pecadores, percebemos que, como disse Lord Acton, “todo poder corrompe, e o poder absoluto corrompe absolutamente”. O único remédio tem sido livrar-se destes poderes… A teocracia foi devidamente abolida, não porque é ruim que sacerdotes governem o homem comum, mas porque os sacerdotes são homens iníquos como todos os outros.[31]

Escrito por David J. Theroux

Notas:
[1] C.S. Lewis, “Is Theology Poetry?” em The Weight of Glory and Other Addresses (San Francisco: HarperOne, 2001).
[2] C.S. Lewis, The Discarded Image: An Introduction to Medieval and Renaissance Literature (New York, Cambridge University Press, 1994).
[3] C.S. Lewis, The Abolition of Man (San Francisco: HarperOne, 1974), 44.
[4] Rodney Stark, The Victory of Reason: How Christianity Led to Freedom, Capitalism, and Western Success (New York: Random House, 2006).
[5] Alexis de Tocqueville, Democracy in America, tadução Delba Winthrop (Chicago: University of Chicago Press, 2002).
[6] William T. Cavanaugh, The Myth of Religious Violence: Secular Ideology and the Roots of Modern Conflict (Oxford: Oxford University Press, 2009), 62–68.
[7] Ibidem, 70.
[8] Ibidem, 79–83.
[9] Ibidem, 83–84.
[10] Ibidem, 113.
[11] Ibidem, 127.
[12] Charles Tilly, “Reflections on the History of European State-Making,” em The Formation of National States in Western Europe, ed. Charles Tilly (Princeton, N.J.: Princeton University Press, 1975), 42.
[13] Cavanaugh, 128.
[14] Jean-Jacques Rousseau, The Social Contract, tradução Willmoore Kendall (South Bend, IN: Gateway, 1954), 149.
[15] Cavanaugh, 114.
[16] Ibidem, 134.
[17] Ibidem, 135.
[18] Ibidem, 177.
[19] Abington Township School District v. Schempp, 374 U.S. 203 (1963), 307.
[20] Ibidem, 33.
[21] Cavanaugh, 211.
[22] Ibidem, 121.
[23] Emilio Gentile, Politics as Religion, tradução George Saunton (Princeton, N.J.: Princeton University Press, 2006), xiv.
[24] Cavanaugh, 118.
[25] Ibidem, 122,
[26] Ibidem, 106.
[27] Francis Bellamy, citado em Cecilia Elizabeth O’Leary, To Die For: the Paradox of American Patriotism (Princeton, N.J.: Princeton University Press, 1999), 178.
[28] David J. Theroux, “C. S. Lewis on Mere Liberty and the Evils of Statism,” Culture and Civilization (2010).
[29] C. S. Lewis, “Is Progress Possible? Willing Slaves of the Welfare State,” em C. S. Lewis, God in the Dock: Essays in Theology and Ethics, ed. Walter Hooper (Grand Rapids, Mich.: William B. Eerdmans, 1970), 315.
[30] David Beito, Peter Gordon and Alexander Tabarrok, eds., The Voluntary City: Choice, Community, and Civil Society (Ann Arbor, MI: University of Michigan Press for The Independent Institute, 2002).
[31] C. S. Lewis, The Weight of Glory and Other Addresses, 168–69.

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Fonte: http://www.independent.org/newsroom/article.asp?id=3206
David J. Theroux é Fundador, Presidente e Gerente Executivo do The Independent Institute e Editor da revista The Independent Review.
Tradução: Diogo de Siqueira e Silva