"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sábado, 10 de dezembro de 2011

SUGESTÕES PARA UM CONGRESSO DECENTE

Esta é uma idéia que realmente deve ser considerada e repassada para o Povo.

Lei de Reforma do Congresso de 2011 (emenda da Constituição do Brasil)

1. O congressista será assalariado somente durante o mandato. E não terá aposentadoria proveniente somente pelo mandato.

2. O Congresso contribui para o INSS. Todo a contribuição (passada, presente e futura) para o fundo atual de aposentadoria do Congresso passará para o regime do INSS imediatamente. O Congresso participa dos benefícios dentro do regime do INSS exatamente como todos outros brasileiros. O fundo de aposentadoria não pode ser usado para qualquer outra finalidade.

3. Congresso deve pagar seu plano de aposentadoria, assim como todos os brasileiros.

4. Congresso deixa de votar seu próprio aumento de salário.

5. Congresso perde seu seguro atual de saúde e participa do mesmo sistema de saúde do povo brasileiro.

6. Congresso deve igualmente cumprir todas as leis que impõem ao povo brasileiro.

7. Servir no Congresso é uma honra, não uma carreira. Parlamentares devem servir os seus termos (não mais de 2), depois ir para casa e procurar emprego. Ex-congressista não pode ser um lobista.

Se cada pessoa repassar esta mensagem para um mínimo de vinte pessoas, em três dias a maioria das pessoas no Brasil receberá esta mensagem.
A hora para esta emenda na Constituição é AGORA.

É ASSIM QUE VOCÊ PODE CONSERTAR O CONGRESSO.
Se você concorda com o exposto, REPASSE, Se não, basta apagar (ignore-a).

Por favor, mantenha esta mensagem CIRCULANDO.

10 de dezembro de 2011

* * *
"Taí uma boa idéia que talvez precisa ser lapidada, mas, é uma suugestão a ser pensada e discutida. Nosso amigo preferiu o anonimato em seu comentário."

NOTA AO PÉ DO TEXO

Uma boa oportunidade para que se acrescentem novas idéias que contribuam para um projeto de reforma política, começando pelo Congresso Nacional.
Muito pode ser acrescentado a essas sugestões preciosas. Pense e indique outras.
m.americo

UM NOVO TEMPO DE OBSERVADORES

Reproduzido do Mídia & Política, edição nº 6/2011; título original “Gatewatching: um novo tempo de observadores”, intertítulo do OI
A possibilidade de acesso aos mais diversos sites na internet significa o aumento de alternativas para cidadãos do mundo inteiro exercerem uma fiscalização permanente sobre o que é publicado pela grande imprensa e pelos sites informativos que têm surgido nas últimas décadas. Este movimento de resposta interativa está sendo chamado de gatewatching pelo pesquisador Axel Bruns, da Universidade Tecnológica de Queensland, na Austrália.

Em palestra este ano no congresso anual da Sociedade Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor), o pesquisador Axel Bruns lembrou que não é possível mais controlar o fluxo de informações da maneira tradicional, como um esforço editorial que ficou conhecido como gatekeeping, a porta de entrada da notícia no jornal, guardada a sete chaves pelos editores. Para Bruns, o gatekeeper é tarefa em extinção em jornais do mundo inteiro. O processo se inverteu e o leitor, telespectador ou ouvinte se transformou em gatewatcher da informação.

É um processo que ocorre praticamente em real-time, com respostas prontas e opinativas, na maior parte das vezes. A multiplicação de canais de informação disponíveis hoje em dia mostra que esta é uma mudança sem volta. E que permite um aumento também das audiências, que se tornam seletivas e voltadas para sites específicos, de acordo com o gosto e o interesse de cada um. São comunidades on-line que compartilham os mesmos temas e transformam os usuários em novos produtores de notícias e informações, segundo o pesquisador.

Pode-se pensar cada uma dessas comunidades como um novo espaço ambiental, que une cidadãos desconhecidos em torno de valores, costumes, culturas. A integração on-line cria um novo conceito para espaço e tempo, fora dos limites físicos. É interessante pensar que hoje, quem vigia os portões não é mais o jornalista editor, mas o leitor que estabelece novo controle sobre o fluxo informativo.

Novo tempo

Em termos linguísticos, uma primeira mudança é a do campo enunciativo, o lugar de fala onde os textos, falares, entrevistas, fatos são enunciados, postos a público. É uma realidade enunciativa diferenciada, não mais física como a página impressa do jornal ou o cenário azul prateado dos telejornais, com suas bancadas e tendo como imagem de fundo uma redação em movimento. Na internet, a notícia é o enunciado que paira sobre um campo enunciativo difuso, sem contornos próprios, com limites impostos pela linearidade da leitura. O texto escrito se impõe ao falado e até mesmo à imagem. As manchetes seguem o modelo impresso, com uma retórica voltada para a atração imediata dos olhos dos internautas.

O que muda mesmo é o processo de observação dos acontecimentos. Acompanham-se os fatos com mais participação, com um novo envolvimento e o apoio de fontes multiplicadas de opinião, que se alternam na comunicação direta. Há abundância de informações, de canais e existe ainda uma proliferação de especialistas, trazendo à notícia da internet o selo de uma informação científica, detalhada.

Este novo tempo de gatewatchers é, sem dúvida, mais rico no que diz respeito à liberdade de expressão. Ele consolida um novo processo de surgimento de agendas sociais, voltadas para as demandas específicas da população, e que correm à frente do agendamento tradicional das empresas jornalísticas. Estas já não têm o monopólio de determinar a agenda de leitura dos cidadãos.

Contra o esvaziamento crescente da agenda jornalística, algumas empresas estabelecem estratégias de divulgação para forçar os acontecimentos, especialmente no campo político. É o que faz a revista Veja, com um agendamento denuncista em torno do ministério do governo Dilma. Ao abrir as páginas da revista a pessoas interessadas em apresentar denúncias contra antigos companheiros políticos ou contra chefes administrativos, a revista cria uma linha editorial que a mantém viva aos olhos da população e dos políticos em geral.

Entretanto, o tempo dos gatewatchers é mais amplo e não se fixa apenas na denúncia da hora. É um tempo de mais democracia, em que os cidadãos encontram espaço de expressão. Esta nova perspectiva subverte a proposta de Manuel Castells, quando afirma: “A investigação sobre a comunicação identifica três grandes processos que intervêm na relação entre as pessoas e os meios durante a emissão e a recepção de notícias: o estabelecimento da agenda, a priorização e o enquadramento”.

Pode-se dizer que o agendamento passa hoje pelas redes sociais da internet, que a priorização se dá na razão direta do envolvimento e dos interesses imediatos dos cidadãos e que o enquadramento não visa destacar as vozes mais influentes e poderosas ligadas ao governo, aos meios políticos e empresariais. O novo cidadão caminha para expressar sua própria opinião e fazê-la valer. Basta ver as manifestações populares que se sucedem nos Estados Unidos, em países da Europa, em países árabes e na América Latina. As faixas simples levantadas por muitos braços falam da angústia de existir, das necessidades humanas contra a pressão dos grandes grupos econômicos e financeiros, e dos políticos em geral. No movimento Occupy New York, uma faixa dizia: “Um movimento muito grande para falhar”. E em outra faixa, o alerta: “Human needs, not corporates greed".

Este é, sem dúvida, um novo tempo. De observadores da mídia, da política e das elites.

***

[Célia Maria Ladeira Mota é doutora em Comunicação Social, pesquisadora associada do Programa de Pós-Graduação da FAC/UnB e do Nemp]

LEIA AQUI A VEJA

BASTA CLICAR SOBRE OS TEXTOS









LIDERANÇAS CONDENAM ARMAÇÃO PETISTA NA LISTA DE FURNAS

Reação
Deputado Rodrigo Maia quer mais investigações. Escutas da PF reveladas por VEJA mostram como PT tentou minar apuração do Mensalão


Parlamentares citados na Lista de Furnas – documento forjado para atingir a oposição e abafar investigações sobre o escândalo do Mensalão – mostraram-se indignados diante da revelação de que dois deputados petistas estavam por trás do esquema que pretendia minar a CPI dos Correios, em 2006.

As informações, obtidas por escutas da Polícia Federal, foram reveladas por reportagem da edição de VEJA desta semana. O deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), uma das vítimas da farsa, vai pedir à Polícia Federal informações sobre o resultado das investigações. E cobrar um aprofundamento dos trabalhos sobre um ponto específico da fraude: a coleta de sua assinatura, que se deu dentro da Câmara Federal em circunstâncias ainda não explicadas.

Maia sabe que sua assinatura foi obtida na Câmara porque a rubrica que consta do material fraudulento é a que ele usava para subscrever requerimentos na Casa. Em documentos que não tinham relação com a atividade parlamentar, ele usava outra assinatura. "A ocultação passou por dentro da Câmara dos Deputados. Temos que pedir que se avance nessa questão."

Outra vítima da montagem, o ex-deputado Raul Jungmann (PPS-PE) condenou a armação por trás da Lista de Furnas: "Ao PT, faltam limites éticos e morais, porque eles nunca aderiram à institucionalidade da democracia totalmente. O PT desenvolveu uma moral própria, que é aquela que lhe convém", disse.

José Carlos Aleluia (DEM-BA), ex-deputado também citado na lista falsa, foi à Justiça contra Nilton Monteiro, o criminoso que montou o documento sob encomenda dos petistas. Ele afirmou que a relação entre Monteiro e o PT era conhecida:
"Na primeira audiência, ele foi representado por um advogado do PT. Depois, o PT começou a pagar outros advogados para ele." Aleluia também se mostrou indignado com a fraude: "É difícil fazer política quando você sabe que tem uma quadrilha, cujos nomes dos chefes são conhecidos, agindo nas barbas da polícia e da Justiça."

Osmar Serraglio (PMDB-PR), que era o relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Correios, lembra-se de ter encontrado o envelope com a Lista de Furnas em sua mesa. "Não tinha identificação, não tinha origem. Eu fiquei em dificuldade. O que eu iria fazer com aquilo? Dali a pouco, iriam dizer que o relator inventou a lista", diz o parlamentar.

