"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 7 de abril de 2013

O BRASIL E A CORÉIA DO NORTE

PC do B, PT, PSB, CUT e UNE fazem o que nem a China faz: dão irrestrito apoio à Coreia do Norte e acusam a do Sul e os EUA de “belicistas” 


A Coreia do Norte tem só um aliado importante: a China. Pois o presidente chinês, Xi Jinping, ficou com o saco cheio de Kim Jong-un, o anão taradinho norte-coreano que quer brincar de jogos de guerra. E mandou um recado: “Nenhum país tem permissão para jogar uma região, e o mundo inteiro, no caos para ganho próprio, por egoísmo”. Os chineses, como se sabe, votaram a favor de sanções contra a Coreia do Norte por causa de um teste nuclear. Kim Jong-un passou, então, a ameaçar com um ataque nuclear a Coreia do Sul, o Japão e os próprios EUA. Especula-se que eles tenham mísseis que podem alcançar a base americana na ilha de Guam, no Pacífico. Então ficamos assim: a China, que é a China, reconhece a Coreia do Norte como o agente provocador.
 
Mas vocês sabem, né? Os chineses já são impuros. Não são mais comunistas como antigamente. Pensam demais em negócios. Quem quiser comunismo de verdade, autêntico, ortodoxo, tem é de procurar no Brasil. É bem verdade que os nossos comunas gostam mesmo é de emprego público, dinheiro desviado de ONG, de ficar de papo pro ar e, de vez em quando, vaiar o Marcos Feliciano lá na Câmara… Mas eles conservam a pureza revolucionária.
 
Vejam bem! Até Fidel Castro, o Coma Andante, lá das catacumbas, emitiu um sinal de preocupação com a tensão na península coreana. E nem atacou os EUA. Pediu calma! Mas Fidel também não é mais o mesmo. Sabem como é…
Na situação em que está, deve ter começado a fazer um hedge com o Altíssimo, né? Vai que Deus exista e que as almas tenham de responder pelas misérias que fizeram cá na terra. Fidel tem pelo menos 100 mil mortos nas costas. Não deve ser fácil se despedir desse mundo com essa consciência íntima. Então preferiu, desta feita, apenas pedir a paz.
 
Como Chávez acabou de chegar ao Céu Bolivariano, quem haveria de sair em defesa da Coreia do Norte, atacando os EUA e a Coreia do Sul? Ora, o PC do B, o mesmo partido que, em dezembro do ano passado, quando Kim-Jong-Il (pai de Kim Jong-un) morreu, publicou um texto exaltando a “prosperidade” da Coreia do Norte — que conheceu casos de canibalismo na área rural em razão da fome. Lembro um trechinho:

 “Durante toda a sua vida de destacado revolucionário, o camarada Kim Jong Il manteve bem altas as bandeiras da independência da República Popular Democrática da Coreia, da luta anti-imperialista, da construção de um Estado e de uma economia prósperos e socialistas, e baseados nos interesses e necessidades das massas populares.”
 
Publiquei, então, uma foto de satélite que evidencia a prosperidade norte coreana. Vejam aqui.
 
 
Acima, vocês veem as duas Coreias à noite. A parte iluminada é a do Sul; aquele negrume noturno é a do Norte. Coisa linda! É um país que escolheu a economia de baixo carbono!!! Os nossos ecologistas iriam a-mar!!! O avô, o pai e o neto fizeram, por meio da ditadura, o que Marina adoraria fazer no Brasil por meio da democracia, hehe (ao menos isso…).
 
O manifesto

Pois bem… No dia 2 — desculpem o atraso em relação às ações promovidas pela vanguarda revolucionária brasileira —, o PC do B resolveu lançar um manifesto em defesa da Coreia do Norte, tratado como um país pacífico, e contra os EUA e seu “fantoche”, a Coreia do Sul. Acho que até os comunas norte-coreanos ficariam corados e diriam: “Também não precisa exagerar…” Atenção! Solidarizam-se com o texto e o assinam também o PT, o PSB, a CUT e o UNE. Leiam:
 
A escalada da tensão na Península Coreana, com a participação direta dos Estados Unidos, tem aumentado a pressão e a preocupação com um possível conflito internacional, apesar dos pedidos reiterados por diálogo enquanto a Coreia do Sul, apoiada pelos EUA, toma medidas belicistas.
Neste contexto, movimentos e partidos brasileiros que lutam contra o imperialismo belicista e pela manutenção da paz e da soberania das nações enviaram a seguinte declaração à embaixada da Coreia Popular:
Senhor Embaixador da República Popular e Democrática da Coreia;
 
A campanha de uma guerra nuclear desenvolvida pelos Estados Unidos contra a República Democrática Popular da Coreia passou dos limites e chegou à perigosa fase de combate real.
Apesar de repetidos avisos da RDP da Coréia, os Estados Unidos tem enviado para a Coréia do Sul os bombardeios nucleares estratégicos B-52 e, em seguida, outros meios sofisticados como aeronaves Stealth B-2, dentre outras armas.
 
Os exercícios com esses bombardeios contra a RDP da Coréia são ações que servem para desafiar e provocar uma reação nunca antes vista e torna a situação intolerável.
 
As atuais situações criadas na península coreana e as maquinações de guerra nuclear dos EUA e sua fantoche aliada Coréia do Sul além de seus parceiros que ameaçam a paz no mundo e da região, nos levam a afirmar:
 
1. Nosso total, irrestrito e absoluto apoio e solidariedade à luta do povo coreano para defender a soberania e a dignidade nacional do país;
 
2. Lutaremos para que o mundo se mobilize para que os Estados Unidos e Coréia do Sul devem cessar imediatamente os exercícios de guerra nuclear contra a RDP da Coréia;
 
3. Incentivaremos a humanidade e os povos progressistas de todo o mundo e que se opõem a guerra, que se manifestem com o objetivo de manter a Paz contra a coerção e as arbitrariedades do terrorismo dos EUA.
 
Conscientes de estarmos contribuindo e promovendo um ato de fé revolucionária pela paz mundial, as entidades abaixo manifestam esse apoio e solidariedade.
Brasília, 02 de abril de 2013.

 PCdoB, PT, PSB, Cebrapaz, CUT, MST, MDD, UJS, UNE, Unegro, Unipop, CDRI, CDR/DF, MPS, CMP, CPB, Telesur, TV Comunitária de Brasília, Jornal Revolução Socialista.
 
Encerro

Kim Jong-un precisava de alguém que o compreendesse. Encontrou os esquerdistas brasileiros que mamam nas tetas do estado, mas conservam intacta a alma revolucionária.
 
07 de abril de 2013
Por Reinaldo Azevedo

ADOLESCENTE BRASILEIRO CONSOME POR ANO 26 KG DE AÇÚCAR EM BEBIDAS

Adolescente consome 26 kg de açúcar por ano com refrigerante e suco pronto. Ideal são 18 kg, se considerado todo tipo de alimento; suco pronto e refrigerante substituíram água e leite
 
As crianças e os adolescentes brasileiros estão trocando o consumo de água e leite por bebidas açucaradas, como refrigerantes e sucos industrializados ou em pó - o que têm aumentado consideravelmente os casos de obesidade infantil, além dos riscos para o desenvolvimento de doenças antes observadas em adultos, como diabete tipo 2 e hipertensão.
 
