"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quinta-feira, 20 de junho de 2013

GANGUE LULISTA DA CUT É ENXOTADA DE PROTESTO NO RIO DE JANEIRO

 

 
 
 
Militantes da CUT são agredidos e expulsos de protesto no Rio de Janeiro
 
Hanrrikson de Andrade
Do UOL, no Rio
 
  • Ale Silva/Futura Press
    Estabelecimentos comerciais protegem suas fachadas com tapumes nas avenidas Presidente Vargas e Rio Branco Estabelecimentos comerciais protegem suas fachadas com tapumes nas avenidas Presidente Vargas e Rio Branco
Cerca de 20 militantes da CUT (Central Única dos Trabalhadores) foram expulsos da concentração para o protesto contra o preço e a qualidade do transporte público marcado para a noite desta quinta-feira (20) no centro do Rio de Janeiro. Os militantes foram encurralados na esquina da avenida Presidente Vargas com a praça Pio 10, onde levaram socos e empurrões.
 
Os manifestantes destruíram as bandeiras e todo o material do grupo vinculado à CUT e levaram os mastros como prêmio. Pressionados pela multidão que gritava "Sem partido", os militantes deixaram o local pela rua da Quitanda. Por volta das 17h, um carro de som puxava o coro dos manifestantes.
 
Segundo o universitário Kenzo Soares, aluno da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), e um dos membros do Fórum de Luta contra o Aumento das Passagens, a passeata terá o mesmo trajeto em relação aos atos anteriores: da Candelária à Cinelândia.

Revogação do aumento no Rio e SP

Os anúncios de revogação do aumento nas duas capitais foi feito no início da noite de quarta-feira (19), a menos de 24h das manifestações marcadas para hoje. No Rio, a medida foi apresentada pelo prefeito Eduardo Paes (PMDB), segundo o qual o preço das passagens de ônibus na cidade será revogado. Desde o dia 1º de junho, a passagem de ônibus no Rio havia aumentado de R$ 2,75 para R$ 2,95, causando uma série de protestos pela cidade.
 
O prefeito anunciou ainda que os aumentos no metrô (de R$ 3,20 para R$ 3,50), trens (de R$ 2,90 para R$ 3,10) e barcas (R$ 4,50 para R$ 4,80) também serão revogados. Segundo Paes, o impacto no orçamento será de R$ 200 milhões ao ano.
 
Em São Paulo, o governador do Estado, Geraldo Alckmin (PSDB), e o prefeito da capital paulista, Fernando Haddad (PT), anunciaram que o valor dos ônibus, metrô e trem voltará a R$ 3 a partir da próxima segunda-feira (24), ante os R$ 3,20 que atualmente são cobrados. Já a integração dos ônibus com o metrô e os trens da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) voltará a custar R$ 4,65 --hoje o valor é R$ 5.

Niterói


A Prefeitura de Niterói, na região metropolitana do Rio, anunciou na noite de quarta-feira que a tarifa dos ônibus municipais será reduzida de R$ 2,95 para R$ 2,75.
 
Durante protesto na cidade, manifestantes paralisaram a ponte Rio-Niterói, e centenas de passageiros que seguiam de ônibus para a cidade e já estavam na ponte desceram dos veículos e seguiram a pé para casa. O mesmo aconteceu para quem ia para o Rio de Janeiro. A Tropa de Choque utilizou bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo e alguns policiais chegaram a sacar armas durante a confusão para retirar os manifestantes. Os confrontos continuaram pelo centro de Niterói.
 
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Manifestantes condenam ato da gangue de Lula marcado para esta quinta-feira
 
No Facebook, manifestantes que confirmaram presença no sétimo ato promovido pelo Movimento Passe Livre (MPL), marcado esta quinta-feira, 20, em São Paulo, criticam uma passeata organizada por militantes do PT pelas redes sociais, também marcada para esta tarde. O ato, que os ativistas que são contra consideram de apoio à presidente Dilma Rousseff, não é reconhecido pela direção nacional do PT.
 
De acordo com a assessoria do presidente nacional do PT, Rui Falcão, o partido quer apoiar o movimento contra o aumento das passagens, e não confrontar. Por isso, Falcão escreveu nas redes sociais: "O PT vai pra rua junto com os jovens! A luta do povo é a luta do PT!", chamando a todos para participar do ato do MPL. "Esse movimento pode até estar sendo organizado por militantes do partido, mas não pela direção nacional", afirma a assessoria do PT.
 
Em nota, Falcão declarou apoio do diretório nacional petista aos protestos: "As manifestações realizadas em todo o País comprovam os avanços democráticos conquistados pela população. São manifestações legítimas e as reivindicações e os métodos para expressá-las integram o sistema democrático."
 
Segundo os ativistas que apoiam o Passe Livre na internet, o ato de militantes petistas seria uma provocação à manifestação do grupo. A passeata dos petistas está marcada para as 16h na Avenida Angélica, a poucos metros de onde será a concentração do protesto do MPL, marcado para as 17h na Praça do Ciclista.
 
Militantes do PT estão convocando todos nas redes sociais a irem para as ruas vestindo vermelho. Alguns manifestantes afirmam que o PT quer aproveitar a onda de protestos como se estes fossem a favor do partido. No página do sétimo ato do MPL criada no Facebook, eles pedem que as pessoas não vão de vermelho e levem cartazes contra a presidente.
 
Questionada durante entrevista coletiva, Mayara Vivian, do MPL, disse que a passeata organizada por militantes do PT é "no mínimo um equívoco". "Mas todos são bem-vindos", completou a ativista. Pelas redes sociais, militantes também divulgam atos do PT na Candelária, no Rio de Janeiro, e na Praça Sete, em Belo Horizonte, para as 17h.
 
O MPL manteve o ato mesmo após a revogação do aumento das passagens, anunciada nessa quarta-feira, 19, pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB) e pelo prefeito Fernando Haddad (PT). De acordo com o movimento, o objetivo é comemorar a vitória popular e sair em solidariedade a outras cidades que ainda não conseguiram a redução das tarifas, além de apoiar pessoas que foram detidas durante as manifestações.
 
Para o ato desta quinta, mais de 180 mil pessoas confirmaram presença pelo Facebook até esta manhã.
 
Twitter. Pelo Twitter, leitores comemoraram a redução da tarifa, mas avisaram que os protestos continuam. "Eu vejo essa revogação do aumento da tarifa como incentivo pra continuar indo às ruas. É a confirmação que a voz do povo é ouvida", disse o usuário Lucas Thomé (@oversodoinverso). "O governo vai abaixar a tarifa de ônibus e os protestos continuam. Que orgulho de ver o meu Brasil lutando!", festejou Suellen Almeida (@tthelittles).

20 de junho de 2013
Clarice Cudischevitch - Estadão

REVOLUÇÃO DOS 20 CENTAVOS MOSTRA QUE FANTASIA ACABOU - DIZ FINANCIAL TIMES


  
protestos (Reuters)
Para FT, modelo brasileiro chegou ao limite
 
Um editorial publicado nesta quinta-feira no diário britânico Financial Times diz que os maiores protestos de rua vividos no Brasil nos últimos 20 anos mostram que os brasileiros se deram conta de que o "glorioso novo país" propagado pelo governo seria uma "fantasia".
 
"A revolução dos 20 centavos mostra que a fantasia acabou" diz o jornal, citando que "espetaculares 10 anos de crescimento" tiraram "cerca de 30 milhões de pessoas da pobreza" com novas demandas que não foram atendidas.
 
A chamada nova classe média, diz o jornal, "pode consumir como nunca", mas "as mudanças sociais em outros setores não acompanharam as demandas desta nova classe, ainda precária".
 
O editorial cita que "não há problema" em cultivar a imagem global do Brasil com investimentos de US$ 12 bilhões em estádios de futebol, mas "não quando a vida é tão dura para a maioria".
 
"Eles pagam impostos iguais aos de primeiro mundo e recebem em troca serviços públicos de má qualidade de países em desenvolvimento".
 