Ironicamente, muitos daqueles que eram alvo do PT há seis anos agora são aliados do governo federal. A lista inclui, por exemplo, o govenador Sérgio Cabral (PMDB), os deputados Valdemar Costa Neto (PR-SP) e Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e os senadores Marcelo Crivella (PRB-RJ) e Zezé Perrela (PDT-MG). O último, aliás, acredita que o episódio foi provocado por "uns malucos". "Eu não acredito que isso tenha sido uma coisa orgânica, centralizada. São uns malucos, uns outros aloprados", avalia o peemedebista.

Revelação – VEJA teve acesso a conversas gravadas pela Polícia Federal com autorização judicial, no primeiro semestre de 2006. Elas evidenciam que o estelionatário Nilton Monteiro – preso em outubro deste ano por forjar notas promissórias – agiu sob os auspícios dos deputados Rogério Correia e Agostinho Valente (hoje no PDT) com o objetivo de fabricar a lista. Há diálogos seguidos entre Monteiro e Simeão de Oliveira, braço direito de Rogério Correia.

Os dois discutem os padrões das assinaturas de figuras importantes da oposição naquele momento, como o líder da minoria na Câmara, José Carlos Aleluia, do DEM, e o então líder do PSDB, Antônio Carlos Pannunzio. Em troca das falsificações, Monteiro, além de receber pagamento diretos, exigia a liberação de recursos em bancos públicos. É o que demonstram as gravações.

A Lista de Furnas era uma espécie de planilha com valores supostamente repassados a campanhas eleitorais de parlamentares e governantes de oposição durante o pleito de 2002. O Caixa 2 seria comandado por Dimas Toledo, então comandante da estatal.

Gabriel Castro

AS PRATELEIRAS DA HISTÓRIA

Artigos - Movimento Revolucionário

Existem correntes políticas que precisam do conflito, do antagonismo. Quanto maior aquele e mais exarcebado este, melhor.

Não se trata de andar na direção de qualquer êxito político porque o sucesso da política é a superação do conflito.

Está em discussão na Câmara de Vereadores de Porto Alegre um projeto de lei que pretende mudar o nome da Avenida Castelo Branco para Avenida da Legalidade.
A vereadora do PSOL que teve a iniciativa do projeto alega que Castelo Branco foi o primeiro presidente do regime militar, um ditador segundo ela, e que a homenagem, portanto, não se justifica.

A primeira contestação salta aos olhos de qualquer analfabeto. Como ficam, perante esse critério, tantas ruas, praças e avenidas com o nome de Getúlio Vargas (para não mencionar Floriano Peixoto, Julio de Castilhos, Borges de Medeiros e tantos outros)? Getúlio implantou uma ditadura duríssima entre 1937 e 1945.
A vereadora contrapôs aos que lhe apresentavam esse argumento, que Getúlio, antes de ser ditador, havia sido eleito... Impressionante desconhecimento de história!
Getúlio Vargas disputou a eleição presidencial de 1930 contra o paulista Julio Prestes e perdeu por uma diferença de 300 mil votos, numa eleição com 1,8 milhão de votantes.
As alegações de fraudes surgiram de parte a parte e parecem bem prováveis diante do fato de que nosso conterrâneo fez 100% dos votos do Rio Grande do Sul! Aliás, João Neves da Fontoura, logo após o pleito, afirmou, em um dos muitos prenúncios da revolução que se seguiria:
"Com esses homens e essas leis essa foi a última eleição presidencial no Brasil". Portanto, Getúlio assumiu a presidência em 1930 conduzido por um levante armado que depôs o presidente Washington Luís e impediu a posse do recentemente eleito Júlio Prestes.

Foi como chefe de um Governo Provisório que exerceu o poder até 1934, revogadas por decreto as garantias da Constituição de 1891. Em 1934, ante as insistentes pressões legalistas que já haviam eclodido em São Paulo em 1932, convocou uma Constituinte.
Foi essa Constituinte que, por via indireta, o elegeu para um novo mandato com início em 1934 (Castelo, aliás, também foi eleito pelo Congresso). Quando se aproximava o fim desse segundo período, Vargas instaurou o Estado Novo, tornando-se ditador até ser deposto em 1945. Portanto, ele só chegou ao poder pelo voto popular na eleição presidencial de 1950.

Não surpreende a incoerência da vereadora nem seu desconhecimento da recente história republicana. Para determinadas ideologias, a história funciona como um armário de utilidades, uma despensa onde se apanha o que for necessário para cozinhar segundo as receitas do momento.

Reprovar a ditadura de Vargas não serve porque o são-borjense foi mitificado no imaginário nacional. O afastamento entre a deposição de Getúlio e a posse de Castelo foi de apenas vinte anos. E nós estamos a meio século dos fatos de 1964!
Contudo, embora as circunstâncias nacionais e internacionais de cada época estejam devidamente disponíveis nas prateleiras da história, não há, para a esquerda hegemônica conveniência política em ir buscá-las. Por quê? Porque existem correntes políticas que precisam do conflito, do antagonismo. Quanto maior aquele e mais exarcebado este, melhor.

Não se trata de andar na direção de qualquer êxito político porque o sucesso da política é a superação do conflito. Aliás, a política não existe para promover confrontos, mas para superá-los.
E incontáveis vezes, na história dos povos, ela dá solução a traumas e disputas que o Direito não consegue resolver. Foi o caso das tantas anistias ocorridas ao longo da nossa história. Foi o caso, inclusive, desta última, constitucionalizada, que as mesmas correntes ideológicas de hoje querem revogar por muitos modos.
Entre eles, pela substituição de nomes de logradouros públicos. Em quaisquer de suas expressões, andam além da margem de qualquer êxito político, no bom sentido dessa palavra.
São, isto sim, sintomas de uma nostalgia enfermiça em relação àquele terrível ambiente político, geopolítico e ideológico que instauraram, em escala mundial, durante o século passado.


Percival Puggina, 10 Dezembro 2011

PIMENTEL NOS OLHOS DOS OUTROS É REFRESCO...

A fila andou e o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel é a bola da vez.

Dilma Rousseff está pagando a conta por escolher sua equipe por meio de costuras políticas. A “presidenta” – como preferem alguns – não se preocupou com a vida pregressa dos profissionais sob sua gestão.
A gestora deixou que os partidos políticos escolhessem a equipe de ministros que ela ia comandar e não investigou sequer um deslize de seus colaboradores, deixando que a imprensa escancarasse cada um dos escorregões, resvalos e desvios – legais, morais ou mesmo impublicáveis.

A presidente disse, certa vez, ao ex-ministro do Trabalho, Carlos Lupi, que era dela a decisão de escolher um ministro e também de demiti-lo.
Mas isso não é verdade pelo simples fato de que todos os “defenestrados” apresentaram suas cartas de demissão. E mais, seus substitutos foram indicados entre os que restavam nos quadros dos partidos que dão sustentação ao governo. Aliás, os entrantes eram da mesma sigla partidária dos que deixavam o cargo. “Trocou-se seis por meia-dúzia” – como se diz no popular.

Como o cenário não mudou, continua tudo como era antes. A frase anterior parece redundante. E é. As escolhas de ministros desobedeceram a critérios minimamente profissionais, os demissionários apresentaram suas cartas de desligamento e prometeram exercer o tempo livre para provar inocência – o que ainda não aconteceu de fato.

Os partidos, por sua vez, indicaram substitutos e os escândalos continuam. Vez por outra, governo, partidos e demissionários ainda insistem em culpar a imprensa por todo o mal. Como nas novelas, o roteiro se repete: trocam-se os personagens. A fila andou e o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel é a bola da vez.

As acusações contra ele são semelhantes às feitas contra Antonio Palocci – um dos que não resistiram às denúncias e pediu demissão do cargo de ministro-chefe da Casa Civil em junho deste ano. Pimentel e Palocci têm empresas de consultoria.
Pesaram sobre ambos as acusações de tráfico de influência e enriquecimento ilícito. A diferença é que Palocci preferiu não comprometer seus clientes. Já Pimentel não se fez de rogado: uma vez vazados os tipos de contratos e os valores que recebeu, Pimentel citou as empresas contratantes. A Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), a ETA Bebidas, a Convap e a QA Consulting estão entre elas.

Amigo da presidente sobe no telhado…

Integrante do Partido dos Trabalhadores, Pimentel é da cota de Dilma. Para defendê-lo, ela atua em duas frentes. Na primeira, todas as investidas e requerimentos da oposição para convocar, convidar ou investigar Pimentel esbarraram na maioria governista no Congresso.
Essa estratégia deverá permanecer. O mesmo tratamento não foi dado aos ministros que perderam suas pastas nos últimos meses. Pimentel e Dilma são amigos de longa data.

E mais: ela convocou sua habitual tropa de choque e de combate a incêndios: o ministro da Justiça, José Eduardo Cardoso; o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza; e o líder do governo no Senado Romero Jucá.

Em todos os incidentes anteriores envolvendo os ministros que deixaram o governo, Vacarezza e Jucá diziam aos jornalistas que não havia nenhuma evidência de irregularidade e que o assunto estava esclarecido e resolvido.
Dias depois, os envolvidos no escândalo deixavam suas pastas.

Esta semana, Jucá e Vacarezza repetiram a senha: sinal de que Pimentel pode estar mesmo em cima do telhado, mas ali poderá permanecer por mais tempo que seus colegas demitidos recentemente.

O governo tem esperança de que o clima de fim de ano, com os recessos na Câmara e no Senado, retire as denúncias das pautas e manchetes da imprensa. Mesmo evitando os jornalistas, Dilma manda recados dizendo que não sabia das consultorias do grande amigo. Se as revelações não avançarem, pode ser que ele fique. Caso contrário, o telhado cria limo…

Por Claudio Carneiro
8/12/2011

MARGIN CALL - O DIA ANTES DO FIM

Um retrato cínico do Capitalismo Financeiro.

O mundo hoje possui uma complexidade que dificilmente pode ser compreendida por uma pessoa comum. Um elemento que é importante para que nosso entendimento seja mais amplo é a noção de como funciona o chamado capitalismo financeiro.
Sim, de como o sistema funciona não somente à partir da produção, mas também da especulação. Nesse sentido, Margin Call, esse filme com um estranho título, é pedagógico.

