"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sábado, 12 de maio de 2012

FILHOS DA GUERRA SUJA - PARTE 2



stela de Carlotto, que assumiu o cargo de Chicha, era outra avó em busca de um bebê perdido. Em abril de 1978, Estela, na época diretora de uma escola em La Plata, soube por intermédio de uma ex-presa que sua filha, Laura, sequestrada em novembro de 1977, estava num campo de detenção chamado La Cacha e estava grávida. Estela conhecia a irmã de um general importante e foi pedir a ele que interferisse pela libertação da filha. O único efeito desse conhecimento foi que, alguns meses depois, Estela e o marido foram convocados a comparecer a uma delegacia de polícia para receber o cadáver da filha crivado de balas. Estela uniu-se às Abuelas de Plaza de Mayo alguns dias depois.

Numa viagem ao Brasil, em 1980, para entrevistar exilados sobreviventes dos campos de detenção, Estela conheceu Alcira Ríos, advogada, e seu marido, Luís Córdoba, dois dos cinco únicos prisioneiros de La Cacha, em 1978, que haviam sobrevivido ao campo. Em La Cacha, Alcira, que durante cinco meses foi mantida acorrentada a uma parede num fosso semelhante a uma caverna, conhecera Laura, que fora levada para lá dez meses antes. Quando o marido de Alcira foi cruelmente torturado e adoeceu com uma infecção, Laura cuidou dele e usou sua influência junto aos guardas para conseguir antibióticos. Nessa altura, ela já dera à luz um bebê chamado Guido, em homenagem ao avô. Depois do nascimento, disseram para Laura que seu bebê seria levado para a avó. Alcira lembrava-se de como Laura chorava e gemia: “Eu tenho um filho! Onde en mierda ele está?” Em agosto de 1978, disseram para Laura que ela ia ser levada para a Escuela Superior de Mecánica de la Armada, o mais temido campo de detenção do país, onde ela seria preparada para ser solta. Disseram que em breve estaria em casa, com seu filho e sua mãe. No dia 24 de agosto, na noite de sua “transferência”, ela teve permissão para despedir-se dos outros prisioneiros em La Cacha. Rastejou para dentro da caverna de Alcira e lhe pediu alguma coisa para poder se lembrar dela. “O que eu tinha que pudesse lhe dar?”, me disse Alcira. “Só tinha as roupas com que havia sido sequestrada. Mas eu tinha um sutiã, de renda preta. Dei para ela e Laura pôs o sutiã.” Anos depois, quando as investigações dos crimes da Guerra Suja estavam em andamento, o corpo de Laura foi exumado; tinha sido enterrada com o sutiã preto de Alcira.

Em 1984, Alcira voltou do exílio e Estela convidou-a para trabalhar para as Abuelas. A situação legal em que se viu envolvida era complexa. Um ano antes, a liderança militar argentina, humilhada pelos ingleses na Guerra das Malvinas, cedera o poder a um governo eleito democraticamente, chefiado pelo presidente Raúl Alfonsín. Em 1985, um inédito relatório da Comissão da Verdade para apurar os Crimes da Guerra Suja, intitulado “Nunca Mais”, redundou no julgamento e na prisão de, entre outros, nove ex-líderes da Junta Militar. Mas em 1986, sentindo-se ameaçado pela agitação militar que sucedeu os julgamentos, Alfonsín aprovou uma lei nova, Ponto Final, que punha um fim às investigações sobre a violência política durante a Guerra Suja. No ano seguinte, uma outra lei, Obediência Devida, determinava que as pessoas não podiam ser perseguidas por crimes cometidos no cumprimento de ordens de seus superiores. Em 1990, o sucessor de Alfonsín, presidente Carlos Menem, perdoou e libertou os líderes da Junta. Os argentinos, oficialmente livres da ditadura, eram, no entanto, obrigados a viver numa acomodação passiva com seus crimes e seus criminosos. Alguns dos mais famigerados sádicos da Junta Militar vagavam por Buenos Aires com sorrisos desafiadores e contavam suas histórias na televisão. Mulheres cruzavam no supermercado com seus torturadores e estupradores. Policiais veteranos recebiam em suas casas de campo velhos colegas de farda para parrilladas e brindavam uns aos outros como heróis que haviam salvado a nação do comunismo.



asos de roubo de bebês forneciam uma pequena brecha às leis da anistia: pais condenados nos tribunais por terem adotado filhos de desaparecidos – ou “se apropriado” deles –, sabendo da verdade sobre sua origem, podiam ser presos. Em 1998, as Abuelas, em conjunto com outro grupo de direitos humanos, investigaram o caso de Claudia Poblete. Ela e os pais foram sequestrados em 1978, quando tinha 8 meses de idade. Seus pais foram torturados e mortos e Claudia foi criada por um militar e sua mulher. Por meio do exame de dna, as Abuelas identificaram a família de Claudia, então com 21 anos de idade, e seus pais adotivos foram condenados à prisão. (A mãe adotiva, com mais de 70 anos na época, teve permissão para cumprir a pena em regime de prisão domiciliar.) Segundo as leis da anistia, no entanto, os dois policiais responsáveis pelo sequestro, tortura e assassinato dos pais biológicos de Claudia não podiam ser processados. O juiz do caso, Gabriel Cavallo, num arrazoado de 188 páginas, argumentou que as leis Ponto Final e Obediência Devida estavam em conflito com a obrigação que a Argentina havia assumido, perante as leis internacionais, de levar a julgamento os responsáveis por crimes contra a humanidade. As duas leis foram revogadas pelo Congresso Nacional em 2003 e consideradas inconstitucionais pela Corte Suprema em 2005. Os dois policiais do caso Claudia, detidos em 2003, foram os primeiros processados por desaparecimentos desde 1987. Um morreu no hospital de uma prisão em abril de 2006, antes do começo do julgamento; o outro foi condenado a 25 anos de prisão.

Embora o caso tenha sido um triunfo histórico para as Abuelas, o grupo também sofreu repetidas frustrações: muitos exames de DNA deram negativo; nem todos os netos recuperados aceitaram os avós biológicos, para eles, pessoas estranhas. Muitos, fiéis aos únicos pais que haviam conhecido, se recusavam até a fazer o exame. Em 1983, Chicha Mariani achou que tinha encontrado sua neta, uma garota com uma história muito parecida com a de Clara Anahí. “Quando se constatou que não era ela, senti a terra se abrir debaixo de meus pés”, disse Chicha. Mais tarde, naquele mesmo ano, ela viu num jornal a fotografia de Marcela Noble Herrera, filha adotiva da proprietária da maior empresa de comunicação do país, e achou que talvez tivesse afinal descoberto a menina que tanto procurava. “A primeira vez que vi Marcela”, contou-me, sorvendo mate no café da manhã, com bananas e coalhada, em sua mesa de jantar coberta de documentos, “foi logo depois de Alfonsín tomar posse como presidente. Marcela estava de meias Morley” – meias com reforços nos joelhos – “iguais às meias que eu usava antigamente. E as pernas eram iguaizinhas às minhas. Vi as fotos dela na Inglaterra, na França, com presidentes e reis, e com o papa. Eu a vi crescer. Tem o mesmo corpo da mãe de minha nora. E sua personalidade parece ser semelhante à nossa – reservada, discreta, sincera, sensível e muito inteligente.”



a ocasião em que conversei com Chicha, no ano passado, a questão da paternidade biológica de Marcela Noble Herrera se tornara central no relato das décadas de esforços, esperança e dor das Abuelas. Estava também no centro de um caso legal que havia envolvido a elite da mídia e da política argentina numa prolongada batalha pública. Um caso que passara a representar a reação volúvel, e não raro paradoxal, da Argentina com respeito a seu passado violento e que havia fascinado boa parte da população por mais de dez anos.

A história de Marcela começa com Ernestina Herrera de Noble, a mulher que a adotou em 1976. Ernestina era a viúva de Roberto Noble, fundador do império de mídia Clarín, que começou com um jornal, Clarín, e agora inclui estações de rádio e televisão, além do mais popular site de notícias da internet em língua espanhola na América Latina. Ernestina, de origem humilde, era 23 anos mais jovem do que o marido e foi nomeada proprietária e diretora titular do Grupo Clarín quando ele morreu, em 1969, embora a direção efetiva da empresa tenha ficado nas mãos de um círculo de executivos em quem Noble confiava. (A única filha de Noble, que ele tivera com outra mulher, aceitou um acordo em troca da renúncia a qualquer pretensão sobre a propriedade do grupo.) Em 1976, quando a Junta Militar tomou o poder, Ernestina tinha 50 anos e parecia estar no auge da crise de meia-idade. Dizem que era propensa a ceder a impulsos destemperados, a beber, e que também passava seus dias em iates com novos amigos. Segundo a jornalista Graciela Mochkofsky, que no último mês de agosto publicou, na Argentina, um livro intitulado Pecado Original: Clarín, los Kirchner y la Lucha por el Poder, os membros da diretoria do Clarín, preocupados com o futuro da empresa e com as próprias carreiras, caso algo acontecesse com Ernestina, apresentaram-lhe uma proposta. Ela adotaria duas crianças, disseram, e as nomearia herdeiras do Clarín. Então, se Ernestina morresse antes de as crianças chegarem à idade adulta, os homens da diretoria poderiam ser os regentes da empresa, até os jovens ficarem aptos a herdá-la. Ernestina concordou com o plano. Entre os executivos do Clarín estavam Rogelio Frigerio, que tinha sido o segundo homem na hierarquia do Ministério da Economia entre 1958 e 1962, e um advogado chamado Bernardo Sofovich. Esses homens incumbiram-se de encontrar dois bebês para Ernestina, uma menina e um menino, e naquele verão um Juizado de Menores conferiu a ela a guarda das crianças que se tornariam Marcela e Felipe Noble Herrera, herdeiros de uma fortuna que agora alcança muitos milhões.

O Clarín nunca se opôs abertamente ao regime militar e, em 1976, a empresa lucrou devido a suas relações amistosas com a Junta quando lhe foi oferecida uma parceria na primeira indústria de papel do país, Papel Prensa. (A maioria dos jornais concorrentes ainda tinha de importar papel.) O negócio impulsionou a expansão econômica do Grupo Clarín, dirigido por Héctor Magnetto, ex-contador da empresa e seu futuro presidente. Em 1985, o Clarín era um dos jornais em língua espanhola de maior circulação no mundo inteiro.



urante as duas primeiras décadas depois da Guerra Suja, os presidentes argentinos geralmente encaravam o Grupo Clarín como um rival ou um adversário, a ser cortejado ou contestado. Mas o Clarín nunca seguiu um programa ideológico bem definido; a empresa estava mais preocupada com o fato de cada governo representar uma oportunidade para seus negócios ou uma barreira para sua expansão. O presidente Alfonsín resistiu à pressão do Clarín para revogar uma lei que impedia que jornais comprassem estações de rádio ou de televisão. Quando a desordem política e a vasta impopularidade afundou o governo de Alfonsín, ele culpou o Clarín. Carlos Menem, que governou como um neoliberal privatizante, revogou aquela lei e, em troca, esperava o apoio do Clarín. De início, o Clarín, cujas empresas de mídia associadas se expandiram acentuadamente, atendeu suas expectativas. Mas quando outros jornais começaram a publicar investigações sobre corrupção no governo Menem, o Clarín, para não se tornar irrelevante, imitou-os de maneira agressiva. Menem tinha tanto medo do Clarín que incentivou seus aliados ricos a construírem um império de mídia concorrente. Quando isso desmoronou, junto com as ambições de Menem, o grupo Clarín apoderou-se dos despojos.

