"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 24 de agosto de 2011

JORNALISMO DE QUALIDADE EM PROGRAMA DE HUMOR


Se a mídia brasileira – tanto a convencional como a moderna – olhasse para o Custe o que Custar, o CQC, programa semanal de humor da TV Bandeirantes, com mais atenção e sem nenhum preconceito descobriria ali um formato que a levaria a escalar um belo degrau de qualidade em jornalismo. Refiro-me ao quadro do CQC chamado “Proteste Já!”. Mais que isso: menciono o fato de esse quadro haver introduzido uma agenda ao jornalismo da TV, algo que poderia ser adotado por mídias de qualquer espécie.

Para quem ainda não viu, o “Proteste Já!” é feito de reportagens sobre problemas que afetam comunidades de diferentes municípios do Brasil. O jornalismo é conduzido por lances do humor escrachado do CQC, o que não lhe tira nem a importância, nem a seriedade. A reportagem mostra bairros que ficaram isolados pela queda de uma ponte que nunca é restaurada no Vale do Paraíba; a morte de pessoas por falta de uma passarela numa rodovia de tráfego intenso na região de Campinas; as frequentes inundações de um córrego na periferia de Mauá, no ABC Paulista etc. Por vezes, entra em cena a criatividade de quem faz o CQC: um chip já foi colocado numa TV doada à prefeitura de uma das cidades da Grande São Paulo para mostrar que o aparelho foi roubado por funcionários municipais.

Um comportamento leniente

O importante do “Proteste Já!” é a agenda. Primeiro, o telespectador acompanha a denúncia. Nos momentos finais, o repórter entrevista o responsável pelo problema e força para que ele se comprometa em resolvê-lo num prazo x. É comum que o repórter peça um objeto qualquer do entrevistado para selar o compromisso de que a solução vai surgir num determinado prazo. O objeto fica com o CQC, que volta ao local ao fim do prazo acordado. Se houve solução efetiva do problema, o objeto é devolvido. Mais importante de tudo: tanto os responsáveis pela solução do problema quanto os telespectadores ficam sabendo que o CQC vai voltar lá para conferir se o assunto foi ou não equacionado.

A falta de uma agenda adotada dentro dos rigores concebidos no “Proteste Já!” tem levado a mídia, de modo geral, a cair com frequência no que pode ser chamado de “denuncismo”, ou seja, na denúncia pela denúncia, em algo leniente e onde a força institucional da mídia, sua capacidade transformadora e geradora de benefícios para a sociedade é jogada fora, pela janela. Páginas de jornais e revistas e programas jornalísticos do rádio e da TV estão entupidos de denúncias das mazelas de um país desleixado, mas a mídia não produz avanços. Denuncia, denuncia, denuncia, mas não volta ao tema nunca mais. Esquece das próprias denúncias que fez com extrema facilidade.

O pior nessa história é que quem sofre a denúncia, quem teria obrigação de resolver certos problemas que representam verdadeiras ignomínias contra a sociedade, já conhece o comportamento leniente da mídia. Sabe que basta suportar com burla ou estoicismo a primeira denúncia para ver a pressão desaparecer como orvalho ao sol da manhã. Sabe, portanto, que a mídia nunca mais voltará ao tema e deixará com certeza no abandono todas as pessoas que ela tentou proteger com seu jornalismo de má qualidade.

Ganhos de imagem e credibilidade

Não veria nenhum exagero – muito ao contrário, veria como um sinônimo de qualidade em jornalismo – se o mesmo tipo de agenda, de foco específico para determinados assuntos, fosse introduzido em toda a mídia brasileira. Uma agenda para os casos de corrupção; voltar a eles com frequência para saber se houve progresso na punição de corruptos e corruptores. Uma agenda para os criminosos do trânsito; voltar de tempos em tempos a esses casos escatológicos – o do assassinato do filho da atriz no Rio de Janeiro, o do assassino do Porsche, o da assassina do Land Rover – monitorá-los, acompanhá-los ao longo do tempo. A frequência desses crimes com certeza seria bastante reduzida se os criminosos percebessem que iriam sofrer a vigilância perene da mídia. Também os responsáveis pela punição aos culpados procurariam agir com mais celeridade e rigor.

Não é necessário que esse monitoramento passe a exigir novas e amplas reportagens. Basta um registro frequente, numa coluna apropriada, apenas para demonstrar ao público e aos criminosos que a mídia está atenta e vigilante. Se imitasse o CQC, a mídia teria ganhos fortes de imagem e de credibilidade, pois conseguiria usar com muito maior eficácia o seu poder transformador.

