"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 4 de dezembro de 2012

SANATÓRIO GERAL DA 'POLÍTICA'

Vivendo e desaprendendo

“E eu aprendi agora, vejam vocês, né, aos 64 anos a gente também aprende, os ludovicenses. Jamais me ocorreu que quem morasse aqui em São Luis era lulovicenses (sic). Eu pensei que era são-luisenses. Mas não é. É também? Ótimo”.

Dilma Rousseff, capturada por Celso Arnaldo durante a inauguração de obras de melhorias no Porto de Itaqui, passando vergonha diante de seu ídolo, José Sarney, ao fingir que acabou de aprender o gentílico alternativo de quem nasceu em São Luis (não de quem mora), mas desaprendendo, no ato, que os naturais da capital do Maranhão também podem ser chamados de são-luisenses ─ como quem tem 64 anos e é presidente da República deveria saber, mesmo que não saiba quase nada sobre coisa alguma.

Trocando as bolas

“O presidente Lula merece, do Brasil, respeito”.

Eduardo Campos, governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, sobre a repercussão do caso Rose, ensinando que não é o Brasil que merece o respeito de Lula.

Reforma prioritária

“Não dá para avançar no Brasil sem uma reforma do Estado que pegue a questão da mídia monopolizada e o Judiciário conservador”.

Rui Falcão, presidente do PT, num encontro de prefeitos e vereadores do partido eleitos no Estado do Rio de Janeiro, ignorando a reforma penitenciária destinada a tornar as cadeias mais hospitaleiras, principal reivindicação dos companheiros condenados no julgamento do mensalão.

Tudo entendido

“O PT não está envolvido”.

Rui Falcão, sobre a Operação Porto Seguro, insinuando que Lula é tucano e Rosemary Nogueira milita no DEM desde criancinha.

Ministro da Malandragem

“O PIB não foi tão alto como esperávamos e como todo mundo esperava”.

Guido Mantega, ministro da Fazenda, sobre o desastroso desempenho do PIB no terceiro trimestre deste ano, acusando todo mundo de ter esperado o que só ele fingiu esperar.

Servidoras da pátria

“O Lula é sinônimo de compromisso com o povo e com o País. Sou eternamente grata pelo ser humano e político incomparável que o Lula é”.

Luci Choinacki, deputada federal pelo PT de Santa Catarina, depois de uma audiência com o ex-presidente na última sexta-feira, evitando comentar a atuação do chefe como marido e selecionador de servidoras da pátria.

Doutora em manguezal

“Ao sobrevoar do aeroporto para o Porto do Itaqui perguntei à governadora Roseana Sarney se tudo aquilo que via era mangue, a governadora me disse que era sim, e que é por isso que o Maranhão é tão rico, responsável por 60% dos manguezais do Brasil”.

Dilma Rousseff, nesta segunda-feira em São Luiz, caprichando no dilmês rústico ao descobrir que os manguezais são os culpados pela riqueza do Estado mais pobre do Brasil.

Vassalo do Ano

“A impressão de que há mais corrupção agora não é real, o que há mais agora é que as coisas não estão mais debaixo o tapete e a Polícia Federal e os órgãos todos de vigilância e fiscalização estão autorizados, e com toda a liberdade garantida pelo governo, quero insistir nisso, não é uma autonomia que nasceu do nada, porque antes não havia essa autonomia, nos governos Fernando Henrique não havia essa autonomia”.

Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência e ex-coroinha que caiu na vida, desandando no palavrório em dilmês de botequim para provar que Lula acabou com a corrupção que FHC inventou e incluiu na herança maldita repassada ao seu Amo e Senhor.

Te cuida, Lobão!

“A melhor forma de usar os royalties é na educação”.

Aloizio Mercadante, nesta segunda-feira, sobre a distribuição dos royalties do petróleo, confirmando que treina para aprender a ser ministro da Educação com o uniforme de ministro de Minas e Energia.

Mulher compreensiva

“Não tem nenhuma complicação para o ex-presidente Lula”.

Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência e caixa-preta do PT, sobre o escândalo envolvendo Lula e Rosemary Noronha, garantindo que Marisa Letícia é muito compreensiva.

04 de novembro de 2012
Augusto Nunes

A FAXINEIRA QUE ODEIA VASSOURAS FAZ DE CONTA QUE MAL CONHECE A VIGARISTA QUE NOMEOU

 

Nenhum instrumento de limpeza é tão gentil com detritos morais quanto a vassoura de Dilma Rousseff. É o que informam as anotações na folha corrida da faxineira de araque, resumidas no post republicado na seção Vale Reprise.
A ministra de Lula conviveu sem quaisquer vestígios de desconforto com o lixo acumulado pelo chefe supremo desde o dia da posse. Promovida a chefe da Casa Civil em 2005, fez o que pôde para piorar o que já estava péssimo.

Com o dossiê forjado contra Fernando Henrique e Ruth Cardoso, Dilma produziu mais lixo. Com a conversa em que tentou induzir Lina Vieira a indultar a Famiglia Sarney, escondeu lixo.
E ampliou extraordinariamente a imensidão de lixo ao transformar em sucessora a melhor amiga Erenice Guerra. Apesar do prontuário, não ficou ruborizada ao comunicar à nação, no discurso de posse, que combateria “permanentemente” a corrupção ─ logo rebatizada de “malfeitos”.

Jamais combateu, berram os episódios que resultaram no afastamento de oito ministros metidos em maracutaias de bom tamanho. Nem pretende combater, grita o silêncio da presidente sobre o escândalo da hora. A mudez malandra confirma que a chefe de governo resolveu reprisar o filme exibido ha dois anos em situações semelhantes.
Nesse monumento ao cinismo, os vilões nunca são localizados pelos serviços de inteligência ou órgãos de controle do governo. Só entram em cena depois de tropeçarem em investigações da Polícia Federal ou denúncias divulgadas pela imprensa.

Confrontada com provas contundentes, ainda assim Dilma tenta manter no emprego os meliantes. Por enquanto, só teve êxito com Fernando Pimentel. Para não perder a companhia do amigo instalado no Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Dilma afastou os integrantes do Conselho de Ética da Presidência que acreditaram que estavam lá para agir eticamente, e insistiram em enquadrar o afilhado fora-da-lei.

Os outros continuariam longe da planície se a faxineira que odeia vassoura conseguisse resistir às verdades noticiadas pela imprensa e à indignação da opinião pública. Perderam o emprego na última cena, mas escaparam do final infeliz.
Até hoje, nenhum gatuno foi demitido nem teve de devolver o produto do roubo. Todos foram ‘exonerados a pedido’ e poupados de investigações posteriores. Em liberdade e com tempo de sobra, gastam o dinheiro que tungaram.

Foi assim com o bando de ministros corruptos. E assim será ─ sobretudo se a oposição oficial não voltar das férias e se o país que presta capitular ─ com os quadrilheiros que transformaram em covil o escritório da Presidência em São Paulo, reduziram agências reguladoras a fábricas de pareceres criminosos, colecionaram negociatas bilionárias e reiteraram que a máquina administrativa federal está infestada de assaltantes de cofres públicos.

A mudez da presidente confirma que, para Dilma, o caso está encerrado. Se o Brasil não perdeu a vergonha de vez, vai descobrir que está apenas começando. E será obrigada a comentar publicamente o show obsceno protagonizado por gente que conhece muito bem.
“A Dilma tem mais intimidade com a minha equipe do que eu”, repetiu Lula ao longo da campanha eleitoral de 2010. “Ela vive se reunindo com pessoas que eu só vejo de vez em quando”.