No começo, achei que o filme não conseguia passar com clareza o que acontecia em meio à sua trama sobre um banco de investimentos que descobre, através de uma equação, que sem nenhuma dúvida, vai à bancarrota.
Mas depois, comecei a pensar que Margin Call justamente, apesar de não ser simples, explica o que aconteceu com o Lehmann Brothers, banco que quebrou durante a crise do mercado imobiliário norte-americano.

Assim, o filme propicia um conhecimento, uma certa iluminação, sobre uma das mais recentes crises do capitalismo. Com atores acima da média, como Kevin Spacey e Jeremy Irons, essa produção dirigida por J. C. Chandor parece frustar os espectadores ao final, prometendo uma reviravolta que não acontece, mas é permeado por uma tensão interessante.

Ao mostrar o funcionamento do mundo especulativo, Margin Call faz uma homenagem ao mundo dos altos executivos, parte da recente mitologia de Hollywood, produzida em filmes como Nas Nuvens (Up in the Air, 2009) com George Clooney, e o filme que está em cartaz nesse exato momento, a bobagem Não Sei como Ela Consegue, com Sarah Jessica Parker, onde uma executiva se divide entre o trabalho e a família.
Por outro lado, o filme se pretende uma crítica ao sistema e aos personagens que ele cria, se aproximando, e aí fica mais interessante, do fabuloso Sucesso a Qualquer Preço (The Glenglary Glen Ross, 1992), baseado na peça de David Mamet, estrelando Jack Lemmon, Al Pacino e Alec Baldwin.

Essa postura crítica é produzida no olhar sobre as relações de poder entre os executivos do banco fechados em uma sala, nos personagens tipificados, como o nerd especializado em propulsão espacial, que busca o mercado financeiro pelas recompensas materiais, o brilhante engenheiro de pontes que é demitido, mas descobre o rombo no banco, o chefe, que é um gênio na venda de ações, e que tem sua vida privada em frangalhos, o executivo principal, que como os reis havaianos, é um tubarão que caminha sobre a terra.

Fonte:Wikipedia
Essa crítica ao sistema também passa por desvendar a futilidade daqueles que especulam no mercado, gastando seus honorários com carros de luxo e prostitutas. É um retrato cínico do capitalismo financeiro, que mostra uma espécie de epicentro do furacão: de como uma crise de graves proporções, que afeta pessoas comuns no mundo inteiro, pode ser uma opção decidida em um andar de um prédio qualquer em Wall Street.
Além disso, a crise é algo que veio antes, provinda da irracionalidade e da incapacidade dos homens de prever o mercado, essa espécie de Behemoth, monstro bíblico que Thomas Hobbes utilizou como metáfora da rebelião e da guerra civil, em oposição ao Leviatã, que estaria associado ao Estado garantidor da paz.

Por Francisco Taunay
9/12/2011

QUANDO O CORPO VIRA PROTESTO

Tirar a roupa em público para defender suas ideias é a nova febre global. Mas será que isso funciona?

8/12/2011

Blogueira egípcia tira roupa para protestar contra as restrições da liberdade em seu país. Ucranianas fazem topless para protestar contra a prostituição. Maitê Proença tira blusa e sutiã em vídeo contra Belo Monte. Partidários do artista chinês Ai Weiwei, que é investigado por “pornografia”, posam nus na internet para manifestar solidariedade ao dissidente. Israelenses tiram a roupa em apoio à blogueira egípcia. Mulheres saem de tanga nos EUA para apoiar causa vegan.

As manchetes das últimas semanas se repetem – em tempos de protestos e ocupações, a nudez em público virou uma febre global. O mundo está testemunhando um renascimento do ativismo nu, uma estratégia de provocação antiga. Tirar a roupa para protestar contra leis repressivas, ou apoiar causas, sempre funcionou pelo menos num quesito: chamar a atenção da mídia. Mas será que resulta em medidas práticas?

“Acho uma forma de protesto inócua”, afirma a socióloga Maria Lúcia Victor Barbosa, ex-professora da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Maringá.“Há formas de protesto mais inteligentes. Em alguns casos, vira deboche e até é prejudicial à causa”.

Para Maria Lúcia, tais ações refletem a febre por visibilidade do mundo contemporâneo, que leva a uma espetacularização do próprio corpo.

“Hoje em dia, faz parte da nossa cultura se expor, ficar à vontade, quebrar nossa intimidade. É uma forma de exibicionismo, uma maneira de aparecer a qualquer custo. Pode servir muito mais para a satisfação pessoal do que para uma causa”.

Satisfação pessoal ou ativismo, não há dúvidas de que a blogueira egípcia Aliaa Magda Elmahdy, de 20 anos, o caso mais emblemático entre todos citados, tem muito mais a perder realizando seu ato num país repressivo em relação à sexualidade feminina e com rigorosas normas de vestimenta.

O que era para ser um protesto da estudante acabou se tornando um escândalo nacional. Mesmo os membros do Movimento da Juventude 6 de Abril, grupo revolucionário que ajudou a derrubar o ex-ditador Honsi Mubarak, repudiou a atitude da blogueira, que passou a sofrer ameaças de morte.

“Às vezes, nem é um protesto mas a defesa de uma postura”, observa a antropóloga Mirian Goldenberg, Professora do Departamento de Antropologia Cultural e do Programa de Pós-graduação em Sociologia e Antropologia do IFCS/UFRJ e autora do livro Toda mulher é meio Leila Diniz.
“É algo que você simplesmente tem que fazer. Ser você mesmo, sem se enquadrar em modelos, pode ser interpretado como uma forma de protesto quando na verdade não é. No caso da blogueira egípcia, pode ser a simples defesa da postura de uma mulher livre das prisões do corpo”.
Ela cita o exemplo de Leila Diniz, que ganhou admiração e escandalizou ao usar biquíni durante a gravidez, algo mal visto pela sociedade brasileira até então.

Mostrar o corpo grávido era contra o senso estético. Leila Diniz deu uma outra versão para a barriga grávida, que passou a ser vista como bela e vital. Ela mostrou que o corpo dela não é controlado por ninguém, que um corpo não é uma prisão estética ou sexual”.

Durante muito tempo, as mulheres lutaram para não ser vistas apenas como um corpo, um objeto sexual. Não deixa de ser curioso que agora usem seu próprio corpo como instrumento político em protestos nus.
No Brasil, o corpo das mulheres ainda é visto como um capital de mercado, tanto no trabalho quanto no casamento, acredita Mirian.

“Só que você é obrigado a ter determinado corpo para ser um capital e quase nenhuma mulher tem esse corpo. Vira uma prisão. Mas você inverte a questão se usá-lo livremente, der outro significado para ele, como uma causa política, como é o caso das mulheres que se despiram contra a prostituição na Ucrânia”.

8/12/2011
Podres poderes

10 de dezembro de 2011
Merval Pereira






Assim como expectativa de direito é direito, em política, expectativa de poder é poder. Enquadra-se nesse caso a consultoria do (ainda) ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, que após sair da prefeitura, em 2009, até dezembro de 2010 atuou privadamente, arrecadando milhões de reais, enquanto era candidato ao Senado pelo PT e um dos principais coordenadores da campanha da então candidata petista, Dilma Rousseff.

Note-se que Pimentel saiu formalmente da consultoria apenas em dezembro, depois que Dilma já havia sido eleita Presidente da República, o que demonstra que ele fazia negócios privados quando já estava claro que ele seria parte importante de um futuro governo petista. Da mesma maneira que Palocci, que só fechou sua consultoria depois de Dilma eleita.

Já na campanha, ao enfrentar a primeira crise séria, a candidata Dilma indicou o grau de sua relação pessoal e política com Pimentel: envolvido em denúncias de formação de um dossiê contra o candidato tucano José Serra, e em meio a uma briga interna petista onde até grampos telefônicos foram feitos e computadores roubados, Pimentel manteve sua influência intacta junto à candidata.

O fato de ser o político mais ligado pessoalmente a Dilma fazia dele, aos olhos de todos, um potencial ministro importante de um futuro governo, o que deveria impedi-lo de fazer trabalhos para grupos privados e instituições que tivessem interesses seja na prefeitura de Belo Horizonte, onde deixara subordinados e associados, seja no governo federal.

Essa mesma proximidade com a presidente, de quem foi “companheiro de armas” na fase de guerrilha a que se dedicaram, é o que faz com que, nos meios políticos, seja considerada quase uma impossibilidade a demissão de Pimentel, dando a dimensão de sua “expectativa de poder”.

Em vez de melhorar, só piora a situação o pedido de demissão de Otílio Prado, ex-sócio do ministro na P21 Consultoria e Projetos, que continuava como assessor especial do prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda, cargo que ocupava desde o início do governo.

Se, como alega, não havia incompatibilidade entre suas funções no governo e a assessoria que deu para empresas que tinham contratos com a prefeitura, por que então pediu demissão?

Além disso, o caso do (ainda) ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, vai se complicando a cada dia, porque agora há uma empresa de refrigerante do Nordeste que diz que não pagou uma consultoria que ele insiste em relacionar como tendo sido feita.

O que acrescenta às denúncias, além do conflito de interesses e suspeita de tráfico de influência, outro grau de gravidade, com indícios de lavagem de dinheiro. Ontem, porém, a ETA negou o que dissera na véspera.

Outro caso nebuloso é a venda subfaturada de um terreno em Belo Horizonte, registrada em um cartório de outra cidade “por questões de comodidade”.

Não estão claras as relações do ex-prefeito com o empresário que vendeu o terreno, que tinha interesses em obras na prefeitura de Belo Horizonte e está respondendo a processo.

A defesa que fez dele o presidente do PT, Rui Falcão, seu adversário na disputa de poder dentro do comitê da campanha presidencial em 2010, dá a dimensão da visão autoritária do partido.

Pela sua história de vida, Pimentel está “acima de qualquer suspeita”, disse Falcão. Quando seus grupos brigaram pelo controle do comitê de campanha, Rui Falcão não tinha essa opinião sobre Pimentel, tanto que o acusou de estar por trás de um suposto esquema de grampos telefônicos dentro do próprio comitê.

Ora, numa democracia não há ninguém que não tenha que se explicar por seus atos, mesmo que tenha um passado virtuoso.

Por esses azares da política, Palocci e Pimentel, que se enfrentaram na disputa pelo controle da campanha, depois de instalados no ministério do novo governo viram-se às voltas com as mesmas acusações.

