"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



segunda-feira, 13 de agosto de 2012

O ELEITO!

Em parte, ele tinha razão. "A população neste momento está mais voltada para `Avenida Brasil' e Olimpíadas do que para esse processo escandaloso que tentaram nos imputar", disse na semana passada Rui Falcão, presidente nacional do PT.

A parte que faltou razão a Rui: "(...) que tentaram nos imputar".
O mais correto seria: processo que o PT imputou a si mesmo. Porque ninguém forçou o PT a evoluir do Caixa 2 que ajudou a eleger Lula para o mensalão que o ajudaria a governar.
Rui e outros observadores da cena política incorreram também no erro de confundir praça vazia com desinteresse popular pelo julgamento do mensalão.
A Praça dos Três Poderes, em Brasília, para onde convergem o Palácio do Planalto, o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF), está de fato deserta.
A direção do STF ocupou sua fatia de praça com barreiras que impedem a aproximação de curiosos. E reforçou exageradamente o esquema de segurança. Poucos se dão ao trabalho de ir até lá.
No plenário do STF foram reservados 24 lugares para "cidadãos comuns". (Sarney? Não! Sarney é um "cidadão incomum", segundo Lula.)
Metade dos lugares costuma ficar vazia. Ou acaba cedida a jornalistas.
Quem teria paciência e tempo de sobra para acompanhar um julgamento que se estenderá por quase dois meses?
A muito custo os ministros resistem ao sono e enfrentam o tédio. O sono já derrotou alguns. O tédio se impõe como se fosse algo maciço e pesado.
Pesquisa nacional do instituto Datafolha, aplicada na última quinta-feira, ouviu 2.562 pessoas e descobriu que 75% delas estão a par do julgamento no STF.
A maioria (81%) diz que tomou conhecimento do mensalão - embora somente 18% se considerem bem informados a respeito.
Índice tão baixo de conhecimento satisfatório nada tem a ver com alguma espécie de absolvição prévia do PT e, sim, com a falta de gosto da população por assuntos políticos.
Quatro em cada cinco brasileiros (82%) acreditam que o mensalão foi um caso de corrupção que envolveu o uso de dinheiro público para comprar votos no Congresso.
Não foi isso que a acusação aos réus passou os últimos sete anos repetindo?
No mesmo período, com Lula à frente, o PT se valeu de todos os meios para convencer os brasileiros de que houve apenas Caixa 2. Resultado de esforço tão desmedido: só 7% acreditam que houve apenas Caixa 2 de campanha.
Quem diz ser capaz de antecipar o resultado do julgamento está mal informado. É grande, porém, a chance de José Dirceu ser condenado.


Em conversa recente com jornalistas, três ministros do STF, em ocasiões distintas, repetiram mais ou menos o mesmo raciocínio: se não acreditarmos que Dirceu comandou o esquema do mensalão só nos restaria acreditar que o comandante foi Lula.
Na televisão, Lula jurou ter sido apunhalado pelas costas. "Fui traído", comentou. Jamais apontou os eventuais traidores. E depois passou a se referir ao mensalão como uma farsa.
Ao jornal O Estado de S. Paulo, Dirceu ditou: "Nada fiz sem antes consultar Lula. Nada".
Roberto Jefferson, o que deflagrou o escândalo do mensalão, dirigiu-se a Lula ao depor no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados. Aconselhou-o a despachar Dirceu, seu desafeto. Aconselhou, não. Ordenou que o despachasse. Do contrário...
Para que sua cabeça não rolasse, Lula entregou a de Dirceu. Que perdeu a chefia da Casa Civil da presidência da República e em seguida seu mandato de deputado federal, cassado pela Câmara.
Você acha difícil acreditar que Dirceu desconhecesse a existência do mensalão, não é?
Eu também acho.
E Lula? Você acredita que ele desconhecia?
Eu acredito que ele conhecia.

13 de agosto de 2012
Ricardo Noblat

QUANDO FALTA DECORO À TOGA

Cobra-se do parlamentar respeito ao decoro. Que quer dizer: "correção moral, compostura, decência e pundonor". E também "dignidade, honradez e brio".

Compostura é "correção de maneiras".
Decência, "correção moral, honestidade".
Pundonor, "zelo pela própria reputação".
Dignidade, "autoridade moral, amor próprio, respeito a si mesmo".
O parlamentar que faltar com o decoro fica sujeito à perda do mandato e dos direitos políticos.
E o juiz?
Se de público o juiz desce ao esgoto e dali dispara baixarias para atingir a honra alheia, o que poderá lhe acontecer?
O que deveria lhe acontecer?
Nada?
E se ele for um dos 11 membros da mais alta corte da Justiça?
O que esperar de um tipo desses na hora de julgar questões relevantes para o destino das pessoas e do país?
O conhecimento jurídico é inútil, totalmente inútil, definitivamente inútil sem equilíbrio, sensatez, isenção, dignidade e nobreza.

13 de agosto de 2012
Ricardo Noblat

MEMÓRIAS DO MENSALÃO

O que disse Roberto Jefferson quando foi cassado


(Notícia aqui postada em 14.9.2005)
Trechos do discurso do deputado Roberto Jefferson antes de ser cassado pela Câmara:
* "Este é o governo mais corrupto que eu já vi na história brasileira. Ele escolheu José Dirceu, como se fosse uma 'Jeane Mary Corner', para alugar 'prostitutas' para o Planalto".
* "O PT não tem amor. Não tem solidariedade. Nos usa como uma laranja. Chupam o caldo e escarram o bagaço".
* "Onde está a ética, a moralidade? O PT não rouba e não deixa roubar? A cúpula do partido rouba e rouba sozinha. E rouba muito!"
* "Eu nunca bati o peito para dizer que sou o paladino da ética e campeão olímpico da integridade. O PT fez isso a vida inteira e hoje não consegue nem olhar no olho da população".
* "Se Lula não praticou o crime por ação, por omissão ele praticou".
* "O meu conceito do presidente Lula é que ele é malandro, é preguiçoso. Ele gosta de viajar. Trabalhar ele não gosta".
* "Entrego meu mandato na mão dos senhores. Por 23 anos sou deputado federal. Confesso que estou um pouco cansado. Todo dia investigam minha vida mas nunca conseguiram fazer uma acusação contra minha honra pessoal e minha dignidade.
Se tiver que sair, eu saio de cabeça erguida. Tirei a roupa do rei. Mostrei ao Brasil quem são esses fariseus. Mostrei ao Brasil o que é o governo Lula. Mostrei o que é o Campo Majoritário do PT. Muito obrigado pela paciência de me ouvir".

13 de agosto de 2012
in ricardo noblat

FRASE DO DIA


A defesa vê caixa 2 como conduta corriqueira, socialmente consentida.

Eliana Calmon, Corregedora Nacional de Justiça, criticando a postura dos advogados de defesa no julgamento do mensalão

13 de agosto de 2012

TRÊS PODERES SEM PUDORES

 

PUBLICADO EM 1 DE OUTUBRO DE 2009

“Seguramente, é uma pessoa qualificada”, convenceu-se o ministro Gilmar Mendes ainda no meio da sabatina do chefe da Advocacia Geral da União, José Antonio Toffoli, na Comissão de Constituição e Justiça no Senado. A prévia aprovação do presidente do Supremo Tribunal Federal antecipou o endosso entusiasmado dos pais da pátria à escolha feita pelo presidente Lula: aquele jovem bacharel está pronto para brilhar no time das 11 togas, confirmou o selo de qualidade conferido ao fim da amistosa troca de idéias. O resultado da votação sugere que Toffoli é o ministro com que o Supremo sempre sonhou. O moço é uma sumidade.