A constatação - que reforça a necessidade de mudanças de hábitos alimentares - está no primeiro estudo epidemiológico brasileiro que avaliou o consumo de bebidas entre crianças e adolescentes de 3 a 17 anos em cinco capitais: São Paulo, Rio, Porto Alegre, Belo Horizonte e Recife. A pesquisa, desenvolvida por pesquisadores da Faculdade de Saúde Pública da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e do Instituto da Criança do HC, foi publicada no BMC Public Health.

O Ministério da Saúde considera a obesidade infantil uma epidemia. Os dados mais recentes (referentes a 2009) indicam que uma em cada três crianças brasileiras entre 5 e 9 anos está acima do peso ou obesa.

Os resultados da pesquisa são alarmantes. Mostram que, além de o leite e a água praticamente desaparecerem da dieta dos jovens, na média geral, as crianças e os adolescentes consomem cerca de 21 quilos de açúcar por ano só considerando as bebidas.

A pesquisa indica, por exemplo, que um adolescente de 11 a 17 anos ingere cerca de 26 quilos de açúcar por ano com as bebidas - quase 45% a mais do que ele poderia consumir no período (18 quilos), considerando o açúcar presente em todo tipo de alimento, não apenas nas bebidas (mais informações nesta página).

"Estamos vivendo um fenômeno universal de aumento dos casos de sobrepeso e obesidade infantil. No Brasil, isso vem se acentuando nos últimos 20 anos, especialmente em decorrência da maior oferta de alimentos e das melhores condições econômicas das famílias", diz Cláudio Leone, professor da Faculdade de Saúde Pública da USP e um dos autores do estudo.

Segundo o professor, muitas famílias substituem o refrigerante por sucos industrializados por considerarem mais saudável, sem ter ideia de que esse tipo de produto muitas vezes tem tanto açúcar ou mais do que uma latinha de refrigerante. "As mães acham que o fato de ter uma fruta estampada na embalagem significa que é saudável", diz.

É o caso da cabeleireira Maria Luísa Vieira de Araújo Silva, de 47 anos. Ela tem dois filhos: Augusto, que tem 15 anos e é "magrelo" e Júlia, que tem 12 anos e é "cheinha". Segundo a mãe, Júlia costuma beber refrigerante ou sucos industrializados todos os dias nas refeições. "Ela praticamente não bebe água. Ela mata a sede com suco e refrigerante."

Por causa do sobrepeso da filha, Maria Luísa levou a menina ao nutricionista, que pediu que ela anotasse num caderno tudo o que consumia. "Quando ela viu, ficou assustada. Readaptamos o cardápio de casa, mas é muito complicado cortar de vez as bebidas. Trabalho fora o dia todo, não tenho como controlar tudo o que ela come e bebe." Maria Luísa deixa o prato do almoço da filha pronto na geladeira, mas a menina ainda toma suco industrializado. "Suco natural é bom, mas e o preço da fruta?"

Oferta. Para Ekaterine Karageorgiadis, advogada do Instituto Alana e conselheira do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), um dos fatores que explicam os resultados da pesquisa é o aumento da oferta de produtos e o crescimento da publicidade dirigida às crianças.

"Boa parte dos produtos consumidos pelas crianças tem ações mercadológicas na TV ou na internet. E a publicidade foca na parte boa, como 'rico em ferro' e 'rico em vitaminas', e não deixa claro quanto há de açúcar. Isso faz as mães acreditarem que esses produtos não fazem mal."

Maria Edna de Melo, diretora da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade (Abeso), diz que o consumo de açúcar aumentou de maneira geral. "Vemos isso no dia a dia no consultório." Para ela, a única forma de reverter o crescimento da obesidade é promovendo ações de educação. "Não dá para crucificar a mãe que dá suco ou refrigerante para seu filho. A questão da informação e da condição social precisam ser levadas em consideração. É bem mais caro comprar alimentos saudáveis. É preciso uma política de governo com enfoque na educação alimentar."

Patrícia Jaime, coordenadora de Alimentação e Nutrição do Ministério da Saúde, diz que a pesquisa traz resultados alarmantes, que vão orientar novas políticas públicas.

"A obesidade infantil é o tema central do programa Saúde na Escola, que é uma ação do Ministério da Saúde, em parceria com o da Educação, desde 2008", diz. Segundo Patrícia, a meta do ministério é reverter a curva de crescimento da obesidade entre crianças e estagnar entre os adultos nos próximos dez anos.

07 de abril de 2013
FERNANDA BASSETTE - O Estado de S.Paulo

DEUS E O DIABO NO TEATRO POLÍTICO

 

No Estado-Espetáculo, até Deus é usado como bengala de apoio aos representantes políticos. O ditador Francisco Franco, que governou a Espanha por 36 anos (1939-1975), usava a Providência divina para afirmar sua legitimidade: “Deus colocou em nossas mãos a vida de nossa Pátria para que a governemos”.

Não satisfeito, mandou cunhas nas moedas: “Caudilho pela graça de Deus”. Idi Amin Dada, o cabo que se tornou marechal de Uganda, sanguinário e paspalhão, dizia ao povo que falava com Deus nos sonhos.

Um dia deparou-se com a pergunta de um jornalista: “O senhor tem com frequência esses sonhos? Conversa muito com Deus?” Lacônico, o cara de pau respondeu: “Sempre quando necessário”.

A história é cheia de casos em que atores políticos organizam o próprio culto, ornando sua aura com atributos divinos. Nietzsche chegou a proclamar: “A apoteose da aventura humana é a glorificação do homem-Deus”. Mas o diabo também é avocado como protagonista do teatro da política fosforescente.
A desastrada declaração do pastor Marco Feliciano (PSC-SP) de que, antes dele presidi-la, a Comissão dos Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados era dominada por Satanás comprova a tese.

Nos últimos tempos, por nossas bandas, impulsionados por uma onda midiática que entra nas noites e madrugadas construindo um novo pentecostalismo, bispos, pastores e apóstolos não medem esforços para organizar exércitos do bem para enfrentar as forças do mal.


Do alto de uma montanha de dízimos, os comandantes de guerra contra as trevas estruturam impérios religiosos, ganham concessões do Estado (para execrar, frequentemente, o próprio Estado), locupletam cofres, organizam partidos e aumentam a fatia política com bancadas cada vez mais gordas.

A expressão radical torna-se arma de combate e de engajamento de milícias. Já a defesa de posições conservadoras funciona como escudo. A índole discriminatória explode. Essa é a composição que explica o imbróglio envolvendo o novo presidente da Comissão de Direitos Humanos.

Flagrado ao postar mensagens homofóbicas e racistas nas redes sociais, Feliciano arremata, em inflamado sermão, que, “pela primeira vez na história desse País, um pastor cheio de espírito santo” conquistou espaço dominado pelas tropas de Belzebu.

Destemperado, o deputado jogou no fogo do inferno companheiros que já comandaram aquele território “satânico”. E assim, comete um pecado ético, deixando transparecer a ruptura do princípio republicano que estabelece a separação entre igreja e Estado.