Lula, ressalve-se, via Rosemary Noronha com muito mais frequência que a sucessora. Mas Dilma não tem o direito de fazer de conta que mal sabe quem é a mulher com quem conviveu durante as viagens ao exterior ─ e manteve na chefia do gabinete em São Paulo a pedido do padrinho.
A extinção do cargo atesta que a presidente o julgava sem serventia. E em mãos indevidas: Dilma sempre soube que Rose subira na vida agarrada a Lula. Deveria saber que a chefe de gabinete usava o posto de primeira amante para lucrar nas catacumbas do poder.

Se disser que não sabia de nada, Dilma confirmará que o Brasil é governado por um poste. Se admitir que sabia, estará confessando que foi cúmplice por omissão de uma poderosa vigarista.

04 de dezembro de 2012
Augusto Nunes

FRASES DO DIA


"Esse é um governo desonesto! Esse é um governo desavergonhado! Esse não é um governo, mas é um desgoverno para a infelicidade do Brasil!"

Senador Álvaro Dias (PSDB-PR), que pretende criar uma CPI para investigar as denúncias sobre Rosemary Noronha


"O presidente Lula merece, do Brasil, respeito."

Governador Eduardo Campos, sobre a repercussão do "rosegate".

VITÓRIA DA IMPUNIDADE

 

Tramita a passos largos na Câmara dos Deputados a PEC nº 37/2011, a maior ofensiva, desde a promulgação da nossa Constituição Cidadã, contra a principal instituição criada para servir à sociedade no combate à corrupção e ao crime organizado: o Ministério Público.

De autoria de um delegado de polícia eleito deputado federal pelo Maranhão e convenientemente chamada de PEC da Impunidade, a medida proíbe que procuradores e promotores de Justiça façam qualquer investigação criminal direta.

O poder investigatório do Ministério Público é um direito constitucional do próprio cidadão, pois é a garantia de uma instituição absolutamente independente no combate à criminalidade. Por isso, a PEC da Impunidade, ao restringir o direito da sociedade à segurança pública, deve ser considerada manifestamente inconstitucional.

Em tempos em que a atuação destemida de membros do Ministério Público de todo o país começa a alcançar os altos escalões do crime organizado de várias espécies, surge uma proposta que retira da sociedade o seu principal protetor, justamente aquele que poderia atuar, por sua distância dos demais Poderes, com isenção e impessoalidade.

Para o autor da PEC e seus principais defensores, quando o Ministério Público combate a criminalidade promovendo a investigação, isso se revela perigoso arbítrio e sepulta os direitos do cidadão — por mais absurda que possa parecer essa justificativa. Resta-nos saber quem seria esse cidadão interessado em afastar o Ministério Público da apuração dos crimes.

São milhares os exemplos do passado em que a investigação do Ministério Público foi crucial para apuração dos crimes e prisão dos seus autores, especialmente quando há envolvimento de maus policiais ou pessoas detentoras de dinheiro, poder ou prestígio, como foi o caso do estouro da mansão do bicheiro Castor de Andrade, na década de 90.

Num passado nem tão distante, podemos citar a Operação Caixa de Pandora, do Ministério Público Federal, que denunciou esquema de corrupção no governo do DF.

Aliás, recentemente, no interior do nosso estado, um delegado de polícia e alguns inspetores utilizavam a própria delegacia para praticar extorsões contra empresários locais. A população, por acreditar no Ministério Público, procurou o promotor de Justiça da cidade, que iniciou sozinho as investigações e colheu os primeiros depoimentos, resultando na prisão dos criminosos.

A quem aqueles cidadãos do interior recorreriam se o Ministério Público não pudesse investigar?
A proposta, assim, além do seu inegável apelo corporativista, atende aos interesses daqueles que temem a atuação do Ministério Público, pois sabem que é muito mais difícil — para não dizer impossível — manipular as investigações criminais promovidas por procuradores e promotores de Justiça, que não estão subordinados a ninguém, nem mesmo ao chefe da instituição, no exercício das suas atribuições.

Embora não exista país democrático que prive do Ministério Público o poder de realizar investigações criminais, deputados federais integrantes de uma comissão especial, quase todos ligados às polícias, aprovaram por esmagadora maioria (14 votos contra 2) a PEC da Impunidade, que agora segue para o plenário da Câmara.

Resta-nos torcer para que o crime organizado tenha vencido apenas essa batalha, mas não a guerra, e a PEC 37/2011 não seja aprovada pelos parlamentares no plenário.

Cláudio Soares Lopes, O Globo
04 de dezembro de 2012
Cláudio Soares Lopes é procurador-geral de Justiça do Estado do Rio de Janeiro

BELO MONTE: QUE SE DANE O INTERESSE PÚBLICO!

Na semana passada, o governo brasileiro deu outro passo arrogante no sentido de fabricar a viabilidade econômica de Belo Monte, a usina monstrengo com a qual há três décadas os governos tentam barrar o rio Xingu (PA).

 

O BNDES informou que repassará ao consórcio Norte Energia, que constrói Belo Monte, R$ 22,5 bilhões (80% do custo da obra), sem que sejam respeitadas uma série de ações de responsabilidade do próprio banco e da Norte Energia, além do Ibama e da Funai, e desconsiderando as fortes evidências de inviabilidade econômica da obra conforme apontam organizações da sociedade civil e cientistas de várias especialidades.

Elas solicitaram ao Ministério Público Federal a suspensão do empréstimo, apontando os indícios de irregularidades no projeto: o custo passou de R$ 4.5 bi em 2005 para R$ 19 bi em 2010, alcançando os atuais R$28,9 bi a R$32 bi, a geração média de energia ao longo do ano será de apenas 39% da capacidade instalada de 11,2 mil MW e que as licenças contrariaram os técnicos do IBAMA.

O banco dispensou estudos de viabilidade econômica e de classificação de risco do Complexo Belo Monte, exigida pelo Conselho Monetário Nacional e ignorou sua própria Política de Responsabilidade Social e Ambiental. Em outras palavras: mandou que o interesse público se danasse.

Belo Monte já provoca o deslocamento compulsório de agricultores familiares e ribeirinhos sem compensação, compromete a qualidade de água e as condições de navegabilidade no rio Xingu, gerando mortandade de peixes e quelônios, além do aumento do desmatamento e da exploração ilegal de madeira.

A instalação da usina também atraiu mineradoras, como a canadense Belo Sun, aqui denunciada, e aumentou a violência e a prostituição infantil no entorno ampliado do canteiro de obras.

É de se estranhar, muito, o empenho de Lula e Dilma na concretização de Belo Monte (Alckmin, quando concorreu à presidência, também projetou construir a usina).

Há 30 anos os governos tentam viabilizar sem sucesso. Nem a ditadura conseguiu o que governos supostamente democráticos realizam: passar por cima do interesse das contas públicas e subsidiar uma hidrelétrica que só vai beneficiar, como denunciou o Movimento dos Atingidos por Barragens, as empreiteiras Andrade Gutierrez, Camargo Correa, Queiroz Galvão e Odebrecht, as produtoras de máquinas e equipamentos Voith, Alstom e Andriz, as seguradoras envolvidas no consórcio construtor da barragem e os sócios da Norte Energia: a espanhola Iberdrola, a mineradora Vale, a estatal mineira Cemig, dos fundos Petros e Funcef e da Eletrobras.

04 de dezembro de 2012
Carlos Tautz, jornalista, coordenador do Instituto Mais Democracia –Transparência e Controle Cidadão de Governos e Empresas

INTENÇÃO E GESTO

 

Desde a aprovação da lei que veta candidaturas de gente condenada em julgamentos colegiados, a Ficha Limpa vem servindo de inspiração a outras instâncias e já transpôs a fronteira do ambiente eleitoral.