Desprovido de notável saber jurídico, com a reputação arranhada por condenações, processos em andamento, ilegalidades comprovadas e suspeitas incontáveis, a sumidade vai virar ministro aos 41 anos. Até a aposentadoria em 2038, estará livre de sustos ou sobressaltos. No Brasil, quem decide em última instância não é jamais julgado. Só julga. É o que fará pelos próximos 29 anos o caçula da turma.

É um Pacheco atrás do outro, avisa o falatório no Senado. Depois do Pacheco de terninho, chegou o Pacheco de toga. Pinçados pelo implacável Celso Arnaldo, alguns momentos da sabatina escancaram o que há na cabeça de Toffoli: nada que preste. Confiram:

“Aquilo que eu já fazia na Advocacia Geral da União, que era uma imparcialidade, vai se transformar numa absoluta imparcialidade. Porque eu não atuarei em nenhum processo no qual eu tenha atuado. Porque estes casos estarão por lei impedido”. (Pareceu muito oportuno o aparte do senador Álvaro Dias: “Já ouvi que provavelmente se declarará impedido em algumas questões. São tantas as questões ligadas a Vossa Excelência que, se a declaração de impedimento se der em cada uma delas, Vossa Excelência estará de férias no Supremo.”)

“Enquanto a democracia é o exercício do valor pela maioria, o constitucionalismo impõe limites a este poder. Esta é a dicotomia entre democracia e constitucionalismo”.

“Estou dizendo a respeito do meu compromisso de aplicar a lei de impedimento e suspeição e também no caso de suspeição de minha consciência nos episódios que envolverem julgamentos que estão em tramitação no Supremo”.

“A advocacia que é passado para mim, no momento em que fui para a Advocacia Geral da União, a advocacia privada virou passado. Em nada isso vai refletir na impessoalidade para julgar qualquer causa que seja, de qualquer assunto que seja”.

“O fato de ter atuado em ações eleitorais para o presidente da República é algo do passado. Já não faz parte mais de minha vida. Não nego a minha história. Mas não faz mais parte, a partir do momento em que fui para a Advocacia Geral da União, já deixei qualquer laço de atuação privada com sua Excelência”.

Como ressalva Reinaldo Azevedo, ninguém fala como escreve. É natural que frases extraídas de qualquer discurseira pareçam confusas, ou que em outras o princípio colida frontalmente com o fim. Mas expressar-se o tempo todo como um candidato a vereador que não completou o primário em seu primeiro comício é demais. Alguns ministros não são lá grande coisa, mas todos colocam palavras e vírgulas no devido lugar. Pois nem isso Toffoli sabe fazer.

Conjugados, o atrevimento do Executivo, o cinismo do Legislativo e a hipocrisia do Judiciário acabam de infiltrar no STF um bacharel que seria reprovado com desonra em qualquer exame oral de colégio. Fora o resto. Os três Poderes parecem ter perdido os derradeiros pudores.

13 de agosto de 2012
Augusto Nunes

IMAGEM DO DIA

Japonês Tatsuhiro Yonemitsu mordeu os dedos da mão esquerda do canadense Haislan Veranes Garcia nas quartas de final da luta livre, categoria até 66 kg
Japonês Tatsuhiro Yonemitsu mordeu os dedos da mão esquerda do canadense Haislan Veranes Garcia nas quartas de final da luta livre, categoria até 66 kg - Suhaib Salem/Reuters

13 de agosto de 2012

REVISTA FORBES: BRASILEIROS PAGAM PREÇOS "RIDICULOS" POR CARROS

 

Em artigo no site, um autor da revista Forbes criticou os preços "ridículos" pagos por brasileiros por carros de luxo. Como exemplo, a publicação cita o valor de um Jeep Grand Cherokee, que custa R$ 179 mil (US$ 89 mil) no País. Nos Estados Unidos, o mesmo carro sai por cerca de US$ 29 mil.
 
"Alguém pode pensar que pagar US$ 80 mil em um Jeep Grand Cherokee significa que ele vem com asas e grades folheadas a ouro. Mas no Brasil é a versão básica", afirma Kenneth Rapoza. Ele ressalta que o preço nos EUA é quase metade do salário médio anual de um americano, mas o preço brasileiro está a "anos-luz" dos ganhos de um brasileiro médio.
 
O artigo ainda cita o novo Dodge Durango, que deve ser apresentado pela Chrysler no salão do automóvel de São Paulo em outubro, e que custará ainda mais que o Grand Cherokee: cerca de R$ 190 mil (US$ 95 mil), segundo a publicação. Nos EUA, o mesmo carro custa US$ 28,5 mil e até um "professor es escola pública do Bronx" pode comprar um com dois anos de uso.
 
"Desculpem, 'brazukas'... não há status em um Toyota Corolla, Honda Civic, Jeep Grand ou Dodge Durango. Não sejam enganados pelo preço. Vocês estão definitivamente sendo lesados", afirma o autor no artigo da Forbes.
 
13 de agosto de 2012
in blog do mario fortes

ELIANA CALMON: QUADRILHA DO MENSALÃO VÊ CAIXA 2 COMO CONDUTA CORRIQUEIRA

'Defesa vê caixa 2 como conduta corriqueira’, diz Eliana Calmon. Ministra critica tese de advogados no mensalão e diz que escândalo ‘soa como corrupção’

Alan Sampaio / iG Brasília A poucos metros do plenário do Supremo Tribunal Federal, a corregedora Nacional de Justiça, Eliana Calmon, acompanha o julgamento do mensalão e revela sua expectativa. “É uma grande oportunidade de estabelecermos alguns valores, morais, éticos, políticos, por isso o julgamento do mensalão é tão importante”, disse.

Para ela, a defesa dos réus trata a tese do caixa 2 como “se fosse conduta corriqueira, socialmente consentida”. Eliana Calmon diz que não conhece as provas dos autos, mas para ela o escândalo “soa como corrupção”. Sobre o comportamento dos 11 ministros no julgamento que o País acompanha desde o dia 2, ela prefere não opinar. Mas perguntada sobre José Antonio Dias Toffoli, ex-assessor do PT, a corregedora salienta que “o assunto está na pauta do dia porque o povo anotou”.

Veja também:

TV ESTADÃO: ‘Com decisão técnica, STF lava as mãos’, diz corregedora

Na última quarta-feira, a ministra recebeu o Estado em seu gabinete no Anexo I da sede do STF, uma sala cujas janelas se voltam para os fundos do Supremo. A ministra se prepara para deixar o cargo de xerife do Judiciário em setembro. Depois de ver a Justiça por dentro, ela se diz “assustada” com o que constatou – desvios e desmandos, corrupção, enriquecimentos pessoais e contracheques milionários. Na entrevista, afirma ainda que depois de denunciar a existência de “bandidos de toga”, sofreu resistência do então presidente do STF, Cezar Peluso: “Ele tentou me inviabilizar”.

Estado: Não é hora de o Supremo Tribunal Federal dar um basta na cultura do dinheiro sujo na política?

Eliana Calmon: E quem sabe o Supremo não vai dar? É uma grande oportunidade de estabelecermos alguns valores, um julgamento importantíssimo. Valores morais, valores éticos, políticos, não é? Valores de conduta de cidadania.

Estado: A defesa dos réus do mensalão quer cravar que tudo não passou de caixa 2 de campanha eleitoral. A tese vai vingar?

Eliana Calmon: Como se fosse conduta corriqueira, socialmente consentida. Não conheço as provas dos autos, mas para mim o mensalão soa como corrupção (e não caixa 2). Eu me impressionei pelas imagens (a cena da entrega do dinheiro nos Correios), até hoje me choca. Não posso ignorar que este é um país de caixa 2. Isso é relativizado na hora que se vai examinar os fatos.