Em 2001, a economia da Argentina entrou em colapso, desencadeando uma corrida aos bancos, o efetivo congelamento das poupanças individuais, protestos de massa nas ruas, uma série de mandatos presidenciais anulados, a repentina desvalorização do peso, um calote da dívida externa do país e o descrédito dos políticos tradicionais de todos os principais partidos. Em 2003, Néstor Kirchner, ex-governador de uma remota província na Patagônia, foi eleito presidente de uma Argentina desmoralizada e humilhada. O governo de Kirchner despejou dinheiro em programas sociais e o índice de pobreza do país caiu pela metade. Uma grande alta do preço da soja ajudou a impulsionar a recuperação da economia. Num de seus primeiros atos como presidente, Kirchner retirou os retratos dos ex-líderes da Junta Militar da galeria do Colégio Militar. Transformou em lei a revogação das Leis Ponto Final e Obediência Devida e converteu as então já idosas integrantes das Madres e Abuelas de Plaza de Mayo em ícones de seu governo, instalando-as de forma solene a seu lado em eventos públicos, e dizia: “Nós todos somos filhos das Madres e Abuelas de Plaza de Mayo.” Seu governo indicou Estela de Carlotto para o Prêmio Nobel da Paz. Em janeiro de 2006, as Madres encerraram suas passeatas semanais e anunciaram que o Palácio Presidencial não abrigava mais um inimigo.

Ao mesmo tempo, Kirchner e sua mulher, Cristina Fernández de Kirchner, acumularam uma fortuna espantosa e surgiram denúncias de corrupção e de favorecimentos ilícitos. Em 2007, Kirchner declarou que iria se afastar para que Cristina pudesse concorrer à Presidência: marido e mulheresperavam se alternar no poder por mais doze anos. Em dezembro daquele ano, porém, menos de uma semana depois de Cristina ser eleita, o Clarín publicou uma incendiária matéria de primeira página afirmando que um venezuelano detido com uma mala cheia de dinheiro no aeroporto de Ezeiza, em Buenos Aires, no mês de agosto, trazia uma doação não declarada do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, para financiar a campanha dela. A matéria não agradou a Kirchner, que mantivera uma forte aliança com o Clarín e com Héctor Magnetto durante todo o seu mandato e, dez dias antes, havia suprimido barreiras de leis antitruste a fim de permitir que o Clarín fundisse duas empresas de transmissão de dados por cabo. (Em 2009, esse negócio representava 60% das receitas do Clarín.) A partir daí, até a repentina morte de Néstor Kirchner em 2010, causada por um ataque cardíaco, o casal Kirchner esteve unido numa feroz luta pública contra o Clarín.

Era comum dizer na Argentina que nenhum governo poderia sobreviver a quatro tapas– manchetes da primeira página do jornal – negativas e consecutivas, mas Cristina se vangloriava de que “havia batido o recorde”. A Guerra contra o Clarín, como é amplamente conhecida na Argentina, foi travada em várias frentes: Cristina aprovou leis antimonopólio e leis da mídia que já começaram a encolher o domínio do grupo. Seu governo também acusou o Clarín e outro jornal de terem adquirido suas ações da fábrica Papel Prensa com o conhecimento, senão com a efetiva cumplicidade, do sequestro, tortura e assassinato de membros da família e de sócios dos donos originais da fábrica cometidos pelos militares. (O Clarín está se defendendo de tal acusação num processo em andamento na Justiça.) Mas, em 2009, a batalha emblemática tanto para os Kirchner quanto para o Clarín dizia respeito à origem dos filhos adotivos de Ernestina Herrera de Noble.



arcela e Felipe quase nunca são vistos em público e os detalhes de suas vidas particulares são guardados a sete chaves, embora se saiba que Marcela estudou jornalismo na Universidade Católica e agora trabalha no Clarín, preparando-se para, um dia, suceder à mãe. Tem pele bonita, é loura, de rosto grande e aspecto reservado. Muitas vezes usa roupas simples e conservadoras da Zara, uma rede espanhola de lojas relativamente baratas. Felipe tem pele mais morena, é atarracado, com um início de calvície. Estudou desenho industrial e dizem ser ainda mais reservado do que a irmã.

Pouco depois do fim do regime militar, as Abuelas de Plaza de Mayo começaram a ouvir rumores de que os irmãos eram filhos de dissidentes desaparecidos. Na época, as Abuelas trabalhavam com um sistema jurídico nem um pouco cooperativo – muitos juízes ainda tinham laços com a ditadura –, nem sempre contavam com o apoio da mídia. Sob o governo da Junta Militar, o Clarín, como a maioria dos jornais argentinos, se recusava a publicar notas sobre pessoas desaparecidas enviadas pelas Madres e Abuelas. Depois, quando o governo Alfonsín recebeu aplausos por sua Comissão da Verdade, o jornal começou a publicar editoriais dando apoio à causa das Abuelas. As Abuelas sabiam que era importante manter do seu lado o jornal mais popular do país. Mas era difícil fazerem-se de surdas no caso dos filhos de Ernestina. Ainda mais quando se dizia que duas das figuras mais sinistras da Guerra Suja, o bispo Antonio Plaza e o general Ramón Camps, estavam envolvidas na tarefa de conseguir crianças para ela adotar.

Durante o regime militar, o bispo Plaza era o capelão da Polícia da Província de Buenos Aires, comandada por Camps. Plaza denunciou à polícia dúzias de pessoas que depois desapareceram, entre elas o próprio sobrinho, que o havia procurado para pedir ajuda. Muitas vezes, Plaza acompanhava Camps em suas rondas em centros de detenção e de tortura, e mais tarde elogiou as leis de anistia da Guerra Suja. Dizia que elas poupariam os policiais do destino do “pobre Eichmann”, oficial nazista responsável pelo extermínio de judeus, condenado à morte por um tribunal de Israel após ser sequestrado por agentes israelenses, em Buenos Aires, onde se escondia. Camps era antissemita (havia um número desproporcional de judeus argentinos entre os desaparecidos) e sádico. É tido como o responsável por milhares de sequestros, centenas de homicídios, dois estupros, dez roubos de bebês e dois abortos provocados por tortura. Plaza morreu em 1987. Camps foi considerado culpado de 73 acusações de tortura e, em 1986, foi sentenciado a 25 anos de prisão. Foi libertado pelas leis de perdão e morreu em 1994.

Em 1992, Estela de Carlotto pediu uma reunião com Ernestina Herrera de Noble, que designou Magnetto, o presidente de sua empresa, para falar por ela. Seguiram-se três encontros incômodos. “Como poderia la señora ter dois filhos de terroristas?”, perguntou Magnetto em tom queixoso. Acusações desse tipo só poderiam ter motivação política ou financeira, argumentou. Num encontro posterior, segundo um advogado das Abuelas, Magnetto se propôs a revelar a verdadeira identidade dos filhos, se Estela lhe dissesse quais eram as fontes daquela acusação. (O porta-voz do Clarín negou ter feito tal proposta.)



s Abuelas levaram dois anos para ter acesso aos registros de adoção de Marcela e Felipe. Na Argentina, como em todos os países da América Latina, as adoções eram regulamentadas de maneira frouxa, no melhor dos casos, mas alguns detalhes dos registros chamaram a atenção de Alcira Ríos. As duas adoções foram realizadas com uma pressa fora do comum e pelo mesmo juiz de menores, no município de San Isidro. Não havia nenhum registro do nascimento ou do hospital. Em geral, só isso já bastaria para justificar uma investigação das Abuelas. Por outro lado, as adoções de Marcela e Felipe, em maio e julho de 1976, respectivamente, ocorreram num momento precoce da ditadura e as datas não pareciam corresponder às datas conhecidas de nascimento em centros de detenção ou de roubos de bebês na jurisdição da corte de San Isidro. As Abuelas, com tantas investigações para realizar, decidiram deixar o assunto de lado.

No entanto, alguns anos depois, quando os rumores foram mencionados de novo durante o julgamento de um caso que não tinha relação com aquele, e insinuou-se que as Abuelas haviam menosprezado as suspeitas em deferência à riqueza e ao poder do Grupo Clarín, Estela e Alcira resolveram agir. Pediram à corte de San Isidro para abrir uma investigação e o juiz, Roberto Marquevich, logo tinha sobre a mesa as pastas do processo das adoções. Muitas pessoas envolvidas, inclusive o executivo do Clarín Bernardo Sofovich e a juíza que havia aprovado as adoções, Ofelia Hejt, já haviam morrido; outros, como o executivo do Clarín Rogelio Frigerio, estavam velhos demais, ou mentalmente senis, para testemunhar. Mas em 2001, Marquevich convocou todos que pôde alcançar, a fim de reconstituir a história.



egundo os arquivos, no dia 13 de maio de 1976, Ernestina testemunhou que na manhã de 2 de maio, em sua casa de campo em San Isidro, ouviu o choro de um bebê. Quando abriu a porta da frente, deparou com uma menina numa caixa de papelão. Manteve o bebê em casa por alguns dias, para o caso de alguém aparecer para reclamar a menina. Depois a levou para o Juizado a fim de comunicar o que havia ocorrido e também a um pediatra, acompanhada por sua vizinha, Yolanda Echagüe de Aragón, que havia presenciado a descoberta do bebê dentro da caixa. Ernestina contou para o Juizado que Roberto García, administrador de uma fazenda próxima, também tinha visto o bebê na porta da casa. No dia seguinte, sem fazer o menor esforço para conferir a história nem para identificar a mãe do bebê, a juíza Ofelia Hejt concedeu a custódia da criança a Ernestina e atribuiu uma data de nascimento para a menina, 23 de março de 1976, um dia antes do golpe militar. Entre as três testemunhas que deram boas referências do caráter de Ernestina, estava o bispo Plaza.

A pasta dos documentos de Felipe Noble Herrera foi aberta algumas semanas depois. Uma estudante de direito que se identificou como Carmen Luisa Delta, 25 anos de idade, disse que dera à luz um menino no dia 17 de abril, sem registrar o nascimento em nenhum hospital e sem nenhum pediatra. No dia 7 de julho, quando ela levou o bebê ao Juizado para entregá-lo para adoção, calhou de Ernestina estar lá e no mesmo dia recebeu a guarda da criança. No mês de maio seguinte, as duas adoções foram oficializadas.

Em 2001, Yolanda Echagüe de Aragón já havia morrido, mas constatou-se que tinha morado não na casa vizinha àquela que Ernestina dissera ser sua, mas a um quarteirão dali. A outra testemunha citada por Ernestina, Roberto García, atendeu à convocação de Marquevich. Disse ao juiz que nunca fora administrador de nenhuma fazenda em San Isidro. Tinha sido motorista de Roberto Noble e depois de Ernestina, até se aposentar em 1977. Contou que Ernestina nunca tinha morado numa casa em San Isidro, embora de vez em quando ele a levasse lá para visitar um chalé, cujo endereço exato não conseguia lembrar. Admitiu que a assinatura na declaração das testemunhas parecia ser a sua, mas disse que nunca tinha ido ao Juizado de Menores de San Isidro. Os advogados do Clarín, revelou ele, lhe trouxeram alguns documentos para assinar. Classificou de “mentiras” o relato de Ernestina das ações atribuídas a ele.

Carmen Luisa Delta, a estudante de direito que supostamente entregara Felipe para adoção, nunca existiu, pelo menos não com esse nome; o número de sua identidade correspondia à de um homem chamado Hugo Tarkowski.

A juíza Ofelia Hejt recebeu sua nomeação para o Juizado de Menores no início da ditadura. Em 1977, segundo os registros das Abuelas, ela autorizou a adoção de um bebê de 3 meses, apesar de haver indícios de que os pais do menino haviam desaparecido. Em 1984, as Abuelas descobriram o menino e restauraram sua identidade verdadeira.