"Ônibus lotados e tráfego pesado tornam as viagens diárias caras e um desperdício de tempo. A corrupção do governo prevalece."
 
Para o FT, os brasileiros tentam se posicionar "entre o Brasil 'velho' que teriam deixado para trás e o glorioso Brasil 'novo' que o governo diz ser o país em que vivem".
 
"Isso talvez esteja em sintonia com uma tendência que corre entre os investidores: a de que o modelo brasileiro chegou ao seu limite".
 
"Em toda América do Sul, cidadãos estão fartos de ouvir como as coisas são boas", diz o FT, acrescentando que os protestos no Brasil vão causar preocupações nos mercados financeiros a respeito dos mercados emergentes como um todo e podem indicar que a "salada política dos velhos dias e o dinheiro fácil do passado podem estar chegando ao fim".

Daily Telegraph


Em um artigo de opinião, intitulado "Apesar do boom das commodities, o Brasil está perto de entrar em ebulição", o jornal britânico Daily Telegraph diz que a frustração que desencadeou os protestos no país se explica pelo fato de as pessoas "terem perdido fé no processo político", a exemplo do que ocorreu em outros países da região.
 
O texto, assinado por Daniel Hannanfaz, faz uma retrospectiva dos acontecimentos políticos nos países da América do Sul, que, nas últimas três décadas saíram de ditaduras militares, passaram por governos neoliberais que "desperdiçaram suas chances e, em desespero, optaram pela esquerda populista".
 
"Hugo Chávez na Venezuela, Evo Morales na Bolívia, Rafael Correa no Equador, Cristina Kirchner na Argentina e Luiz Inácio Lula da Silva, padrinho carismático de Dilma Rousseff, no Brasil".
 
Segundo o texto, este modelo funcionou durante um tempo.
 
"As pessoas preferiam eleger os populistas simplesmente pelo fato de que não eram da velha oligarquia. Mas mais cedo ou mais tarde, como acontece com muitos governos socialistas, o dinheiro acaba".
 
"Esse momento chegou para o Brasil e os brasileiros sentem isso".

20 de junho de 2013
BBC

GANGUES DO PSTU, PT E CONLUTAS SÃO REPELIDAS TAMBÉM NO RECIFE

PSTU, Juventude do PT e Conlutas são repelidos em PE

 
O PSTU e a Juventude do PT , além da Conlutas - Central Sindical e Popular (CSP), foram rechaçados pela multidão que começou a caminhar pelas ruas centrais do Recife, na tarde desta quinta-feira. Alguns manifestantes do PSTU gritaram "Censura é ditadura".
 
Houve um início de confronto, que foi dissipado, com gritos da multidão: "Sem violência, Sem violência". Com isso, as bandeiras saíram de cena. De acordo com a Polícia Militar (PM), a passeata reúne 36 mil manifestantes.
 
 
A concentração ocorreu na Praça do Derbi, que ficou lotada. Um violinista tocou o Hino Nacional e arrancou aplausos e gritos. Quase todos os caminhantes mostram cartazes contra a corrupção, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 37 e a violência e pedem um serviço público de qualidade.
 
Um jargão dizia "Entre outras mil, é s tu Brasil o mais roubado".
 
Outras frases movimentaram a passeata pela capital de Pernambuco. Grande parte dos manifestantes está com a mascara de "V de vingança".

20 de junho de 2013

RELIGIÃO 1 x XADREZ 0



É muito difícil encontrar alguém muito inteligente em todos os sentidos. São raríssimos e não me ocorre ninguém para citar agora. Parece que a tal da "inteligência emocional" não se faz presente em nenhum deles.
 
Tive o privilégio de ser amigo de um gênio dos grandes: Henrique da Costa Mecking, o Mequinho, um fenômeno do xadrez que sucumbiu vítima de sua total incapacidade para lidar com as coisas mais simples da vida, apesar de falar sete idiomas, ter uma memória (geral) incomparável e ser capaz de bater qualquer um em um tabuleiro de xadrez.
 
Além de amigo, fui seu assessor informal durante algum tempo, chegando até a dar algumas entrevistas em seu lugar pela absoluta falta de “saco” de Mequinho para esse tipo de coisa. Ele me pedia e se justificava com o entrevistador: “o Ricardo sabe mais da minha vida que eu mesmo”. Certamente eu não sabia, mas sabia o justo para responder as perguntas previsíveis dos jornalistas, mesmo dos - raros - que entendiam um pouco de xadrez.
 
Conhecemo-nos em um torneio carioca de xadrez universitário em que me inscrevi e Mequinho compareceu para “prestigiar”. Foi gozado. Por uma coincidências chata, fui emparceirado na primeira rodada justamente com o cara com quem eu treinava xadrez diariamente, o Zé Luiz. Combinamos então empatar a partida após uns 15 movimentos e jogamos despretensiosamente e rápido. Fomos o primeiro tabuleiro a terminar o jogo. Então Mequinho se aproximou e falou com o Zé: “como é que você aceita empate com o jogo ganho?”. Explicamos então que foi um jogo pró-forma, combinado. Após a bronca - ele, talvez com razão, achou isso errado - ficamos conversando e ele “se convidou” para participar da nossa turma. E apareceu.
 
Mequinho vivia xadrez, mas tinha muita “inveja” - inveja entre aspas e no bom sentido - de uma vida “normal” de um garoto de 18 anos como a minha. Suas obrigações e obsessões enxadrísticas não lhe deixavam tempo para isso. Frequentava minha casa e, mesmo quando eu não estava lá, ele aparecia para conversar com meus pais ou, por exemplo, perguntar à minha mãe se a barba dele estava bem feita, as orelhas e o nariz limpos, antes de aparecer em programas de TV. Até minha namorada entrou na dança: ele se apaixonou por ela, platonicamente.
 
Mequinho era um fenômeno. Despontou cedo para o xadrez, que aprendeu de ficar olhando seu pai e o prefeito de Pelotas, onde nasceu, jogarem e aos cinco anos já era capaz de ganhar os dois. Em uma terra onde o jogo (chamar xadrez de esporte é sacanagem) não representava nada, que não tinha um jogador sequer de nível internacional, um sujeito chegar a ser apontado como o único capaz de ganhar de Robert Fisher, o imbatível e louco campeão mundial, é muita coisa.
 
Aos 12 anos foi campeão gaúcho, aos 13, brasileiro, aos 15 sul-americano e Mestre Internacional e aos 20 obteve o título de Grande Mestre Internacional. Mas o começo foi difícil. Quando começou a carreira internacional, nem a Federação Brasileira e nem o governo o ajudavam. Não tinha dinheiro para contratar um analista para treinar ou estudar suas partidas adiadas durante os torneios, tendo que, várias vezes, passar as noites acordado, ele mesmo analisando como seguir os jogos. Alie-se a isso, a companhia nada agradável do seu pai nas viagens, que só fazia atrapalhar. Em um torneio na Holanda em 1967, se não me engano, assim que Mequinho deitou seu rei, reconhecendo a vitória do seu adversário, seu pai levantou-se, foi até o tabuleiro e tascou-lhe um puxão de orelha!
 
Fatos como esse fizeram Mequinho fazer suas malas e sair de casa. Veio para o Rio com a cara e a coragem e, por força da sua fama já consolidada, conseguiu logo um contrato com o Flamengo e depois um “emprego” dado por Médici, além de ter suas viagens e analistas também bancados pelo governo. Comprou um fusca e, com os prêmios que ganhava, acabou comprando um apartamento de dois quartos em Ipanema. Sua vida, então, enfim estava organizada, mas sua cabeça não. Padecia de uma enorme carência afetiva que, tenho certeza, não era nova e nem pela sua vida monástica no Rio: ela veio de Pelotas, em função de uma família meio estranha que não se limitava aos puxões de orelha públicos do seu pai. Seu avô, de quem não guardava lembranças nada agradáveis, castigava suas travessuras de criança enterrando-o até o pescoço - pelo menos foi isso que ele me contou.
 