É evidente que o verbo messiânico tenta desenhar a figura de um “herói” sob proteção divina. Maquiavelismo. A linguagem cortante, claro, resultará em bacia cheia de votos em 2014. Atente-se para o espírito do nosso tempo: culto da personalidade, competitividade entre igrejas, organicidade social, multiplicação de grupos de pressão, expansão da democracia participativa, abertura da locução social.

Com o foguetório, o pregador consegue chegar aos píncaros da visibilidade, meta ambicionada por qualquer parlamentar. Vale lembrar que foi eleito pelos pares para comandar a Comissão de Direitos Humanos. Até ai tudo bem. Inaceitável é o uso (e abuso) de peroração discriminatória dentro de um organismo criado exatamente para defender os postulados da igualdade e da pluralidade.

Resta observar que o “enviado dos céus” ultrapassou seus 15 minutos de fama. E parece querer mais, ampliando espaços midiáticos e sendo eleito como o bastião da resistência evangélica no Congresso. Multiplicará o rebanho e consolidará a imagem de “guerreiro do Espírito Santo”? Não há certeza. Mas a ambição desvairada pelo poder acabou turvando a visão do ator.

O presidente da Comissão de Direitos Humanos caiu na tentação de ultrapassar os limites do bom senso. Ao trazer Satanás para a mesa da política e identificá-lo com seus pares, abriu caminho para ser examinado pela lupa ética.

A imbricação de política e religião, na forma como o fez, e logo dentro da Comissão que espelha direitos humanos, pode ser o motivo para seu afastamento. Não é de hoje que objetos sagrados e profanos são embalados pelo celofane da política. No Brasil, a amálgama tem sido rotineira, a partir das concessões na área de rádio e TV para grupos e igrejas. Os dois territórios bifurcam-se, sob o olhar complacente de quem tem poder para evitá-la.

Até se admite que a concorrência entre católicos e pentecostais estimula os contendores a aprofundar as relações com o Estado, como se vê na recente proposta do deputado evangélico João Campos (PSDB-GO), que garante às entidades religiosas poder de contestar a constitucionalidade de leis no STF. (Por que não estender o privilégio aos ritos afrobrasileiros?)

Deslocar a religião para o palco da política, no molde feliciano, é pregar abertamente a ilicitude dentro da própria Casa que faz as leis e deve dar exemplo de disciplina. Não se pretende defender postura apolítica de igrejas e credos.
Seu papel missionário implica tomar partido, lutar por ideários e convicções, ações que inescapavelmente adentram os corredores do Parlamento. Podem, até, sugerir a eleição de perfis identificados com os valores da República.
Constituem motivo de aplauso, igualmente, ações sociais pela elevação e promoção do ser humano, particularmente dos contingentes marginalizados. Essa é a visão abrangente da política que as igrejas podem perseguir.

Outra coisa é política partidária, usar a religião como instrumento de negócios lucrativos, imã para atrair fiéis e posicioná-los nas siglas. A invasão religiosa no espaço público ameaça manchar o escopo republicano, apesar de sabermos que o ativismo eleitoreiro de certas igrejas acabará acentuando tal tendência. Urge dar um basta na construção da “Igreja-Estado”.

Foram-se os tempos em que líderes religiosos coroavam e descoroavam reis e rainhas. O bom senso aconselha: senhores políticos, muito cuidado para não trombetear o nome de Deus na tuba da politicagem.

07 de abril de 2013
Gaudêncio Torquato, jornalista, professor titular da USP, consultor político e de comunicação.

POR TRÁS DO CARTÃO-POSTAL

Os acusados de cometer estupro

 
Pelo jeito, algumas coisas só voltarão a ser o que são quando o carioca acordar na manhã de 22 de agosto de 2016, depois de apagada a tocha olímpica no Maracanã e a cidade tiver zerado a sua trepidante temporada de megaeventos. Até lá, para quem surfa no calendário de alta visibilidade da cidade — Jornada da Juventude, Copa das Confederações, Copa do Mundo, Jogos Olímpicos —, notícia ruim é tudo aquilo que mancha a imagem deste Rio efervescente.

Sob esta ótica, o estupro de uma estrangeira dentro de uma van em circulação no Rio, além de horripilante, foi indigesto. E acabou revelando, por mero acaso, a face até então oculta dessa modalidade de crime já inserida na vida carioca. Ela apenas não fora detectada pelo radar de proteção aos Grandes Eventos.

A história do horror pelo qual passaram dois jovens turistas estrangeiros na madrugada do sábado de Páscoa, 30 de março, correu o mundo. A americana de 21 anos e seu amigo francês, de 23, haviam embarcado numa van em Copacabana rumo ao bairro boêmio da Lapa, no centro do Rio. No caminho, foram aprisionados dentro do veículo pelo motorista e pelo cobrador, iniciando-se uma sequência de violências que durou quase seis horas.

Com um terceiro cúmplice embarcado no caminho, a van circulou por Niterói, São Gonçalo, novamente Copacabana, Itaboraí. O francês foi algemado, agredido e ameaçado com barra de ferro. A americana foi estuprada por todos. Por fim, se viram largados num ponto de ônibus da Região Metropolitana.

Assistidos por representantes de seus países, passaram por dois hospitais públicos — à jovem foi ministrado um coquetel de drogas contra doenças sexualmente transmissíveis e a chamada “pílula do dia seguinte”. Por fim, foi feito o boletim de ocorrência policial.

Decorridas menos de 14 horas, os dois primeiros suspeitos foram capturados e puderam ser apresentados à imprensa pela Delegacia Especial de Atendimento ao Turista. Três dias após o atentado, o terceiro acusado também já estava em mãos da polícia.

Ainda assim, nos gabinetes municipais, o episódio doeu. “Ficamos tristes e decepcionados”, disse Alfredo Lopes, o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis, verbalizando a reação dos mais preocupados com o “dano à imagem”. “Pela importância turística do local, nunca se espera um caso desses. Ninguém quer um assalto numa van em Bonsucesso ou no Complexo do Alemão, mas em Copacabana, cartão-postal famoso mundialmente!”

Na verdade, apesar de ser um dos bairros cariocas com maior número de câmeras de segurança, guardas municipais, Batalhões de Policiamento Turístico e UPPs, a “Princesinha do Mar” parece ainda não ser unanimidade no exterior.

Em sua página na internet voltada a patrícios em viagem, o Ministério das Relações Exteriores da França recomenda prudência a viajantes com destino ao Rio de Janeiro. “Este aviso vale para todos os bairros e particularmente Copacabana, onde estão concentrados mais de 50% dos casos de assaltos à mão armada com registro policial”, informa o Quai d’Orsay. O alerta consta como atualizado até 2 de março — antes, portanto, da violência sofrida pelo jovem francês que acompanhava a americana estuprada.

Para muitos, o terror vivido pelos jovens dentro de uma van que trafegava calmamente pela cidade evocou a barbárie cometida contra um casal de indianos a bordo de um ônibus, em Nova Délhi. Naquele episódio de estupro coletivo, que resultou na morte da mulher atacada com requintes de bestialidade, homens e mulheres indianos foram às ruas.

Não por preocupação com a queda de 30% no turismo estrangeiro ao país, decorrente da percepção de violência contra a mulher na Índia, mas por simples impulso de indignação comunitária.

