IBGE mostra que mais da metade dos domicílios não têm coleta de esgotoIsso não aparece nas euforias do governo.
uol, 19/10/2011
Um painel político do momento histórico em que vivem o país e o mundo. Pretende ser um observatório dos principais acontecimentos que dominam o cenário político nacional e internacional, e um canal de denúncias da corrupção e da violência, que afrontam a cidadania. Este não é um blog partidário, visto que partidos não representam idéias, mas interesses de grupos, e servem apenas para encobrir o oportunismo político de bandidos. Não obstante, seguimos o caminho da direita. Semitam rectam.
"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)
"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
quinta-feira, 20 de outubro de 2011
LULA DISTRIBUI R$61 BILHÕES PARA 27 PAÍSES EM 2 ANOS
Somente nos dois últimos anos de seu Governo, o ex-presidente Lula distribuiu mais de R$ 61 bilhões do contribuinte brasileiro para 27 países, a maioria na America Latina, sendo oito na África, para além de algumas das mais tenebrosas ditaduras, como Líbia, Síria e Irã.
Parte expressiva dos recursos saiu do Brasil por meio de financiamento do BNDES para obras tocadas por empreiteiras favoritas do Governo.
Perplexidade
A lista dos 27 países que Lula deu dinheiro causou perplexidade nos senadores, até os governistas, da Comissão de Assuntos Econômicos.
Mão grande
A indignação dos senadores também decorre do fato de que os R$ 61 bilhões terem deixado os cofres públicos sem autorização do Senado.
‘Desembolsos’
Oficialmente, o BNDES admite “desembolsos” de US$ 1,2 bilhão na América Latina e de US$ 906 milhões na África. Ou R$ 3,38 bilhões.
Primeiro eles
Os R$ 61 bilhões destinados por Lula aos 27 países em dois anos é um valor superior à soma das transferências para os Estados, no período.
Por gracias ferraz
Parte expressiva dos recursos saiu do Brasil por meio de financiamento do BNDES para obras tocadas por empreiteiras favoritas do Governo.
Perplexidade
A lista dos 27 países que Lula deu dinheiro causou perplexidade nos senadores, até os governistas, da Comissão de Assuntos Econômicos.
Mão grande
A indignação dos senadores também decorre do fato de que os R$ 61 bilhões terem deixado os cofres públicos sem autorização do Senado.
‘Desembolsos’
Oficialmente, o BNDES admite “desembolsos” de US$ 1,2 bilhão na América Latina e de US$ 906 milhões na África. Ou R$ 3,38 bilhões.
Primeiro eles
Os R$ 61 bilhões destinados por Lula aos 27 países em dois anos é um valor superior à soma das transferências para os Estados, no período.
Por gracias ferraz
O MAIOR PROBLEMA DO NEGRO NO BRASIL É A POBREZA, NÃO O RACISMO
A procuradora do DF Roberta Fragoso Kaufmann diz ser favorável as cotas sociais e afirma que as cotas raciais vão apenas contribuir para dividir o país em brancos e negros.
DILMA, A GERENTE OMISSA
Tão assustadora quanto a bandalheira no Ministério do Esporte é a demora da presidente Dilma Rousseff em pegar a vassoura, mais uma vez, para avançar na limpeza da administração. Se quisesse, teria tido excelentes motivos para demitir o ministro Orlando Silva há muito tempo. Errou ao mantê-lo, e erra de novo, agora, ao tratar o escândalo da semana como conflito entre um acusador, o policial João Dias Ferreira, e o ministro. Esse confronto é só um episódio a mais de uma longa história de irregularidades, iniciada na gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. As denúncias divulgadas no fim de semana pela revista Veja acrescentaram detalhes importantes àquela história, mas não surpreenderam.
A presidente deveria ser mais cuidadosa ao adotar o discurso da presunção da inocência, recitado numa entrevista na África do Sul. Em primeiro lugar, critérios desse tipo nunca foram valorizados pelos petistas, quando estavam na oposição. Acusar sem prova era parte de sua rotina. No poder, acrescentaram a essa especialidade a elaboração de dossiês falsos. Em segundo lugar, e este é o ponto mais importante, sobram evidências, há muito tempo, de graves desmandos na área do Ministério. Não está claro se a presidente ignorava esses fatos ou se os considera irrelevantes.
Qualquer dessas possibilidades é inquietante. A primeira seria um indício de inaceitável desatenção. Como chefe da Casa Civil, no governo anterior, e como presidente, a partir de janeiro de 2011, ela deveria ser sempre atenta aos sinais de problemas na administração. Antes de ser nomeada madrinha do PAC, o Programa de Aceleração do Crescimento, a ministra Rousseff já era apresentada como a grande gerente dos investimentos federais. A partir de 2007, quando o Brasil assumiu a tarefa de preparar a Copa do Mundo, ela deveria ter acompanhado de perto o Ministério do Esporte. Na Presidência, teria acertado se levasse em conta novos indícios, muito fortes, de falcatruas com dinheiro manejado pelo ministro Orlando Silva.
“O Estado” publicou neste ano várias denúncias de irregularidades com verbas fornecidas a entidades vinculadas ao PC do B. O material saiu nas edições de 20, 21 e 23 de fevereiro, 15 de abril e 31 de agosto. Um resumo das histórias apareceu no jornal nesta terça-feira. As matérias mostram fornecimento de verbas a entidades fantasmas e financiamentos destinados a ações nunca realizadas. Ou a presidente não lê jornais, ou o clipping destinado a seu gabinete é censurado, ou talvez ela tenha preferido olhar para outro lado.
Órgãos federais de controle, no entanto, ocuparam-se das irregularidades. Em 15 de abril, o “Estado” noticiou a promessa do Tribunal de Contas da União (TCU) de investigar os convênios firmados com a ONG Bola pra Frente. A Controladoria-Geral da União (CGU) também se envolveu. De 2006 ao primeiro semestre deste ano, a CGU determinou a devolução de R$ 26,5 milhões aplicados em 67 convênios com problemas, segundo noticiou nessa terça-feira a Folha de S.Paulo. De acordo com nota do Ministério, os pedidos de devolução refletem o trabalho constante de vigilância e a atenção à lei. Só essa piada bastaria para justificar a demissão do ministro e de sua equipe. Que vigilância, quando os órgãos de controle apontam irregularidades em 67 convênios?
A preferência a entidades vinculadas a um partido – no caso, o PC do B – já deveria escandalizar qualquer pessoa com algum senso de decência – ou, no mínimo, habituada às boas maneiras. Esses convênios foram expostos em matérias do Estado e na reportagem da Veja. Além disso, exemplos foram levantados pela organização Contas Abertas, especializada em finanças públicas. De 2006 a 2011, o Instituto de Cultura Ambiental recebeu R$ 5,5 milhões do programa Segundo Tempo. Seu primeiro tesoureiro é filiado ao partido, assim como o presidente do Instituto Contato, contemplado com “mais de R$ 20 milhões” entre 2007 e 2011.
Já seria notável a existência de tantas ONGs especializadas em educação e, de modo especial, em assistência, por meio do esporte, a crianças carentes. Mas notável, mesmo, é o número de entidades especializadas em assistência por meio do esporte e vinculadas ao PC do B. Nenhum desses fatos extraordinários terá jamais feito brilhar uma luz diante dos olhos da presidente Dilma Rousseff?
A briga entre o policial João Dias Ferreira e o ministro Orlando Silva, é bom repetir, é só um dado a mais numa epopeia bandalha. Se a presidente não agiu há mais tempo, foi porque não quis, porque não se escandalizou ou por uma desinformação digna do Guinness. Se não se cuidar, será tragada por esse pântano longamente preparado por seu antecessor. Todas as preocupações de hoje em relação ao custo da Copa do Mundo parecerão ridiculamente pequenas.
20 de outubro de 2011
Rolf Kuntz
Fonte: O Estado de S. Paulo, 19/10/2011
A DAMA QUE MUDOU CUBA
Líder de grupo que exigia a libertação de presos políticos, Laura Pollan morreu de dengue diagnosticada com atraso.
Oito anos atrás, Laura Pollán era uma professora escolar que morava com o marido, Hector Maseda, líder do Partido Liberal Cubano, ilegal na ilha caribenha. A família tentava levar uma vida normal na pequena casa na Rua Netuno, em Havana.
Numa certa alvorada, batidas na porta mudaram a vida do casal. Depois de uma longa revista e um julgamento sumário, Maseda foi detido e sentenciado a 20 anos de prisão, acusado de agir contra a segurança nacional. O crime: imaginar uma Cuba diferente, opor-se politicamente às autoridades e expressar tais opiniões por escrito.
Setenta e cinco membros da oposição foram detidos e condenados naquele março de 2003, época marcada na história cubana como a Primavera Negra. O governo esperava que esse golpe convencesse cidadãos descontentes a abandonar as fileiras dos manifestantes. Acreditava também que mulheres, mães e filhas dos prisioneiros políticos permaneceriam caladas.
Assim nasceram as Damas de Branco, grupo de mulheres que, por meio da luta pacífica, exigiu e conseguiu a libertação de todos os prisioneiros de consciência. No início, o movimento pareceu pequeno e desorganizado, levando-se em consideração os quilômetros de distância que separavam uma mulher da outra. Mas a indignação delas funcionou como elemento unificador, e suas marchas pelas ruas de Havana, vestidas de branco e carregando um gladíolo, se seguiram domingo após domingo por mais de sete anos. Uma voz se destacou entre elas: a de uma mulher de baixa estatura e olhos azuis que lecionava espanhol e literatura a adolescentes.
Laura Pollán estava se firmando como porta-voz e líder das Damas de Branco, dedicadas à defesa dos direitos humanos e à libertação dos seus entes queridos. Num país movido pela polarização do discurso ideológico, elas se mostravam diferentes. Não optaram por se organizar em torno de uma doutrina, mas sim da inatacável posição da afeição familiar. Assim conquistaram a simpatia de muitos na ilha. Provocaram as autoridades, que deram início a uma campanha de insultos contra elas.
Se houve um grupo que a mídia cubana difamou além dos limites do crível, foi o das Damas de Branco. O regime lançou uma espécie de guerra midiática. “Comícios de repúdio” – ônibus lotados de manifestantes “espontâneos” convocados para berrar insultos e até para agredir – fizeram da porta da frente de Laura Pollán seu altar principal.
Jornalistas oficiais as chamavam de “Damas de Verde”, alusão ao apoio econômico recebido dos cubanos no exílio para que pudessem levar comida aos maridos aprisionados. O governo hesitou em recorrer aos cofres públicos para financiar ataques políticos. Parte do dinheiro – que poderia ser usado para alimentar os cubanos – foi gasto arrancando das mãos dessas mulheres necessitadas cada centavo que chegava a elas.
A imprensa nacional continuou a difamar Laura até no dia 7 de outubro, quando ela deu entrada na Unidade de Terapia Intensiva de um hospital de Havana para tratar de dores nos ossos, falta de ar e fraqueza extrema.
Levando-se em consideração a gravidade do estado dela, funcionários do governo pediram à família que a paciente fosse transferida para uma clínica de luxo reservada aos militares. “Quero ficar no hospital do povo”, disse ela. Morreu sexta-feira, depois de um atraso de cinco dias até a conclusão do diagnóstico, dengue, num país que há meses sofre com uma epidemia forte da doença.
O Granma, jornal oficial do Partido Comunista, se manteve em silêncio – como todos os jornais das províncias. O regime Castro nunca foi capaz de fazer uma breve pausa na sua beligerância, de oferecer condolências. Esse silêncio também emana do medo em relação à pequena professora de espanhol, medo que faz o governo engolir em seco. A líder das Damas de Branco está morta, e ninguém em Cuba poderá carregar um gladíolo nas mãos sem pensar em Laura Pollán.
19 de outubro de 2011
Yoani Sánchez
Fonte: O Estado de S. Paulo, 18/10/2011
Oito anos atrás, Laura Pollán era uma professora escolar que morava com o marido, Hector Maseda, líder do Partido Liberal Cubano, ilegal na ilha caribenha. A família tentava levar uma vida normal na pequena casa na Rua Netuno, em Havana.
Numa certa alvorada, batidas na porta mudaram a vida do casal. Depois de uma longa revista e um julgamento sumário, Maseda foi detido e sentenciado a 20 anos de prisão, acusado de agir contra a segurança nacional. O crime: imaginar uma Cuba diferente, opor-se politicamente às autoridades e expressar tais opiniões por escrito.
Setenta e cinco membros da oposição foram detidos e condenados naquele março de 2003, época marcada na história cubana como a Primavera Negra. O governo esperava que esse golpe convencesse cidadãos descontentes a abandonar as fileiras dos manifestantes. Acreditava também que mulheres, mães e filhas dos prisioneiros políticos permaneceriam caladas.
Assim nasceram as Damas de Branco, grupo de mulheres que, por meio da luta pacífica, exigiu e conseguiu a libertação de todos os prisioneiros de consciência. No início, o movimento pareceu pequeno e desorganizado, levando-se em consideração os quilômetros de distância que separavam uma mulher da outra. Mas a indignação delas funcionou como elemento unificador, e suas marchas pelas ruas de Havana, vestidas de branco e carregando um gladíolo, se seguiram domingo após domingo por mais de sete anos. Uma voz se destacou entre elas: a de uma mulher de baixa estatura e olhos azuis que lecionava espanhol e literatura a adolescentes.
Laura Pollán estava se firmando como porta-voz e líder das Damas de Branco, dedicadas à defesa dos direitos humanos e à libertação dos seus entes queridos. Num país movido pela polarização do discurso ideológico, elas se mostravam diferentes. Não optaram por se organizar em torno de uma doutrina, mas sim da inatacável posição da afeição familiar. Assim conquistaram a simpatia de muitos na ilha. Provocaram as autoridades, que deram início a uma campanha de insultos contra elas.
Se houve um grupo que a mídia cubana difamou além dos limites do crível, foi o das Damas de Branco. O regime lançou uma espécie de guerra midiática. “Comícios de repúdio” – ônibus lotados de manifestantes “espontâneos” convocados para berrar insultos e até para agredir – fizeram da porta da frente de Laura Pollán seu altar principal.
Jornalistas oficiais as chamavam de “Damas de Verde”, alusão ao apoio econômico recebido dos cubanos no exílio para que pudessem levar comida aos maridos aprisionados. O governo hesitou em recorrer aos cofres públicos para financiar ataques políticos. Parte do dinheiro – que poderia ser usado para alimentar os cubanos – foi gasto arrancando das mãos dessas mulheres necessitadas cada centavo que chegava a elas.
A imprensa nacional continuou a difamar Laura até no dia 7 de outubro, quando ela deu entrada na Unidade de Terapia Intensiva de um hospital de Havana para tratar de dores nos ossos, falta de ar e fraqueza extrema.
Levando-se em consideração a gravidade do estado dela, funcionários do governo pediram à família que a paciente fosse transferida para uma clínica de luxo reservada aos militares. “Quero ficar no hospital do povo”, disse ela. Morreu sexta-feira, depois de um atraso de cinco dias até a conclusão do diagnóstico, dengue, num país que há meses sofre com uma epidemia forte da doença.
O Granma, jornal oficial do Partido Comunista, se manteve em silêncio – como todos os jornais das províncias. O regime Castro nunca foi capaz de fazer uma breve pausa na sua beligerância, de oferecer condolências. Esse silêncio também emana do medo em relação à pequena professora de espanhol, medo que faz o governo engolir em seco. A líder das Damas de Branco está morta, e ninguém em Cuba poderá carregar um gladíolo nas mãos sem pensar em Laura Pollán.
19 de outubro de 2011
Yoani Sánchez
Fonte: O Estado de S. Paulo, 18/10/2011
METÁFORAS, BRASIL E FUTEBOL
O título parece complicado, mas não é. Metáforas são figuras de linguagem que substituem uma coisa por outra. São indispensáveis na expressão da vida. Por exemplo: o coração que é um órgão do corpo humano passível de cirurgia, palpitação e substituição, é uma metáfora do amor – essa “coisa” também cheia de truques que escapa dos procedimentos objetivos e tem regras que, como dizia o grande Pascal (e o cada vez mais atual Freud), ele não suspeita. Li outro dia no “The New York Times”, um debate se as carruagens devem ser mantidas ou não em Manhattan. Como toda metáfora, elas são um contrassenso. Pois quem colocaria a “mão no fogo pelo governo” que recebeu, mas não se livra, dessa onda de pobreza intelectual, de ausência de percepção institucional e sociológica que abundam hoje no Brasil? E quem seria capaz de defender carruagens neste mundo contemporâneo onde existe um índice (e, logo, um marco regulatório) para a felicidade e para a atividade sexual?
Carruagens num mundo de trens, aviões e automóveis são algo tão anacrônico tanto quanto as “liturgias”, como diz Sarney, que, no Brasil, gastamos para manter certos cargos e estruturas governamentais configuradas pela nossa vocação aristocrática. Mas – como toda metáfora – as carruagens não são meios para fins, são – como os salários e as sinecuras dos nossos governantes – fins para meios. Elas ritualizam, tal como fazem os exageros e as anedotas, o modo de viajar não dando a mínima para o elo direto ou racional entre meios e fins. Por isso, você pega um carro quando está com pressa e entra numa carruagem em Manhattan quando quer criar um clima romântico e viver um gozo que lhe confirma o sofrimento no qual você estava engolfado.
* * * *
- Vamos de bonde?
- Não, vamos a pé…
Eu, este vosso cronista confuso, misto de acadêmico marginal e escritor bastardo, produzi exatamente essa resposta em algum dia de 1951, em Juiz de Fora, quando fui buscar a Zelinha no ensaio do teatro do colégio em que ela estudava. Era um dia chuvoso e nós andamos da Rua Halfeld até o Alto dos Passos debaixo de um mesmo guarda-chuva, o que me permitia ficar fisicamente próximo do ser idolatrado.
Preferi o caminhar (que é velho e lento) ao bonde (que naqueles tempos antigos era veloz e confortável). Mas, em compensação, o “passeio” sinônimo do andar sem rumo – metáfora do andar lado a lado – essa raridade; esse caminhar junto (metafórico do peregrinar, do pertencer e do estar com o outro) subvertia os meios e os fins como a melhor prova de que estava apaixonado, tal como eu hoje enxergo que são essas substituições que nos tornam humanos. Só nós podemos realizá-las. Nem os anjos (que são perfeitos, mas não se reproduzem) nem os animais (que são imperfeitos e se reproduzem além da conta) sabem o que é esse pertencer sofrido que vem de dentro para fora – como exprime o coração humano que está dentro e, ao mesmo tempo, fora de nós.
* * * *
Entende-se, então, as carruagens e as liturgias de Sarney. Elas não estão ali para transportar ou ajudar a servir melhor o povo e a sociedade, mas para criar um clima romântico e para garantir uma opulência que beira o desperdício – esse mal do Brasil. Num caso, a lentidão que faz da disciplina amorosa e romântica; no outro, a transformação do republicano num reino de Jambon onde poucos comem muito sem fazer nada e muitos comem pouco fazendo tudo.