Não sei precisar bem o ano, mas por volta de 1975 ou 76, resolveu ir contra os meus conselhos e entregar suas economias a um argentino que lhe fora indicado como um mago das finanças que cuidava dos investimentos de vários artistas e jogadores de futebol. O resultado foi catastrófico: depois de algum tempo, o sujeito sumiu com tudo que ele, os artistas e os jogadores de futebol tinham. Mequinho teve até que vender o apartamento no Leblon para o qual se mudara recentemente, por não ter mais como pagá-lo.
 
Daí para a pane de crânio total foi um pulo. Com o sistema nervoso - que já não era grande coisa - abalado, foi definhando física e mentalmente, passando a abandonar e até desistir de participar de torneios, mas foi quando algum “luminar” da medicina diagnosticou que ele tinha miastenia gravis que foi tudo pro brejo. Era evidente que seu mal era puramente psicológico, mas Mequinho precisava de uma desculpa que não denunciasse a sua fraqueza emocional e resolveu “adotar” a miastenia como fosse uma explicação mais nobre sobre seu estado.
 
Aqui cabe um parêntesis. A miastenia gravis é uma deficiência na transmissão dos impulsos nervosos que provoca o enfraquecimento dos músculos e até hoje não se conhece o que a provoca. A miastenia gravis não tem cura. Tive um amigo com a doença e sei muito bem da sua irreversibilidade, tanto que de nada adiantou a montoeira de dinheiro gasto por ele na busca de uma cura ou mesmo de um paliativo: ele definhou até morrer. Parece que hoje há alguns medicamentos que ajudam a suportá-la, mas não impedem a sua progressão.
 
Posto isto, Mequinho, de cama e em desespero, recebe romarias de religiosos que através de passes, rezas e outras mazelas lhes prometem uma “cura milagrosa” - é impressionante o oportunismo dessa gente -, entre eles, um grupo da Renovação Carismática da Igreja Católica que, não sei por que cargas d’água, entre as tantas visitas caiu no goto de Mequinho. Escolhido o “caminho” por ele, deu-se o “milagre da cura”, e ficou mais claro ainda que a única coisa que ele precisava era se sentir seguro, mesmo que amparado. E foi assim que a tal miastenia que nunca existiu, sumiu da sua cabeça, dando lugar à religião católica, que abraçou a ponto de se formar em teologia, filosofia e tentar ser padre, o que lhe foi negado pela igreja, sabe-se lá por quê.
 
A igreja se recusou a ganhar um padre, mas o xadrez perdeu um gênio, que depois dessa dedicação toda à religião, não é nem sombra do que foi.
 
Talvez meu julgamento pareça cruel, negando até mesmo um suposto diagnóstico médico, mas para mim é mais que claro que seu único mal é a sua cabeça.
 
20 de junho de 2013

MANIFESTANTES INDIGNADOS DEVEM COBRAR O APROFUNDAMENTO DAS INVESTIGAÇÕES DO MENSALÃO DO PT

 

Lupa na mão – A continuar a onda de protestos contra a corrosão do Estado, como um todo, os brasileiros de bem precisam cobrar o aprofundamento das investigações no caso do Mensalão do PT, o maior escândalo de corrupção da história nacional. O que foi julgado até então pelo Supremo Tribunal Federal é a ponta de um iceberg de lama. Contentar-se apenas com a condenação dos mensaleiros é aceitar que a sujeira maior seja varrida para debaixo do tapete.

Dois dos mais imundos capítulos do Mensalão do PT começam a ser direcionados para o ralo do esquecimento. Um acordo selado na Procuradoria-Geral da República e que passou pelos escaninhos do STF deixou de fora das investigações o principal alimentador do caixa do esquema comandado por Marcos Valério Fernandes de Souza.

Defendido por um ex-procurador-geral da República, que agora se dedica à advocacia, esse financiador, cujo nome a Justiça em decisão ditatorial nos proíbe de citar, sairá mais uma vez impune. Flagrado e preso na Operação Satiagraha, o tal empresário, um oportunista de quadro costado e com todas as letras, usou as agências de propaganda de Marcos Valério para irrigar as contas do Mensalão do PT.

O esquema criminoso funcionava a partir de campanhas publicitárias produzidas para empresas de telefonia que eram controladas pelo oportunista. Superfaturadas de forma consentida, as campanhas permitiam que a diferença entre o custo real e o valor cobrado acabasse no caixa do esquema de cooptação de parlamentares que serviu ao PT de Lula. Com o acordo selado na PGR, esse assunto não será investigado.

Outro tema relacionado ao Mensalão do PT que corre o risco de ser ignorado refere-se aos empréstimos bancários, que no julgamento do Supremo foram classificados como fraudulentos, mas na verdade são fictícios.

O que muitos preferem não enxergar é o caminho do dinheiro do caso Celso Daniel, que em determinado momento imbrica no escândalo do Mensalão do PT. Parte dos valores arrecadados com a cobrança de propina em Santo André, importante cidade do ABC paulista, acabou em contas bancárias no exterior, que meses depois do covarde assassinato do prefeito registraram bisonhas movimentações.

Sem ter como repatriar o dinheiro imundo, os empréstimos que engrossam o escândalo do Mensalão serviram para trazer de volta ao Brasil, de maneira legal, o produto da corrupção que deu origem à morte de Celso Daniel. O dinheiro foi transferido para outras contas bancárias no exterior e disponibilizado no Brasil por meio de empréstimos bancários que jamais foram quitados.

20 de junho de 2013
ucho.info

TEMENDO O PIOR NO RASTRO DAS MANIFESTAÇÕES QUE TOMAM CONTA DO PAÍS, DILMA CANCELA VIAGENS

Amarelo oficial – Responsável por um dos mais pífios governos na história da República, a neopetista Dilma Vana Rousseff disse, há dias, que ouve a voz rouca das ruas e que os protestos são legítimos.

No contraponto, o presidente nacional do PT, Rui Falcão, afirmou que o partido não teme as ruas e que deseja se juntar aos manifestantes, o que foi rechaçado com veemência nas redes sociais.

Temendo os desdobramentos das manifestações, mesmo depois de ter cometido a irresponsabilidade de se aconselhar com Lula e com o marqueteiro João Santana, a presidente decidiu cancelar a viagem oficial que faria ao Japão e que estava marcada para o próximo domingo (23).
No país asiático, Dilma teria encontro com o primeiro-ministro Shinzo Abe e seria recebida pelo imperador Akihito.

A assessoria presidencial informou também que está cancelada a viagem de Dilma Rousseff a Salvador, onde as manifestações também têm ocupado as ruas. Isso mostra que a presidente não quer ouvir a voz rouca que ecoa dos protestos, assim como o PT não tem espaço nas ruas, como insinuou Rui Falcão. A desculpa para cancelar a viagem à capital baiana foi um pedido do governador Jaques Wagner, para que fosse adiado o anúncio do “Plano Safra do Semi-Árido”.

Cada um acredita no que lhe convier, mas o fato é que a preocupação no Palácio do Planalto cresceu rápida e assustadoramente nas últimas horas. Caso tenha apostado na redução das tarifas de transporte em importantes cidades brasileiras como um abafador do clamor das ruas, Dilma deu um tiro no pé.

20 de junho de 2013
ucho.info

REVOLTA E FUTEBOL

 

Roberto DaMatta
Foi uma semana marcada por revoltas e conflitos. Os embates vão das disputas em aberto das terras terena pelos fazendeiros a uma surpreendente onda de tumultos urbanos motivados pela total inércia dos governantes diante do caos que todos vivemos nas cidades brasileiras sem transporte urbano, com um nível de criminalidade que tangencia ao da guerra civil e pela impossibilidade de usar o automóvel por falta de espaço e educação cívica.