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23/08/2011
[Dirceu Martins Pio é ex-diretor Agência Estado e do jornal Gazeta Mercantil]

NO TEMPO DAS RAPOSAS FELPUDAS

Comentário para o programa radiofônico do OI, 22/8/2011
Houve época em que os principais protagonistas da política nacional eram atores do porte de Ulysses Guimarães, Leonel Brizola, Franco Montoro e Teotônio Vilela. Era comum, então, o uso da expressão “raposa felpuda” para identificar aqueles mais argutos no jogo do poder.

José Sarney é desse tempo, e a longevidade de sua carreira na política dá conta de sua capacidade de articulação sem limites.

Os lances de então eram comparados a um jogo de estratégias – o xadrez político, dizia-se. O cenário era o da reconstrução da democracia, após o processo interrompido pela ditadura militar, e esses personagens buscavam moldar o país conforme suas crenças ideológicas.

Outro jogo

No centro da disputa, balançando de lá para cá, atuava o chamado “Centrão”, que teve como figura emblemática o deputado Roberto Cardoso Alves, que se celebrizou com a frase “é dando que se recebe”. Em torno de “Robertão” vicejou a matilha que os repórteres e analistas da política batizaram de “baixo clero”.

Esses viviam de pequenos favores, restos de verbas orçamentárias para suas bases eleitorais e um espaço atrás dos ombros das verdadeiras celebridades nas fotografias dos jornais e imagens da TV. Não costumavam ocupar o tempo das tribunas, reservado para os bons oradores, capazes de criar “bordões” que a imprensa reverberava pelo país afora.

Hoje os tempos são outros.

O único exemplar da espécie das “raposas” que ainda pode ser visto no Cerrado é o velho cacique do Maranhão – que acabou agregando outra capitania hereditária, a do Amapá. Em torno dele, e com sua ajuda, o “baixo clero” evoluiu para o cardinalato.

Figuras miúdas como o senador Renan Calheiros habituaram-se ao topo do poder – com tudo que já lhe foi imputado, Calheiros ainda manobra para ser o sucessor de Sarney na presidência do Senado.

O velho xadrez foi substituído por outro jogo, menos sofisticado e mais bruto – uma espécie de Banco Imobiliário. O “é dando que se recebe” virou uma ameaça: “se não der, voto contra, aumento os gastos públicos e derrubo a economia”.

E a imprensa?

Nesse período, a imprensa fez uma sequência de movimentos para dentro do campo. Primeiro deixou as cabines de transmissão e se apropriou do apito. Depois, largou o apito e vestiu um dos uniformes. Agora, tenta assumir o lugar do treinador.

Lei da Ficha Limpa

Assim é que o noticiário político se apresenta nestes dias: a imprensa publica denúncias de corrupção, os acusados abandonam seus cargos em troca de um anonimato que imaginam temporário, na esperança de retornar ao poder numa próxima eleição, e as peças se movem continuamente no tabuleiro.

Aliados do governo ameaçam pular para o lado da oposição, mas ali a ração é parca – e tudo cheira a blefe.

Os outrora renhidos oposicionistas recebem a presidente e lhe fazem agrados, tudo em nome do combate à corrupção e da eliminação da miséria. As intenções não poderiam ser melhores, mas o leitor atento não pode se esquecer de que nem tudo é o que parece.

Na segunda-feira (22/8), o estranho bailado dos políticos é assunto de muitos dos analistas da imprensa. O tema subjacente é a possibilidade de uma nova aliança entre o governo e parte da oposição, capaz de colocar limites à corrupção e estabelecer um controle restrito aos gastos públicos.

Em alguns artigos, a presença da presidente Dilma Rousseff no Palácio dos Bandeirantes, ninho de tucanos, é puro jogo de cena, apenas retórica na qual os oposicionistas “caem como patinhos”. Em editorial, dá-se uma força à chefe do Executivo diante do dilema entre cortar gastos e ceder à fome de recursos dos aliados.

Nas entrelinhas dos textos, observe-se a ilusão recorrente da imprensa de que são os jornalistas que conduzem os movimentos na política. Mas a realidade não permite muitas ilusões: a verdadeira mudança não ocorre no centro do poder, mas na periferia, a partir do voto consciente.

