"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sábado, 25 de agosto de 2012

POLIAMOR SOA MELHOR...


Leio no UOL que uma união conjugal entre três pessoas foi lavrada em um cartório em Tupã, interior de São Paulo. Segundo Claudia Domingues do Nascimento, tabeliã do cartório e redatora do texto, a escritura estabelece regras relativas aos bens dos parceiros, na hipótese de algum deles adoecer, morrer ou mesmo desistir da relação. “É como um contrato particular de compra e venda.”

A tabeliã afirmou que o trio tentou, sem sucesso, formalizar a escritura de união estável em outros cartórios. “Aí eles descobriram que minha tese de doutorado é sobre união poliafetiva [entre mais de duas pessoas] e me procuraram”, disse. Se antes era o Legislativo que determinava o regime legal do casamento, ao que tudo indica hoje tese de doutorado produz legislação. Segundo o UOL, o documento lavrado “pode ser a primeira escritura de união conjugal entre três pessoas no país”.

Pelo jeito, os neojornalistas perderam a memória. Ou têm preguiça de pesquisar. Há quatro anos, em Porto Velho, Rondônia, uma mulher obteve na Justiça o direito de receber parte dos bens do amante com quem conviveu durante quase 30 anos. Ele era casado e morreu em 2007, aos 71 anos. O juiz Adolfo Naujorks, que concedeu à moça o direito de herança, baseou-se em artigo publicado num site jurídico segundo o qual uma teoria psicológica, denominada "poliamorismo", admitia a coexistência de duas ou mais relações afetivas paralelas em que casais se conhecem e se aceitam em uma relação aberta.

Ou seja, a teoria não surgiu ontem. E sites jurídicos não só estão substituindo o Legislativo, como modificando o regime de transmissão de bens entre herdeiros. Mais ainda, estão legitimando a poligamia. Nada contra. Estou apenas constatando.

Já escrevi sobre o tal de poliamor. Apesar de ter vivido muito mais de duas relações paralelas, confesso desconhecer tal teoria. Em meus dias de jovem, chamava-se isto amasiamento, adultério, infidelidade. Ou ainda, vendo a coisa por outro ângulo, de donjuanismo. Ou casanovismo.

Mais adiante, anos 70 para cá, começou-se a falar em relação aberta. Tudo dependia do consenso do casal. Conheci casais que viveram unidos a vida toda, mantendo este tipo de relação. Era um relacionamento honesto, sem mentiras. Mas o Direito jamais reconheceu direito à herança por parte de quem não fosse a mulher legítima. Neste sentido, o matrimônio funcionava como proteção. O marido podia ser infiel à vontade, sem precisar dividir seus bens com a Outra, como se dizia então.

Poliamorismo soa mais elegante. Procurei a palavrinha nos dicionários. Não encontrei. Nem meu processador de texto reconhece a palavra, sempre a sublinha em vermelho. Fui ao Google. Já está lá. Escreve um jurista: “As relações interpessoais de cunho amoroso, por vezes destoam do padrão habitual da monogamia entre os casais formados por pessoas de sexos diferentes. Assim, encontramos relacionamentos afetivos que envolvem um casal, vale dizer um dos cônjuges e um parceiro ou parceira, os quais se desenvolvem simultaneamente. Ditas relações são denominadas de poliamorismo ou poliamor, e se constituem na coexistência de duas ou mais relações afetivas paralelas ao matrimônio”.

Ah! As palavras... Eu conhecia poligamia, poliandria, até mesmo policromia. Mas o tal de poliamorismo é para mim novidade. Quem diria? Cheguei aos sessenta e ainda descubro palavrinhas exóticas. Me restam no entanto algumas dúvidas. Já que a palavrinha amor é parte constitutiva do novo palavrão, me pergunto: é preciso que exista o tal de amor? Ou sexo puro também serve? O conceito é extensivo a todas as profissionais que curtimos em nossas vidas, ou profissional não vale? Aquela distante namorada, que encontramos de ano em ano, é poliamor? Ou um amorzinho mixuruca, sem direito à herança?

Os muçulmanos são mais práticos. Todo crente tem direito a quatro mulheres e estamos conversados. Não se fala em amor nem poliamor. Mas não precisamos ir até o Islã. No livro que embasa a cultura ocidental, temos o rei Salomão. “Tinha ele setecentas mulheres, princesas, e trezentas concubinas; e suas mulheres lhe perverteram o coração”, lemos no I Reis. Poliamantíssimo, o sábio rei. Bem que gostaria de ter meu meigo coração assim pervertido.

Após a morte do empresário de Rondônia, a amante, que por lei não teria direito à partilha de bens, entrou na Justiça com uma ação declaratória de união estável, dizendo que dependia financeiramente dele e que compartilhou com ele esforço comum na formação do patrimônio. O pedido foi contestado pelos dois filhos do casamento, que pediram a condenação dela por má-fé e argumentaram que a lei nacional baseia-se no relacionamento monogâmico. Segundo trecho do artigo usado na sentença, "as pessoas podem amar mais de uma pessoa ao mesmo tempo".

Alvíssaras! Novidade na cultura ocidental. Finalmente o Direito reconhece que o tal de amor não precisa ser monogâmico. Mas minhas dúvidas permanecem. A sentença não estabelece quantas pessoas se pode amar ao mesmo tempo. Só duas? Ou vinte também vale? E o harém do rei Salomão? Pode? Tampouco esclarece se uma mulher pode amar dois ou mais homens. Pelo que se deduz da questão, quando um homem ama duas mulheres é poliamor. Já uma mulher amando dois ou mais homens, vai ver que é puta mesmo.

Segundo a tabeliã de Tupã, o trio é formado por um homem e duas mulheres, todos profissionais liberais, sem filhos, solteiros e residentes no Rio de Janeiro. “Eles se conhecem há muito tempo, e, desde 2009, passaram a viver uma relação estável.”

A tabeliã disse que existem muitas pessoas que vivem nessa situação, mas que não sabem que é possível formalizá-la em documento. “Eu estou surpresa com a repercussão desse fato. Estou sendo procurada por pessoas que vivem em condições semelhantes.” É o milagre dos neologismos. Se amasiamento, adultério ou infidelidade soavam mal, poliamor é louvável, digno e justo. O mesmo aconteceu com homossexualismo. Segundo o ministro Carlos Ayres Britto, do STF, homossexuais não mais existem. Agora são todos homoafetivos.

