"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 12 de março de 2013

FRENESI DO ABAIXO-ASSINADO PELA INTERNET DESAFIA A CLASSE POLÍTICA

Petições atraíram mais de 3 milhões de brasileiros no último ano; organizações internacionais voltam suas atenções ao País
 
 Dois minutos. Esse é o tempo necessário para acessar um manifesto online, ler os argumentos e se tornar um apoiador. No último ano, mais de 3 milhões de brasileiros agiram dessa forma, e as duas maiores organizações mundiais de abaixo-assinados abriram filiais no País. A novidade piscou no radar da classe política, que ainda tenta aprender como lidar com esse mecanismo de pressão.
Abramovay (à esq.), da Avaaz, entrega a senadores petição contra Renan Calheiros - Dida Sampaio/AE - 20/02/2013
Dida Sampaio/AE - 20/02/2013
Abramovay (à esq.), da Avaaz, entrega a senadores petição contra Renan Calheiros
Os números são superlativos e devem acompanhar o avanço da banda larga no País - hoje disponível para 30% dos brasileiros. Dois milhões assinaram uma petição para que a Câmara dos Deputados votasse o projeto da Lei da Ficha Limpa.
Um milhão e 600 mil colocaram seu nome contra a eleição de Renan Calheiros (PMDB-AL) para presidir o Senado.
Recém-eleito para presidir a Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, o pastor Marco Feliciano (PSC-SC) já é alvo de um manifesto pela sua destituição com 280 mil apoiadores.
 O fenômeno virtual desperta desconfiança de setores da sociedade que temem que os abaixo-assinados online consolidem o "ativismo de sofá" e enfraqueçam formas tradicionais de protesto, como intervenções urbanas ou marchas em vias públicas.
Mas, para pesquisadores, a tendência é irreversível: a internet consolidou um novo espaço público para debate e formação de opiniões e, assim como provocou mudanças na cultura e na economia, também provocará transformações na política.
Para Pedro Abramovay, diretor de campanhas da Avaaz, ONG internacional de ativismo online que reúne 20 milhões de apoiadores, sendo 3 milhões brasileiros, o modelo tradicional de democracia representativa, com um voto a cada quatro anos, é insuficiente para dar conta de uma realidade na qual os cidadãos podem se conectar rapidamente em torno de um objetivo comum. "Tenho certeza de que a política nunca mais vai ser a mesma", afirma.
Abramovay cita como exemplo o ato de compartilhar uma petição no Facebook, para ele um comportamento "profundamente político" na medida em que a pessoa assume uma posição diante de seus amigos e abre espaço para contra-argumentos. "As pessoas passam tanto tempo na internet, ela é uma parte tão importante para nossas vidas, que considero despolitizador dizer que a política feita ali é menos importante", diz.
Atento ao fenômeno, o parlamento alemão desenvolveu sua própria plataforma oficial para que a população organize abaixo-assinados. Se a petição alcançar 50 mil apoiadores, os deputados são obrigados a discutir o tema. A Casa Branca, nos Estados Unidos, tem sistema parecido, o "We The People".
Lobby. A Avaaz é financiada por doações voluntárias e se define como uma ONG de defesa do interesse público, e não uma mera plataforma de petições. A entidade deleta abaixo-assinados que ferem seus princípios e aposta suas fichas em outros. Sua força vem da união dos manifestos com uma estrutura azeitada para fazer lobby. "A gente combina esse instrumento de petição online com uma equipe que tem acesso a parlamentares, que sabe fazer isso", diz Abramovay, ele mesmo um conhecedor dos meandros de Brasília: foi ex-secretário nacional de Justiça do governo Lula.
Na campanha contra Calheiros, a Avaaz visitou gabinetes de senadores e contratou uma pesquisa do Ibope, que apontou que 74% dos brasileiros seriam favoráveis à renúncia do alagoano.
Os pastores Silas Malafaia e Feliciano já avisaram que vão processar a ONG após terem petições a seu favor bloqueadas pela entidade. Contrariado, Feliciano organizou um manifesto em seu próprio site e reuniu 150 mil apoiadores. "Isso mostra que nossa atuação tem tido um efeito político grande", diz Abramovay.
Alternativa. Concorrente da Avaaz, a Change.org tem 23 milhões de usuários no mundo - sendo 400 mil brasileiros - e abriu seu escritório no País em outubro. A entidade não deleta petições, permite que duas campanhas com objetivos opostos coexistam na plataforma e afirma não fazer lobby.
"Não cabe à nossa equipe julgar o que é relevante ou não. Nossa política é confiar na transparência, para o bem e para o mal", afirma a diretora de campanhas Graziela Tanaka.
A organização é financiada pela venda de espaço em seu site para quem busca dar maior visibilidade à sua campanha, modelo similar ao adotado por Google ou Facebook.
Em dezembro, o Ministério Público do Estado de São Paulo hospedou na Change.org um dos primeiros abaixo-assinados promovidos por uma instituição pública no País. O manifesto, contrário à aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 37, que retira o poder de investigação criminal dos promotores, obteve 40 mil assinaturas.
"Se não atingir a imagem do político, ele não vai se mexer. Nesse ponto, os abaixo-assinados podem ter êxito", afirma o professor Jorge Machado, coordenador do Grupo de Pesquisa em Políticas Públicas para o Acesso à Informação da USP.
Ele alerta, no entanto, que as campanhas online tendem a cair no esquecimento com facilidade, pois estão intimamente ligadas ao impacto de uma notícia. "É diferente do que levar dois ônibus de manifestantes para a Câmara. Mas uma não exclui a outra", afirma.
Legislação. O senador Pedro Taques (PDT-MT) anunciou que apresentará, nos próximos dias, uma PEC para incorporar as petições online ao processo legislativo.
Batizado de Medida de Urgência Popular, o mecanismo pretende impor regime de urgência a projetos de lei que tiverem o apoio de um porcentual do eleitorado - o número exato ainda não foi definido.
"Precisamos criar um login cidadão para que as pessoas possam participar", diz Taques. Segundo ele, a Justiça Eleitoral seria responsável pelo desenvolvimento de um sistema online que garanta a autenticidade das petições.
12 de março de 2013
BRUNO LUPION - O Estado de S.Paulo

... MAS NÃO SE PODE ENGANAR TANTA GENTE, TODO O TEMPO.

Dilma e o parceiro Renan Calheiros são alvos de protestos em visita a Alagoas
 
A presidente da República, Dilma Rousseff, e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB), foram alvo de protestos durante cerimônia em Água Branca, no sertão de Alagoas, a 296 km de Maceió.