* * * *
Eu estou convencido de que o futebol, inventado à revelia pelos brilhantes e reprimidos ingleses do período vitoriano, é uma das mais recorrentes metáforas da vida (e dos seus dilemas) tal como ela é idealizada entre nós.
Nele, queremos o futebol “arte”, o estilo dionisíaco de Gilberto Freyre e malandro – cheio de jogo de cintura, como mostrei faz tempo, mas exigimos “resultados” e “objetividade”: no caso, muitos gols. Eis o dilema: como conciliar o belo com o técnico? Como ajudar o povo sem impedir que uma centralização neoestalinista, voltada para permanecer no poder, produza fraudes, corrupção e impunidade? Como misturar um estilo de jogo personalístico, baseado na superexcelência de alguns craques que reinventam uma aristocracia no campo, com o jogo e pelo time que, como enfatizam os nossos teóricos do futebol, levam a uma identidade social específica – essa marca das grandes seleções?
Em outras palavras, como submeter todos à regra da lei e da coletividade (o time) se não dispensamos os salvadores da pátria, os messias do futebol – os que salvam os jogos dando a vitória ao nosso Brasil, gente como Ademir, Zizinho, Rivellino, Zico e tantos outros, para não mencionar a realeza do Príncipe Didi e do Rei Pelé ou o “fenômeno” que era o nosso Ronaldo?
Eu me pergunto se essa busca da arte com (e não contra) a técnica; da justiça que vale para todos e leva à punição dos faltosos com a compaixão que distingue e perdoa; da lei universal que iguala com as amizades singulares que distinguem, não seriam as conjugações que implícita ou inconscientemente temos tentado declinar no Brasil. E se não é tempo de não tomar partido e saber de que lado nos situamos. Mas o que é que não cabe dentro de um sonho? E o futebol, como a poesia, é ótimo para sonhar e para revelar essa busca pelas causas perdidas. Ou, para voltar ao começo, esse querer andar de carruagem em Manhattan.
20 de outubro de 2011
Roberto DaMatta
Fonte: O Estado de S. Paulo, 19/10/2011
Carruagens num mundo de trens, aviões e automóveis são algo tão anacrônico tanto quanto as “liturgias”, como diz Sarney, que, no Brasil, gastamos para manter certos cargos e estruturas governamentais configuradas pela nossa vocação aristocrática. Mas – como toda metáfora – as carruagens não são meios para fins, são – como os salários e as sinecuras dos nossos governantes – fins para meios. Elas ritualizam, tal como fazem os exageros e as anedotas, o modo de viajar não dando a mínima para o elo direto ou racional entre meios e fins. Por isso, você pega um carro quando está com pressa e entra numa carruagem em Manhattan quando quer criar um clima romântico e viver um gozo que lhe confirma o sofrimento no qual você estava engolfado.
* * * *
- Vamos de bonde?
- Não, vamos a pé…
Eu, este vosso cronista confuso, misto de acadêmico marginal e escritor bastardo, produzi exatamente essa resposta em algum dia de 1951, em Juiz de Fora, quando fui buscar a Zelinha no ensaio do teatro do colégio em que ela estudava. Era um dia chuvoso e nós andamos da Rua Halfeld até o Alto dos Passos debaixo de um mesmo guarda-chuva, o que me permitia ficar fisicamente próximo do ser idolatrado.
Preferi o caminhar (que é velho e lento) ao bonde (que naqueles tempos antigos era veloz e confortável). Mas, em compensação, o “passeio” sinônimo do andar sem rumo – metáfora do andar lado a lado – essa raridade; esse caminhar junto (metafórico do peregrinar, do pertencer e do estar com o outro) subvertia os meios e os fins como a melhor prova de que estava apaixonado, tal como eu hoje enxergo que são essas substituições que nos tornam humanos. Só nós podemos realizá-las. Nem os anjos (que são perfeitos, mas não se reproduzem) nem os animais (que são imperfeitos e se reproduzem além da conta) sabem o que é esse pertencer sofrido que vem de dentro para fora – como exprime o coração humano que está dentro e, ao mesmo tempo, fora de nós.
* * * *
Entende-se, então, as carruagens e as liturgias de Sarney. Elas não estão ali para transportar ou ajudar a servir melhor o povo e a sociedade, mas para criar um clima romântico e para garantir uma opulência que beira o desperdício – esse mal do Brasil. Num caso, a lentidão que faz da disciplina amorosa e romântica; no outro, a transformação do republicano num reino de Jambon onde poucos comem muito sem fazer nada e muitos comem pouco fazendo tudo.
* * * *
Eu estou convencido de que o futebol, inventado à revelia pelos brilhantes e reprimidos ingleses do período vitoriano, é uma das mais recorrentes metáforas da vida (e dos seus dilemas) tal como ela é idealizada entre nós.
Nele, queremos o futebol “arte”, o estilo dionisíaco de Gilberto Freyre e malandro – cheio de jogo de cintura, como mostrei faz tempo, mas exigimos “resultados” e “objetividade”: no caso, muitos gols. Eis o dilema: como conciliar o belo com o técnico? Como ajudar o povo sem impedir que uma centralização neoestalinista, voltada para permanecer no poder, produza fraudes, corrupção e impunidade? Como misturar um estilo de jogo personalístico, baseado na superexcelência de alguns craques que reinventam uma aristocracia no campo, com o jogo e pelo time que, como enfatizam os nossos teóricos do futebol, levam a uma identidade social específica – essa marca das grandes seleções?
Em outras palavras, como submeter todos à regra da lei e da coletividade (o time) se não dispensamos os salvadores da pátria, os messias do futebol – os que salvam os jogos dando a vitória ao nosso Brasil, gente como Ademir, Zizinho, Rivellino, Zico e tantos outros, para não mencionar a realeza do Príncipe Didi e do Rei Pelé ou o “fenômeno” que era o nosso Ronaldo?
Eu me pergunto se essa busca da arte com (e não contra) a técnica; da justiça que vale para todos e leva à punição dos faltosos com a compaixão que distingue e perdoa; da lei universal que iguala com as amizades singulares que distinguem, não seriam as conjugações que implícita ou inconscientemente temos tentado declinar no Brasil. E se não é tempo de não tomar partido e saber de que lado nos situamos. Mas o que é que não cabe dentro de um sonho? E o futebol, como a poesia, é ótimo para sonhar e para revelar essa busca pelas causas perdidas. Ou, para voltar ao começo, esse querer andar de carruagem em Manhattan.
20 de outubro de 2011
Roberto DaMatta
Fonte: O Estado de S. Paulo, 19/10/2011
O OVO DA SERPENTE NO NINHO DO DRAGÃO
O Brasil voltou a debater o anacrônico tema que opunha monetaristas e desenvolvimentistas. Melhor seria que os responsáveis pela política econômica do país saíssem de seus gabinetes, deixassem um pouco de lado as teorias e as tentativas de administrar índices para viver mais a realidade dos mortais.
Não é preciso esperar o IPC de nenhum instituto para constatar como o custo de vida subiu. O tíquete-refeição de qualquer trabalhador não compra o mesmo número de almoços do mês anterior já há algum tempo, por mais frugal que seja a reunião de convivas do meio-dia.
Não se está aqui fazendo a apologia da alta dos juros para conter a inflação. Certamente há outros métodos que podem ser postos em prática.
Um deles deve partir do próprio governo, na firme demonstração de zelo pelas contas públicas. Uma boa dose da majoração dos preços advém da desconfiança que industriais, comerciantes e prestadores de serviços têm de que ficarão com o mico dos desarranjos econômicos que se espalham pelo mundo e têm reflexos no Brasil.
Outra boa dose vem da impressão de que o mico pula para as costas da população sempre que se negocia o que quer que seja no Congresso Nacional. A sensação é de que a conta invariavelmente será espetada no lombo do contribuinte em forma de mais tributos.
E uma boa dose vem da natural ambição do ser humano de sempre querer ganhar um pouco mais.
O que se espera do governo é que, no mínimo, cumpra a sua função de moderar todos esses interesses e busque saídas mais simples e de efeito mais imediato para controlar a carestia.
O Brasil não passou por guerras sangrentas, que deixaram faminta a população das nações em conflito. Mas viveu um longo tempo (nos anos 1980 e meados dos 1990) sem ter noção de qual era o preço justo de qualquer item de consumo.
As empresas passavam a maior parte do tempo atrás de aplicações financeiras que lhes garantissem uma remuneração que não obtinham no desenvolvimento e na venda de um produto ou serviço.
Seus empregados imaginavam que o salário aumentava todo mês, por causa da reposição da inflação dos 30 dias anteriores, e não conseguiam entender direito por que, mesmo com um valor maior no holerite, levavam cada vez menos bens para casa nas compras do mês no supermercado.
A inflação é a síntese do subdesenvolvimento de um país. Ela impede que as empresas evoluam e limita qualquer tipo de comparação que envolva valores, sobretudo pelas camadas menos favorecidas economicamente da população, as mesmas que ascenderam nos últimos anos e serviram de empuxo para o Brasil contornar a crise financeira mundial que vem causando estrago em todo o outrora mundo desenvolvido.
A volta da inflação será uma crueldade com os novos consumidores e um fracasso para o país.
Fonte: Brasil Econômico, 17/10/2011
18 de outubro de 2011
Costábile Nicoletta
Não é preciso esperar o IPC de nenhum instituto para constatar como o custo de vida subiu. O tíquete-refeição de qualquer trabalhador não compra o mesmo número de almoços do mês anterior já há algum tempo, por mais frugal que seja a reunião de convivas do meio-dia.
Não se está aqui fazendo a apologia da alta dos juros para conter a inflação. Certamente há outros métodos que podem ser postos em prática.
Um deles deve partir do próprio governo, na firme demonstração de zelo pelas contas públicas. Uma boa dose da majoração dos preços advém da desconfiança que industriais, comerciantes e prestadores de serviços têm de que ficarão com o mico dos desarranjos econômicos que se espalham pelo mundo e têm reflexos no Brasil.
Outra boa dose vem da impressão de que o mico pula para as costas da população sempre que se negocia o que quer que seja no Congresso Nacional. A sensação é de que a conta invariavelmente será espetada no lombo do contribuinte em forma de mais tributos.
E uma boa dose vem da natural ambição do ser humano de sempre querer ganhar um pouco mais.
O que se espera do governo é que, no mínimo, cumpra a sua função de moderar todos esses interesses e busque saídas mais simples e de efeito mais imediato para controlar a carestia.
O Brasil não passou por guerras sangrentas, que deixaram faminta a população das nações em conflito. Mas viveu um longo tempo (nos anos 1980 e meados dos 1990) sem ter noção de qual era o preço justo de qualquer item de consumo.
As empresas passavam a maior parte do tempo atrás de aplicações financeiras que lhes garantissem uma remuneração que não obtinham no desenvolvimento e na venda de um produto ou serviço.
Seus empregados imaginavam que o salário aumentava todo mês, por causa da reposição da inflação dos 30 dias anteriores, e não conseguiam entender direito por que, mesmo com um valor maior no holerite, levavam cada vez menos bens para casa nas compras do mês no supermercado.
A inflação é a síntese do subdesenvolvimento de um país. Ela impede que as empresas evoluam e limita qualquer tipo de comparação que envolva valores, sobretudo pelas camadas menos favorecidas economicamente da população, as mesmas que ascenderam nos últimos anos e serviram de empuxo para o Brasil contornar a crise financeira mundial que vem causando estrago em todo o outrora mundo desenvolvido.
A volta da inflação será uma crueldade com os novos consumidores e um fracasso para o país.
Fonte: Brasil Econômico, 17/10/2011
18 de outubro de 2011
Costábile Nicoletta
NOTAS POLÍTICAS
UMA NAÇÃO CORROMPIDA
Importa menos se João Dias for um bandido que inventa e acusa sem provas, ou se Orlando Silva vem sendo vítima de um complô entre a Fifa e Ricardo Teixeira, por conta da Copa do Mundo. A verdade é que não dá mais para o ministro permanecer. Seu desgaste pessoal só não é maior do que o desgaste do governo. Da lambança restrita ao choque com o ex-policial, salta aos olhos o abuso que vem marcando o conluio existente entre o poder público e montes de ONGs fajutas e criminosas. Porque a farra não se limita ao ministério dos Esportes, como antes não se circunscrevia ao ministério do Turismo. A metástese generalizou-se, vinda do governo Fernando Henrique, passando pelo governo do Lula e mantendo-se no governo Dilma.
Inocente ou culpado, Orlando Silva lidera o noticiário e sofre a indignação nacional diante desse expediente primário da criação de organizações-não governamentais feitas para mamar nas tetas do tesouro público e irrigar os caixas de partidos políticos, grupos próximos do poder, amiguinhos e até simples espertalhões empenhados em enriquecer.
Se há ONGs sérias, que prestam serviço à sociedade, seu número parece infinitamente menor do que as arapucas infiltradas na administração federal, estadual e municipal. Dizendo-se não-governamentais, transformaram-se em penduricalhos do governo, sempre prontas a molhar a mão e o bolso das autoridades encarregadas de facilitar-lhes o assalto.
Raros são os ministérios onde ONGs não são financiadas pela corrupção, existindo também os dedicados a falcatruas ainda maiores, através das empreiteiras. Quatro ministros já foram triturados nas engrenagens que agora espremem o titular dos Esportes, tornando-se uma questão de tempo saber quando será expelido.
Melhor faria se evitasse o espetáculo encenado por Antônio Palocci, Pedro Novais, Wagner Rossi e Alfredo Nascimento, que resistiram inutilmente antes de mergulhar nas profundezas.
***
MENSALEIROS EM AGONIA
A cada novo escândalo denunciado no país, diminuem as chances de absolvição dos 39 mensaleiros em julgamento no Supremo Tribunal Federal. Não se cometerá a perigosa ilação de presumir o voto dos ministros da mais alta corte nacional de Justiça, valendo apenas registrar terem sido raros os casos em que ela decidiu desligada da opinião pública. Os ventos que sopram na sociedade irrompem pelas frestas e até pelas janelas do Supremo, ainda que alguns de seus integrantes sustentem, teoricamente, a necessidade de decisões calcadas exclusivamente na lei e na jurisprudência.
Estão os Meretíssimos atentos ao que se passa do lado de fora. A indignação nacional cresce a olhos vistos diante do espetáculo de corrupção encenado no país. Ficou para o primeiro semestre do ano que vem o julgamento dos réus implicados na mãe de todas as lambanças do governo Lula. É mais tempo para a descoberta de novas falcatruas, aumentando a reação nacional e levando os mensaleiros à agonia.
***
ADEUS REFORMA POLÍTICA
De forma lenta, a reforma política sumiu do noticiário. Na Câmara e no Senado arrastam-se bissextos debates e análises nas comissões técnicas, mas ninguém acredita mais na mudança das diretrizes eleitorais básicas. Até porque, passou o prazo para sua aplicação nas eleições do ano que vem, por impositivo constitucional.
Como 2014 está distante e imperscrutável, senadores e deputados dedicam-se a deixar tudo como está, em termos institucionais. Até a mudança na data da posse dos novos presidentes da República ficou para um dia, no futuro…
***
SUMIU
Mesmo sem integrar a comitiva da presidente Dilma à África, quem sumiu foi a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti. Nenhuma intervenção teve a ex-senadora na crise porque passa o PCdoB, a partir das denúncias contra o ministro Orlando Silva. Não é com ela se os comunistas históricos viram-se substituídos por capitalistas ditos não-governamentais, encarregados de impulsionar suas ONGs.
Duas explicações surgem a respeito: Ideli refluiu em sua atuação pela ausência de problemas político-partidários de vulto, nas relações da base parlamentar oficial com o governo, ou… Ou a ministra resolveu adotar a máxima que Mussolini aplicava para a Itália na primeira metade do século passado: “Administrar os italianos não é apenas impossível, é inútil”.
Carlos Chagas
Importa menos se João Dias for um bandido que inventa e acusa sem provas, ou se Orlando Silva vem sendo vítima de um complô entre a Fifa e Ricardo Teixeira, por conta da Copa do Mundo. A verdade é que não dá mais para o ministro permanecer. Seu desgaste pessoal só não é maior do que o desgaste do governo. Da lambança restrita ao choque com o ex-policial, salta aos olhos o abuso que vem marcando o conluio existente entre o poder público e montes de ONGs fajutas e criminosas. Porque a farra não se limita ao ministério dos Esportes, como antes não se circunscrevia ao ministério do Turismo. A metástese generalizou-se, vinda do governo Fernando Henrique, passando pelo governo do Lula e mantendo-se no governo Dilma.
Inocente ou culpado, Orlando Silva lidera o noticiário e sofre a indignação nacional diante desse expediente primário da criação de organizações-não governamentais feitas para mamar nas tetas do tesouro público e irrigar os caixas de partidos políticos, grupos próximos do poder, amiguinhos e até simples espertalhões empenhados em enriquecer.
Se há ONGs sérias, que prestam serviço à sociedade, seu número parece infinitamente menor do que as arapucas infiltradas na administração federal, estadual e municipal. Dizendo-se não-governamentais, transformaram-se em penduricalhos do governo, sempre prontas a molhar a mão e o bolso das autoridades encarregadas de facilitar-lhes o assalto.
Raros são os ministérios onde ONGs não são financiadas pela corrupção, existindo também os dedicados a falcatruas ainda maiores, através das empreiteiras. Quatro ministros já foram triturados nas engrenagens que agora espremem o titular dos Esportes, tornando-se uma questão de tempo saber quando será expelido.
Melhor faria se evitasse o espetáculo encenado por Antônio Palocci, Pedro Novais, Wagner Rossi e Alfredo Nascimento, que resistiram inutilmente antes de mergulhar nas profundezas.
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MENSALEIROS EM AGONIA
A cada novo escândalo denunciado no país, diminuem as chances de absolvição dos 39 mensaleiros em julgamento no Supremo Tribunal Federal. Não se cometerá a perigosa ilação de presumir o voto dos ministros da mais alta corte nacional de Justiça, valendo apenas registrar terem sido raros os casos em que ela decidiu desligada da opinião pública. Os ventos que sopram na sociedade irrompem pelas frestas e até pelas janelas do Supremo, ainda que alguns de seus integrantes sustentem, teoricamente, a necessidade de decisões calcadas exclusivamente na lei e na jurisprudência.
Estão os Meretíssimos atentos ao que se passa do lado de fora. A indignação nacional cresce a olhos vistos diante do espetáculo de corrupção encenado no país. Ficou para o primeiro semestre do ano que vem o julgamento dos réus implicados na mãe de todas as lambanças do governo Lula. É mais tempo para a descoberta de novas falcatruas, aumentando a reação nacional e levando os mensaleiros à agonia.
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ADEUS REFORMA POLÍTICA
De forma lenta, a reforma política sumiu do noticiário. Na Câmara e no Senado arrastam-se bissextos debates e análises nas comissões técnicas, mas ninguém acredita mais na mudança das diretrizes eleitorais básicas. Até porque, passou o prazo para sua aplicação nas eleições do ano que vem, por impositivo constitucional.