Estado: O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) puniu juízes que agiram parcialmente por causa de relações com as partes. No julgamento do mensalão discutiu-se sobre a suspeição do ministro Dias Toffoli. O exemplo não deve vir de cima?

Eliana Calmon: Isso está na pauta do dia. Não vou qualificar, por uma questão de hierarquia, questão disciplinar. Mas o assunto está na pauta do dia porque o povo anotou.

Estado: O modelo de financiamento de campanha deve ser alterado?

Eliana Calmon: Ninguém ignora que nós precisamos fazer uma reforma política porque o financiamento de campanha neste país é uma vergonha. Nós, magistrados, ignoramos isso? Não. Se é um problema generalizado, é um problema que conta com a conivência de todos, de toda a Nação, tanto que até hoje não se tomou nenhuma providência.

Estado: O STF vai ser julgado pela sociedade no julgamento do mensalão?

Eliana Calmon: O STF está com muito cuidado neste julgamento do mensalão porque a Nação está olhando. Será um julgamento bastante técnico. Estamos no ápice da manifestação democrática do País. Alguns magistrados ainda não se aperceberam de que nós podemos ser julgados. É assim que acontece em qualquer democracia. A sociedade julga os serviços prestados por qualquer servidor público, e ministro é servidor público. Eu sou servidora pública. O STF está numa posição difícil, tem de prestar satisfação para os jurisdicionados. Ele tem um problema político por resolver, porque há realmente interesses políticos que estão em jogo. A Nação toda está mobilizada, com os olhos voltados para o Supremo. E a saída do Supremo é julgar tecnicamente.

Estado: Como foi a convivência com Peluso?

Eliana Calmon: Foi socialmente boa, só que ele é uma pessoa difícil. Eu insistia muito para ter um diálogo, mas sempre encontrei pouca receptividade. Despachávamos normalmente, uma vez por semana, mas de uma forma bastante seca, rápida. Essa convivência não me deixava à vontade, eu não me sentia fazendo parte de uma equipe. Comecei a sentir uma corregedoria separada da gestão do CNJ e isso me incomodava bastante. Eu fui me encolhendo dentro desse universo CNJ para ser possível, então, fazer uma administração à margem. A Corregedoria era ignorada.

Estado: Quando a sra. apontou “bandidos de toga” tentaram afastá-la?

Eliana Calmon: Naquele momento, meu entendimento foi de que o ministro Peluso quis publicizar uma insatisfação que já era dele. Se essa insatisfação fosse generalizada, naturalmente eu ficaria absolutamente impedida de continuar como corregedora. Ele pessoalmente ligou para os tribunais e pediu que tomassem a mesma medida. Ele queria que os tribunais se reunissem para examinar a nota de repúdio e divulgar. Eu sei disso porque no STJ, o presidente à época disse: ‘O ministro Peluso telefonou e pediu para eu reunir o plenário para aderir à nota de repúdio’. Isso também foi feito no Tribunal Superior do Trabalho, que emitiu nota assinada por todos os ministros, com exceção do ministro Ives Gandra.

Estado: Qual era a intenção?

Eliana Calmon: Interromper a minha atividade. Se eu estou inviabilizada com a magistratura, eu não posso continuar corregedora, fico desmoralizada. A hora que eu chegar num tribunal eu estou inviabilizada, ninguém acredita numa pessoa que a magistratura repudiou, uma pessoa que quer o mal da magistratura. Essa foi a ideia. Superei porque tinha consciência de que não pertencia àquilo que diziam. O que estava na nota não era minha intenção, eu estava certa do que estava fazendo. Veio um apoio generalizado, como se a nota fosse um estopim. Recebi apoio até de ministros do STF, telefonemas, e-mails e este país explodiu de apoio. A mídia foi o grande veículo, o Estado fez editorais. Aí nós marchamos.

Estado: Pensa em ingressar na política?

Eliana Calmon: Eu só sou magistrada, não tenho aptidão para a política. Sou uma pessoa que fala as coisas, não faço favores. Os meus amigos dizem ‘Eliana não faz favores, não é amiga dos amigos’. Eu sou amiga, mas dentro da minha atividade profissional eu não tenho amigo, não faço favor porque é uma questão de princípio. No dia em que fizer um favor, eu faço dez.

Estado: Em muitos Estados é baixo o índice de condenações por improbidade e os salários dos magistrados são altos. Faz alguma relação entre essas duas situações?

Eliana Calmon: Faço. Este é um país preconceituoso, dominado por elites econômicas e políticas que ainda têm peso grande nos tribunais. E é dentro desse espírito elitista, patrimonialista, que nós temos dificuldades de mudança de cultura. Ainda há magistrados que têm a concepção de que isso é normal, para as elites tudo é permitido e relativizam os atos de improbidade. É uma prática em alguns Estados. Estabelecer salários altos para, dessa forma, ter a conivência da magistratura. Temos de acabar com esse compadrio de tribunais com governadores. Chefes do Executivo, às vezes, repassam verbas para altos salários para terem o quê? A compreensão do Judiciário, a conivência.

Estado: No Tribunal de Justiça (TJ) do Rio, onde as condenações por improbidade não superam dez casos, salários oscilam entre R$ 100 mil e R$ 150 mil.

Eliana Calmon: No Rio houve um complô de tal forma que hoje nós temos TJ, Poder Legislativo e o Executivo todos coniventes com aqueles salários altíssimos pagos aos desembargadores. Isso não pode ser a troco de nada, porque o Rio padece de uma série de deficiências. E nós vamos encontrar o quê? Uma absoluta inação do Poder Judiciário para com alguns segmentos, algumas demandas. Querem ver o problema? Os grupos de extermínio. Nós encontramos grupos de extermínio em processos no Ceará, na Bahia, em Alagoas, esses Estados mostram que pelo menos são abertos os processos. No Rio, não.

Estado: A Corregedoria investiga a evolução patrimonial de magistrados e a discrepância com salários?

Eliana Calmon: Os processos estão para ser abertos. Eu ainda não sei como foi que chegou esse dinheiro, se foi por venda de sentença. Os juízes vão ter de explicar. Na sindicância alertamos (o magistrado): ‘Seu patrimônio está a descoberto, venha explicar o motivo de seu patrimônio crescer se seus ganhos são insuficientes’. Eles não conseguiram explicar. Vamos propor processos disciplinares. São de 7 a 10 magistrados. A concentração maior está em Mato Grosso do Sul. O CNJ tem amedrontado um pouco, estabeleceu um freio. Mas não é suficiente. Precisamos da atuação das Corregedorias locais. Eu estou assustada. Vejo muita melhora, mas nós precisávamos ter muito mais energia para vencer. A magistratura de primeiro grau é a mais saudável, mais idealista, tem menos convivência com as elites, não se mistura. Os juízes do primeiro grau precisam tomar as rédeas do Judiciário. Eu defendo eleição direta na escolha (da cúpula dos tribunais), participação da primeira instância.

13 de agosto de 2012
Por Felipe Recondo e Fausto Macedo, O Estado de São Paulo

DENISE ROCHA: "COM A CORRUPÇÃO NINGUÉM SE ESCANDALIZA?"

Demitida por aparecer em um vídeo de sexo, a ex-assessora do senador Ciro Nogueira desabafa, em entrevista exclusiva ao Congresso em Foco: “É como se agora eu estivesse sempre pelada”

Arquivo Pessoal
Denise, no dia em que recebeu sua carteira da OAB. Vítima de uma exposição indevida, demitida, a advogada vive agora à base de remédios

Há até poucos dias, quem chegava ao Senado por um dos dois acessos do “túnel do tempo”, corredor que liga gabinetes ao plenário, poderia deparar, nos arredores do gabinete do senador Ciro Nogueira (PP-PI), com uma loira bem vestida, de semblante sério, quase sempre ao celular. Cabelos lisos e longos, 1,70 de altura, braços e pernas musculosas, mas não masculinizadas, a mulher invariavelmente deixava o gabinete 01 da Ala Teotônio Vilela sem olhar para os lados, em postura de sisudez que servia como mecanismo de defesa contra abordagens indesejadas.