Dilma visitou o município para inaugurar um trecho do Canal do Sertão, obra que se arrasta desde 1992.

A presidente discursou durante pouco mais de 26 minutos sob o som de apitos.

Manifestantes, que disseram não pertencer a nenhum grupo político, carregavam faixas e cartazes com dizeres como "Dilma, traidora. De oprimida a opressora", "Dilma, seja bem vinda à terra do coronel", "Honestamente, nunca se mentiu tanto".

Roberto Stuckert Filho/Divulgação/PR
Dilma Rousseff posa para foto com sertanejos durante visita a Água Branca (AL)
Dilma Rousseff posa para foto com sertanejos durante visita a Água Branca (AL)

Os manifestantes também gritavam "Alagoas, pior Estado do Brasil" e "Alagoas, Estado de ladrão".

"A gente protesta contra essa mentira porque a gente sabe que esse canal vai servir para a agroindústria", disse o professor José Londe, um dos manifestantes.

Ele fez críticas diretas a Dilma e Calheiros. "Renan Calheiros, que representa Alagoas no Senado é um verdadeiro sanguessuga. Dilma deixou a luta, abraçou o capital internacional e o capital nacional. A Dilma é uma vergonha para o Brasil", disse o professor, que era apoiado por outros cerca de 15 manifestantes.

O governador de Alagoas, Teotônio Vilela Filho (PSDB), também foi vaiado e pelo menos um dos cartazes era contra ele. "Téo, se o papa conseguiu, você também consegue. Renuncie!!!".

Protestos também foram realizados antes da chegada da presidente. Duas rodovias foram bloqueadas pela população que pedia a pavimentação de um trecho de BR-316.

Em seu discurso, a presidente prometeu pavimentar o trecho da estrada.

Agricultores também protestaram. Eles colocaram cabeças de gado na estrada, na entrada da cidade, e distribuíram um manifesto pedindo o perdão das dívidas que têm com o Banco do Nordeste

12 de março de 2013
DANIEL CARVALHO
ENVIADO ESPECIAL A ÁGUA BRANCA (AL) - Folha Online


NOTA AO PÉ DO TEXTO

Eles ainda acreditam que o povo é gado... É apenas uma canção do Zé Ramalho, D. Dilma e Seu Renan... Não adianta soprar no berrante não... O povo anda meio disperso e tá ficando difícil continuar com a enrolação, mesmo com as bolsas de fome que o governo joga no tabuleiro eleitoral. Curral de eleitor já está um pouco fora de moda.
m.americo

 

GANGUE DE LULA IMPEDE NO SENADO CONVOCAÇÃO DE MARCOS VALÉRIO

Operador do mensalão falaria sobre as suspeitas de que o Banco do Brasil desviou recursos e engordou o caixa do Partido dos Trabalhadores

DE OLHO NO PASSADO - Preso duas vezes desde que eclodiu o escândalo, o empresário Marcos Valério hoje despreza e teme os mensaleiros que ajudou
Valério foi condenado há mais de 40 anos pelo esquema do mensalão (Paulo Filgueiras/D.A.Press)
Com a atuação orquestrada de senadores do PT, a Comissão de Meio Ambiente e Fiscalização e Controle do Senado derrubou nesta terça-feira um pedido para que o empresário Marcos Valério, operador do mensalão, prestasse esclarecimentos sobre as suspeitas de que o Banco do Brasil teria desviado recursos e engordado o caixa do Partido dos Trabalhadores.
Em depoimento ao Ministério Público em setembro do ano passado, Valério informou que dirigentes do banco público definiram, a partir de 2003, que as agências de publicidade que prestavam serviços à instituição deveriam pagar propina. Conforme Valério, 2% do valor de todos os contratos eram enviados para o caixa do PT. No mesmo depoimento, o operador do mensalão já havia informado que parte dos recursos do esquema criminoso foram utilizados para pagar “despesas pessoais” do então presidente Lula.
Em uníssono, durante a reunião da Comissão de Meio Ambiente e Fiscalização e Controle, os senadores petistas tentaram desqualificar as informações prestadas por Marcos Valério à procuradoria-geral da República e afirmaram que o caso estaria esgotado porque o Supremo Tribunal Federal (STF) já julgou os réus do mensalão. Os parlamentares do PT omitiram, no entanto, que as novas revelações de Valério foram trazidas à tona em reportagem do jornal O Estado de S. Paulo em dezembro, quando o STF já havia condenado os mensaleiros e apenas deliberava sobre a dosimetria das penas.
Apesar das declarações de Valério dadas ao Ministério Público se restringirem ao governo Lula, o senador Jorge Viana (PT-AC), por exemplo, disse que o operador do mensalão deveria explicar as origens do esquema conhecido como valerioduto mineiro, que envolve suspeitas de desvio de recursos de estatais de Minas Gerais para a campanha à reeleição do então governador Eduardo Azeredo (PSDB-MG). “Para muitos brasileiros seria interessante que Marcos Valério contasse como esse processo [do mensalão] se institucionalizou na vida partidária do país, muito antes do governo do PT”, opinou o senador.
Para o senador Anibal Diniz (PT-AC), que também rejeitou o requerimento para ouvir Marcos Valério, o parlamento não deveria dar voz a um condenado pelo STF. “Não vejo sentido algum trazer para o Senado Federal um personagem que já foi julgado, condenado, e que já teve toda oportunidade do mundo para dizer tudo o que tinha para dizer”, afirmou. Diniz não fez referência, porém, a seu correligionário José Genoino (PT-SP), que condenado no mesmo processo do mensalão, foi abrigado pelo partido e empossado deputado federal.
“Há condenados no mesmo processo que estão na Câmara dos Deputados, seus correligionários do PT”, provocou o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), que subscreveu o requerimento para ouvir o operador do mensalão no Senado.
12 de março de 2013
Laryssa Borges - Veja

SEPARE O DO LADRÃO, PARA A SUA SEGURANÇA. NÃO DÊ CHILIQUE... DÊ DINHEIRO!