Como 2014 está distante e imperscrutável, senadores e deputados dedicam-se a deixar tudo como está, em termos institucionais. Até a mudança na data da posse dos novos presidentes da República ficou para um dia, no futuro…
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SUMIU
Mesmo sem integrar a comitiva da presidente Dilma à África, quem sumiu foi a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti. Nenhuma intervenção teve a ex-senadora na crise porque passa o PCdoB, a partir das denúncias contra o ministro Orlando Silva. Não é com ela se os comunistas históricos viram-se substituídos por capitalistas ditos não-governamentais, encarregados de impulsionar suas ONGs.
Duas explicações surgem a respeito: Ideli refluiu em sua atuação pela ausência de problemas político-partidários de vulto, nas relações da base parlamentar oficial com o governo, ou… Ou a ministra resolveu adotar a máxima que Mussolini aplicava para a Itália na primeira metade do século passado: “Administrar os italianos não é apenas impossível, é inútil”.
Carlos Chagas
AMARGAS REFLEXÕES
Reflexões sobre a fase desmoralizante que vive hoje a política brasileira. Em outro país, o governo já teria sido derrubado.
A novela da fritura do ministro do Esporte, Orlando Silva, entra em seus capítulos finais. Na África, a cozinheira-mor Dilma Rousseff, atenta à temperatura do fogão, avalia que o depoimento de Orlando Silva no Senado não foi suficiente para afastar a pressão política pela demissao dele. Traduzindo: o ministro já pode ir esvaziando as gavetas.
A situação é paradoxal e muito reveladora. Em qualquer país que cultive práticas democráticas, se ocorressem tantos escândalos de corrupção em sequência, o governo estaria balançando, prestes a sofrer impeachment. Mas no Brasil é diferente. Não existe nenhuma pressão sobre a presidente Dilma Rousseff. Pelo contrário, seu prestígio é intocável. A pressão é exercida apenas contra o ministro corrupto, ou melhor, contra o quarto dessa série, que parece interminável.
Portanto, em meio a mais essa fritura, os chamados “cientistas políticos” (seja lá o que isso signifique), têm um belo prato pela frente, para suas análises culinárias. Que país é esse? – poderíamos indagar a eles, imitando Francelino Pereira e Renato Russo. E o que esses cientistas nos diriam? Ora, só podem dizer o óbvio. A opinião pública brasileira já se acostumou a tal ponto com a corrupção que nem liga mais.
Realmente, todos sabem que essas fraudes e irregularidades fazem parte de nossa prática política contemporânea. Os homens de bem (como já dizia Ruy Barbosa, quase 100 anos atrás, quando o grande brasileiro se estarrecia ao ver triunfarem as nulidades) já nem se envergonham mais, não demonstram indignação, estão abúlicos e desalentados.
É uma triste constatação, quando nos vemos diante do nada. A geração que se revoltou contra a ditadura de 1964 e que naquela época demonstrava tanto idealismo, não há dúvida, decididamente fracassou. O PT, que nasceu e frutificou no embalo dessa indignação cívica, também fracassou. A prática que demonstra no poder desmente toda a sua antiga teoria. O PCdoB, último remanescente do comunismo no Brasil, já que o velho Partidão (PCB) não consegue eleger ninguém, também fracassou.
O próprio cidadão Luiz Inácio Lula da Silva, o mais surpreendente e extraordinário político popular de toda a História brasileira, também fracassou. Hoje é apenas um pastiche daquele líder sindicalista em que as pessoas confiavam.
Lula tornou-se um político como outro qualquer, um carreirista, um novo rico que sai pelo mundo, patrocinado por grandes empresários nacionais e estrangeiros, cobrando US$ 300 mil para fazer palestras escritas por seu eterno assessor Luiz Dulci, sem notar que seu prestígio está sendo usado para fins meramente comerciais.
Infelizmente, virou uma figura grotesca e caricata, cheio de si, que nem se dá à honradez de devolver ou rejeitar o salário mensal de R$ 13 mil que recebe do PT, com carteira assinada, férias, décimo terceiro salário e tudo o mais, por conta de uma suposta assessoria que deveria prestar ao partido, vejam a que ponto ele chegou, decididamente não é e nunca mais será aquele Lula, embora o povo continue a amá-lo.
É muito triste constatar que a política brasileira tenha se reduzido a isso, que situação e oposição se equivalham em nível tão baixo, que não tenhamos um líder em quem confiar, que estejamos vivendo no estilo da teoria francesa do “laisser-faire” (poderíamos traduzir livremente como deixa estar para ver como é que fica), que se tornou a expressão-símbolo desse neoliberalismo suicida e insensível.
Mas esta, desgraçadamente, é a nossa realidade hoje, enquanto os chamados “cientistas políticos” se calam, fingindo que não está acontecendo nada. O pior é que as manifestações que vêm sendo realizadas em algumas cidades, para que a sociedade supostamente organizada proteste contra a corrupção, na verdade pouco significam e não terão qualquer consequência.
A síntese de tudo isso é a seguinte: fracassamos, todos nós. Desgraçadamente.
Carlos Newton
A novela da fritura do ministro do Esporte, Orlando Silva, entra em seus capítulos finais. Na África, a cozinheira-mor Dilma Rousseff, atenta à temperatura do fogão, avalia que o depoimento de Orlando Silva no Senado não foi suficiente para afastar a pressão política pela demissao dele. Traduzindo: o ministro já pode ir esvaziando as gavetas.
A situação é paradoxal e muito reveladora. Em qualquer país que cultive práticas democráticas, se ocorressem tantos escândalos de corrupção em sequência, o governo estaria balançando, prestes a sofrer impeachment. Mas no Brasil é diferente. Não existe nenhuma pressão sobre a presidente Dilma Rousseff. Pelo contrário, seu prestígio é intocável. A pressão é exercida apenas contra o ministro corrupto, ou melhor, contra o quarto dessa série, que parece interminável.
Portanto, em meio a mais essa fritura, os chamados “cientistas políticos” (seja lá o que isso signifique), têm um belo prato pela frente, para suas análises culinárias. Que país é esse? – poderíamos indagar a eles, imitando Francelino Pereira e Renato Russo. E o que esses cientistas nos diriam? Ora, só podem dizer o óbvio. A opinião pública brasileira já se acostumou a tal ponto com a corrupção que nem liga mais.
Realmente, todos sabem que essas fraudes e irregularidades fazem parte de nossa prática política contemporânea. Os homens de bem (como já dizia Ruy Barbosa, quase 100 anos atrás, quando o grande brasileiro se estarrecia ao ver triunfarem as nulidades) já nem se envergonham mais, não demonstram indignação, estão abúlicos e desalentados.
É uma triste constatação, quando nos vemos diante do nada. A geração que se revoltou contra a ditadura de 1964 e que naquela época demonstrava tanto idealismo, não há dúvida, decididamente fracassou. O PT, que nasceu e frutificou no embalo dessa indignação cívica, também fracassou. A prática que demonstra no poder desmente toda a sua antiga teoria. O PCdoB, último remanescente do comunismo no Brasil, já que o velho Partidão (PCB) não consegue eleger ninguém, também fracassou.
O próprio cidadão Luiz Inácio Lula da Silva, o mais surpreendente e extraordinário político popular de toda a História brasileira, também fracassou. Hoje é apenas um pastiche daquele líder sindicalista em que as pessoas confiavam.
Lula tornou-se um político como outro qualquer, um carreirista, um novo rico que sai pelo mundo, patrocinado por grandes empresários nacionais e estrangeiros, cobrando US$ 300 mil para fazer palestras escritas por seu eterno assessor Luiz Dulci, sem notar que seu prestígio está sendo usado para fins meramente comerciais.
Infelizmente, virou uma figura grotesca e caricata, cheio de si, que nem se dá à honradez de devolver ou rejeitar o salário mensal de R$ 13 mil que recebe do PT, com carteira assinada, férias, décimo terceiro salário e tudo o mais, por conta de uma suposta assessoria que deveria prestar ao partido, vejam a que ponto ele chegou, decididamente não é e nunca mais será aquele Lula, embora o povo continue a amá-lo.
É muito triste constatar que a política brasileira tenha se reduzido a isso, que situação e oposição se equivalham em nível tão baixo, que não tenhamos um líder em quem confiar, que estejamos vivendo no estilo da teoria francesa do “laisser-faire” (poderíamos traduzir livremente como deixa estar para ver como é que fica), que se tornou a expressão-símbolo desse neoliberalismo suicida e insensível.
Mas esta, desgraçadamente, é a nossa realidade hoje, enquanto os chamados “cientistas políticos” se calam, fingindo que não está acontecendo nada. O pior é que as manifestações que vêm sendo realizadas em algumas cidades, para que a sociedade supostamente organizada proteste contra a corrupção, na verdade pouco significam e não terão qualquer consequência.
A síntese de tudo isso é a seguinte: fracassamos, todos nós. Desgraçadamente.
Carlos Newton
UMA SAÍDA PELA PORTA DOS FUNDOS: AMNÉSIA
Envolvido no escândalo do Ministério do Esporte, o governador de Brasília sofre um ataque de amnésia.
Em meio à sucessão de denúncias, o governador do Distrito Federal e ex-ministro do Esportes, Agnelo Queiroz, ao tentar rebater as acusações do atual ministro Orlando Silva, teve um súbito ataque de amnésia. Não se lembra de ter sugerido a seu sucessor que recebesse o então correligionário João Dias Ferreira, o PM milionário cuja ONG firmou convênio fraudulento com o ministério. Detalhe: na época, os três eram do mesmo partido, o PCB. Depois, Agnelo Queiroz passou para o PT e se elegeu governador, com apoio de Lula.
Ontem, Queiroz disse não lembrar de ter encaminhado o PM a Orlando Silva, ainda que tenha identificado João Dias Ferreira como ex-colega de partido, o PCdoB: “Sequer lembro disso, imagina se vou me lembrar de todas as pessoas que encaminho para as áreas respectivas. Se ele (Orlando) lembra, tudo bem. Mas não há maldade em receber as pessoas e executar projetos dentro da lei. Conhecia o policial, que foi candidato a deputado e fez campanha com minha coligação. É uma relação política”, alegou o ex-ministro, que está sendo acusado de corrupção pela Polícia Federal, em processo que começa a tramitar no Superior Tribunal de Justiça.
Queiroz, que chegou ontem à Suíça para acompanhar o anúncio das datas e locais dos jogos da Copa do Mundo de 2014, afirmou que as denúncias sobre sua participação em esquemas de desvio de verbas em seu ministério não são de sua responsabilidade.
“Passei seis anos no ministério e, quando saí, tive minhas contas todas aprovadas pelo Tribunal de Contas da União. Não houve um único processo contra mim, nem de Segundo Tempo nem de outra coisa. Essa é a realidade de meu mandato. Fora disso, quem responde é o próximo ministro. A responsabilidade é dele” – disse o governador ao repórter Fernando Duarte, de O Globo, que se encontra em Zurique.
O governador também comentou as acusações de que recebeu R$ 256 mil em propinas como parte das fraudes do Segundo Tempo, um programa de repasse de verbas para ONGs ligadas ao esporte, criado na gestão dele no ministério. Segundo o ex-ministro, trata-se da mesma acusação feita durante a campanha eleitoral de 2010 por sua principal adversária, Ueslian Roriz, mulher do ex-governador Joaquim Roriz. E Queiroz diz que agora a denúncia deve ser investigada, como forma de encerrar o que classificou como uma acusação pueril.
Embora tenha se esquivado de críticas a Orlando Silva, com quem disse ter uma ótima relação, Queiroz fez questão de assinalar que seu sucessor foi quem conduziu a maioria dos projetos do Segundo Tempo nos tempos em que Orlando Silva ocupou a secretária-executiva do ministério. O governador, porém, não acredita que as denúncias sejam represálias por parte de seu sucessor.
“Temos uma ótima relação com o ministro e bastante sintonia com o Ministério do Esporte. Não acredito que a denúncia tenha vindo dele (Orlando Silva). É um caso muito baixo, ele jamais estimularia uma coisa dessas”, declarou.
No entanto, quando perguntado se o sucessor deve sobreviver ao escândalo, o governador foi evasivo: “Hoje sou governador do Distrito Federal. Não posso entrar em méritos dessa ordem”.
Traduzindo: ninguém mais defende o ministro Orlando Silva.
Carlos Newton
Em meio à sucessão de denúncias, o governador do Distrito Federal e ex-ministro do Esportes, Agnelo Queiroz, ao tentar rebater as acusações do atual ministro Orlando Silva, teve um súbito ataque de amnésia. Não se lembra de ter sugerido a seu sucessor que recebesse o então correligionário João Dias Ferreira, o PM milionário cuja ONG firmou convênio fraudulento com o ministério. Detalhe: na época, os três eram do mesmo partido, o PCB. Depois, Agnelo Queiroz passou para o PT e se elegeu governador, com apoio de Lula.
Ontem, Queiroz disse não lembrar de ter encaminhado o PM a Orlando Silva, ainda que tenha identificado João Dias Ferreira como ex-colega de partido, o PCdoB: “Sequer lembro disso, imagina se vou me lembrar de todas as pessoas que encaminho para as áreas respectivas. Se ele (Orlando) lembra, tudo bem. Mas não há maldade em receber as pessoas e executar projetos dentro da lei. Conhecia o policial, que foi candidato a deputado e fez campanha com minha coligação. É uma relação política”, alegou o ex-ministro, que está sendo acusado de corrupção pela Polícia Federal, em processo que começa a tramitar no Superior Tribunal de Justiça.
Queiroz, que chegou ontem à Suíça para acompanhar o anúncio das datas e locais dos jogos da Copa do Mundo de 2014, afirmou que as denúncias sobre sua participação em esquemas de desvio de verbas em seu ministério não são de sua responsabilidade.
“Passei seis anos no ministério e, quando saí, tive minhas contas todas aprovadas pelo Tribunal de Contas da União. Não houve um único processo contra mim, nem de Segundo Tempo nem de outra coisa. Essa é a realidade de meu mandato. Fora disso, quem responde é o próximo ministro. A responsabilidade é dele” – disse o governador ao repórter Fernando Duarte, de O Globo, que se encontra em Zurique.
O governador também comentou as acusações de que recebeu R$ 256 mil em propinas como parte das fraudes do Segundo Tempo, um programa de repasse de verbas para ONGs ligadas ao esporte, criado na gestão dele no ministério. Segundo o ex-ministro, trata-se da mesma acusação feita durante a campanha eleitoral de 2010 por sua principal adversária, Ueslian Roriz, mulher do ex-governador Joaquim Roriz. E Queiroz diz que agora a denúncia deve ser investigada, como forma de encerrar o que classificou como uma acusação pueril.
Embora tenha se esquivado de críticas a Orlando Silva, com quem disse ter uma ótima relação, Queiroz fez questão de assinalar que seu sucessor foi quem conduziu a maioria dos projetos do Segundo Tempo nos tempos em que Orlando Silva ocupou a secretária-executiva do ministério. O governador, porém, não acredita que as denúncias sejam represálias por parte de seu sucessor.
“Temos uma ótima relação com o ministro e bastante sintonia com o Ministério do Esporte. Não acredito que a denúncia tenha vindo dele (Orlando Silva). É um caso muito baixo, ele jamais estimularia uma coisa dessas”, declarou.
No entanto, quando perguntado se o sucessor deve sobreviver ao escândalo, o governador foi evasivo: “Hoje sou governador do Distrito Federal. Não posso entrar em méritos dessa ordem”.
Traduzindo: ninguém mais defende o ministro Orlando Silva.
Carlos Newton
O PROBLEMA ESTÁ NO RUÍDO
O filósofo prussiano Immanuel Kant (1724-1804) resume bem o que vem a ser credibilidade na boa teoria macroeconômica. Para ele, se você quer ter credibilidade deve necessariamente cumprir com suas promessas. Todo o regime de metas de inflação, diga-se, está fundado nesse pequeno grande conceito.
É de se perguntar justamente porque os bancos centrais devem perseguir uma meta de inflação. Por que não uma meta de crescimento ou mesmo uma de câmbio? Melhor ainda: por que não as três? Tais questionamentos estão todos os dias nos jornais, envolvendo economistas das mais diferentes escolas de pensamento. Aqui exponho alguns argumentos a favor do regime de metas de inflação, implantado “meio que por acaso” no Brasil, em 1999.
O debate sobre se um banco central deve ou não seguir uma meta tem seu ponto alto no modelo Barro-Gordon, de 19831. Neste, os bancos centrais discricionários estão sujeitos ao que ficou conhecido como viés inflacionário. Em outros termos, dão preferência a um pouco mais de inflação por um pouco mais de crescimento.
O diabo, leitor, é que aquela correção positiva entre crescimento e inflação ganhou nova roupagem na década de 70. Dadas as mudanças na economia mundial (choque de commodities, principalmente petróleo), a troca entre um e outro deixou de ser estável – se é que algum dia o foi. Em outras palavras, mais crescimento implica em uma inflação em contínuo aumento. Daí que para evitar o viés inflacionário e ciclos políticos (alternância entre governos “gastadores” e governos “conservadores” em termos de política econômica), viu-se que metas factíveis seriam melhor para promoção do bem-estar.
Há, é claro, muitas outras questões teóricas envolvidas. O consenso que se formou a partir do debate sobre se um banco central deveria conduzir a política monetária via regras ou via discrição (ausência de regras) tem outras suposições. As duas mais importantes referem-se ao que vem a causar o crescimento econômico. No curto prazo, um aumento de demanda (consumo das famílias, financiado via crédito bancário), pode gerar um aumento de produção. Entretanto, no médio e longo prazo, aumentos na produção de bens e serviços estão condicionados à disponibilidade de tecnologia, capital e mão de obra qualificada. E sobre isso, poucos economistas discordam.
A discordância está basicamente em um outro aspecto do regime de metas de inflação. Para muitos críticos, a suposição implícita do modelo é que a política monetária é neutra em relação a variáveis reais, i.e., uma elevação na oferta de moeda só tem o poder de elevar preços e não causa, portanto, crescimento econômico. Essa suposição implicaria que a economia trabalha o tempo o todo naquilo que os economistas chamam de produto de equilíbrio ou pleno emprego de fatores. O que, sob o olhar dos dados, seria uma aberração. Daí que a busca da estabilidade de preços, como meta única, seria algo extremamente míope, frente a outras variáveis econômicas, como desemprego de mão de obra. A crítica, leitor, é correta?
Definitivamente, não. Em primeiro lugar, a operacionalidade do regime de metas não supõe que o produto trabalha o tempo todo em equilíbrio. Pode haver discrepâncias – às vezes grave – entre o que pode ser considerado o potencial de crescimento de uma economia e aquilo que de fato é observado. Isso pode ocorrer por diferentes razões, tais como deterioração de expectativas tanto de consumidores quanto de empresários sobre o cenário econômico. Uma medida usual para captar esse desvio entre o que podemos e que de fato crescemos chama-se hiato do produto, insistentemente monitorado pelos bancos centrais ao redor do mundo.