Esta indignação, que aliás se espraiou em passeatas de solidariedade mundo afora, evoluiu na Índia para um movimento de tomada de consciência sem precedentes. O julgamento dos seis réus, um dos quais teria se suicidado — ou sido morto — na prisão, está recebendo cobertura cerrada da mídia mundial.

Com o Rio tendo virado grife internacional e o estupro se tornado o crime em evidência, era inevitável que a violência contra os dois jovens em temporada carioca tivesse o impacto que teve no exterior.
Só que uma semana antes, também na madrugada do sábado, foi uma brasileirinha que embarcou na mesma van. Apenas o sentido era inverso — Lapa-Copacabana.

Em determinado momento, a jovem de pouco mais de 20 anos percebeu ser a única passageira ainda no veículo e tentou descer. Tarde demais. O motorista e o cobrador eram estupradores. Os mesmos que assaltariam a americana na semana seguinte.

Após ser violentada, a jovem procurou o IML e a delegacia mais próxima. Foi atendida com a indiferença burocrática tantas vezes reservada aos anônimos. A probabilidade de a denúncia que fizera ser investigada de imediato era pouca. Afinal, segundo o Instituto de Segurança Pública, o Estado do Rio registra uma média de 16 casos de estupro por dia.

Quis o acaso que a própria jovem reconheceu seus agressores ao vê-los retratados como os autores do atentado contra a americana. E mais desdobramentos deste fio de meada vão emergindo, com novas denúncias de vítimas que dizem ter sido assaltadas pela mesma gangue.

Cabe, aqui, um registro de louvor à chefe de Polícia Civil do Estado do Rio, delegada Martha Rocha.

Informada do atendimento inadequado prestado à brasileira estuprada que buscou assistência numa Delegacia Especial de Atendimento à Mulher e num posto regional da Polícia Técnico-Científica, a xerifa convocou as titulares dos dois departamentos a seu gabinete. Exonerou as duas e ainda emitiu nota com pedido de desculpas à população pelo atendimento falho.

Com este tipo de postura, voltada para quem usa a cidade e lhe dá vida, a travessia até 2016 será mais fácil. Da imagem de cartão-postal do Rio, a natureza já cuidou.


07 de abril de 2013
Dorrit Harazim é jornalista.

LULA É O NOSSO PAI, DIZ MADURO, HERDEIRO DE HUGO CHÁVEZ NA VENEZUELA


RESUMO Herdeiro de Hugo Chávez diz que "direção coletiva" do chavismo está unida, defende Forças Armadas na política e afirma que TVs públicas têm que educar para a revolução. Em campanha para a Presidência da Venezuela, ele diz que o país enfrenta uma 'guerra econômica' e que se inspira na 'ética' e na liderança de Lula.

Mãos ao volante, Nicolás Maduro, que assumiu a Presidência da Venezuela depois da morte de Hugo Chávez, em março, dá uma guinada à esquerda e breca a perua Ford que dirige em frente ao portão de uma casa de Barinas, cidade do interior da Venezuela que fica a 500 quilômetros de Caracas.

"Vocês podem me esperar no carro por dois minutinhos? Vou visitar uma pessoa e já volto", pede ele às jornalistas da Folha, interrompendo uma conversa que já durava quase 20 minutos.

Ilustração de Rafael Campos Rocha
Capa da edição deste domingo (5) da Ilustríssima

O portão se abre, Maduro estaciona na pequena garagem ao lado da sala da residência. Da porta sai uma senhora que chora. Os dois se abraçam. Ela soluça ainda mais.

É dona Elena Chávez, a mãe de Hugo Chávez. Outro filho dela, Adán Chávez, governador do Estado de Barinas, se aproxima. Os três desaparecem por 30 minutos.

Na volta, Maduro assume novamente a direção do veículo. "Ainda dói para ela, ainda mais quando nos vê. Todas as lembranças do filho voltam, é duro demais", diz ele sobre dona Elena. "Mas siga com suas perguntas", diz. "Fale, fale tudo, sobre o que você quiser".

Depois de seis dias de espera na Venezuela, ele finalmente concedia a entrevista exclusiva. Falava ali mesmo, no carro, no caminho entre o comício que fizera de manhã com cerca de 30 mil pessoas, num ginásio da cidade em que Chávez passou a infância, e o aeroporto, onde embarcaria para nova atividade.

É comum Maduro dirigir o próprio carro na campanha. Apontado como sucessor por Chávez, ele disputa a Presidência com Henrique Capriles, candidato da oposição. Pesquisas colocam Maduro como favorito nas eleições marcadas para o próximo domingo (14).

O evento político em Barinas tinha sido especialmente agitado. Parte da família do líder morto estava ao seu lado no palanque.

"Se todos nós aqui somos filhos de Chávez, o que é Adán para nós? Um tio protetor!", discursava Maduro, braços dados com o irmão do ex-presidente. "Chávez vive! A luta segue!", gritava a multidão.

"Enfrentamos a desaparição física de nosso comandante eterno. Vamos defender esta revolução, o legado de Chávez. Preciso do apoio de vocês, desta linda e gloriosa família de Chávez." E o público: "O povo unido jamais será vencido!".

"Vocês querem o capitalismo?", perguntava. "Nããão", respondia a multidão. "Vocês decidem se querem Nicolás Maduro, um filho de Chávez, ou o burguesinho que entrega a pátria!", dizia, referindo-se a Capriles. "Volta para a sua mansão em Nova York, burguesinho caprichoso. Vou te derrotar com a ajuda desse povo glorioso."

No fim, Maduro ergue a mão: "Juro...", grita ao microfone. A população imita o gesto. E repete: "Juro...". Segue ele: "Cumprir os ditames do nosso comandante Chávez...". A multidão ecoa, em uníssono.

Ex-motorista de ônibus, sindicalista, era deputado e presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, em 2006, quando Chávez o escolheu para ser o chanceler do país. Foi pego de surpresa. Juntou assessores, abriu o mapa-múndi e disse: "O mapa de Caracas eu conheço perfeitamente. Agora tenho que conhecer este aqui".

É casado com a advogada Cilia Flores, nove anos mais velha e militante de destaque no chavismo: ela também presidiu a Assembleia Nacional e foi procuradora-geral da República. Têm um filho, o flautista Nicolás Ernesto, e um neto.

À Folha Maduro disse não acreditar que a oposição chegue algum dia ao poder na Venezuela "no século 21". Afirmou que os meios de comunicação públicos têm que "educar o povo para a revolução", defendeu a participação das Forças Armadas no processo político e disse que o socialismo venezuelano prevê uma iniciativa privada forte no país.

Apoiado por Lula, que enviou a ele um vídeo para ser usado na campanha, Maduro reagiu às declarações de seu opositor, que diz ter o governo do ex-presidente do Brasil, capitalista mas que combate a pobreza, como modelo. "Lula para nós também é um pai."
*

Folha - Como será o chavismo sem Chávez, que era formulador, estrategista e porta-voz do governo?
Nicolás Maduro - O presidente Chávez fundou um movimento revolucionário e de massas na Venezuela. Deu a ele uma ideologia e uma Constituição. Nosso processo revolucionário está constitucionalizado. Ele nos dotou de um corpo de doutrinas e de princípios. Nos deixou um testamento político, o programa da pátria, com objetivos de curto, médio e longo prazos. E promoveu um nível de participação e de protagonismo das amplas maiorias como nunca se viu na história da Venezuela. Estamos preparados para seguir fazendo a revolução. Ele formou um povo. Nos formou para um projeto.