No final de 2001, seis meses depois de abrir a investigação, o juiz Marquevich disse para Alcira que o caso não poderia prosseguir antes que se designasse uma parte queixosa. Nenhuma família nos registros das Abuelas estava em busca de crianças cujas supostas datas de nascimento coincidissem exatamente com as de Marcela e Felipe, mas Alcira sabia que os documentos de Ernestina estavam cheios de mentiras. Por que as datas de nascimento deveriam ser tratadas como dignas de crédito? Escolheu duas famílias que avaliou como mais prováveis, embora soubesse que eram reduzidas as chances de se descobrir que alguma delas tinha relação com Marcela ou Felipe. Um dos queixosos era a família de María del Carmen Gualdero, que estava grávida de nove meses quando foi sequestrada, em junho de 1976, perto de San Isidro; não se sabia se ela dera à luz no cativeiro ou não. A outra família estava em busca de Matilde Lanuscou. Durante anos, supôs-se que Matilde havia morrido aos 6 meses de idade, com os pais e dois irmãos numa investida de militares contra sua casa em San Isidro, em setembro de 1976. Mas quando exumaram as sepulturas, após a ditadura, o caixão de Matilde continha apenas roupas de bebê e uma chupeta. Era possível que ela continuasse viva, em algum lugar, e que pudesse até ser Marcela Noble Herrera.

 12 de maio de 2012

CAPÍTULO ANTERIOR - ARQUIVO DE 11 DE MAIO DE 2012

A DIFERENÇA

A economia brasileira parece sentir o balanço da crise mundial de forma mais aguda. Um dos sinais é o arrefecimento do consumo e a queda na produção industrial que sofre uma concorrência desleal frente as importações, principalmente chinesas, que aqui aportam a preços irrisórios ante o produto similar da nossa indústria.

O custo dos chineses, por exemplo, na produção e formação de preço final está restrita a utilização da matéria prima e de maquinários. Já o custo Brasil é assombroso para a mesma produção. Esta situação impede o crescimento industrial e sua expansão interna e externa e comprimem salários perante a impossibilidade de maiores ganhos, lucros. O investimento é moroso.
Expandir o crédito e tão somente isso não vai ser item impulsionador para esse investimento e muito menos ainda para a sustentabilidade econômica do trabalhador brasileiro. O foco está desvirtuado. O crédito tem seu efeito positivo momentâneo, passageiro.
Com a alta do preço dos produtos básicos, o assalariado em pouco tempo começa a perceber que não há a mesma proporcionalidade nos aumentos do seu ganho. Muito melhor e eficaz a redução de impostos/tributos aos produtos essenciais a sobrevivência do brasileiro do que redução em tributos para indústria automobilística, IOF e por aí vai. Isto porque esses produtos, via maquiagens, podem subir de preços rapidamente e a alíquota some nos cálculos.

Não só os pátios das montadoras de automóveis estão abarrotados. Os pátios dos bancos que financiaram também estão. As commodities estão sofrendo quedas acentuadas de preços e de encomenda. A dependência da nossa economia da China está trazendo enormes riscos. A indústria chinesa está em processo de retração e com isso a sua necessidade de importação está desacelerada. Como a China e a Europa são os maiores importadores, o sinal de alerta está mais que vermelho, está rubro. A austeridade de governos europeus impôs queda de salários e consumo e com isso redução da atividade industrial. A China como fornecedora desse mercado acusou o golpe e este é repassado ao Brasil, resultado de uma economia global. Os tempos são outros.

Acredito que existem, no momento atual, poucas propostas de soluções que realmente resolvam na construção do muro para reter esses efeitos na economia brasileira. Uma delas é a redução ampla da carga tributária, não apenas setoriais, que na verdade são repassadas a outros setores. É aberrante o resultado dos cálculos que demonstram que os brasileiros pagam anualmente cerca de 200 bilhões de juros, o que vai dar para cada cliente bancário 3,6 mil reais. Estes cálculos da empresa Austin Rating, de Erivelto Rodrigues, permitem uma visão cruel do sistema financeiro com a população. Os lucros são astronômicos. O governo tem por obrigação reduzir a sua participação nessa ciranda para então fazer cobrança por justa causa.

Outra solução proposta, já explicada neste espaço, é a construção de novas formas de funcionamento de nossa economia. Ela se baseia na formatação de duas semanas em uma, ou seja, de segunda a quinta feira seria o turno normal e existente de trabalho. Teria um dia reduzido e com vigência de todos os direitos e obrigações existentes para a semana de 40 horas.

Para a segunda semana, de sexta feira ao domingo, uma legislação especial normatizaria a relação emprego e trabalho. Sugeri que ficasse a cargo do setor produtivo apenas o recolhimento da parte do sistema previdenciário e excluídos todos os benefícios deste nas rescisões contratuais, com liberação imediata do fundo de garantia, nos casos de responsabilidade do empregador, o equivalente ao mínimo mensal para a subsistência. A indústria estaria isenta de qualquer recolhimento de tributos para a produção efetuada nesse período, mas com a obrigação de investir em sua expansão um mínimo do arrecadado nessa semana de três dias. Estaria proibida a contratação de empregados que tivessem registro no turno semanal normal, exceto se comprovada a necessidade da mão de obra especializada. O salário seria calculado em dias de trabalho, baseado no salário correspondente da semana normal.

Nessa situação de funcionamento da produção brasileira, aumentaria a circulação de riquezas e teria enorme expansão o mercado de trabalho. Muitos serão os pontos de melhoria para a economia, até mesmo para a formação profissional dos trabalhadores ante o tempo ofertado pelo sistema proposto. Isto fará a diferença.

12 de maio de 2012
Raphael Curvo
Jornalista, advogado pela PUC-RIO e pós graduado pela Cândido Mendes-

A MÃE DO PAC QUE TRATA EMPREITEIROS COMO FILHOS AMEAÇA HILLARY NO RANKING DA FORBES




Atrás apenas de Hillary Clinton, a presidente Dilma Rousseff aparece em segundo lugar no ranking das mães mais poderosas do mundo, concebido pela revista Forbes. Muito justo, concordam os empresários premiados com obras públicas.
Promovida por Lula a Mãe do PAC, Dilma Rousseff passou a tratá-los como filhos carentes. Sem os contratos superfaturados distribuídos pelo maior balaio de obras atrasadas, imaginárias ou natimortas do planeta, muitos já teriam mudado de ramo, outros tantos estariam falidos, a Delta seria uma microempresa e Fernando Cavendish não passaria de um pequeno vigarista com sobrenome de pirata.
Para sorte da turma, a Mãe do PAC é uma mãe para os empreiteiros amigos. Pelo que já fez, merece a medalha de prata concedida pela Forbes. Se endossar o acerto bandido entre o J&S e a Delta, mostrará que é muito mais poderosa que Hillary Clinton.
E os organizadores do ranking terão de reconhecer que, também nesse ramo, com o Brasil ninguém pode.
PS - Nossos dois ilustres últimos presidentes do Brasil, Lula/Dilma são de fato a FLOR de LÓTUS, que simboliza a elevação e expansão espiritual nesse mar de lama que hoje nossa política está atolada.
Nunca antes neste PLANETA, existiu figuras de porte moral e ético que, pudessem merecer às baciadas, medalhas de honra ao mérito, títulos de doutorado, como também, aparecer no ranking da Revista Forbes, como a mulher firme e forte do PLANETA TERRA.
Pra comeco de conversa, quem é essa tal de Hilary Clinton, não sabemos nada sobre o seu desempenho nas questões de superfaturamento nos contratos do governo Obama.
Que injustiça é essa? A mãe do PAC é a número 1 ( UM) em serviços prestados à nossa Nação milionária, porém, comprometida com acertos espúrios, obscuros e assombrosos. Essa força inovadora da canalha oficial, é fundamental para constar na primeira fileira das manchetes das grandes revistas do Planeta. O brasileiro indecente, agradece, e se enche de orgulho.

Augusto Nunes - Veja Online
12 de maio de 2012
Movcc

ADMIRADOR DE DITADORES SANGUINÁRIOS AGRADECE PRÊMIO RECEBIDO NA HOLANDA



Lula ganhou o prêmio, segundo a fundação, por "ter demonstrado ao longo de toda a sua vida um compromisso com a justiça social e econômica, e por ter contribuído para promover um clima de paz e conciliação entre as nações do mundo". Aqui

PS - Lula Jong il da Silva Castro, mais conhecido como agitador das classes sociais e grande admirador de governos de ditadores sanguinários, entre eles, Joseph Stalin, Adolf Hitler, Muamar Kadafi, ( intitulava-se irmão, devido a grande afinidade de espírito) Mahmoud Ahmadinejad, Raul Castro, Chávez e muitos outros visitados com fervor pelo Apedeuta quando governou o Brasil para os seus aliados do mensalão.
Pois bem, decorou bem o discurso, embora, com muita dificuldade em pronunciar o bom português. Surpreende até em fazer colocações metafísicas, colocando-se como homem de grandeza espiritual à serviço do bem estar da humanidade, revelando-se um estadista de grande porte, empenhado na conquista da liberdade de todos os povos. Enfim, em seu brilhante cinismo revelou pérolas de sabedoria. Se não me engano com esse caboclo, ele equacionou as questões da verdade fundamental sobre a liberdade humana. O Apedeuta aflorou-se em reflexões socráticas . Aí, Jesus!!!
 
12 de maio de 2012
Movcc

MACACOS, GORILAS E MICOS



Quando um pagodeiro, um jogador de futebol e um funkeiro, fantasiados de gorilas e cercados por popozudas de biquíni à beira de uma piscina, se divertem em um clip do pagode "Kong", e são acusados de racismo e sexismo pelo Ministério Público Federal em Uberlândia por "unir artistas e atletas em um conjunto de estereótipos contra a sociedade, comprometendo o trabalho contra o preconceito", a coisa tá preta.



Alexandre Pires não é só um pagodeiro, é cantor romântico milionário, com carreira internacional, queridíssimo do público. Funkeiro é só um pouco de Mr. Catra, figuraça da cena musical carioca, rapper famoso nacionalmente por suas letras contundentes e suas paródias.
E não é só um jogador de futebol: é Neymar. Não por acaso, uns mais e outros menos, são todos negros, ricos e famosos por seu talento, ídolos das novas gerações do Brasil mestiço. Já o procurador é branco, preocupado em proteger os negros para que não façam mal a eles mesmos.

Assim como a beleza, o preconceito também está nos olhos de quem vê.

Quem ousaria associar o genial Neymar, o galã Alexandre e o marrentíssimo Mr. Catra a macacos? Só um racista invejoso. Quem se incomoda com piadas e brincadeiras com jogadores de futebol, pagodeiros, funkeiros e marias-chuteiras? Logo vão proibir o Criolo de usar o seu nome artístico.


O procurador ficou especialmente incomodado quando Mr. Catra, vestido de gorila, cercado por gostosonas louras, ruivas e morenas e feliz como pinto no lixo, diz ter "instinto de leão com pegada de gorila". Seria uma sugestão preconceituosa da potência sexual afrodescendente.
Epa! Elogio não é crime.

O clipe já teve mais de 3 milhões de acessos no YouTube, é muito engraçado e bagaceiro, com produção e fantasias bem vagabundas, trash brasileiro.

Dá até para sentir o cheiro de churrasco. As mulheres, com seus peitões e bundões, são o sonho de consumo sexual de milhões de brasileiros e, sem preconceito, de brasileiras.

Freud explica: quando João fala de Pedro, está falando mais de João do que de Pedro. Nas falhas, defeitos e intenções que um atribui ao outro, revela-se mais de si do que do outro.

12 de maio de 2012
Nelson Motta, O Globo

MINHAS CORRUPÇÕES PREDILETAS


Leitores querem saber por que não escrevo sobre as grandes corrupções nacionais. Ora, isto está na primeira página de todos os jornais. A crônica é tão vasta que já existem extensas compilações on line, para orientar o leitor no organograma da corrupção. Prefiro falar sobre o que os jornais não trazem. Por exemplo, o Chico Buarque sendo traduzido na Coréia às custas do contribuinte. Não sei se o leitor notou, mas a dita grande imprensa não disse um pio sobre isto. O que sabemos vem da blogosfera.