Comentei há pouco. Em defesa da nova terminologia, o ministro disse que o vocábulo foi cunhado pela vez primeira na obra União Homossexual, o Preconceito e a Justiça, de autoria da desembargadora aposentada e jurista Maria Berenice Dias, consoante a seguinte passagem:

“Há palavras que carregam o estigma do preconceito. Assim, o afeto a pessoa do mesmo sexo chamava-se 'homossexualismo'. Reconhecida a inconveniência do sufixo 'ismo', que está ligado a doença, passou-se a falar em 'homossexualidade', que sinaliza um determinado jeito de ser. Tal mudança, no entanto, não foi suficiente para pôr fim ao repúdio social ao amor entre iguais”.

Pena que o neologismo está errado. Há horas venho afirmando – e parece que sou o único alfabetizado a perceber isto – que o homo, de homossexual, é palavra grega que quer dizer mesmo. Homossexual, mesmo sexo. A palavra homoafetivo, se formos fiéis ao étimo, quer dizer mesmo afeto. Ora, mesmo afeto não quer dizer nada específico. Quer dizer apenas que você tem o mesmo afeto que outra pessoa tem por você. Mas homoafetivo, segundo a desembargadora desocupada, seria um eufemismo para homossexual. Não é. É palavra que foi construída errada.

Independentemente de ser uma construção errada, o novo conceito trará insuspeitadas conseqüências jurídicas. Homoafetivos já podem casar. Homoafetividade exclui o tal de poliamor? Obviamente não. Se um homem pode amar duas mulheres, por que não poderia amar dois homens? Nada impede.

Se obedecermos à boa lógica, em breve teremos três ou mais homens (ou mulheres, por que não?) registrando suas relações estáveis em cartório. O velho casamento católico vai virar partouse. De novo, nada contra. Apenas constato.

Segundo o tabelião Angelo Faleiros Macedo, do 5º Cartório de Notas de Ribeirão Preto, “a legislação ainda não prevê isso, mas as relações poliafetivas precisam ser protegidas. Elas existem de fato. No começo vai haver alguma dificuldade na elaboração do documento, pela novidade, mas depois será algo corriqueiro.” Segundo ele, a escritura feita em Tupã deverá provocar um aumento na procura aos cartórios para o registro de relações poliafetivas.

E ainda há astrólogos que crêem ser o comunismo o grande inimigo da família ocidental e cristã.


25 de agosto de 2012
janer cristaldo

MORTE E HORROR NA EXPLOSÃO DA MAIOR REFINARIA DA VENEZUELA



 
Foto do site Notícias 24 e as três acima do site La Patilla mostram a violência do incêndio. Abaixo foto de arquivo da refinaria Amuay, a maior da Venezuela.
 
A explosão na refinaria de Amuay, a maior da Venezuela, matou 19 pessoas e deixou mais de 53 feridos neste sábado. "O incêndio foi controlado, mas ainda se observam grandes massas de fumaça. O fogo ainda persiste, embora controlado. Mas não há risco de outra explosão", disse Stella Lugo, a governadora do estado de Falcón, onde fica a refinaria. As declarações foram dadas ao canal estatal VTV. Entre os mortos, está uma criança de 10 anos.
 
---> VEJA NOVAS IMAGENS ATERRADORAS DA EXPLOSÃO

 Mais cedo, Stella informou a morte de sete pessoas. A governadora está no local da explosão acompanhada pelo ministro de Petróleo e presidente da estatal petroleira PDVSA, Rafael Ramírez. "Foi uma explosão na área de armazenamento, produto de um vazamento de gás que, pelas condições climáticas, ficou acumulado na área e, diante de uma fonte de ignição, explodiu", explicou Ramírez, depois de fazer um reconhecimento das instalações.

"Vamos investigar a origem disso, mas não podemos adiantar nenhuma hipótese. Agora, o que estamos fazendo é enfrentar a situação, atendendo aos feridos, retirando os escombros", disse o ministro, que acrescentou: "A onda da explosão foi de uma magnitude importante, de maneira que há danos consideráveis na infraestrutura e moradias localizadas diante da refinaria", disse ainda.


O vice-presidente venezuelano, Elías Jaua, escreveu no Twitter que foi iniciado um plano de contingência em Amuay. Ele também anunciou o envio de esforços para atender as vítimas. Segundo ele, a Força Armada foi mobilizada para fazer a patrulha do local."Os danos são importantes. Há feridos de diversa gravidade", escreveu Jaua.


A refinaria de Amuay, que faz parte do Centro de Refinamento Paraguaná, um dos maiores do mundo, processa 645.000 barris de petróleo por dia. Segundo o site da PDVSA, o Centro de Refinamento de Paraguaná cobre mais de 60% da demanda de combustível da Venezuela.


A Venezuela - primeiro produtor de petróleo na América do Sul e quinto exportador mundial - produz em média três milhões de barris diários (mbd), segundo dados oficiais, apesar de a Opep afirmar que a oferta de petróleo do país é de 2,3 mbd. A Opep certificou em 2011 que a Venezuela tem as maiores reservas mundiais de petróleo, com 296,5 bilhões de barris, acima das da Arábia Saudita, o país com maior capacidade de refino. Em março passado, as autoridades venezuelanas informaram que esta cifra aumentou para 297,57 bilhões de barris.
 
Reincidência - A tragédia em Amaury é o segundo incidente com um grande número de vítimas em menos de uma semana na Venezuela. No último domingo, um confronto dentro de um presídio de Caracas, capital do país, deixou 25 pessoas mortas, sendo 24 detentos e um visitante.
Do site da revista Veja
 
25 agosto de 2012
in aluizio amorim

SENADOR COLOCA O DEDO NA CARA DE COLLOR EM BATE-BOCA NA CPI DO CACHOEIRA

 

Pedro Taques ficou irritado porque o senador de Alagoas não respeitou o tempo de sua fala na comissão

·
Os senadores Pedro Taques (PDT-MT) e Fernando Collor (PTB-AL) bateram boca nesta terça-feira na CPI do Cachoeira . Os dois gritaram porque Collor extrapolou os 10 minutos de sua fala e Taques reclamou com o presidente da comissão, Vital do Rêgo (PMDB-PB). O senador de Alagoas ignorou a reclamação e continuou falando. F
 
 
Agência O Globo
 
Os senadores Collor e Pedro Taques batem boca em reunião da CPI do Cachoeira
Em sua fala, Collor voltou criticar a atuação do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, afirmando que ele demorou cerca de dois anos para adotar qualquer iniciativa em relação à operação Vegas, da Polícia Federal. O trabalhista declarou que Gurgel “faltou com a verdade ao dizer que agiu de acordo com a lei ao não tomar providências”.
 