Polícia de Jaques Wagner recomenda cidadão "satisfazer o ladrão"
 
Polícia da Bahia recomenda cidadão a andar com dinheiro para 'satisfazer o ladrão'


  • Site da Secretaria de Segurança da Bahia recomenda que cidadão carregue dinheiro para o ladrão
    Site da Secretaria de Segurança da Bahia recomenda que cidadão carregue dinheiro para o ladrão
Uma recomendação para casos de assalto, feita pela Polícia Civil da Bahia, está causando polêmica no Estado. Segundo o site do órgão, que publicou um link com "Dicas / Como agir em caso de assalto", as vítimas deveriam andar com dinheiro para "satisfazer" um possível assaltante.
 "Carregue um pouco de dinheiro (para satisfazer o ladrão), mas poucos cartões", diz a sexta dica da página, publicada no site da polícia e da SSP (Secretaria de Segurança Pública).
 A recomendação, que havia passada despercebida, foi divulgada pelo blog "Bahia Notícias", nesta terça-feira (12), e rapidamente foi retirada do ar pela polícia, o que não impediu que internautas criticassem nas redes sociais a "dica oficial".
 "Não dê risada, não, é serio. É assim que a polícia baiana trabalha: manda tu levar um trocado pra satisfazer o ladrão", disse Silas Reis. "E se não tiver dinheiro?", questionou Emerson Arraes. "Mais uma da série: pense num absurdo?!", escreveu Júlio Porto.
 O caso também teve repercussão na Assembleia Legislativa. A Comissão de Direitos Humanos e Segurança Pública aprovou, na manhã desta terça-feira, um requerimento convidando o secretário de Segurança Pública da Bahia, Maurício Barbosa, a prestar esclarecimentos sobre a orientação e para falar sobre o crescimento da violência no Estado.
 Opositor do governo, o vereador Leo Prates, vice-líder do prefeito ACM Neto e líder do DEM na Câmara Municipal, sugeriu a criação de um "imposto ladrão" e disse que "isso mostra a falência da segurança pública na Bahia".
 Retirado do ar
 Após a polêmica, o delegado-geral da Polícia Civil da Bahia, Hélio Jorge Paixão, informou, em nota, que já determinou, na manhã desta terça-feira, "a retirada temporária do link Dicas de Segurança do site da Polícia Civil, que também era postado na homepage da Secretaria da Segurança Pública".
 Ainda segundo o órgão, as "informações ali contidas, postadas há mais de cinco anos, vão passar por revisão e atualização".
12 de março de 2013
Carlos Madeiro - UOL

DESONERAÇÃO DA CESTA BÁSICA? E O ESCÂNDALO DE AUMENTOS DE ALIMENTOS?

Desoneração da cesta básica já foi compensada pelo aumento do preço dos alimentos nos últimos meses

Anestésico do pensamento – A desoneração da cesta básica no âmbito dos tributos federais continua sendo um mistério, o que não significa que deixa de existir como ferramenta eleitoral de Dilma Rousseff, que já trabalha pela reeleição.
Na segunda-feira (11), Guido Mantega reuniu-se com empresários do setor de alimentos e representantes de supermercadistas, na sede do Ministério da Fazenda, em Brasília, na tentativa de antecipar o repasse ao consumidor do valor correspondente aos impostos que o governo federal deixará de arrecadar, montante estimado em R$ 7,3 bilhões por ano.
Essa bondade palaciana não sairá de graça ao contribuinte, assim como já acontece com a redução de tarifa de energia elétrica, projeto que arrancará dos cofres federais R$ 8,5 bilhões ao ano para indenizar as empresas geradoras.
Considerando que o governo de Dilma Rousseff está paralisado há dois anos mesmo com seguidos recordes de arrecadação, não é preciso qualquer esforço do raciocínio o que acontecerá com o Brasil nos próximos anos sem alguns bilhões de reais no caixa palaciano. Em outras palavras, Dilma decidiu colocar mais água no feijão da incompetência oficial.
É importante destacar que a medida anunciada no Dia Internacional da Mulher não aconteceu porque a presidente pensou na população menos favorecida financeiramente, que hoje integra a classe média inventada por Lula, mas apenas porque o governo está atrás de um antídoto para a inflação.
Como os alimentos continuam como o vilão do mais temido fantasma da inflação, os gênios petistas decidiram atacar a consequência, deixando a causa para um dia qualquer.
De nada adianta essa pirotécnica isenção de impostos depois que o preço da cesta básica disparou em 2012. O suposto benefício não conseguirá repor ao cidadão o poder de compra de um ano atrás, corroído vorazmente pela inflação.
O que o governo deveria fazer, mas não faz, é promover mudanças no sistema tributário e investir em infraestrutura, o que certamente contribuiria para o crescimento da economia e baratearia uma infinidade de produtos e serviços.
Tão logo barrou a desoneração da cesta básica em setembro do ano passado, apenas porque se tratava de um projeto da oposição, Dilma Rousseff criou uma comissão para estudar o tema e criar um projeto de impacto político.
Como no capitalismo ninguém madruga para jogar dinheiro pela janela, os preços dos alimentos não subiram assustadoramente nos últimos meses por mero acaso. Depois da alta premeditada, os produtos entraram em promoção. O próximo passo do governo será ressuscitar os “fiscais do Sarney”.
Resta saber até quando o governo continuará enganando a opinião pública com medidas, pontuais, atrasadas e inócuas. Fosse o brasileiro avesso à acomodação, o Palácio do Planalto a essa altura já estaria cercado. Sonhar custa nada e não tem carga tributária.
12 de março de 2013
ucho.info

O PARKINSON BUROCRÁTICO (DE DILMA ROUSSEFF)


 
O governo vai criar o 39° ministério para, mais uma vez, acomodar interesses políticos, ampliando a já gigantesca máquina administrativa, que custa 212 bilhões de reais por ano ao contribuinte. Enquanto isso, por erro, incompetência e inoperância...

A produtora rural Maria Holanda, retratada na imagem desoladora que ilustra esta reportagem, faz parte do enorme grupo de brasileiros diretamente atingidos pela doença de Parkinson, endêmica na máquina estatal brasileira.

Não há metáfora aqui. Devemos ao inglês Cyril Northcote Parkinson a mais notável e mais amplamente aplicável explicação para a lógica cruel das burocracias. Mister Parkinson baseou-se no serviço britânico para as colônias.

Como se sabe, com o fim da II Guerra Mundial, o Império Britânico foi desfeito. Adeus às colônias. Adeus também à burocracia que cuidava das colônias? Não. Nada disso. O número de burocratas do departamento continuou a crescer mesmo sem haver mais colônias para administrar. Mister Parkinson então formulou sua lei de três artigos:

1) uma repartição pública crescerá sempre de tamanho, a despeito do volume do trabalho a ser feito;

2) os burocratas cuidam de arranjar trabalho uns para os outros;

3) o burocrata procura multiplicar o número de subordinados, mas não o de rivais.