O Brasil começará a mudar quando os eleitores deixarem de mandar para Brasília “raposas felpudas” ou reles gambás. Retomar a campanha pela efetividade da Lei da Ficha Limpa já seria um bom ponto de partida.

Luciano Martins Costa, em 22/08/2011

RADIOGRAFIA DA CORRUPÇÃO


Muitos leitores, aturdidos com a extensão do lodaçal que se vislumbra na onda de corrupção reiteradamente denunciada pela imprensa, manifestam profundo desalento. “Não vai acontecer nada. Os bandidos não estão na cadeia, mas no comando do Brasil.” O comentário foi-me enviado por um jovem universitário. É tremendo, pois reflete o sentimento de muita gente.

O governo de Dilma Rousseff, sustentado por uma coligação pragmática e aética que foi concebida por seu antecessor, é, rigorosamente, refém do crime organizado. O mensalão do PT, que dificilmente será julgado em tempo hábil pelo Supremo Tribunal Federal (STF), foi o primeiro lance. Representou o pulo do gato, o caminho das pedras de um projeto de poder autoritário, corrupto e corruptor.

A presidente da República, fustigada por escândalos no seu governo que brotam como cogumelos, tem sido rápida na tomada de providências. Ao contrário do antecessor, Dilma não é, aparentemente, leniente com a corrupção. O Ministério dos Transportes, por exemplo, foi palco de uma enxurrada de demissões. Mas uma coisa é o feudo do PR. Outra, bem diferente, são as capitanias hereditárias do PMDB. Aí, sem dúvida, o discurso de Dilma é diferente. Em vez de apoiar ação saneadora da Polícia Federal (PF), Dilma classificou como “acinte” a sua conduta em operação por suspeita de desvios no Ministério do Turismo. A presidente ficou furiosa ao ver a foto de um dos detidos chegando algemado a Brasília. Irritou-se também por, supostamente, não ter sido informada previamente da operação policial.

Independentemente de excessos pontuais de alguns agentes da PF, que devem ser punidos, o que os brasileiros esperavam da sua presidente era o apoio ao essencial, e não o escândalo com o acidental. Mas não foi o que ocorreu, sempre em nome da governabilidade. E é exatamente isso que é preciso romper. A política é a arte da negociação, mas não pode ser a ferramenta da bandidagem.

O que você, amigo leitor, pode fazer para contribuir para a urgente e necessária ruptura do sistema de privatização do dinheiro público que se enraizou nas entranhas da República?

Em primeiro lugar, pressionar as autoridades. O STF, por exemplo, deve sentir o clamor da sociedade. Julgar o mensalão não é uma questão de prazos processuais. É um dever indeclinável. A Suprema Corte pode dar o primeiro passo para a grande virada. Se os réus do mensalão, responsáveis “pela instalação de uma rede criminosa no coração do Estado brasileiro”, pagarem por seus crimes, sem privilégios e imunidades, o País mudará de patamar.

Não podemos mais tolerar que o Brasil seja um país que discrimina os seus cidadãos. Pobre vai para a cadeia. Poderoso não só não é punido, como invoca presunção de inocência, submerge estrategicamente, cai no esquecimento e volta para roubar mais. Registro memorável discurso do ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo, quando assumiu a presidência do Tribunal Superior Eleitoral: “Perplexos, percebemos, na simples comparação entre o discurso oficial e as notícias jornalísticas, que o Brasil se tornou um país do faz de conta. Faz de conta que não se produziu o maior dos escândalos nacionais, que os culpados nada sabiam – o que lhes daria uma carta de alforria prévia para continuar agindo como se nada de mau tivessem feito”.

De lá para cá, infelizmente, a coisa só piorou. A ausência de punição é a mola da criminalidade. Mas não atiremos a esmo. Não publiquemos no domingo para, na segunda-feira, mudar de pauta. Vamos concentrar. Focar no mensalão. E você, caro leitor, escreva aos ministros do STF, pressione, proteste, saia às ruas numa magnífica balada da cidadania.