Em um cenário adverso, portanto, onde a economia cresce abaixo do potencial é recomendável – se for possível – que o Banco Central baixe a taxa básica de juros, a fim de induzir maior crescimento. Desse modo, podemos classificar que se o objetivo explícito da autoridade monetária é a estabilidade de preços, o objetivo implícito é manter a economia crescendo naquilo que é seu potencial. Em outros termos, o Banco Central procura minimizar a diferença entre o crescimento efetivo e o potencial, de modo a manter tanto a inflação controlada quanto a economia crescendo de acordo com a disponibilidade de fatores de produção.
É claro que isso não é uma tarefa simples. Saber, por exemplo, qual o potencial de crescimento da economia brasileira está baseado em estimações estatísticas. Sob diferentes abordagens, todos os parâmetros estimados estão sujeitos a certa dose de suposições, o que depende explicitamente da formação do economista envolvido. E é justamente nesse ponto onde convergem todas as críticas em relação à condução da política monetária nos últimos anos. Para estes, o Banco Central teria condenado a economia brasileira a crescer menos do que poderia, a título de uma pretensa estabilidade de preços. Seria isso verdade?
Novamente os dados discordam. Nos últimos onze anos de operacionalização do regime de metas, a economia cresceu a uma média de 3,4% a.a., e a inflação oficial – medida pelo IPCA – ficou em 6,79% no mesmo período. Em apenas três anos o centro da meta foi alcançado. Daí que, mesmo sob o olhar bruto da realidade, não se pode classificar o Banco Central como obcecado pelo controle de preços. Um olhar mais amplo sobre o período daria atenção aos choques pelos quais passou a economia brasileira. No período recente, os mais importantes foram os choques de commodities e o descompasso crescente entre oferta e demanda, principalmente dado o contínuo aumento dos gastos públicos e os gargalos da economia brasileira – que impedem um crescimento mais significativo da oferta doméstica.
Nesse contexto, o Banco Central tem feito um bom trabalho, dadas as dificuldades que a realidade lhe impõe. Mais do que isso: ele tem feito um trabalho dobrado, dada a rigidez da política fiscal e os problemas com a disponibilidade de fatores. Daí que o modelo de metas de inflação põe o dedo na ferida: crescimento econômico está muito além da política monetária. Ele depende de como a economia incorpora tecnologia, em como aumenta o estoque de capital e, mais do que nunca, em como qualifica sua mão de obra. Nada disso, leitor, está sob o controle da autoridade monetária.
Daí que sob a égide de uma estrutura produtiva, o Banco Central compromete-se em entregar um determinado nível geral de preços. Afinal, a sua causa última, a oferta de moeda, é a única variável sob a qual ele possui algum grau de controle. Mas não mais no sentido Friedman estrito, mas no que Svensson classificou como “modelo baseado em expectativas”. A autoridade monetária é, no fim das contas, um coordenador de expectativas. E para fazer seu trabalho bem feito é que ele precisa seguir o conselho de Kant: precisa cumprir suas promessas. Quando não cumpre, perde credibilidade, deixa de influenciar expectativas, deixa de exercer influência sobre o nível de preços.
Mas não é apenas isso e é ai que eu entro no título do artigo. Entre promessas e credibilidade há algo pouco compreendido por alguns economistas: comunicação. Se o regime é de metas de inflação, está explícito que a autoridade monetária deve perseguir um determinado nível de preços em um horizonte predeterminado de tempo. Daí que se ele alcança é porque possui credibilidade junto aos agentes econômicos. Se não obtém sucesso é porque não conseguiu se fazer entender. Em outras palavras, o Banco Central não possui controle sobre o objetivo (estabilidade de preços), mas apenas influência sobre os formadores de preços (consumidores e empresários). Se estes não entendem o cenário desenhado pela autoridade monetária ou ficam confusos com as declarações do seu controlador (o governo), tendem a se proteger de eventuais deteriorações de preços, via reajustes de salários e repasse para preços.
Entende-se assim que um Banco Central que não consegue convencer os agentes sobre seus planos não consegue portanto alcançar um determinado nível de preços. E é justamente isto, leitor, que está ocorrendo na conjuntura econômica atual: um problema de ruído. O Banco Central revela em seus cenários prospectivos que a convergência para a meta de 4,5% se dá no segundo trimestre de 2013, tendo como premissas uma taxa de juros de 12% a.a. e uma taxa de câmbio de 1,65 R$/US$. Mas coloca ruído na mensagem, quando não revela outras hipóteses consideradas em um cenário alternativo, que prevê basicamente uma deterioração no cenário externo. Aumenta-se o ruído quando há ingerência sobre as decisões do central banker, ou seja, quando o ministério da Fazenda e a presidente dizem em alto e bom som que perseguem juros reais em torno de 2% a.a.
É nesse aspecto, leitor, que uma melhora urgente na comunicação entre o governo e o mercado é onde está a chave para alcançar a meta de 4,5% e a menor perda possível de crescimento econômico. Não há ideologias aqui. Independente do que pensa o ministro da fazenda ou a presidente, é fato que não há coerência entre os discursos. A presidente quer defender a todo o custo um nível de crescimento, mas pouco se preocupa com a inflação. E isso acaba por confundir os agentes econômicos. O problema é, portanto, basicamente de ruído na comunicação.
20 de outubro de 2011
Vítor Wilher
É de se perguntar justamente porque os bancos centrais devem perseguir uma meta de inflação. Por que não uma meta de crescimento ou mesmo uma de câmbio? Melhor ainda: por que não as três? Tais questionamentos estão todos os dias nos jornais, envolvendo economistas das mais diferentes escolas de pensamento. Aqui exponho alguns argumentos a favor do regime de metas de inflação, implantado “meio que por acaso” no Brasil, em 1999.
O debate sobre se um banco central deve ou não seguir uma meta tem seu ponto alto no modelo Barro-Gordon, de 19831. Neste, os bancos centrais discricionários estão sujeitos ao que ficou conhecido como viés inflacionário. Em outros termos, dão preferência a um pouco mais de inflação por um pouco mais de crescimento.
O diabo, leitor, é que aquela correção positiva entre crescimento e inflação ganhou nova roupagem na década de 70. Dadas as mudanças na economia mundial (choque de commodities, principalmente petróleo), a troca entre um e outro deixou de ser estável – se é que algum dia o foi. Em outras palavras, mais crescimento implica em uma inflação em contínuo aumento. Daí que para evitar o viés inflacionário e ciclos políticos (alternância entre governos “gastadores” e governos “conservadores” em termos de política econômica), viu-se que metas factíveis seriam melhor para promoção do bem-estar.
Há, é claro, muitas outras questões teóricas envolvidas. O consenso que se formou a partir do debate sobre se um banco central deveria conduzir a política monetária via regras ou via discrição (ausência de regras) tem outras suposições. As duas mais importantes referem-se ao que vem a causar o crescimento econômico. No curto prazo, um aumento de demanda (consumo das famílias, financiado via crédito bancário), pode gerar um aumento de produção. Entretanto, no médio e longo prazo, aumentos na produção de bens e serviços estão condicionados à disponibilidade de tecnologia, capital e mão de obra qualificada. E sobre isso, poucos economistas discordam.
A discordância está basicamente em um outro aspecto do regime de metas de inflação. Para muitos críticos, a suposição implícita do modelo é que a política monetária é neutra em relação a variáveis reais, i.e., uma elevação na oferta de moeda só tem o poder de elevar preços e não causa, portanto, crescimento econômico. Essa suposição implicaria que a economia trabalha o tempo o todo naquilo que os economistas chamam de produto de equilíbrio ou pleno emprego de fatores. O que, sob o olhar dos dados, seria uma aberração. Daí que a busca da estabilidade de preços, como meta única, seria algo extremamente míope, frente a outras variáveis econômicas, como desemprego de mão de obra. A crítica, leitor, é correta?
Definitivamente, não. Em primeiro lugar, a operacionalidade do regime de metas não supõe que o produto trabalha o tempo todo em equilíbrio. Pode haver discrepâncias – às vezes grave – entre o que pode ser considerado o potencial de crescimento de uma economia e aquilo que de fato é observado. Isso pode ocorrer por diferentes razões, tais como deterioração de expectativas tanto de consumidores quanto de empresários sobre o cenário econômico. Uma medida usual para captar esse desvio entre o que podemos e que de fato crescemos chama-se hiato do produto, insistentemente monitorado pelos bancos centrais ao redor do mundo.
Em um cenário adverso, portanto, onde a economia cresce abaixo do potencial é recomendável – se for possível – que o Banco Central baixe a taxa básica de juros, a fim de induzir maior crescimento. Desse modo, podemos classificar que se o objetivo explícito da autoridade monetária é a estabilidade de preços, o objetivo implícito é manter a economia crescendo naquilo que é seu potencial. Em outros termos, o Banco Central procura minimizar a diferença entre o crescimento efetivo e o potencial, de modo a manter tanto a inflação controlada quanto a economia crescendo de acordo com a disponibilidade de fatores de produção.
É claro que isso não é uma tarefa simples. Saber, por exemplo, qual o potencial de crescimento da economia brasileira está baseado em estimações estatísticas. Sob diferentes abordagens, todos os parâmetros estimados estão sujeitos a certa dose de suposições, o que depende explicitamente da formação do economista envolvido. E é justamente nesse ponto onde convergem todas as críticas em relação à condução da política monetária nos últimos anos. Para estes, o Banco Central teria condenado a economia brasileira a crescer menos do que poderia, a título de uma pretensa estabilidade de preços. Seria isso verdade?
Novamente os dados discordam. Nos últimos onze anos de operacionalização do regime de metas, a economia cresceu a uma média de 3,4% a.a., e a inflação oficial – medida pelo IPCA – ficou em 6,79% no mesmo período. Em apenas três anos o centro da meta foi alcançado. Daí que, mesmo sob o olhar bruto da realidade, não se pode classificar o Banco Central como obcecado pelo controle de preços. Um olhar mais amplo sobre o período daria atenção aos choques pelos quais passou a economia brasileira. No período recente, os mais importantes foram os choques de commodities e o descompasso crescente entre oferta e demanda, principalmente dado o contínuo aumento dos gastos públicos e os gargalos da economia brasileira – que impedem um crescimento mais significativo da oferta doméstica.
Nesse contexto, o Banco Central tem feito um bom trabalho, dadas as dificuldades que a realidade lhe impõe. Mais do que isso: ele tem feito um trabalho dobrado, dada a rigidez da política fiscal e os problemas com a disponibilidade de fatores. Daí que o modelo de metas de inflação põe o dedo na ferida: crescimento econômico está muito além da política monetária. Ele depende de como a economia incorpora tecnologia, em como aumenta o estoque de capital e, mais do que nunca, em como qualifica sua mão de obra. Nada disso, leitor, está sob o controle da autoridade monetária.
Daí que sob a égide de uma estrutura produtiva, o Banco Central compromete-se em entregar um determinado nível geral de preços. Afinal, a sua causa última, a oferta de moeda, é a única variável sob a qual ele possui algum grau de controle. Mas não mais no sentido Friedman estrito, mas no que Svensson classificou como “modelo baseado em expectativas”. A autoridade monetária é, no fim das contas, um coordenador de expectativas. E para fazer seu trabalho bem feito é que ele precisa seguir o conselho de Kant: precisa cumprir suas promessas. Quando não cumpre, perde credibilidade, deixa de influenciar expectativas, deixa de exercer influência sobre o nível de preços.
Mas não é apenas isso e é ai que eu entro no título do artigo. Entre promessas e credibilidade há algo pouco compreendido por alguns economistas: comunicação. Se o regime é de metas de inflação, está explícito que a autoridade monetária deve perseguir um determinado nível de preços em um horizonte predeterminado de tempo. Daí que se ele alcança é porque possui credibilidade junto aos agentes econômicos. Se não obtém sucesso é porque não conseguiu se fazer entender. Em outras palavras, o Banco Central não possui controle sobre o objetivo (estabilidade de preços), mas apenas influência sobre os formadores de preços (consumidores e empresários). Se estes não entendem o cenário desenhado pela autoridade monetária ou ficam confusos com as declarações do seu controlador (o governo), tendem a se proteger de eventuais deteriorações de preços, via reajustes de salários e repasse para preços.
Entende-se assim que um Banco Central que não consegue convencer os agentes sobre seus planos não consegue portanto alcançar um determinado nível de preços. E é justamente isto, leitor, que está ocorrendo na conjuntura econômica atual: um problema de ruído. O Banco Central revela em seus cenários prospectivos que a convergência para a meta de 4,5% se dá no segundo trimestre de 2013, tendo como premissas uma taxa de juros de 12% a.a. e uma taxa de câmbio de 1,65 R$/US$. Mas coloca ruído na mensagem, quando não revela outras hipóteses consideradas em um cenário alternativo, que prevê basicamente uma deterioração no cenário externo. Aumenta-se o ruído quando há ingerência sobre as decisões do central banker, ou seja, quando o ministério da Fazenda e a presidente dizem em alto e bom som que perseguem juros reais em torno de 2% a.a.
É nesse aspecto, leitor, que uma melhora urgente na comunicação entre o governo e o mercado é onde está a chave para alcançar a meta de 4,5% e a menor perda possível de crescimento econômico. Não há ideologias aqui. Independente do que pensa o ministro da fazenda ou a presidente, é fato que não há coerência entre os discursos. A presidente quer defender a todo o custo um nível de crescimento, mas pouco se preocupa com a inflação. E isso acaba por confundir os agentes econômicos. O problema é, portanto, basicamente de ruído na comunicação.
20 de outubro de 2011
Vítor Wilher
MARANHÃO: OS TRIBUNAIS ELEITORAIS COMO INSTRUMENTOS DE GOLPE DE ESTADO
Depois de quarenta anos de controle absoluto sobre o Palácio dos Leões, a oligarquia Sarney foi derrotada em eleições livres para o governo do Maranhão em outubro de 2006.
Jackson Lago (PDT) recebeu 1.393.754 votos no segundo turno e venceu Roseana Sarney (PFL) com quase 100.000 votos de diferença. Ontem, aconteceu o desfecho esperado, que acelera a desmoralização dos tribunais superiores no Brasil. O TSE aceitou a representação da coligação da família dona do estado.
Jackson Lago foi cassado por “abuso de poder econômico” durante a eleição. É quase uma piada pronta: um adversário de Sarney ser cassado no Maranhão por abuso de poder econômico.
O desfecho era esperado porque, como sabemos, os Sarney são, literalmente, os donos do Maranhão. Como já notou o blog Loco por ti, no Maranhão você nasce na Maternidade Marly Sarney. Para sua educação, você tem várias opções, as escolas Roseana Sarney, Fernando Sarney, Marly Sarney e José Sarney. A oligarquia é dona do jornal O Estado do Maranhão, da TV Mirante (filial da Globo), das Mirante AM e FM e de 35 emissoras de rádio e 13 retransmissoras da TV Mirante no interior. Mas a coisa não pára aí.
No Maranhão, o Tribunal de Contas chama-se Roseana Murad Sarney. Caso você queira reclamar, terá que ir à Sala de Defensoria Pública Kiola Sarney, localizada no Fórum José Sarney.
O processo contra Jackson Lago foi tão inacreditável que a presidenta do Tribunal Regional Eleitoral do Maranhão (adivinhem como ela se chama? Nelma ..... Sarney!) pediu a presença da polícia para a cerimônia em que a Assembleia Legislativa empossaria Roseana Sarney como nova governadora. Até aí, tudo bem. O singelo adendo é que faz a diferença: o pedido foi feito antes da decisão do TSE. Parece até que já sabiam.
Como meu masoquismo não tem limites, acabei fazendo o que, na minha opinião, os jornalistas deveriam fazer antes de dizer suas bobagens pouco fundamentadas: ler a sentença. Ela está disponível neste pdf.
Jackson Lago foi cassado por 11 acusações que, na verdade, se reduzem a duas, compra de votos e abuso de poder na assinatura de convênios. Quanto àquela, as “provas” apresentadas pela oligarquia foram testemunhas, uma das quais, inclusive, se retratou depois.
Avaliando esse episódio, o Ministro Marcelo Ribeiro afirmou (p.18): Realmente, Senhor Presidente, causa certa especle que a pessoa venda seu voto e em seguida declare isso em cartório, registre escritura, para, logo após, retratar-se e dizer que não o vendeu.
Talvez o Ministro Marcelo Ribeiro devesse fazer uma viagem ao Maranhão para conhecer o poder de coação da oligarquia Sarney.
Alguém em sã consciência acredita que os Sarney teriam alguma dificuldade para encontrar no Maranhão testemunhas dispostas a jurar que foram abduzidas por seres extraterrestres?
Vamos aos convênios. Nada nas 114 páginas da sentença demonstra que os convênios tenham sido em nada diferentes dos milhões de convênios firmados entre governos estaduais e prefeituras pelo Brasil afora. Que esses convênios, em geral acompanhados de comícios, têm objetivo eleitoral, me parece o óbvio do óbvio.
Cassemos todos então? O parecer do Ministério Público Eleitoral citado na sentença inacreditavelmente afirma: Basta a probabilidade de comprometimento da normalidade e equilíbrio da disputa para que o diploma seja cassado. A probabilidade. Vejam só.
Roseana já foi empossada pela Assembleia e Jackson Lago continua no Palácio dos Leões, acompanhado de centenas de correligionários. Chegou a declarar que só sairia de lá morto ou arrastado.
Ontem, Noblat noticiou que Lago havia voltado atrás e sairia às 9 da manhã de hoje, segundo "sua assessoria". Como o blog de Noblat tem pouca credibilidade, eu não encontrei confirmação em nenhum outro lugar, e já são 9 da manhã aí em Brasília, aguardo mais notícias por outras vias.
Maranhenses que estão acompanhando o processo apostam que Roseana vai se licenciar por razões de saúde, voltar ao Senado logo depois e deixar que assuma seu vice, que já comandou um esquadrão da morte.
O prefeito de Campo Novo-MA também foi cassado pelo TRE e a população, revoltada, tocou fogo na Câmara e na Prefeitura. Ainda no Maranhão, o Tribunal de Justiça condenou à aposentadoria compulsória um juiz de pouco mais de quarenta anos. Parece que ele estava incomodando.
As notícias maranhenses não controladas pela oligarquia Sarney aparecem no Jornal Pequeno. Aqui é possível ouvir uma entrevista com Jackson Lago. Aqui, você pode ler a constituição do Maranhão, cujo artigo 61 afirma claramente: Vagando os cargos de Governador e de Vice-Governador do Estado, far-se-á eleição noventa dias depois de aberta a última vaga. § 1o - Ocorrendo a vacância nos dois últimos anos do período governamental, a eleição para ambos será feita trinta dias depois da última vaga, pela Assembleia Legislativa, na forma da lei..
Não houve, evidentemente, nenhuma eleição na Assembleia. Simplesmente empossaram Roseana.
PS: A foto é daqui. Para a produção deste post, contei com a ajuda e saber jurídico do amigo Alexandre Nodari. A responsabilidade pelo dito aqui, claro, é só minha.
Escrito por Idelber
biscoito fino
QUANTO ALGUMAS ONGs GANHAM COM A MISÉRIA?