As prefeituras de Minas, São Paulo e Rio já incorporaram a exigência, bem como o Conselho Federal de Medicina e o Conselho Nacional de Justiça. A Lei da Ficha Limpa é um sucesso de crítica e bilheteria.

Muito bom que assim seja. O governo federal, inclusive, se inspirou na legislação para preparar um decreto a ser editado em breve a fim de estabelecer uma série de normas nas quais devem se enquadrar os candidatos a cargos ocupados por meio de indicação.

O texto está em exame na Casa Civil e aguarda assinatura da presidente Dilma Rousseff para que se faça o anúncio em grande estilo, a fim de demonstrar o rigor do governo no combate à corrupção.

Excelente que assim seja. Inquietante, contudo, que só agora essa preocupação com tal tipo de controle de qualidade se manifeste, equivalendo a uma confissão de que até agora o teor de "ficha" pouco importava.

Espantoso mesmo que o poder público (em todos os âmbitos de todos os matizes partidários) necessite do respaldo de novas regras para seguir um preceito já expresso na Constituição.

Em artigo de facílima compreensão. Tão nítido quanto sobejamente ignorado: o de número 37, cujo mandamento é a obediência aos preceitos da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência na administração pública.

Lei complementar (64) de 1990 regulamenta as exigências, detalhando os casos de impedimento para alguém se tornar um agente público. Está tudo lá devidamente por escrito. É só seguir. Na teoria há mecanismos de controle à disposição de quem se propuser a aplicá-los.

O problema é a prática. Ao que se saiba, o Gabinete Institucional da Presidência da República seria o encarregado de filtrar as indicações aos postos de livre nomeação do governo.

Mas, se não cumpre essa função, se não é ouvido ou se é desautorizado, se o que vale é a vontade do padrinho e a conveniência política de quem detém o poder da palavra final, não será um novo decreto que resolverá a situação.

Para ficar no escândalo mais recente, que motiva a antecipação do decreto, envolvendo a chefe do escritório paulista da Presidência e o braço direito do advogado-geral da União.

Quem insistiu na indicação do adjunto da AGU, mesmo com um passivo de processos anteriores? O titular da pasta. E por que conseguiu? Porque tinha força emanada "de cima".

A determinante aí não foi a norma da boa conduta, mas o preceito do prestígio sob o aval dos maiorais na hierarquia. Isso vale para o exame dos pré-requisitos do candidato e para a fiscalização do comportamento no exercício do cargo.

Contra Rosemary Noronha não pesavam acusações formais nem processos. Para todos os efeitos não estaria enquadrada nos impedimentos legais.

No dia a dia, porém, deslumbrou-se, extrapolou e pelos relatos que fazem auxiliares e políticos que com ela conviviam, era visível e causava desconforto a inadequação de seus atos.

Norma alguma será eficaz se não for eficiente sua aplicação e, sobretudo, se não for genuína a disposição de executá-la. São inúmeros os exemplos.

O da Comissão de Ética Pública é um deles. Seus mandamentos balizam o que é aceitável ou não por parte das autoridades do primeiro escalão federal, mas na realidade não valem de nada porque não são levados nem a ferro muito menos a fogo.

A Lei da Ficha Limpa é uma boa inspiração, mas é preciso que a mão que balança o adereço queira algo mais que simular empenho na superação de velhos vícios. Primordial que traduza isso em cada gesto, a fim de não cair no descrédito. Ou pior: naquele ambiente de trevas repleto de boas intenções.

04 de dezembro de 2012
Dora Kramer - O Estado de S.Paulo

OS CABELOS DE CELESTE

 

Um dia meu avô me apresentou a sua amante. Chamava-se Celeste e tinha o cabelo muito ruivo, desgrenhado, olhos muito azuis que me fitaram com um afeto risonho onde havia uma ponta de tristeza. Ela me beijou trêmula e carente como uma avó postiça. Eu era o único membro conhecido de uma família que a excluíra da vida. Ao mesmo tempo, ela se sentia vítima e traidora, o drama das amantes da época.
Daí a melancolia que reprimia com seu sorriso. D. Celeste. "É de uma importante família de militares", dizia meu avô com secreto orgulho da namorada. "Que gracinha... você é xará do seu avô..." Eu não sabia o que era 'xará' - tinha uns 7 anos, no máximo. Meu avô não disse nada, mas eu via que entre os dois havia mais do que a amizade de colegas. Havia uma intimidade disfarçada, toques rápidos nos braços, carícias que paravam no meio, um cuidado suspeitoso comigo, tão pequeno para os segredos da vida.

Foi a primeira vez que eu a vi. A segunda vez foi muitos anos depois.
Minha mãe e minha tia sabiam do caso. Ouvia-as falando 'por alto' ao telefone, comentando o 'crime' de meu avô, referindo-se em código a ela, como 'a sujeitinha, a tal'. Minha avó, creio, não sabia de nada.
O estranho é que eu via tudo, na lucidez infantil diante do óbvio. E era mais intrigante ainda o fato de que ela parecia com minha avó Zulmira, muito branca, olhos claros e cabelo desgrenhado, só que azul. Isso. Minha avó tinha o cabelo azul, pintado para esconder as madeixas brancas. Minha pobre avozinha sofria calada, entretida com suas plantinhas que ela cuidava com amor - "minhas bromélias, meus "dentes-de-leão", "minhas margaridas". No fundo de suas prováveis suspeitas havia o consolo de se sentir casada, com família, para a qual D. Celeste não existia.
Minha avó era culta, falava francês bem ("Cachez votre bonheur!", me dizia ela que, sem dúvida, escondia a sua "malheur".)

Um de seus orgulhos era ter cuidado do Manuel Bandeira numa fazenda onde o poeta tentava a cura da tuberculose: "Despejei muito balde de hemoptises, coitado"...
As amantes de antigamente eram quase partes da família, partes ocultas, agregadas ao sistema sagrado do lar, quase um 'serviço social'.

D. Celeste me deu um beijo longo, quando saímos da repartição. Meu avô deixou-me dar uma tragada em seu cigarro e falou para si mesmo: "Me ajudou muito essa 'criatura'..." Achei a palavra estranha - carinhosa e cruel. D. Celeste. E esse amor não foi um casinho de colegas não; durou mais de 30 anos - bodas tristes, cinzentas, bodas de nada.
Os anos passaram. Eu levava meu avô, já gagá, ao Jockey Club para conversar com os tratadores seus amigos: "A Garboza corre hoje, Ernani?" Não, seu Arnaldo, ela já morreu. "Tudo se misturava - passado e presente eram iguais."

Vovô já vivia numa cadeira de balanço que ele impulsionava com muita rapidez, quase violência, como se quisesse voar pela janela afora.
Havia um grande ódio que o movia: (pasmem) era um ministro, Ary Franco, hoje presídio no Rio. Ary Franco era do STF quando vetou algum pleito dos funcionários aposentados... Isso prejudicou meu avô e seus amigos para quem telefonava sem parar: "Esse demônio diminuiu nossa pensão!" Esse ódio era seu único assunto no fim da vida, quando contava compulsivamente as notas na carteira para ver se fora roubado.

Um dia, sua cadeira parou de balançar e ele ficou calado, imóvel repetindo uma frase baixinho. Era um endereço. Ele 'conversava' com alguém: "Rua Ana Nery, casa tal, número tal.. eu sei, você quer que eu vá aí. Mas, e minha família, Celeste, que que eu faço...?" Minha avó andava pela sala ouvindo aquela ladainha sem estranheza, arrumando seus bibelôs de faiança, uns anjinhos de asas, um elefantinho.