 
O senador também afirmou que os procuradores Daniel Rezende Salgado e Léa Batista de Oliveira, que falaram à CPI, entregaram a repórteres da revista Veja, em março deste ano, os inquéritos das operações Vegas e Monte Carlo, da Polícia Federal. Os procuradores, no entanto, negaram o encontro citado por Collor.
Com Agência Senado
iG São Paulo
25 de agosto de 2012

RICARDO LEWANDOWSKI



25 de agosto de 2012
mujahdin cucaracha

JULGAMENTO DO MENSALÃO: A BALBÚRDIA E O PAPEL DO BANCO CENTRAL

 

Uma balbúrdia.

Assim foi definida a Diretoria de Marketing e Propaganda do Banco do Brasil, na gestão de Henrique Pizzolato, pelo ministro Ricardo Lewandowski.
Aproximadamente R$ 74 milhões teriam sido desviados para a empresa DNA Propaganda de Marcos Valério.

A origem do dinheiro?

Fundo de Incentivo Visanet, gerido pela empresa CBMP Visanet. O Banco do Brasil, instituição financeira pública, era um de seus principais acionistas.

Não deveria haver fiscalização do Banco Central?

O Bacen entende que não. Sua fiscalização estaria restrita, por exemplo, aos recursos investidos pelo Banco do Brasil na empresa. O dinheiro oriundo do Fundo Visanet não seria de sua atribuição. Credenciadora de cartões de crédito, em sua interpretação, não é instituição financeira. Há controvérsias.

O Superior Tribunal de Justiça tem súmula entendendo que as empresas administradoras de cartão de crédito são instituições financeiras. Podem, em razão disso, cobrar juros remuneratórios sem os limites da lei da usura. Porém, não trata sobre o papel de fiscalização do Bacen.

Com base nesse raciocínio, o Ministério Público Federal em São Paulo ingressou, em 2006, com ação civil pública questionando o papel do Bacen e do Conselho Monetário Nacional. Além da jurisprudência do STJ, o MPF ressaltou que o papel dessas instituições, de acordo com a Lei do Sistema Financeiro Nacional, seria o de disciplinar e exercer o controle de todas as modalidades de crédito.

Em 2010, o Tribunal Regional Federal da 3ª Região deu razão ao MPF.
A questão, entretanto, ainda está em aberto.

Após estudo sobre o setor, o Bacen editou, no final de 2010, resolução com regras acerca do cartão de crédito. Porém, tais regras servem apenas para as instituições bancárias por ele fiscalizadas. Não servem, ainda, para a fiscalização de situações como a ocorrida no processo do mensalão.

Os especialistas divergem.

Para uns, as credenciadoras, de fato, não fariam parte do sistema financeiro nacional.
Não ofereceriam risco sistêmico. Para outros, todavia, a fiscalização serviria para facilitar o acesso a informações para o fisco e para coibir sua eventual utilização para lavagem de dinheiro.

O assunto é interessante.

Quais os limites e a responsabilidade do Banco Central diante das inúmeras operações financeiras, bancárias ou não, que supostamente viabilizaram o mensalão?
Essa é outra questão até agora ainda não explicitada.

Vitor Pinto Chaves
Professor da FGV Direito Rio

25 de agosto de 2012

LEWANDOWISKI PARA MERVAL PEREIRA: HELO! SAY YOU, SAY ME...L

 



"Sou juiz há 22 anos, professor titular da Universidade de São Paulo (USP), tenho uma história, vou julgar de conformidade com os autos, vou absolver alguns, condenar outros vários".

Quem diz isso ao telefone é o ministro Ricardo Lewandowski, revisor do processo do mensalão, um dia depois de ter sido criticado, inclusive por mim, pelo voto absolutório dado ao ex-presidente da Câmara, o petista João Paulo Cunha.

Ele telefonou para esclarecer um ponto específico de seu voto, apenas para que eu não repetisse a informação errada:
"Eu iria fazer meu voto por ordem da denúncia, assim como foram feitas as sustentações orais, e não por ordem alfabética como você escreveu já duas vezes".

Lewandowski revela então que começaria pelo ex-ministro José Dirceu, depois pegaria o núcleo político.
"É um processo extremamente complexo, ninguém é perfeito, pode ter erro, mas estou procurando fazer o melhor possível".

Nenhuma queixa pelas críticas que tem recebido:
"A democracia é isso, a liberdade de imprensa é isso, eu aqui sempre defendi com unhas e dentes a liberdade de imprensa, fui contra a Lei de Imprensa, contra o diploma de jornalista".

Ele apenas admite que se "aborreceu um pouco" com a mudança de metodologia de apresentação do voto, pois trabalhou "durante meses e meses com uma certa lógica", e de repente "peguei meu voto e tive que cortar".

Como é professor universitário, e não só fez várias teses como participou de várias bancas, Lewandowski gosta de frisar que é "muito cioso" sobre "a questão da lógica, da correção doutrinária, da citação bibliográfica correta".
Com a mudança de metodologia, ele diz que, juntamente com sua equipe, está trabalhando quase todo dia até meia-noite.Anteriormente, havia trabalhado até de madrugada e durante todo o mês do recesso de julho"para trazer um voto minimamente aceitável e fundado".

Mas ele ressalta que "se há três juízes aqui mais chegados, mais próximos, somos eu, o Joaquim (Barbosa) e o (Ayres) Britto. Agora uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. São teses que nós defendemos".

Talvez tenha tréplica na reunião de segunda-feira, talvez não tenha, desconversa. E explica por que o raciocínio que valeu para condenar Henrique Pizzolato não valeu para João Paulo Cunha.