Mas 44% dos venezuelanos, que votaram na oposição nas eleições presidenciais de 2012, não estão de acordo com esse projeto. E se, agora ou no médio prazo, vocês perderem uma eleição?
Nós aceitamos todas as eleições que perdemos. A Venezuela tem governadores e prefeitos de oposição. Tem deputados, 40% do Parlamento. Se algum dia ganharem, coisa que eu duvido que se passe no século 21, bem, ganhariam e assumiriam a Presidência. E teriam que ver o que fazer com o país. A Venezuela tem um povo consciente e bases sólidas de país independente em vias do socialismo.

Vocês falam muito de unidade. Mas há vários grupos no chavismo. Não pode ocorrer um racha, como houve com o peronismo na Argentina?
O movimento revolucionário nacional está unido ao redor da imagem, da espiritualidade e da ideologia de Chávez. De um projeto de pátria. Pátria grande. Está unido ao redor de uma direção coletiva que ele construiu. E ao redor da designação do comandante Chávez da minha pessoa como condutor da revolução para essa etapa. Estamos unidos.

Sem a liderança incontrastável de Chávez, haverá alternância na liderança do chavismo?
Nem um "pitoniso", um bruxo, um vidente, ninguém pode saber o que nos reserva o destino. O que te digo é que neste momento histórico estamos solidamente unidos. E o mundo deve saber que essa direção coletiva já passou por várias provas de fogo. Estamos prontos para a vitória em 14 de abril e para governar muito bem o nosso país.

Na Venezuela, canais privados de televisão fazem campanha para o candidato de oposição à Presidência, Henrique Capriles. E canais estatais fazem campanha para o senhor. Os canais públicos são de todos. Não deveriam ser neutros?
Os canais públicos, em uma revolução como a que estamos vivendo na Venezuela, têm que formar o povo, educar o povo, prepará-lo para essa revolução. Têm que sair defendendo a verdade frente a uma ditadura midiática que promoveu um golpe de Estado [em 2002, as emissoras privadas apoiaram a tentativa frustrada de depor Chávez]. Foi o primeiro golpe de Estado dado por canais de televisão. É preciso buscar uma leitura mais próxima do que se passa na Venezuela. Os canais públicos têm sido o contrapeso necessário e são o sustentáculo para estabilizar a sociedade. Se tivessem desaparecido nos últimos seis anos, haveria uma guerra civil. Os canais privados nos teriam levado a uma guerra de todos contra todos.

A Globovisión, emissora privada de oposição, está sendo vendida a um empresário amigo do governo. E assim é possível que quase todos os meios sejam favoráveis ao governo.
Nós soubemos pela imprensa que a Globovisión estava sendo vendida. Em todo caso, é uma negociação entre empresários amigos. É problema deles, realmente. É preciso ver como termina. Quem sabe a mensagem mais poderosa da venda da Globovisión é a de que sabem que estão perdidos.

Eles dizem que fizeram de tudo para eleger a oposição a Chávez, o que os levou a uma situação precária.
A Globovisión simplesmente jogou para derrubar o governo e fracassou. E o fracasso político e de comunicação os levou a um fracasso econômico. Estão quebrados, dizem eles. E simplesmente estão separados da sociedade. Sabem que vamos governar este país por muitos anos, a revolução continua. E eu creio que estão cansados já. Se cansaram, se renderam.

O candidato Capriles diz que não tem acesso às rádios porque as que dão abertura à oposição são perseguidas. Não é importante que as vozes divergentes tenham espaço?
Bem, mas elas têm 80% dos meios de comunicação. Se você vai agora mesmo a qualquer lugar de Barinas e compra os jornais, verá que são privados e contra o governo. As televisões regionais, as rádios, 80% a 90% delas são contra o governo. Fazem seu negócio, vendem seu produto.
Eles [oposição] têm todos os meios, nós temos um só: a consciência popular, que os derrota todos os dias. Quanto mais veneno jogam, mais as pessoas reagem. Você pode andar por qualquer lugar em Caracas. Encontrará um povo com consciência. Como se criou isso? Com a liderança do presidente Chávez, que era pedagógico, saía à rua, falava, formava as pessoas.

Não há um culto à personalidade de Chávez na Venezuela?
Não houve em vida e agora o que há é amor. Culto ao amor, ao agradecimento do povo a um líder que já é chamado na América de Cristo Redentor dos Pobres. Um homem que transcendeu as nossas fronteiras.

A chamada "união cívico-militar" é um dos pilares do chavismo. Em um continente como a América Latina, com histórico de golpes militares, não seria melhor que as Forças Armadas estivessem afastadas do processo político?
Nós temos Forças Armadas que resgataram os valores do libertador Simón Bolívar, que têm uma doutrina anti-imperialista e anticolonialista, latino-americana, própria. Você sabe que os EUA estão funcionando como um vampiro sedento, buscando as riquezas petroleiras e os recursos naturais do mundo com guerras, invasões. E as nossas Forças Armadas têm agora uma doutrina de defesa integral do país, das maiores reservas petroleiras do mundo. Defendem o nosso sonho, a nossa terra.
Têm uma doutrina nacionalista, revolucionária, assumiram o socialismo como causa da humanidade para construir uma nova moral. Aqui se formavam oficiais com os manuais da Escola das Américas [financiada pelos EUA], que formou as Forças Armadas latino-americanas por cem anos. Ensinavam os nossos oficiais em inglês, quase sem tradução. É uma vergonha que não ocorre mais.

No Brasil é considerado uma grande conquista o fato de as Forças Armadas não interferirem mais na política interna. Por princípio, não seria melhor que na Venezuela elas também estivessem nos quartéis e a disputa política ocorresse somente entre civis?
Não, é um erro. As Forças Armadas não podem estar nos quartéis. Têm que estar nas ruas, na fábrica, nos bairros, com o povo, para poder defender a pátria. Não podem ser uma elite alijada. Não. Têm que fazer parte do mesmo povo.

E com forte participação política?
Bom, depende do que você entende por política. O que as nossas Forças Armadas não têm é formação partidária. Você não vai ver nenhum oficial mandando votar por nenhum partido político, nem fazendo campanha por um partido.

Não, presidente? Quando o ministro da Defesa, Diego Molero, diz que as Forças Armadas tudo farão para atender aos desejos de Chávez, isso é interpretado como um pedido de voto para o senhor.
Bem, o que as pessoas têm que saber, e oxalá se saiba no Brasil, é que o nosso almirante-em-chefe Molero deu essa entrevista um dia depois da morte do nosso presidente. E o candidato da oposição havia ofendido fortemente a família do presidente. Duvidou da morte do presidente. Colocou em questionamento a possibilidade de eu assumir a Presidência [Maduro era vice]. Nossos oficiais estavam indignados. E ele [Molero] então disse "respeitamos o nosso novo comandante-em-chefe Nicolás Maduro, presidente da República". Foi um gesto constitucional e também moral. Não eleitoral.