Palocci caiu devido a explicações inconvincentes sobre sua consultoria, cuja relação de clientes jamais apareceu. Por sua vez, o (ainda) ministro Fernando Pimentel teve reveladas algumas das empresas que o contrataram, e isso só fez piorar sua situação.

Já o (ainda) ministro das Cidades, Mário Negromonte, entrou com seu depoimento no Senado para o rol dos patéticos, que tinha até o momento no ex-ministro Carlos Lupi sua melhor expressão ao afirmar que só sairia à bala do ministério.

Negromonte, por sua vez, disse que comeu muita “carne de bode” e que já passou da idade de mentir, como se para isso houvesse limitação etária.

Na sua fala, negou irregularidades em obras de transportes ligadas à pasta em Cuiabá, cidade-sede da Copa de 2014. Ao querer transferir para seus assessores diretos a culpa por eventuais malversações do dinheiro público, ele, em termos locais, pareceu tão desconectado da realidade quanto o presidente da Siria, Bashar al-Assad, que declarou a um canal de televisão dos Estados Unidos que não era responsável pela repressão aos opositores, atribuindo a brutalidade às suas forças de segurança.

Os dois, na prática, abrem mão de suas prerrogativas para tentar se afastar das responsabilidades dos cargos que ocupam e dos atos que praticaram ou foram praticados em seus nomes.

Negromonte é uma espécie de zumbi no ministério, pois não tem prestígio nem dentro do seu partido, o PP, nem no governo. Mantém-se no cargo mais pela inércia política, à espera da presumida reforma ministerial, e seu partido já negocia outros nomes, sob a indicação do senador Francisco Dornelles, para substituí-lo quando chegar a hora.

Fica no cargo pela sua irrelevância política.

Fonte: O Globo, 09/12/2011

DIA INTERNACIONAL CONTRA A CORRUPÇÃO

DRAMAS E COMÉDIAS DO PODER

Vai ao ar em janeiro na TV Globo “O brado retumbante”, minissérie de Euclydes Marinho em oito capítulos, sobre um presidente da República fictício vivendo seus dramas e comédias políticos e existenciais no Brasil real, que não é pré nem pós Dilma, mas um universo paralelo. O cotidiano e a intimidade de um presidente acidental, seus conflitos com a mulher e os filhos, a mãe tirânica e o velho tio picareta, as forças politicas em luta pelo poder, a imprensa e o Congresso, corruptos e faxineiros, arapongas e conspiradores, sua equipe de governo e a opinião pública. Tudo invenção, diversão, entretenimento. Mas, como dizia o escritor Julio Cortazar, a ficção é a história secreta das sociedades.

Nos Estados Unidos já foram feitos inúmeros filmes e séries sobre presidentes fictícios. Martin Sheen, Morgan Freeman, Harrison Ford e até Glenn Close viveram presidentes no universo da ficção, às voltas com conflitos internacionais, domésticos e pessoais. Sim, “é tudo mentira”, mas serve para o público penetrar no mundo fechado do poder, como voyeur do luxo e do lixo, das tramoias e ambições, dos ódios e paixões que movem personagens que decidem como nós viveremos, e até se viveremos.

No Brasil da ditadura nunca se ousou, por motivos óbvios. Imaginem uma minissérie com um general presidente? Mas a história de Collor daria uma boa ficção, com reviravoltas emocionantes, a CPI, o dia das camisas pretas, o impeachment e até um assassinato misterioso no final: quem matou PC Farias? Já a história que começa nas Diretas Já e vai à eleição de Tancredo, sua agonia e morte, e termina com a posse de Sarney, seria tão absurda que dificilmente um espectador estrangeiro acreditaria nela, seria inverossímil. O governo Sarney só poderia ser ficcionalizado em forma de chanchada.

Com Guilherme Fiuza e Denise Bandeira, integrei a equipe que escreveu o “Brado” com Euclydes. Nos divertimos, mas foi muito dificil. Por mais fantasias e tramoias que se inventasse, todo dia éramos superados pelos jornais. E como criar nomes melhores que Valdebran e Gedimar? É dura a vida de ficcionista no Brasil.

10 de dezembro de 2011
Nelson Motta
Fonte: O Globo

PSIIIIIUUUU !!!

NA RÚSSIA, MILHARES VAO ÀS RUAS CONTRA PUTIN

Milhares de russos foram às ruas do país neste sábado, protestar contra as fraudes ocorridas nas eleições parlamentares da semana passada, quando o Rússia Unida, partido do primeiro-ministro Vladimir Putin, venceu o pleito mais uma vez. Há protestos por todo o país, desde a gelada parte oriental, até o sul da Rússia, regiões separadas por oito horas de diferença no fuso horário.

O maior protesto ocorre na capital, Moscou, onde um número de manifestantes entre 25 mil (segundo a polícia russa) e 40 mil ou 50 mil segundo observadores independentes protesta contra Putin nas praças da Revolução e Bolotnaya, ambas no centro da cidade e próximas ao Kremlin. Em São Petersburgo, segunda maior cidade da Rússia, próxima à Finlândia, cerca de 10 mil pessoas tomaram a praça do Pioneiro, também no centro da cidade.

A presença das massas nas ruas mostra que, pela primeira vez desde que se tornou a figura dominante na política russa, Putin enfrenta uma oposição real, formada não apenas por radicais que tradicionalmente protestam contra o governo. Esta tendência, que vinha sendo destacada por analistas, ficou clara neste sábado, como detectou a reportagem do jornal americano The New York Times.

Em pé embaixo da neve, Yana Larionova, 26 anos, disse não estar surpresa por ver multidões lotando as pontes para a manifestação na praça Bolotnaya, muitas delas usando fitas brancas [símbolo do movimento contra Putin] presas aos casacos.
“As pessoas estão simplesmente cansadas, eles [o governo] cruzaram todos os limites”, disse Larionova, uma corretora de imóveis. “Você vê todas essas pessoas bem vestidas, que ganham bons salários, indo para as ruas num sábado e dizendo ‘chega’. É aí que você sabe que precisa de mudanças”.

O governo russo tenta dissuadir as manifestações de inúmeras formas. Dmitri O. Rogozin, embaixador da Rússia na Otan, afirmou que os protestos são uma tentativa de “destruir” a Rússia, como ocorreu no fim da União Soviética.
O próprio Putin acusou os Estados Unidos de estarem por trás das manifestações, uma acusação que costuma tirar legitimidade dos protestos na Rússia.

Há também formas mais prosaicas de contrapor a oposição. Este sábado (e apenas este) foi declarado pelo governo dia útil para os estudantes. A sede do Yaboklo, um partido liberal, foi “atacada” por uma sequência de telefonemas automáticos que elogiavam Putin.
De acordo com o jornal britânico The Guardian, em Penza, a 625 quilômetros de Moscou, o governo local ofereceu entrada gratuita no zoológico para tentar evitar as manifestações contra Putin.

As tentativas não parecem surtir efeito. De acordo com o Moscow Times, um jornal publicado em inglês na Rússia e que costuma ser crítico ao governo, a manifestação em Moscou neste sábado têm a presença de inúmeros líderes oposicionistas de diversas vertentes políticas e grupos nacionalistas, comunistas e do Solidarnost, um movimento liberal, sem violência entre eles.

Em editorial, o Moscow Times diz que “em menos de uma semana, a Rússia mudou“. Para o jornal, seria impossível pensar em protestos como esses antes das eleições, que escancararam a insatisfação dos russos.

As pessoas estão cheias de mentiras, de truques baratos – o mais recente a extensão dos dias escolares para hoje – cheias da necessidade de suspender suas crenças quando as notícias chegam na televisão. (…)
As pessoas estão cheias de ter que se defender contra o governo e estão começando a exigir alguma coisa do governo. (…)
Uma mensagem que se provou imensamente popular [nas discussões do jornal pela internet] foi da usuária “lady_spring” na qual ela pede um protesto civilizado, educado. “Vamos mostra que não somos um multidão, somos um povo, cidadãos”, escreveu ela. Que os deixem demonstrar isso hoje.

10/12/2011 Redação ÉpocaMundo Tags: Rússia, The Guardian, The Moscow Times, The New York Times

Confira abaixo os vídeos com cenas dos manifestantes na praça Bolotnaya, centro de Moscou:





RECÓRTER TUCANOPAPISTA HIDRÓFOBO DA VEJA MENTE

Desagradável voltar ao assunto, mas voltar se impõe. Leitor me envia texto do recórter tucanopapísta hidrófobo da Veja, onde ele escreve:

"Comecei a chamar Lula de “O Apedeuta” para irritar mesmo, para provocar. Quantas foram as ironias feitas com FHC porque ele era um professor?"

Não, não foi por isto que este senhor passou a chamar Lula de Apedeuta. Passou a chamá-lo porque é meu fiel leitor. O recórter tucanopapísta hidrófobo mente. Quem utilizou pela primeira vez esta expressão para designar Lula fui eu. E isso há mais de nove anos. Transcrevo trecho de crônica que publiquei em 17 de abril de 2006:

O sumo analfabeto, com o apoio da Igreja Católica e da universidade, acabou sendo eleito. No ano mesmo de sua eleição, em crônica intitulada Eu sou o que sou, publicada no Baguete Diário, jornal eletrônico de Porto Alegre (29/03/2002), pareceu-me oportuno qualificá-lo como apedeuta:
"Até hoje as esquerdas são pródigas em contar piadas sobre a falta de cultura de Costa e Silva. Mas Costa e Silva fez Escola Militar, cujo acesso não é para qualquer apedeuta".

Em 19 de agosto do mesmo ano, no mesmo jornal, na crônica intitulada O neoaparatchik,voltei ao tema: "Existe uma raça de apedeutas que se sentem muito eruditos quando usam proparoxítonas ou quadrissílabos.
No debate organizado pela Folha de São Paulo, na segunda feira-passada, ele se superou. Lá pelas tantas, arrotou erudição: 'Entretanto, há coisas a serem feitas concomitantemente'. Embriagado pelo próprio verbo, feliz pelo heptassílabo, perguntou ao interlocutor: 'Gostou do concomitantemente?'"