"Quanto vale ou é por quilo?" é o mais novo filme de Sérgio Bianchi.
ONGs e entidades desonestas são acusadas de lucrarem com a miséria, usando dinheiro público. E ainda mostra como a miséria tem cor e endereço certos. É negra e favelada.
Infelizmente o filme não vai chegar ao grande público. Mas é bastante didático e coloca o dedo na ferida da "indústria da solidariedade". Deveria ser visto em escolas, cursinhos populares, associações comunitárias. Mas sempre seguido de debates. Até para que ONGs e entidades sérias possam se defender.
O filme começa com a história de uma escrava que conseguiu comprar sua liberdade, no final do século 18. Trabalhando e poupando, ela conseguiu ter uma pequena propriedade e alguns escravos. Mas, eis que aparecem alguns capitães-do-mato em seu rancho. São caçadores de escravos fugitivos. Eles prendem um de seus cativos. Ela protesta, mas não adianta. Seguindo os caçadores, ela vê que eles entregam o negro na casa de um senhor branco.
A negra bate à porta do dito cujo. Mostra os papéis que provam ser ela a proprietária do escravo. O senhor branco fecha a porta na cara dela. Revoltada, ela grita: "lugar de ladrão é na cadeia". Resultado: é processada e condenada por perturbação da ordem pública. Trata-se de um caso verdadeiro. Ao longo do filme, eles se repetirão, com os devidos registros e datas.
Esta cena mostra que ser proprietário no Brasil não basta. É preciso ser branco também. Mesmo hoje, ter um automóvel novo e ser negro é motivo suficiente para ser vítima de batidas policiais ou coisa pior. Mas o caso revela outra coisa, também. É o mecanismo de repasse da dominação. A negra liberta também tem seus escravos. É natural, diz o narrador do filme. É assim que funcionava o sistema na época. Só que esse mecanismo continua a funcionar, diz o filme.
Para ilustrar isso há uma cena nos tempos de hoje. Uma Kombi chega na madrugada para ajudar mendigos. Distribuir cobertas, sopa e café. Logo em seguida, um outro grupo chega em outra perua. É expulso pela líder do primeiro veículo. Ela quase diz "esses mendigos são meus. Caiam fora". É a remediada ajudando os esfarrapados, para continuar recolhendo donativos e fazendo seu pé-de-meia.
Voltando ao passado escravista, o filme conta a história de uma escrava idosa que tenta juntar o dinheiro suficiente para se libertar. Conhece uma senhora branca que não é rica, mas é esperta. Paga a liberdade da velha escrava em troca do trabalho dela por mais um ano, pago com juros. O investimento dá resultado. A velhinha acaba tendo que trabalhar por mais 3 anos antes de se ver livre de sua "benfeitora".
O paralelo é claro. Tanto no tempo da escravidão, como na época atual, há um espaço para fazer jogadas. Num caso, são os brancos pobres explorando negros cativos. No outro, são empreendedores espertos da solidariedade transformando a miséria em fonte de riqueza. De um lado, continuam sendo quase todos brancos. De outro, quase todos são negros.
Multiplicar o número de criminosos e crianças pobres para criar empregos
Os paralelos vão se multiplicando. Mais um caso antigo aparece. Fala sobre os capitães-do-mato da época da escravidão. A maioria era formada por negros. Viviam de caçar escravos fugidos. É o caso de um deles, que captura uma negra fugida. Ela está grávida e aborta no momento em que é entregue a seu dono. A negra sangra ao lado dos dois, enquanto o narrador explica que o dinheiro ganho pelo caçador servirá para que o filho tenha uma vida melhor que a dele.
De volta ao mundo atual, um desempregado é pressionado pela mulher grávida e pela tia a trazer dinheiro para casa. Desesperado, ele vira matador-de-aluguel. Suas vítimas são negras e pobres como ele. Não seria mais do que um capitão-do-mato moderno, e também procura um futuro melhor para seu filho. Apesar disso, a tia do matador explica que serviços como o que ele faz conta com gente muito mais profissional e treinada. Enquanto ela fala, aparece a cena mais corajosa do filme. Um camburão invade o calçadão da Praça da Sé no meio da madrugada. Os policiais arrancam crianças-de-rua de seu sono, ao pé de uma árvore. Jogam-nas dentro do compartimento dos presos. Tudo indica que o destino delas será o extermínio.
Continuam os casos registrados. Na época do império, um negro é alugado para fazer a contabilidade de uma empresa. Acusado de roubo, foge. É preso e violentamente espancado. Seu proprietário processa o dono da empresa que o alugou. Prova que o escravo não roubara nada. Exige indenização, dizendo que seu patrimônio foi danificado. Ganha a causa e recupera com lucros o investimento perdido na recuperação do escravo.
É desse jeito que nasceu o capitalismo. Seres humanos eram mercadorias. Depois no capitalismo maduro, tornaram-se menos do que isso. Apenas objetos de exploração. Mas hoje, também há os que nem isso são mais. São os desempregados, mendigos, presidiários, crianças abandonadas.
Nem por isso deixam de ser fonte de lucros, acusa o filme de Bianchi. Mas também sobram ataques aos governos. Há, por exemplo, uma propaganda governamental que conta as maravilhas envolvidas com a criação de empregos através da construção de presídios. Um outro comercial cita o dinamismo da ação solidária. Um entusiasmado locutor diz que cada criança desamparada gera 5 empregos. A lógica é óbvia. Multiplicar o número de criminosos e crianças pobres para criar empregos!
Mas tudo isso tem uma galinha dos ovos de ouro. É o acesso aos fundos públicos. Seminários e cursos ensinam como agarrar essa galinha sem ficar só com as penas nas mãos. O caminho passa por conhecer a pessoa certa na hora certa e no lugar adequado. A taxa de acesso varia entre 15% e 20%, claro.
Uma conta muito didática é exposta. Diz o filme que são cerca de 10 mil crianças de rua no Brasil. As verbas públicas reservadas para dar conta do problema seriam de, mais ou menos, 1 milhão de reais. Este milhão dividido pelas 10 mil crianças seria suficiente para lhes pagar escola particular do primário até a faculdade, por exemplo. Mas esse dinheiro precisa passar por ONGs, entidades assistenciais e empresas "solidárias". Tal como no caso da senhora escrava e da branca esperta a liberdade tem intermediários prontos a lucrar com isso.
Entidades "pilantrópicas" seqüestram o dinheiro público usando os pobres como reféns.
O que parece ser uma alternativa a tudo isso surge com o personagem do presidiário negro. Numa cela superlotada ele olha para a câmera e explica "Quando éramos escravos, éramos máquinas. Investimentos de capital. Tínhamos que ser mantidos alimentados e saudáveis. Agora, somos escravos sem senhor". E conclui: "Na democracia, só existe liberdade para quem pode consumir".
Esse mesmo personagem foge da cadeia. Pagou para isso e, agora, quer recuperar o investimento. Seqüestra um dos sócios de uma ONG. Consegue receber o resgate, depois de enviar uma orelha e outros pedaços do refém à sua esposa. Chama a isso de redistribuição de renda.
Enquanto isso, a negra Arminda descobre o superfaturamento na compra dos computadores feita por uma ONG para sua comunidade. Consegue provas da maracutaia. Exige que a entidade use o dinheiro que desviou para comprar computadores decentes. Sem conseguir ser atendida, ela invade uma festa da entidade e grita: "Lugar de ladrão é na cadeia".
Diante disso, os pilantras e seus amigos políticos decidem resolver o problema. O matador-de-aluguel é convocado. Vai atrás de Arminda, tal como o capitão-do-mato fizera com a escrava fugida. Arminda morre com um tiro. O filme acaba. A sensação é de que não há saída. Mas, há um final alternativo.
Depois de iniciados os letreiros finais, a cena se repete. Dessa vez, Arminda convence o matador a poupar sua vida. Propõe formar um grupo para seqüestrar todos "os filhos da puta que roubam dinheiro do Estado". Agora sim, o filme acaba.
O problema é que o final alternativo também não aponta soluções. Claro que a vontade é concordar com Arminda e sair fazendo justiça com as próprias mãos. Mas, justiça será feita mesmo é coletivamente. A partir da organização dos de baixo para exigir políticas públicas reais. ONGs desonestas e entidades "pilantrópicas" devem ser condenadas. Elas seqüestram o dinheiro público usando os pobres como reféns. Mas, seqüestrar os seqüestradores não resolve. Eles só existem porque se beneficiam do esquema maior do poder. Da terrível distribuição de renda e da secular dominação racista.
Além disso, há o risco de valorizar demais as relações de dominação e exploração entre pobres e menos pobres. O principal é fazer mira nos poderosos, nos governos ou fora deles. O resto é conseqüência. De qualquer maneira, é um filme corajoso.
FONTE: http://www.espacoacademico.com.br
ONGs e entidades desonestas são acusadas de lucrarem com a miséria, usando dinheiro público. E ainda mostra como a miséria tem cor e endereço certos. É negra e favelada.
Infelizmente o filme não vai chegar ao grande público. Mas é bastante didático e coloca o dedo na ferida da "indústria da solidariedade". Deveria ser visto em escolas, cursinhos populares, associações comunitárias. Mas sempre seguido de debates. Até para que ONGs e entidades sérias possam se defender.
O filme começa com a história de uma escrava que conseguiu comprar sua liberdade, no final do século 18. Trabalhando e poupando, ela conseguiu ter uma pequena propriedade e alguns escravos. Mas, eis que aparecem alguns capitães-do-mato em seu rancho. São caçadores de escravos fugitivos. Eles prendem um de seus cativos. Ela protesta, mas não adianta. Seguindo os caçadores, ela vê que eles entregam o negro na casa de um senhor branco.
A negra bate à porta do dito cujo. Mostra os papéis que provam ser ela a proprietária do escravo. O senhor branco fecha a porta na cara dela. Revoltada, ela grita: "lugar de ladrão é na cadeia". Resultado: é processada e condenada por perturbação da ordem pública. Trata-se de um caso verdadeiro. Ao longo do filme, eles se repetirão, com os devidos registros e datas.
Esta cena mostra que ser proprietário no Brasil não basta. É preciso ser branco também. Mesmo hoje, ter um automóvel novo e ser negro é motivo suficiente para ser vítima de batidas policiais ou coisa pior. Mas o caso revela outra coisa, também. É o mecanismo de repasse da dominação. A negra liberta também tem seus escravos. É natural, diz o narrador do filme. É assim que funcionava o sistema na época. Só que esse mecanismo continua a funcionar, diz o filme.
Para ilustrar isso há uma cena nos tempos de hoje. Uma Kombi chega na madrugada para ajudar mendigos. Distribuir cobertas, sopa e café. Logo em seguida, um outro grupo chega em outra perua. É expulso pela líder do primeiro veículo. Ela quase diz "esses mendigos são meus. Caiam fora". É a remediada ajudando os esfarrapados, para continuar recolhendo donativos e fazendo seu pé-de-meia.
Voltando ao passado escravista, o filme conta a história de uma escrava idosa que tenta juntar o dinheiro suficiente para se libertar. Conhece uma senhora branca que não é rica, mas é esperta. Paga a liberdade da velha escrava em troca do trabalho dela por mais um ano, pago com juros. O investimento dá resultado. A velhinha acaba tendo que trabalhar por mais 3 anos antes de se ver livre de sua "benfeitora".
O paralelo é claro. Tanto no tempo da escravidão, como na época atual, há um espaço para fazer jogadas. Num caso, são os brancos pobres explorando negros cativos. No outro, são empreendedores espertos da solidariedade transformando a miséria em fonte de riqueza. De um lado, continuam sendo quase todos brancos. De outro, quase todos são negros.
Multiplicar o número de criminosos e crianças pobres para criar empregos
Os paralelos vão se multiplicando. Mais um caso antigo aparece. Fala sobre os capitães-do-mato da época da escravidão. A maioria era formada por negros. Viviam de caçar escravos fugidos. É o caso de um deles, que captura uma negra fugida. Ela está grávida e aborta no momento em que é entregue a seu dono. A negra sangra ao lado dos dois, enquanto o narrador explica que o dinheiro ganho pelo caçador servirá para que o filho tenha uma vida melhor que a dele.
De volta ao mundo atual, um desempregado é pressionado pela mulher grávida e pela tia a trazer dinheiro para casa. Desesperado, ele vira matador-de-aluguel. Suas vítimas são negras e pobres como ele. Não seria mais do que um capitão-do-mato moderno, e também procura um futuro melhor para seu filho. Apesar disso, a tia do matador explica que serviços como o que ele faz conta com gente muito mais profissional e treinada. Enquanto ela fala, aparece a cena mais corajosa do filme. Um camburão invade o calçadão da Praça da Sé no meio da madrugada. Os policiais arrancam crianças-de-rua de seu sono, ao pé de uma árvore. Jogam-nas dentro do compartimento dos presos. Tudo indica que o destino delas será o extermínio.
Continuam os casos registrados. Na época do império, um negro é alugado para fazer a contabilidade de uma empresa. Acusado de roubo, foge. É preso e violentamente espancado. Seu proprietário processa o dono da empresa que o alugou. Prova que o escravo não roubara nada. Exige indenização, dizendo que seu patrimônio foi danificado. Ganha a causa e recupera com lucros o investimento perdido na recuperação do escravo.
É desse jeito que nasceu o capitalismo. Seres humanos eram mercadorias. Depois no capitalismo maduro, tornaram-se menos do que isso. Apenas objetos de exploração. Mas hoje, também há os que nem isso são mais. São os desempregados, mendigos, presidiários, crianças abandonadas.
Nem por isso deixam de ser fonte de lucros, acusa o filme de Bianchi. Mas também sobram ataques aos governos. Há, por exemplo, uma propaganda governamental que conta as maravilhas envolvidas com a criação de empregos através da construção de presídios. Um outro comercial cita o dinamismo da ação solidária. Um entusiasmado locutor diz que cada criança desamparada gera 5 empregos. A lógica é óbvia. Multiplicar o número de criminosos e crianças pobres para criar empregos!
Mas tudo isso tem uma galinha dos ovos de ouro. É o acesso aos fundos públicos. Seminários e cursos ensinam como agarrar essa galinha sem ficar só com as penas nas mãos. O caminho passa por conhecer a pessoa certa na hora certa e no lugar adequado. A taxa de acesso varia entre 15% e 20%, claro.
Uma conta muito didática é exposta. Diz o filme que são cerca de 10 mil crianças de rua no Brasil. As verbas públicas reservadas para dar conta do problema seriam de, mais ou menos, 1 milhão de reais. Este milhão dividido pelas 10 mil crianças seria suficiente para lhes pagar escola particular do primário até a faculdade, por exemplo. Mas esse dinheiro precisa passar por ONGs, entidades assistenciais e empresas "solidárias". Tal como no caso da senhora escrava e da branca esperta a liberdade tem intermediários prontos a lucrar com isso.
Entidades "pilantrópicas" seqüestram o dinheiro público usando os pobres como reféns.
O que parece ser uma alternativa a tudo isso surge com o personagem do presidiário negro. Numa cela superlotada ele olha para a câmera e explica "Quando éramos escravos, éramos máquinas. Investimentos de capital. Tínhamos que ser mantidos alimentados e saudáveis. Agora, somos escravos sem senhor". E conclui: "Na democracia, só existe liberdade para quem pode consumir".
Esse mesmo personagem foge da cadeia. Pagou para isso e, agora, quer recuperar o investimento. Seqüestra um dos sócios de uma ONG. Consegue receber o resgate, depois de enviar uma orelha e outros pedaços do refém à sua esposa. Chama a isso de redistribuição de renda.
Enquanto isso, a negra Arminda descobre o superfaturamento na compra dos computadores feita por uma ONG para sua comunidade. Consegue provas da maracutaia. Exige que a entidade use o dinheiro que desviou para comprar computadores decentes. Sem conseguir ser atendida, ela invade uma festa da entidade e grita: "Lugar de ladrão é na cadeia".
Diante disso, os pilantras e seus amigos políticos decidem resolver o problema. O matador-de-aluguel é convocado. Vai atrás de Arminda, tal como o capitão-do-mato fizera com a escrava fugida. Arminda morre com um tiro. O filme acaba. A sensação é de que não há saída. Mas, há um final alternativo.
Depois de iniciados os letreiros finais, a cena se repete. Dessa vez, Arminda convence o matador a poupar sua vida. Propõe formar um grupo para seqüestrar todos "os filhos da puta que roubam dinheiro do Estado". Agora sim, o filme acaba.
O problema é que o final alternativo também não aponta soluções. Claro que a vontade é concordar com Arminda e sair fazendo justiça com as próprias mãos. Mas, justiça será feita mesmo é coletivamente. A partir da organização dos de baixo para exigir políticas públicas reais. ONGs desonestas e entidades "pilantrópicas" devem ser condenadas. Elas seqüestram o dinheiro público usando os pobres como reféns. Mas, seqüestrar os seqüestradores não resolve. Eles só existem porque se beneficiam do esquema maior do poder. Da terrível distribuição de renda e da secular dominação racista.
Além disso, há o risco de valorizar demais as relações de dominação e exploração entre pobres e menos pobres. O principal é fazer mira nos poderosos, nos governos ou fora deles. O resto é conseqüência. De qualquer maneira, é um filme corajoso.
FONTE: http://www.espacoacademico.com.br
UMA SAÍDA HONROSA? QUE TAL DENTRO DE UM CAMBURÃO?
Sem conseguir conter a crise política que envolve o ministro do Esporte, Orlando Silva, e seu partido, o Palácio do Planalto já emitiu sinais de que seria melhor o PCdoB entregar logo o cargo e conduzir o processo de saída do ministro. Segundo interlocutores da presidente Dilma Rousseff, quanto mais demorar essa solução, mais o PCdoB e o governo ficarão fragilizados. Dilma chega nesta quinta-feira à noite da viagem à África e pode se encontrar ainda nesta quinta-feira com Orlando e com o presidente do PCdoB, Renato Rabelo. Dirigentes do partido já admitiam reservadamente que podem ficar sem o Ministério do Esporte, tamanho o desgaste político.
O desgaste atinge não só o ministro, que está no foco de denúncias de irregularidades, mas todo o partido, uma vez que o PCdoB comanda a pasta há quase nove anos, desde o primeiro ano do primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. E desgasta a imagem do governo da presidente Dilma, que manteve o partido à frente do Esporte mesmo ciente dos desvios no programa Segundo Tempo nos últimos anos - a Controladoria Geral da União (CGU) apontou irregularidades em 67 convênios e o governo cobra mais de R$ 49 milhões em recursos desviados por ONGs, prefeituras e governos estaduais desde 2006.
Enquanto estava em Moçambique, nesta quarta-feira, a presidente Dilma foi informada por auxiliares do Palácio do Planalto que o tiroteio contra Orlando se intensificou, apesar das explicações do ministro e da avaliação política de que ele teve bom desempenho nos depoimentos na Câmara e no Senado. Já é reconhecido no núcleo do governo de que o ministro do Esporte está extremamente fragilizado, e que, se ficar no cargo, será uma espécie de "fantasma" até sua substituição definitiva na reforma ministerial que deve ocorrer em janeiro.