O governo do ex-presidente Lula diminuiu a pobreza mas nunca falou em mudar as estruturas capitalistas da sociedade brasileira, como pregava Hugo Chávez na Venezuela. O que o senhor acha de quando colocam o "lulismo" em contraponto ao "chavismo"?
Cada país tem o seu ritmo. Eu fui testemunha de pelo menos 14 reuniões do presidente Lula com o presidente Chávez. E posso te dizer que eram dois irmãos. Os dois se entendiam perfeitamente. E os dois sabiam que tanto o que Lula fazia, como grande líder do Brasil, quanto o que Chávez fazia aqui era parte de um só processo, de libertação da América Latina.

Não tem a esquerda boa, com Lula, e a esquerda má?
Tentou-se por muito tempo [dizer isso]. Em 2007, havia toda essa campanha brutal contra o presidente Chávez. E Lula propôs, para que eles não brigassem... ele dizia assim: [imitando Lula] "'Chávess', vamos fazer uma coisa. Vamos nos reunir a cada três meses para acabar com a intriga". E assim se fez. Foram mais de 14 reuniões a partir daí. Agora, sim, o que posso te dizer: Lula para nós também é um pai. Porque Lula é fundador das correntes de esquerda de novo tipo que surgiram nos anos 80 adiante. Nós nos inspiramos na ética de Lula, na energia dele, em sua liderança trabalhadora.

Mas Lula, como eu disse, não fala em mudar o capitalismo.
Cada um lidou com a circunstância histórica do seu país. E Lula empurrou o Brasil até uma grande onda progressista, de prosperidade, de desenvolvimento.

O candidato Capriles diz que o modelo dele é Lula.
Para a direita pega muito mal... para uma direita que nunca trabalhou pega muito mal colocar-se "barba a barba" com Lula. Lula ganhou trabalhando nos fornos da luta, da história.

Ele elogia Lula por combater a pobreza sem mexer no setor privado.
Se há algo a dizer de Lula, Néstor Kirchner, Cristina [Kirchner] e outros líderes é que são, na essência, antineoliberais. Libertaram nossos países do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial. E essa direita que trata de se colocar disfarçada de Lula é, em sua essência, privatizadora, dependente da forma neoliberal e do FMI. Não têm nada que ver com o legado nem com o patrimônio político e cultural dos valores que Lula representa.

No governo Chávez, a presença do Estado avançou. Mas o setor privado ainda representa 58% da economia. Se vitoriosos, vocês vão estatizar mais empresas, mais setores? Até onde vai o que chamam de "socialismo do século 21"?
O socialismo do século 21 é diverso. Tem as particularidades e está enraizado na dinâmica verdadeira de cada país. Cada um tem a sua realidade. E não podemos achar que há menos ou mais socialismo porque o nosso, o boliviano, o equatoriano, o nicaraguense ou o cubano não se parecem com as experiências da antiga União Soviética ou da Romênia.

Há lugar então para um setor privado forte?
A história está por ser escrita. Há espaço para investimentos que venham a desenvolver um modelo produtivo e inclusivo. Lamentavelmente na Venezuela os cem anos de modelo de rentismo petroleiro não permitiram que surgisse um capital forte. No fundamental, o capital se articulou à renda petroleira sem gerar capacidade produtiva e desenvolvimento tecnológico. Esse capital não tem visão de país, nacionalista.
É diferente do que se passou no Brasil ou na Argentina, por exemplo, que tiveram burguesias nacionais. Na Venezuela não há burguesia nacional. Nossas dificuldades são então maiores. Os setores que se dedicaram à atividade econômica privada têm laços de dependência muito forte com o capital estadunidense.
É por isso que estão em todos os processos de sabotagem da economia e da política. Quem sabe agora comece a surgir, e vem surgindo, um setor misto de capital venezuelano e de investimentos de outras partes do mundo. Capital brasileiro, argentino, uruguaio, em aliança com um novo capital privado na Venezuela.

Uma burguesia vinculada fortemente ao Estado?
Todo esse modelo está em elaboração. Nesse momento estamos fazendo um chamado e buscando instrumentos para financiar e construir setores privados que sejam nacionalistas e que nos permitam diversificar a economia.

Privado integralmente?
Claro. Totalmente. Com financiamento, incentivo. De todos os tamanhos, pequeno, médio, grande, vinculado à tecnologia, à indústria, ao comércio. Vinculado ao capital de outras partes do mundo, Brasil, Argentina, Rússia, China. Capital estadunidense.

Então Cuba é inspiração para o chavismo, mas não o modelo a seguir.
Cada um tem suas particularidades. A Cuba coube viver uma história dos anos 60, 70, muito marcada pela chamada Guerra Fria. Bem, Cuba foi contra nossos antigos modelos políticos, sociais, econômicos.

E está se abrindo.
Cuba tem seu próprio processo de aperfeiçoamento do socialismo. Precisamente o bonito da Alba [Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América, integrada por países como Venezuela, Bolívia, Equador, Cuba e Nicarágua] é que nós todos temos formas diversas de economia. E diversos conceitos do que é o socialismo neste momento em cada país. E podemos andar juntos, e vamos aprendendo uns com os outros.

Acredita que é possível o socialismo pela via democrática, como Salvador Allende [ex-presidente do Chile que sofreu um golpe militar em 1973] tentou, sem sucesso?
Até agora, sim, creio que é possível. Creio inclusive que, salvo se o império estadunidense ficar louco e pretender nos derrotar pela via da força, ou invadir esse país, o caminho da Venezuela seguirá sendo a democracia ampla, profunda, de amplas liberdades e transformações pacíficas, que são as que de verdade deixam raízes. Toda transformação que se dá pela via do debate democrático e da decisão popular são decisões verdadeiras que têm solidez na soberania e na consciência dos povos.

Se a Venezuela continuará a ter um setor privado forte, como se chegará então ao socialismo?
O socialismo tem várias dimensões. A principal delas é a espiritual, a moral, a ideológica, de transformação do ser humano. E quando o ser humano dessa sociedade, por todo processo de educação, de nova cultura, de nova prática política, de participação, de novas relações econômicas, de produção, começa a funcionar de outra forma, então existem as condições para a sociedade socialista, que supere o individualismo, o desejo de riqueza individual. E, cavalgando junto, vão as transformações para um novo modelo econômico, que supere, no caso da Venezuela, o capitalismo rentístico, especulador. E que faça as bases de uma economia produtiva, diversificada, que crie riqueza para ser distribuída através da saúde, educação, alimentação, seguridade social, para que o povo tenha níveis de vida dignos, para que se supere a pobreza definitivamente.

Quando Chávez morreu, a presidente Dilma Rousseff fez elogios, mas disse que em muitas ocasiões o governo brasileiro não concordou com o da Venezuela.
Nós integramos a Unasul [União das Nações Sul-Americanas], o Mercosul, comunidades democráticas onde se debatem ideias. E quando se debatem ideias normalmente surgem opções.

O Banco do Sul, por exemplo, do qual fariam parte os países da América do Sul, não foi aprovado ainda no Congresso brasileiro. Está lento.
Você sabe que os temas que têm que ver com o parlamento sempre são lentos. Nós temos uma comissão já de caráter presidencial que reúne os delegados de cada presidente do Banco do Sul. Tudo está pronto. Só esperamos que o Congresso brasileiro o aprove para que entre em vigência de maneira rápida, automática.