A revolta contrasta com o futebol – esse conflito aberto, mas com tempo, espaço e regras explícitas. A revolta causa prejuízo e mal-estar. O pé na bola é uma fábrica de dinheiro e, entre nós, de toda uma afirmação do mundo. Afinal, o que é melhor: ser cinco vezes campeão do mundo ou ter inventado (usado) a bomba atômica?

Tanto o interior quanto o litoral ressuscitam conflitos reprimidos a exigir justiça, eficiência e honestidade pública. Justiça para os usuários pagadores de impostos e dependentes de transporte público e para os chamados “índios”, cujas terras foram reconhecidas e demarcadas para depois serem – eis o absurdo – “desreconhecidas”.

Aqui, estamos diante de uma nova figura legal que simboliza o neoindigenismo do governo Dilma. Ao lado de um pró-capitalismo que distribui empréstimos e concessões aos companheiros, surge um aviltante anti-indigenismo em contramão ao legado de Rondon, de Darcy Ribeiro, dos Villas-Bôas, de Noel Nutels, e de todos quantos têm alguma preocupação com a responsabilidade para com essas humanidades que, por acaso, estão dentro do nosso território.

Os antropólogos foram colocados sob suspeita. Seus laudos periciais vistos como bons demais para os indígenas. A Funai foi desmontada. Nunca antes na história desse país a questão indígena foi solucionada com tanto desembaraço. Agora, ela será administrada por um “conselho” – esse formato administrativo que desde Dom João Charuto é usado para nada resolver.

Ao lado desse conflito, testemunhamos demonstrações de violência urbana que nos tiram do prumo. Para quem viu a chamada revolta das barcas, na Niterói de 1959 – um protesto que levou a multidão a incendiar a residência dos donos da empresa, deixando um saldo de 6 mortos e 118 feridos e um belo estudo sociológico realizado por Edson Nunes -, a memória não pode deixar de anotar como o estar entre a casa e a rua é um momento sensibilizador do mistério chamado de “multidão” ou de “turba”, cuja conduta seria violenta e irracional.

Tanto o interior quanto o litoral ressuscitam conflitos reprimidos a exigir justiça, eficiência e honestidade pública
 

A revolta deflagrada pelo transporte público não é nova no Brasil. Ela remonta à Revolta do Vintém, de 1880, cujo motivo foi o aumento das passagens dos bondes. A ausência de um serviço público decente na rua na hora de ir ou voltar do trabalho é uma constante.
“A Banda”, a marchinha extraordinária de Chico Buarque de Holanda, exprime bem a processo.

A banda passa e vai arregimentando quem ouve ou é contaminado pela sua melodia. Eis um ponto de partida para compreender como o protesto termina em revolta porque a densidade dos gestos corresponde à ausência de ação dos governantes, que não são mais distinguíveis por partido ou por atitudes.

A violência igualada na sua irracionalidade é da mesma ordem de um espaço público que ficou entregue por décadas ao deus-dará da nossa passividade.

Ninguém pode determinar com precisão o motivo dessas manifestações. Mas todos temos consciência de suas intenções e de suas ultrapassagens do bom senso, graças à participação decisiva das forças policiais – esse ator imprescindível para criar a moldura final do drama. Numa sociedade democrática, protestar é rotina e fomos para a rua com essa intenção.

Tudo ia muito bem até que surgiu a polícia que veio deturpar o nosso pacifismo e mudar as nossas intenções. A polícia, por seu turno, nega a intenção do confronto. Cumpria o seu dever, mas os mais exaltados impediam qualquer ato pacifico. Como, pergunta o cidadão disposto a aceitar tudo, sair desse enredo?

Dizem que há inflação e superfaturamento, inclusive nos estádios de futebol. Há boatos “o bicho vai pegar”. Alguns bruxos dizem que as fórmulas milenaristas se esgotaram. Não há mais quem possa fazer por nós, exceto nós mesmos. Todos os políticos ficaram iguais no seu narcisismo e na sua surdez.

Em meio a tudo isso, ocorrem torneios futebolísticos mundiais. Vencemos o primeiro jogo da primeira Copa global, a das Confederações. Mas, vejam bem o sintoma: vaiaram os presidentes da Fifa e da República. Há esperança, diz o meu lado otimista; deixa pra lá, diz-me a voz que conversa com um velho amigo escocês.

20 de junho de 2013
Roberto DaMatta
Fonte: O Globo

BRASIL BIZARRO


 
20 de junho de 2013
omascate

DON'T COME TO BRAZIL ( NÃO VENHA PARA A COPA )


 
 
20 de junho de 2013

JORNAL NACIONAL PARA MAYARA VIVIAN ANUNCIAR A VELHA E A NOVA PAUTAS DO MOVIMENTO PASSE LIVRE: REFORMA AGRÁRIA E REFORMA URBANA


 
Ah, os liberais deslumbrados vão ficar chateadinhos? Que pena!
Os ditos “libertários” estão surpresos? Pois é!
Eu, com fama de conservador, de reacionário, não estou.
Mayara Vivian, a face mais visível do Movimento Passe Livre, e um outro barbudinho foram ouvidos pelo Jornal Nacional. E agora? Ele respondeu de imediato: “Agora é o passe livre”.
E então ela tomou a palavra: “Agora é o passe livre. Quando a gente apareceu com essa proposta há sete anos, as pessoas diziam: ‘Vocês estão loucos’”. E anunciou os próximos passos de sua luta, com o punho medianamente levantado:
“Reforma agrária, reforma urbana, contra o latifúndio agrário, contra o latifúndio urbano”.
Perfeitamente!
O conceito de “latifúndio urbano” deve ser uma categoria teórica recentemente inaugurada no curso de geografia que ela faz.
Ainda no Jornal Nacional, um trecho de uma nota oficial do Movimento Passe Livre foi levado ao ar. Respondia a uma afirmação do prefeito Fernando Haddad, segundo quem a suspensão do aumento prejudicaria investimentos em áreas essenciais à população, como saúde e educação.
Na nota, o Passe Livre disse que isso não corresponde à verdade porque essas verbas são vinculadas, isto é, têm um percentual fixo do orçamento.
A resposta do movimento é intelectualmente desonesta, para não variar: a verba vinculada exclui a possibilidade de investimentos suplementares. Pegue-se o caso das creches em São Paulo: a cidade não conseguirá zerar o déficit de vagas se não investir mais do que mínimo obrigatório.
Fico chateado de ter de desmontar em três linhas a versão fraudulenta dos fatos do tal Passe Livre. Sei que, no caso, estou dizendo que Fernando Haddad, por quem não tenho nenhuma simpatia, está dizendo a verdade, e os heróis do Passe Livre, a mentira.
Pois é… Esse cara sou eu, como disse aquele. Costumo chamar a verdade de “verdade” e a mentira de “mentira”.
Então tá.
Bem, suponho que, nos próximos tempos, podemos esperar o fechamento de ruas, a tomada da Paulista, das Marginais, da Ponte Rio-Niterói, sei lá do quê, em defesa da reforma agrária, da reforma urbana etc. e tal.
Com as Al Jazeeras dando o maior apoio — DESDE QUE NINGUÉM PEÇA O CONTROLE SOCIAL DA MÍDIA, CLARO! Mayara Vivian, suponho, em breve, dará as mãos a João Pedro Stédile.
“Pacificamente” — advérbio que assume sentido novo nas Al Jazeeras caboclas —, vão, então, impedir o direito que têm as pessoas de ir e vir, vão causar o máximo de transtorno possível, para acabar, inclusive, com os latifúndios urbanos, seja lá que zorra isso queira dizer.
Enquanto esse movimento pacífico acontece, uma “minoria de baderneiros”, como diz o Jornal Nacional, vai quebrando tudo, diante de uma maioria que a tudo observa gritando: “Sem vi-o-lên-ci-a/ sem vi-o-lên-ci-a”.
Ah, sim, a turma do terror continua a mandar brasa em Niterói. Uma minoria, claro!
 