Em 1986, quando era secretário-geral do Partido Comunista soviético, Mikhail Gorbachev consolou o colega italiano que reclamava do inchaço da burocracia em seu país: "A Lei de Parkinson funciona em todos os lugares". No Brasil, com toda a certeza, ela tem um grande passado, um presente opressor e um futuro, se nada for feito, ruinoso para o país.

Que o diga Maria Holanda, moradora de Banabuiú, no sertão cearense, que testemunhou a morte de trinta cabeças de gado de seu pequeno rebanho.
Mais animais vão morrer simplesmente porque os burocratas do governo não se lembraram de recompor os estoques de milho, grão essencial para alimentar bois e vacas nas temporadas de seca.

O erro já matou 6 milhões de cabeças no Nordeste, o que corresponde a 20% do plantel da região. "Água a gente tinha, mas meu gado morreu foi de fome mesmo. O milho do governo não chegou aqui", diz Maria. O gado está morrendo por negligência, incompetência e morosidade, subprodutos da Lei de Parkinson.

Em 2011, havia 4,7 milhões de toneladas de milho nos armazéns oficiais. Quando os fornecedores privados aumentaram o preço do produto, o governo reagiu e vendeu parte de seu estoque. Uma medida destinada a conter a carestia e, portanto, correta.

O problema é que o governo não parou mais de vender. Hoje, existem menos de 300.000 toneladas estocadas no Brasil, faltam grãos para os produtores e sobram carcaças de animais.

Um quadro crítico conhecido há tempos, mas ainda pendente de solução. Em maio de 2012, a própria Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura defendeu a compra de 2,5 milhões de toneladas de milho.

Não foi atendida. Em novembro, cinco associações de produtores de frango enviaram carta à ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, reclamando do fato de estarem reféns dos fornecedores privados, que cobram o triplo, inviabilizando a criação.

A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) reforçou o alerta à Casa Civil. Em janeiro, o governo editou uma medida provisória autorizando a compra de milho para o Nordeste.

Os agroburocratas brasileiros só tiveram pressa em arranjar trabalho uns para os outros e, quem sabe, contratar mais alguns colegas. Até hoje o milho não apareceu. Assim como ocorreu no caso das colônias inglesas, o fato de não haver milho não significa que as repartições encarregadas de fazer estoques do grão deixaram de inchar.

Uma máquina estatal quase totalmente devotada a si mesma é, atualmente, o maior gargalo da vida produtiva brasileira. Será que a troca do ministro da Pesca significa que a produção de peixe no Brasil vai aumentar?

Não ocorre a nenhuma pessoa de posse de suas capacidades mentais achar que sim. Por acaso vai sair do chão 1 tonelada a mais de minério de ferro se isso depender do Ministério de Minas e Energia? Óbvio que não.
A produtividade da soja brasileira aumentaria tanto - como aumentou - se isso dependesse dos ministérios da Agricultura e dos Transportes?

Ao contrário, o Brasil, provavelmente, teria a soja de produção mais cara do mundo. Os telefones celulares serão mais eficientes e mais baratos em virtude do expediente de 9 às 19 do ministro das Comunicações? A resposta também é não - e será não, com raríssimas exceções, sempre que se indagar se a troca ou manutenção de um ministro resultou em algum saldo positivo para a população brasileira.
Essa é a lógica implacável da burocracia nacional. Mister Parkinson deve estar rindo no túmulo. Aqui a burocracia só cresce, enquanto nada muda nos péssimos e caros serviços prestados. A fatura para manter a Presidência e os ministérios funcionando será de 212 bilhões de reais em 2013, considerando-se salários e outras despesas de custeio, como viagens, alimentação e material de escritório.

O custo é enorme e o retorno, pífio. O Tribunal de Contas da União (TCU) mostrou que trechos recém-concluídos da Ferrovia Norte-Sul, que nem sequer foram utilizados ainda, apresentam risco real de descarrilamento em curvas acentuadas.

Ou seja, o serviço terá de ser refeito, encarecendo uma obra que já consumiu, no total, 8 bilhões de reais. Há falhas claras de gestão, mas elas servem de nuvem de fumaça para um problema ainda maior: a função principal dos ministérios deixou de ser gerencial. As pastas se tornaram trunfos para a costura de acordos políticos e moedas de troca usadas para acomodar aliados, cooptar antigos adversários e formar grandes alianças eleitorais.

Eleita com fama de gestora eficiente, Dilma até cogitou desmontar aos poucos essa engrenagem. Agora, de olho na reeleição, dá sinais de que vai encorpá-la. Como a própria presidente disse na semana passada: "Podemos fazer o diabo quando é a hora da eleição".

Nos próximos dias, Dilma anunciará mudanças no ministério - todas destinadas a lhe dar musculatura eleitoral. Dono da quarta maior bancada da Câmara, o PSD assumirá o comando do Ministério da Micro e Pequena Empresa, cuja criação foi aprovada na semana passada. Com a medida, a presidente quer amarrar o PSD à base governista e à sua futura campanha.

Será o 39° ministério do país. Antes, Dilma já instituíra a Secretaria de Aviação Civil, que trabalha no desenho da concessão dos aeroportos à iniciativa privada. Com status de ministério, essa secretaria é comandada por um técnico, que agora deve ser substituído por um político indicado por PMDB, PSD ou PR.

"O problema é o ingrediente político misturando-se com a economia e trazendo os seus custos para ela. O resultado é simplesmente desastroso"", diz Carlos Rodolfo Schneider, coordenador do Movimento Brasil Eficiente (MBE).
Ele lembra que o aumento das despesas de custeio impede o país de investir mais, gerar novos empregos e destravar a economia.

Essa é só a moeda republicana da história. Há a outra face, a da corrupção, a dos partidos que se apoderam das pastas e fazem delas fontes clandestinas de financiamento eleitoral.

Dilma já demitiu sete ministros denunciados por irregularidades diversas. Nas discussões sobre a reforma ministerial, a presidente tem sobre a mesa uma proposta destinada a reacomodar no Ministério dos Transportes os caciques do PR, partido de lá desalojado por denúncias de corrupção. Qual a razão do recuo?

Dilma quer montar a maior coligação eleitoral de uma campanha presidencial em 2014, superando a marca de dez partidos registrada em 2010. Para tanto, é preciso alojar os aliados na administração. Hoje, dezesseis siglas apoiam o governo no Congresso.