Por amor, por curiosidade perversa, sei lá, um dia resolvi levá-lo ao tal endereço.
Os cabelos dela agora eram brancos. Não se erguiam como a antiga coroa ruiva. Esfarripados, caídos, brancos. D. Celeste estava numa mesinha da varanda recortando revistas com uma tesoura, guardando os recortes numa caixa... Ela nem estranhou a chegada de vovô. Parecia continuar uma conversa antiga, interrompida há pouco.
"Veja só... Lembra do crime do Sacopã? A Marina era amante do Afranio e o tenente Bandeira matou ele... Agora está na caixinha."

Recortava notícias e olhava para meu avô com um sorriso orgulhoso.
"Agora guardo tudo - desde quando eu nasci. Tudo. Olha a manchete: 'Silvia Serafim, a meretriz assassina'. Ela matou o dono do jornal... Tudo que aconteceu na minha vida está aqui. Está quase cheia, olha... Esse menino cresceu hein? Seu xará!"
"E esse Ary Franco que cortou nossa pensão?... Aqui se faz, aqui se paga, desgraçado!...
"Olha esta capa do O Cruzeiro. É a Dana de Teffé, linda. O advogado matou ela! Aqui, ó, a chegada dos pracinhas... Olha, a Martha Rocha coitada... perdeu..."
Ficaram um tempo em silêncio... Meu avô sentou ao seu lado, olhar perdido no céu. E ela, dobrando jornal.

Eu via os corpos que se amaram, se enroscaram, eu imaginava braços e pernas enlaçados, a cabeleira ruiva entre seus dedos, os seios chupados, os gritos de amor, o suor nos corpos, agora tão magros e encanecidos.
"Olha nós dois aqui, em Caxambu." Ele pegou a foto e seus dedos se tocaram por um instante.
"É..."
"Tinha tango no hotel, lembra? Eu dançava bem..."
"É..."
Outra pausa. Vovô se ergueu, com minha ajuda...
"Já vou indo..."
D. Celeste nem olhou, entretida nos recortes: "Olha aqui, a Greta Garbo. Vi sua filha uma vez, na rua. Ela é a cara da Greta Garbo..."
Meu avô e eu saímos lentamente pelo portãozinho. D. Celeste ainda avisou: "Não volta tarde..."

Pouco tempo depois, minha avó morreu. O cabelo azul espalhado no travesseiro.
No velório, meu avô calado num canto. Falou da gripe espanhola. "Em 1918, morreu gente como mosca. Eu escapei."

Ele já não entendia nada, mas seus olhos brilhavam como janelas para um passado remoto. Toda sua vida passava em alta velocidade. Fitou-me com um sorriso divertido e amargo e disse, como uma sentença: "Puta que pariu, seu Arnaldinho..."
Ali estava o resumo de sua vida.

04 de dezembro de 2012
Arnaldo Jabor, O Estado de S.Paulo

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    04 de dezembro de 2012

    A PRESIDANTA, O MARANHÃO, O IDH E AS MEDALHAS...


    Enquanto a FGV anunciava os resultados da pesquisa dos indicadores sociais de desenvolvimento humano.

    A herdeira do trono do reino da pajelança e da trampolinagem do pujante e moderno estado do Maranhão.

    Roseana Sarney I, a filha.
    Distribuiu alegremente comendas para alguns sem noção, entre eles, a Gerentona alucinante e sabe tudo de economia mundial, a presidANTA Dilmarionett Ducheff.

    Dilmarionett recebeu as comendas Manoel Bequimão e Ordem dos Timbiras, uma concedida pelo próprio governo do pujante estado maranhense, e a outra pelos baba ovos da assembléia legislativa daquele estado.

    O mais interessante é ver que o Maranhão ficou em último lugar em TODOS os itens pesquisados para "ranquear" o IDH.

    Ou seja, o estado da família Sarney é o mais pobre e o mais atrasado da federação, e mesmo assim, a governadora em vez de trabalhar um pouco pela pobre população de seu estado, não se impressiona com a situação de penúria em que vive a sua população e ainda gasta dinheiro público para fazer política vagabunda e distribuir medalhas desnecessárias.

    Este é o Brasil onde uma presidente irresponsável não cobra dos governadores o desenvolvimento humano em seus estados, e ainda, na maior cara de pau, vai para o estado mais miserável entre os 27 brasileiros e recebe com sorrisos e salamaleques as medalhas que são tarjadas pela insensatez, a falta de respeito com a população, e acima de tudo, a desgovernaça absoluta e o desvio do dinheiro público para satisfazer o sonho de perpetuação de uma família de coronéis que mantém uma população inteira sob as solas de suas fétidas botas com o aval do DESgoverno Fedemal.

    O Maranhão é miserável e nada democrático, seu povo vive à margem da miséria, mas eles distribuem infames medalhas aceitas por políticos mais infames ainda.
    Pobre maranhão, pobre Brasil...
     
    04 de dezembro de 2012
    omascate

    NARRATIVAS

    Denis Rosenfield


    Um fato é frequentemente sua narrativa, ou melhor, suas diferentes narrativas em suas sintonias, dissonâncias e, mesmo, contradições. Nosso olhar do mundo é moldado por visões perpassadas por versões que suscitam adesões e posições, simpatias e antipatias, conceitos e preconceitos.

    Eis por que em situações de conflito a disputa pela opinião pública é de tanto valor, pois nela se tecem e se articulam alianças e oposições que são da maior relevância não somente para a compreensão dos fatos, mas, também, para a orientação das ações.

    O recente conflito de Israel com o grupo radical Hamas é um muito bom exemplo de como versões atropelaram manifestamente os fatos, dando lugar a manifestações de simpatia ou antipatia, onde preconceitos vieram facilmente à tona. Supostas análise e reportagens, que se apresentavam como “neutras”, deram vazões a preconceitos bem arraigados. Alguns analistas deveriam fazer análise, psicanaliticamente falando.

    O conflito foi, em certas versões, apresentando como uma agressão israelense que teria “assassinado” o comandante militar do Hamas, Ahmed Jabari. Seria, nessa perspectiva, uma iniciativa israelense.
    Ora, o Hamas vinha bombardeando com foguetes o Estado de Israel, não dando tréguas aos seus cidadãos. O que era esperado? A inércia e a renúncia à autodefesa? O que faria qualquer cidadão que tivesse tiros diários contra a sua casa. Deveria simplesmente resignar-se, dormir num subterrâneo?

    A ação israelense foi apresentada como um “assassinato”, e não como a morte de um inimigo com mãos manchadas de sangue. Era público e notório que ele era responsável por uma série de assassinatos, dos quais, aliás, jamais negou a responsabilidade. Logo, o responsável de assassinatos foi “assassinado”. Aliás, o próprio Estado de Israel postou um vídeo mostrando a explosão de seu veículo, como alvo propriamente militar.

    O antissionismo é uma forma recente do antissemitismo politicamente correto
    Outro fato particularmente notório foi a insistência que se repete continuamente a propósito do número de mortes civis do lado dos palestinos.
    É como se esse fosse o critério dirimente para a discriminação dos “justos” e “injustos”. Nesse sentido, o Hamas tem sabido manipular a mídia através de jornalistas coniventes.