20 de junho de 2013
Reinaldo Azevedo - Veja Online
 

SEM QUALQUER DOSE DE VERGONHA, PT PEGA CARONA NA REDUÇÃO DAS TARIFAS DE TRANSPORTE EM SP


 
Cadê as bandeiras, Rui Falcão?  
“A presença de filiados do PT, com nossas cores e bandeiras neste e em todos os movimentos sociais, tem sido um fator positivo não só para o fortalecimento, mas, inclusive, para impedir que a mídia conservadora e a direita possam influenciar, com suas pautas, as manifestações legítimas”, afirma Falcão

Ação chicaneira – Os brasileiros de bem que se preparem, pois o Partido dos Trabalhadores acionou a catapulta do oportunismo tão logo foi anunciada a revogação do aumento das tarifas de transporte em São Paulo.
Em comunicado distribuído à imprensa, o presidente nacional do PT, Rui Falcão, afirma que “as manifestações realizadas em todo o País comprovam os avanços democráticos conquistados pela população”. Por certo Falcão não se refere às nesgas de democracia que restam no País, pois o PT conseguiu anestesiar boa parte da opinião pública com as esmolas sociais, tão criticadas no período em que o partido engrossava as fileiras da oposição.
No comunicado, que serve para o PT indevidamente pegar carona nos recentes protestos, Rui Falcão aproveita para incensar o PT, como se a legenda fosse uma reunião de herdeiros de Aladim com descendentes de Messias. O PT foi responsável pelo período mais corrupto da história nacional, tendo patrocinado escândalos aos bolhões, o que não dá a Falcão a prerrogativa de destacar “as transformações promovidas no Brasil nos últimos 10 anos, pelos Governos Lula e Dilma”.
 
O Brasil experimentou na última década – e ainda experimenta – uma degradação do Estado como “nunca antes na história deste País”, movimento que se deu na esteira da incompetência que marca o partido, mas Rui Falcão exalta “a ascensão social de 40 milhões de pessoas, a redução das desigualdades sociais, a geração de mais de 20 milhões de empregados com carteira assinada, o ingresso de milhões de jovens nas universidades, a ampliação de oportunidades para todos, enfim o surgimento de um novo País – colocam na ordem do dia uma nova agenda”.
 
O presidente do PT, assim como muitos integrantes da legenda, é um embusteiro profissional, pois não se pode ignorar o estrago promovido por Lula e Dilma nos últimos dez anos. A incapacidade do governo do PT levou o País a uma preocupante paralisia, a ponto de espantar investidores estrangeiros que poderiam reverter o apagão logístico que cresce a cada dia. Mesmo assim, Rui Falcão abusa da ousadia e da soberba.
“Na área de mobilidade urbana, que agora catalisa manifestações em centenas de cidades, várias conquistas ocorreram em governos do PT, como o Bilhete Único, pelo Governo Marta em São Paulo, que resultou na redução de 30% no custo do sistema. Bilhete este que será agora ampliado pelo prefeito Fernando Haddad, com validade mensal e novos ganhos para os usuários que ainda serão beneficiados com a decisão da abertura de corredores e duplicação de importantes vias de acesso à periferia”, destaca o petista.
 
“O Governo Dilma, que destinou R$ 33 bilhões para o PAC da Mobilidade Urbana, editou Medida Provisória que zerou as alíquotas de PIS/PASEP e Cofins incidentes sobre as empresas operadoras de transporte coletivo municipal rodoviário, metroviário e ferroviário de passageiros, possibilitando a redução das tarifas”, completa.

Lula flanou nas nuvens da popularidade porque apostou na tese de que um país desenvolvido é aquele em que o pobre tem seu automóvel, quando na verdade é o que permite que o rico usa o transporte público, mas Falcão volta a abusar quando felicita os manifestantes. “O PT saúda, pois, as manifestações da juventude e de outros setores sociais que ocupam as ruas em defesa de um transporte público de qualidade e barato”, escreve o petista.
 
É preciso dar um basta a essa farsa desmedida do PT, que tenta embarcar como intruso nos protestos que levaram às ruas críticas à legenda, aos mensaleiros, ao governo e à própria presidente Dilma Rousseff.
Como sempre acontece nas declarações desses esquerdistas festivos que se lambuzam cada vez mais como direitistas, o comunicado de Rui Falcão abre espaço para a enfadonha cantilena petista, que sempre culpa a direita e a porção da imprensa nacional que resiste aos desmandos de um governo ditatorial e truculento nos bastidores.

“A presença de filiados do PT, com nossas cores e bandeiras neste e em todos os movimentos sociais, tem sido um fator positivo não só para o fortalecimento, mas, inclusive, para impedir que a mídia conservadora e a direita possam influenciar, com suas pautas, as manifestações legítimas”, afirma Falcão.
 
20 de junho de 2013
ucho.info

O QUE A WIKIPEDIA NÃO CONTA


 Internet é uma benção para as comunicações e para a liberdade de expressão. Hoje, com um mínimo de habilidade, qualquer pessoa pode tornar-se jornalista, escritor ou editor e encontrar seus nichos de leitores. Mas há muito lixo na rede. Pior ainda, lixo travestido de erudição. Falo da Wikipedia, a enciclopédia on line feita por qualquer um que se habilite a criar um verbete. Terá muita informação de qualidade, mas também é pródiga em mentiras.

Um amigo, que precisava do esquema de cabeamento de uma tomada DIN (norma alemã), não o encontrou nem no site da DIN. Mas achou exatamente o que lhe era necessário para fazer um cabo na... WikiPedia! Pode ser. Mas eu busquei por informações menos técnicas.

Procurei, por exemplo, por Osho, vigarista hindu, antes chamado Rajneesh Chandra Mohan Jain, e mais conhecido nos anos 70 como Bhagwan Shree Rajneesh. Diz a Wikipedia:

“Rajneesh escreveu vários livros, que até hoje fazem muito sucesso em muitos países, inclusive o Brasil, país em que tem um pequeno mas muito ativo grupo de seguidores, espalhado em muitos dos grandes centros e em algumas comunidades mais afastadas. Muitos desses seguidores exercem algum tipo de atividade terapêutica alternativa, como por exemplo a "Osho Pulsation", Danças Sagradas", "Biodanza, práticas de Shamanismo e a assim chamada "meditação dinâmica" (há quem diga tratar-se de um exercício aeróbico que promove embriaguez por hiperventilação). Seus seguidores ("Sannyasins") o apresentam como um grande contestador e libertador. Seu ensinamento sem dúvida enfatizava bastante a busca de liberdade pessoal e apresentava uma atitude mordaz em relação à tradição e à autoridade estabelecida”.

Tudo muito edificante. O que Wikipedia não diz, é que Osho – ou Rajneesh – se dizia Deus, fez fortuna enganando jovens e provocou um escândalo internacional com suas cerimônias tântricas, em verdade alegres orgias sexuais. Possuía terrenos, hotéis, uma rede de casa de massagens na Europa – isto é, prostituição – e uma frota de 91 Rolls-Royces. Acusado de perversão, realização de lavagem cerebral e sonegação de impostos, foi deportado dos Estados Unidos para a Índia, onde morreu de Aids.

Nos EUA, respondeu por 35 acusações e foi condenado a dez anos de prisão com sursis. Foi expulso também da Grécia, foi rechaçado da Alemanha e da Espanha, só conseguiu entrar na Irlanda porque seu piloto alegou ter um doente a bordo. Sua secretária Sheela Birustiel-Silvermann (Ma Anad Sheela) foi extraditada da Alemanha, onde estava no cárcere em Bühl, e foi condenada pelo tribunal federal de Portland (Oregon), em 86, a quatro anos e meio de prisão, por fraude e envenenamento alimentar. A investigação revelou que centenas de jovens mulheres foram constrangidas a aceitar uma operação de esterilização. Rajneesh não tem biografia, mas folha corrida. Isto, a Wikipedia não diz.