Desde a instalação da CPI do Cachoeira, em 25 de abril, a tal mulher de pouca conversa passou a circular em uma área maior àquela contígua ao gabinete de Ciro Nogueira, quarto-secretário do Senado e membro da comissão de inquérito. Sem a sua autorização, a publicação de um vídeo de sexo, no qual Denise é protagonista, fez com que ruíssem todas precauções que a advogada de 28 anos usava para ter controle de sua vida íntima. Assistido por parlamentares e jornalistas que acompanham a CPI do Cachoeira, o vídeo fez com que Denise ganhasse a alcunha de “furacão” ou “musa da CPI” – com esta última, comparada à também loira Andressa Mendonça, namorada do contraventor que dá nome à comissão de inquérito, Carlos Cachoeira.

Leia também:

A íntegra da entrevista com Denise Leitão Rocha
 
Exposta de forma vil, Denise nada ganhou com isso, a não ser a companhia de fortes calmantes, sem os quais já não consegue mais dormir, e a sensação de que, aos olhos de todos, está sempre despida. Para completar, vítima de um moralismo que não compreende, Denise foi demitida, perdeu o emprego que tinha como assessora de Ciro Nogueira. O senador encarregou assessores de comunicar a Denise sua exoneração.

Sensação de nudez

Desde o vazamento do vídeo, que Denise diz ter sido feito há cerca de seis anos – dois antes de ser contratada por Ciro Nogueira –, a advogada tem a vida revirada, exposta em telas, páginas e ondas sonoras Brasil afora. Fotos que ela postava no Facebook, de biquíni, tomaram ares de catálogo erótico. Telejornais chegaram a veicular cenas do tal filme de sexo, blogs e sites idem, imagens da advogada foram usadas à exaustão em reportagens ora mal intencionadas, ora eivadas de erros e falhas de apuração. Passando os dias dopada, em decorrência do estado de depressão a que chegou, Denise tem evitado dar declarações mais demoradas à imprensa.

Mas, por telefone, Denise aceitou falar ao Congresso em Foco mais detidamente, por duas vezes no transcorrer da última semana. Em outra ocasião, respondeu perguntas por e-mail. E, alternando momentos de desalento e saudosismo (ela diz que sua vida era o trabalho no Senado e os cuidados com a saúde), tentou definir como será, daqui para frente, sua relação com o universo parlamentar que a acolheu nos últimos quatro anos.

“Totalmente prejudicada. Eu vou passar, vão olhar… Eu vou cumprimentar os senadores, deputados, e vou achar que eles estão me vendo pelada. A impressão vai ser essa. Por isso estou indo ao psicólogo, ao psiquiatra. Estou tomando remédio e tudo…”, relata Denise, praticante de musculação e outras atividades físicas. O ex-namorado, as cenas de sexo, o falso moralismo de alguns colegas, o olhar enviesado de quem sabe quem ela é. E é com essa combinação deletéria, que pôs fim à sua incipiente trajetória no Parlamento, que Denise terá de lidar daqui em diante.

“Isso me desmoralizou, está acabando com a minha vida”, desabafa. Denise, porém, tem um alento: a esperança de que a sua história torne mais dura a legislação para quem divulga imagens íntimas de outras pessoas à sua revelia. “Do dia para a noite, vários deputados e senadores levantaram a bandeira. Mais de 70 projetos estão sendo discutidos por causa disso [divulgação de material particular em meio virtual]”. Logo, em seguida, porém, ela volta à sensação de profundo desconforto que a acompanha nos últimos dias. “Mas, no final das contas, quem é a exonerada? Isso vai continuar sendo discutido, a legislação sobre crimes cibernéticos vai continuar a ser discutida, mas eu sou a exonerada.”

Geni

Sobre a demissão, Denise lembra que recebeu apoio de parlamentares, amigos, servidores e até de gente desconhecida, por meio de mensagens na internet. Ela diz não entender por que Ciro Nogueira decidiu exonerá-la. “Não sei o que se passou na cabeça da pessoa, vendo que a opinião pública toda estava contra a demissão. Mesmo assim exonerou. Mas não posso dar um juízo de valor sobre ele”, lamenta a advogada, lembrando que, em um primeiro momento, o senador se disse “constrangido”, para depois mudar o posicionamento e dizer que Denise era “uma profissional excelente”.

Já sobre uma cirurgia recente da qual ainda convalesce, Denise diz que “não foi nada estético”, como se chegou a cogitar nas dependências do Senado. A ex-assessora disse ainda que aproveitou o início do recesso (17 a 31 de julho) para realizar a intervenção – a informação foi deturpada por alguns veículos de imprensa, diz Denise, que associaram seu afastamento ao vídeo de sexo. Por esse raciocínio, ela teria obtido com o vídeo notoriedade, e estaria fazendo uma reparação estética para posar para uma revista masculina. “Não se brinca assim com a saúde dos outros”, protesta ela. “Porque se fosse de mãe, filho etc, ninguém, brincaria.”

Com a saúde abalada mental e fisicamente, Denise sente-se apedrejada como a Geni da canção de Chico Buarque, “Geni e o Zepelim”. Ajuizou ação para responsabilizar quem vazou o vídeo, diz ter perdido cinco quilos, evita o pior tipo das aparições públicas – aquele sob o olhar condenatório de quem nada tem a ver com a sua vida. Caseira, como ela mesma se define, vai buscar na família e nos amigos de fato o amparo que não teve no gabinete do Senado.

Enquanto isso, a CPI do Cachoeira não avança, deputados envolvidos com o caso não deverão ser punidos, e o julgamento do mensalão acontece no Supremo Tribunal Federal sem merecer maiores atenções por parte da maioria da população. “Criticam [o ato sexual]. Mas como é que todo mundo veio ao mundo? Tem coisa muito pior que acontece na Casa legislativa…”, comenta ela. É como na canção de Chico Buarque: “Ela se virou de lado, e tentou até sorrir / Mas logo raiou o dia, e a cidade em cantoria não deixou ela dormir”.

13 de agosto de 2012

"A REPÚBLICA DOS FIDALGOS CERCADA PELA RALÉ NÓS TODOS!"-

O caso Noblat-Toffoli e a promiscuidade de Brasília.

Vejam este quadro do francês Jean-Baptiste Debret, que retratou o Brasil do começo do século 19. Olhem ali o escravo a proteger do sol o nhonhô que faz xixi na rua. Os “donos do poder”, para lembrar o livro de Raymundo Faoro, evocado por Roberto Gurgel na sua denúncia, continuam a fazer xixi, agora sobre a República e a Constituição. E os escravos somos nós, os pagadores de impostos do país dos fidalgos.
Recebi muitos pedidos para que escreva algo sobre o post publicado na madrugada de sábado pelo jornalista Ricardo Noblat em seu blog, relatando um episódio estupefaciente. Saía ele de uma festa, em Brasília, quando, disse, foi colhido por uma metralhadora de impropérios disparados por ninguém menos do que José Antonio Dias Toffoli, ministro do Supremo Tribunal Federal, membro de um colegiado que distingue apenas 11 pessoas na República.
O ministro estaria descontente com uma opinião expressa por Noblat, que também havia defendido que ele se declarasse impedido de participar do julgamento. Reproduz o jornalista as palavras que teriam sido ditas pelo ministro (em vermelho):

— Esse rapaz é um canalha, um filho da puta.