Integrantes do PCdoB receberam o recado do Planalto. Procurado pelo GLOBO, o presidente do partido, Renato Rabelo, reagiu à possibilidade de conduzir a saída de Orlando. Disse que conversaria com a presidente Dilma para avaliar a situação, mas adiantou que não aceita fazer acordo para a substituição do ministro. - Pela boa relação que temos, vou conversar com a presidente Dilma e ouvir a opinião dela.Quando Dilma chegar, vou deixar claro que o ministro é dela. Ela é que decide. Neste caso, a dinâmica (para desgastar os ministros) se repete.
Mas o PCdoB reage diferente. Há uma tentativa de desidratar o ministro e dizer que ele é politicamente inviável - disse Rabelo. - Foi criada a seguinte situação: "Como vou manter um ministro que está com desgaste?". Mas o PCdoB não vai piscar primeiro, não fazemos acordo assim. Vou falar para a presidente: "O ministro é seu".
Nas conversas de bastidores, setores do PCdoB apostavam na conversa com a presidente para tentar reverter o quadro, embora já admitindo que, se não receberem uma manifestação clara de apoio político de Dilma, a permanência no governo ficará inviável.- Na luta política, não adianta só o que é justo. Depende muito da capacidade de reunir forças. E sem o governo do nosso lado, não teremos forças - reconheceu um líder do PCdoB.
Uma outra preocupação, essa mais pragmática, rondava nesta quarta-feira o PCdoB: os ataques ao ministro Orlando começam a atingir outros membros da legenda, com potenciais prejuízos eleitorais nas eleições municipais do ano que vem. Poderão respingar, principalmente, em nomes do partido que vão disputar eleições majoritárias em 2012. É o caso das deputadas Manuela D'Ávila (PCdoB-RS), para a prefeitura de Porto Alegre; Perpétua Almeida (PCdoB-AC), de Rio Branco; o presidente da Embratur, Flávio Dino (PCdoB-MA), para a prefeitura de São Luís; e o prefeito de Olinda Renildo Calheiros, que deve disputar a reeleição.
Os comunistas também constatavam que, se fosse na gestão do ex-presidente Lula, o ministro Orlando Silva já estaria blindado - o ministro até já recebeu um telefonema de solidariedade do ex-presidente, no fim de semana. De forma mais discreta, Lula tem defendido a permanência de Orlando, segundo relato de petistas.
Do outro lado, no governo, avalia-se que, apesar de Orlando Silva ter reagido rapidamente às acusações, o ministro e o PCdoB erraram na condução da crise ao partir para o ataque contra o governador Agnelo Queiroz (PT-DF). O PCdoB responsabilizou Agnelo pela proximidade com o soldado João Dias, pivô do escândalo envolvendo denúncias contra o programa Segundo Tempo. - Não é inteligente colher inimigos entre os aliados, comentou um palaciano.
Diante disso, o PCdoB decidiu mandar emissários para tentar fazer uma reconciliação com o governador petista e, com isso, evitar o fogo cruzado com o aliado histórico. O presidente nacional do PT, Rui Falcão, foi lacônico ao ser questionado se o ministro tinha o apoio dos partidos da base aliada:- Do PT, até o momento, sim - afirmou Rui Falcão sobre Orlando.Entre os aliados, mesmo depois do depoimento de Orlando no Senado, o clima é de espera por fatos novos para definir se sustentam ou não sua permanência no cargo. - A condição política do ministro não é boa, embora seja inquestionável que ele está sendo firme, partindo para cima de seu delator. Mas não ajuda o fato de ele aparecer todo dia nas páginas em denúncias de corrupção, e não para falar da Copa ou das Olimpíadas. Ele terá o apoio até que tudo seja esclarecido. Mas se acontecer um fato novo, ninguém segura - disse um cacique peemedebista.
De O Globo
O desgaste atinge não só o ministro, que está no foco de denúncias de irregularidades, mas todo o partido, uma vez que o PCdoB comanda a pasta há quase nove anos, desde o primeiro ano do primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. E desgasta a imagem do governo da presidente Dilma, que manteve o partido à frente do Esporte mesmo ciente dos desvios no programa Segundo Tempo nos últimos anos - a Controladoria Geral da União (CGU) apontou irregularidades em 67 convênios e o governo cobra mais de R$ 49 milhões em recursos desviados por ONGs, prefeituras e governos estaduais desde 2006.
Enquanto estava em Moçambique, nesta quarta-feira, a presidente Dilma foi informada por auxiliares do Palácio do Planalto que o tiroteio contra Orlando se intensificou, apesar das explicações do ministro e da avaliação política de que ele teve bom desempenho nos depoimentos na Câmara e no Senado. Já é reconhecido no núcleo do governo de que o ministro do Esporte está extremamente fragilizado, e que, se ficar no cargo, será uma espécie de "fantasma" até sua substituição definitiva na reforma ministerial que deve ocorrer em janeiro.
Integrantes do PCdoB receberam o recado do Planalto. Procurado pelo GLOBO, o presidente do partido, Renato Rabelo, reagiu à possibilidade de conduzir a saída de Orlando. Disse que conversaria com a presidente Dilma para avaliar a situação, mas adiantou que não aceita fazer acordo para a substituição do ministro. - Pela boa relação que temos, vou conversar com a presidente Dilma e ouvir a opinião dela.Quando Dilma chegar, vou deixar claro que o ministro é dela. Ela é que decide. Neste caso, a dinâmica (para desgastar os ministros) se repete.
Mas o PCdoB reage diferente. Há uma tentativa de desidratar o ministro e dizer que ele é politicamente inviável - disse Rabelo. - Foi criada a seguinte situação: "Como vou manter um ministro que está com desgaste?". Mas o PCdoB não vai piscar primeiro, não fazemos acordo assim. Vou falar para a presidente: "O ministro é seu".
Nas conversas de bastidores, setores do PCdoB apostavam na conversa com a presidente para tentar reverter o quadro, embora já admitindo que, se não receberem uma manifestação clara de apoio político de Dilma, a permanência no governo ficará inviável.- Na luta política, não adianta só o que é justo. Depende muito da capacidade de reunir forças. E sem o governo do nosso lado, não teremos forças - reconheceu um líder do PCdoB.
Uma outra preocupação, essa mais pragmática, rondava nesta quarta-feira o PCdoB: os ataques ao ministro Orlando começam a atingir outros membros da legenda, com potenciais prejuízos eleitorais nas eleições municipais do ano que vem. Poderão respingar, principalmente, em nomes do partido que vão disputar eleições majoritárias em 2012. É o caso das deputadas Manuela D'Ávila (PCdoB-RS), para a prefeitura de Porto Alegre; Perpétua Almeida (PCdoB-AC), de Rio Branco; o presidente da Embratur, Flávio Dino (PCdoB-MA), para a prefeitura de São Luís; e o prefeito de Olinda Renildo Calheiros, que deve disputar a reeleição.
Os comunistas também constatavam que, se fosse na gestão do ex-presidente Lula, o ministro Orlando Silva já estaria blindado - o ministro até já recebeu um telefonema de solidariedade do ex-presidente, no fim de semana. De forma mais discreta, Lula tem defendido a permanência de Orlando, segundo relato de petistas.
Do outro lado, no governo, avalia-se que, apesar de Orlando Silva ter reagido rapidamente às acusações, o ministro e o PCdoB erraram na condução da crise ao partir para o ataque contra o governador Agnelo Queiroz (PT-DF). O PCdoB responsabilizou Agnelo pela proximidade com o soldado João Dias, pivô do escândalo envolvendo denúncias contra o programa Segundo Tempo. - Não é inteligente colher inimigos entre os aliados, comentou um palaciano.
Diante disso, o PCdoB decidiu mandar emissários para tentar fazer uma reconciliação com o governador petista e, com isso, evitar o fogo cruzado com o aliado histórico. O presidente nacional do PT, Rui Falcão, foi lacônico ao ser questionado se o ministro tinha o apoio dos partidos da base aliada:- Do PT, até o momento, sim - afirmou Rui Falcão sobre Orlando.Entre os aliados, mesmo depois do depoimento de Orlando no Senado, o clima é de espera por fatos novos para definir se sustentam ou não sua permanência no cargo. - A condição política do ministro não é boa, embora seja inquestionável que ele está sendo firme, partindo para cima de seu delator. Mas não ajuda o fato de ele aparecer todo dia nas páginas em denúncias de corrupção, e não para falar da Copa ou das Olimpíadas. Ele terá o apoio até que tudo seja esclarecido. Mas se acontecer um fato novo, ninguém segura - disse um cacique peemedebista.
De O Globo
NÃO VAI FALTAR GRANA NA CAMPANHA DO HADDAD
Um jantar reservado selou o apoio do ex-ministro e deputado cassado José Dirceu ao ministro Fernando Haddad (Eduacação) na disputa interna do PT pela candidatura à Prefeitura de São Paulo.
O jantar ocorreu no sábado, no apartamento de Dirceu. Além dos dois protagonistas, participaram mais dois apoiadores de Haddad. Na conversa, Dirceu, que já vinha nos bastidores costurando a melhor forma de anunciar seu apoio a Haddad, selou o compromisso com ele.
No início do processo de discussão da candidatura, Dirceu chegou a manifestar dúvidas sobre a viabilidade política do titular do MEC.
Passou a defender as prévias ostensivamente, tese que, na época, era rechaçada pelo ex-presidente Lula, mentor da candidatura Haddad.
Quando ficou clara a disposição de Lula de ir até o fim no apoio ao ministro, Dirceu, que é réu no processo que apura a existência do mensalão no governo Lula, definiu o apoio a Haddad.
Os dois nunca foram próximos. Haddad chegou ao MEC para substituir Tarso Genro, principal antípoda de Dirceu no PT no pós-mensalão.
Além disso, Haddad era simpatizante da corrente Mensagem ao Partido, na qual pontificavam, além de Tarso, outros adversários do ex-ministro, como o atual titular da Justiça, José Eduardo Cardozo.
(Do Blog Presidente 40)
O jantar ocorreu no sábado, no apartamento de Dirceu. Além dos dois protagonistas, participaram mais dois apoiadores de Haddad. Na conversa, Dirceu, que já vinha nos bastidores costurando a melhor forma de anunciar seu apoio a Haddad, selou o compromisso com ele.
No início do processo de discussão da candidatura, Dirceu chegou a manifestar dúvidas sobre a viabilidade política do titular do MEC.
Passou a defender as prévias ostensivamente, tese que, na época, era rechaçada pelo ex-presidente Lula, mentor da candidatura Haddad.
Quando ficou clara a disposição de Lula de ir até o fim no apoio ao ministro, Dirceu, que é réu no processo que apura a existência do mensalão no governo Lula, definiu o apoio a Haddad.
Os dois nunca foram próximos. Haddad chegou ao MEC para substituir Tarso Genro, principal antípoda de Dirceu no PT no pós-mensalão.
Além disso, Haddad era simpatizante da corrente Mensagem ao Partido, na qual pontificavam, além de Tarso, outros adversários do ex-ministro, como o atual titular da Justiça, José Eduardo Cardozo.
(Do Blog Presidente 40)
LAMA DO ESPORTE COMEÇA A ESCORRER DO PCdoB PARA O PT. NADA MAIS JUSTO.
A crise provocada pelas acusações de corrupção no Ministério do Esporte provocou um jogo de empurra entre o ex-ministro Agnelo Queiroz e o atual, Orlando Silva, que até pouco tempo eram colegas de partido (PC do B) e na própria pasta.
Ao rebater acusações de fraudes supostamente ocorridas em sua gestão no ministério (2003-2006), Agnelo, que atualmente é governador do Distrito Federal eleito pelo PT, transferiu a responsabilidade pelas explicações para o atual ministro.
"No meu mandato, tenho as contas aprovadas. Não tem um único processo contra mim. Fora isso, quem responde é o próprio ministro. Quem manda no Ministério do Esporte é o Ministério do Esporte", disse Agnelo, na Suíça, onde acompanha a escolha da cidade que vai sediar a abertura da Copa de 2014.
A declaração foi dada um dia depois de o atual ministro atribuir ao antecessor a responsabilidade por convênios do programa Segundo Tempo, que estão no centro da crise atual na pasta.
Durante a gestão de Agnelo, o ministério firmou contratos com ONGs do policial militar João Dias Ferreira, pivô do escândalo na pasta.
O policial, que é filiado ao PC do B e foi preso por desvios nesses contratos, afirmou que Orlando comanda um esquema de corrupção no ministério.
Tanto o atual ministro quanto seu antecessor negam ter recebido dinheiro. Anteontem, o titular do Esporte jogou para o governador do Distrito Federal a responsabilidade por ter indicado um encontro com o policial, "entre 2004 e 2005". Na ocasião, Orlando era secretário-executivo do ministério, e Agnelo, o ministro.
Nos bastidores, a guerra entre os grupos de Agnelo e Orlando é apontada como estopim para o surgimento das acusações de corrupção. A relação entre os dois estremeceu em 2006, quando Agnelo deixou o ministério para concorrer a uma vaga no Senado pelo PC do B. Ele não foi eleito e não conseguiu retomar o posto no ministério, que foi ocupado por Orlando, promovido pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Em 2008, Agnelo trocou o PC do B pelo PT para se candidatar ao governo do Distrito Federal. Com o Mundial de 2014 e a disputa para que Brasília faça o jogo de abertura do evento, Orlando e Agnelo ensaiaram uma aproximação, que foi por água abaixo com as acusações do policial militar.
A crise inaugurou uma guerra de versões: os aliados do atual ministro acusam Agnelo de ser uma espécie de padrinho do policial.
Ontem, em Zurique, Agnelo disse ter apenas ligação política com o policial. "Era candidato a deputado distrital dentro da minha coligação, são dezenas." O governador disse ainda que sua relação com Orlando é boa, mas o apontou como responsável pelo programa Segundo Tempo por ter sido secretário-executivo.
Embora não diga publicamente, Agnelo nega ser responsável pela indicação do atual ministro para ocupar o segundo escalão de sua administração. Atribui ao partido (PC do B) a nomeação.
Sobre o inquérito ao qual responde no STJ (Superior Tribunal de Justiça), Agnelo disse que são denúncias velhas da época da campanha eleitoral. Uma testemunha afirma que o policial militar pagou por silêncio sobre o esquema no Esporte.
Da Folha de São Paulo
Ao rebater acusações de fraudes supostamente ocorridas em sua gestão no ministério (2003-2006), Agnelo, que atualmente é governador do Distrito Federal eleito pelo PT, transferiu a responsabilidade pelas explicações para o atual ministro.
"No meu mandato, tenho as contas aprovadas. Não tem um único processo contra mim. Fora isso, quem responde é o próprio ministro. Quem manda no Ministério do Esporte é o Ministério do Esporte", disse Agnelo, na Suíça, onde acompanha a escolha da cidade que vai sediar a abertura da Copa de 2014.
A declaração foi dada um dia depois de o atual ministro atribuir ao antecessor a responsabilidade por convênios do programa Segundo Tempo, que estão no centro da crise atual na pasta.
Durante a gestão de Agnelo, o ministério firmou contratos com ONGs do policial militar João Dias Ferreira, pivô do escândalo na pasta.
O policial, que é filiado ao PC do B e foi preso por desvios nesses contratos, afirmou que Orlando comanda um esquema de corrupção no ministério.
Tanto o atual ministro quanto seu antecessor negam ter recebido dinheiro. Anteontem, o titular do Esporte jogou para o governador do Distrito Federal a responsabilidade por ter indicado um encontro com o policial, "entre 2004 e 2005". Na ocasião, Orlando era secretário-executivo do ministério, e Agnelo, o ministro.
Nos bastidores, a guerra entre os grupos de Agnelo e Orlando é apontada como estopim para o surgimento das acusações de corrupção. A relação entre os dois estremeceu em 2006, quando Agnelo deixou o ministério para concorrer a uma vaga no Senado pelo PC do B. Ele não foi eleito e não conseguiu retomar o posto no ministério, que foi ocupado por Orlando, promovido pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Em 2008, Agnelo trocou o PC do B pelo PT para se candidatar ao governo do Distrito Federal. Com o Mundial de 2014 e a disputa para que Brasília faça o jogo de abertura do evento, Orlando e Agnelo ensaiaram uma aproximação, que foi por água abaixo com as acusações do policial militar.
A crise inaugurou uma guerra de versões: os aliados do atual ministro acusam Agnelo de ser uma espécie de padrinho do policial.
Ontem, em Zurique, Agnelo disse ter apenas ligação política com o policial. "Era candidato a deputado distrital dentro da minha coligação, são dezenas." O governador disse ainda que sua relação com Orlando é boa, mas o apontou como responsável pelo programa Segundo Tempo por ter sido secretário-executivo.
Embora não diga publicamente, Agnelo nega ser responsável pela indicação do atual ministro para ocupar o segundo escalão de sua administração. Atribui ao partido (PC do B) a nomeação.
Sobre o inquérito ao qual responde no STJ (Superior Tribunal de Justiça), Agnelo disse que são denúncias velhas da época da campanha eleitoral. Uma testemunha afirma que o policial militar pagou por silêncio sobre o esquema no Esporte.
Da Folha de São Paulo
UM CIRCO DE HORRORES!
Impressionante! Demissão de ministro por corrupção virou rotina e não coloca mais o governo em crise.
O líder do governo na Câmara, deputado Cândido Vaccarezza (PT-RS), negou que o governo passe por uma crise por causa das acusações de irregularidades contra mais um ministro:
"Não vamos confundir demissão de ministro com crise do governo", afirmou o petista.
Desde o início do governo, Dilma Rousseff já demitiu quatro ministros acusados de irregularidades - Alfredo Nascimento (Transportes), Wagner Rossi (Agricultura), Pedro Novais (Turismo) e Antonio Palocci (Casa Civil).
Orlando Dias, do Esporte, caminha para ser o quinto. Vejam que dado estarrecedor: tirando a Agricultura, os demais ministérios enlameados são os mais importantes para vender bem o Brasil com a Copa 2014 e a Olimpíada 2016.
Em vez disso, são o espelho que reflete o esquema de corrupção que, há quase 10 anos, toma conta do Governo Federal.
coroneLeaks
DILMA APEDREJA A MORAL DOS BRASILEIROS
Há roubo. Há desvio. Há falcatruas. Há má gestão. Há suspeitas. Há denúncias. Há provas. Há um mar de lama inundando o Ministério do Esporte, há anos, praticamente desde o momento em que o PT loteou o país e entregou este pedaço para o aliado PCdoB.
Agora que a tampa do bueiro explodiu e a lama voou para todos os lados, a presidente da República está preocupada como "apedrejamento moral" do ministro.
Deveria estar peocupada com o "apedrejamento moral" de quem trabalha e paga imposto. De quem cria os filhos honestamente, liga o Jornal Nacional e assiste a esta roubalheira instituída.
De quem vive com uma aposentadoria miserável e pena nas filas do SUS, porque o dinheiro público é roubado por ONGS como as do Segundo Tempo.