"A questão do João Paulo Cunha tem nuances, e você vai ver que cada réu que é acusado de lavagem de dinheiro, dentro das
circunstâncias específicas em que ele sacou, vai ter uma solução", explicou, reforçando a ideia que já antecipara no julgamento quinta-feira, quando ressaltou que ao contrário de outros réus, que enviaram até garçons e contínuos para pegar o dinheiro, Cunha havia mandado a própria mulher, o que a seu ver demonstrava que agira às claras.

"Cada caso é um caso que vou me reservar a estudar". Em outros casos, diz ele, pode haver o dolo eventual, a pessoa tinha que ter desconfiado que o dinheiro poderia ser ilícito.

Lewandowski diz que procura ser "muito coerente, na idade que a gente tem é preciso poder dormir bem com o travesseiro, por que senão fica complicado".

Ele lembra que há 22 anos quando entrou na alçada criminal e começou a condenar "não dormia direito", e ressalta que "a única salvação de um juiz é se ater à técnica".

O ministro revisor do mensalão diz que João Paulo Cunha "identificou para onde foi o dinheiro em juízo, houve recibo das pesquisas".
Ele admite que esse fato pode caracterizar "um outro crime", mas alega que isso "não está na denúncia". Nesse caso, diz ele, "me pareceu que embora o dinheiro tivesse vindo da SMP&B, em sendo um crime eventualmente eleitoral (também não estou afirmando isso) não ficou caracterizada a lavagem do dinheiro".

Pode ser crime eleitoral, ou até tributário, mas, no entender de Lewandowski, não se encaixou naquele tipo de lavagem, "e os tipos penais são muito estritos e não se pode inventar em matéria penal por que senão vamos viver num estado arbitrário, e o juiz está muito jungido, adstrito ao tipo penal".

O ministro Ricardo Lewandowski diz que "houve crimes graves, e quem os cometeu vai ter que pagar mesmo". Nos casos divergentes, como o de João Paulo Cunha, em que ele absolveu e o relator Joaquim Barbosa condenou, "o plenário vai dizer, e o plenário tem sempre razão".

De minha parte, mesmo ele não tendo reclamado, depois da conversa franca e educada com o ministro Ricardo Lewandowski, espero ter me precipitado ao afirmar que ele agia assim para ajudar os réus políticos, especialmente os petistas.
Vamos aguardar para ver como o ministro revisor distribuirá sua justiça.



25 de agosto de 2012
Merval Pereira

MENSALÃO III: AGENDA DE PELUSO... "VOCÊS VERÃO NA HORA OPORTUNA"

 

Depois das especulações de que o ministro Cezar Peluso poderia adiantar o voto integralmente ou expor pelo menos parte da análise sobre o processo do mensalão, ganha força no Supremo Tribunal Federal (STF) a possibilidade de ele nem sequer votar na Ação Penal 470.

Sua ausência no julgamento pode acontecer não apenas por falta de tempo, mas por opção do próprio magistrado, que vai se aposentar até 3 de setembro. Apesar de existir a possibilidade de Peluso se pronunciar sobre o primeiro capítulo das denúncias na semana que vem, interlocutores do ministro avaliam que ele pode optar por não participar nem da etapa em andamento.

Conforme as regras do Supremo, o ministro tem que pedir aposentadoria antes de completar 70 anos para que tenha o direito de continuar com o salário integral. Dessa forma, Peluso terá de protocolar o pedido até a próxima quinta, o que não impede que ele participe de mais três sessões antes de deixar o tribunal.

Diante do ritmo lento no qual o julgamento se arrasta, Peluso terá a palavra para se manifestar em relação ao item na sessão de quarta ou quinta-feira, as duas últimas que participará. Ele é o sétimo a votar. De acordo com o artigo 135 do Regimento Interno do STF, o primeiro a se pronunciar é o relator. Na sequência, falam o revisor e os outros ministros, na ordem inversa de antiguidade.

O relator, Joaquim Barbosa, e o revisor, Ricardo Lewandowski, já concluíram os votos relativos ao item 3 do processo, que trata de contratos das agências do empresário Marcos Valério com o Banco do Brasil e a Câmara dos Deputados. No entanto, ao fim da última sessão, o relator avisou que fará uma réplica para contrapor o voto do revisor.

Insatisfeito, Lewandowski disse que precisará de uma tréplica. Nesse ritmo, a ministra Rosa Weber, próxima a votar, deverá ter a palavra, na melhor das hipóteses, somente na segunda metade da próxima sessão.

Depois dela, votam Luiz Fux, Dias Toffoli e Cármen Lúcia para somente depois Peluso se pronunciar. O mesmo artigo do regimento que trata da ordem de votação estabelece que os ministros poderão antecipar o voto se o presidente autorizar. Na avaliação de Lewandowski e de Marco Aurélio Mello, essa possibilidade existe somente após relator e revisor votarem e, ainda assim, entendem que o magistrado que eventualmente antecipar deve se ater aos fatos já debatidos.

Uma pessoa próxima a Peluso disse ao Correio que ele não deve pedir para antecipar voto e sequer para votar estritamente em relação ao item debatido. "Juiz não corre atrás de processo", afirmou o interlocutor. Ele avalia que a melhor solução para Peluso seria a de esperar a sua vez de votar e, nesse momento, anunciar que está se aposentando e que, por isso, optará por não votar no processo.
Essa pode ser a última marca que o experiente magistrado e ex-presidente do STF deixará de sua passagem de quase uma década pela Suprema Corte.
Essa saída evitaria, por exemplo, que o ministro se pronunciasse apenas em relação a parte dos réus, e não em relação a outros. Ele escaparia também do impasse acerca da dosimetria, uma vez que não haveria tempo para participar dessa discussão, pois os ministros vão calcular a pena daqueles que forem condenados somente após concluírem os sete itens do julgamento que envolve 37 réus.

Questionado sobre a posição que adotará, Peluso manteve o suspense. "Vocês verão na horaoportuna", afirmou a jornalistas, ontem de manhã, durante cerimônia no Quartel-Gerenal do Exército, em Brasília, onde recebeu a Medalha do Pacificador, concedida a personalidades merecedoras de homenagem especial do Exército.
Na última quarta, ele já havia dito que não falou para ninguém, "nem para própria mulher", se pretende antecipar ou não o voto.
"Vocês verão na hora oportuna"Cezar Peluso, ministro do STF, sobre como procederá em relação ao próprio voto

DIEGO ABREU e HELENA MADER Correio Braziliense
25 de agosto de 2012

MENSALÃO II: PRÓXIMOS VOTOS

 


Depois de o relator e o revisor do processo entrarem em acordo para que o debate entre ambos seja breve na retomada do julgamento, a expectativa de que mais três ou quatro ministros consigam votar na segunda-feira aumenta.