Em segundo lugar, exija de nós, jornalistas, a perseverança de buldogues. É preciso morder e não soltar. Os meios de comunicação existem para incomodar. Resgato hoje, neste espaço opinativo, uma sugestão editorial que venho defendendo há anos. Vamos inaugurar o Placar da Corrupção. Mensalmente, por exemplo, a imprensa exporia um quadro claro e didático, talvez um bom infográfico, dos principais escândalos. O que aconteceu com os protagonistas da delinquência? Como vivem os réus do mensalão? Que lugares frequentam? Que patrimônio ostentam? É fundamental um mapeamento constante. Caso contrário, estoura o escândalo, o ministro cai, perde poder político, mas vai para casa com a dinheirama. Depois, de mansinho, volta ao partido e retorna às benesses do poder, apoiado pela força da grana e do marketing. É preciso acabar com isso. A imprensa precisa ficar no calcanhar dos criminosos.

Uma democracia constrói-se na adversidade. O Brasil, felizmente, ainda conta com um Ministério Público atuante, um Judiciário, não obstante decepções pontuais, bastante razoável e uma imprensa que não se dobra às pressões do poder. É preciso, no entanto, que a sociedade, sobretudo a classe média, mais informada e educada, assuma o seu papel no combate à corrupção. As massas miseráveis, reféns do populismo interesseiro, da desinformação e da insensibilidade de certa elite, só serão acordadas se a classe média – e a formidável classe emergente -, fiel da balança de qualquer democracia, decidir dar um basta à vilania que tomou conta do núcleo do poder.

Chegou a hora de a sociedade civil mostrar sua cara e sua força. É preciso, finalmente, cobrar a reforma política. Todos sabem disso. Há décadas. O atual modelo é a principal causa da corrupção. Quando falta transparência, sobram sombras. O Brasil pode sair deste pântano para um patamar civilizado. Mas para que isso aconteça, com a urgência que se impõe, é preciso que os culpados sejam punidos.
Carlos Alberto di Franco
Fonte: O Estado de S. Paulo, 22/08/2011

A LINGUAGEM DO DECLÍNIO


Há uma nova ordem econômica mundial em formação. O colapso da ordem socialista deserdou 3,5 bilhões de eurasianos. O mergulho dessa mão de obra e de seus fluxos de poupança forçada nos mercados globais criou simultaneamente uma oportunidade de enriquecimento acelerado e um extraordinário desafio de integração da economia mundial.

Os benefícios de um crescimento econômico sincronizado em escala global foram desfrutados. Mas persistem os desafios para uma integração bem-sucedida, e principalmente o desafio da competitividade das economias ocidentais.

As modernas democracias liberais enfrentam nos mercados os custos de manutenção das suas redes de solidariedade, assistência e proteção social. A ampliação desses mercados nos primeiros movimentos da globalização criou um universo econômico em expansão, com ganhos para todos, trazendo a ilusão de que não haveria dramáticos impactos sobre a antiga ordem ocidental. Pois bem, o mundo mudou e não voltará a ser o mesmo.

A crise contemporânea é um sintoma dos excessos dos ocidentais, de um lado, e do desesperado mergulho eurasiano nos mercados globais, de outro. Financistas anglo-saxões e políticos social-democratas europeus tentam escapar às exigências de adaptação à nova ordem global como o diabo foge da cruz. Os eurasianos, ao contrário, praticam no plano econômico tais exigências. Percorrem um longo ciclo de crescimento. Poupam como formigas e investem maciçamente em infraestrutura e educação. Sua alavanca de “inclusão social” é uma busca incessante de integração competitiva de suas indústrias nos mercados globais.

Já as cigarras ocidentais apenas consomem com dinheiro barato, crédito fácil, gordas aposentadorias e benefícios insustentáveis. A alavanca das frustradas tentativas de manutenção de padrões de vida irrealistas em meio à guerra mundial por empregos é o evangelho do brilhante Keynes, o manual de combate às crises das sociedades em declínio, que imaginam ter apenas problemas de curto prazo.

Acumulação de capital, educação, novas tecnologias, reformas institucionais, integração competitiva nos mercados globais, empreendedorismo e meritocracia: esta é a linguagem da ascensão econômica. Dinheiro barato, desvalorização da moeda, gastos públicos supérfluos, crises políticas e financeiras, desindustrialização e perda de competitividade, favorecimento a grupos de interesse: esta é a linguagem do declínio.
Paulo Guedes
Fonte: O Globo, 22/08/2011

O QUE HOUVE?


Tenho a impressão de que ninguém se queixaria da semana passada por falta de surpresas. Aliás, quando caiu o quarto ministro, da Agricultura, jornais e televisões divulgaram a ocorrência com relevo incomum. Em verdade, salvo quando se trate de governo que se instale ou de ampla reforma ministerial, não se vira coisa parecida; em verdade, tem sido ou vem sendo uma sucessão de mudanças ou de substituições, tanto mais estranhável quando o ministério ainda não contava oito meses de funcionamento.