Prefiro falar de corrupções mais sutis, quase imperceptíveis, mas corrupções. A imprensa denuncia com entusiasmo a corrupção no congresso, na política, nos tribunais. Não diz uma palavrinha sobre a corrupção no santo dos santos, a universidade. Corrupção esta mais difícil de ser detectada, já que em geral foi legalizada. Mordomias para encontros literários internacionais inúteis, concursos com cartas marcadas, endogamia universitária, tudo isto se tornou rotina no mundo acadêmico e não é visto como corrupção.

Tampouco se fala sobre a corrupção no mundo literário, que há muito se prostituiu. Jorge Amado, que passou boa parte de sua vida escrevendo a soldo de Moscou, está sendo homenageado nestes dias no país todo. Devo ter sido o único jornalista que o denuncia – e isto há décadas – como a prostituta-mor das letras tupiniquins.

Corrupção só existe quando em uma ponta está o Estado. Se o dono de meu boteco me cobra 50 reais por uma cerveja e eu pago com meu dinheiro, pode ter ocorrido um abuso, mas jamais corrupção. O dinheiro é meu e a ele dou a destinação que quiser, por estúpida que seja. Mas se um fornecedor de cervejas as vende por 50 reais ao governo, está caracterizada a corrupção. Porque governo não tem dinheiro. Governo paga com os meus, os teus, os nossos impostos. E obviamente alguém do governo vai levar algo nessa negociata.

Escritores, esses curiosos profissionais que querem transformar suas inefáveis dores-de-cotovelo em fonte de renda, adoram subsídios do Estado. Não falta quem pretenda a regulamentação da profissão. O que não seria de espantar, neste país onde até a profissão de benzedeira acaba de ser reconhecida no Paraná. (Voltarei ao assunto).

Em 2002, Mário Prata, medíocre cronista do Estadão, pedia a Fernando Henrique Cardoso o reconhecimento da profissão de escritor: "O que eu quero, meu presidente, é que antes de o senhor deixar o governo, me reconheça como escritor". Claro que não era apenas a oficialização de uma profissão que estava em jogo. Mas o financiamento público da guilda. Cabe observar como o cronista, subserviente, se habilita ao privilégio: “meu presidente”.

Esquecendo que existe um Congresso neste país, o cronista pedia ao presidente a elaboração de uma lei. Mais ainda. Citava a Inglaterra como exemplo de país onde o escritor é reconhecido. Lá, segundo o cronista, toda editora que publicar um livro, tinha que mandar um exemplar para cada biblioteca pública do país. "Claro que os 40 mil exemplares são comprados pelo governo. Quem ganha? Em primeiro lugar o público. Ganha a editora, ganha o escritor. Ganha o País. Ganha a profissão".

E quem perde? - seria de perguntar-se. A resposta é simples: como o governo não paga de seu bolso coisa alguma, perde o contribuinte, que com os impostos tem de sustentar autores até mesmo sem público. É o que chamo de indústria textil. Textil assim mesmo, sem acento: a indústria do texto. É uma indústria divina: você pode não ter nem um mísero leitor e vender 40 mil exemplares. O personagem mais venal que conheço é o escritor profissional. Ele segue os baixos instintos de sua clientela. O público quer medo? Ele oferece medo. O público quer lágrimas? Ele vende lágrimas. O público quer auto-ajuda? Ele a fornece. É preciso salvar o famoso leite das criancinhas.

No fundo, saudades da finada União Soviética, onde os escritores eram pagos pelo Estado comunista para louvar o Estado comunista. Seguidamente comento – e creio ser o único a comentar – o livro A Sombra do Kremlin, relato de viagem do jornalista gaúcho Orlando Loureiro, que viajou a Moscou em 1952, mais ou menos na mesma época que outro jornalista gaúcho, Josué Guimarães. Enquanto Josué, comunista de carteirinha, vê o paraíso na União Soviética em As Muralhas de Jericó, Loureiro vê uma rígida ditadura, que assume o controle de todo pensamento. Comentando a literatura na então gloriosa e triunfante URSS, escreve Loureiro:

- A União dos Escritores funciona como um Vaticano para a moderna literatura soviética. O julgamento das obras a serem lançadas obedece a um critério estreito e sectário de crítica literária. Esta função é exercida por um conselho reunido em assembléia, que discute os novos livros e sobre eles firma a opinião oficial da sociedade. A exegese não se restringe aos aspectos literários ou artísticos da obra julgada, senão que abrange com particular severidade seu conteúdo filosófico, que deve estar em harmonia absoluta com os conceitos de “realidade socialista” e guardar absoluta fidelidade aos princípios ideológicos da doutrina marxista. Se o livro apresentar méritos dentro do ponto de vista dessa moral convencionada, se resistir a esse teste de eliminatória, então passará por um rigoroso trabalho de equipe dentro dos órgãos técnicos da União, podendo vir a tornar-se num legítimo best-seller, com tiragens astronômicas de 2 a 3 milhões de exemplares. E o seu modesto e obscuro autor poderá ser um nouveau riche da literatura e será festejado e exaltado e terminará ganhando o cobiçado prêmio Stalin...

Foi o que aconteceu com a prostituta-mor das letras brasileiras. Em 1950, o ex-nazista e militante comunista Jorge Amado passou a residir no Castelo da União dos Escritores, em Dobris, na ex-Tchecoslováquia, onde escreveu O Mundo da Paz, uma ode a Lênin, Stalin e ao ditador albanês Envers Hodja. No ano seguinte, quando o livro foi publicado, recebeu em Moscou o Prêmio Stalin Internacional da Paz, atribuído ao conjunto de sua obra, condecoração geralmente omitida em suas biografias.

Não que hoje se peça profissão de fé marxista ou louvores a Stalin. No Brasil, para ter sucesso, o escritor hoje tem de aderir ao esquerdismo governamental. Não precisa louvar abertamente o PT. Mas se tiver dito uma única palavrinha contra, não é convidado nem para tertúlia nos salões literários de Não-me-toques. Você jamais ouvirá um Luís Fernando Verissimo, Mário Prata, Inácio de Loyola Brandão ou Cristóvão Tezza fazendo o mínimo reproche às corrupções do PT. Perderiam as recomendações oficiais como leituras escolares e acadêmicas... e uma considerável fatia de seus direitos de autor. O livro de Loureiro não mais existe, só pode ser encontrado em sebos. Os de Josué continuam nas livrarias. Et pour cause...

Escritor financiado pelo Estado é escritor que vendeu sua alma ao poder. É o que acontece quando literatura vira profissão. Alguns se rendem aos baixos instintos do grande público e fazem fortuna considerável. Uma minoria consegue exercer honestamente a literatura e manter a cabeça acima da linha d'água.

Uma imensa maioria, que não consegue ganhar a vida nem honesta nem desonestamente, apela à cornucópia mais ao alcance de suas mãos, o bolso do contribuinte. É o caso de Chico Buarque, o talentoso escritor cujo talento maior parece ser descolar financiamento para sua “obra” junto ao contribuinte. Mas Chico está longe de ser o único. Está cometendo algum crime? Nenhum, seus subsídios são perfeitamente legais. Mas por que cargas eu ou você temos de pagar pelas traduções e viagens a congressos internacionais de um escritor que se dá ao luxo de ter uma maison secondaire às margens do Sena?

Ainda há pouco, eu comentava o absurdo de o contribuinte financiar a tradução de Chico na Coréia. Leio agora que o programa de bolsas de tradução da Biblioteca Nacional vai apoiar mais autores best-sellers no Brasil. O Diário de um Mago, de Paulo Coelho, será lançado na China pela editora Thinkingdom Media Group. Já As Esganadas, de Jô Soares, estará nas livrarias francesas. Ora, Coelho tornou-se milionário graças a suas obras de auto-ajuda, já traduzidas em quase 60 idiomas. Jô, que deve ganhar salário milionário na televisão, tem seus livros entre os mais vendidos, graças ao fator Rede Globo. Será que estes senhores precisam enfiar a mão em nosso bolso para pagarem seus tradutores na China e na França?

É destas corrupções, perfeitamente legais, que prefiro falar. Porque delas ninguém fala. Em verdade, nem mesmo os leitores. Não há quem não chie contra a carga tributária imposta ao contribuinte no Brasil. Mas todos pagam sem chiar as mordomias destas prostitutas das Letras.

12 de maio de 2012
janer cristaldo

CPI DO CACHOEIRA. PTRALHA QUE TEM CU, TEM MEDO!!!


Flor CU o símbolo da covardia PTralha
As Ratazanas Vermelhas do PT entraram de sola na CPI do Cachoeira em busca de abafar o escândalo do mensalão e livrar a cara dos aliados que estão atolados até as orelhas em tudo que é maracutaia e safadeza envolvendo as obras do PAC via Delta construtora.
Apadrinhados pelo bandoleiro mór de Banânia, as Ratazanas fizeram tudo o que podiam para pegar a revista Veja e acima de tudo o procurador geral da república, Roberto Gurgel.
Após os primeiros depoímentos dos delegados da PF, os bandoleiros da estrela vermelha sentiram o tiro no pé que foi a tentativa bandida de incriminar Gurgel para aliviar a pressão no mensalão, as Ratazanas Vermelhas perceberam que se continuassem naquela batida não iriam sobrar muitos deles em pé para comemorar mais uma vitória da impunidade em que o Brasil se lançou após a chegada do PT ao poder.
Agora lemos na imprensa que os geniais PTralhas pretendem mudar de tática. Aguardemos para ver que mudança será essa.
O problema das Ratazanas Vermelhas é que eles julgam as pessoas pelos próprios conceitos de ética e de moralidade. E quando os planos esbarram em gente que não se vende, eles partem para a artilharia suja de atacar a moral e a ética dos seus desafetos.
Se o EX presidente, o enfermo Defuntus Sebentus estivesse ainda no poder, certamente que tanto essa CPI, quanto o mensalão, já teriam naufragado com a artilharia suja e mentirosa dele. Mas, acontece que quem está no poder é Dentuça, e pelo visto ela ou não tem a mesma pontaria do Sebento, ou está navegando por instrumentos a espera do que vai acontecer. O que sei é que as Ratazanas estão assustadas. E isso é bom demais.
E a pressão sobre o Roberto Gurgel parece que acendeu alguma luz de moralidade no STF e os juízes começaram a mexer com mais atenção no julgamento do mensalão. E isso é que realmente deixou as Ratazanas em polvorosa, uma vez que o julgamento acabado e muitos dos "amigos" do Sebento sendo condenados, veremos alguns deles saírem direto para a cadeia, com direito a algemas e escolta da PF.
Mas...para que isso aconteça a sociedade brasileira tem que se mobilizar e fazer muito barulho.
O julgamento mensalão será o divisor de aguas entre o Brasil que pode dar certo e o Brasil da falência geral e irrestrita da sociedade e das instituições.

12 de maio de 2012
omascate

LONGEVIDADE IRRESPONSÁVEL

A precocidade da fase reprodutiva impôs limites mais modestos à duração da vida. Em 1900, a expectativa de vida ao nascer de um brasileiro era de míseros 33,7 anos.

Nossa espécie desceu das árvores nas savanas da África há pelo menos 5 milhões de anos. Passamos quase toda a história abrigados em cavernas, atormentados pela fome, pelas doenças infecciosas e por predadores humanos e não humanos. A mortalidade infantil era estratosférica; poucos chegavam aos 20 anos em condições razoáveis de saúde.

Milhões de anos de privações moldaram muitas de nossas características atuais. A mais importante delas foi a maturidade sexual precoce. Vivíamos tão pouco que levavam vantagem na competição as meninas que menstruavam antes e os meninos que produziam espermatozoides mais cedo. Quanto mais depressa concebiam filhos, maior a probabilidade de transmitir seus genes às gerações futuras.

A precocidade da fase reprodutiva impôs limites mais modestos à duração da vida. Em todos os animais, quanto mais tarde acontece o amadurecimento sexual, maior é a longevidade.