    Uma tática militar utilizada pelo Hamas consiste na utilização de escudos humanos, de modo que um alvo militar termine atingindo civis.
    As Forças Armadas de Israel não têm como alvos os civis, mas os militares, onde quer que se escondam. E eles se escondem em residências civis, em zonas altamente urbanizadas, lá armazenando armas e munições, com o objetivo de que civis sejam mortos para que apareçam midiaticamente como “vítimas”.
    Diz-se que o quartel-general do Hamas se encontra nos subterrâneos de um hospital, o que fala por si mesmo de sua preocupação com os “civis”.
    Por outro lado, os foguetes lançados contra Israel têm como alvo os civis, precisamente.

    Na contabilidade de mortes civis, as fontes do Hamas não somente omitem esses dados, como, por si só, não possuem nenhuma credibilidade. No último confronto em Gaza, a própria ONU foi conivente com a mentira. Foi noticiado com estardalhaço que as Forças Armadas israelenses tinham bombardeado a sede local da ONU. Isso foi repetido à exaustão.
    Quando o desmentido ocorreu, pela própria ONU, um mês depois, a antipatia por essa ação israelense já estava arraigada. Alguns jornais, após terem dado manchetes ao fato da “destruição da sede da ONU por forças israelenses”, relegaram a páginas interiores minúsculos espaços de restabelecimento da verdade dos fatos.

    Qual seria, pois, a diferença entre as fontes noticiosas israelenses e do Hamas? A credibilidade advinda de uma democracia, contrastando com um regime político de tendências teocráticas.

    Informações podem ser verificadas ou não. Israelenses podem se manifestar livremente contra as suas próprias Forças Armadas, criticando, por exemplo, a condução militar contra Gaza ou discordando da inércia das autoridades israelenses em caminharem para um verdadeiro acordo com os palestinos. Nada disso é possível nos territórios controlados pelo Hamas.

    Dado particularmente significativo foi a barbárie mostrada em foto por militantes do Hamas contra supostos colaboradores israelenses. Foram assassinados na rua, com a maior crueldade e, depois, mostrados sendo arrastados por motos, como um exemplo. Exemplo de quê? De crueldade? Se fossem espiões deveriam ser julgados, com direito à defesa.

    Outro caso particularmente gritante é a simpatia pela Turquia, cujas manifestações anti-israelenses são acolhidas acriticamente. Ela fala de “massacre”, “limpeza étnica” etc. Trata-se de um caso particularmente patológico, exemplo de esquizofrenia profunda. Limpeza étnica fez o Estado turco contra os armênios, assassinando milhões deles, em um genocídio inaugural do século XX. Até hoje, a Turquia se recusa a reconhecer esse fato.

    Ademais, a Turquia não reconhece internamente a sua minoria curda, recusando-lhe um Estado autônomo. Os curdos não possuem Estado e são sistematicamente agredidos. Os ataques militares não respeitam nem as fronteiras dos países vizinhos, com incursões militares e bombardeios, no Iraque e na Síria, contras as populações curdas. Agora, se arvora em representante dos palestinos.
    Por que não reconhece o Estado curdo? Por que não interrompe seus assassinatos, bombardeios e incursões militares?

    Não convém esquecer que o Hamas, ao contrário do governo palestino da Cisjordânia, liderado por Mahmud Abas, não reconhece o Estado de Israel e prega a sua destruição pela violência.
    A convivência entre israelenses e palestinos, baseada em dois Estados independentes, não poderá se fazer senão sob a forma de um reconhecimento mútuo, o que passa, evidentemente, pelo abandono recíproco dos preconceitos de ambas as partes.

    Não é denegrindo Israel nem apregoando a sua extinção que se chegará lá. O antissionismo é uma forma recente do antissemitismo politicamente correto. Não é com ele que se alcançará a paz.

    04 de dezembro de 2012
    Denis Rosenfield
    Fonte: O Globo, 03/12/2012

    PROMISCUIDADE

    Paulo Brossard



    Recentemente foi divulgado algo inédito na crônica administrativa do país envolvendo atos indicativos de corrupção e tráfico de influência. A singularidade reside no envolvimento de chefe do escritório de representação da Presidência da República em São Paulo, e também do número 2 da Advocacia-Geral da União. Em consequência, 18 pessoas foram detidas. O fato é de tal gravidade, que só recorrendo a um lugar-comum para conferir-lhe a adequada intensidade, dizendo que “é muito grave”! Não foi sem motivo que a senhora presidente da República afastou, demitiu e determinou investigações.

    Pelo menos algumas das pessoas agora identificadas, pelas alturas burocráticas que ocupavam, só as tinham pela confiança que gozavam do ex-presidente. Só quem desfrutasse de absoluta confiança poderia ocupar patamares superiores da administração e praticar atos como os que foram revelados.
    Ocorre que, dia a dia, fatos e mais fatos surgiram, todos a envolver altos servidores, sem que nenhuma das autoridades mencionadas articulasse qualquer impugnação quanto à sua veracidade.

    É tanto mais significativo o silêncio quando a chefe de gabinete do escritório da Presidência da República em São Paulo, ao mesmo tempo em que era afastada do cargo que ocupava desde a presidência anterior, declarou, sem meias palavras, e a imprensa publicou, a partir da primeira página, que “não cairia só”, o que, é de convir-se, era um desafio claro e inequívoco; ninguém pode dizer que não entendeu.

    Fatos graves aconteceram no escritório da Presidência da República em São Paulo
    Virando a página, a oposição anunciou convocar alguém para falar a respeito desses fatos, e foi um deus nos acuda; por exclusão, a escolha recaiu no ilustre ministro da Justiça. Em verdade, porém, a ideia fixa era impedir a convocação de quem quer que fosse, a menos que fosse mudo.
    Ora, não é preciso ser nenhum gênio para, na soma de todos esses dados, não concluir que coisas da maior gravidade tinham de ser abafadas, sepultadas. Enquanto isto, ninguém falou no desafio da exonerada ao assoalhar que não cairia só. O silêncio foi geral e total, como o das tumbas e das múmias.

    Fatos graves aconteceram no escritório da Presidência da República em São Paulo. Dir-se-á que a situação vem do tempo do ex-presidente Luiz Inácio, mas desde que a senhora presidente não a extirpou em quase dois anos, quando podia fazê-lo, seja qual for ou tenha sido a causa da omissão, o fato é que não escapa de um vínculo inevitável, e não pode escusar-se do ônus que lhe cabe, sendo de lembrar-se que a primeira magistrada deve ter uma conduta branca como a neve, ou transparente como o cristal.

    Mas o pior ainda estava por acontecer. Fatos novos vêm sendo divulgados, comentados e analisados por jornalistas de alto conceito, e o silêncio oficial continua, ainda que os fatos, sempre os fatos, cuja promiscuidade lembra os desvarios na decadência do império romano.

    Afastando apontar conclusões, insisto em ficar nos fatos, e se é verdade que a senhora presidente não mostra particular simpatia pela chefe do escritório da Presidência em São Paulo, já o mesmo não se pode dizer a respeito do ex-presidente, que deu demonstrações do apreço que tem pela secretária Rosemary, ou Rose, para os íntimos, dado que foi graças a solicitação dele que ela foi mantida pela senhora presidente. E mais, a agora demitida o acompanhou em caravanas presidenciais ao Exterior, sendo portadora de passaporte diplomático, emitido pelo Itamaraty.

    Esses dados são realçados, uma vez que pessoas hoje detidas foram nomeadas a instâncias da chefe do escritório paulista, a exemplo de seu ex-marido e de uma filha. Mas há aí um pormenor: é que, segundo agora foi divulgado, o ex-marido carecia de um título de nível superior, o que não foi dificuldade, porque um diploma frio (fato publicado na primeira página da “Folha de S. Paulo” de 30 de novembro) não custou a ser providenciado e autenticado pelo MEC. Esses fatos teriam de ser explicados, menos à oposição do que à nação brasileira. Não é pedir muito.