Em 17 de março de 2003, no artigo "Armadilha para negros", publicado no Midiasemmascara, escrevi: "O atual presidente da República está longe de ser o primeiro apedeuta a assumir o poder neste país. Câmara e Senado estão repletos de analfabetos jurídicos, que nada entendem da confecção de leis nem sabem sequer distinguir lei maior de lei menor".
Na tradução do artigo para o inglês, publicada na revista Brazzil, de Los Angeles, o tradutor teve um feliz achado: First Ignoramus.

Em "Fala, ó metamorfose ambulante", publicado também no Midiasemmascara, em 20 de setembro de 2004, lá está: "Durante solenidade em Brasília, o Supremo Apedeuta disse que 'o ser humano não tem que ter medo de ser uma eterna metamorfose ambulante', fazendo referência a um dos sublimes autores que embasam sua erudição". Na Brazzil, a expressão foi traduzida como Supreme Ignoramus. Se alguém se der ao trabalho de pesquisar nos arquivos do MSM, verá que, de 2003 para cá, escrevi pelo menos 21 crônicas, onde uso as expressões apedeuta ou Supremo Apedeuta.

Em suma, para meu prazer, a expressão foi fazendo fortuna na mídia eletrônica. Tanto o Supremo Apedeuta como o Supreme Ignoramus. Nada lisonjeia tanto um jornalista como ver seus achados correndo mundo. Outro dia, lendo ao azar a revista Primeira Leitura, vi que um jornalista tucano chapa-branca a empregava várias vezes. Maravilha, pensei, minha trouvaille já é de conhecimento dos partidos de oposição. Ocorre que, conversando com outros jornalistas, fiquei sabendo que o autor do artigo está reivindicando a autoria da expressão.

Alto lá, senhor Reinaldo Azevedo. Supremo Apedeuta é cria minha, e isto qualquer pesquisa rápida no Google pode comprovar. Use e abuse da expressão, quantas vezes quiser, divulgue-a aos quatro ventos, isto só me faz feliz. Mas não pretenda tê-la criado. Isto é muito feio para um jornalista. Ou, para usarmos uma palavra da moda, é antiético. E não fica bem para o porta-voz de um partido que pretende dar um banho de ética no partido que se dizia dono da ética tomar atitudes assim antiéticas.

O Supremo Apedeuta é meu.

Que jornalistas assumam a expressão só me alegra. Daí que um reles chupim, que vive de recortar trabalhos alheios, pretenda ter sido o primeiro a empregá-la, é um desaforo. Não é de hoje que este parasita se fundamenta em meu blog, sem citá-lo. Abaixo, outra de suas apropriações indébitas.

Janer Cristaldo

O VIDIOTA DO PLANALTO


- E você, Mr. Gardiner, o que pensa do mau clima na Bolsa? - pergunta o presidente dos Estados Unidos a Chance.

Chance Gardiner, da vida só conhece o jardim onde se criou. Como se sente obrigado a uma resposta, fala da única coisa que conhece: “Em um jardim, há uma estação para o crescimento das plantas. Há a primavera e o verão, mas também o outono e o inverno. E depois, a primavera e o verão voltam. Enquanto as raízes não forem cortadas, tudo está bem, e tudo continuará bem”.

O presidente se mostra satisfeito:

“Mr. Gardiner, devo confessar que o que você acaba de dizer é uma das declarações mais reconfortantes e otimistas que me foi dado ouvir, desde há muito tempo.”

Este diálogo – que não só poderia ocorrer nos dias que passam, como de fato ocorrem – pertence ao universo da ficção. O escritor polonês Jerzy Kosinski, ao chegar aos Estados Unidos, criou em Being There um dos personagens mais perturbadores de nossa época, Chance Gardiner. Quem não leu o livro, pode ainda pegar o filme, que passou no Brasil com o título de Muito além do Jardim e tem uma interpretação magnífica de Peter Sellers.

O tradutor brasileiro do livro teve um momento de iluminação ao traduzir o título americano por O Vidiota, isto é, o idiota do vídeo. Gardener é um empregado doméstico de um misterioso senhor, identificado na obra como "o Velho". Chance vive recluso no jardim da mansão e só teve contato, em toda sua vida, com duas pessoas, o Velho e a criada do Velho.
Chama-se Chance porque nasceu por acaso. Não sabe ler nem escrever. Seu único contato com o mundo exterior é através da televisão. Quando o que vê não lhe agrada, é simples: desliga o aparelho ou muda de canal com o controle remoto.

Morre o Velho e Chance é largado no mundo pelos criados. Sem lenço nem documento, literalmente. Quando a esposa de um empresário o atropela na rua e lhe pergunta quem é, diz: I’m the gardener. E passa a ser conhecido como Chance Gardiner. Como não portava nem dinheiro nem documentos, a mulher do empresário considera que deve ser alguém muito importante e o recolhe à sua casa. Chance, sem jamais ter pensado no assunto, passa a fazer parte do círculo do poder. Quem leu o livro ou viu o filme conhece o fim da história: a força de repetir chavões que ouviu na televisão, Chance faz uma brilhante carreira na mídia e começa a ser cogitado para presidente dos Estados Unidos. E quem não leu Kosinski, deve lê-lo imediatamente: é uma das mais profundas parábolas da literatura contemporânea.

Estamos vivendo em plena época Gardener, de ascensão do analfabeto. Com a televisão, qualquer iletrado pode ter uma idéia mais ou menos geral do que ocorre em torno a si e no mundo. A rigor, ninguém precisa mais ler para entender – ou supor que entende – o mundo.
Se o jardineiro de Kosinski pertence ao universo da ficção, nosso vidiota é muito real e já tomou posse em Brasília.
Em falta de um laivo sequer de cultura ou lógica, analisa o momento político com metáforas rasas. Referindo-se ao processo gradual de mudanças que espera promover na economia, disse, no melhor estilo Gardiner: "É como colher uma fruta. Não adianta colher verde". Kosinski não ousaria tanto.

Mas não parou aí a retórica hortifrutigranjeira. Em solene discurso para os membros do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, baixou de novo o espírito de Chance.
Lembrou que há quinze anos comprou um pé de jabuticaba e plantou-o em seu sítio, mas que ele nunca deu frutos. Um belo dia sua mulher, a primeira-companheira Marisa Letícia, chegou com uma muda igual, em um vaso.
Lula achou que era impossível dar jabuticaba em apartamento, dentro de um vaso. Mas Marisa Letícia acreditou na planta e cuidou dela, regando-a com freqüência.
Conclusão de nosso Chance: "o pezinho de jabuticaba dá quatro ou cinco vezes por ano, coisa em que este conselho pode se transformar, se quiser."

Encantado com o próprio verbo, foi adiante e concluiu que o pé de jabuticaba do sítio não deu frutos porque ele não sabia cuidar, ou porque a terra tinha algum problema. "Ela acreditou mais do que eu. Se transformarmos as oportunidades que temos em coisas menores, certamente o Conselho poderá representar o pé de jabuticaba do meu sítio. Mas, se nós pensarmos grande e cuidarmos com carinho dos milhões de brasileiros e brasileiras de quem, há muitos e muitos anos, ninguém cuida, certamente este Conselho poderá representar o pé de jabuticaba que Marisa plantou no apartamento."

Mais recentemente, o aprendiz de jardineiro do Planalto atacou de pescador. Comentando a estrutura jurídica do país, prolatou sentença: “Na verdade, quem é pescador aqui sabe que um peixe grande demora mais para se pegar na vara. Se o Maluf é pescador, ele sabe que pegar um lambarizinho é mais fácil do que pegar um pintado, pegar um jaú".

Tratasse o nosso Gardiner de apenas cultivar seu jardim, poderia até mesmo passar por sábio. Mas o homem é fascinado pelo verbo, e não vacila nem mesmo ante a História. Por ocasião da inauguração da nova fábrica da Polibrasil, deitou erudição: "Quando Napoleão Bonaparte visitou a China pela primeira vez, ele disse que a China é um gigante e, no dia em que acordar, o mundo vai tremer". A frase, de fato, é do corso. Pena que ele nunca foi à China.
Para quem já afirmou que na Bíblia não existe fome, esta visita à China é café pequeno.

Mas o governo não basta para o nosso Gardiner. Já teve seu nome aventado não só para a Academia Brasileira de Letras como também para o Nobel da Paz. O governo recém começou. Anos divertidos nos esperam pela frente. “Ama, com fé e orgulho a terra em que nasceste! Criança! Não verás nenhum país como este”.

Não verás mesmo.
Janer Cristaldo
29.05.2008

GUARANÁ SEM GÁS E CARNE DE BODE

Pimentel é um ministro elegante, não vocifera como seu colega das Cidades. Mas seu caso também não cheira bem

Por que a Eta Bebidas do Nordeste, uma fabriqueta de guaraná em copo, não gaseificado, com sede em Pernambuco, pagou R$ 130 mil de consultoria a Fernando Pimentel? Por que a Eta negou o contrato e, no dia seguinte, voltou atrás? O que Pimentel sugeriu como estratégia, já que a fábrica está em processo de liquidação? Por que o superconsultor Pimentel resolveu dar um gás numa bebida de R$ 0,50 que fazia propaganda no Ratinho e contratava meninas em jogo do Sport com o Santa Cruz? Afinal, ele assessorava a Federação das Indústrias de Minas e os consórcios de construtoras que farão obras na Copa.

Eta ferro, ministro. Olhando de fora, nada disso parece fazer o menor sentido em seu currículo. Mas Pimentel acha que faz, como afirmou a ÉPOCA (leia a entrevista).
Entendo que, “para sobreviver”, a consultoria privada fosse o caminho óbvio para quem estava fora do poder formal, em 2009 e 2010. Entendo que tenha recebido R$ 2 milhões (declarados) em pouco menos de dois anos.
Seu passe era alto. Pimentel não era um desempregado qualquer. Ele coordenava a campanha da conterrânea mineira, candidata de Lula à Presidência.
Era candidato ao Senado pelo PT. Tinha sido prefeito de Belo Horizonte e aliado de Aécio Neves na coalizão mineira.

Pimentel é um ministro elegante. É peso-pesado, por ser tão próximo de Dilma, desde os tempos de luta em que a presidente tinha aquela carinha bonita da foto que ÉPOCA divulgou na semana passada.
Ele não vocifera. Não esbraveja. Não chora em público como outro colega ameaçado, Mário Negromonte, das Cidades, que se gaba de ter comido “muita carne de bode”. Não se mete com festas em motéis, não constrange Dilma com declarações de amor. Tem mais classe que o bloco dos destituídos de 2011.