Repetiu “filho da puta” pelo menos cinco vezes. E foi adiante:

— Ele só fala mal de mim. Quero que ele se foda. Eu me preparei muito mais do que ele para chegar a ministro do Supremo.
Comentar o quê?
Divirjo de Noblat em muitas escolhas. Quando se trata de coisa relevante, digo aqui a razão. Mas pergunto: por que motivo inventaria uma história cabeluda como essa? O jornalismo petralha definiu os seus inimigos de estimação, não é? Aqueles que estariam sempre, segundo seus delírios, perseguindo os heróis petistas. Noblat não está entre os alvos fixos da turma. José Dirceu, se não me engano, é colunista do seu blog — Toffoli também teria se referido a esse fato com esta fala:

— O Zé Dirceu escreve no blog dele. Pois outro dia, esse canalha o criticou. Não gostei de tê-lo encontrado aqui. Não gostei.
Tendo acontecido assim, vê-se um Toffoli tomando, de público, as dores de Zé Dirceu.
Brasília promíscua

Trabalhei em Brasília em 1996. Detesto sair de casa, mas fui a algumas poucas festas — poucas: minha filha mais velha tinha acabado de completar um ano, e minha mulher estava grávida da segunda; preferia ficam com elas. Já então estranhava o que chamei de “promiscuidade brasiliense”.
Não havia beberagem no Planalto Central que não juntasse jornalistas, deputados, senadores, ministros, quadros da burocracia… Desenvolvi, desde aquela época, tese que tenho até hoje: houvesse no Brasil tabloides de modelo inglês, a República cairia.
E não seria necessário praticar nenhuma das delinquências do “News of the World”. Se querem saber, o Brasil seria muito mais saudável. Quantas vezes se viram e se veem respeitáveis autoridades a sair carregadas de restaurantes da moda, entupidas de álcool, sem que se tenha publicado uma miserável nota nos jornais? Por que não? Ah, isso tudo é vida privada!
Uma ova!!! O jornalismo brasiliense desenvolveu uma gigantesca tolerância para desvios de conduta de homens públicos. O pior é que isso está ligado, lá vou eu, ao “fontismo”. Faz parte da camaradagem. Jornalista que decidir contar o que viu nessas festas ou nesses convescotes sabe que está marcado. Ninguém mais vai querer falar com ele — e pode ser alvo de críticas dos próprios colegas.
Noblat não teria escrito nada sobre a festa não fossem as ofensas de que foi alvo. Tratava-se, segundo fiquei sabendo, de um encontro na casa de Fernando Neves, ex-ministro do TSE. O blogueiro do Globo não era o único jornalista. Havia outros. Toffoli não era a única autoridade. Havia outras. Lá estava Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, um dos advogados de defesa do mensalão — dos mais estrelados —, em processo no qual Toffoli é… juiz!
“É assim no mundo inteiro, Reinaldo!” Não! Errado! NÃO É ASSIM NO MUNDO INTEIRO! Não no mundo democrático. Lamento! Esses eventos reúnem todas as características da antiga corte, que separava os fidalgos — ainda que pudesse ter suas divergências — da ralé.
Testemunho

Enviaram-me há pouco uma mensagem — não sei se é comentário publicado no blog de Noblat ou carta aberta; pouco importa — em que um rapaz chamado Eduardo Pertence contesta as informações publicadas pelo jornalista. Vale a penas ler. É um mimo e um emblema do que estou dizendo aqui.
“Caro Noblat,

Aprendi a lhe respeitar e admirar desde criança, por consequência do meu pai, Sepúlveda Pertence, seu amigo e admirador.

Contudo, não posso deixar de demonstrar meu espanto com essa leviana notícia. Estava eu, junto ao meu pai, nessa mesma festa. Você foi recebido na mesa dela, com todas as loas e elogios.

Fiquei na festa até o final, chegando a acompanhar o Min. Toffoli até o seu carro, quando ele foi embora. Afirmo não ter presenciado nada parecido com o que você noticiou aqui.

Não vi, nem ouvi dele, nada assemelhado as loucuras aqui publicadas. De minha parte, testemunho que isso não houve. De sua parte, espero que o Mensalão não esteja alterando sua noção de realidade.

Continue, fora isso, sendo o grande e admirável jornalista que sempre foi. Com respeito, mas espanto.
Eduardo Pertence.”
Comento

Sendo verdadeira essa mensagem — e não há desmentido —, noto a ligeireza com que o filho evoca o nome do pai para demonstrar que, no fim das contas, todos pertencem à mesma grei: à dos homens incomuns. Noblat é tratado como aquele que é recebido à mesa — afinal, jornalistas gozam da fidalguia por uma espécie de tolerância, não de mérito de berço, né? — e que acabou traindo a confiança da turma.
Eduardo Pertence assegura que o fato não se deu (se ele fala a verdade, Noblat seria o quê?), mas expressa seu respeito ao outro, que segue sendo uma pessoa admirável, embora, segundo ele, minta um pouquinho… O que Eduardo tem de seu para asseverar que o outro falta com a verdade? O nome “Pertence” e o fato de conhecer o blogueiro desde criança…
Ah, sim, para quem não lembra: Sepúlveda Pertence é ex-ministro do Supremo Tribunal Federal e é o atual presidente da Comissão de Ética Pública da Presidência da República.
Fidalgo quer dizer “filho de algo”. Se estudarem a origem espanhola da expressão, chegarão a “hi d’algo”, que designava “home de dinheiro”, por oposição ao Zé Ninguém ao despossuído.
Eu estou entre aqueles que consideram que um dos males de Brasília — apenas um deles — é ter criado uma ilha da fantasia que protege do povo os fidalgos. O poder público se tornou algo a ser compartilhado entre “os iguais” na fidalguia. Os “diferentes” ficam na periferia: literalmente, o resto do Brasil.
Estou entre aqueles que acham que deputados, senadores, ministros de estado, ministros do Supremo, autores em geral perdem boa parte do direito que os homens comuns têm à chamada “vida privada”. Eu até poderia encher a cara e dar vexame na rua, na chuva, na fazenda ou numa casinha de sapé — embora nunca o tenha feito, que me lembre ao menos… Isso não é nem deve ser notícia. Não carrego a força de uma representação. Não recebo dinheiro público para ser um homem exemplar. Não disponho dos instrumentos de qualquer dos Três Poderes da República.
Autoridades da República têm de saber se portar — e, por óbvio, de saber beber. Aliás, como regra geral, todos deveriam ter um norte ético: “Se beber, não xingue ninguém”.
E fica aqui um convite aos coleguinhas de Brasília: comecem a contar tudo o que vocês veem em festas e restaurantes. Terá um poder saneador da República maior do que CPIs e julgamentos do Supremo.
PS – Ah, sim: Nelson Jobim também estava lá. Mas é inútil perguntar se ele viu alguma coisa.

13 de agosto de 2012
Por Reialdo Azevedo - Veja Online

QUIUSPA

 

Leio no blog do Geraldo Porci de Araújo, em 02 de Agosto de 2012, o seguinte:

“A poucos segundos da hora da verdade, os amigos repetem que José Antonio Dias Toffoli, ministro do Supremo Tribunal Federal, ainda não decidiu se participará do julgamento do mensalão.

A folha corrida do advogado recomenda aos berros que se declare impedido: quem passou quase 15 anos trabalhando para o PT, servindo a José Dirceu ou dando razão a Lula está desqualificado para julgar com isenção velhos companheiros.

A agenda das últimas semanas grita que Dias Toffoli optou por afrontar os fatos e demitir a sensatez: a seqüência de encontros com advogados de mensaleiros avisa que o mais jovem integrante do Supremo não vai cair fora do caso.