Busquei depois a biografia de Rigoberta Menchú Tum, a guatemalteca que obteve em 1992 o prêmio Nobel da Paz. A Wikipedia é generosa. Diz que Rigoberta se envolveu em atividades sociais reformistas através da Igreja Católica e se tornou proeminente nos movimentos dos direitos das mulheres. Em 79, seu irmão teria sido aprisionado, torturado e morto pelo exército guatemalteco. Em 81, fugiu para o México, onde organizou a resistência contra a opressão na Guatemala e a luta pelos direitos indígenas. Em 1983, contou sua vida a Elisabeth Burgos Debray, mulher de Régis Debray, o delator de Che Guevara na Bolívia.. O livro resultante, publicado em ingles como I, Rigoberta Menchú, é um absorvente documento humano que atraiu considerável atenção internacional.

O que a Wikipedia não conta é que Rigoberta Menchú é um solene embuste. David Stoll, em seu livro Rigoberta Menchú and the Story of All Poor Guatemalans, mostra que a prestigiada militante em pouco ou nada difere de outros vigaristas já galardoados com os prêmios Nobel da Literatura ou da Paz, essas duas láureas jogadas de vez em quando pelos louros nórdicos aos nativos e mestiços do Terceiro Mundo.

Segundo Stoll, a premiada com o Nobel descreve com freqüência "experiências pelas quais nunca passou". Em seu livro, afirma nunca ter freqüentado escola, nem saber ler, escrever ou falar espanhol até a época em que ditou sua autobiografia. Mas sua incultura era postiça: recebeu o equivalente à instrução ginasial em internatos particulares mantidos por freiras católicas. A luta de Menchú e outros indígenas pela terra, contra latifundiários de origem européia, era em verdade uma antiga rixa familiar de seu pai contra parentes próximos. O irmão mais jovem que dizia ter visto morrer de fome nunca existiu. Um outro, que dizia ter visto morrer queimado, não morreu queimado nem ela viu sua morte. Isto a Wikipedia não conta.

Procuro o verbete sobre Madre Teresa de Calcutá. Considerada a missionária do século XX, concretizou o projecto de apoiar e recuperar os desprotegidos na Índia. Através da sua congregação As Missionárias da Caridade, partiu em direção à conquista de um mundo que acabou rendido ao seu apelo de ajudar o mais pobre dos pobres.

Terceira filha de um rico comerciante albanês, Agnes Gonxha Bojaxhiu estudou até aos 12 anos num colégio estatal da actual Croácia. Durante a década de 20, foi solista no coro da igreja da sua aldeia e chegou mesmo a dirigi-lo. Deixou a sua casa aos 18 anos para entrar na Congregação das Irmãs de Nossa Senhora do Loreto, em Rathfarnham, perto de Dublin, na Irlanda, onde foi acolhida como postulante. Em 1931, partiu para a Índia, para a cidade de Darjeeling, onde fez o noviciado no colégio das Irmãs de Loreto.

No dia 24 de maio de 1931, fez a profissão religiosa e emitiu os votos temporários de pobreza, castidade e obediência tomando o nome de Teresa. De Darjeeling passou para Calcutá, onde exerceu, durante os anos 30 e 40, a docência em Geografia no Colégio bengalês de Sta Mary, também pertencente à congregação de Nossa Senhora do Loreto. Impressionada com os problemas sociais da Índia que se refletiam nas condições de vida das crianças, mulheres e velhos que viviam na rua e em absoluta miséria, fez a profissão perpétua a 24 de Maio de 1937.

Em 1946, decidiu reformular a sua trajetória de vida. Dois anos depois e após muita insistência, o Papa Pio XII permitiu que abandonasse as suas funções enquanto monja, para iniciar uma nova congregação de caridade, cujo objetivo era ensinar as crianças pobres a ler. Desta forma, nasceu a sua Ordem – As Missionárias da Caridade. Como hábito, escolheu o sari. Como princípios, adoptou o abandono de todos os bens materiais. O espólio de cada irmã resumia-se a um prato de esmalte, um jogo de roupa interior, um par de sandálias, um pedaço de sabão, uma almofada e um colchão, um par de lençóis, e um balde metálico com o respectivo número.

No dia 21 de dezembro de 1948, foi-lhe concedida a nacionalidade indiana. A partir de 1950 empenhou-se em auxiliar os doentes com lepra. Em 1965, o Papa Paulo VI colocou sob controlo do papado a sua congregação e deu autorização para a sua expansão a outros países. Centros de apoio a leprosos, velhos, cegos e doentes com VIH surgiram em várias cidades do mundo, bem como escolas, orfanatos e trabalhos de reabilitação com presidiários. Em 1979, ganhou o prêmio Nobel da Paz. Morreu em 1997, com 87 anos e foi beatificada em outubro de 2003.

Isto, e mais um pouco, é o que a Wikipedia diz sobre a Madre Teresa de Calcutá. Supõe-se que em breve será reconhecida pelo Vaticano como santa. O que falta dizer é que Agnes Gonxha Bojaxhiu costumava depositar flores na tumba de seu conterrâneo, Enver Hoxha, um dos mais sanguinários ditadores comunistas do século passado. No Haiti, durante a tirania de Baby Doc, recebeu de suas mãos a "Légion d'honneur" haitiana. Junto à Suprema Corte dos Estados Unidos, pediu clemência para Charles Keating, vigarista condenado a dez anos de prisão por lesar os contribuintes americanos em 252 milhões de dólares. Deste senhor, Madre Teresa recebeu a simpática quantia de 1,25 milhão de dólares e a oferta de um jato privado para suas viagens. Isto a Wikipedia não conta.

Terá muita coisa boa a enciclopédia. Mas quando seus verbetes tratam de ideologia ou religião, revela-se um desastre.


20 de junho de 2013
janer cristaldo

MÁSCARA DE PERSONGEM INSPIRADO EM CONSPIRADOR INGLÊS USADA MUNDO AFORA

 
Personagem anarquista que luta contra governo totalitário, popularizada no filme ‘V de vingança’, vira adereço usado em protestos no mundo inteiro

Manifestantes com máscara de “V”
Foto: Agência O Globo / Pedro Kirilos
Manifestantes com máscara de “V” Agência O Globo / Pedro Kirilos

Ele está em toda parte — às vezes no mesmo dia. E protesta contra tudo e por tudo, em diversas línguas. Na metrópole turca Istambul, enfrenta com paus e pedras a polícia do premier Recep Tayyip Erdogan; na capital salvadorenha, São Salvador, participa da marcha do Dia do Trabalho; no centro financeiro alemão, Frankfurt, ergue-se contra a crise econômica; no Rio e São Paulo, grita contra o alto preço das tarifas de ônibus, a corrupção, os péssimos serviços públicos... Nos últimos anos, não há lugar que — palco de alguma confusão ou reivindicação em praça pública — não registre a presença de pelo menos meia dúzia de caras brancas com sobrancelhas, bigode e cavanhaque preto bem delineados.
 
A marca registrada do manifestante globalizado, no entanto, não podia ser menos moderna. Embora popularizada pelo protagonista do filme “V de vingança”, de 2005, a máscara que identifica descontentes de todas as latitudes tem sua origem num personagem do início do século XVII pouco conhecido fora dos países de língua inglesa: Guy Fawkes, um dos integrantes da Conspiração da Pólvora de 1605.
 
Antes de tomar as ruas das cidades do planeta nos dias atuais, Fawkes fazia aparições nos livros de História da Inglaterra como o homem que tramou explodir o Parlamento em Londres, com o rei Jaime I, ministros, parlamentares e toda a família real dentro, na abertura da sessão legislativa na Câmara dos Lordes em 5 de novembro de 1605.
 
Preso, torturado e executado, ele se tornou uma espécie de vilão popular por força da Lei do 5 de Novembro — aprovada em 1606 por aliviados parlamentares após a descoberta da conspiração — que instituía a data como celebração do dia em que o Parlamento foi salvo da destruição. Durante séculos, acenderam-se fogueiras, e Fawkes foi malhado como Judas a cada 5 de novembro.
 