"No Império, havia dez ministros. Hoje, com trinta partidos registrados, é preciso saciar muito mais gente", diz o cientista político Octaciano Nogueira, professor da Universidade de Brasília (UnB).

Sufocada pela Dilma candidata, a Dilma gestora se incomoda tanto com o hiperministério que nem o reúne mais. Ela sabe que qualquer assunto discutido em um colegiado tão grande não sai do papel. "Um governo com 39 ministérios demonstra que não tem senso de prioridade", diz Luiz Felipe d"Ávila, diretor do Centro de Liderança Pública (CLP).
A não ser, é claro, se a prioridade for eleitoral. A Lei de Parkinson, como dizia Gorbachev, funciona em todos os lugares.

CLIQUE NA IMAGEM PARA AMPLIAR









12 de março de 2013
Veja

GOVERNO AUTORIZA REAJUSTE NO PREÇO DE MEDICAMENTOS

Remédios sofrerão reajuste em 30 de março

; inflação acumulada pelo IPCA entre março de 2011 e fevereiro de 2012 deverá ser utilizada para o cálculo


 
O governo, por meio do Conselho de Ministros da Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED), autorizou, nesta terça-feira, 12, reajuste de preços de medicamentos a partir de 30 de março. O ajuste deverá adotar como referência o Preço Fabricante usado a partir de 31 de março de 2012.
Deverá ser utilizado para a formação dos preços o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), acumulado no período de março de 2011 até fevereiro de 2012.
Após a publicação oficial do IPCA de fevereiro de 2013, que ficou em 0,60%, a CMED editará resolução específica sobre a forma de definição do Preço Fabricante e do Preço Máximo ao Consumidor dos medicamentos e da forma de apresentação de Relatório de Comercialização pelas empresas produtoras, destaca a resolução publicada no Diário Oficial da União (DOU).
12 de março de 2013
LUCI RIBEIRO - Agencia Estado

LINDBERGH ARTICULA CRIAÇÃO DO PARTIDO SOLIDARIEDADE. FACÇÕES LULISTAS EM GUERRA

Senador encampa projeto de Paulinho da Força, do PDT, e cria saída de emergência para sua candidatura ao governo em 2014, não garantida pelo PT
 

Pré-candidato petista ao governo do Rio, Lindbergh Farias faz corpo a corpo em Japeri
Pré-candidato petista ao governo do Rio, Lindbergh Farias faz corpo a corpo em Japeri (Cecília Ritto)

Discretamente, como manda a prudência, o senador petista Lindbergh Farias ganhou status de forte articulador, no Rio de Janeiro, para a criação do Partido Solidariedade, projeto de Paulinho da Força, do PDT.

Autoproclamado candidato ao governo do Rio em 2014, numa disputa que já o põe em linha de colisão com a aliança PT-PMDB no estado, Lindbergh opera a coleta de assinaturas para propor a fundação da nova sigla.

A leitura óbvia é de que, caso perca a queda de braço com o partido, diante de uma postura do PT de apoiar o peemedebista Luiz Fernando Pezão e garantir palanques para Dilma Rousseff no ano que vem, Lindbergh não ficará na chuva.

O trabalho é feito nos bastidores, mas não a ponto de o próprio Partido dos Trabalhadores ou o PMDB ignorarem a iniciativa. Com sutileza, o pré-candidato ao governo mede forças com a executiva nacional. Dado o estado de amadurecimento do projeto de Lindbergh, que na semana retrasada iniciou sua caravana da cidadania” em versão estadual, retroceder não parece mesmo uma opção. O obstáculo a ser vencido, no entanto, não é pequeno.

Os peemedebistas não trabalham com a possiblidade de retirar o Pezão da corrida ao Palácio Guanabara, e pedem à executiva nacional do PT que o senador saia da disputa em nome de um palanque único no estado para a campanha pela reeleição de Dilma.

A campanha do PMDB também começou, com inserções na TV, no Youtube, no Facebook e, claro, em todo e qualquer espaço que Pezão possa ocupar – entre eles, no momento, a campanha contra a mudança na distribuição dos royalties do petróleo, liderada em Brasília pelo vice-governador.

Apesar de o PT do Rio ter afirmado em diversas oportunidades que teria candidato próprio ao governo, ainda não foi batido o martelo sobre o lançamento de Lindbergh. O PT fluminense tenta mostrar poder de fogo, com o propósito de deixar de ser satélite do PMDB no estado. Contra o ‘grito de independência’ pesa o fato de, na última década, o PT do Rio não ter se renovado nem criado alternativas que o ponham em condição de exercer protagonismo – fora, claro, o próprio Lindbergh.

PT e PMDB fluminense têm faturas a cobrar. Pelo lado dos peemedebistas, há uma lista de serviços prestados ao longo do governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Pelo PT, há um histórico de passagens para o acostamento: em 2010, o senador foi convencido por Lula a não se lançar ao governo para que os dois partidos permanecessem unidos. E, assim, Lindbergh tentou – e conseguiu – o cargo de senador na chapa que tinha Cabral como o candidato à reeleição ao governo.

A empreitada em favor de Paulinho da Força é a segunda ‘saída de emergência’ à disposição de Lindbergh. A primeira delas, para o caso de o PT não comprar seu projeto, está na possibilidade de tentar a sorte no PSB, montando um palanque importante para Eduardo Campos no Sudeste. A contrapartida pela aproximação com o PSB e com o Solidariedade também está desenhada: no caso de conseguir manter a candidatura pelo PT, são fortes as chances de levar os dois partidos na coligação para enfrentar a máquina de Cabral e Pezão.

12 de março de 2013
Cecília Ritto, Veja

FALKLAND QUEREM DISTÂNCIA DOS "FASCISTAS ASSASSINOS", COMO DIRIA THATCHER

Ilhas Malvinas/Falkland: Argentina desrespeita vontade esmagadora dos habitantes de continuarem sendo britânicos, expressa em referendo.
O que quer o governo de Cristina? Outra guerra — para perder de novo?


Cidadãos das Malvinas/Falkland comemoram o resultado do referendo que os mantêm como cidadãos britânicos (Foto: Reuters)

Já era esperada, mas ainda assim não tem cabimento a reação do governo argentino ao referendo absolutamente livre realizado entre os habitantes das Ilhas Malvinas — ou Falkland, segundo os britânicos — para saber se eles eram ou não a favor de continuar sendo território ultramarino britânico.