Na tarde de 25 de junho, por exemplo, ele recebeu em seu gabinete o amigo José Luiz de Oliveira Lima, que há sete anos cuida da defesa de José Dirceu. O site do STF comunicou que, como nos demais encontros mantidos com doutores a serviço dos réus, os dois trocaram idéias sobre a AP 470, codinome em juridiquês do processo que começou a ser julgado em 2 de agosto.
Se, sobrou tempo, talvez tenham evocado episódios que os juntou na mesma trincheira. Em 2005, por exemplo, quando foi contratado para tentar evitar a cassação do mandato do deputado José Dirceu, o visitante contou com a ajuda de Toffoli, que acabara de deixar o empregão na Casa Civil em companhia do chefe despejado.
No processo do mensalão, Oliveira Lima já atuou em parceria com a advogada Roberta Maria Rangel, então namorada do ministro com quem vive há quase um ano. O ministro Dias Toffoli já, julgou dois dos agravos regimentais nessa ação penal 470″, animou-se nesta segunda-feira Marcelo Leonardo, advogado do publicitário Marcos Valério. “Então, ele já se reconheceu habilitado a julgar”. O defensor do diretor-financeiro da quadrilha do mensalão teima em pleitear o impedimento do relator Joaquim Barbosa, mas nunca viu motivos para que Toffoli se afastasse. Faz sentido.

O doutor quer um ministro fora por achar que condenará seu cliente. Quer outro dentro por ter certeza de que absolverá todo mundo. Tal convicção se ampara no passado recente. Paulista de Marília, diplomado em 1990 pela Faculdade do Largo de São Francisco, Toffoli sonhava com a vida de juiz de direito.
Tentou o ingresso na magistratura nos concursos promovidos em 1994 e 199. Duas reprovações consecutivas, ambas na primeira fase dos exames, aconselharam Toffoli a conformar-se com a carreira de advogado do PT, anabolizada pela ficha de inscrição no partido. Nem um desconfiou que começaria percorrer uma curtíssima trilha que o levaria ao Supremo Tribunal Federal.

Nos anos seguintes, foi consultor jurídico da CUT, assessor parlamentar do PT na Assembléia Legislativa de São Paulo, assessor jurídico da liderança do PT na Câmara dos Deputados, subchefe para Assuntos Jurídicos da Casa Civil da Presidência e, a partir de março de 2007, chefe da Advocacia Geral da União.

Em outubro de 2009, Lula entendeu que deveria premiar com uma toga o aplicado companheiro que também chefiara a equipe jurídica do candidato nas campanhas presidenciais de 1998, 2002 e 2006. Sem saber o suficiente para virar juiz de primeira instância, Toffoli tinha 42 anos quando se viu premiado com um cargo reservado pela Constituição a gente provida de “notável saber jurídico”.

No País do Futebol, a torcida brasileira condenaria à morte na forca um treinador que ousasse transformar em titular da Seleção um jogador da categoria sub 20 reprovado, em duas tentativas de subir para o time principal.

No Brasil Maravilha, o presidente da República escalou um advogado para jogar no STF a favor do governo. Lula já deixou o Planalto, mas faz questão de ver seu pupilo em campo na final do campeonato que faz questão de ganhar. Sabe-se desde o Dia da Criação que, para ser justa, uma decisão não pode agredir os fatos. Sabe-se desde a inauguração do primeiro tribunal que toda sentença judicial deve amparar-se nos autos do processo.

Não pode subordinar-se a vínculos partidários, laços afetivos ou dívidas de gratidão.
 Caso insista em viciar o julgamento mais importante da história do Brasil com o voto que endossará a institucionalização da impunidade, Toffoli será reduzido a uma prova ambulante da tentativa de aparelhar o Supremo, empreendida durante a passagem do PT pelo coração do poder.

Em princípio, o ministro ficará onde está mais 25 anos, até a aposentadoria compulsória em 2037. A Era Lula acabará bem antes. Se errar na encruzilhada, vai percorrer durante muito tempo, e sem padrinhos poderosos por perto, o caminho da desonra. É um caminho sem volta.”

Geraldo informa que pegou este texto no blog do Augusto Nunes e não sabe o autor, só assumiu a divulgação. Mas como a análise está bem escrita, aí está, reproduzida.

13 de agosto de 2012
Magu

(1) Fotomontagem: Toffoli e José Luiz de Oliveira Lima
  1. jozsef janosek disse:
    Saudades de êpocas (desabafo) :
    O Presidente Médici tornou-se tão popular, que era festivamente aclamado quando comparecia aos estádios para assistir a uma partida. Ele gostava de futebol, todavia não era corintiano.
    Certa ocasião no Estádio do Maracanã quando prestes a iniciar-se uma importante partida, os alto-falantes anunciaram: – “Acaba de adentrar a este recinto, sua Exia, o Presidente da República – General Emílio Garrastazu Médici”. Imediatamente, 90/100 mil pessoas levantaram-se e o aplaudiram em pé, entusiasticamente.
    São recordações inesquecíveis de uma época chamada de “Ditadura”, mas, em que havia liberdade e segurança para todas as pessoas de bem. Ninguém era assaltado, sequestrado constantemente. As mulheres não eram atacadas, estupradas e assassinadas. Havia ordem, vigilância e punição para criminosos. Nossas famílias sentiam-se protegidas. Nossos filhos saiam à noite e voltavam em segurança para casa. Estudavam nas escolas e universidades públicas, em que os professores constituíam um corpo docente, coeso e competente, formando profissionais qualificados e pessoas de bem. Os proprietários rurais, não eram assaltados por nenhum movimento social-terrorista. Os fazendeiros mantinham incontestável o direito de propriedade. O campo vivia e trabalhava em paz, progredindo. Éramos todos, muito felizes. Quantas saudades daqueles Generais.
    Finalmente os brasileiros começam descobrir, que durante a “Ditadura Militar”, (que os salvou da escravidão do comunismo), eles eram felizes e não sabiam.
    Luiz José Mendonça

FALTA DO QUE FAZER

 


Posteriormente veio a se casar com um diretor do Banco Mundial e mudou-se para os EUA. E continuou a ganhar o salário pago pelo senado, na época de 12 paus, fora as horas extras, mesmo tendo se mudado sem autorização.

Bem, como o presidente daquela casa da Maria Joana era o melífluo Sir Ney, nada surpreendia. Interrogada pela imprensa, Serys saiu-se pela tangente. Depois deixou de ser senadora e o assunto caiu no esquecimento, após a aspone ter pedido licença. Sim, apenas licença.

Curioso em saber como se teria resolvido, tentei investigar e não descobri absolutamente nada. Vai ver a aspone continua lá recebendo seus caraminguás, que saem do nosso bolso.

Na coluna do Ricardo Setti, de Veja, ele comenta que, em novembro passado, Lauro Jardim informou que o projeto da flexão de gênero, para nomear a “presidenta”, era da Serys, que foi aprovado. Mas o interessante foi o fecho do comentário: “O projeto é da ex-senadora Serys Slhessarenko (PT-MT), que passou o mandato inteiro que lhe foi concedido por seus conterrâneos matogrossenses adotivos (ela é gaúcha de nascimento) preocupada com essas abobrinhas.

Terminando o mandato, candidatou-se a deputada. Não se elegeu. Bem feito. Era muita falta do que fazer, não”?

Ô glória! Precisa de 8 anos para esse povinho ver que petista só serve mesmo para isso, e a especialidade deles é sangrar o cofre da viúva. Como diz nosso coeditor Magu, em seu dístico:
meretrix partum edere rotula (1)

13 de agosto de 2012
ancião
(1) putaquepariuderoda.