Lembro que o presidente Vargas, ao assumir a presidência em 1950, declarou que o ministério anunciado era “de experiência”; não causou boa impressão; afinal, sobrava-lhe experiência a respeito, conhecimento de homens experientes; em verdade, o “ministério de homens experientes” não durou muito; e o que me parece particularmente foi que ao renová-lo recorreu a alguns brasileiros ilustres que haviam sido seus ministros dos primeiros e longos anos de governo. Osvaldo Aranha, José Américo, Vicente Rao, Apolônio Salles, o que não impediu que chegasse a crise de 54. Agora, em tudo, a situação era diferente.

Não faltam motivos de surpresa. De resto, com exceção do ministro da Defesa, todos os outros saíram baleados, baleados no pé, baleados na asa, mas baleados, o que não deixa de ser estranho se tratando de ministros de Estado, presumidamente expressões superiores da sociedade sob todos os aspectos; e, ainda mais, tudo foi se desdobrando ou na casa do governo ou à sua sombra. De qualquer sorte, os ferimentos foram notórios. E, como não houve boletins médicos, não sei se houve lesões graves. Graves ou não, pouco importa, ninguém questionou sua objetiva ocorrência, nem dúvidas a respeito. O fato é que ministros empossados em janeiro e desempossados a partir de junho, alguns deles vindos do governo anterior, findo em 31 de dezembro de 2010, estranhamente, deixaram de ser sem terem sido. Enfim, cada tempo tem um estilo.

No entanto, não houve nenhuma crise como as de 1954 e 1964 e já caíram quatro ministros, e é possível que mais um ou de um venha a cair. Ora, isto é grave em si mesmo. A propósito, faço uma observação breve. Em tempos idos, quando nomeado um ministro de Estado, não era necessário publicar seu curriculum vitae; de modo geral, o país sabia quem ele era, donde vinha e o que fizera. Em tempos mais recentes, não é raro que ao nome do nomeado tenha de ser aditado o respectivo currículo. Não me perguntem por quê.

Tradicionalmente era exigido, como ainda se exige, que o brasileiro esteja no exercício dos seus direitos políticos e contar mais de 21 anos para vir a ser deputado. Assim, Rodolfo Dantas, ministro aos 26 anos, continua a ser o mais jovem parlamentar brasileiro. Ocorre que, em todas as Constituições há cláusulas não escritas, formuladas pelo uso e intocáveis. Assim, não se pede aos ministros sejam sábios ou santos, mas que, na velha expressão, sejam “homens bons”. Agora o mais delicado. O que vem ocorrendo a respeito são referências extremamente desairosas; imputação de corrupção, tráfico de influência, desvio e aproveitamento de verba pública, expedientes ilícitos, ou seja, a prática de atos manifestadamente incompatíveis com o denominado decoro parlamentar. E mais não precisa dizer.

Obviamente não possuo elementos para sentenciar a respeito do mérito das duras imputações ocorrentes cá e lá. Mas o que posso dizer é que, se procedentes, a sanção mais grave seria leve, em face da sua gravidade. Da mesma forma quando sem fundamento, seus autores deveriam igualmente ser despojados de função pública. Enquanto isso, a nação fica à mercê da lama. O que aconteceu no Brasil?

Paulo Brossard, em 23/08/2011

LOUVAÇÃO

José Nêumanne louva Lula

Frases como “Lula é um gênio”, “Lula nunca foi de esquerda” e “Lula é um enorme talento” me levaram a concluir que José Nêumanne Pinto não escreveu mais do que uma peça de propaganda, convenientemente em momento bem próximo às eleições.

“O segredo do demagogo é se fazer passar por tão estúpido quanto sua platéia, para que esta imagine ser tão esperta quanto ele.”
Karl Kraus

Quando comecei a ouvir e a ler os comentários sobre o livro de José Nêumanne Pinto, editorialista do Jornal da Tarde e articulista do Estadão, eu inicialmente me recusei a acreditar.
Nêumanne é um dos orgulhos da comunidade nordestina em São Paulo, homem inteligente e talentoso escritor. Sempre o tive na mais alta conta e até então era, para mim, um pilar da imprensa livre no Brasil.