Se algo emerge dos escândalos, é o baixo nível do alto escalão. Enquanto os ministros estavam ali quietinhos no Planalto, mamando nas tetas do país, sem dar entrevista, não se imaginava que eles mal soubessem falar. São esses personagens os mais altos representantes do governo brasileiro? Depois há quem reclame que a presidente perca a paciência.

Pimentel é um ministro elegante, não vocifera como seu colega das Cidades. Mas seu caso também não cheira bem.
Pimentel não silenciou sobre seus clientes de consultoria como Palocci, o enigmático ex-chefe da Casa Civil que entrou mudo e saiu calado. Não foi acusado, como Rossi, da Agricultura, de contratar lobista nem bandido para sua pasta.
Não pesam contra ele denúncias de desvio de dinheiro público, propinas ou convênios irregulares com ONGs. Assim foram derrubados Nascimento, dos Transportes, Novais, do Turismo, Silva, do Esporte, e Lupi, do Trabalho. Ufa!

O que poderia tirar Pimentel do bichado ministério de Dilma é algo mais sutil. Chama-se tráfico de influência. É aquele terreno pantanoso das relações entre o poder público e o capital privado.
Até agora, nada do que foi levantado contra Pimentel é ilegal, por não ter sido praticado no exercício do cargo.
Não o ajuda, porém, o pedido de demissão de seu ex-sócio na empresa de consultoria, Otílio Prado, que continuava como assessor especial do prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda.
Otílio se sente culpado de quê? Também não é bom para Pimentel que sua empresa de consultoria continue aberta, embora inativa. Mas, se nada de mais grave surgir, dificilmente ele cairá. Pimentel está na cota de Dilma. Ela vai protegê-lo.

O problema deixou de ser Pimentel ou Negromonte. Há uma desconfiança geral no sistema.
Quando o governo federal precisa explicar por escrito aos Estados que verba de Saúde tem de ser gasta na Saúde, e não desviada para outros fins.
Quando o líder do governo na Câmara, Candido Vaccarezza, acha a coisa mais normal do mundo ser “funcionário fantasma” e não aparecer para trabalhar.
Quando políticos não veem nada antiético em embarcar em jatos de empresários ou comprar votos. Quando o mérito deixa de ser um critério e perde para o apadrinhamento.
Quando nada acontece com corruptos.

O povo não quer mais pagar pela farra pública, presidente Dilma.
A Câmara prepara aumentos de R$ 386 milhões. O que fazem os 10 mil secretários parlamentares nos gabinetes da Câmara? O que faz essa gente? São 1.200 cargos especiais, com salários de até R$ 12 mil. A verba de gabinete de cada deputado é de R$ 60 mil por mês e pode subir para R$ 90 mil. Como se justifica isso para o contribuinte? Por que essas pessoas podem aprovar aumentos para si mesmas com nosso dinheiro?


Como, numa recessão mundial, o Executivo poderá manter 39 ministérios e 23.500 assessores de confiança? Dilma, se sua maior qualidade for mesmo a gestão responsável, aí está a oportunidade de fazer história – e não só faxina.

RUTH DE AQUINO é colunista de ÉPOCA

DILMA PEDE QUE PIMENTEL "RESISTA": VERSÃO DO CASCO DURO

Dilma lembra ataques que sofreu como ministra e dá ordem a Pimentel: 'Resista'

Depois de demitir sete ministros em quase um ano de governo, a presidente Dilma Rousseff está disposta a manter o titular do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, alvo de suspeita de tráfico de influência nas atividades de consultoria exercidas por sua empresa, a P-21.

'Resista!', ordenou a presidente ao ministro. 'Tem gente que sobrevive. Eu sobrevivi.'

Dilma determinou o contra-ataque na quinta-feira, ao lembrar que também foi duramente atacada por 45 dias, em 2009, quando era chefe da Casa Civil, mas provou a falsidade das informações.
Na ocasião, uma ficha criminal inverídica - que chegou a ser publicada - dava conta de que o grupo de Dilma, militante de extrema-esquerda, teria participado de seis assaltos, entre 1968 e 1969.
Na lista estavam roubos a bancos e o assalto ao cofre do ex-governador de São Paulo Adhemar de Barros, com cerca de US$ 2,4 milhões.

'Você bem sabe que eu nunca participei de ação armada nem dei um tiro', disse Dilma a Pimentel, segundo relato de auxiliares.
Amiga de juventude de Pimentel, a presidente militou com ele no Comando de Libertação Nacional (Colina) e na Vanguarda Armada Revolucionária (VAR-Palmares (VAR-Palmares), durante a ditadura.

Agora, Pimentel é o primeiro ministro da cota pessoal de Dilma a cair em desgraça. Todos os outros ou foram herdados do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ou indicados por partidos aliados. Na prática, nem mesmo a ala majoritária do PT queria que ele fosse ministro.

Clientes da empresa de consultoria de Pimentel firmaram negócios com a Prefeitura de Belo Horizonte, comandada por ele de 2003 a 2008, gerando suspeitas.

Embora o governo esteja preocupado com a exposição de Pimentel, a recomendação é para que ele não baixe a guarda. O ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, afirmou ontem que o Pimentel 'tem respondido com firmeza a todas as questões'. 'O importante é que ele tem o nosso apoio. É uma pessoa de muito respeito.'

Nos bastidores do Planalto, o comentário é que as denúncias contra Pimentel partem de 'fogo amigo' na seara petista, em Belo Horizonte. Há quem identifique vazamentos de dados da Secretaria de Finanças.

A Prefeitura da capital mineira é comandada pelo PSB de Márcio Lacerda, tendo Roberto Carvalho, do PT, como vice.
Ex-prefeito, o ministro coleciona brigas com seu partido. Em 2008, entrou em rota de colisão com a cúpula do PT por organizar o casamento petista com o PSDB do então governador Aécio Neves para apoiar Lacerda.

O confronto se repetiu no ano passado, quando ele disputou uma prévia com Patrus Ananias ao governo de Minas, venceu, mas abriu mão da candidatura para Hélio Costa, do PMDB, em troca da adesão do partido à campanha de Dilma.
Em 2012, Pimentel quer apoiar a reeleição de Lacerda contra fatia do PT, comandada por Carvalho, que luta por candidatura própria.

Dossiê.
No ano passado, quando integrava a coordenação da campanha de Dilma, ele também se indispôs com o grupo petista de São Paulo que brigava por mais espaço na equipe de comunicação e teve o nome envolvido numa guerra de dossiês.

Na edição de ontem, o Estado revelou que a principal financiadora da campanha de Pimentel ao Senado, em 2010, está na mira do Ministério Público de Minas. A suspeita é de superfaturamento em contrato firmado com a Prefeitura de Belo Horizonte na gestão do petista.

'Tudo faz parte de um jogo político', disse o ministro, que viajou ontem cedo para Buenos Aires, com o objetivo de participar de reuniões bilaterais com o governo argentino.

A base governista conseguiu barrar a convocação de Pimentel para uma audiência na Câmara. A oposição pretendia cobrar explicações sobre a atuação da P-21 entre 2009 e 2010. Nesse período, a consultoria teria ganho aproximadamente R$ 2 milhões.

Por TÂNIA MONTEIRO, VERA ROSA, BRASÍLIA, estadao, 10/12/2011

HISTÓRIA TRUNCADA

A Inquisição não existiu, é invenção dos leigos

Incrível, aterrador: o 16º capítulo da serie histórica “Jornais em Pauta”, publicada quinzenalmente pelo Valor Econômico, parece ter sido montado segundo os paradigmas do Dr. Joseph Goebbels, zelosamente imitados pela Academia de Ciências da ex-URSS e inspirados no patriarca do conservadorismo e do fascismo, Joseph de Maistre (1753-1821). A surpreendente tese: quem impediu o estabelecimento de tipografias e jornais no Brasil antes de 1808 foi a Coroa, o Estado português.

Não houve censura episcopal, não houve censura inquisitorial, não houve nenhum “Rol de Livros Proibidos”, não houve Inquisição. O sanguinário aparelho repressor chamado Santo Ofício estabelecido em 1536 e mantido até 1821 em Portugal e territórios ultramarinos é pura ficção.

Os cardeais-inquisidores não existiram, os comissários não tinham poder para examinar os livros que chegavam nos navios, a monarquia absolutista portuguesa era a única responsável pelo que poderia ser ensinado e difundido.

A fabricação da mentira torna-se cada vez mais sofisticada não por causa das novas tecnologias, mas porque estas tornam as pessoas cada vez menos interessadas em absorver conhecimentos.

O autor da proeza revisionista e negacionista publicada num dos mais sofisticados suplementos culturais da imprensa brasileira valeu-se de um engenhoso e perverso artifício retórico: como na América espanhola as tipografias foram instaladas a partir do século 16 (a primeira, no México, em 1583), o déficit de liberdade na América portuguesa só pode ser atribuído à Corte. Grande parte do texto, cerca de dois terços, está maliciosamente montado em cima de citações de eminentes historiadores patrícios, genialmente manipuladas para reforçar a idéia de que a Coroa portuguesa é a única vilã do nosso atraso intelectual e jornalístico. Difícil acreditar que na vasta bibliografia de Sérgio Buarque de Holanda e de Nelson Werneck Sodré não conste qualquer referência ao protagonismo do Santo Ofício (portanto, da igreja católica) no controle dos corações e mentes dos brasileiros e brazilienses. Pinçar na Sociologia da Imprensa Brasileira, de José Marques de Melo, a frase de que no Brasil colonial não havia tipografias “porque não eram necessárias” é, na melhor das hipóteses, um recurso capcioso.

Isabel Lustosa é, hoje, a mais diligente e esmerada historiadora da imprensa brasileira, coeditora dos 31 volumes com a reprodução integral do Correio Braziliense e valiosos estudos sobre Hipólito da Costa. Dela, os editores de Valor só encontraram um conceito digno de ser incluído no seu seriado quinzenal: “O Brasil era um dos poucos países do mundo, excetuados os da África e Ásia, que não produziam palavra impressa”. Onde está dito que a culpa do atraso foi exclusivamente da Coroa? Onde exime ela o Santo Ofício de ser a matriz da nossa vocação censória? Este tipo de trambique argumentativo ficaria muito bem num boletim do Opus Dei, mas discrepa num veículo destinado à formação da elite empresarial brasileira.