RATAZANAS NO PEDAÇO

 

Esta semana li uma declaração interessante de Sílvio Sinedino, Presidente da AEPET ( a entidade dos engenheiros da Petrobrás) membro do conselho da empresa. (PresidentedaAEPET falasobreprejuízos…)

Fica claro nesta declaração que a empresa sob Graça Foster está tentando se sanear administrativamente e que de fato é a administradora está agindo com boa vontade e competência. Eu que fui extremamente cético quando de sua nomeação, pelo mero fato de ter sido escolhe de Dilma Roussef me penitencio. Graça Foster está tentando limpar as estrebarias de Áugeas (1).

Contudo o caso de Graça Foster coloca em evidência a incrível incompetência administrativa e falta de ânimo para acertar do restante do governo.

Na realidade vem à mente a expressão inglesa “like a bull in a china shop” (como um touro numa loja de porcelana), só que para esta situação talvez valha mais uma expressão que lanço aqui: “Como ratazanas num depósito de queijo”. Se as ratazanas não forem detidas comerão até o último naco de queijo.

Dilma Roussef pode até se ressentir com o time de segunda que recebeu por encomenda de Lula, mas afora destratá-los não faz nada.

Não os demite e substitui por quem siga o roteiro da Sra. Foster na Petrobrás. Parar, tomar pé da situação e alinhavar um plano, que dentro do que o governo aceitar, consiga devolver à empresa a merecida imponência e depois executar este plano. Simples não?

Caso este método de trabalho fosse estendido à nação, independente de ideologia, certamente as coisas melhorariam.
Ou seja, cabe primeiro reconhecer que temos um problema. Atualmente o governo vai retrocedendo meio ponto por meio ponto na sua admissão de um PIB de camundongo. Fontes independentes j;a enxergam 1,8% no ano. O governo ainda não chegou em 2,5%. Continua com as lentes cor de rosa do Dr. Pangloss. Depois quando precisa reconhecer mais um desastre começa a se debater como um peixe fisgado. E a culpa sempre é dos outros.

Madame! O Capitão do navio é responsável pelo erro do mais humilde taifeiro!

Que as coisas andam mal sabemos. Aparentemente as explosões de raiva da Madame estão cada vez mais freqüentes. As forças armadas não conseguem mais designar oficiais de ligação para a presidência. O cargo, normalmente de prestígio, e para o qual apenas são designados oficiais de grande futuro, passou a ser rejeitado, mesmo a custa de perda de vantagens na carreira.

Decididamente o ambiente em palácio está mais para a Rainha de Copas de “Alice no País das Maravilhas” (2)

Apesar de não ter mestrado ou doutorado é de se imaginar que no seu bacharelado a nossa Rainha de Copas tenha absorvido noções de administração. Deveria saber que não se pode administrar sem efetivamente equacionar tudo e ao tomar medidas ter uma idéia do que pode acontecer se tudo der certo, se alguma coisa der certo e se tudo der errado como uma indústria ou comércio privado precisam fazer. .

Na primeira presidência de Lula supôs-se (e isto me foi dito por amigos petistas) que Lula estaria cercado de pessoas competentes, que seria um líder, mas que os quadros da sua base de apoio teriam um grande número de pessoas qualificadas que levariam o país aos “píncaros da glória” (3)
Inclusive assisti em algum momento o sicofanta Ziraldo dando fé e pondo a mão no fogo a este respeito, numa declaração de quem evidentemente não entende nada de nada afora artes gráficas.

Na realidade montou-se um ambiente em que os ratos cuidavam do queijo. Os gatos foram enviados para casa ou então receberam alimentação forçada à base de atum e leite, a ponto de estarem gordos e desinteressados em ratos.

13 de agosto de 2012
Ralph J. Hofmann

E a Rainha de Copas, também conhecida por Madame Min agora manda em mim e em vocês.
(1) Um dos 12 trabalhos de Hércules. O Rei Áugeas tinha extensas estrebarias que nunca haviam sido limpas e acumulavam décadas de dejetos. Hércules teve de desviar o curso de um rio para que atravessasse o local e levasse todo os esterco e palha apodrecida embora.

(2) A Rainha de Copas uma mulher colérica está sempre gritando “cortem-lhes as cabeças”. Inclusive manda cortar a cabeça de Alice. Por sorte os soldados da rainha são cartas de baralho e a heroína consegue derrubá-los.

(3) Píncaro – o ponto mais alto, o topo – Na economia, escolheram nomes que figuravam nos píncaros da reputação na profissão que Hélio Beltrão chamava de “ciência da repartição da escassez”. (notícia do jornal O Estado de São Paulo de 09 de março de 2007)

O HOMEM QUE SABE DEMAIS

 

Escândalo do Mensalão? Já está sendo julgado no Supremo. Mas muito maior pode ser o escândalo que acaba de ser denunciado pelo delegado Romeu Tuma Jr., que foi secretário nacional da Justiça no Governo Lula.

Tuma acusa o Governo do PT de ser ingrato com a Polícia Federal (que está em greve) e diz, como informa o jornalista Cláudio Humberto (www.claudiohumberto.com.br):

“Após o inquérito sobre a ex-secretária da Receita, Lina Vieira, dos relatórios de inteligência cuidadosamente confeccionados contra adversários, dos dossiês não investigados e dos vazamentos seletivos, o Planalto deveria atender às reivindicações da PF sem pestanejar!”

De duas, uma: ou o delegado Romeu Tuma Jr. mente ou fala a verdade. Nos dois casos, a investigação imediata e minuciosa é essencial. Se inventa histórias, atinge a reputação da Presidência da República e da Polícia Federal. Tem de ser urgentemente desmentido, e processado, para que dúvida não reste a esse respeito.
Mas, se as acusações forem verdadeiras, mesmo que apenas em parte, estaremos vivendo no Brasil um quadro inaceitável de desordem institucional, comandada exatamente pelos que foram eleitos para defender as instituições.

As relações do delegado Romeu Tuma Jr. com o Planalto são tensas: foi secretário nacional da Justiça, caiu após denúncias de ligação com o contrabando apoiadas por interceptações telefônicas, o Conselho de Ética da Presidência nada achou contra ele.
Mas faz parte do grupo que sabe das coisas. Há que ouvi-lo.

13 de agosto de 2012
Carlos Brickmann

ADVOGADO DE JEFFERSON QUER LULA NO BANCO DOS RÉUS!

LULA ORDENOU E DIRCEU EXECUTOU MENSALÃO, AFIRMA.
O advogado de Roberto Jefferson, Luiz Francisco Barbosa, faz a sua sustentação oral. (Foto do site da revista Veja)
Na mais aguardada defesa do mensalão nesta semana, o denunciante do mais grave esquema de corrupção do governo federal, Roberto Jefferson (PTB-RJ), acusou o presidente Lula de ter “ordenado” o pagamento de parlamentares para a construção de uma base governista no Congresso Nacional.
 
Ao falar no plenário do Supremo Tribunal Federal (STF), o advogado Luiz Francisco Barbosa, responsável pela defesa de Jefferson, presidente do PTB, sustentou a tese nesta segunda-feira de que apenas Lula tinha a prerrogativa constitucional de propor projetos de lei no seu governo e que, portanto, somente ele poderia corromper parlamentares para que votassem segundo seus interesses.
Pela tese exposta por Barbosa, os então ministros lulistas José Dirceu (Casa Civil), Luiz Gushiken (Secretaria de Comunicação) e Anderson Adauto (Transportes) eram apenas executores do mensalão ou braços operacionais de Lula no esquema.
 
“Não se pode afirmar que o presidente Lula fosse um pateta, um deficiente, que sob suas barbas estivessem acontecendo essas tenebrosas transações. Tudo acontecendo sob suas barbas e nada?”, questionou o defensor. “Lula é safo, é doutor honoris causa e, não só sabia, como ordenou o desencadeamento de tudo isso que deu razão à ação penal. Sim, ele ordenou.
 