Nas drosófilas -a mosquinha que ronda as bananas maduras-, quando selecionamos para reprodução apenas as fêmeas e os machos mais velhos, em três ou quatro gerações a vida média da população duplica. Se nossos antepassados tivessem começado a ter filhos só depois dos 50 anos, agora passaríamos dos 120 com facilidade.

O acompanhamento de coortes de centenários confirma essa suposição: mulheres que engravidam pela primeira vez depois dos 40 anos têm quatro vezes mais chance de chegar dos 90 anos.

A segunda característica moldada nas cavernas foi nosso padrão alimentar. A arquitetura das redes de neurônios que controlam os mecanismos de fome e saciedade no cérebro humano foi engendrada em época de penúria. Em jejum há três dias, o homem daquele tempo trocaria a carne assada do porco do mato que acabou de caçar por um prato de salada?

A terceira, foi a necessidade de poupar energia. Em temporada de vacas magras, absurdo desperdiçá-la em esforços físicos desnecessários.
Somos descendentes de mulheres e homens que lutavam para conseguir alimentos altamente calóricos, porque deles dependia a sobrevivência da família. Como o acesso a eles era ocasional, nessas oportunidades comiam até não poder mais. Bem alimentados, evitavam movimentar-se para não malbaratar energia.

Durante milhões de anos, nosso cérebro privilegiou os mecanismos responsáveis pelo impulso da fome e pela economia de gasto energético, em prejuízo daqueles que estimulam a saciedade e a disposição para a atividade física.

De repente, veio o século 20, com o saneamento básico, as noções de higiene pessoal, as tecnologias de produção e conservação de alimentos, as vacinas e os antibióticos. Em apenas cem anos, a expectativa de vida no Brasil atingiu os 70 anos; mais do que o dobro em relação à de 1900, feito que nunca mais será repetido.

A continuarmos nesse passo, em 2030 atingiremos a expectativa de 78 anos. A faixa etária que mais cresce é a que está com mais de 60 anos. Sabendo que atualmente 75% dessa população sofre de enfermidades crônicas, a saúde pública estará preparada enfrentar esse desafio?
Pelo andar da carruagem, é quase certo que não. Mas não é esse o tema que pretendo tratar: quero chamar a atenção para a nossa irresponsabilidade ao lidar com o corpo.

Aos 40 anos, você pesa dez quilos mais do que aos 20. Aos 60, já acumulou mais uma arroba de gordura, não resiste aos doces nem aos salgadinhos, fuma, bebe um engradado de cerveja de cada vez, é viciado em refrigerante, só sai da mesa quando está prestes a explodir e ainda se dá ao luxo de passar o dia no conforto.

Quando se trata do corpo, você se comporta como criança mimada: faz questão absoluta de viver muito, enquanto age como se ele fosse um escravo forçado a suportar desaforos diários e a aturar todos os seus caprichos, calado, sem receber nada em troca.
Aí, quando vêm a hipertensão, o diabetes, a artrite, o derrame cerebral ou o ataque cardíaco, maldiz a própria sorte, atribui a culpa à vontade de Deus e reclama do sistema de saúde que não fez por você tudo o que deveria.
Desculpe a curiosidade: e você, pobre injustiçado, não tem responsabilidade nenhuma?
(Transcrito da Folha)
12 de maio de 2012
Drauzio Varella

ATÉ QUE ENFIM QUEBRARAM OS SIGILOS DE CACHOEIRA E DA DELTA, MAS AINDA FALTA CAVENDISHF

 A Justiça do Distrito Federal decretou a quebra dos sigilos bancário e fiscal do bicheiro Carlinhos Cachoeira, da Delta Construções e de sete pessoas denunciadas na Operação Saint-Michel pelos crimes de formação de quadrilha e tráfico de influência para tentar conseguir o contrato de bilhetagem eletrônica do transporte público coletivo do governo de Agnelo Queiroz (PT).

Entre os atingidos com a medida estão todos os acusados na ação penal proposta nesta semana pelo Núcleo de Combate às Organizações Criminosas do Ministério Público do DF, entre os quais o ex-diretor da Delta Cláudio Abreu, que cumpre prisão preventiva no Complexo Penitenciário da Papuda, e o executivo da empresa em São Paulo Heraldo Puccini Neto, foragido desde 25 de abril. O dono da Delta, Fernando Cavendish, porém, ficou de fora.

Reportagem de Ana Maria Campos, no Correio Braziliense, mostra que os dados das contas correntes e declarações de Imposto de Renda dos investigados vão abranger o período de janeiro de 2009 até os dias atuais. A Delta Construções terá de encaminhar informações sobre a movimentação das contas bancárias da empresa em todo o país.

A Operação Saint-Michel, um desdobramento da Operação Monte Carlo, obteve ainda a decisão judicial de sequestro e bloqueio dos bens de Cachoeira e de todas as pessoas físicas investigadas. Significa que o patrimônio declarado em nome dos integrantes do suposto esquema está indisponível enquanto a decisão estiver em vigor.

A medida é uma forma de garantir ressarcimento de eventual prejuízo provocado aos cofres públicos pelo esquema criminoso e o pagamento da multa estipulada pela Justiça em caso de condenação, se é que vocês acreditam que isso vai mesmo acontecer…

ASSALTOS A CARROS-FORTES VOLTAM A DESAFIAR A SEGURANÇA PÚBLICA

Enquanto em São Paulo e em outros estados os assaltantes roubam caixas-eletrônicos mediante explosão (em cinco minutos um caixa pode ser explodido e roubado) ou ainda através do antigo maçarico (o tempo da ação delituosa é maior), no Rio de Janeiro a ação violenta em assaltos a agências bancárias ou a carros-fortes volta a desafiar os setores de segurança.

Terça-feira, três bandidos tentaram assaltar um carro-forte que fazia o desembarque de dinheiro numa agência da Caixa Econômica. O fato, que envolveu intenso tiroteio, assustando transeuntes, se deu no bairro da Pavuna, na Zona Norte do Rio. É o segundo caso em uma semana no Rio. Na violenta ação, um sargento da Polícia ser preso com uma pistola. Um dos assaltantes fingiu se render, mas repentinamente reagiu, sacando uma pistola ferindo mortalmente, com tiro no peito e na cabeça, o sargento Marcelo Afonso de Oliveira, levando consigo o fuzil do policial.

Na quarta-feira da semana passada, uma troca de tiros entre criminosos e seguranças de um carro-forte assustou quem passava pela Avenida Ernani Cardoso, em Cascadura, na Zona Norte do Rio. Bandidos tentaram assaltar o carro-forte, mas houve revide dos seguranças.
O veículo de transporte de dinheiro ficou avariado. Segundo a PM, o bando fugiu sem nada levar. Ninguém se feriu.
Na noite de 16 de abril, oito criminosos fortemente armados e com toucas ninja, assaltaram uma agência bancária, no bairro de Jardim América, também na Zona Norte. Os criminosos levaram R$ 275 mil. Invadiram a agência e usaram uma marreta para quebrar o vidro da entrada do banco, renderam os seguranças e o gerente, que ainda estava no local.

Tais relatos demonstram que a ação violenta de bandidos não dá tréguas no Rio de Janeiro, onde bandidos passam a ficar mais audaciosos e não se intimidam.Para a polícia, a falta de investimento em alguns detalhes do setor bancário, por exemplo, acaba facilitando a ação dos assaltantes. Algumas agências ainda relutam em instalar câmeras de segurança com circuito interno de TV, o que dificulta a investigação policial. A porta giratória também é um investimento que inibe assaltantes. Mas nem todas as agências contam com esse item de segurança, e isso facilita a ação dos bandidos. Sistema de danificação de notas, nos assaltos a caixas eletrônicos (as cédulas saem manchadas de tintas ou se incendeiam) é outro investimento de que não se pode mais abrir mão para desencorajar assaltantes.
Poucas agências dispõem também de garagens internas para estacionamento de carros-fortes e transporte mais seguro dos malotes, sendo facilitada a ação do banditismo ao estacionarem em via pública.

Cuidado e atenção dos agentes, nos momentos cruciais de desembarque e entrega ou no recolhimento de malotes, nem sempre são observados. Qualquer desatenção pode ser fatal. A prevenção continua sendo o melhor remédio nesse caso. É preciso saber inclusive como andam, nas empresas de segurança, o treinamento e a reciclagem de seus agentes e se há fiscalização pelo órgão competente.
Portanto, é preciso investir, cada vez mais, no trabalho e estrutura necessária para investigação de quadrilhas de assaltantes, geralmente ligadas ao tráfico de drogas. A inteligência policial e ação proativa da polícia repressiva, na busca de bandidos em seus esconderijos em morros e favelas, é ação preventiva indispensável para inibir a violência no nascedouro do crime.

12 de maio de 2012
Milton Corrêa da Costa

DEUS E O UNIVERSO, NA VISÃO DA ASTROFÍSICA

Tenho certa dificuldade em concordar com dogmas, inclusive o de que a Biblia judaica e cristã é a palavra de Deus. Seus registros e palavras são de segunda mão. O mesmo pode ser dito em relação ao hadith do islamismo. Dizem as escrituras, lá na paisagem ensanguentada do Velho Testamento, que Deus criou o mundo em 6 dias e que descansou no sétimo. E condenou humanos a serem sobre-humanos, sob pena de morte e tortura.

O problema é que as escrituras foram escritas por homens profundamente ignorantes.
O mundo está sendo criado. Nós desapareceremos e continuará a ser criado, sem essa de sete dias. O rádio telescópio espacial Hubble, orbitando 370 milhas (apenas 600 km) sobre a Terra, mostrou aos humanos um dos maiores shows que o universo já encenou, ou seja, galáxias não estão estáticas, mas se movem, colidem umas com as outras, mudam de forma, se canibalizam mutuamente, num verdadeiro inferno cósmico, o que é uma profunda revolução no pensamento e no conhecimento humano.

Foi isso que as conclusões dos exames das fotos da radio-sonda Hubble mostraram em 1997 no Cornegie Observatoires em Pasadena, Calif. Corpos celestes que se locomovem em verdadeiros times ou esquadrões de 60, 70 bilhões de estrelas, gás e poeira que fervilham no universo como bóias de luz em um mar escuro. Galáxias não são as estruturas estáticas que se pensava que fossem. Ovos de estrelas que estão sendo chocados no Cosmo subitamente dão origem a uma super-nova. Criação em progresso.

Poderíamos dizer que o que se pensa ser uma orgia cósmica, corporificada pela colisão das galáxias, nada mais é que uma cópula cósmica que dá origem a novas estrelas, quando a natureza não aborta.
E a Hubble não só fotografou o cometa Shoemaker-Levy mergulhando e explodindo em Júpiter em 1994, como também muito mais longe, bem mais longe, um outro acontecimento cósmico, uma chamada singularidade cósmica, o buraco negro bem no centro da galáxia M87, a nossa galáxia vizinha. E lentes de contato colocadas na Hubble por dois astronautas fizeram-na “enxergar” ainda mais distante, o que parece uma ficção científica: gigantescos buracos-negros que engolem tudo o que se aproxima, desde estrelas a planetas e toda matéria cósmica.

O Universo continua sendo criado. Ele está até ficando maior do que Edwin Hubble imaginava, e as galáxias mais separadas. Existem, no entanto, galáxias tão perto umas das outras que podem caminhar juntas, ou simplesmente colidir. A nossa própria Via Láctea corre esse risco de colisão com uma galáxia anã chamada Sagitárius. Mas isto daqui a 200 milhões de anos.

Não existe espaço vazio no Universo, conforme a descoberta do astrônomo Hubble. Não há um extra-espaço. Sabe-se agora que nenhuma lei da física funciona além do buraco-negro. Especula-se, no entanto, que um buraco-negro é um objeto com a massa de 3 bilhões a 5 bilhões de sóis. E produz quasares, que são trilhões de sóis comprimidos.