— Os conspiradores queriam testar se uma nação do século XVII podia sobreviver à destruição da classe política, com todos os seus símbolos e monumentos — disse ao GLOBO, da Inglaterra, o historiador Mark Nicholls, do St. John’s College, da Universidade de Cambridge e autor do livro “Investigando a Conspiração da Pólvora”.

— Daquele dia até hoje, o glamour tenebroso do caso tem chocado as pessoas e atraído a atenção delas em igual medida.
 
Nome virou vocábulo da língua
 
A lei caiu em 1859, mas a tradição, exportada para onde quer que tremulasse uma bandeira inglesa, continuou. Com o passar do tempo, a conotação negativa ligada ao personagem foi se perdendo, a ponto de seu nome — antes sinônimo de vilania — ser incorporado ao vocabulário cotidiano dos americanos da forma mais casual possível: guy, no inglês dos Estados Unidos, virou algo como o nosso “cara”.

20 de junho de 2013
Flávio Henrique Lino - O Globo

"PROTESTOS PODERÃO TORNAR RESULTADO DAS URNAS MAIS INÓSPITO PARA A DEMOCRACIA"

Os liberais do miolo mole coloquem o burro na sombra: movimento que está nas ruas provocará uma reciclagem do PT pela esquerda, poderá tornar o resultado das urnas ainda mais inóspito para a democracia e a racionalidade e tentará deixar o país à mercê de grupelhos organizados. E a nota asquerosa do PT
 
 
Alguns dos ataques mais duros e irrefletidos que sofri nesses dias partem de pessoas que se dizem “libertárias”. Também elas não têm simpatia pelo petismo, dizem-se liberais em economia e, de tal sorte detestam o Estado que, no limite, flertam com o fim das Forças Armadas e até da polícia. Execram-me por vários motivos, mas particularmente por conta do meu “conservadorismo”, especialmente no que concerne ao aborto (são favoráveis) e à legalização das drogas — favorabilíssimos.
 
Alguns, tomados de uma cegueira verdadeiramente missionaria, acham que eu não deveria nem mesmo ter o direito de escrever. Acreditam que a causa do libertarismo estaria melhor se eu fosse censurado. É um jeito de ver o mundo.
 
Essas pessoas se encantaram, a exemplo de muitas outras que não gostam do PT, com esse movimento em favor da redução das tarifas de ônibus e também tomam a causa como metonímia, a parte pelo todo. Como é mesmo aquele cartaz? “Não e por 20 centavos, é por direitos”. Então tá.
 
Políticos de oposição forçam uma pouco a mão para tentar ver nos protestos uma rejeição ao governo Dilma e a alguns de seus insucessos. O Financial Times também fez isso (ver post). Junto com a luta pela redução da passagem, passamos a ouvir protestos contra a corrupção e a gastança de dinheiro com a Copa do Mundo. Criou-se até uma falsa oposição — essencialmente desinformada (falarei mais a respeito em outro post), entre “hospitais” e “estádios”, entre “saúde e educação” e Copa.
 
Garotas e garotos de classe média, parte deles insuflada por seus professores papo-cabeça de escolas caras, também foram às ruas por mais cidadania. Aquela gente saudável, de pele boa (vitaminas balanceadas na infância), neófita em protestos, acabou conduzindo muitos observadores a severos, severíssimos enganos. Já volto a este ponto. Preciso abrir aqui um parêntese longo.
 
Parêntese de cinco parágrafos

O Movimento Passe Livre se fortaleceu em São Paulo em 2011, embora seja mais antigo, com o apoio entusiasmado do PT. Foi o partido que ajudou a lhe dar visibilidade nas redes sociais. Petistas que agora estão lastimando a difícil situação em que acabou ficando o prefeito Fernando Haddad discursaram, então, em defesa do movimento e contra Gilberto Kassab por conta do reajuste da passagem naquele ano.
 
Escrevi muitos textos então, procurem em arquivo, apontando que vários de seus militantes eram jovens que estudavam nas mais caras escolas privadas de São Paulo.
 
Num post do dia 25 de janeiro de 2011, depois de essa gente promover uma bagunça danada na reabertura da Biblioteca Mário de Andrade, destaquei num texto o ideário do Passe Livre, que está na página do movimento. Muita gente se esqueceu dele, mas eu lembro:
 
“O MPL deve ter como perspectiva a mobilização dos jovens e trabalhadores pela expropriação do transporte coletivo, retirando-o da iniciativa privada, sem indenização, colocando-o sob o controle dos trabalhadores e da população. Assim, deve-se construir o MPL com reivindicações que ultrapassem os limites do capitalismo, vindo a se somar a movimentos revolucionários que contestam a ordem vigente.”
 
Assim, a suposição de que o Movimento Passe Livre pudesse ou possa ser, de algum modo, útil a causa da alternância de poder no país é um bobagem.
Sua visão de mundo, já escrevi aqui algumas vezes, é o do petismo primitivo.
“E por que tantos jovens?” Porque o movimento é mais organizado do que parece.
Trata-se de uma piada tosca essa história de que não passam de idealistas movidos pela espontaneidade e pelo espontaneísmo.
 
O grupo tem “representantes” em várias escolas particulares do ensino médio de São Paulo — curiosamente (ou nem tanto), praticamente inexiste nas públicas. Na campanha de 2012, a turma do Passe Livre e outros movimentos de esquerda organizados nas redes sociais apoiaram, claro!, Fernando Haddad, que só conhecia, até estes últimos dias, a mobilização das redes a favor. Agora experimentou o que é estar do outro lado do linchamento virtual.
 
Essa causa, é bom notar, não “pegou” só agora. O Passe Livre já mobilizava algumas centenas naquele 2011. Inovou, desta feita, na ousadia. Não mais intervenções para submeter autoridades a constrangimentos. Nada disso!
O negócio era paralisar a cidade, criar transtornos, provocar a polícia. Até aquela quinta-feira, dia 13 de junho, do grande confronto em São Paulo, a turma não vinha mobilizando mais do que 5 ou 6 mil pessoas.
Os vândalos, à diferença do que se tem tentado firmar como verdade, já eram parte da equação. Ônibus eram pichados, chutados, a cidade era empurrada para o caos.
 
A repressão policial — e gente que sai por aí depredando tem mesmo de ser reprimida — acabou ferindo alguns jornalistas, o que mexeu com o espírito de corpo. Os coleguinhas aceitavam de bom grado ser hostilizados pelos manifestantes — porque isso já vinha acontecendo —, mas pela Polícia? Isso não! Entendo que as duas coisas são inaceitáveis. Eventuais excessos (que precisam ser apurados e, se comprovados, punidos) foram tomados como exemplares da ação da Polícia Militar, que já é, em regra, odiada pelo jornalismo.
 
Por quê? Fica para outro texto. Fez-se um escarcéu dos diabos. Os autoritários, que não reconhecem o direito de ir e vir, que se negam a negociar com o Poder Público, foram convertidos em arautos de um novo mundo.
A partir de então, a peleja passou a ter dois lados: o poder público e sua polícia repressora e o movimento “pacífico”, eventualmente perturbado por uma minoria de radicais.
A imprensa se encarregou também de inventar uma pauta mais ampla para o Passe Livre, emprestando-lhe até certa coloração antipetista, o que — E LAMENTO DIZER ISTO — é falso.
 
Foi a cobertura jornalística, especialmente a das TVs, que transformou o Passe Livre num movimento benigno, que só quer um mundo melhor. Em certa medida, houve uma tentativa de aparelhamento ideológico. A turma soube usar muito bem a adesão da imprensa, mas sem jamais abrir mão de hostiliza-la. Jornalistas desenvolveram uma espécie de Síndrome de Estocolmo com os ditos movimentos sociais: quanto mais são achincalhados, mais se apaixonam e mais lhes prestam serviços. Houve gente que chegou a tomar petelecos dos bacanas, mas não abriu mão se fazer suas mesuras. É deprimente!
 