    04 de dezembro de 2012
    Paulo Brossard
    Fonte: Zero Hora, 03/12/2012

    ESSE NÃO SAI NA CAPA DA REVISTA FORBES...

    A PROCURA DE DIÓGENES


    pepe

    “Pepe” seu nome de guerra quando era Tupamaro, está no poder desde 2009, tem 77 anos e é um presidente muito especial. Ele mesmo estende a secar na corda suas roupas e sua mulher é quem as passa. Não faz uso de Twiter nem manda e-mails, tem somente um celular pré históricos, daqueles tipo tijolo. Seu hobby é a terra, plantar flores e cultivar uma horta, cujos produtos vendo no mercadinho dominical.

    Não usa o carro oficial e não aceita guarda pessoal. Vestindo uma surrada calça jeans diz: “Não ando travestido de presidente e continuo como sempre fui. Me definiram o presidente mais pobre do mundo, mas eu não sou pobre porque tenho tudo que preciso.

    Pobres são aquelas pessoas que trabalham somente procurando manter um estilo de vida suntuoso e que querem sempre mais. Essa é uma questão de liberdade. Se você não tem um grande patrimônio, não precisa trabalhar a vida inteira como um escravo, para mantê-lo e, portanto, terá mais tempo para você mesmo. Posso parecer um velho excêntrico, mas isso é uma questão de livre escolha”.

    Sente-se nas coisas que diz, ainda um pouco do ranço demagógico esquerdista, mas a sua sinceridade mostrada pelos exemplos, mostram que até na esquerda existem pessoas com honestidade de princípios.

    No Brasil, procuram-se, tal qual um Diógenes com sua lanterna, imitadores. Mas ta difícil, não é mesmo?

    04 de dezembro de 2012
    Giulio Sanmartini

    QUANDO O HUMOR DESENHA A REALIDADE


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    04 de dezembro de 2012

    PARAFUSO SOLTO

    Rui Falcão defende a corrupção do PT e fala em imprensa monopolizada e Judiciário conservador


    Presidente nacional do PT, o deputado estadual Rui Falcão (SP) mostrou sua sanha totalitarista ao se reunir com vereadores e prefeitos petistas. Falcão, que continua aceitando a condenação dos mensaleiros petistas que terão de passar um tempo atrás das grades, disse que “não dá para avançar no Brasil sem reforma do Estado que envolva a questão da mídia monopolizada e o Judiciário conservador”.

    Na opinião desses candidatos a ditadores, mídia monopolizada é aquela que noticia os seguidos casos de corrupção praticados pelo PT e cobra explicações e soluções para os crimes cometidos, pois como disse Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência, o PT não mais coloca a sujeira da corrupção sob o tapete.

    Em relação ao que Rui Falcão chama de Judiciário conservador, o presidente dos petistas sonha com uma Justiça que puna apenas os adversários do partido e seja leniente com os companheiros que cometem crimes de maneira acintosa e continuada.

    Aproveitando que Falcão mencionou a tal imprensa monopolizada, ele poderia esclarecer o brutal e covarde assassinato do companheiro Celso Daniel, então prefeito de Santo André, que perdeu a vida apenas porque discordou da destinação dada pelos petistas ao dinheiro da propina arrecadada na importante cidade do ABC paulista.

    O PT deseja há muito instalar uma ditadura civil no Brasil, mas vê o projeto ameaçado pelas lambanças cometidas por alguns integrantes da cúpula do partido, como Lula, José Dirceu, José Genoino, Delúbio Soares, João Paulo Cunha e outros.

    04 de dezembro de 2012
    ucho.info

    NOTÍCIAS ESCABROSAS

    “Ninguém está a salvo do sistema da Justiça” é recado direto do Procurador-Geral para atingir Lula


    O Procurador-Geral da República, Roberto Gurgel, mandou ontem mais um recado público ao ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao lembrar que “ninguém está a salvo do sistema da Justiça”. Enquanto Lula se prepara para mais uma viagem internacional de duas semanas, para faturar alto com palestras, Gurgel tem tudo para tomar medidas que vão apavorá-lo, como pedir a quebra do sigilo bancário, fiscal e telefônico dele e da família, além de recomendar a prisão imediata dos mensaleiros condenados no Supremo Tribunal Federal.

    Gurgel tem tudo para decidir que a Operação Porto Seguro será mais um caso para o Supremo Tribunal Federal, por envolver autoridades com prerrogativa de foro privilegiado. Principalmente em relação a Rosemary Nóvoa Noronha. Documentos podem confirmar que a ex-chefe de gabinete da Presidência da República em São Paulo agia com respaldo de Lula, principalmente nas viagens internacionais que fazia em companhia dele ou não, portando passaporte especial privativo de autoridades diplomáticas.

    Os petistas e a base aliada do governo já tem orientação expressa para evitar que seja criada, no Congresso, a CPI da Rosemary. O líder do PSDB no Senado, Alvaro Dias (PR), já lançou tal ameaça sobre a petralhada. Os tucanos resolveram pegar pesado com o governo depois do encontro da Executiva do partido com prefeitos e lideranças políticas lideradas pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em Brasília. FHC aproveitou o clima pesado para lançar a prematura candidatura presidencial de Aécio Neves – que pode sofrer os efeitos colaterais do Mensalão Tucano, assim que o STF resolver julgá-lo.

    Como parte integrante da ações de efeitos especiais para a operação abafa Porto Seguro, a Comissão de Ética da Presidência da República resolveu intimar e deu prazo de dez dias para que os indiciados na Operação Porto Seguro dêem informações oficiais sobre o problema. Os alvos são José Weber de Holanda Alves, ex-advogado-geral adjunto da União; Paulo Vieira e Rubens Vieira, diretores afastados da Agência Nacional de Águas (ANA) e da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac); e Rosemary Noronha, ex-chefe de gabinete da Presidência em SP.

    Teatrinho puro

    Na linha de fazer média, o presidente da comissão de ética da PR, Américo Lacombe, não descartou pedir informações, no futuro, ao ex-presidente Lula, de quem Rosemary era próxima:

    Lula deveria se pronunciar se quiser. O presidente Lula, o problema dele agora é um problema pessoal, um problema íntimo. Isso aí (nomeações) nós vamos ver depois, temos que ir devagar, degrau por degrau. Agora, vamos ouvir o que esses cidadãos têm a dizer”.

    Dará a chance de Lula alegar que “foi traído” mais uma vez...

    Botando Dilma no meio

    Os tucanos resolveram atacar o governo da Dilma Rousseff, já antecipando a sucessão de 2014.

    O senador Alvaro Dias pegou pesado com Presidenta, em discurso no plenário do Senado:

    Esse é um governo desonesto! Esse é um governo desavergonhado! Esse não é um governo, mas é um desgoverno para a infelicidade do Brasil. Nós não estamos cumprindo o nosso dever. Sem dúvida esse escândalo vergonhoso, que emporcalha a imagem do Brasil no exterior, já com repercussão na imprensa internacional, esse escândalo de baixo nível, que expõe uma postura descabida de quem preside o País, antes e agora. Porque os fatos são anteriores, mas se repetiram durante esses últimos anos em que está na Presidência da República a senhora Dilma Rousseff. Ensejaria, sim, a instalação de uma CPI no Senado Federal”.