É por isso que não consigo me interessar por Moisés e seu minúsculo e ridículo arbusto em chamas. Depois que dediquei algum esforço para estudar as impressionantes fotografias do telescópio Hubble, dei de cara com coisas muito mais espantosas, misteriosas e belas, caóticas, esmagadoras e trágicas do que qualquer historieta da criação ou do Apocalipse.

As religiões são criações de um passado de ignorância. Suas alegações metafísicas são inteiramente falsas. Conforme declaram Richard Dawkins e Christopher Hithens, a religião envenena tudo, inclusive nossa capacidade de discernimento.

12 de maio de 2012
Paulo Solon

O CHEFE - CAPÍTULO 16

Capítulo XVI

STF abriu processos contra 40 mensaleiros. José Dirceu
foi acusado de corrupção ativa e formação de quadrilha

Dois anos e três meses após a divulgação da fita em que Maurício Marinho, alto funcionário dos Correios, pôs no bolso do paletó R$ 3 mil e com o gesto marcou o início do escândalo do mensalão, o STF (Supremo Tribunal Federal) começou o julgamento dos 40 políticos e empresários acusados de envolvimento com o esquema de corrupção, na maior denúncia criminal da história investigada pela corte suprema do País. Em 22 de agosto de 2007, o procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, sustentou a denúncia no plenário do STF. Para ele, "o mensalão não existiria se não tivesse integrantes do governo" envolvidos na maracutaia. Referindo-se diretamente ao ex-ministro José Dirceu (PT-SP), afirmou: "É fato público que Dirceu sempre teve e ainda tem grande importância nas decisões do PT".

O procurador-geral da República citou José Dirceu e os dirigentes do PT José Genoino, Delúbio Soares e Sílvio Pereira para dizer que os quatro líderes do partido do presidente da República "ditavam as diretrizes, tinham o comando do procedimento criminoso". Para Souza, "a promiscuidade com o poder é o caldo de cultura perfeito para a viabilidade de interesses escusos". O procurador-geral falou em "quadrilha" e "organização criminosa":

- Os autos revelam de forma incontroversa os repasses, especialmente para parlamentares, de elevadas quantias em espécie, muitas vezes entregues em hotéis, a beneficiários que nem conferiam os valores recebidos, dinheiro acondicionado em pastas, sacolas e em envelopes de grande porte, valores depositados em conta no exterior não declarada, mediante a utilização de doleiros e de empresa offshore.

Os quatro petistas foram denunciados por agirem no que Souza chamou de "núcleo central da organização criminosa", cujo objetivo era buscar apoio político de parlamentares, pagar dívidas partidárias e arcar com gastos de campanhas eleitorais do PT e de partidos da base aliada do presidente Lula. Ele qualificou o empresário Marcos Valério como o "principal artífice do procedimento criminoso". Lembrou um jantar que reuniu José Dirceu e Marcos Valério em 2004, como evidência de que os dois mantinham relação próxima. Deu como exemplo, ainda, um fato que envolveu Simone Vasconcelos, ex-diretora da SMPB, agência de publicidade de Valério:

- Os autos revelam uma fartura incrível de dinheiro em espécie que transitou por caminhos tortuosos. Era tanto dinheiro circulando de modo atípico que Simone Vasconcelos, em determinada oportunidade, teve que pedir um carro-forte para transportar R$ 650 mil para a sede da empresa em Brasília, onde o montante foi repassado.

O procurador-geral acrescentou:

- Os repasses sempre à margem dos procedimentos bancários mais expedidos e mais seguros. Tal descrição, que é típica do submundo do crime, revela a rotina vivenciada pelos denunciados por muito tempo. Ao invés de valer-se dos mecanismos bancários mais ágeis e seguros, sempre se efetuava repasses de valores em espécie, acondicionados em pastas 007, em pacotes ou sacos de lona, em locais inadequados, tais como recepção e quartos de hotéis, bancas de revistas, ou mediante depósitos de contas no exterior, sempre com a máxima preocupação de impedir a identificação dos destinatários.

Na sustentação da denúncia, a menção ao caso Visanet, esquema por meio do qual dinheiro público do Banco do Brasil foi repassado a empresas de Marcos Valério e, em seguida, serviu para irrigar a corrupção:

- Foram recursos privados, oriundos de empresas com interesses patrimoniais escusos perante o governo, e dinheiro público, como no caso Visanet, as fontes que mantiveram ativo o ilícito sistema de transferência de recursos para parlamentares, dirigentes partidários e credores de partidos.

A denúncia foi corroborada por relatórios reservados do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras, do Ministério da Fazenda), segundo os quais haveria indícios de operações suspeitas contra 27 dos 40 julgados pelo STF. Segundo reportagem de Andréa Michael, da Folha de S.Paulo, documentos do Coaf registraram que mensaleiros fizeram operações financeiras suspeitas para lavar R$ 1,2 bilhão entre 2001 e 2007.

Além disso, o Ministério Público do Distrito Federal propôs cinco ações de improbidade administrativa por mau uso do dinheiro público contra 35 dos 40 denunciados. Todos responderiam a processos civis por participação no esquema de compra de apoio político no Congresso. Entre os acusados estavam José Dirceu, José Genoino, Delúbio Soares, Silvio Pereira, Marcos Valério, Roberto Jefferson (PTB-RJ) e Anderson Adauto (PMDB-MG).

Em outra ação por improbidade administrativa, o Ministério Público do Distrito Federal decidiu processar o deputado João Paulo Cunha (PT-SP) por enriquecimento ilícito e violação dos princípios de moralidade na administração pública. Ele foi acusado de ter recebido R$ 50 mil de Marcos Valério no Banco Rural, dinheiro sacado pela mulher do parlamentar. Em troca da propina, teria havido a contratação da agência SMPB pela Câmara dos Deputados, presidida na época por Cunha. A ação implicou também Silvana Paz Japiassu, assessora do deputado, que teria recebido de Marcos Valério passagens aéreas e hospedagens para ela e a filha.

Para completar, as supostas dívidas contraídas nos Bancos Rural e BMG para sustentar o chamado valerioduto, atualizadas em mais de R$ 100 milhões, não haviam sido pagas após mais de dois anos. Um indício de que não passavam mesmo de "pseudos-empréstimos", "empréstimos simulados" ou, em português claro, operações de lavagem de dinheiro para irrigar o esquema de caixa 2 que teria sido engendrado por lideranças do PT a fim de obter apoio e maioria no Congresso, favorecendo o governo Lula. Os empréstimos, portanto, teriam sido forjados e não faria sentido quitá-los.

Em 28 de agosto de 2007, o STF decidiu abrir processos criminais contra todos os 40 acusados pela Procuradoria-Geral da República. José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares foram acusados por corrupção ativa e formação de quadrilha, ou seja, por oferecer ou dar vantagens indevidas, e por associação em bando com o objetivo de cometer crimes. Outros dois ex-ministros de Lula também estavam entre os denunciados. Luiz Gushiken (PT-SP), da Secretaria de Comunicação da Presidência da República, por peculato, ou seja, uso do cargo para fazer apropriação indevida, e Anderson Adauto (na época no PL, atual PR), do Ministério dos Transportes, por corrupção ativa e lavagem de dinheiro, isto é, ocultar ou dissimular a origem criminosa de dinheiro ou bens.

Além dos cinco denunciados, mais dez se destacaram entre os demais. São os seguintes: Marcos Valério, Duda Mendonça, Roberto Jefferson, Silvio Pereira, João Paulo Cunha, Valdemar Costa Neto, José Janene, José Borba, Paulo Rocha e Henrique Pizzolato. Eis a relação dos outros 25 nomes: Pedro Corrêa, Pedro Henry, Bispo Rodrigues, João Magno, Emerson Palmieri, Romeu Queiroz, Jacinto Lamas, João Cláudio Genu, Enivaldo Quadrado, Breno Fischberg, Carlos Alberto Quaglia, Antonio Lamas, Ramon Hollerbach, Cristiano Mello Paz, Rogério Tolentino, Simone Vasconcelos, Geiza Dias, Kátia Rabello, José Roberto Salgado, Ayanna Tenório, Vinícius Samarane, José Luiz Alves, Anita Leocádia, Professor Luizinho e Zilmar Fernandes.

Ao defender o processo contra José Dirceu, o ministro Joaquim Barbosa, relator do caso no STF, afirmou que o ex-ministro "era o mentor e o comandante supremo da trama, em que outros personagens faziam o papel de meros auxiliares". Do relator Joaquim Barbosa:

- Está suficientemente demonstrado na denúncia que José Dirceu seria o mentor, o chefe incontestável do grupo, a pessoa a quem todos os demais prestavam deferência.

José Dirceu, como ministro da Casa Civil, era o principal auxiliar do presidente Lula. Não há dúvida sobre isso. Mas ele não engendraria um esquema de tamanha complexidade, com o intuito de corromper parlamentares com dinheiro público, sem a anuência do chefe. Lula, aliás, foi o grande beneficiário da maioria forjada, que lhe deu apoio e votos no Congresso. Só Lula poderia ser considerado o "comandante supremo da trama", ou o "chefe incontestável do grupo", como definiu o ministro Joaquim Barbosa.

O STF aceitou investigar uma nova denúncia da Procuradoria-Geral da República, que não havia sido incluída anteriormente. De acordo com a acusação, dinheiro público repassado pelo Ministério do Esporte à agência de publicidade SMPB, de Marcos Valério, acabou na conta bancária de Anita Leocádia Pereira Costa, assessora do deputado Paulo Rocha (PT-PA).

Funcionou assim: R$ 202 mil do Ministério do Esporte foram depositados em conta da SMPB no Banco do Brasil, em 16 de dezembro de 2003. Dois dias depois, houve transferência de R$ 200 mil daquele total para outra conta da SMPB, desta vez no Banco Rural. No mesmo dia, R$ 146 mil seguiram para uma segunda conta da SMPB, no mesmo Banco Rural. O destino do dinheiro seria ainda uma terceira conta da agência de publicidade, naquela agência do Rural. No mesmo 18 de dezembro, Anita Leocádia Pereira Costa sacou R$ 120 mil do total. Conforme a denúncia, o dinheiro que ficou com a petista era, originalmente, do Ministério do Esporte.

Também fez parte da denúncia da Procuradoria-Geral da República ao STF a acusação de Lúcio Bolonha Funaro, operador do mercado financeiro. Ele havia feito um acordo de delação premiada. Afirmou que, com outros dois doleiros, emprestou R$ 3 milhões ao então presidente do PL (atual PR), deputado Valdemar Costa Neto (SP). O dinheiro serviria para cobrir supostos gastos da campanha eleitoral do presidente Lula em 2002.

De acordo com Lúcio Funaro, Valdemar Costa Neto era beneficiário de uma conta secreta abastecida com dinheiro de propina no banco BCN de Nova York. O doleiro disse que tomou conhecimento dessa conta em 2002. Quem lhe contou foi Henrique Borenstein, ex-diretor do BCN, ao procurar dar garantias de que os R$ 3 milhões emprestados a Valdemar Costa Neto seriam mesmo devolvidos. Havia a conta secreta do BCN. De Henrique Borenstein:

- Fique tranquilo. Eu administro essa conta e ela tem um saldo de US$ 1,2 milhão. Se Valdemar não pagar, eu transfiro o dinheiro para você.

Conforme reportagem de Diego Escosteguy, na revista Veja, a conta em Nova York foi abastecida pelo pai de Valdemar, o ex-prefeito de Mogi das Cruzes (SP) Waldemar Costa Filho. Ele contraíra empréstimos do BCN para os cofres da administração municipal, no começo dos anos 90, a juros "muito acima" dos praticados no mercado. Da reportagem publicada em 29 de maio de 2009: "O pagamento pela camaradagem do prefeito, ou seja, a propina, era depositado na conta aberta por Borenstein em Nova York, cujo beneficiário era o filho, o deputado Valdemar Neto".