A conversa que Joaquim Barbosa e Ricardo Lewandowski tiveram ao fim da sessão de quinta-feira, com direito a abraços e um clima descontraído, pode ter sido decisiva para que o julgamento não se prolongue até o fim do ano, como estima Marco Aurélio Mello.


Barbosa diz que não tem a intenção de transformar o caso em uma "guerra pessoal entre dois ministros". Lewandowski também afirmou que o debate é entre teses, e não no campo pessoal.

"Não há nenhum desgaste. Nós, que vivemos em um ambiente colegiado, estamos acostumados a divergir, a ver nossas posições vencedoras ou perdedoras. Isso faz parte. Não levamos nada pessoalmente. Defendemos teses. Não é a nossa pessoa que está em jogo, o que está em jogo é o destino dos réus", frisou o revisor em entrevista ontem. Ele acrescentou que o contraponto ajudará os demais ministros a tomarem suas decisões.


OrdemApós Barbosa e Lewandowski usarem a palavra na sessão de segunda-feira — o primeiro vai contestar o voto do segundo sobre João Paulo Cunha —, será a vez de Rosa Weber. Ela costuma ser sucinta.

Depois, será Luiz Fux, que faz votos mais demorados em julgamentos importantes.
Dias Toffoli não deve fazer uma manifestação muito longa, embora tenha um denso material escrito.
Cármen Lúcia, por sua vez, já adiantou a pessoas próximas que pretende votar o primeiro item em 15 minutos.
Gilmar Mendes diz que não precisará falar por mais de 20 minutos.


De outro lado, Cezar Peluso ainda não definiu se votará ou não.
Marco Aurélio costuma improvisar, mas fará questão de pontuar alguns aspectos da ação, o que favorece um pronunciamento um pouco mais demorado.


Depois de exposições amplas do relator e do revisor, a mais longa, agora, deverá ser o do decano, Celso de Mello. Penúltimo a ter a palavra, ele é conhecido por discursos amplamente embasados e, consequentemente, extensos.
Mas afirmou, por meio de seu gabinete, que "pretende fazer uma exposição resumida, que sintetize de modo objetivo o voto que elaborou".
Último a se pronunciar, o presidente Ayres Britto será célere, pois tem interesse em concluir o mais rapidamente possível o julgamento.

Correio Braziliense(DA)

25 de agosto de 2012

POSTERGAÇÃO CONVENIENTE!

Ayres Britto decide que relator e revisor terão direito a réplica e tréplica


O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Ayres Britto, decidiu que Joaquim Barbosa e Ricardo Lewandowski, relator e revisor do processo do mensalão, terão direito a réplica e tréplica segunda-feira, como reivindicaram no fim da sessão de quinta-feira, mas cada um deles não poderá falar mais que 20 minutos.

Ayres Britto disse que pretende evitar que as discussões se alonguem, para que os demais ministros possam votar. Barbosa votou pela condenação do deputado João Paulo Cunha (PT-SP), e Lewandowski, pela absolvição.

Embora seja inconveniente para o andamento do processo esse vaivém argumentativo, combinamos que os dois falariam com certa brevidade sobre o tema. O receio de quem preside uma sessão de julgamento é que o vaivém argumentativo resvale para o interminável.

Não estou cortando a palavra dos colegas, apenas quero que o processo siga em um ritmo normal disse Ayres Britto.

A solução para o assunto foi discutida pelos três ministros, quinta-feira, numa conversa no Salão Branco do tribunal, próximo ao plenário. Ayres Britto avisou que Lewandowski poderia fazer a tréplica, como queria, mas Barbosa sugeriu que o colega encurtasse o voto.

No mesmo tom informal, Lewandowski concordou, desde que Barbosa também fizesse o mesmo. Nesta sexta-feira, em entrevista, o revisor confirmou o acordo. Mas, a pessoas próximas, avisou que não vai votar mais rapidamente, se Barbosa não fizer o mesmo.

Eu tenho certeza de que nós podemos melhorar nossa metodologia de julgamento (...). Vamos fazer o possível para que esse processo tenha um curso célere disse Lewandowski.
Peluso: Vocês verão na hora oportunaApós o debate entre os dois, a ministra Rosa Weber deverá ser a primeira a votar. No entanto, Cezar Peluso poderá pedir para adiantar o voto, pois terá de se aposentador compulsoriamente em 3 de setembro, quando completa 70 anos. O ministro manteve ontem mistério sobre se dará um voto integral a todos os réus:Vocês verão na hora oportuna.Lewandowski disse ontem que já esperava uma reação negativa ao voto pela absolvição de João Paulo Cunha. Ele avisou que não pauta seus votos pela opinião pública:As críticas, as incompreensões, isso faz parte do nosso trabalho. Mas tenho certeza de que o Brasil quer um Judiciário independente, um juiz que não tenha medo de pressões.
Lewandowski acha que os demais ministros terão mais facilidade para votar diante da divergência entre ele e Barbosa:
Cada juiz tem uma visão muito particular do conjunto de provas que existe no processo. Então, esse contraponto entre relator e revisor ajudará os demais ministros a decidirem.

Antes de o prazo de 20 minutos ser estabelecido, Barbosa, procurado pelo GLOBO, não revelou quanto tempo levaria sua réplica. Lewandowski disse que usará pelo menos metade do tempo gasto pelo colega.O ministro Marco Aurélio Mello alertou que, se continuar no ritmo atual, o julgamento poderá se estender até 2013:
Receio que não termine até o fim do ano. Pelo visto, as discussões tomarão tempo substancial.
O Globo
25 de agosto de 2012

QUANDO O HUMOR DESENHA A REALIDADE

 




BRIZOLISTAS PROCESSAM LUPI POR FRAUDE EM ELEIÇÃO NO PDT DO RIO

 

O Movimento de Resistência Leonel Brizola entrou na Justiça do Rio de Janeiro com ações contra o ex-ministro do Trabalho, Carlos Lupi, por falsificação de documento e improbidade administrativa. Liderado pelo atual ministro do Trabalho, Brizola Neto, o movimento acusa o dirigente pedetista de fraudar a ata da convenção municipal de 13 de abril, trocando nomes de eleitos por não eleitos, com a intenção de continuar na presidência do PDT no Rio.
Ele também preside os diretórios nacional e estadual da agremiação. O advogado do movimento, José Agripino Oliveira, informou ao Terra que as ações foram ajuizadas na tarde de quinta-feira.