Nada menos do que 99,8% dos eleitores votaram por manter a cidadania britânica. No total, 92% dos 1.672 habitantes aptos a votar participaram do referendo. Apenas três pessoas votaram contra.

O percentual parece o resultado daquelas eleições fajutas outrora realizadas por ditaduras árabes e africanas, em que sempre o ditador de plantão obtinha 99%, no mínimo, dos votos, mas, diferentemente delas, foi um exato espelho do que desejam os kelpers, habitantes das Malvinas/Falkland, em grande maioria descendentes de ingleses e escoceses, e, em pequeno percentual, de chilenos.

Embora não se conheça outra forma melhor, mais democrática e mais pacífica de resolver a quem pertence determinado pedaço de território do mundo que não seja consultando seus habitantes, o governo encrenqueiro da presidente Cristina Kirchner deu um jeito de descartar a manifestação dos moradores antes mesmo do anúncio oficial do referendo.

Considerou-o uma “tentativa britânica de manipular” e reiterou que “não acabará com a disputa pela soberania”.

A embaixadora argentina em Londres, Alicia Castro, qualificou o referendo de “uma manobra sem nenhum valor legal, pois não foi convocado nem supervisionado pelas Nações Unidas”.

Manipular, como, cara-pálida? Qualquer visitante das Falkland/Malvinas sabem que seus habitantes querem ver o governo argentino tão longe quanto possível. A consulta popular foi livre, correta e acompanhada por observadores internacionais, alguns deles latino-americanos.

Quanto a ser uma “manobra” sem “nenhum valor legal”, é evidente que a Grã-Bretanha não poderia pedir à ONU que interviesse em sua soberania e organizasse um referendo num território que é seu há 180 anos. Por acaso será a ONU a responsável pelo plebiscito que, no ano que vem, decidirá se a Escócia prosseguirá ou não sendo parte do Reino Unido?

O primeiro-ministro David Cameron, como é lógico, reagiu satisfeito ao resultado, dizendo que “os habitantes das Falklands não podiam falar de maneira mais clara. Querem continuar sendo britânicos e todo o mundo, incluindo a Argentina, deveria respeitar este ponto de vista”.

Diante do falar grosso que já levou a Argentina a uma derrota esmagadora na guerra de 1982 contra o Reino Unido, Cameron lembrou: “As Ilhas Falkland podem estar a milhares de milhas de distância, mas são britânicas até a medula e isto é o que desejam continuar sendo. As pessoas têm de saber que sempre estaremos aqui para defendê-las”.

Situadas a pouco mais de 400 quilômetros das costas argentinas e a 12.700 quilômetros de Londres, as Malvinas/Falkland eram inicialmente desabitadas e já foram reivindicadas por cinco diferentes países. Estão sob controle britânico desde 1833. A Argentina só teve soberania sobre as ilhas durante três anos.
 
Logística - O referendo, que ocorreu em um inóspito território de 12.000 quilômetros quadrados, foi um desafio logístico. Cerca de 80% dos 2.563 residentes do arquipélago vivem na capital Port Stanley, mas muitas centenas habitam zonas distantes, em áreas criadoras de ovelhas ou vilarejos remotos. 
Para que todos votassem, foram abertos quatro colégios eleitorais fixos (um em Stanley e outros três em vilas) e urnas foram levadas pelas ilhas de avião ou em veículos com tração nas quatro rodas. Observadores internacionais, alguns deles da América do Sul, acompanharam a votação.

O governo argentino disse claramente que o referendo não encerra questão alguma sobre as Malvinas/Falkland e que “em 20 anos” as ilhas deixarão de ser britânicas. Será que pensam em uma nova guerra — para perder de novo?

12 de março de 2013
Por Ricardo Setti - Veja Online

O PÓS-PT

 

Nos preparativos para a campanha presidencial do próximo ano, cujos primeiros passos já começam a ser dados, o PPS, uma pequena sigla partidária, destaca-se na tentativa de aglutinar as forças do que chama de “esquerda democrática” em torno de um projeto para derrotar “esse bloco que está aí no governo”.

O partido fará em abril uma reunião para a qual já foram convidados três dos prováveis candidatos a adversários da reeleição da presidente Dilma Rousseff — Eduardo Campos, Aécio Neves e Marina Silva — e mais o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o ex-governador de São Paulo José Serra.

O PPS encontra-se numa posição peculiar dentro das negociações oposicionistas, podendo servir de abrigo à candidatura de Marina Silva caso ela não consiga montar a tempo sua REDE, como também é visto como um possível parceiro do governador de Pernambuco Eduardo Campos.

A possibilidade mais remota é a que sempre foi a opção quase automática do PPS, apoiar o candidato do PSDB, que deve ser o senador Aécio Neves. Isso porque a ligação política de Freire no PSDB é com José Serra, que estaria insatisfeito com os rumos que a direção nacional do PSDB estaria dando à definição do candidato em 2014.

Há ainda quem veja a possibilidade de Serra entrar para o PPS e vir a disputar novamente a Presidência da República, ou até mesmo aceitar formar como vice uma chapa com o governador pernambucano, mas essa seria uma opção bastante remota para quem sempre quis ser Presidente.

Esse movimento do PPS não é novo. O hoje deputado Roberto Freire pensa há muitos anos em unir os políticos ligados ao que chama de “esquerda democrática” para um projeto político comum. No final de 2003, depois da vitória de Lula à Presidência, Freire teve um encontro com Fernando Henrique em Providence, nos Estados Unidos, onde o ex-presidente lecionava na Universidade Brown.

Já naquele tempo ele citava o PSB como um parceiro provável, e via como possível uma aproximação com o PT que, acreditava, estava fazendo o seu “aggiornamento” (processo de atualização que o Partido Comunista Italiano fez em 1991, mudando de nome e abandonando o marxismo), depois de chegar ao governo e encarar realidades inescapáveis como a reforma da Previdência, que o governo Lula levou adiante nos seus primeiros momentos.

Antes, quando estava na oposição e esses assuntos afloravam na esquerda, “eram por eles desqualificados”, lembrava Freire na ocasião. Os dois relembraram na conversa que o PT classificava o PSDB de direita, mas assumira a agenda do governo Fernando Henrique “porque essa é a agenda de uma esquerda moderna”.

Freire lembrou na ocasião que “a esquerda no mundo fez esse debate”, e dava os exemplos de Felipe González e o PSOE na Espanha, do Partido Comunista Italiano e do próprio Partido Comunista Brasileiro, do qual é originário o PPS: “Nós do velho Partidão fizemos essa transição, com uma série de dificuldades, com traumas, com perdas, mas fizemos”.