Em três depoimentos prestados entre novembro de 2005 e março de 2006, Lúcio Funaro disse ainda que José Dirceu poderia ter recebido R$ 500 mil de fundos de pensão. Trecho do depoimento:
"Que tem conhecimento de que o diretor-presidente e o diretor financeiro da Portus foram indicados por Dirceu; que essa transação envolveu um pagamento 'por fora', que não sabe se destinado ao próprio deputado ou ao PT, da ordem de R$ 500 mil."

O doleiro acusou o deputado José Mentor (PT-SP) de receber propina para livrar suspeitos que deveriam ser investigados pela CPI do Banestado, da qual José Mentor foi relator, em 2004. Funaro admitiu ter sido sócio oculto da empresa de fachada Guaranhuns, acusada de repassar dinheiro do mensalão.

Três meses após o início do julgamento do mensalão pelo STF, o procurador-geral anunciou novas provas baseadas em perícias do Instituto de Criminalística, da Polícia Federal. De acordo com Antonio Fernando de Souza, foi possível rastrear dinheiro público do Banco do Brasil, de forma a comprovar o uso de recursos do fundo Visanet no esquema de corrupção.

A denúncia criminal havia sido feita com base no depoimento de testemunhas. Com a conclusão dos trabalhos de perícia, ficou registrada a "dança" de R$ 73,8 milhões do Banco do Brasil para as agências de publicidade DNA e SMPB, de Marcos Valério, a partir da suposta determinação do ex-ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência da República, Luiz Gushiken (PT-SP). Depois disso, o mesmo dinheiro público teria abastecido o valerioduto.

Conforme o laudo do Instituto de Criminalística, a DNA se apropriou indevidamente de pelo menos R$ 39,5 milhões do Banco do Brasil. O dinheiro lastreou empréstimos que engordaram o caixa 2 do PT. Os peritos fizeram uma varredura em números de contas bancárias, valores envolvidos, datas e locais das retiradas. Os R$ 39,5 milhões incluíram lucros em aplicações financeiras feitas com dinheiro antecipado pelo Banco do Brasil, serviços devidamente quitados sem que houvesse comprovação da execução dos trabalhos e honorários considerados exagerados.

Entre as operações irregulares, a DNA embolsou R$ 5,3 milhões ao obter deságios com fornecedores, desconto que deveria ter sido devolvido ao cliente. A autorização formal para depositar R$ 73,8 milhões da Visanet na conta da DNA foi dada pelo então diretor de Marketing do Banco do Brasil, Henrique Pizzolato. Anteriormente, os valores eram destinados direta e individualmente aos fornecedores.

Após o acolhimento da denúncia pelo STF, todos os mensaleiros, um a um, depuseram sob orientação de advogados dos mais bem pagos do País. Trataram de refutar as acusações e desqualificar a denúncia do procurador-geral da República. Nada de ilegal teriam cometido. Todos – garantiram e reiteraram – não tinham envolvimento com quaisquer fatos que os desabonassem. Negaram todas as evidências. Admitiram tão somente o uso de dinheiro de caixa 2, e para pagar despesas de campanha eleitoral. Um crime menor. Articulados, advogados de defesa evitaram fazer perguntas que pudessem prejudicar os outros réus. Ao contrário. Trataram de se reunir constantemente e interpelar os denunciados de forma a ajudar uns aos outros.

O depoimento do ex-deputado Pedro Corrêa (PP-PE), cassado na esteira do escândalo do mensalão, foi exceção. Ele afirmou ter negociado com o PT o pagamento de serviços advocatícios para o então deputado Ronivon Santiago (PP-AC), em troca de apoio parlamentar ao governo Lula.
O dinheiro teria sido pago em três parcelas, sendo duas de R$ 300 mil, em agência do Banco Rural em Brasília, e outra de R$ 100 mil, entregue em hotel da capital federal.
Deu-se bem Silvio Pereira, o ex-secretário-geral do PT que durante os bons tempos do mensalão ganhou de presente um jipe Land Rover de empresa fornecedora da Petrobras. Ele fez acordo com a Procuradoria-Geral da República para suspender o processo que seria obrigado a responder. A punição de "Silvinho": durante três anos, teria de prestar 750 horas de serviços comunitários à Prefeitura de São Paulo. Além disso, o ex-secretário-geral se comprometeu a comparecer periodicamente à Justiça e a comunicar previamente qualquer viagem longa que pretendesse fazer.

Silvinho se disse "aliviado" com o que conseguiu. Ao aceitar a punição dos trabalhos comunitários, contudo, admitiu ter cometido práticas delituosas e pôs em situação constrangedora os outros acusados, companheiros seus, que respondiam por crimes mais graves e não puderam se beneficiar do acordo que o livrou de uma condenação mais rigorosa.

No governo Lula, Silvinho foi responsável pela distribuição de cargos de segundo escalão. Como se sabe, as posições na máquina administrativa não valiam pelos salários que representavam, mas sim pelo poder que seus ocupantes desfrutavam ao usar o emprego público para enriquecer, fraudando licitações, contratos e desviando os recursos que deveriam servir para atender as necessidades do povo e do País. Afinal, o dinheiro que sustenta as máquinas públicas vem de impostos arrecadados da população.

Apesar dos serviços comunitários, Silvinho usufruiu o segundo mandato de Lula. Em 2007, Júlio César dos Santos, dono da TGS Consultoria e sócio do onipresente José Dirceu, subcontratou a DNP Eventos, empresa registrada em nome da mulher de Silvinho, Deborah Neistein, e do irmão dele, Ademir Pereira. Aparentemente, a empresa era dirigida mesmo por Silvinho e deveria organizar um evento cultural no Espírito Santo. A TGS, por sua vez, havia sido contratada sem licitação pela Petrobras. A prestação de serviços rendeu R$ 55 mil à DNP. Sempre a Petrobras na vida de Silvinho.

Em 2008, Silvinho estaria construindo uma pousada em Ilha Bela, praia do litoral norte de São Paulo. Lá, foi visto com frequência desfilando num novo automóvel. Não um Land Rover, como o que provocara o escândalo em 2005, mas um autêntico Toyota Fielder, avaliado em R$ 65 mil.

Outro personagem que "brilhou" na era Lula, o publicitário Duda Mendonça. Ao depor no processo do mensalão, em janeiro de 2008, disse desconhecer a origem dos R$ 10,5 milhões repassados a ele por Marcos Valério, numa empresa offshore, em pagamento por serviços prestados em campanhas eleitorais, entre as quais a que elegeu o presidente Lula em 2002.

Em seu depoimento, Duda Mendonça admitiu o não-pagamento de impostos e informou ter quitado multa referente à sonegação, no valor de R$ 4,3 milhões. Apesar da acusação de lavagem de dinheiro, o publicitário continuou prestando serviços à Petrobras no segundo mandato de Lula, dentro de um contrato de R$ 250 milhões. Duda Mendonça também teria expandido negócios agropecuários em propriedade rural no sul do Pará.

Ao depor à CPI dos Correios, em 2005, o diretor de Marketing do Banco do Brasil, Henrique Pizzolato, afirmou ter recebido ordem do então ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência da República, Luiz Gushiken (PT-SP), para repassar recursos de publicidade do fundo Visanet a empresa de Marcos Valério. O dinheiro, como se sabe, acabaria no PT e financiaria atividades de caixa 2 do partido do presidente da República.

Ao depor à Justiça no processo do mensalão, acusado de corrupção passiva, Henrique Pizzolato voltou atrás e livrou o ex-ministro Luiz Gushiken de qualquer responsabilidade. Em fevereiro de 2008 justificou a reviravolta ao alegar que, na época da CPI, "estava sob ameaça de que iam me prender. Não tive condições de raciocinar. Fui coagido, ameaçado e humilhado". É mesmo?
Henrique Pizzolato teve dificuldades ao explicar à Justiça o episódio em que mandou o officeboy Luiz Eduardo Ferreira pegar envelope com R$ 326 mil em agência do Banco Rural no Rio de Janeiro. Ele estava atendendo, segundo ele mesmo, a um pedido de uma secretária de Marcos Valério, a quem não conhecia. Tampouco conhecia o conteúdo do envelope, o qual Marcos Valério desejava que chegasse às mãos do PT. Segundo Pizzolato, ele simplesmente deixou o envelope com os "documentos" para "pessoa do PT", na portaria do prédio em que residia. Obviamente não revelou o nome do recebedor.

O incrível da história é que, após pôr as mãos no envelope com R$ 326 mil, em janeiro de 2004, o então diretor do Banco do Brasil comprou um apartamento em Copacabana, na badalada zona sul do Rio, por R$ 400 mil. Aqui, Pizzolato se contradisse: depois de garantir ter quitado o imóvel com pagamento em cheque, acabou por confessar a entrega de R$ 100 mil em dinheiro vivo. Mas a vida não deixou de sorrir para Pizzolato: aposentado pelo Banco do Brasil com R$ 13 mil mensais, continuava morando no mesmo e bem situado apartamento em Copacabana.

Luiz Gushiken também se deu bem. Apesar de denunciado por peculato e acusado pelo desvio de recursos de contratos de publicidade do Governo Federal para empresas de Marcos Valério que irrigaram o caixa 2 do PT, o ex-ministro, um dos auxiliares mais próximos de Lula, abriu uma empresa de consultoria em 2007. E voltou a morar numa chácara no interior de São Paulo.
O único revés do ex-ministro teria sido a decisão do TCU (Tribunal de Contas da União) de aplicar-lhe multa de R$ 30 mil. Mesmo assim, Gushiken iria recorrer. De acordo com o levantamento do TCU, em sua gestão houve contratos de publicidade com orçamentos forjados e falta de controle sobre a veiculação de anúncios federais. Uma auditoria apuraria supostos prejuízos de R$ 9 milhões com serviços de publicidade não-prestados ou superfaturados. A maracutaia envolveria, entre outros, o publicitário Duda Mendonça.

Os deputados Valdemar Costa Neto (PR-SP, ex-PL) e Paulo Rocha (PT-PA) definitivamente não tiveram do que reclamar. Com medo de cassação depois de acusados de envolvimento com o mensalão, renunciaram aos mandatos, ainda em 2005, para se candidatarem no ano seguinte. Reeleitos, os dois tiveram os processos por decoro parlamentar arquivados pelo Conselho de Ética da Câmara. A medida também beneficiou o deputado João Magalhães (PMDB-MG), que fora envolvido com a máfia das ambulâncias.

Note-se que tanto Valdemar Costa Neto quanto Paulo Rocha foram denunciados pelo procurador-geral da República por fazer parte de organização criminosa e, por isso, passaram a ser investigados pelo STF (Supremo Tribunal Federal). O primeiro sofreu a acusação de receber R$ 6,5 milhões do valerioduto. O segundo, teria posto as mãos em R$ 920 mil.

Interessante o adendo ao relatório que livrou os mensaleiros, de autoria do deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP), segundo o qual parlamentares não devem ser investigados pelo Conselho de Ética por fatos ocorridos em legislaturas passadas, exceto se acusados após as eleições ou se surgirem fatos novos na denúncia. Ou seja: a investigação de deputados que renunciaram seria uma afronta à vontade dos eleitores, não importando se os senhores parlamentares abriram mão dos mandatos aproveitando brecha na legislação para fugir da cassação, nem se usaram o dinheiro supostamente desviado a fim de comprar os votos necessários para garantir os novos mandatos. Para constar: o patrimônio de Paulo Rocha teria subido 1.248% entre os anos de 2002 e 2006, isto é, ainda no primeiro mandato do presidente Lula.