Com a imprensa a favor das manifestações — quem estudar o caso verá que houve convocação mesmo —, e a Polícia Militar demonizada e moralmente proibida de atuar (em São Paulo, houve o anúncio prévio de que a tropa de choque não iria para as ruas, decisão em si absurda, já que não se sabia de antemão o que poderia acontecer), o resultado não poderia ter sido outro: assistiu-se à nacionalização da mobilização.
Mais: na sexta-feira, 14, o PT achou que se tinha aberto uma janela para transformar a manifestação marcada para segunda, dia 17, num ato anti-Alckmin e anti-PM e liberou a sua turma: deu ordem para engrossar o movimento. Ocorre que ele já tinha se nacionalizado, e o tiro saiu pela culatra.
O Rio acabou reunindo bem mais gente do que São Paulo. Fecho o parêntese.
 
Volto ao ponto

Como escrevi ontem, o resultado das violentas manifestações lideradas pelo Passe Livre — É MENTIRA QUE SEJA UMA MAIORIA DE GENTE PACÍFICA INFILTRADA POR VÂNDALOS — premia um método de ação política: a truculência.
As passagens de ônibus, podem escrever aí, estarão congeladas em todo país até 2015 ao menos. Ou alguém se atreverá a corrigi-las em ano eleitoral (2014), correndo o risco de ter de enfrentar a Mayara Vivian, convertida em nova pensadora de políticas públicas e musa da imprensa que não ousa mais desafiar a “massa” das minorais barulhentas?
É claro que esse dinheiro sai de algum lugar — e sairá dos investimentos. Sem contar o risco evidente de sucateamento do setor!
 
O método premiado, a depender de como caminhem as coisas, pode ser também consagrado. E autoridades eleitas, doravante, estarão simplesmente impedidas de articular políticas públicas sem a aprovação de movimentos que outorgam a si mesmas o papel de representantes do povo — ou é isso, ou param as cidades. E, como sabemos e como quer a imprensa, a Polícia não poderá mover uma palha.
A sociedade fica, assim, refém daqueles que se dizem dispostos “a mudar o mundo”, entendendo, claro, que o seu receituário é de tal sorte superior que pode ser imposto aos outros.
 
Sim, existe uma penca de motivos que explicam a adesão de milhares de brasileiros da classe média a uma causa que, de imediato, nem lhes diz respeito. Compreendo e respeito os motivos dessas pessoas. E ainda escreverei a respeito.
Mas não posso e não vou endossar a truculência ou supostos mecanismos de democracia direta, potencialmente perigosos, tendentes, a depender dos desdobramentos, a comprometer seriamente o regime democrático. E agora chego ao ponto crucial deste artigo, anunciado lá no título.
 
Única força

O lulo-petismo é a única força de massa — ou, se quiserem, no jargão característico, “movimento de massa” — verdadeiramente organizada no país. Por “organização”, entenda-se uma vinculação orgânica com aparelhos sindicais, no campo e nas cidades, capazes de mobilizar recursos e pessoas para atuar em várias frentes.
 
O método do Movimento Passe Livre, ora premiado com a decisão da redução das tarifas — e não restava às autoridades alternativa, a não ser a demonização diária nas TVs — força uma reciclagem do petismo pela esquerda; convida o partido a uma espécie de volta às origens; introduz um suposto viés de frescor que vem das ruas (que, na verdade, é bolor), do qual o partido andava um tanto distante, agora que se tornou também uma gigantesca burocracia de ocupação do estado.
 
Aos petistas, não custa muita coisa mudar a chave, não!, da atual posição, vamos dizer assim, mais à direita (em relação a seus marcos anteriores), próxima da social-democracia, para outra mais próxima de seu passado.
 
O Diretório Nacional do PT divulgou ontem uma nota oficial, assinada pelo presidente do partido, Rui Falcão, com aspectos verdadeiramente asquerosos.
 
Transcrevo trechos em vermelho. Leiam atentamente. Analiso depois.
 
As manifestações realizadas em todo o País comprovam os avanços democráticos conquistados pela população. São manifestações legítimas e as reivindicações e os métodos para expressá-las integram o sistema democrático. É papel dos partidos, do Congresso e dos Governos em todos os níveis dialogar com estas aspirações.

(…)
O PT saúda, pois, as manifestações da juventude e de outros setores sociais que ocupam as ruas em defesa de um transporte público de qualidade e barato.
 
Estamos certos de que o movimento saberá lidar com atos isolados de vandalismo e violência, de modo que não sirvam de pretexto para tentativas de criminalização por parte da direita. Nesse sentido, repudiamos a violência policial que marcou a repressão aos movimentos em várias praças do País, sobretudo em São Paulo, onde cenas de truculência, inclusive contra jornalistas no exercício da profissão, chocaram o País.
 
A presença de filiados do PT, com nossas cores e bandeiras neste e em todos os movimentos sociais, tem sido um fator positivo não só para o fortalecimento, mas, inclusive, para impedir que a mídia conservadora e a direita possam influenciar, com suas pautas, as manifestações legítimas.
 
A insatisfação de parcelas da juventude em relação às instituições e aos partidos políticos revela a necessidade de uma ampla reforma do sistema político e eleitoral em defesa do que vêm se batendo o PT e outras organizações da sociedade. Do mesmo modo, as manifestações têm mobilizado sua inconformidade contra o tratamento dado pelo mídia conservadora aos movimentos, inclusive pelo fato de, num primeiro momento, ter criticado a passividade da polícia.
 
Diante das demandas por transporte de melhor qualidade e barato, o Diretório Nacional do PT recomenda aos nossos governos que encontrem uma resposta necessária, que, no curto prazo, reduza as tarifas de transporte e, num médio prazo, em conjunto com os governos estadual e federal e com ampla participação popular, discuta soluções para um novo financiamento público da mobilidade urbana.
 
A direção do PT conclama a militância a continuar presente e atuante nas manifestações lado a lado com outros partidos e movimentos do campo democrático e popular.
 
Voltei
 
Uma leitura ingênua poderia indicar que o partido só está tentando pegar carona no sucesso do Passe Livre. Lamento! Pode ser isso, mas certamente é muito mais do que isso. Vejam ali as referências a vandalismo como atos isolados e, claro, não poderia faltar, as críticas à “mídia conservadora” e ao governo de São Paulo — e todos sabemos qual foi o papel da tal “mídia” nessa história.
 
Percebam o petismo endossando as críticas aos partidos e às instituições, aproveitando, mais uma vez, para defender a reforma do sistema político e eleitoral — e nós já sabemos o que quer a legenda: regras para se eternizar no poder. O partido foi colhido de surpresa pelo tamanho das manifestações? Foi, sim. Isso é um sinal de que envelheceu? É. Mas nada que não possa ser corrigido para muito pior…
 
Entendam, minhas caras, meus caros: eu sei que gente que não tolera mais a corrupção, a impunidade, a bandalheira e a incompetência engrossou as passeatas do Movimento Passe Livre. E o fez por bons motivos. Há entre os manifestantes até mesmo aqueles que foram protestar em frente ao prédio de Lula. Nada disso, no entanto, muda o caráter do que se viu nas ruas ou anula o fato de que o método premiado é danoso para o regime democrático.
 
O que queremos? Uma democracia tutelada por supostos “conselhos populares”?
O Movimento Passe Livre já disse qual é a sua agenda. E ela não é boa.
 
O país que acaba de amanhecer não está mais democrático do que aquele que amanheceu ontem, mas menos. Não está mais racional, mas menos. Não está mais justo, mas menos. Ainda que muitas pessoas de boa-fé possam ter aproveitado para expressar a sua indignação com tudo o que há de errado no país — da inflação à impunidade —, é preciso ver que método, que pauta e que visão de mundo foram premiados ontem.
E eu lhes asseguro: nenhum deles presta para uma sociedade democrática e de direito.
 
De resto, os petistas têm, sim, como trocar material genético com essa gente porque as proteínas se combinam. Aguardem para ver.
 
20 de junho de 2013
Reinaldo Azevedo - veja