O Brasil também não integrou a TeleSur [emissora financiada por vários países latino-americanos], o projeto do gasoduto do sul [que ligaria Venezuela, Brasil e Argentina] não andou.
Bem, são projetos sobre os quais têm havido debates. A TeleSur é uma linda realidade de comunicação alternativa que venceu a ditadura midiática das grandes cadeias de televisão. Quem sabe mais adiante [o governo brasileiro se integre ao projeto]. Seguramente as portas da TeleSur estão abertas para o governo da presidenta Dilma e de qualquer iniciativa que venha a fortalecê-la.

E a refinaria Abreu e Lima [parceria da Petrobras com a petroleira venezuelana PDVSA que até agora, por divergências em relação ao financiamento, conta com recursos apenas do Brasil], como está?
Não tenho os detalhes atualizados, mas sei que marcha agora melhor. E que vai ter um final feliz.

A economia é considerada uma má herança de Chávez. A inflação é alta. Há um certo nível de desabastecimento, de 20%. E uma dependência muito grande do petróleo. Haverá ajustes no governo?
No dia 22 de fevereiro, conversamos por cinco horas com o presidente Chávez sobre temas econômicos. E ele disse: "Veja, Nicolás, estamos em uma guerra econômica". Porque, com a enfermidade do presidente, os interesses econômicos nacionais e internacionais se lançaram a desabastecer [o país] de produtos, a especular com os preços e com o valor do dólar. Eles acreditavam numa hecatombe econômica que chegaria a uma explosão social e a uma desestabilização política. Nós estamos enfrentando. Vamos torcer o braço do dólar paralelo, vamos torcer até lá embaixo.

E a inflação?
É um problema do funcionamento especulativo do capital. A inflação nos 14 anos antes do presidente Chávez foi de 34%. Nestes 14 anos com ele, baixou para 22%. Planejamos levá-la à metade nos próximos dez anos. Oxalá possamos chegar a um dígito.

Haverá corte de gastos?
O mais importante é que os gastos se convertam em investimento social para proteger o povo e econômico para girar riqueza no país. E isso é uma dinâmica bendita que vai gerando mudanças na estrutura econômica e vacinando o país da especulação como sistema de fixação de preços e de movimentos da economia.

07 de abril de 2013

MÔNICA BERGAMO efotos MARLENE BERGAMO - Folha de São Paulo

"PATRIOTADAS"


 
O governo norte-coreano informou sexta-feira que não poderá garantir a segurança de representações diplomáticas instaladas na capital Pyongyang. De pronto, o Brasil decidiu não fechar a embaixada que nem aberta deveria ter sido.

Pelo menos é o que se depreende da fala do ministro das Relações Exteriores Antônio Patriota ao tentar explicar a importância da presença brasileira em terras que sequer registram brasileiros residentes, e que, por ano, têm troca comercial irrisória, de pouco mais de R$ 370 milhões. Sem rir, disse que com a embaixada o Brasil passou a ter informações “de primeira mão”, deixando de depender da “imprensa ocidentalizada”.

Pelo jeito Patriota crê que a mídia não controlada do Ocidente é menos confiável do que as informações da ditadura de Kim Jong-un, que agora brinca de ameaçar o mundo com uma guerrinha nuclear. Deve achar normal também o Brasil ter instalado nos últimos 10 anos nada menos do que 62 embaixadas, boa parte em lugares exóticos como Tuvalu, com menos de 13 mil habitantes, Burkina, Butão, Samoa, Palau, Ilhas Fiji, Nauru e Névis.

Desde que Celso Amorim instituiu no Itamaraty a supremacia partidária acima das questões de Estado, a diplomacia brasileira caminha trôpega. Isso, quando caminha.

Laços fraternos com presidentes do Irã Mahmoud Ahmadinejad e da Síria Bashar al-Assad, erros crassos em Honduras, emissão farta de passaportes diplomáticos para amigos e familiares do ex-presidente Lula são algumas marcas de que Amorim deveria se envergonhar.

Com Dilma já eleita, enquanto 80 nações condenavam a lapidação, tendo como símbolo a iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani, o Brasil postou-se junto aos progressistas Angola, Benin, Butão, Guatemala, Marrocos, Nigéria e Zâmbia, omitindo-se.

Patriota começou valente. Por um momento, até pareceu que corrigiria rumos. Mas qual o quê.



Na América do Sul, ficou de cócoras frente aos desmandos da argentina Cristina Kirchner, que continua a

sobretaxar e a dificultar a entrada de produtos brasileiros em seu País. Faz vista grossa à falsa democracia venezuelana. E é incapaz de agir em defesa dos cidadãos brasileiros no exterior. Que o digam os 12 presos em regime fechado, há quase dois meses, acusados de forma genérica da morte de um jovem durante o jogo San José x Corintians, em Oruro, interior do País do amigo do peito Evo Morales, para quem Lula fez campanha.

Uma década de diplomacia esquizofrênica, expansionista, caríssima e nada eficaz. Que cada dia está mais distante dos fóruns que importam no mundo; que preferiu ser parceira do atraso. Mas isso é pura intriga da “imprensa ocidentalizada”.

07 de abril de 2013
Mary Zaidan
Globo Online

DILMA, A GERENTE DA SECA, VALE-SE DA PIOR SECA DOS ÚLTIMOS 50 ANOS PARA SE REELEGER


A atitude mais vil que possa ser tomada por um ser humano é o desfruto da desgraça alheia. Um exemplo emblemático dessa maldade vem do Nordeste brasileiro, com a chamada “indústria da seca”, que é um termo utilizado para designar a estratégia de alguns políticos que aproveitam a tragédia da seca nesta região para ganho próprio.

Os “industriais da seca” se utilizam da calamidade para conseguir mais verbas, incentivos fiscais, concessões de crédito e perdão de dívidas e votos eleitoreiros.

A Presidente Dilma Rousseff, nesse dia 2/4 foi ao Ceará e teve a vilania de valer-se da pior seca dos últimos 50 anos, em benefício de sua campanha eleitoral para a reeleição. Durante a 17ª reunião ordinária do Conselho Deliberativo da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), em Fortaleza, anunciando um pacote de R$ 9 bilhões com medidas para combater os efeitos da seca no Nordeste, ela descaradamente afirmou:

“No que refere-se à população, nós somos bem-sucedidos. Nós não vemos saque, não há nenhuma parte da população que nós saibamos que está passando por fome e tenha de fazer um conjunto de ações para preservar a sua própria sobrevivência(…) Conseguimos impedir que as populações aqui enfrentassem todas as perversas conseqüências que sempre vimos sendo retratadas na literatura, na prosa e no verso dos sanfoneiros.”

No mesmo dia o jornal O Povo (CE), publicava o artigo “Ceará suportaria uma seca até 2014?”, onde a realidade vai contra a afirmativa presidencial: “O que tinha em casa para o agricultor, a dona de casa e os 11 filhos beberem não chegava nem a três litros de água. Vianês Rodrigues, 54, abriu a geladeira enferrujada. Dividiam o espaço nas prateleiras duas garrafas com água pela metade e pedaços de pato cortado. Somente. O garrafão de água havia sido comprado há menos de quatro dias por R$ 2 e não deu pra quem quis. ‘Quando não tem dinheiro, o jeito é cozinhar com a água que vem pelos canos. É água grossa’, lamenta o agricultor. Seu Vianês colocou num copo a água. Era turva”.