    Perguntas pertinentes

    Alvaro Dias faz duas indações bem pertinentes sobre o bando apanhado pela PF na operação Porto Seguro:

    Teria essa quadrilha – é suposição, não é afirmação – contaminado o processo de privatização dos aeroportos brasileiros? Seria essa quadrilha responsável pelo resultado da licitação? O desdobramento das investigações deve, certamente, levar em conta essa suspeição. É preciso investigar”.

    “Por que a operação não foi deflagrada durante a eleição municipal deste ano? Durante a campanha eleitoral, em São Paulo, a presidente Dilma tinha esse escritório como uma espécie de bunker para a análise do desempenho do candidato à Prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad, e tratava de assuntos referentes à campanha eleitoral”

    Mais espetáculo

    O ministro José Eduardo Cardozo irá hoje ao Congresso Nacional para prestar esclarecimentos às comissões de Fiscalização e Controle e de Segurança.

    O ministro da Justiça defenderá a lisura da atuação da Polícia Federal no caso, inclusive nas buscas realizadas no escritório da Presidência da República, em São Paulo, e na sede da Advocacia Geral da União (AGU), em Brasília.

    Cardozo adverte que são equivocadas as versões de que policiais federais de São Paulo tenham agido à revelia da direção da instituição em Brasília por indisciplina, vingança ou por motivos políticos.

    Caçador de Marajás?

    Além de condenador de mensaleiros, o presidente do Supremo Tribunal pode fazer jus ao título de “caçador de marajás”.

    Joaquim Barbosa derrubou ontem, em caráter ainda precário, uma decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo que que autorizava o pagamento de salários acima do teto constitucional para 168 servidores do Tribunal de Contas do município de São Paulo.

    Os servidores do Tribunal de Contas tiveram os salários superiores ao teto do funcionalismo do município, de R$ 24,1 mil, reduzidos em fevereiro, por decisão do presidente do órgão, Edson Simões.

    Havia contracheques com valores superiores a R$ 50 mil.

    Poder da nudez

    A Playboy de dezembro faz uma homenagem aos 50 anos de morte da sex simbol mais famosa do cinema: Marilyn Monroe.

    Em meio a fotos inéditas da atriz, como ela veio ao mundo, um comentário certeiro do fundador da revistinha Hugh Hefner sobre a musa:

    "Ela ficava mais controlada quando estava nua. O que seria uma posição de vulnerabilidade para os outros, para ela era uma posição de poder".

    Apenas um comentário off topic: Ainda bem que o companheiro Lula não é editor de revistinha de mulher pelada...

    Vida que segue... Ave atque Vale! Fiquem com Deus.


    04 de dezembro de 2012
    Jorge Serrão é Jornalista, Radialista, Publicitário e Professor.

    PERGUNTAR NÃO OFENDE

    Falando em Rosegate, Ruy Falcão, presidente da quadr... perdão do PT, disse que os partícipes da mais recente tramoia petralha que forem filiados ao partido, deverão ser expulsos – Roses, irmãos Vieira, etc..
     
    Só uma perguntinha: E Dirceu, Genoíno, Cunha, Delúbio, que já foram até condenados, vão ganhar medalhas pelos bons serviços prestados ao PT?

    P.S.: Logo depois de publicar esse post dei de cara com o texto que reproduzo abaixo, que diz a mesma coisa, mas com detalhes:
    Viva a Polícia Federal
    Por Pedro Luiz Rodrigues
    Parabéns, Rui Falcão, presidente do Partido dos Trabalhadores, pela corajosa declaração, publicada nos jornais de hoje, de que o PT poderá adotar as medidas disciplinares previstas no estatuto e no código de ética para eventualmente afastar da agremiação a ex-chefe de Gabinete da Presidência da República em São Paulo, Rosemary Nóvoa de Noronha e o Paulo Vieira, ex-diretor da Agência Nacional de Águas (ANA).
    Isso, claro se forem comprovadas as contundentes denúncias contra eles, pois afinal vivemos numa democracia, a inocência deve ser presumida até que a justiça diga o contrário.
    Mas as vezes ajuda a preservar a imagem de uma instituição o agir imediato, quando as evidências de mal-feito são gritantes, e-mailmente gritantes. Nesse caso estou mais com a Presidente Dilma que foi rápida como Zeus, lançando imediatos decretos de demissão.
     
    Mas de qualquer modo, deixo o registro de minha admiração a você, Rui, meu ex-colega do Jornal da Tarde, pela simples manifestação dessa salutar disposição de recorrer aos estatutos para purificar o partido. Sempre é bom separar o joio do trigo.
     
    Sei que no PT vão achar muito forte o que disse, mas você. Rui, sempre foi corajoso e demonstrou disposição para uma boa briga. Não desconhecemos o quão intensas podem se tornar as pressões dos companheiros para proteger seus pares pegos com a boca na botija.
     
    Essa reação dos integrantes do Partido, ou pelo menos, de alguns deles, é compreensível e natural. As corporações existem, entre outras coisas, para proteger seus membros. Isso vale tanto para a Igreja, quanto para a Máfia. É o famoso espírito de corpo: se hoje deixo que os levem, amanhã, quem sabe, não me levarão?
    De qualquer modo, valeu o esforço. Foi muito mais acertado o que você disse, do que o palavrório de ontem de gente do partido -gente em altíssimo galho no Planalto – no sentido de que se uma quantidade enorme de petistas estava sendo apanhada pela polícia, isso se deveria ao fato de que pela primeira vez na história a Polícia Federal estaria tendo a liberdade para investigar.
    Eu se fosse a Polícia Federal emitiria imediatamente uma nota de esclarecimento. Que negócio é esse de que fiquei competente de ontem para hoje?
    Vamos por alguns pingos em alguns iiis.
    Primeiro, se uma extraordinária quantidade de petistas está sendo apanhada pela polícia, isso não significa que a polícia esteja hoje fazendo o que antes não fazia, mas porque uma grande quantidade de petistas está metendo a mão na bufunfa, se locupletando dos cargos e funções que ocupam. Sabem que quando tudo isso acabar, pela deficiência de mérito, terão se se contentar com coisa bem mais modesta na iniciativa privada.
    A culpa, Rui, não é só deles, mas de quem as enfiou nos escaninhos do poder, distribuindo cargos de DAS a esmo, sem muito critério além das qualificações implícitas em ser membro da agremiação partidária que lhes é comum. Você sabe que nos últimos dez anos a população de funcionários no Planalto duplicou. Sabe o que isso significa, ou pelo menos o que isso simboliza? Ineficiência.
    Segundo, esse negócio de que a Polícia Federal tem hoje independência que antes não tinha é uma balela.
     
    Dou meu testemunho pessoal. Já fui chefe de Gabinete do Ministério da Justiça durante algum tempo no governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso, trabalhando com gente de primeira qualidade: o ministro era José Carlos Dias; o secretário-executivo o Antônio Augusto Anastasia, o Luiz Paulo Barreto.
    Posso assegurar que já naquela época, estou falando do ano 2000, a Polícia Federal já era, graças a Deus, o que ela é hoje. Competente, isenta, implacável com a bandidagem de fora e de dentro.
    Bem, estou me afastando do assunto central, que era cumprimentá-lo pelo anúncio de ontem.
     
    Faltou só lembrar que o STF já julgou e condenou os integrantes quadrilha do mensalão, entre os quais incluem-se também membros do Partido dos Trabalhadores. Só para saber: como são graúdos, estão sujeitos às mesmas regras da Rosemary e doPaulo? Vão continuar filiados, vão ser expulsos, vão pelo menos ter sua conduta julgada pelo alto comando?
     