O autor (ou autores) ignora(m) que a Inquisição espanhola, diferentemente da portuguesa, era menos centralizada e menos burocratizada. O Santo Ofício lusitano manteve apenas um tribunal fora do território continental (em Goa, Índia); o espanhol permitiu a instalação de três filiais no Novo Mundo (México, Cartagena, Lima) e, graças à fiscalização descentralizada, podia se dar ao luxo de autorizar a instalação de tipografias para a impressão de obras evangelizadoras, criação de universidades e circulação de periódicos a partir do século XVII. As doutrinas que inspiravam as duas entidades inquisitoriais eram as mesmas, colaboravam ativamente entre si (como atesta o caso da loucura e morte do santista Bartolomeu de Gusmão, o “Padre Voador’), mas as mentalidades eram diferentes. A Espanha era uma potência europeia e o seu império global deveria contar com uma flexibilidade administrativa que o mirrado reino português só adotou quando a família real fugiu para o Brasil.

Quem encarcerou o padre Antonio Vieira não foi a Coroa portuguesa, mas a Inquisição portuguesa. Quem mandou prender e depois executar o comediógrafo – nascido no Rio de Janeiro – Antonio José da Silva, “O Judeu”, não foi D. João V (satirizado na ópera O Anfitrião, montada em 1736), mas o cardeal inquisidor D. Nuno da Cunha, por meio de uma ordem verbal (como está em seu processo). Quem decidiu que fosse executado num auto da fé não foi a justiça secular, mas os inquisidores que lhe ofereceram o direito de escolher entre o garrote e a fogueira. Aqui, na colônia portuguesa, bispos e comissários do Santo Ofício mandavam e desmandavam, os governadores obedeciam: cuidavam de defender o território, proteger riquezas e cobrar impostos. O resto ficava por conta dos Familiares do Santo Ofício e, sobretudo, do sistema de delações oriundo dos confessionários. O quadro modificou-se quando esse despotismo clerical foi substituído pelo “despotismo esclarecido” do Marquês de Pombal (1750). Tarde demais, o país estava atrasado 250 anos. O bravo historiador e o prestigioso veículo que ousaram quebrar o tabu relativo à história da imprensa brasileira conseguiram a façanha de manter sob sigilo absoluto, ao longo de 32 semanas consecutivas, o nome do primeiro periódico a circular sem censura no Brasil e em Portugal, o Correio Braziliense.

O nome de seu editor-redator, Hipólito da Costa – o patriarca da imprensa brasileira –, até o fascículo 16 só foi mencionado, de passagem e esguelha, uma única vez. Recorde de secretismo que só encontra rival nas ordens de prisão determinadas pelos tribunais do Santo Ofício.
Hipólito da Costa era funcionário da Coroa, mas por ser maçom foi preso pela Inquisição lisboeta (1802). O relato que publicou em português e inglês sobre os interrogatórios a que foi submetido é uma arrasadora denúncia contra os métodos medievais empregados pelos esbirros inquisitoriais.

O desenvolvimento do Brasil atrasou unicamente por conta do atraso da teocracia portuguesa. A melhor prova está no episódio que resultou no desmantelamento de uma tipografia no Rio de Janeiro (1747-1749) pertencente a um dos melhores impressores portugueses, Antonio Isidoro da Fonseca, misteriosamente transferido para a capital da colônia. Se essa oficina continuasse a sua atividade, a história da multiplicação das ideias no Brasil e a própria história política do país seriam drasticamente diferentes. Para melhor.

O estúpido e devasso D. João V ainda reinava, quem deu a ordem foi o Santo Ofício português, quem a recebeu e executou foi o respectivo comissário que convocou o desgraçado impressor para dizer-lhe que não poderia editar livros e outros escritos. O documento que confirma a truculência foi encontrado por este observador nos “Cadernos do Promotor da Inquisição de Lisboa”. Publicado e analisado em livro (“Em Nome da Fé”, Editora Perspectiva, 1999), demoradamente exibido no documentário de Silvio Tendler (“Preto no Branco – A censura antes da imprensa”) e extensamente discutido na série de três programas do Observatório da Imprensa que comemorou os 200 anos da imprensa brasileira.

Valor não publicou um equívoco, publicou uma mistificação. Não foi acidental, foi determinação das esferas superiores – ou inspiração divina –, as mesmas que decidiram há três anos que não se devia comemorar o bicentenário da imprensa brasileira para não lembrar o obscurantismo religioso que produziu nossa carência intelectual e jornalística. Registre-se um avanço: caiu o embargo sobre o assunto. E magicamente descobre-se que o controle religioso aumentou nosso atraso para cinco séculos. Mais precisamente 511 anos (308+200+3). Logo seremos iguais ao Suriname.

Fonte: Jornal Alef
Alberto Dines

"FAMIGLIA" QUEIROZ E A MÁFIA DO PT EM BRASÍLIA


O inquérito que apura o envolvimento do governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, num esquema de desvio de verbas do Ministério do Esporte deverá atingir também sua família.

A Polícia Federal e o Núcleo de Combate às Organizações Criminosas (NCOC) do Ministério Público do DF investigam o aumento vertiginoso do patrimônio da mãe, dos irmãos e até de um sobrinho de Agnelo.
Delegados e procuradores querem entender como a família do governador, que sempre fez questão de enfatizar sua origem humilde, passou a ostentar em apenas três anos mais de R$ 10 milhões em bens.

De acordo com as investigações, os sinais de enriquecimento surgem no início de 2008 e vão até setembro deste ano. Agnelo deixou o Esporte em 2006 e logo depois se tornou diretor da Anvisa (Agência de Vigilância Sanitária), de onde saiu em 2010 para concorrer ao governo da capital do País.
Levantamento preliminar da PF indica que os familiares do político petista não têm fontes de renda para justificar negócios celebrados nos últimos três anos, que incluem a compra de quatro franquias de restaurantes famosos de fast-food e da mais importante confeitaria de Brasília, todas localizadas nos principais shoppings da capital. Carros de luxo, apartamentos e até uma fazenda de gado em Goiás também constituem o que os investigadores batizaram de “império dos Queiroz”.


O MP do DF e a PF suspeitam que a família de Agnelo esteja sendo utilizada para esquentar o dinheiro desviado dos cofres públicos. Além de ter conversado informalmente com agentes que apuram o caso, ISTOÉ obteve com exclusividade parte dos documentos que fundamentam a investigação.

O primeiro na lista dos familiares de Agnelo investigados pela Polícia Federal é o ex-vigilante Ailton Carvalho de Queiroz, 51 anos, irmão mais novo do governador. Ailton tornou-se conhecido da mídia em 2008, quando trabalhava na área de inteligência do Supremo Tribunal Federal.
Foi ele o responsável pela elaboração de um relatório que indicava a suposta existência de grampos contra ministros do STF.
Logo depois do escândalo, o vigilante se licenciou do trabalho. Em seguida, investiu R$ 200 mil numa locadora de veículos chamada Allocare.
A empresa, que funciona numa pequena sala comercial na cidade-satélite do Guará, é administrada pelo filho Yuri. Com 23 anos de idade, Yuri tem renda presumida pelo Serasa de R$ 1,1 mil, mas possui em seu nome quatro veículos de luxo, entre eles uma picape Mitsubishi L200 Triton 2011, avaliada em mais de R$ 100 mil.

Em maio passado, Ailton lançou-se num novo negócio. Ele e a irmã Anailde Queiroz Dutra, 49 anos, investiram quase R$ 800 mil numa franquia da Torteria di Lorenza, no Brasília Shopping, o principal shopping do Plano Piloto.

Irmã mais nova do governador, Anailde é outra que entrou na mira da PF. Além da Torteria, ela e o marido, Rui Dutra, figuram como proprietários de duas franquias da rede de fast-food Bon Grillê, uma no mesmo Brasília Shopping e outra no Pátio Brasil, também localizado na região central da cidade.
Anailde, formada em economia em Salvador, tentou alguns concursos públicos em Brasília, mas não teve sucesso. De uma hora para outra, no entanto, virou milionária.

Cada franquia da Bon Grillê custa em média R$ 350 mil. O valor total do investimento num desses shoppings, considerando luva, taxas, equipamento e insumos, pode chegar a R$ 1 milhão, segundo avaliações do mercado.
As duas franquias foram adquiridas em 2008.

A do Brasília Shopping foi comprada por Anailde em sociedade com outra irmã de Agnelo, Anaide Carvalho de Queiroz, 58 anos.
Em 2010, Anaide vendeu sua parte para Rui Dutra. A renda mensal de Anailde, de acordo com o Serasa, gira em torno de R$ 1,7 mil, enquanto a de Anaide Queiroz chega a R$ 1,8 mil. Já os rendimentos da mãe dos irmãos Queiroz, Alaíde, na mesma base de dados, é de aproximadamente R$ 1,2 mil.

A PRÓSPERA FAMILIA DE AGNELO

PF e NCOC investigam enriquecimento súbito da família do governador Agnello; irmão de Agnello ameaça explodir moto do repórter

A próspera família de Agnelo


Imóveis, fazenda, restaurantes e locadora engordaram o patrimônio da família do governador do DF em mais de R$ 10 milhões. A PF investiga como a mãe, os irmãos e um sobrinho do petista acumularam essa riqueza em apenas três anos

O inquérito que apura o envolvimento do governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, num esquema de desvio de verbas do Ministério do Esporte deverá atingir também sua família. A Polícia Federal e o Núcleo de Combate às Organizações Criminosas (NCOC) do Ministério Público do DF investigam o aumento vertiginoso do patrimônio da mãe, dos irmãos e até de um sobrinho de Agnelo.
Delegados e procuradores querem entender como a família do governador, que sempre fez questão de enfatizar sua origem humilde, passou a ostentar em apenas três anos mais de R$ 10 milhões em bens. De acordo com as investigações, os sinais de enriquecimento surgem no início de 2008 e vão até setembro deste ano.


Agnelo deixou o Esporte em 2006 e logo depois se tornou diretor da Anvisa (Agência de Vigilância Sanitária), de onde saiu em 2010 para concorrer ao governo da capital do País.