Eu já havia percebido nos artigos recentes que costuma publicar no Estadão certa tolerância com o PT e a Dilma Rousseff. A isso atribuí a natural acomodação que um grande jornal por vezes faz com o poder do dia. Afinal, as gordas verbas não podem parar de fluir. Sem vender a alma de todo um jornal faz concessões aqui e ali. Mas a publicação do livro (O Que Sei de Lula, Editora TopBooks) foi um rebaixamento e um gesto subserviente sem igual.
A resenha publicada no próprio jornal O Estado de São Paulo disse que o autor procura mostrar “o homem atrás do mito”. Na verdade, o livro cultiva ainda mais o mito.

Foi aberto imediatamente intenso debate na minha página no Facebook. A maior parte dos amigos que a integram são simpatizantes e leitores de longa data do jornalista, como eu mesmo sou. O próprio Nêumanne integra a relação dos meus amigos naquele sítio.

O repúdio foi geral ao encômio feito a Lula no livro e Nêumanne se manifestou em tom defensivo/acusatório, alegando que na verdade fazia até denúncias, como a de Lula dizer-se admirador de Hitler, declaração que o ex-presidente deu a uma antiga edição da revista Playboy, fato sobejamente conhecido.

Nêumanne deu uma entrevista a um site da internet e a ouvi com atenção. Frases como “Lula é um gênio”, “Lula nunca foi de esquerda” e “Lula é um enorme talento” me levaram a concluir que José Nêumanne Pinto não escreveu mais do que uma peça de propaganda, convenientemente em momento bem próximo às eleições.

Lula é precisamente o oposto de tudo que Nêumanne enxergou nele. O livro virou notícia em toda parte e tem sido objeto de intensos debates. As eventuais “denúncias” contra Lula, todas velhas notícias requentadas, parecem-me meras escoras para aumentar a credibilidade do escritor e o imunizar contra as críticas de puxa-saquismo e de propagandista da causa.

Mas foi exatamente isso que José Nêumanne fez: puxou o saco de Lula e fez propaganda da sua personalidade e do PT. Um gesto lamentável, um opróbrio para uma biografia que tinha sido até agora uma exaltação inerente. Uma obra maldita. José Nêumanne caminhou além da linha vermelha.

Eu, pensando comigo: em 1933, Thomas Mann exilou-se, foi o primeiro exilado, aquele que não compactou com a Alemanha de Hitler, enquanto toda a gente, as “Zelites” inclusive, toda a imprensa, todos os ricos, o Exército, todos os alemães (menos alguns, os insubstituíveis, os restos de Israel, como Voegelin. Excluo os judeus por óbvio, como Strauss) aderiram de mala e cuia ao novo regime. Algo semelhante acontece entre nós, mas onde anda o nosso Thomas Mann, aquele que poderia dizer: onde eu estou está a cultura brasileira? Ninguém, ninguém. Ou tem? Acho que vi um: Olavo de Carvalho, que presentemente se encontra no exílio. Em 1933 era apenas um. Em 2011 é apenas um. A classe letrada, toda ela, pôs-se a serviço dos revolucionários. Tempos de grandes perigos.

Nivaldo cordeiro, 20.08.2011

CONFERÊNCIA ACADÊMICA BUSCA NORMALIZAR PEDOFILIA


Artigos - Movimento Revolucionário


Em seu site, a B4U-ACT classifica a pedofilia como simplesmente outra orientação sexual e condena o “estigma” ligado à pedofilia, observando: “Ninguém escolhe ter atração emocional e sexual por crianças ou adolescentes. A causa é desconhecida”.

Antes da realização do evento, ocorrido na quinta-feira (17), Judith Reisman alertou: “Isso está na agenda deles há décadas”.

Pesquisadores de várias universidades proeminentes dos EUA participarão amanhã (17) de uma conferência em Baltimore que, de acordo com o que está sendo noticiado, tem o objetivo de normalizar a pedofilia. Conforme o site da organização patrocinadora, o evento examinará maneiras em que “pessoas que sentem atração por menores de idade” possam se envolver numa revisão da classificação que a Associação Americana de Psicologia (AAP) faz da pedofilia.

B4U-ACT, uma organização de ativistas e profissionais de saúde mental a favor da pedofilia, está por trás da conferência de 17 de agosto, que incluirá participantes da Universidade de Harvard, Universidade Johns Hopkins, Universidade de Louisville e Universidade de Illinois.