Também o então deputado federal Fernando Gabeira, que se desligara do PT por discordar da política de meio ambiente do governo, constava dos planos do PPS para uma união de forças políticas. Já naquela ocasião Freire estava convencido de que a esquerda democrática não se representa totalmente nos partidos, e dava exemplos de dentro do PMDB, como o então governador de Pernambuco, Jarbas Vasconcelos, que hoje está apoiando o projeto de Eduardo Campos.

A ideia de “reforçar as convergências” já estava clara para ele, que, no entanto, acreditava que o que chegara ao poder era “um novo PT”.

Hoje, dez anos depois, está convencido de que o PT nunca esteve disposto a interagir com as demais forças democráticas da esquerda, mas apenas manter-se no poder, para isso fazendo alianças com forças políticas fisiológicas.

A eleição de 2014 está se desenhando como uma possibilidade de união de diversos segmentos partidários para definir uma era pós-PT, e essa é a principal motivação que, por enquanto, une os diversos candidatos que se contrapõem à reeleição de Dilma.

12 de março de 2013
Merval Pereira, O Globo

O FUTURO DO CHAVISMO

 

Estigmatizado por uns como líder totalitário por violar as liberdades individuais, subjugar o Legislativo e o Judiciário, deixar a economia devastada pelo populismo e pela incompetência da gerência e exaltado por outros como líder carismático que ampliou a participação popular, democratizou o pais com profundas mudanças na vida politica e econômica, Chávez, não foi nem plenamente democrata, nem plenamente autoritário.

O chavismo, como movimento politico interno, deverá continuar. Chávez — transformado em mito — estará para a Venezuela assim como Perón está para a Argentina: eternamente cultuado, a exploração de sua imagem garantirá a continuidade de uma liderança renovada com nuances e mudanças que a conjuntura determinar.


Chávez defendeu no hemisfério um modelo alternativo de desenvolvimento econômico e político com forte viés antiamericano, criando uma aliança com Equador, Bolívia, Nicarágua, El Salvador no que chamou de Alba (Aliança Bolivariana das Américas).

Não creio que a sombra de Chávez possa ser tão longa como a de Che Guevara ou Fidel. Mesmo que Maduro e o equatoriano Rafael Correa tentem manter viva a chama bolivariana, depois de algum tempo as ideias da Revolução Bolivariana, respaldadas pela força do petrodólar, tenderão a desaparecer.

É incerto o destino dos programas de assistência financeira e de petróleo a preços subsidiados, em especial a Cuba, que recebe mais de US$ 7 bilhões por ano. Não será surpresa uma gradual distensão nas relações com os EUA.Apesar das resistências de setores industriais quando da entrada da Venezuela no Mercosul, não é de se esperar que haja retrocesso no processo de integração com Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai.

Os três governos brasileiros (FHC, Lula e Dilma) que tiveram de tratar com Chávez procuraram moderar seu voluntarismo, visando a atrair e não isolar a Venezuela.

O incremento das relações políticas e econômico-comercias do Brasil com a Venezuela, iniciado com FHC, se consolidou por decisão pessoal de Hugo Chávez pelas afinidades ideológicas com Lula e Dilma.

O comércio, os investimentos e, sobretudo, os serviços brasileiros cresceram significativamente durante os anos de Chávez no poder. O portfólio de empresas construtoras brasileiras na Venezuela sobe a cerca de US$ 20 bilhões, o que explica, em larga medida, o apoio de Lula e de Dilma ao projeto de Chávez de se juntar ao Mercosul. O superávit comercial brasileiro é o maior entre nossos parceiros externos.

Chávez foi de fato um grande amigo (ideológico) do Brasil. O sucessor de Chávez deverá manter os compromissos do líder morto. A incógnita reside na incerteza da continuidade dessa ampla cooperação, quando a oposição assumir o poder em uma das futuras eleições.

12 de março de 2013
Rubens Barbosa é presidente do Conselho de Comércio Exterior da Fiesp

CHÁVEZ EMBALSAMADO SE CALARÁ?

 

Em um boteco popular (em meu bairro ainda existe esse tipo de boteco), na última sexta, o varredor da rua e dois trabalhadores de reformas em apartamentos comiam seus PFs assistindo ao noticiário na televisão de parede.
Mostravam-se visivelmente impressionados com a comoção do povo venezuelano diante do caixão de Hugo Chávez.

Na calçada, eu havia reduzido os passos para observar a cena. Aí ouvi nitidamente um deles perguntar: “Ele vai ser embalsamado, o que é isso?” Após a resposta do companheiro, comentou: “Entendi, o corpo também vai permanecer vivo.” Segui meu caminho com aquele “também” ecoando nos ouvidos.

Uma coisa era acompanhar os analistas se pronunciando sobre o assunto que continuaria em pauta. Outra coisa era constatar o alcance do carisma de Chávez no Rio de Janeiro, nas proximidades de minha casa.

Lembrei-me de imagens suas propagadas na mídia brasileira, como por exemplo, a do cartaz retratando-o ao lado de Jesus Cristo e Simon Bolívar. Brincadeira?

 
Loucura. Com o martírio causado pelo câncer, Chávez divinizou-se. Ressuscitará? Em um vídeo na internet produzido por João Santana, marqueteiro do PT e da última campanha eleitoral chavista, não há dúvidas: “Él nacerá de nuevo.”

Os seguidores de Chávez foram induzidos a acreditar que sua missão na Terra (iniciada na América Latina) seria enfrentar os fariseus da hora (os imperialistas ianques) e criar uma nova doutrina: o socialismo do século XXI. Para isso desencadeara sua “revolução bolivariana”. Ou o que se tornou mais conhecido por chavismo.

E, queira-se ou não, essa trajetória surrealista baseia-se numa verdade: os eleitores de Chávez se sentem vivendo melhor do que antes. Pessoas como os moradores de Petare, a maior favela do Ocidente, o idolatram.

Isso é bom? Dificilmente a idolatria acaba bem. Ela fanatiza, aprisiona, causa violência, conflitos de morte. Porém, não há mistério no surgimento de figuras que adotam o culto à personalidade para se apoderarem das massas carentes.

Essas figuras se criam onde se permitiu desigualdades sociais que condenam a maioria da população a pobreza, miséria e ignorância.