Aqueles ministros eram apenas executivos dele”, explicou o advogado.
Leia MAIS
 
13 de agosto de 2012
in aluizio amorim

"É PRECISO UM CHOQUE DE ORDEM NA EDUCAÇÃO".


http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=ZTbMkCzM9zE

Arnaldo Niskier, especialista do Imil e presidente do conselho de administração do CIEE, é enfático ao apontar a falta de qualidade da educação brasileira. O especialista alerta para a necessidade de um plano nacional de educação e afirma: “A escola pela escola não significa nada”. Assista a primeira parte da entrevista
13 de agosto de 2012

"LULA NÃO É UM PATETA. ELE ORDENOU O MENSALÃO!"

Gif Pateta 

Luiz Francisco Barbosa, defensor de Roberto Jefferson, disse hoje na barra do Supremo Tribunal Federal tudo o que já dissera para a imprensa: Roberto Gurgel não fez o trabalho que deveria fazer e Lula não era um pateta, era doutor honóris causa sobre tudo que acontecia no Mensalão.

E disse olhando para os ministros e com os olhos nos olhos de Gurgel: "O procurador-geral da República sentou em cima desses autos, não trabalhou".

Para pedir que o Supremo transformasse o processo do Mensalão em diligência para apurar a participação de Lula e processá-lo, disse que "os três ministros arrolados como coordenadores do Mensalão eram simples, meros agentes executivos de Lula".

Barbosa não disse nada que já não tivesse dito antes a quem quer que lhe perguntasse a respeito do julgamento. Desta feita, no entanto, ele o fez no plenário da maior corte de justiça do País. Na sua peroração vaticinou que, por falta absoluta de provas, "este julgamento vai ser um festival de absolvições". Já tinha dito.

DEFESA DE JEFFERSON JOGA LULA NO VENTILADOR

 

Luiz Francisco Corrêa Barbosa, advogado de Roberto Jefferson vai atirar farofa no ventilador na sala do Supremo Tribunal Federal nesta segunda-feira, um 13 de agosto que já não tem mais Olimpíada para ver na TV, só a "novela da Carminha", quando começa a anoitecer.

A bola da vez vai ser aquele que Luiz Francisco Barbosa diz que "nunca foi pateta e que sabia de tudo", ninguém mais nem menos do que Luiz Erário Lula da Silva. Trata-se de um factóide, já que Lula nunca foi visto dirigindo uma Fiat Elba. Barbosa acenderá os holofotes, mas não chegará ao fim desse caminho que escolheu para defender Jefferson.

Bastará aos ministros - desde os mais chegados aos mais renitentes - perguntarem à moda Dilma Vana: - As provas, cadê as provas, cadê?!?
Então, restarão para o nobre causídico os louros de mostrar aos brasileiros o lamaçal que eles devem evitar quando o guia de suas andanças pelo Brasil for o grande chefe dos mensaleiros que seguiam o roteiro apontado por ele.

Ainda assim, mesmo provando que o seu alvo da vez é um deslavado mentiroso, Barbosa nada conseguirá além de concluir que o Brasil é uma nação que não dá bola para essas coisas. Isso é coisa que todo mundo, mesmo sem quimioterapia, já está careca de saber.

Se a mentira fosse um esporte olímpico, o Brasil de Nuzman e sua cartolagem estaria hoje voltando de seu passeio por Londres com mais medalhas de ouro que os Estados Unidos e a China juntos. E minta para nós agora, de pés juntos, que você não sabe e nem de leve imagina quem estaria no mais alto lugar do pódio...
 
13 de agosto de 2012
sanatório da notícia

'SÓ O CHEFE NÃO SABIA'


Falando francamente, qual é a imagem que se tem de Lula? Melhor dizendo, se alguém lhe pedisse uma definição do nosso ex-presidente da República, qual daria? Diria que se trata de uma pessoa desligada, pouco objetiva, que mal repara no que se passa à sua volta? Estou certo de que não diria isso, nem você nem muito menos quem privou ou priva com ele.

“Só o chefe não sabia”, artigo do poeta Ferreira Gullar

Ao contrário de alguém desligado, que entrega aos outros a função de informar-se e decidir por ele, Lula sempre se caracterizou por querer estar a par de tudo o que acontece à sua volta e, muito mais ainda, quando se trata de questões ligadas a seu partido e à realidade política em geral.

As pessoas que o conheceram no começo de sua vida política, como os que lidaram com ele depois, são unânimes em defini-lo como uma pessoa sagaz, atenta e sempre interessada em tudo saber do que se passava na área política e, particularmente, o que dizia respeito às disputas, providências e articulações que ocorriam dentro do seu partido e no plano político de um modo geral.

Isso já antes de sua chegada ao poder. Imagine você como passou a agir depois que se tornou presidente da República. Se hoje mesmo, quando já não ocupa nenhum cargo no governo nem no partido, faz questão de saber de tudo e opinar sobre tudo, acreditaria você que, no governo, deixava o barco correr solto, sem tomar conhecimento do que ocorria? Isto é, sabia de tudo menos do mensalão?

Veja bem, hoje mesmo, alguma coisa se faz na Câmara dos Deputados ou no Senado sem o conhecimento da Dilma? Os repórteres, os comentaristas políticos estão diariamente a nos informar do controle que o Planalto exerce sobre o Parlamento.

A cada problema que surge, a cada decisão importante, Dilma convoca os líderes da base parlamentar para dizer a eles como devem agir, como devem votar, que decisões tomar. Isso Dilma, hoje. Imagine o Lula, quando presidente, mega como sempre foi, mandão por natureza. Sem dúvida que estava a par de tudo e em tudo interferia, por meio de seus paus-mandados. Dá para acreditar, então, que ele só não sabia do mensalão, nem sequer ouvira falar? Claro que você não acredita nisso, nem eu.

É evidente que Lula não podia ignorar o mensalão porque não se tratava de uma questão secundária de seu governo. Longe disso, o mensalão foi o procedimento encontrado para, com dinheiro público, às vezes, e com o uso da máquina pública, noutras vezes, comprar o apoio de partidos e os votos de seus representantes no Congresso.

Não se tratava, portanto, de uma iniciativa secundária, tomada por figuras subalternas, sem o conhecimento do chefe do governo. Nada disso. Tratava-se, pelo contrário, de um procedimento de importância decisiva para a aprovação, pelo Congresso, de medidas vitais ao funcionamento do governo. Portanto, Lula não apenas sabia do mensalão como contava com o apoio dos mensaleiros para governar.

Certamente, o leitor perguntará: por que Lula, esperto como é, arriscou-se tanto? Pela simples razão de que não desejava dividir o poder com nenhum partido forte, capaz de lhe impor condições. Como é próprio de seu caráter e de seu partido, só admitia aliança com quem não lhe ameaçasse a hegemonia.

Não estou inventando nada. Todo mundo leu nos jornais, logo após a vitória nas eleições presidenciais, que José Dirceu articulava a aliança do novo governo com o PMDB.

Só que Lula não aceitou e, em seu lugar, buscou o apoio dos pequenos partidos, aos quais não teria que entregar ministérios e altos cargos nas estatais. Em vez disso, os compraria com dinheiro. E foi o que fez, até que, inconformado, Roberto Jefferson pôs a boca no mundo.

Lula, apavorado, advertiu os seus comparsas para que assumissem a culpa, pois, se ele, Lula, caísse, todos estariam perdidos. E assim foi para a televisão, disse que havia sido traído e se safou.
Bem mais tarde, com a cara de pau que o caracteriza, afirmou que nunca houve mensalão mas, ainda assim, tentou chantagear um ministro do Supremo. Afinal, por tudo isso, recebeu o título de doutor honoris causa! Merecidíssimo, claro!

13 de agosto de 2012
FERREIRA GULLAR
Publicado na Folha de São Paulo
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