Howard Kline, diretor científico da B4U-ACT, criticou a definição do termo pedofilia feita pela Associação Americana de Psicologia, descrevendo seu tratamento de “pessoas que sentem atração por menores de idade” como “impreciso” e “equivocado”.

“É baseado em dados de estudos de prisões, o que ignora completamente a existência daqueles que são obedientes à lei”, Kline disse num comunicado à imprensa de 25 de julho. “Os novos critérios de diagnóstico que estão sendo propostos especificam idades e frequências sem nenhuma base científica”.

“O Manual de Diagnóstico e Estatísticas de Desordens Mentais (MDEDM) deveria corresponder a um padrão mais elevado do que isso”, acrescentou ele.

“Podemos ajudá-los, pois somos as pessoas sobre as quais eles estão escrevendo”.

Em seu site, B4U-ACT classifica a pedofilia como simplesmente outra orientação sexual e condena o “estigma” ligado à pedofilia, observando: “Ninguém escolhe ter atração emocional e sexual por crianças ou adolescentes. A causa é desconhecida; aliás, não se compreende ainda nem mesmo o desenvolvimento da atração por adultos”.

A organização diz que não defende o tratamento para mudar os sentimentos de atração por crianças e adolescentes.

Em seu comunicado à imprensa, B4U-ACT anunciou uma carta que a organização enviou à AAP criticando sua classificação da doença mental.

Numa entrevista para Notícias Pró-Família/ LifeSiteNews (LSN), Judith Reisman, professora convidada de direito da Universidade Liberty e especialista em ética sexual e pornografia, criticou a conferência de Baltimore, dizendo: “Isso está na agenda deles há décadas”.

“Conheci pela primeira vez o que vim a chamar de ‘O Lobby Pedófilo Acadêmico’ em 1977 na Conferência da Sociedade Britânica de Psicologia sobre Amor e Atração na cidade de Swansea, em Gales”, disse ela. “Apresentei um documento de pesquisa sobre pornografia infantil na revista Playboy do período de 1954 a 1977”.

“Outros membros da academia na conferência, alguns contratados por pornógrafos, apresentaram documentos ‘científicos’ defendendo a legalização da pornografia e prostituição infantil e o fim da idade de consentimento sexual”, disse ela. “Eles estavam promovendo suas afirmações ‘científicas’ sobre a sexualidade de crianças novas para legisladores e seus colegas membros da academia através de meios de comunicação legítimos e pornográficos”.

“O MDEDM é típico dessa degeneração, pois eles já haviam suavizado o diagnóstico da pedofilia a fim de torná-lo quase sem sentido, exigindo que o pedófilo seja apenas ‘incomodado’ com seu abuso de crianças e assim por diante”, disse Reisman. “Temos agora mulheres e crianças violentando sexualmente crianças e homens. Isso continuará numa espiral para baixo, poderíamos dizer, até o abismo do inferno, a menos que façamos uma reforma em nossas leis, nossos meios de comunicação de massa e em nossas escolas”.

Conforme reportagem anterior de LSN, semelhantes pressões políticas, então por ativistas homossexuais, levaram à desclassificação da homossexualidade como uma desordem mental em 1973 no MDEDM.

Como consequência da desclassificação do MDEDM, o debate sobre a homossexualidade e os muitos danos documentados associados com o estilo de vida homossexual tem sido totalmente censurado nos círculos psicológicos acadêmicos.

Jeremy Kryn, em 24/08/2011
Tradução: Julio Severo

EDITORA REPUBLICA - EMBUSTE DE AMADO

No início deste mês, eu saudava os dez anos da morte da grande prostituta das letras tupiniquins, Jorge Amado. Nazista, stalinista, adepto do capitalismo, sempre venal, o baiano sempre correu atrás do dinheiro. Quando convinha ser nazista, foi nazista. Vendo que o nazismo não tinha futuro, aderiu ao comunismo. Desmoronado o comunismo, se entregou às boas graças do capitalismo. Leio na Folha de São Paulo que Vida de Luís Carlos Prestes, o Cavaleiro da Esperança – sua ode ao mais estúpido dos gaúchos, publicada em 1945 – acaba de ser reeditada pela Companhia das Letras.

Ainda há pouco eu falava das biografias mentirosas, que pretendem transformar criminosos em heróis. É o caso da cineasta gaúcha Flávia de Castro, que fez um filme – Diário de uma busca – transformando seu pai idiota em mártir. Comentei também o documentário Marighella, de Isa Grinspum Ferraz, com estréia prevista para outubro, que faz de um terrorista um santo. Este gênero literário é antigo e, no Brasil, Amado terá sido um de seus precursores.