Dilma Rousseff também não disse palavra sobre a tão festejada Transposição do Rio São Francisco, que de acordo com o governo federal, o projeto seria a solução para o grave problema da seca no Nordeste, pois distribuiria água a 390 municípios dos estados de Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte – uma população de 12 milhões de nordestinos.

Ela, quando ministra-chefe da Casa Civil de Lula, coordenava o PAC, que tinha na transposição sua mais vistosa prioridade. Na campanha de 2010, a obra foi à vitrine como um grande feito do presidente-operário e da candidata-gestora.

Dezessete dias antes de passar a faixa presidencial para Dilma Rousseff, Lula realizou uma viagem sentimental ao Nordeste. Vistoriou pela última vez as obras da transposição do Rio São Francisco. “Estou percebendo que a obra vai ser inaugurada definitivamente em 2012, a não ser que aconteça um dilúvio…” Mas não houve o dilúvio, e passados mais de dois anos, ninguém sabe quando essas obras serão concluídas.

Este é o retrato fiel do governo sob comando do PT desde 2003, onde somente duas coisas funcionam a pleno vapor: a incompetência e a corrupção.
Os produtores rurais do município de Guarabira no Estado da Paraíba fizeram um protesto em frente a agência do Banco do Nordeste contra a burocracia que é exigida pelo banco para a liberação de crédito para que os produtores possam comprar ração para alimentar o rebanho, levando carcaças de animais mortos devido a seca.
A dificuldade em conseguir crédito faz com que, a cada dia, o homem do campo veja o seu patrimônio se acabando.
07 de abril de 2013
Por Giulio Sanmartini

QUANDO O HUMOR DESENHA A REALIDADE (OU QUANDO A REALIDADE JÁ É UMA PIADA!)





07 de abril de 2013

REPRISE, DISCURSO SOBRE O NADA (OU A IMAGEM DO PODER)

Discurso sobre o Nada (1)

PUBLICADO EM 15 DE OUTUBRO DE 2009

As frases internadas com notável frequência no Sanatório Geral atestam que a coluna sempre soube ouvir Dilma Rousseff com muita atenção, Mas a campanha presidencial determina que se radiografe com a nitidez possível o cérebro da Mãe do PAC.
A partir de hoje, todos os falatórios sobre assuntos relevantes serão publicados sem mudanças no estilo, nem correções gramaticais ou ortográficas. Além de tornar mais profunda a cobertura eleitoral, a soma dos textos, conjugada com os pareceres emitidos exclusivamente pelos comentaristas da coluna, permitirá aos brasileiros que pensam descobrir o que se passa na cabeça povoada por um único neurônio.
Confira os seis tópicos que compõem o primeiro capítulo do Discurso sobre o Nada:

O Brasil e o Pré-Sal

“O pré-sal vai antecipar esse fim da pobreza que iríamos fazer de qualquer jeito, mas que poderemos fazer em menos anos”.
“Não podemos achar que estamos imensamente ricos e sair por aí desperdiçando os recursos, temos de apostar basicamente no futuro”.
“Estamos definindo como vamos enfrentar o desafio que é transformar riqueza material em riqueza física e humana”.

Emprego e tecnologia

“Vamos ter uma política de conteúdo nacional que vai depender da nossa capacidade de internalizar e transformar essa demanda em empregos brasileiros e tecnologia nacional”.

Política energética

“Temos que ter energia. A não ser que alguém queira se responsabilizar por outro apagão. Como ninguém quer, temos que ter hidrelétricas”.

Política industrial

“Quando o presidente Lula assumiu o primeiro mandato, nós optamos por uma nova política industrial. Resolvemos que tudo que pudesse ser produzido no Brasil fosse produzido no Brasil. Uma plataforma custa 2 bilhões de reais, gente. Se eu importo a plataforma de 2 bilhões de reais da Coreia, 2 bilhões de reais vão ser exportados para o exterior”.

Política eleitoral

“O meu adversário é o Serra. Ele fica dizendo que não tem polarização, que ele não responde pelo governo do Fernando Henrique. Mas, ao dizer isso, ele já está polarizando”.

A arte da caça ao voto

“O fato de ser mulher não garante o voto feminino. O Lula vive me dizendo que metalúrgico não vota em metalúrgico, corintiano não vota em corintiano, mulher não vota em mulher e preto não vota em preto”.

Aos comentários, amigos. E oremos.

07 de abril de 2013
augusto nunes
 

O QUE REALMENTE IMPORTA

 

O que você levaria se tivesse que deixar sua casa às pressas e fugir para outro país? O fotógrafo e jornalista Brian Sokol fez essa pergunta a dezenas de refugiados sírios e sudaneses. As respostas, colhidas durante o período em que Sokol acompanhou o trabalho do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), resultaram no projeto “A coisa mais importante”, que pode ser visto no site Razões para Acreditar, de Vicente Carvalho. Confira alguns casos:


O objeto mais importante que Dowla trouxe é a balança de madeira com o qual ela carregou os filhos durante a viagem de 10 dias de Gabanit ao Sudão do Sul
 

Amuna elegeu a panela, equilibrada no alto da cabeça, com o qual foi capaz de alimentar os filhos durante a viagem
 

Maria, de 10 anos, escolheu o galão, que ostenta com orgulho no acampamento Jamam, no condado de Maban, Sudão do Sul
 

Yusuf mostrou o celular que trouxe ao fugiu da Síria : “Com ele, sou capaz de ligar para o meu pai”.
 

Magboola também escolheu uma panela: pequena o suficiente para que pudesse viajar com ela, mas grande o suficiente para cozinhar para as três filhas
 

Torjam trouxe duas garrafas de plástico. Em uma carregava água potável e, na outra, óleo de cozinha
 

Haja optou pelo xale, chamado de “taupe”, que o que usou para carregar a neta de 18 meses
 

Maio, de 8 anos, posa para o retrato em Domiz, um campo de refugiados na região iraquiana do Curdistão. Ela e sua família fugiram de Damasco, capital da Síria. A coisa mais importante que ela foi capaz de trazer é o conjunto de pulseiras que usa nesta foto
 

Quando Taiba Yusuf, de 15 anos, fugiu do Sudão, não conseguiu trazer roupas, sapatos, água ou comida. Mostra apenas as mãos, vazias
 

Abdul não sabe se poderá voltar para a Síria, mas levou chaves de casa
 

Alia, de 24 anos, disse que trouxe apenas "a minha alma, nada mais, nada material". Quando lhe perguntaram sobre a cadeira de rodas, respondeu apenas que a considera uma extensão do corpo, não um objeto
 

Para Ahmed, de 70 anos, seu objeto mais importante é a bengala sem a qual não teria feito a travessia de duas horas para o Iraque
 

Em frente ao campo, essa mulher mostra o diploma. Com ele, poderá continuar a estudar, na Turquia
 

Omar o "buzuq", instrumento que o faz recordar da terra natal
 
07 de abril de 2013