Artigos - Globalismo
O que a Rússia pode nos ensinar em matéria de moralidade? Durante todo o século XX, o país foi dominado pelo mais monstruoso, imoral e desumano sistema totalitário da história, capaz de superar, e muito, sua rival nazista.
Não deixa de ser cômico ver alguns ditos "tradicionalistas católicos" ou "conservadores" rendendo loas à atual Rússia do déspota elevado a "presidente" Vladmir Putin. A admiração que eles nutrem por este país tem uma motivação tacanha.
Coloco entre aspas esse "conservadorismo" porque lá tenho minhas dúvidas. A Rússia está vendendo a idéia de que é o bastião da "tradição" ao proibir paradas gays em Moscou ou quando eleva os valores da Igreja Ortodoxa.
Malgrado isso, agora surgiu, tanto na Europa, como na América Latina, um diminuto grupo sectário de "eurasianos" pró-Rússia, pró-Vladmir Putin, embebidos das idéias (ou serão pseudo-idéias?) do ideólogo Aleksandr Dugin (foto).
Se não bastassem a admiração pelos russos, idolatram também um "Oriente" idealizado, que seria o restaurador de uma ordem moral superior, de uma "sophia perenis", contra a decadência, o materialismo e o liberalismo do mundo ocidental. Alguns ditos "católicos" chegam a admirar até mesmo o islamismo mais terrorista!
Apesar de toda essa ladainha moralizante, prepotente e autoritária, na prática, porém, o que se vê nos ditos "tradicionalistas" pode ser qualquer coisa, menos algo tradicional.
Não escondo um sentimento de perplexidade em observar que a grande maioria jamais leu nada sobre a história da Rússia. Pelo contrário, tudo o que lêem a respeito é uma mistificação, tanto da Rússia, como do Oriente. A ideologia "eurasiana" de Dugin casa com o que há de mais grotesco e piorado na decadência do mundo ocidental sob alguma aparência de "tradição".
Na prática, não passa de um esoterismo vulgar de seita. Nesta doutrina, notamos os ares do fascismo, do nacional-bolchevismo, com pitadas delirantes de Julius Evola e muito haxixe a la René Guenón. Na pior das hipóteses, lembra as concepções ocultistas comuns aos movimentos nazi-fascistas e comunistas. Na prática, é uma revisão e atualização delas, sob uma máscara de "tradição".
Quase todo leitor que conheci de Guenón ou Evola parece nutrir uma admiração xucra ou rasteira por algum modelito totalitário pronto e acabado para a sociedade "decadente".
Sob a aparência de "espiritualidade" e de resgate cultural da civilização ocidental, vê-se o engodo despótico e a idolatria estatal, transformada em universo místico imanentista.
Ou na melhor das palavras, a traição da mensagem de Nosso Senhor, ao não separar César dos desígnios de Deus. "Sophia Perenis" é apenas um novo nome para a velha religião civil estatal de Rousseau.
O objeto de ódio obsessivo de Aleksandr Dugin e seus asseclas é o Ocidente. Mas qual Ocidente? Apenas o "decadente" Ocidente democrático e liberal? Naturalmente que não. Isso inclui também as elevadas tradições espirituais e intelectuais provindas da filosofia grega, da tradição judaico-cristã autêntica e da própria fé católica. Em suma, os charlatães eurasianos travestidos de "católicos" idealizam a destruição da Sé Romana, em troca da igrejinha estatal stalinista e eslavófila.
Porém, o que a Rússia pode nos ensinar em matéria de moralidade? Durante todo o século XX, o país foi dominado pelo mais monstruoso, imoral e desumano sistema totalitário da história, capaz de superar, e muito, sua rival nazista. Foi também o Estado russo que massacrou dezenas de milhões de seus concidadãos, além de espalhar toda sorte de mazelas morais, intelectuais e éticas no ocidente.
É muito fácil apontar o dedo contra a causa homossexual, quando foi a Rússia sua maior difusora, através das ações da KGB entre os intelectuais e meios culturais ocidentais.
O tal oriente russo provoca a decadência moral do ocidente e depois vem como o quebra-gelo de salvador da civilização? Foi diferente quando a Rússia soviética de Stálin promoveu Hitler até a invasão alemã de 1941? Quem é que não sabe que a KGB apoiou tudo que é movimento politicamente correto no mundo ocidental, para enfraquecê-lo moralmente na disputa da Guerra Fria? Pacifismo, gayzismo, relativismo moral, multiculturalismo racista. Tudo isso é, em grande parte, produto desta reles prostituta chamada "Mãe Rússia".
O que é a Rússia atual, depois de 80 anos de ditadura comunista? Uma sociedade corrupta, dominada pelo crime organizado, infestada de mais completo materialismo. A corrupção moral, longe de ser um acidente, já se tornou parte da vida cotidiana do povo russo.
Muita coisa na Rússia não funciona sem propina. Sem contar o alcoolismo, a desestrutura familiar, o aborto e a prostituição, já que muitos homens do Ocidente procuram as mulheres russas para turismo sexual. A censura e o assassinato de jornalistas dissidentes correm à solta. O Estado soviético tirou praticamente tudo do homem russo, inclusive sua consciência moral ou o que restava dela. E agora joga a culpa no Ocidente.
A Rússia teve quase um século de misérias, tiranias e depravações e agora o povo se sente incapacitado de viver em condições normais de moralidade. Os "católicos" de araque agora acham que a Rússia é um pouquinho mais moralista porque coloca gays na cadeia?
O Estado soviético fazia a mesma coisa e não se presume que Lênin ou Stálin sejam exemplos de santidade cristã.