Em 1935, Stalin enviou ao Brasil Olga Benario, uma apparatchik alemã, oficial do Exército Vermelho, junto com Arthur Ernest Ewert e mais uma vintena de agentes comunistas, com a missão de transformar o país em uma republiqueta socialista ao estilo de Moscou. Os anos 30 foram de grande excitação bolchevique, Stalin investia não só no Brasil mas também na China e na Espanha. Como marionete desta equipe vinha o gaúcho Luís Carlos Prestes, o grande herói das esquerdas tupiniquins - o ídolo de Tarso Genro - disfarçado como marido de Olga.
A título de curiosidade: o herói foi deflorado pela judia alemã aos 37 anos de idade. Alguém concebe o Cavaleiro da Esperança só conhecendo mulher já nel mezzo del camin di nostra vita? Curioso que tais anomalias a ninguém causem espécie.

Já que falo de falsas biografias, é bom lembrar a ode à Olga Benario, ópera de autoria de Jorge Antunes, apresentada em outubro de 2006, no Theatro Municipal de São Paulo. Santa Olga acabou morrendo em um campo de concentração. Sua extradição do Brasil e morte na Alemanha lhe conferiram uma aura de santidade e martírio. Quando na verdade nunca passou de uma bandoleira internacional, enviada por Stalin como segurança pessoal de Prestes. A moça mereceu inclusive uma hagiologia de Fernando Morais, escritor que vende sua pluma a quem paga melhor. Começou sua fortuna louvando a ditadura de Castro em A Ilha e continuou com Olga. Louvar o comunismo sempre rendeu bem no Brasil. Aliás, em todo Ocidente.

Getúlio Vargas, ao enviar Olga para a Alemanha, ficou como o vilão da história, embora Luís Carlos Prestes o tenha apoiado mais tarde, em sua candidatura à Presidência da República. Condena-se em Getúlio o gesto de tê-la entregue a Hitler, após um pedido de extradição da Alemanha nazista. O que se esquece é que Olga obedecia às ordens de outro grande assassino de judeus, Stalin.

Fora a estupidez da Intentona Comunista, Luis Carlos Prestes carrega nas costas o assassinato da irmã de um militante comunista, Elza Fernandes. Que, em verdade, chamava-se Elvira Cupelo Colônio e convivia com os comunistas que visitavam seu irmão, Luiz Cupelo Colônio. Aos 16 anos, tornou-se amante de Antonio Maciel Bonfim, secretário-geral do PCB, mais conhecido como Miranda. Presos os conspiradores de 35, Elvira – também conhecida como a “garota” – tornou-se suspeita de colaborar com a polícia e foi condenada à morte por um “tribunal revolucionário”, do qual participava Prestes. Ante a hesitação de alguns dos “juízes”, o Cavaleiro da Esperança é taxativo:

Fui dolorosamente surpreendido pela falta de resolução e vacilação de vocês. Assim não se pode dirigir o Partido do Proletariado, da classe revolucionária." ... "Por que modificar a decisão a respeito da "garota"? Que tem a ver uma coisa com a outra? Há ou não há traição por parte dela? É ou não é ela perigosíssima ao Partido...?" ... "Com plena consciência de minha responsabilidade, desde os primeiros instantes tenho dado a vocês minha opinião quanto ao que fazer com ela. Em minha carta de 16, sou categórico e nada mais tenho a acrescentar..." ... "Uma tal linguagem não é digna dos chefes do nosso Partido, porque é a linguagem dos medrosos, incapazes de uma decisão, temerosos ante a responsabilidade. Ou bem que vocês concordam com as medidas extremas e neste caso já as deviam ter resolutamente posto em prática, ou então discordam mas não defendem como devem tal opinião.

Elza foi estrangulada e teve seu corpo quebrado, com os pés juntos à cabeça, para que pudesse ser enfiado num saco e enterrado nos fundos da casa onde foi assassinada. Consta que um dos executores chegou a vomitar.

Amado, contra todas as evidências, nega a responsabilidade de Prestes na execução. Escritor a soldo de Moscou, era pago para mentir. É espantoso que, quase oitenta anos depois da Intentona, duas décadas após a queda do Muro, uma editora reedite este embuste colossal do herói de Tarso Genro.
Janer Cristaldo