    Faço esses comentários a título de contribuição. Quase nunca tive simpatia pela plataforma do PT, mas fui um dos muitos que admirava a qualidade de sua mensagem, a lisura e a honestidade que pareciam revestidos todos no partido . Hoje, ao contrário, vejo os próprios afiliados do PT de cabeça baixa, envergonhados com a sujeirada que a cada dia é revelada.
    04 de dezembro de 2012

    DIREITISTA OU NÃO PETISTA CASADOS TÊM "AMANTE"; LULA TEM "AMIGA ÍNTIMA".

     Ou: José Eduardo Cardozo me dá vergonha alheia
     
    É espantoso! Conservadores, reacionários e até governistas não-petistas, quando mantêm relações fora do casamento, têm “amantes”, segundo o que definem os dicionários. Mas como empregar esse termo para Luiz Inácio Lula da Silva, Santo Deus? Não!
     
    Dados os muitos serviços que ele prestou à nação, a sua amante, flagrada praticando, entre outras coisas, tráfico de influência e corrupção ativa, há de ser chamada de “amiga íntima”. José Eduardo Cardozo, que já pode ser considerado um dos queridinhos da imprensa companheira, aparece no melhor de sua forma.
     
    Suas ginásticas vocabulares põem no chinelo o Márcio Thomaz Bastos do mensalão, em 2005, que propagou a tese do “simples” caixa dois… Leiam o que vai no Estadão Online. Os negritos são meus. Volto em seguida.
     
    Envolvimento de Lula em esquema está “desmentido”, diz Cardozo
     
    O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, negou o envolvimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas irregularidades investigadas na Operação Porto Seguro. A suspeita foi levantada pelo deputado Anthony Garotinho (PDT-RJ), pelo fato de Lula ser amigo íntimo de Rosemary Noronha e de tê-la nomeada chefe do escritório da Presidência em São Paulo desde seu primeiro governo.
     
    “Imaginar que o ex-presidente estivesse envolvido por trás disso está ao meu ver desmentido”. Rose, como é conhecida, foi indiciada na operação por corrupção, tráfico de influência e falsidade ideológica.
     
    Em depoimento na Comissão de Segurança da Câmara, Cardozo disse que a suspeição sobre Lula foi construída a partir de uma interpretação forçada em cima de e-mails pinçados seletivamente pela imprensa do inquérito, que soma 11 mil páginas.
    Ele disse que as autoridades que conduziram o inquérito são sérias, agiram tecnicamente e nada indica que Lula teve qualquer relação com os fatos. “Os delegados não sofreram nenhuma injunção política e, à luz da lei penal, não havia como enquadrar Rose por formação de quadrilha, nem Lula com os fatos apurados”, garantiu.
     
    O que se sabe sobre a amiga do ex-presidente é que “ela tinha contatos ilegais, relações indevidas e foi duramente enquadrada em três tipos criminais, mas não participava do núcleo central da quadrilha, ao contrário, foi escanteada pelos seus membros, como mostram alguns diálogos interceptados”, explicou.
    “O que ela fazia era, usando sua condição de chefe do escritório, facilitar contatos de membros da quadrilha em troca da favores”, acrescentou.
     
    Cardozo minimizou o e-mail em que Rose, falando com um membro da quadrilha, o manda “se aproximar do PR” e lhe promete que depois disso “eu caio matando”. Segundo ele, os delegados “foram extremamente criteriosos” e teriam dado outra interpretação se assim entendessem.
     
    Adams

    Cardozo também defendeu a permanência no cargo do advogado-geral da União, Luís Adams. Ele rechaçou a suspeita, levantada pelo deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS), de envolvimento de Adams no esquema de venda de pareceres em órgãos do governo, pelo fato de ter nomeado como seu adjunto o advogado José Weber de Holanda Alves, um dos indiciados pela Operação Porto Seguro. “Não podemos jamais ser tão implacáveis. As escolhas humanas geram situações que nos decepcionam. Até nas nossas famílias ocorrem decepções”, afirmou.
     
    Segundo o ministro, quando Adams nomeou Weber, “certamente avaliou que fosse uma pessoa séria”, observou. “Não posso fazer imputações a Luís Adams, ele escolheu alguém em quem confiou e foi traído”, emendou. Cardozo disse que se confiasse em Weber como Adams, também o nomearia. “Eu já nomeei pessoa sob processo por engano”, acrescentou. “No caso do Weber, nem condenação ele tinha. Às vezes nos enganamos com escolhas. Seria injusto condenar o chefe da AGU por isso”, defendeu.
     
    Acusado pela oposição de ter agido seletivamente em favor da chefe do escritório da Presidência em São Paulo, Rosemary Noronha, que não foi indiciada em formação de quadrilha, nem teve o sigilo telefônico quebrado, Cardozo afirmou que a decisão foi técnica e submetida ao crivo do Ministério Público e do Judiciário. “Se errou a PF, erraram também o MP e a juíza que presidiu o inquérito”, afirmou.
     
    Cardozo pontuou que Rose está indiciada em três crimes graves: falsidade ideológica, tráfico de influência e corrupção ativa. Mas não foi indiciada por formação de quadrilha, a seu ver, por uma avaliação estritamente técnica de quem conduziu a investigação. “Não posso dizer o que o inquérito não revela. Ela (Rose) não era membro da quadrilha. Essa é a conclusão de quem avaliou tecnicamente as tipificações. Não se pode pensar politicamente quando se fala de crime”, observou.
     
    Voltei

    A investigação ainda nem foi feita, mal começou, e José Eduardo Cardozo já anuncia atestados de inocência. Os indícios que há apontam na direção oposta à de sua fala.
    As traficâncias de Rosemary aparecem, apontam os e-mails, frequentemente associadas à proximidade que tinha com o então presidente, seu então amante. Se romperam, não sei. Lula diz que não fala sobre “questões privadas”.
    Como assegurar que ele não sabia de nada se nada ainda foi devidamente investigado? O que se tem é a fase inicial da apuração, ora essa.

     
    Pegue-se o caso do petista Paulo Vieira, que estava na ANA por vontade de Lula e com intermediação de Rose: ele só foi aprovado numa terceira votação. Havia, como se vê, a determinação de nomeá-lo e ponto final! Por quê? Competência técnica? Importância política? Nem uma coisa nem outra.
     
    A avaliação que Cardozo faz do comportamento de Adams é igualmente constrangedora. Faltou informar que o Advogado Geral da União nomeou o seu segundo, a quem deu plenos poderes, contra a vontade da Casa Civil. Mais: já não havia mais processo judicial contra ele por mera questão formal – prazo expirado –, não por uma questão de mérito.
     
    Cardozo não foi ao Congresso prestar esclarecimentos. Foi lá, conforme o previsto, para adensar a cortina de fumaça.
     
    Ah, sim: por que mesmo Lula não tem nada a ver com as lambanças de sua “amiga íntima”? Porque não, ora! Pela mesma razão porque não se emprega, no seu caso, a palavra “amante”. Lula não está apenas acima da lei. Ela está acima até da linguagem.
    Quando estourar algum escândalo com um direitista que misture interesse público e folguedos de alcova, aí, então, se poderá empregar a palavra “amante” sem interdições.
     
    O Google está aí. Vejam quantas vezes a dita grande imprensa usou a palavra “amante” para Mõnica Veloso, que havia sido, afinal, amante de Renan Calheiros. “Ah, com o Renan, tudo bem!!!” Lula nem mesmo comete adultério, só “ato político”.
     
    04 de dezembro de 2012
    Por Reinaldo Azevedo