Crer na santidade da Rússia é o mesmo que achar que a cafetina vai moralizar o convento ou o seminário de padres. Com certeza a Rússia não vai salvar a "sophia perenis" na civilização! Na verdade, conseguiu, como nunca, bestializar uma boa parte do mundo.
Curiosamente, esses "católicos" morrem de amores por uma Igreja cismática e estatal, como é o caso da Igreja Russa. No fundo, nutrem uma profunda hostilidade à Sé Romana, acusada de "modernista" ou de ter sucumbido ao mundo secular. Provavelmente sonham com uma igrejinha particular sem papa.
Entretanto, quem é que leva a sério essa instituição chamada "Igreja Ortodoxa", quando ela é comandada pela atual polícia política do Estado russo, a FSB? Lembro-me dos relatos do jornalista gaúcho Orlando Loureiro, lá por volta dos anos 50, quando entrava numa dessas igrejas e se deparava com um retrato de Stálin substituindo os ícones dos santos.
A pregação da homília era marxismo-leninismo em estado puro, com elogios rasgados ao tiranete da Geórgia. Não duvidaria que essa "nova" igreja ortodoxa qualquer dia colocasse os ícones sagrados de “São Vladmir Putin” e “São Aleksandr Dugin”. Na Igreja estatal, ou melhor, quando as palavras de Cristo são retorcidas, os principados e potestades do mal prevalecem. As portas do inferno prevalecem. Claro que a Igreja Ortodoxa Russa não é a Igreja de Cristo! O diabo tomou conta dela faz tempo!
Espantosa é a mitificação idolátrica pelo Oriente, representado pelo Islã e pela China. Por que será que os famigerados "tradicionalistas" admiram o Oriente? O que o Oriente tem para nos ensinar? É a tal "sophia perenis", conceito gnóstico roubado das obras de Guenón? Ainda me pergunto o que um país tão xenófobo, racista, autocrático e genocida como a China tem para ensinar ao Ocidente, já que é a nação, por excelência, da violação dos direitos humanos? Na gloriosa China "mística", crianças do sexo feminino são abandonadas à fome e à morte, tal como os pagãos da Roma Antiga faziam com seus filhos. Os chineses não concebem o indivíduo como tal. Na verdade, o elemento onipotente é o ogro finantrópico da coletividade ou do Estado.
E o que podemos buscar na Índia? Certa vez um hare krishna idiota veio atacar meu blog, querendo provar as maravilhas daquele país, afirmando que eram superiores à cultura ocidental e cristã. De forma abertamente desonesta, ele escondia as mazelas da Índia, dando por acidentais o que eram regras naquele país. Aliás, esse é o jogo dos "tradicionalistas" atuais.
Inventar uma caricatura do Ocidente decadente, quando na prática, idealizam uma sociedade oriental que não existe na prática, ou que é mais decadente ainda. Todavia, esconder as mazelas da Índia é um serviço hercúleo demais para um reles mentiroso apegado às suas crendices supersticiosas.
A Índia maravilhosa dos hare krishnas e das novelas da Rede Globo é aquela em que uma vaca tem tratamento melhor do que um ser humano e onde milhões de pessoas tomam banho num rio poluído e dito "sagrado", onde se jogam merda e cadáveres. Há seitas hindus fanáticas que comem até corpos humanos em estado de putrefação, em adoração ao deus Shiva.
A Índia maravilhosa é um país onde as mulheres ocidentais podem ser estupradas na rua e onde era costume queimar vivas as viúvas, para que acompanhassem seus maridos mortos. A Índia é também a nação da perversa sociedade de castas, do animismo, da superstição e do fanatismo em todas as suas formas mais bizarras. Com certeza não é a antiguidade da cultura védica que vai tornar a Índia mais legítima nas suas tradições!
E agora há gente admiradora do islamismo no meio "conservador". Aquele mesmo islamismo que um dia destruiu a Cristandade do norte da África, invadiu a Espanha, assolou a Europa e o Mediterrâneo. E esse mesmo islamismo que um dia sonha em ser um império mundial, sob o cadáver dos cristãos da atualidade. Talvez os ditos cristãos eurasianos sonhem com burkas, na falta do piedoso véu tridentino.
É mais ofensivo a essa gente estúpida uma mulher mostrar os ombros do que os terroristas islâmicos estuprarem, degolarem ou explodirem pessoas inocentes. Tal é o estado a inversão psicológica e moral desse povo.
Mas não custa nada observar um mero detalhe: a idolatria do Estado como entidade moral superior na sociedade é uma das maiores perversões psicológicas destes grupelhos. Não é curioso que este pessoal creia piamente que o Estado deva ditar para nós o que escolher? Uma característica óbvia de uma sociedade moralmente saudável é quando as pessoas cumprem esse código ético de valores sob o mínimo de coerção.
A ética autêntica é aquela internalizada na atitude consciente e na voluntariedade. O "conservador" eurasiano não pensa na ética em termos de ação individual e consciente, motivada pela busca voluntária do bem e orientada pela prudência e justa reta razão. "Ética", para ele, é tão somente obedecer cegamente um Estado iluminado, elevado como um bem por si mesmo. O "bem", por assim dizer, é aquilo que o Estado é ou determina.
Ainda que justifiquem suas canalhices em nome da "tradição" ou do ódio à modernidade, na prática, porém, são genuinamente modernos, no mesmo sentido de que qualquer sistema perfeitamente totalitário é.
A doutrina eurasiana não passa de um irracionalismo extremo disfarçado de "tradição". Como uma ideologia parasitária, ela mesma é a negação da tradição. E como toda ideologia totalitária, promete tão somente a destruição, em nome de um mundo ideal, hipotético e futurista, usurpando a linguagem e os valores do bem comum.
28 de julho de 2013
Leonardo Bruno