Levantamento preliminar da PF indica que os familiares do político petista não têm fontes de renda para justificar negócios celebrados nos últimos três anos, que incluem a compra de quatro franquias de restaurantes famosos de fast-food e da mais importante confeitaria de Brasília, todas localizadas nos principais shoppings da capital. Carros de luxo, apartamentos e até uma fazenda de gado em Goiás também constituem o que os investigadores batizaram de “império dos Queiroz”.

O MP do DF e a PF suspeitam que a família de Agnelo esteja sendo utilizada para esquentar o dinheiro desviado dos cofres públicos. Além de ter conversado informalmente com agentes que apuram o caso, ISTOÉ obteve com exclusividade parte dos documentos que fundamentam a investigação.

O primeiro na lista dos familiares de Agnelo investigados pela Polícia Federal é o ex-vigilante Ailton Carvalho de Queiroz, 51 anos, irmão mais novo do governador. Ailton tornou-se conhecido da mídia em 2008, quando trabalhava na área de inteligência do Supremo Tribunal Federal.
Foi ele o responsável pela elaboração de um relatório que indicava a suposta existência de grampos contra ministros do STF.
Logo depois do escândalo, o vigilante se licenciou do trabalho. Em seguida, investiu R$ 200 mil numa locadora de veículos chamada Allocare. A empresa, que funciona numa pequena sala comercial na cidade-satélite do Guará, é administrada pelo filho Yuri.
Com 23 anos de idade, Yuri tem renda presumida pelo Serasa de R$ 1,1 mil, mas possui em seu nome quatro veículos de luxo, entre eles uma picape Mitsubishi L200 Triton 2011, avaliada em mais de R$ 100 mil.


PROSPERIDADE FAMILIAR

Na mira da PF por suspeitas de enriquecimento ilícito, irmão de Agnelo,
o ex-vigilante Ailton de Queiroz (à dir.), adquiriu uma locadora de carros,
a franquia de uma confeitaria e ainda ajudou a irmã, Anailde Queiroz,
a fechar a compra de uma fazenda em Água Fria de Goiás


Em maio passado, Ailton lançou-se num novo negócio. Ele e a irmã Anailde Queiroz Dutra, 49 anos, investiram quase R$ 800 mil numa franquia da Torteria di Lorenza, no Brasília Shopping, o principal shopping do Plano Piloto. Irmã mais nova do governador, Anailde é outra que entrou na mira da PF. Além da Torteria, ela e o marido, Rui Dutra, figuram como proprietários de duas franquias da rede de fast-food Bon Grillê, uma no mesmo Brasília Shopping e outra no Pátio Brasil, também localizado na região central da cidade. Anailde, formada em economia em Salvador, tentou alguns concursos públicos em Brasília, mas não teve sucesso. De uma hora para outra, no entanto, virou milionária. Cada franquia da Bon Grillê custa em média R$ 350 mil. O valor total do investimento num desses shoppings, considerando luva, taxas, equipamento e insumos, pode chegar a R$ 1 milhão, segundo avaliações do mercado. As duas franquias foram adquiridas em 2008.

A do Brasília Shopping foi comprada por Anailde em sociedade com outra irmã de Agnelo, Anaide Carvalho de Queiroz, 58 anos. Em 2010, Anaide vendeu sua parte para Rui Dutra. A renda mensal de Anailde, de acordo com o Serasa, gira em torno de R$ 1,7 mil, enquanto a de Anaide Queiroz chega a R$ 1,8 mil. Já os rendimentos da mãe dos irmãos Queiroz, Alaíde, na mesma base de dados, é de aproximadamente R$ 1,2 mil.

Além das franquias, a família de Agnelo expande seus domínios fundiários. Em setembro, Anailde Queiroz Dutra tornou-se proprietária de 560 hectares de terra no município de Água Fria de Goiás, a 170 km de Brasília.

A Fazenda Cachoeira, com área equivalente a 560 campos de futebol, foi comprada do oftalmologista Celso Inácio dos Santos em dinheiro, à vista. Para não fazer alarde e desembolsar menos com imposto, o imóvel foi registrado no cartório local por R$ 800 mil. A PF, no entanto, apurou junto a autoridades locais que a compra foi feita por R$ 1,8 milhão.
E não foi feita por Anailde, como consta na escritura, mas pelo irmão Ailton Carvalho de Queiroz.

As compras da rede de restaurantes e da confeitaria carregam outro ingrediente que intriga a Polícia Federal. Antes de passarem para as mãos dos familiares de Agnelo, essas franquias foram compradas pela dupla Glauco Alves e Santos e Juliana Suaiden Alves e Santos.
O casal é o mesmo que vendeu em 2007 para o governador do DF a mansão em que ele mora hoje com a primeira-dama Ilza Maria. Os investigadores descobriram que logo depois de fecharem o negócio da casa, Glauco passou a atuar na Anvisa por meio das consultorias Plannejare e Saúde Importação de Produtos Médicos.

Agnelo tornou-se diretor da agência no mesmo ano de 2007 e, recentemente, foi acusado de receber propina para beneficiar uma empresa do setor. A PF suspeita que Glauco e Juliana emprestaram seus nomes para a compra das franquias, com o compromisso de repassarem essas propriedades ao clã dos Queiroz. Como pagamento pelo serviço, o casal teria recebido outra franquia da Torteria di Lorenza, na Asa Sul, e uma pequena cafeteria, a Café com Bolacha, no bairro Sudoeste.


Na sexta-feira 9, através de sua assessoria, o governador Agnelo afirmou desconhecer a investigação. Já Glauco Alves, o homem que negociou as franquias, foi abordado pela reportagem quando chegava à Torteria da 302 Sul a bordo de uma Mitsu­bishi Outlander.

Perguntado sobre os negócios com Agnelo, ele pediu tempo para pensar. “Estou com a cabeça cheia. Mas te ligo depois”, disse. Ailton, o irmão mais novo de Agnelo, reagiu com agressividade ao contato da reportagem.
Disse que nunca fez negócios com o irmão ou com o governo e lançou ameaças. “Não admito que ninguém se meta em minha vida, tá certo?!”, afirmou.
Ailton deu a entender que sabe onde o repórter mora e até a marca da motocicleta que usa no dia a dia. “A única coisa é que de vez em quando ela (a moto) pega fogo e explode”, disse.
Questionado se estava ameaçando o repórter, o irmão de Agnelo perdeu a paciência. “Você sabe onde eu trabalhava? Acha que está lidando com algum boboca? Depois a gente resolve. Vou ter o que rebater depois na Justiça e por outros meios. Você se cuida!”


Fonte: IstoÉ

A ESPETACULARIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO

Um professor de ensino básico enfrenta vários desafios ao longo de sua carreira: classes superlotadas; alunos problemáticos, indisciplinados e muitas vezes violentos; colegas de trabalho estressados, diretores omissos e a falta de material didático adequado para ministrar as suas aulas estão entre as principias reclamações dos profissionais da educação. Tudo isso sem contar o baixo salário, o que faz da carreira docente uma das mais mal remuneradas entre as profissões que exigem curso superior.

Não bastassem todas estas mazelas, nas últimas décadas surgiu um novo tipo de professor que vem contribuindo significativamente para banalizar o magistério. Trata-se do “professor-show” (ou “professor-popstar”); docente que, sob o pretexto de tornar as aulas mais atrativas, apresenta uma postura anedótica em sala de aula, com atitudes que beiram o ridículo. Com uma postura que privilegia aspectos performáticos em detrimento dos conteúdos pedagógicos, não demoraria muito para o “professor-show” chegar à programação televisiva.

Eis que surge, então, o quadro “Conselho de Classe”, exibido pelo Fantástico. O quadro em questão (realizado nos moldes de umreality show)acompanha, desde o início do ano letivo, a rotina de quatro professores – Ernesto (Matemática), Walter (História), Elaine (Língua Portuguesa) e Érica (Biologia) – de uma escola pública do Rio de Janeiro.

O que é “eletrizar a plateia”

No programa exibido no domingo (04/12), o destaque foi o professor de História, Walter Lopes, que assevera ter a fórmula infalível para controlar uma turma de adolescentes e manter todos eles “ligados” na aula: promover aulas mais divertidas, dinâmicas e interativas. A partir de então o que se viu foi uma sucessão de situações anódinas, que lembravam mais um programa de auditório do que uma sala de aula. O professor Walter, que abusa de gírias e trejeitos estranhos, começa o seu trabalho afirmando: “Tem que estar ‘ligadão’ na aula para responder assim, de bate-pronto.” Desse modo, com um tom de voz consideravelmente alto, inicia uma atividade de pergunta e resposta com seus alunos: “É assim que eu quero, preciso de vibração, pô!”

Posteriormente, ao questionar a não participação de alguns alunos, o professor abusa de um sentimentalismo barato, digno de uma novela mexicana: “Eu sou um professor carente, eu preciso de atenção.” A sala de aula se transforma então em um palco, onde o que importa não é a assimilação do conhecimento, mas “eletrizar a plateia”. O depoimento de uma aluna resume bem a aula do professor Walter: “No final, ele faz uma palhaçada e aula fica bem mais legal.”

Desserviço à educação

Evidentemente, não estou defendendo o método tradicional de ensino, baseado em uma pedagogia meramente repetitiva e autoritária. Lembrando Adorno, a educação deve ter como princípios evitar o autoritarismo e buscar a emancipação humana. No entanto, resolver os problemas disciplinares em sala de aula é uma questão complexa que envolve desde aspectos intraeducacionais a fatores extraeducacionais. Obviamente, fazer da sala de aula um picadeiro não vai, em hipótese alguma, solucionar esta questão.

Portanto, um professor não pode contribuir para melhorar a educação brasileira transformando suas aulas em um espetáculo circense (com todo o respeito aos profissionais dessa área) ou se expondo ao ridículo, dançando de forma escalafobética na TV. Exercer o magistério é uma atividade séria, não é um entretenimento.

Em suma, o quadro “Conselho de Classe”, ao apresentar alunos e professores em situações esdrúxulas, é mais um desserviço prestado à educação por parte da grande mídia.

***

[Francisco Fernandes Ladeira é especialista em Ciências Humanas, Brasil: Estado e Sociedade pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e professor de História e Geografia em Barbacena, MG]