Esquecer de um povo sofrido, honesto e decente para acolher corruptos é que é "apedrejamento moral", Dona Presidenta!
coroneLeaks
Agora que a tampa do bueiro explodiu e a lama voou para todos os lados, a presidente da República está preocupada como "apedrejamento moral" do ministro.
Deveria estar peocupada com o "apedrejamento moral" de quem trabalha e paga imposto. De quem cria os filhos honestamente, liga o Jornal Nacional e assiste a esta roubalheira instituída.
De quem vive com uma aposentadoria miserável e pena nas filas do SUS, porque o dinheiro público é roubado por ONGS como as do Segundo Tempo.
Esquecer de um povo sofrido, honesto e decente para acolher corruptos é que é "apedrejamento moral", Dona Presidenta!
coroneLeaks
PROFISSÃO: PETRALHA VIRTUAL
PT INVADE A INTERNET COM O PETRALHISMO VIRTUAL
"Quem são os líderes desse suposto movimento cívico, intitulado, MCC - Movimento contra a corrupção. Quem está financiando o carro de som, as vassouras, as faixas, as camisetas e etc. ... Seria bom levantarmos esses dados" (13/10/2011).
Mostrar ser um 'não simpatizante' com a movimentação contra a corrupção atual é o mesmo que dizer 'sou desonesto'. É se escorar no correto para manter o errado. É desmerecer a reação da sociedade em prol da ação dos calhordas.
Coisas inexpressivas e sem importância costumam ser ignoradas e nem são enxergadas. Qual seria, então, o motivo para que tanta gente mal intencionada ou mal informada resolvesse fazer comentários sobre uma mobilização que insistem em criticar como algo tão inoperante?
O CQC fez humor às custas do deboche à mobilização popular.
O deputado Roberto Freire escreveu artigo pedindo uma carona na mobilização ao afirmar que ela só daria certo se houvesse a politicanalhada por trás.
José Ribamar (Sarney) mandou um recado para o Dinho que animou o povo no Rock in Rio a mandá-lo tomar no c...; o jornalista Reinaldo de Azevedo já escreveu um artigo sobre os parlamentares que detestam as as marchas contra a corrupção e um outro sobre o ódio que o PT sente pela reação dos brasileiros que vem crescendo.
Para provar a capacidade que tem a sociedade ao se unir e reagir contra a sujeira política, vemos agora o desespero do PT apresentar um plano de ação com treinamento de uma ‘patrulha virtual’ para atuar em redes sociais, blogs ou portais de notícias com palavras de (des)ordem. Tudo para contestar notícias “negativas” contra o PT.
É natural que surjam dúvidas em relação às manifestações. Porém, qualquer PESSOA ou PARTIDOS SÉRIOS teriam, primeiramente, que concordar com a união dos brasileiros para só depois procurar maiores informações.
Outras informações sobre o desespero virtual dos PTistas em vários jornais, emails e blogs.
PM AFIRMA TER ENTREGUE DOCUMENTOS QUE COMPROVAM ESQUEMA
Após mais de oito horas de depoimento à Polícia Federal, o policial militar João Dias Ferreira, delator de um suposto esquema de corrupção no Ministério do Esporte, afirmou na noite de quarta-feira ter entregue documentos que comprovam suas acusações, além de transcrições de áudios que, segundo ele, servirão como provas.
Ferreira prometeu entregar na segunda-feira à PF gravações que fez, inclusive de uma reunião com membros do Ministério do Esporte. Segundo ele, a polícia poderá fazer perícia nas gravações. "Entreguei degravações e documentos. O áudio está em São Paulo e chega na Polícia Federal na segunda-feira."
Crise no Esporte gera jogo de empurra entre ministro e ex PM afirma ter entrege documentos que comprovam esquema de corrupção.
Na Espanha, Lula evita falar sobre o caso Orlando Silva Governo diz que Esporte continua na coordenação da Copa.
OAB pede que Orlando Silva saia de Ministério do Esporte
Procurador estuda propor inquérito único contra Agnelo e Orlando Silva
Ferreira disse ainda que indicou 15 testemunhas para serem ouvidas pela PF, entre dirigentes de outras ONGs que fizeram contratos com o ministério e funcionários da pasta.
Entre as provas que Ferreira disse ter entregue, estão ofícios e documentos internos do ministério que provariam fraudes da pasta para encobrir irregularidades.
Os advogados de Ferreira ganharam na Justiça o direito de ter acesso a provas colhidas durante a Operação Shaolin, realizadas no ano passado pela Polícia Civil do DF para investigar convênios suspeitos entre duas ONGs ligadas ao policial e o Ministério do Esporte por meio do programa Segundo Tempo.
Os envolvidos são suspeitos de praticarem os crimes de estelionato e falsificação de documento, entre outros. Ferreira chegou a ser preso durante a operação.
FERNANDO MELLO
DE BRASÍLIA
Ferreira prometeu entregar na segunda-feira à PF gravações que fez, inclusive de uma reunião com membros do Ministério do Esporte. Segundo ele, a polícia poderá fazer perícia nas gravações. "Entreguei degravações e documentos. O áudio está em São Paulo e chega na Polícia Federal na segunda-feira."
Crise no Esporte gera jogo de empurra entre ministro e ex PM afirma ter entrege documentos que comprovam esquema de corrupção.
Na Espanha, Lula evita falar sobre o caso Orlando Silva Governo diz que Esporte continua na coordenação da Copa.
OAB pede que Orlando Silva saia de Ministério do Esporte
Procurador estuda propor inquérito único contra Agnelo e Orlando Silva
Ferreira disse ainda que indicou 15 testemunhas para serem ouvidas pela PF, entre dirigentes de outras ONGs que fizeram contratos com o ministério e funcionários da pasta.
Entre as provas que Ferreira disse ter entregue, estão ofícios e documentos internos do ministério que provariam fraudes da pasta para encobrir irregularidades.
Os advogados de Ferreira ganharam na Justiça o direito de ter acesso a provas colhidas durante a Operação Shaolin, realizadas no ano passado pela Polícia Civil do DF para investigar convênios suspeitos entre duas ONGs ligadas ao policial e o Ministério do Esporte por meio do programa Segundo Tempo.
Os envolvidos são suspeitos de praticarem os crimes de estelionato e falsificação de documento, entre outros. Ferreira chegou a ser preso durante a operação.
FERNANDO MELLO
DE BRASÍLIA
ESQUERDA x DIREITA (PARTE 12)
Os difíceis anos 90
Olá amigos! Neste post vamos falar dos complicados anos 90, mais precisamente do período compreendido entre 1989, que marca a derrocada do comunismo e a conseqüente hegemonia norte-americana como única super-potência, e 2001, ano que marca o início do fim da hegemonia do império norte-americano. Entre os países periféricos, a década marca também o processo de reformas das economias, principalmente na América Latina e nos países do leste europeu. Tudo isso em meio a um cenário turbulento de crises entre os emergentes.
Uma era de transição
Como vimos nos posts anteriores desta série, o final dos anos 70 e início dos anos 80 ficou conhecido por uma combinação inusitada de estagnação e inflação. A partir de 1983 a economia mundial dá sinais de melhora e inicia uma recuperação que dura até 1988. A partir de 1989, a economia mundial começa a perder força gradativamente, culminando em 1991 com a terceira pior média de crescimento desde o fim da II Guerra Mundial (perdendo apenas para os anos de 1982 e 2009).
O novo período de recessão global tem início com a derrocada do bloco socialista, o qual leva as economias pós-comunistas a quedas sucessivas até meados da década de 90, processo este que leva os países do antigo bloco comunista a encolher em média 40% do seus PIBs.
No terceiro mundo, a situação fica ainda mais complicada com uma nova e fatídica combinação de hiperinflação e estagnação, quadro este que levou o FMI a patrocinar o Consenso de Washington, em busca de soluções para o cenário cada vez mais instável da América Latina e dos países pós-comunistas (ver o post 9).
Em 1990, a situação complica ainda mais com uma nova crise do petróleo, deflagrada com primeira Guerra do Golfo, iniciada com a invasão do Iraque ao Kuait e finalizada com invasão norte-americana ao Iraque, o que elevou o preço do petróleo a níveis preocupantes.
Os efeitos das reformas nas economias pós-comunistas se estendem pelos anos seguintes, piorando ainda mais com o surto de guerras civis que varreu o leste europeu, principalmente com o esfacelamento da Iugoslávia, do qual resultaram as novas repúblicas da Sérvia, Croácia, Eslovênia, Macedônia, Bósnia, Kosovo e Montenegro. Aliás, a década de 90 fica marcada também como uma das mais sangrentas do século, pois além do genocídio da Bósnia, em 1995, ocorreram também genocídios na Chechênia, 1999, no Kosovo, durante toda a década, e em algumas nações africanas, entre os quais o mais notório em Ruanda.
Em meio a todo este caos, os EUA pairam como a única superpotência, alimentando as teorias conspiracionistas de que os “maçons” norte-americanos teriam dado um grande passo rumo a um orquestrado processo de globalização que levaria o mundo a um “governo mundial”, o principal objetivo da famosa “Nova Ordem Mundial” (sobre este assunto falaremos num post específico).
A Alemanha, depois da euforia inicial da reunificação, passa por um momento turbulento, encontrando dificuldades para incorporar a massa de desempregados da antiga Alemanha Oriental. O Japão, cujo crescimento havia desacelerado durante toda a década de 80, entra na mesma fase de estagnação econômica que havia acometido a Europa desde o final dos anos 70. Aliás, uma estagnação que dura até os dias atuais.
Alheios a todo este caos, os asiáticos caminham a passos largos para mudar a geografia econômica e política mundial que viria a ficar mais evidente na década seguinte. Na “crista da onda”, os Tigres Asiáticos despontavam como os novos ricos.
Mas nem mesmo as pujantes economias asiáticas estavam imunes às instabilidades dos anos 90. Em 1997, os asiáticos também se tornaram foco de uma importante crise, irradiada para diversos outros países. Sobre este assunto falaremos adiante, pois antes vamos falar um pouco das reformas no Brasil e na América Latina neste caótico contexto.
As reformas nos países do terceiro mundo
A América Latina inicia a década de 90 com o grande desafio de derrotar a hiperinflação e criar as condições para um crescimento sustentável num mundo cada vez mais competitivo. Após vários planos econômicos fracassados, as experiências nas diversas tentativas de estabilização em diversos países foram se somando. Se ninguém tinha uma fórmula pronta para acabar com a inflação, pelo menos ficava evidente a cada novo fracasso “o que não deveria ser feito”, como por exemplo, as tentativas de congelamento de preços do Plano Cruzado do governo Sarney.
Mesmo os exemplos mais bem sucedidos como o do Chile e do México apresentaram efeitos colaterais. O Chile, apesar de ser considerado o “Tigre da América Latina”, sofreu as conseqüências da valorização do câmbio resultante de seu processo de estabilização, ainda no início da década de 80, recuperou-se a partir de 1984 e voltou a entrar em recessão no início dos anos 90. O México, que parecia que estava no caminho certo, mais uma vez torna-se o foco de uma crise entre os emergentes, em 1995, vítima de um crescente déficit nas contas externas, semelhante ao que sofremos hoje.
No Brasil, a década de 90 inicia com uma inflação de mais de 80% ao mês. Aliás, entre 1980 a 1995, segundo a Fundação Getúlio Vargas, a inflação acumulada foi de 8.071.420.072.698%! A situação chegou a tal ponto que as pessoas apressavam-se a comprar produtos de manhã, porque à tarde os produtos poderiam ter seus preços reajustados. Mais que uma inércia inflacionária, havia na sociedade brasileira uma “cultura inflacionária”.
Após o trágico mandato de cinco anos de Sarney, Collor assume com a promessa de acabar com a inflação e modernizar nossa economia. Falhou no primeiro objetivo e errou no ritmo de abertura da nossa economia, o que provocou a quebra de muitas empresas brasileiras, mais desemprego e novamente a perversa mistura de inflação e estagnação. Apesar do estrago, as empresas brasileiras que sobreviveram ao cenário amplamente desfavorável, conseguiram uma relativa competitividade, essencial para o novo mundo globalizado.
Foi então que ocorreu a maior conquista brasileira desde a redemocratização: o controle da inflação. O Plano Real, implantado em 1994 no governo Itamar Franco, não foi apenas mais um plano como tantos outros (alguns bem sucedidos) implantados na América Latina. Ele trazia inovações. Não foi um plano implantando da noite para o dia, mas teve um longo período de transição, até a troca final da moeda.
Sabendo que os processos de estabilização levavam a um desequilíbrio fiscal, uma vez que as receitas são indexadas, e as despesas não, os criadores do Plano Real (mesmo antes de sua implantação) criaram o Fundo Social de Emergência, o qual se tornou possível a partir da desvinculação de 20% das receitas do governo, retirando as amarras constitucionais que alimentavam a inércia inflacionária.
Mas a maior sacada do Plano Real foi a implantação da URV (Unidade Real de Valor), que permitiu a variação de preços (que variavam conforme o dólar) sem, no entanto, dolarizar a moeda, algo que já havia sido tentado por vários outros países (inclusive a Argentina de Carlos Menen), porém com graves conseqüências nos anos posteriores.
Apesar disso, o Brasil ainda assim sofreu com os problemas cambiais comuns aos processos de estabilização. Aos poucos, o Real foi se valorizando em relação ao dólar, exigindo do governo a mudança do câmbio fixo para o flutuante. Para a oposição, a razão para a demora era apenas eleitoral. Para os governistas, a relutância tinha a ver com o medo de que a inflação voltasse a acelerar com a mudança, ainda mais a partir de 1997, quando estourou a Crise da Asiática, que provocou mais pressão sobre o dólar e tornou o ambiente mais instável. Vale salientar que a origem da crise foi justamente a decisão do governo tailandês de tornar o câmbio flutuante.
Apesar da necessidade comum de mudança de regime cambial, a realidade tailandesa era bem diferente da brasileira, pois enquanto nosso Real estava sobrevalorizado em relação ao dólar, na Tailândia a situação era inversa. Ou seja, o nosso problema trazia um desafio a mais, pois a mudança do regime cambial teria um forte impacto inflacionário, o qual poderia levar ao fracasso mais uma tentativa de estabilização da nossa economia.
Para complicar ainda mais a situação, a crise asiática provocou uma forte queda nos preços das commodities e reduziram o crédito externo, essencial para manter o nosso frágil equilíbrio.
No dia mais agudo da crise, no dia 23 de outubro de 1997, a Bolsa de Hong Kong caiu 10,4%, derrubando todos os mercados do mundo. A Bovespa apresentou queda de 8,15%, a segunda maior em todo o mundo. O Brasil era a bola da vez.
Foi neste contexto que ocorreram as privatizações, pois os dólares arrecadados serviram para dar o fôlego necessário para o país atravessar os dois anos mais agudos da sequencia de crises iniciada na Tailândia, que se espalhou pela Filipinas, Malásia, Indonésia, Coréia do Sul e finalmente chegou ao Japão.
E quando finalmente o a crise asiática parecia ter passado a fase mais aguda, dois meses antes das eleições de 1998 estoura a crise Russa, também deflagrada com a desvalorização do Rublo, forçando o governo a aumentar ainda mais a taxa Selic para evitar a debandada de investidores.
A esta altura os recursos obtidos com as privatizações já haviam sido torrados nos esforços de segurar o câmbio, e não restava outra alternativa ao governo ao não ser desvalorizar o Real. O governo segurou então o quanto pode até a realização das eleições quando, finalmente, mudou o regime cambial semi-fixo para o flutuante.
A mudança deu um novo fôlego para a economia brasileira, mas o cenário externo ainda causava preocupação. Já em abril de 2000 ocorre o quebra da Nasdaq, com reflexos imediatos sobre as demais bolsas e até na aviação.
Paralelamente, a Argentina que já se arrastava desde o início da série de crises, piorava seus índices econômicos até o novo colapso no final de 2001, com graves reflexos sobre nossa economia.
Para completar o quadro caótico de 2001, ocorre nos EUA o escândalo da Enro, uma gigante norte-americana da área de eletricidade e telecomunicações que empregava mais de 21 mil funcionários. Assim como no crash da Nasdaq, que trouxe para a realidade os valores fictícios das empresas “.com”, a crise da Enro, que também arrastou a Arthur Andersen, teve como origem malabarismos contábeis que faziam a empresa esconder dívidas e parecer mais saudável do que realmente era, um prenúncio da crise de 2008.
Mas o fato mais importante do ano e da década aconteceu dois meses antes da crise da Enro: o 11 de setembro, o acontecimento que marcou o início da decadência norte-americana, mas que protelou ainda mais a retomada do crescimento sustentável da nossa economia.
Felizmente não só o Brasil, mas a maioria dos países latino-americanos e pós-comunistas conquistaram a estabilidade econômica e entraram na nova década com boas perspectivas. A ausência de crises entre 2002 e meados de 2008 criou um boom de crescimento mundial concentrado entre os países emergentes, o que elevou as médias de crescimento mundial a patamares semelhantes aos anos 70.
No próximo post, vamos falar sobre a ascensão do dragão chinês, dos BRICs no novo cenário mundial.
Amilton Aquino
Olá amigos! Neste post vamos falar dos complicados anos 90, mais precisamente do período compreendido entre 1989, que marca a derrocada do comunismo e a conseqüente hegemonia norte-americana como única super-potência, e 2001, ano que marca o início do fim da hegemonia do império norte-americano. Entre os países periféricos, a década marca também o processo de reformas das economias, principalmente na América Latina e nos países do leste europeu. Tudo isso em meio a um cenário turbulento de crises entre os emergentes.
Uma era de transição
Como vimos nos posts anteriores desta série, o final dos anos 70 e início dos anos 80 ficou conhecido por uma combinação inusitada de estagnação e inflação. A partir de 1983 a economia mundial dá sinais de melhora e inicia uma recuperação que dura até 1988. A partir de 1989, a economia mundial começa a perder força gradativamente, culminando em 1991 com a terceira pior média de crescimento desde o fim da II Guerra Mundial (perdendo apenas para os anos de 1982 e 2009).
O novo período de recessão global tem início com a derrocada do bloco socialista, o qual leva as economias pós-comunistas a quedas sucessivas até meados da década de 90, processo este que leva os países do antigo bloco comunista a encolher em média 40% do seus PIBs.
No terceiro mundo, a situação fica ainda mais complicada com uma nova e fatídica combinação de hiperinflação e estagnação, quadro este que levou o FMI a patrocinar o Consenso de Washington, em busca de soluções para o cenário cada vez mais instável da América Latina e dos países pós-comunistas (ver o post 9).
Em 1990, a situação complica ainda mais com uma nova crise do petróleo, deflagrada com primeira Guerra do Golfo, iniciada com a invasão do Iraque ao Kuait e finalizada com invasão norte-americana ao Iraque, o que elevou o preço do petróleo a níveis preocupantes.