Ouvido pelo Terra, Carlos Lupi afirmou que ainda não teve conhecimento das ações. “Estou aguardando. Quando chegar, vou analisar e consultar meus advogados”. No entanto, o ex-ministro não pareceu surpreso com a notícia. “Isso é normal, sempre alguém está movendo alguma ação, principalmente, quando a gente começa a ganhar algum nome, isso incomoda muita gente”, acrescentou.

Questionado sobre as críticas de adversários por presidir o PDT nas três instâncias, Lupi respondeu que se trata de um desconhecimento do estatuto partidário. “Está previsto e já temos decisão judicial favorável. Infelizmente, algumas pessoas filiadas ao partido sequer leem o estatudo da legenda”.

###

ACUSAÇÃO

Na denúncia por falsificação, os brizolistas relatam que, após a convenção – que elegeu Brizola Neto (Carlos Daudt Brizola) como presidente e o vereador Leonel Brizola Neto, como vice -, Lupi colocou o seu nome na ata da comissão eleita antes de registrá-la no Tribunal Regional Eleitoral (TRE), em 8 de junho.
No texto da ação, o noticiante alega que Carlos Lupi praticou “os delitos tipificados nos artigos 171 (estelionato); 298 (falsificação de documento particular); 299 (falsidade ideológica); 304 (uso de documento falso) e 288 (formação de quadrilha)”.

O deputado estadual Paulo Ramos (PDT-RJ), um dos autores da representação, afirmou que o resultado da convenção municipal é um escândalo, não só no aspecto criminal, mas também em relação ao estado democrático de direito. “Para controlar um partido, ele (Lupi) leva as pessoas à falsificação de assinaturas e valida as convenções com delegados escolhidos fraudulentamente”.

Logo após assumir a presidência municipal, alegam os brizolistas, o ex-ministro convocou nova convenção metropolitana em 25 de junho para definir a aliança com o candidato do PMDB à Prefeitura do Rio, o atual prefeito Eduardo Paes, e a nominata de vereadores. Na época, o grupo tentou anular a decisão, mas o Tribunal de Justiça do Rio negou recurso em 3 de julho. O julgamento sobre a suspensão está marcado para 3 de novembro.

###

ASSINATURAS FALSAS

Um laudo técnico feito pelo escritório do perito criminal Mauro Ricart atesta, segundo o movimento, que as atas de homologação do resultado da convenção tiveram dezenas de assinaturas falsas. “A investigação não foi feita a partir de determinação judicial, mas o técnico que a fez é credenciado.
O exame grafotécnico (que determina a autenticidade e autoria de escritas) comprovou a falsificação de assinaturas”, garante Paulo Ramos.
O crivo pericial apontou que das 67 atas de registro, 21 apresentaram problemas como ausência de assinaturas, rasuras e casos em que os delegados representavam diretórios extintos em 2011.

Na ação por improbidade administrativa, os brizolistas pedem a prestação de contas do PDT desde 2008, devido à suspeita de desvio de recursos partidários.
Em junho, o Ministério Público Federal do Distrito Federal (MPF-DF) ajuizou ação civil pública por improbidade administrativa contra Carlos Lupi. O ex-ministro do Trabalho é acusado de utilizar avião alugado por gestor de organização não governamental que mantinha convênios com o ministério – episódio que culminou com o seu pedido de demissão em dezembro do ano passado.

Caso a tese sobre as irregularidades na convenção estadual seja aceita pela Justiça, a disputa pode ter consequência na eleição na cidade do Rio e Janeiro. Em caso de anulação, a decisão afeta a coligação para vereadores e o apoio a Eduardo Paes (PMDB).

ELEIÇÃO EM BELO HORIZONTE: CANDIDATOS IGUAIS OU DIFERENTES

 

O eleitor de Belo Horizonte que ainda está em dúvida sobre em quem votar, encontra dificuldades para tomar uma decisão. A razão não é difícil de entender. Repetindo um comentário de eleitor indeciso: “Tudo que Patrus Ananias e Marcio Lacerda falam é muito parecido”.

Mesmo após o início do programa eleitoral na televisão e no rádio, as semelhanças persistem.
O marketing político das duas campanhas ainda não deu conta de fazer a diferenciação. É preciso analisar que realçar a diferença pode não ser o objetivo das duas campanhas. Também é preciso considerar que as avaliações dos primeiros programas começam a ser feitos agora, e muita coisa ainda pode mudar até a data da eleição.

Para o candidato à reeleição, o prefeito Marcio Lacerda (PSB), que, embora tenha 66 anos, é um político relativamente novo – enfrentou sua primeira eleição em 2008 -, ter sua identidade política um pouco indefinida e associada a outros líderes não é um mau negócio.
Dessa forma, ele fica à vontade para navegar por vários mares, sem correr o risco de sofrer críticas e ser acusado de incoerente. Lacerda, que é filiado ao PSB, pelo menos em tese, não teria dificuldades para explicar um alinhamento político com qualquer dos partidos.

Já para Patrus Ananias, a situação é um pouco diferente. Ele é completamente identificado com o seu partido, o PT, o que acarreta ônus e bônus. Além disso, Patrus também é identificado com as causas sociais, o que, certamente, é um ponto positivo para sua campanha. A identidade já definida do ex- ministro e ex-prefeito petista não o permite viagens por vários mares. Mas, por outro lado, facilita a criação e a fixação de uma marca.

Assim, na teoria, a diferenciação das imagens deveria interessar mais a Patrus Ananias, que está atrás de Lacerda na últimas pesquisas de intenções de voto. Quando usa um discurso muito semelhante ao do petista no que diz respeito às questões sociais, Lacerda passa a dividir com Patrus um marca muito positiva, que talvez seja a principal vantagem do ex-ministro na disputa.