Cabe ressaltar, ainda, o paradeiro de dois mensaleiros, estrelas de primeira grandeza em razão dos cargos ocupados. José Genoino (PT-SP) e João Paulo Cunha (PT-SP), respectivamente presidente nacional do partido e presidente da Câmara dos Deputados, no primeiro governo Lula. Ambos voltaram a Brasília em 2007, protegidos por mandatos de deputado federal. Se antes eram participantes e eloquentes, passaram a se "esconder" no fundo do plenário, como se o tempo fosse capaz de apagar a mácula do escândalo do mensalão.
Agora Delúbio Soares, o ex-tesoureiro do PT, para quem as investigações do mensalão dariam em nada e seriam, no futuro, motivo de "piada de salão".

Apesar de receber como professor da rede pública de Goiás durante sete anos, sem trabalhar, Delúbio Soares ainda mantinha o direito de lecionar, mais de dois anos após a descoberta do "fantasma". Ele não fora desligado do cargo, apesar de já condenado a restituir R$ 164 mil recebidos indevidamente.

Em Buriti Alegre (GO), conforme descreveu o repórter Hudson Corrêa, na Folha de S.Paulo, Delúbio Soares era uma celebridade. Em 15 de agosto de 2007, por exemplo, ele subiu no palanque com o governador Alcides Rodrigues Filho (PP) para inaugurar um frigorífico. Depois, Delúbio Soares acompanhou o governador ao aeroporto local, num automóvel Vectra registrado em nome do irmão do ex-tesoureiro, o vereador de Goiânia Carlos Soares (PT). Detalhe: um outro veículo escoltava o carro de Delúbio, com dois homens. Para dar segurança ao ex-tesoureiro.

Em 23 de janeiro de 2008, Marcos Valério, enigmático, encaminhou quatro questões a Delúbio Soares, que depunha à Justiça no processo do mensalão. Vale a pena: 1) O interrogando participou de alguma reunião nos anos 2003 a 2005 com Antonio Palocci? Para tratar de qual assunto? 2) Se encontrou alguma vez Marcos Valério fora do Brasil? 3) Se encontrou alguma vez com alguma autoridade chinesa? 4) Frequentou a Granja do Torto, em Brasília? Em caso afirmativo, em companhia de quem?

Não se sabe o que Marcos Valério pretendia. Pareceu ser uma ameaça velada ao PT, inclusive a Lula, como quem diz "façam o que estou pedindo". Não há notícias se obteve êxito. É provável que sim, tanto que não voltou mais ao assunto. Ao contrário. Seu depoimento à Justiça tratou de refutar todas as evidências que existiam contra ele e contra outros personagens do mensalão. Confirmou-se, por outro lado, que Marcos Valério se encontrou com petistas, depois de espernear. Quanto a Delúbio Soares, manteve-se frio. Característica dele. Não respondeu a provocação de Marcos Valério. Pelo menos em público.
Em seu depoimento, o ex-tesoureiro agradeceu Marcos Valério pelos empréstimos que abasteceram os cofres do PT nos anos de 2003 e 2004, o que teria permitido a ele cobrir dívidas e despesas do partido. Por outro lado, Delúbio Soares disse não ter tomado decisões sozinho, e que o comando do PT sabia do rombo nas finanças do partido. Nas palavras do ex-tesoureiro:
  
- Fizemos uma reunião no Partido dos Trabalhadores, com todos os Estados, agora estou me lembrando, quase R$ 26 milhões era a dívida dos diretórios regionais. E eu apresentei esse problema à executiva. A executiva: "Encontra uma solução".

Da reunião teriam participado, conforme Delúbio Soares, o senador Aloizio Mercadante (SP), o deputado Jorge Bittar (RJ), a então prefeita Marta Suplicy (SP), o presidente da legenda, José Genoino (SP), e os dirigentes partidários Silvio Pereira, Valter Pomar, Romênio Pereira e Joaquim Soriano. A solução encontrada por Delúbio Soares, soube-se depois, foi o valerioduto.

Bode expiatório, Delúbio Soares acabou sendo o único expulso do PT por conta do escândalo do mensalão. Silvio Pereira solicitou a própria desfiliação, e José Genoino e Marcelo Sereno, secretário de Comunicação, renunciaram aos cargos. Mas Delúbio Soares não se deu mal. Como celebridade, o velho amigo de Lula dos tempos de sindicalismo andava para cima e para baixo em São Paulo.

Quando não estava na capital paulista, passava a maior parte do tempo na fazenda de Buriti Alegre, registrada em nome do pai. Em Goiânia, o ex-tesoureiro passou a se apresentar como consultor de empresas. Lá teria aberto uma agência de publicidade, para vender anúncios na internet.

Daqueles que perderam o emprego em decorrência do escândalo do mensalão, o ex-ministro José Dirceu parece ter sido quem mais demonstrou competência para se adaptar à condição de consultor de empresas. Segundo a revista Veja, o capitão do time de Lula, fora do governo, embolsava até R$ 150 mil por mês em consultorias, circulava em carro com motorista e frequentava os melhores restaurantes, onde era visto com charutos cubanos.

José Dirceu comemorou com festa o lançamento de seu site na internet, implantou fios de cabelo para melhorar o visual e teria comprado uma casa para a mãe, no interior de Minas Gerais. Sócio de um escritório de advocacia, tocava uma empresa de consultoria, mas a maior parte do tempo viajava para a Europa, Estados Unidos, Canadá e vários países da América Latina, sem contar os numerosos percursos dentro do Brasil.

O ex-ministro Dirceu tinha para descansar o belo sobrado em Vinhedo (SP), dentro de condomínio fechado. Ali ocorreu talvez a única dor de cabeça do ex-deputado, além do constrangimento de ter de reconhecer, em depoimento à Justiça, que se reuniu com Marcos Valério e diretores dos bancos Rural e BMG no Ministério da Casa Civil. Quatro meses após deixar o governo, ladrões arrombaram a casa de Vinhedo e levaram aparelho televisor de plasma, charutos, chocolates e um tapete vermelho.

Como José Dirceu, Marcos Valério também virou consultor de empresas e fez implante de cabelo para mudar a aparência. Apesar de ter ficado com os bens bloqueados pela Justiça, o empresário reformou sua mansão no bairro de Castelo, em Belo Horizonte, e arrendou uma fazenda no interior de Minas Gerais, a fim de criar cavalos de raça. Manteve também a mansão em Brumadinho, região metropolitana da capital mineira, e atendia clientes no elegante escritório do bairro de Savassi, na zona sul de Belo Horizonte. No lugar das malfadadas agências de publicidade SMPB e DNA, Marcos Valério comandava a nova agência Bárbara Comunicação. Vida nova.

Um dos pivôs do escândalo do mensalão, denunciado por formação de quadrilha, corrupção ativa, peculato, lavagem de dinheiro e evasão de divisas, Marcos Valério seguia confiante de que se livraria das acusações de envolvimento com operações de crédito milionárias, supostamente forjadas para justificar a movimentação de caixa 2 do PT. Ao depor à Justiça Federal, em fevereiro de 2008, disse que o então ministro José Dirceu sabia dos empréstimos tomados pela SMPB junto aos bancos Rural e BMG, embora tivesse tratado do assunto apenas com o "amigo" Delúbio Soares e o secretário-geral do PT, Silvio Pereira.

Como o lendário Al Capone, os maiores apuros de Marcos Valério pareciam girar em órbita dos problemas com o Imposto de Renda. Em junho de 2007, a Justiça Federal instaurou ação penal por sonegação de R$ 54,7 milhões de tributos da agência de publicidade DNA, entre 1999 e 2002. Conforme o Ministério Público, Marcos Valério e seus sócios lesaram o Fisco com a "simulação do furto de um veículo que, segundo os réus, transportava documentação exigida pela Receita durante autuações que tinham o objetivo de apurar a real movimentação financeira da empresa".

Para se livrar de uma condenação de dois anos e 11 meses por crime contra a ordem tributária, Marcos Valério pagou R$ 6,8 milhões ao INSS (Instituto Nacional de Seguro Social) em maio de 2006. De acordo com o Ministério Público, a fraude ocorrera no pagamento de funcionários da DNA, entre 1996 e 1999. Alguns receberam salários por fora da folha de pagamento, enquanto outros ganharam mais do que o declarado na contabilidade da empresa.
Em maio de 2008, o Tribunal de Justiça de Minas Gerais condenou Marcos Valério por falsidade ideológica e por comprar notas fiscais frias para a agência SMPB nos anos de 2002 e 2003. O empresário pagaria entre 3% e 4% do valor de cada nota falsa emitida. Condenado a um ano de prisão em regime aberto, teve a pena convertida em multa de dois salários mínimos somada à prestação de serviços comunitários por dois anos.

Dois meses depois, a 9ª Vara Criminal da Justiça Federal de Belo Horizonte recebia denúncia do Ministério Federal. Marcos Valério e a mulher, Renilda Santiago, passariam a responder, com outros ex-sócios da SMPB, por crimes de sonegação tributária, falsificação de documentos públicos, uso de documentos falsos e formação de quadrilha. Os réus teriam sonegado pelo menos R$ 90 milhões em impostos, entre 2003 e 2004.

Foram detectadas fraudes na movimentação bancária da agência SMPB junto a várias instituições financeiras. Conforme a acusação, recursos vultosos saíram e entraram nas contas da empresa, lançados, na maioria dos casos, como empréstimos para o PT. Ao mesmo tempo, valores incorretos sobre as operações eram registrados na contabilidade da SMPB. A agência de publicidade não teria recolhido vários impostos.

Em novembro de 2008, o Ministério Público Federal em Belo Horizonte denunciou Marcos Valério e outras 26 pessoas, incluindo dirigentes e ex-diretores do Banco Rural, por crimes ligados ao chamado mensalão mineiro. O esquema de caixa 2 teria desviado pelo menos R$ 3,5 milhões de recursos públicos para a campanha de reeleição do governador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) em 1998. Entre os acusados estava João Heraldo Lima, que ocupava o cargo de secretário da Fazenda de Eduardo Azeredo na época do mensalão mineiro. Ele havia se tornado presidente do Banco Rural. Também foi denunciado Rogério Tolentino, sócio de Marcos Valério. Em 1998, Rogério Tolentino era juiz eleitoral em Minas Gerais. Teria recebido R$ 300 mil para favorecer Eduardo Azeredo nas eleições.

Da mesma forma que José Dirceu, pouco se soube das atividades de Marcos Valério como consultor de empresas depois do escândalo do mensalão. Um dos "trabalhos" do empresário, porém, veio à tona em 10 de outubro de 2008. Deu o que falar. Naquele dia foram presos Marcos Valério, o sócio Rogério Tolentino, policiais federais e advogados, durante a Operação Avalanche da Polícia Federal. A acusação: forjar um inquérito policial contra dois fiscais da Fazenda paulista, responsáveis por multar em R$ 104,5 milhões a empresa Praiamar, do empresário Walter Faria. A Praiamar fazia parte grupo Petrópolis, detentor da marca de cerveja Itaipava.
O falso inquérito tinha a finalidade de intimidar e constranger os fiscais. Familiares deles seriam interrogados e desmoralizados, e com isso se esperava forçar a anulação da multa por fraude fiscal no comércio de cerveja. Marcos Valério teria contratado dois advogados que, associados a três investigadores de polícia, teriam levantado informações pessoais sobre os fiscais. Com base nos dados obtidos, encomendaram o inquérito policial a dois delegados federais. Valério teria armado tudo na condição de conselheiro da Praiamar.

A Justiça Federal de Santos, no litoral sul de São Paulo, aceitou acusação do Ministério Público Federal contra Marcos Valério. Ele passou a responder por formação de quadrilha, corrupção ativa e denunciação caluniosa. Teria havido uma trama para provocar um acidente automobilístico com a finalidade de ferir um dos fiscais da Fazenda que multaram a cervejaria. Walter Faria, dono da Petrópolis, também virou réu. De acordo com a Polícia Federal, ele ofereceu R$ 3 milhões pela abertura do falso inquérito e o vazamento da história para a imprensa. Se os fiscais fossem presos, pagaria R$ 5 milhões.

12 de maio de 2012

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