Chávez não fascinou apenas o povão. Seduziu intelectuais nostálgicos, encantados por sua coragem em peitar o “império norte-americano”. Por gastar o dinheiro do petróleo com os pobres, alfabetizá-los (e doutriná-los)... E ter a possibilidade de se tornar o Fidel deste século.

Nem farda e boina faltaram ao comandante Chávez que, antes de tudo, era militar.

12 de março de 2013
Ateneia Feijó é jornalista

A INFLAÇÃO PRESSIONA

 

A inflação deve estourar o teto da meta nos próximos meses e foi isso que motivou a desoneração da cesta básica. O governo tenta dar um alívio nos preços para evitar a alta dos juros. A inflação dos alimentos está em dois dígitos. Os preços sobem, apesar do PIB estagnado. Mesmo sem a desoneração, a expectativa é de que os alimentos desacelerem ao longo do ano.

Ontem, o Boletim Focus do Banco Central, que coleta previsões de uma centena de instituições financeiras, mostrou aumento na previsão de inflação para o ano, de 5,70% para 5,82%. É reflexo do IPCA de fevereiro, que veio acima do esperado.

Mesmo sendo um mês beneficiado pela redução do preço da energia, e com atrasos nos reajustes das tarifas de ônibus, a taxa ficou em 0,60% e levou o acumulado em 12 meses para 6,31%.

Na semana que vem, as projeções devem cair, incorporando a desoneração da cesta básica, anunciada na sexta-feira à noite, com o mercado já fechado. O ministro da Fazenda teve reuniões com empresários do setor, ontem, para cobrar o repasse. Voltamos ao tempo em que a agenda do ministro é administrar preços.

Para um PIB que cresceu 0,9% em 2012, a inflação tem surpreendido demais, para cima. A taxa tem rodado na parte superior da banda com episódios de estouro do teto. Em setembro de 2011, bateu em 7,31%. Agora, está próximo do limite de 6,5%.

Para um país que tem uma carga tributária altíssima, desonerações são sempre bem-vindas, principalmente em alimentos. Mas, segundo o consultor Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central, queda de imposto, em geral, tem efeito temporário na luta contra os preços. Eles caem num primeiro momento, mas logo voltam a subir com a pressão da demanda.

— Inflação é aumento de preço persistente e disseminado. Essas medidas têm efeitos temporários e localizados. É como colocar uma pessoa com febre debaixo do chuveiro. A febre abaixa, mas logo volta se não se der antibióticos — afirmou.

Em fevereiro, a inflação em 12 meses atingiu 8,75% em Belém; 8,31% em Fortaleza; 7,44% em Recife; e 7,05% em Salvador. Já ultrapassou o teto nessas capitais.

A inflação para quem ganha até 5 salários mínimos, medida pelo INPC, está em 6,77%, acima do teto. Chega a 9,24% em Fortaleza e 9,14% em Belém. Aproxima-se dos dois dígitos nessas capitais.
O índice de difusão, que mede o percentual de itens que tiveram elevação de preços, ficou em 72% em fevereiro.

A alta é disseminada, e não está apenas concentrada nos alimentos. Por isso, as desonerações ajudam, mas não resolvem o problema.

A boa notícia é que ao longo do ano se espera queda dos preços dos alimentos. Deve acontecer no mundo todo por causa da recuperação das safras em importantes países produtores, como Estados Unidos e Argentina.

A alta dos alimentos chegará em 13% em março, acumulada em 12 meses, mas depois começará a desacelerar.

Com as desonerações, a redução ficará mais intensa, mas nem toda a diminuição do imposto será repassada ao preço. Os economistas estão prevendo um repasse de no máximo dois terços da diminuição, o resto deve ser absorvido para recomposição de margem. Na projeção do banco ABC Brasil, os alimentos que fechariam o ano com alta de 7,69% agora vão subir 5,55%. Mas isso se houver queda forte dos preços internacionais com as novas safras de grãos.

A resistência da inflação surpreende: já houve queda de IPI para automóveis, itens de linha branca e materiais de construção; corte do preço da energia; mudança de ponderação no cálculo do IPCA; atrasos em reajustes públicos. Ainda assim, ela cai e volta a subir. Por tudo isso, o Focus ontem elevou a previsão da taxa de juros do ano.

12 de março de 2013
Miriam Leitão, O Globo

SOB PROTESTOS, DILMA INAUGURA TRECHO DO CANAL DO SERTÃO, EM ALAGOAS

Obra se arrasta desde o governo Fernando Collor. Primeira etapa da construção tem 65 quilômetros


Sob protestos, a presidente Dilma Rousseff inaugurou nesta terça-feira em Água Branca (AL) o primeiro trecho, de 65 quilômetros, do canal do sertão, a maior obra hídrica do estado que terá 250 quilômetros e beneficiará mais de um milhão de moradores de 45 cidades.

Durante os 26 minutos do discurso da presidente, ouviu-se apitos e gritos dirigidos ao governador de Alagoas, Teotônio Vilela (PSDB) e à presidente. Os manifestantes também repudiaram a presença do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB) na solenidade.

 

Com cartazes improvisados e dizendo não pertencer a nenhum grupo político, os manifestantes mostravam mensagens como “Dilma, de oprimida a opressora".

Outro cartaz pedia a renúncia do governador tucano. Os manifestantes se queixavam da "roubalheira" no governo e da situação do campus da Universidade Federal de Alagoas, no município de Delmiro Gouveia. A presidente não deu atenção aos protestos e não interrompeu o seu discurso.

Na entrada de Água Branca, houve outra manifestação. Agricultores espalharam carcaças de bois na rodovia para protestar contra os prejuízos provocados pela seca. Mais cedo, manifestantes fecharam trechos da BR 316, para impedir a passagem das autoridades, e reivindicar o asfaltamento de 15 quilômetros da rodovia.

O trecho, entre Canapi e povoado de Carié, já consta para o governo federal como asfaltado, mas está no barro há mais de meio século.

Durante a inauguração, Dilma prometeu asfaltar o trecho da BR-316, enumerou as iniciativas do governo de combate aos efeitos da seca e assinou a liberação de mais 5 milhões para a obra do Canal do Sertão.

— O Brasil está tomando uma série de medidas para melhorar as condições de produção, porque nós queremos que o Brasil cresça. E eu quero assegurar a vocês que o Brasil vai crescer — disse.

— Este país é um país que nada contra a corrente internacional... Esse país que criou nos últimos dez anos 15 milhões de empregos com carteira assinada, ele precisa ter também diminuição do imposto — acrescentou.

12 de março de 2013
Letícia Lins, O Globo