Em outras palavras, a semelhança dos discursos é muito boa para Lacerda e prejudica Patrus. Assim, a eleição na capital mineira carrega um desafio. De um lado, o candidato petista terá que criar um diferencial para não ficar preso ao compartilhamento com o adversário de seu principal mote de campanha.
De outro, o candidato socialista terá que demonstrar para os eleitores indecisos que o seu discurso em favor das causas sociais não é apenas falácia para dividir com o rival um bom gancho para a campanha.
O candidato que conseguir desfazer esse imbróglio estará muito mais perto dos eleitores indecisos.

TORCEDORES ASSASSINOS AMENDRONTAM A SOCIEDADE

 

Como se não bastassem os atos de violência, perpetrados por perigosos narcotraficantes, que ameaçam permanentemente a paz social, como no caso da Favela do Rola, em Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio, colocando sob constante risco de vida moradores da localidade e policiais que ali atuam, torcedores de futebol (bandidos arruaceiros) protagonizaram no último domingo, antes da partida entre Vasco e Flamengo, no bairro de Tomás Coelho, subúrbio do Rio, mais um violento episódio onde, no confronto mortal, previamente agendado em redes sociais, foi assassinado o torcedor vascaíno Diego Martins Leal, de 29 anos.

O conflito começou momentos antes do jogo, quando torcedores do Flamengo desceram de um ônibus, vindo de Resende, no Sul Fluminense, e ao passarem por um grupo de torcedores do Vasco, concentrados num porto de gasolina localizado na Rua Silva Vale, resolveram saltar para confrontar. Diego foi morto no interior de um bar. Um torcedor do Flamengo ficou ferido. O primo de Diego presenciou o crime.

“Deram cinco disparos, e ainda deram facada nele. É uma violência que não acaba, briga de torcida organizada. Tinham marcado pelo Facebook”, destacou.

Cerca de 60 suspeitos de participarem da briga foram detidos e levados para a 44ª DP (Inhaúma). O principal suspeito foi também identificado e preso pela Polícia Militar, sendo ainda apreendidos fogos de artifício. Num outro confronto entre torcedores, no bairro de Jacarepaguá, seis deles foram feridos, sendo dois a tiros. Sete suspeitos foram presos.

Esta é, pois, a ameaça real e concreta que a população pacífica está sujeita, em razão dos combates mortais, que tornaram-se rotina fora dos estádios, empreendidos entre facções criminosas que mancham o futebol pentacampeão do mundo, que irá sediar a Copa de 2014.

Profundamente lamentável que pseudotorcedores, bandidos de carteirinha, extravasem instintos tão vorazes e assassinos. Estamos falando de marginais que vestem camisas de tradicionais clubes, que usam arma de fogo e ferramentas próprias para o crime, não de torcedores que efetivamente amam seus clubes.

A sociedade brasileira permanece, portanto, sob a ameaça dos valentões homicidas integrantes de “torcidas organizadas para o crime”. Até quando?

PENSAMENTO DO DIA

 

Livre pensar é só pensar (Millôr Fernandes)


 

PLANO BRITÂNICO PARA PRENDER ASSANGE É ACIDENTALMENTE REVELADO

 

Um plano da polícia britânica para prender Julian Assange se ele sair da Embaixada do Equador é revelado pela imprensa. As fotos das anotações de um plano da polícia britânica para prender Julian Assange se o fundador do site WikiLeaks decidisse sair da embaixada do Equador em Londres, onde se encontra refugiado, foram publicadas pela imprensa britânica neste sábado.



Um policial que protege a embaixada foi fotografado com um documento manuscrito no qual se pode ler “restringido” e “decisão – justificativa de apoio”.

O documento assinala que o fundador do WikiLeaks deverá ser detido (ARRESTED) “sob qualquer circunstância” caso dê um passo para fora da embaixada, que está localizada junto ao luxuoso centro comercial Harrods, no elegante distrito de Knightsbridge.

Além disso, este documento indica que se o australiano de 41 anos tentar sair de uma embaixada num veículo, sob imunidade diplomática ou em um malote diplomático, deverá ser detido.
“São anotações de um oficial feitas durante uma reunião”, explicou um porta-voz da Scotland Yard. “Nosso objetivo é prender Julian Assange por não cumprimento de sua fiança. Sob nenhuma circunstância se procederá a uma prisão que viole a imunidade diplomática”, acrescentou o porta-voz.

Assange, depois de esgotar todas suas opções legais na Grã-Bretanha para evitar uma extradição para a Suécia, onde é procurado para responder por acusações de delitos sexuais, entrou na embaixada equatoriana em Londres em 19 de junho e pediu asilo. O Equador concedeu este asilo político em 16 de agosto.

A Grã-Bretanha diz estar legalmente obrigada a extraditar Assange para a Suécia se ele sair da embaixada do Equador.

QUANDO O HUMOR DESENHA A REALIDADE

 


A ÓTICA DA EVOLUÇÃO CÓSMICA NOS DEVOLVE A ESPERANÇA PARA O FUTURO

 

Esqueçamos por um momento nossa visão normal das coisas e tentemos fazer uma leitura de nossa crise atual nos marcos do tempo cósmico. Talvez assim a entendamos melhor, a relativizemos e ganhemos altura em função da esperança.

Imaginemos que os mais ou menos 13 bilhões de anos de história do universo sejam condensados em um único século. Cada “ano cósmico” seria equivalente a 113 milhões de anos terrestres. Desse ponto de vista, a Terra nasceu no ano 70 do século cósmico, e a vida apareceu nos oceanos, para nossa surpresa, logo depois, no ano 73. Durante quase duas décadas cósmicas ela ficou praticamente limitada a bactérias unicelulares.



No ano 93, uma nova fase criativa se iniciou com o aparecimento da reprodução sexual dos organismos vivos. Estes, junto com outras forças, foram responsáveis pela mudança da face do planeta, já que eles transformaram radicalmente a atmosfera, os oceanos, a geologia da Terra. Isso permitiu ao nosso planeta sustentar formas de vida mais complexas. Grande parte da biosfera é criação desses micro-organismos. Nessa nova fase, o processo evolutivo se acelerou rapidamente.

Dois anos mais tarde, no ano 95, os primeiros organismos multicelulares apareceram. Um ano mais tarde, em 96, assistimos ao aparecimento de sistemas nervosos e em 97 aos primeiros organismos vertebrados. Os mamíferos aparecerão nos meados de 98, ou seja, dois meses depois dos dinossauros e uma imensa variedade de plantas. Há cinco meses cósmicos, os asteroides começam a cair sobre a Terra, destruindo muitas espécies, incluindo os dinossauros.