Os efeitos das reformas nas economias pós-comunistas se estendem pelos anos seguintes, piorando ainda mais com o surto de guerras civis que varreu o leste europeu, principalmente com o esfacelamento da Iugoslávia, do qual resultaram as novas repúblicas da Sérvia, Croácia, Eslovênia, Macedônia, Bósnia, Kosovo e Montenegro. Aliás, a década de 90 fica marcada também como uma das mais sangrentas do século, pois além do genocídio da Bósnia, em 1995, ocorreram também genocídios na Chechênia, 1999, no Kosovo, durante toda a década, e em algumas nações africanas, entre os quais o mais notório em Ruanda.
Em meio a todo este caos, os EUA pairam como a única superpotência, alimentando as teorias conspiracionistas de que os “maçons” norte-americanos teriam dado um grande passo rumo a um orquestrado processo de globalização que levaria o mundo a um “governo mundial”, o principal objetivo da famosa “Nova Ordem Mundial” (sobre este assunto falaremos num post específico).
A Alemanha, depois da euforia inicial da reunificação, passa por um momento turbulento, encontrando dificuldades para incorporar a massa de desempregados da antiga Alemanha Oriental. O Japão, cujo crescimento havia desacelerado durante toda a década de 80, entra na mesma fase de estagnação econômica que havia acometido a Europa desde o final dos anos 70. Aliás, uma estagnação que dura até os dias atuais.
Alheios a todo este caos, os asiáticos caminham a passos largos para mudar a geografia econômica e política mundial que viria a ficar mais evidente na década seguinte. Na “crista da onda”, os Tigres Asiáticos despontavam como os novos ricos.
Mas nem mesmo as pujantes economias asiáticas estavam imunes às instabilidades dos anos 90. Em 1997, os asiáticos também se tornaram foco de uma importante crise, irradiada para diversos outros países. Sobre este assunto falaremos adiante, pois antes vamos falar um pouco das reformas no Brasil e na América Latina neste caótico contexto.
As reformas nos países do terceiro mundo
A América Latina inicia a década de 90 com o grande desafio de derrotar a hiperinflação e criar as condições para um crescimento sustentável num mundo cada vez mais competitivo. Após vários planos econômicos fracassados, as experiências nas diversas tentativas de estabilização em diversos países foram se somando. Se ninguém tinha uma fórmula pronta para acabar com a inflação, pelo menos ficava evidente a cada novo fracasso “o que não deveria ser feito”, como por exemplo, as tentativas de congelamento de preços do Plano Cruzado do governo Sarney.
Mesmo os exemplos mais bem sucedidos como o do Chile e do México apresentaram efeitos colaterais. O Chile, apesar de ser considerado o “Tigre da América Latina”, sofreu as conseqüências da valorização do câmbio resultante de seu processo de estabilização, ainda no início da década de 80, recuperou-se a partir de 1984 e voltou a entrar em recessão no início dos anos 90. O México, que parecia que estava no caminho certo, mais uma vez torna-se o foco de uma crise entre os emergentes, em 1995, vítima de um crescente déficit nas contas externas, semelhante ao que sofremos hoje.
No Brasil, a década de 90 inicia com uma inflação de mais de 80% ao mês. Aliás, entre 1980 a 1995, segundo a Fundação Getúlio Vargas, a inflação acumulada foi de 8.071.420.072.698%! A situação chegou a tal ponto que as pessoas apressavam-se a comprar produtos de manhã, porque à tarde os produtos poderiam ter seus preços reajustados. Mais que uma inércia inflacionária, havia na sociedade brasileira uma “cultura inflacionária”.
Após o trágico mandato de cinco anos de Sarney, Collor assume com a promessa de acabar com a inflação e modernizar nossa economia. Falhou no primeiro objetivo e errou no ritmo de abertura da nossa economia, o que provocou a quebra de muitas empresas brasileiras, mais desemprego e novamente a perversa mistura de inflação e estagnação. Apesar do estrago, as empresas brasileiras que sobreviveram ao cenário amplamente desfavorável, conseguiram uma relativa competitividade, essencial para o novo mundo globalizado.
Foi então que ocorreu a maior conquista brasileira desde a redemocratização: o controle da inflação. O Plano Real, implantado em 1994 no governo Itamar Franco, não foi apenas mais um plano como tantos outros (alguns bem sucedidos) implantados na América Latina. Ele trazia inovações. Não foi um plano implantando da noite para o dia, mas teve um longo período de transição, até a troca final da moeda.
Sabendo que os processos de estabilização levavam a um desequilíbrio fiscal, uma vez que as receitas são indexadas, e as despesas não, os criadores do Plano Real (mesmo antes de sua implantação) criaram o Fundo Social de Emergência, o qual se tornou possível a partir da desvinculação de 20% das receitas do governo, retirando as amarras constitucionais que alimentavam a inércia inflacionária.
Mas a maior sacada do Plano Real foi a implantação da URV (Unidade Real de Valor), que permitiu a variação de preços (que variavam conforme o dólar) sem, no entanto, dolarizar a moeda, algo que já havia sido tentado por vários outros países (inclusive a Argentina de Carlos Menen), porém com graves conseqüências nos anos posteriores.
Apesar disso, o Brasil ainda assim sofreu com os problemas cambiais comuns aos processos de estabilização. Aos poucos, o Real foi se valorizando em relação ao dólar, exigindo do governo a mudança do câmbio fixo para o flutuante. Para a oposição, a razão para a demora era apenas eleitoral. Para os governistas, a relutância tinha a ver com o medo de que a inflação voltasse a acelerar com a mudança, ainda mais a partir de 1997, quando estourou a Crise da Asiática, que provocou mais pressão sobre o dólar e tornou o ambiente mais instável. Vale salientar que a origem da crise foi justamente a decisão do governo tailandês de tornar o câmbio flutuante.
Apesar da necessidade comum de mudança de regime cambial, a realidade tailandesa era bem diferente da brasileira, pois enquanto nosso Real estava sobrevalorizado em relação ao dólar, na Tailândia a situação era inversa. Ou seja, o nosso problema trazia um desafio a mais, pois a mudança do regime cambial teria um forte impacto inflacionário, o qual poderia levar ao fracasso mais uma tentativa de estabilização da nossa economia.
Para complicar ainda mais a situação, a crise asiática provocou uma forte queda nos preços das commodities e reduziram o crédito externo, essencial para manter o nosso frágil equilíbrio.
No dia mais agudo da crise, no dia 23 de outubro de 1997, a Bolsa de Hong Kong caiu 10,4%, derrubando todos os mercados do mundo. A Bovespa apresentou queda de 8,15%, a segunda maior em todo o mundo. O Brasil era a bola da vez.
Foi neste contexto que ocorreram as privatizações, pois os dólares arrecadados serviram para dar o fôlego necessário para o país atravessar os dois anos mais agudos da sequencia de crises iniciada na Tailândia, que se espalhou pela Filipinas, Malásia, Indonésia, Coréia do Sul e finalmente chegou ao Japão.
E quando finalmente o a crise asiática parecia ter passado a fase mais aguda, dois meses antes das eleições de 1998 estoura a crise Russa, também deflagrada com a desvalorização do Rublo, forçando o governo a aumentar ainda mais a taxa Selic para evitar a debandada de investidores.
A esta altura os recursos obtidos com as privatizações já haviam sido torrados nos esforços de segurar o câmbio, e não restava outra alternativa ao governo ao não ser desvalorizar o Real. O governo segurou então o quanto pode até a realização das eleições quando, finalmente, mudou o regime cambial semi-fixo para o flutuante.
A mudança deu um novo fôlego para a economia brasileira, mas o cenário externo ainda causava preocupação. Já em abril de 2000 ocorre o quebra da Nasdaq, com reflexos imediatos sobre as demais bolsas e até na aviação.
Paralelamente, a Argentina que já se arrastava desde o início da série de crises, piorava seus índices econômicos até o novo colapso no final de 2001, com graves reflexos sobre nossa economia.
Para completar o quadro caótico de 2001, ocorre nos EUA o escândalo da Enro, uma gigante norte-americana da área de eletricidade e telecomunicações que empregava mais de 21 mil funcionários. Assim como no crash da Nasdaq, que trouxe para a realidade os valores fictícios das empresas “.com”, a crise da Enro, que também arrastou a Arthur Andersen, teve como origem malabarismos contábeis que faziam a empresa esconder dívidas e parecer mais saudável do que realmente era, um prenúncio da crise de 2008.
Mas o fato mais importante do ano e da década aconteceu dois meses antes da crise da Enro: o 11 de setembro, o acontecimento que marcou o início da decadência norte-americana, mas que protelou ainda mais a retomada do crescimento sustentável da nossa economia.
Felizmente não só o Brasil, mas a maioria dos países latino-americanos e pós-comunistas conquistaram a estabilidade econômica e entraram na nova década com boas perspectivas. A ausência de crises entre 2002 e meados de 2008 criou um boom de crescimento mundial concentrado entre os países emergentes, o que elevou as médias de crescimento mundial a patamares semelhantes aos anos 70.
No próximo post, vamos falar sobre a ascensão do dragão chinês, dos BRICs no novo cenário mundial.
Amilton Aquino
A TESE DE DOUTORADO: 'TEORIA DO CASCO DURO'
Governo socorre ministro em perigo com a tese do doutor em bandalheiras sem castigo
Único doutor do mundo que não sabe escrever e jamais leu um livro, Lula é também o primeiro da história que só apresentou a tese de doutorado depois de já ter virado doutor.
A Teoria do Casco Duro, concebida para provar a inexistência da figura do suspeito, foi apresentada em 20 de setembro, quando o ex-presidente recebeu na Universidade Federal da Bahia o quinto diploma do gênero.
Depois de examinar a onda de despejos no ministério de Dilma Rousseff, o cérebro baldio concluiu que Antonio Palocci, Alfredo Nascimento, Wagner Rossi e Pedro Novais só perderam o emprego por ignorarem que não há suspeitos no Brasil Maravilha registrado em cartório.
Existem apenas culpados e inocentes. Culpados são os outros. Os companheiros são inocentes até a condenação em última instância. Dependendo da patente, nem depois disso são culpados.
Segundo a tese do doutor em bandalheiras sem castigo, “um político tem que ter casco duro”, sobretudo quando enfiado até o pescoço em ladroagens de grosso calibre.
“Se o político tremer cada vez que alguém disser uma coisa errada sobre ele e não enfrentar a briga para dizer que está certo, acaba saindo mesmo”.
Nessa linha de raciocínio, os quatro despejados voltaram à planície por insuficiência de cinismo. Deveriam ter persistido na pose de vítima, nas juras de inocência e nas acusações ao acusador.
Se agissem assim, o resto do serviço seria feito por jornalistas estatizados, encarregados de desqualificar o autor das denúncias, e pelos chefes da seita ─ começando pelo presidente da República ─ escalados para a evocação do mantra: ninguém é culpado até o engavetamento do derradeiro recurso.
O comportamento de Orlando Silva tem reafirmado que o ainda ministro assimilou a tese do mestre. Dilma Rousseff também, atesta o falatório da faxineira de araque em visita à África do Sul. “Nós não só presumimos a inocência do ministro, como ele tem se manifestado com muita indignação sobre as acusações feitas”, disse a presidente em dilmês castiço.
Depois de ressalvar que “o governo vai continuar acompanhando qualquer denúncia que apareça”, estendeu a Orlando Silva o braço solidário:
“Aliás, o ministro pediu investigação da Polícia Federal e do Ministério Público Federal sobre as acusações feitas a ele, que considera injustas. Além disso, o ministro se dispôs a ir ao Congresso Nacional, se não me engano, nesta terça-feira, para fazer todos os esclarecimentos que os senhores deputados e senadores quiserem a respeito do assunto”.
É esse o ritual recomendado pelo pai da Teoria do Casco Duro.
O culpado nega os fatos, é afagado pelo voto de confiança da chefe, dispõe-se a abrir o sigilo de contas bancárias que não registram a movimentação de caixas de dinheiro vivo, vai ao Congresso para um sarau com parlamentares cúmplices, é acariciado por elogios dos parceiros do primeiro escalão, repete que é vítima de tramas políticas e que vai aguardar o resultado de sindicâncias feitas pelos amigos do Planalto.
O problema é que a enxurrada de revelações não para, cresce a náusea dos brasileiros informados e o criminoso acaba devolvendo o cargo. É sempre menos doloroso que devolver o produto do roubo.
No caso de Orlando Silva, é improvável que o espetáculo da desfaçatez se arraste por muitos dias. Há um himalaia de patifarias a contemplar e histórias mal contadas a esclarecer.
O ministro já está submerso no pântano das pilantragens comprovadas e existem pelo menos duas testemunhas prontas para contar o que sabem. E nem o maior dos governantes desde Tomé de Souza tem poderes para erradicar em definitivo a figura do suspeito, que sobrevive em todos os dicionários acompanhada de definições que até Lula e Dilma conseguem entender.
Suspeito é aquele que inspira suspeitas, desconfiança; de que não se tem certeza; que suscita dúvidas; duvidoso; de cujas boas qualidades se duvida; que parece esconder defeitos ou vícios; que se deve evitar.
A soma desses significados desenha o retrato dos orlandos silvas. Manter alguém assim no ministério é um tapa na cara do país exaurido pela corrupção endêmica.
A Teoria do Casco Duro é apenas um filhote da impunidade institucionalizada. E a discurseira em torno da sentença transitada em julgado é implodida pelas seguintes observações do comentarista Franz:
“Não se pode exigir do Poder Executivo a aplicação dos mesmos princípios que regem o Poder Judiciário. Aos gerentes da coisa pública não cabe ‘presumir inocência’, e sim agir e reagir em nome do interesse imediato do estado, diante da constatação e evidência dos fatos.
Se cometerem erros, o Judiciário tratará de corrigi-los. Segundo a lei, ministros são demissíveis em qualquer circunstância, mesmo sem prévio processo administrativo. Confrontada com indícios, a presidente pode e deve agir, como faz um dirigente de qualquer empresa privada. Quando a presidente afirma que presume a inocência do ministro, fala como magistrada do Judiciário que não é”.
Franz oferece uma explicação para o palavrório da presidente. “Pode ser uma maneira disfarçada de estar varrendo a sujeira para debaixo do tapete simulando a prática de um ato nobre“. É isso.
Augusto Nunes
Único doutor do mundo que não sabe escrever e jamais leu um livro, Lula é também o primeiro da história que só apresentou a tese de doutorado depois de já ter virado doutor.
A Teoria do Casco Duro, concebida para provar a inexistência da figura do suspeito, foi apresentada em 20 de setembro, quando o ex-presidente recebeu na Universidade Federal da Bahia o quinto diploma do gênero.
Depois de examinar a onda de despejos no ministério de Dilma Rousseff, o cérebro baldio concluiu que Antonio Palocci, Alfredo Nascimento, Wagner Rossi e Pedro Novais só perderam o emprego por ignorarem que não há suspeitos no Brasil Maravilha registrado em cartório.
Existem apenas culpados e inocentes. Culpados são os outros. Os companheiros são inocentes até a condenação em última instância. Dependendo da patente, nem depois disso são culpados.
Segundo a tese do doutor em bandalheiras sem castigo, “um político tem que ter casco duro”, sobretudo quando enfiado até o pescoço em ladroagens de grosso calibre.
“Se o político tremer cada vez que alguém disser uma coisa errada sobre ele e não enfrentar a briga para dizer que está certo, acaba saindo mesmo”.
Nessa linha de raciocínio, os quatro despejados voltaram à planície por insuficiência de cinismo. Deveriam ter persistido na pose de vítima, nas juras de inocência e nas acusações ao acusador.
Se agissem assim, o resto do serviço seria feito por jornalistas estatizados, encarregados de desqualificar o autor das denúncias, e pelos chefes da seita ─ começando pelo presidente da República ─ escalados para a evocação do mantra: ninguém é culpado até o engavetamento do derradeiro recurso.
O comportamento de Orlando Silva tem reafirmado que o ainda ministro assimilou a tese do mestre. Dilma Rousseff também, atesta o falatório da faxineira de araque em visita à África do Sul. “Nós não só presumimos a inocência do ministro, como ele tem se manifestado com muita indignação sobre as acusações feitas”, disse a presidente em dilmês castiço.
Depois de ressalvar que “o governo vai continuar acompanhando qualquer denúncia que apareça”, estendeu a Orlando Silva o braço solidário:
“Aliás, o ministro pediu investigação da Polícia Federal e do Ministério Público Federal sobre as acusações feitas a ele, que considera injustas. Além disso, o ministro se dispôs a ir ao Congresso Nacional, se não me engano, nesta terça-feira, para fazer todos os esclarecimentos que os senhores deputados e senadores quiserem a respeito do assunto”.
É esse o ritual recomendado pelo pai da Teoria do Casco Duro.
O culpado nega os fatos, é afagado pelo voto de confiança da chefe, dispõe-se a abrir o sigilo de contas bancárias que não registram a movimentação de caixas de dinheiro vivo, vai ao Congresso para um sarau com parlamentares cúmplices, é acariciado por elogios dos parceiros do primeiro escalão, repete que é vítima de tramas políticas e que vai aguardar o resultado de sindicâncias feitas pelos amigos do Planalto.
O problema é que a enxurrada de revelações não para, cresce a náusea dos brasileiros informados e o criminoso acaba devolvendo o cargo. É sempre menos doloroso que devolver o produto do roubo.
No caso de Orlando Silva, é improvável que o espetáculo da desfaçatez se arraste por muitos dias. Há um himalaia de patifarias a contemplar e histórias mal contadas a esclarecer.
O ministro já está submerso no pântano das pilantragens comprovadas e existem pelo menos duas testemunhas prontas para contar o que sabem. E nem o maior dos governantes desde Tomé de Souza tem poderes para erradicar em definitivo a figura do suspeito, que sobrevive em todos os dicionários acompanhada de definições que até Lula e Dilma conseguem entender.
Suspeito é aquele que inspira suspeitas, desconfiança; de que não se tem certeza; que suscita dúvidas; duvidoso; de cujas boas qualidades se duvida; que parece esconder defeitos ou vícios; que se deve evitar.
A soma desses significados desenha o retrato dos orlandos silvas. Manter alguém assim no ministério é um tapa na cara do país exaurido pela corrupção endêmica.
A Teoria do Casco Duro é apenas um filhote da impunidade institucionalizada. E a discurseira em torno da sentença transitada em julgado é implodida pelas seguintes observações do comentarista Franz:
“Não se pode exigir do Poder Executivo a aplicação dos mesmos princípios que regem o Poder Judiciário. Aos gerentes da coisa pública não cabe ‘presumir inocência’, e sim agir e reagir em nome do interesse imediato do estado, diante da constatação e evidência dos fatos.
Se cometerem erros, o Judiciário tratará de corrigi-los. Segundo a lei, ministros são demissíveis em qualquer circunstância, mesmo sem prévio processo administrativo. Confrontada com indícios, a presidente pode e deve agir, como faz um dirigente de qualquer empresa privada. Quando a presidente afirma que presume a inocência do ministro, fala como magistrada do Judiciário que não é”.
Franz oferece uma explicação para o palavrório da presidente. “Pode ser uma maneira disfarçada de estar varrendo a sujeira para debaixo do tapete simulando a prática de um ato nobre“. É isso.
Augusto Nunes
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