Entretanto, um pouco depois, a Terra, como que se vingando, produziu uma diversidade de vida, como nunca antes. Foi nessa era, quando apareceram as flores, que nossos ancestrais entraram no cenário da evolução. Logo se tornaram bípedes (há 12 dias cósmicos), e com o Homo habilis começou a usar ferramentas (há seis dias cósmicos), enquanto o Homo erectus conquistou o fogo (há apenas um dia cósmico).
Há 12 horas cósmicas, os humanos modernos surgiram. Pela tarde e durante a noite desse primeiro dia cósmico, nós vivíamos em harmonia com a natureza.

Até 40 minutos atrás, nossa presença teve pouco impacto sobre a comunidade biótica, momento no qual começamos a domesticar plantas e animais e a desenvolver a agricultura.
A partir de então, as intervenções na natureza foram se tornando cada vez mais intensas, até quando, há 20 minutos, começamos a construir e habitar cidades. Somente há apenas dois minutos, o impacto se tornou ameaçador. A Europa se transformou numa sociedade tecnológica e expandiu seu poder.

Nessa fase se formou o projeto-mundo, criando um centro com várias periferias e o fosso entre ricos e pobres. Nos últimos 12 segundos (a partir de 1950), o ritmo de exploração e destruição ecológica se acelerou dramaticamente. Nesse breve período de tempo, derrubamos quase metade das grandes florestas.
Nos próximos 20 segundos cósmicos, as temperaturas da Terra subirão 0,5 grau e podem, dentro de pouco, chegar até cinco graus, colocando em risco grande parte da biosfera e milhões de pessoas.
Nos últimos cinco segundos cósmicos, a Terra perdeu uma quantidade de solo equivalente a toda terra cultivável da França e da China e foi inundada por dezenas de milhares de novos produtos químicos.

Nos próximos sete segundos cósmicos, cientistas estimam que entre 20% e 50% de todas as espécies irão desaparecer. Por que tanta devastação? Respondemos: para que uma pequena porção da humanidade tivesse o desfrute privado ou corporativo dos “benefícios” deste projeto de civilização.

(Transcrito de O Tempo)
25 de agosto de 2012
Leonardo Boff

DE SONHOS E GERAÇÕES

 

“Nada”. Assim Ney Matogrosso respondeu à pergunta de Eric Nepomuceno sobre o que restara dos sonhos de sua geração. Bastante pessimista, o ex-Secos e Molhados falou do frenesi narcisista em que se travestiram os projetos libertários da geração 60.

Ney: Não restou nada

O que, afinal, define uma geração ? Como juntar numa categoria única interesses, identidades e objetivos necessariamente fragmentados, muitos deles contraditórios ? Os sonhos do artista não serão os mesmos, por exemplo, do militar e do sem terra, mesmo que tenham nascido no mesmo intervalo de tempo.
Óbvio que Ney falava de seus pares, subgrupo da classe média amordaçada pela censura, que desbundou e foi viver uma utopia ruralista, nutrida por sexo-drogas-rock’n’roll, da qual não restaram sequer escombros.

Tínhamos, é verdade, um inimigo comum: a ditadura militar. Os milicos que exilavam Chico, Caetano e Gil, eram os mesmos que censuravam o Pasquim, matavam adversários políticos a rodo, colocavam tarjas negras nas genitálias que apareciam em filmes da moda (o caso da Laranja Mecânica entrou, por grotesco, para o folclore da boçalidade), baniam músicas, confundiam
A Capital, de Eça de Queiroz, com O Capital, de Marx (e era cana dura para quem tinha qualquer um dos dois).

Época curiosa, em que ficávamos atentos a uma leitura excitante como o Almanaque do Exército, à cata de pistas para descobrir a linha ideológica dos futuros comandantes regionais. Quem é que sabe, hoje, o nome do comandante do 1º Exército ? Pouca gente, espero. Virou cultura de Almanaque Capivarol. A unir os incomodados e oprimidos, de liberais legítimos a comunistas, um filamento de esperança pelo colapso da hegemonia da caserna e seus cúmplices civis.

Sem o guarda-chuva do inimigo comum, o mar se abre. O que fazer com a liberdade ? Essa é uma questão nada trivial. Acompanhei as notícias da lusitana Revolução dos Cravos (lindo nome), em 1974, por um velho rádio a válvula Halicrafters.
Ondas curtas, chiado irritante. “Agora”, dizia um locutor emocionado, “música clássica não é mais privilégio das elites”. E toma de Mozart, Bach, Haydn. Pureza d’alma, ó pá.
Os escritores, habituados a se expressar por entrelinhas, se sentiram órfãos da pressão dos censores. Estranho, não ? Havia que decifrar sonhos atolados em décadas de lama verde-oliva, sem o filtro do Grande Irmão.

###

INCONSCIENTE

Sonhar não é um exercício neutro. O inconsciente tem interferências de classe, momento histórico, heranças culturais. Frustração no trabalho, excesso de cobrança nos estudos e falta de afeto familiar, encaixados numa sociedade extremamente hierarquizada, fazem o número de suicídios crescer todos os anos no Japão.
No ano passado, 150 japoneses com menos de 30 anos cometeram suicídio.

A maioria por não conseguir emprego ou julgar que não tinha bom desempenho na escola ou no trabalho. Dá para imaginar com o que sonham jovens submetidos a esse tipo de tirania corporativo-familiar. O que pensar, por exemplo, dos projetos da nova geração de jovens nascidos na Mauritânia ? Poucos escapam da fome crônica da África Ocidental. Só na chamada região do Sahel, estima-se que 1,5 milhão de crianças não conseguem se alimentar adequadamente. Para essa geração, o projeto é sobreviver.

E no Brasil ? Pergunte-se a um jovem executivo o que Eric perguntou a Ney e ele responderá que o sonho de sua geração será, digamos, adquirir o Global 6000, jato de luxo produzido pela Embraer, pela bagatela de US$ 60 milhões.
Ou um casamento com todos os penduricalhos. Coisa de meros US$ 1 milhão. Os multimilionários vão muito bem, obrigado, no Brasilzão.

Geração tanquinho ? Girando a roleta para um despossuído, o que ele diria ? Ah, doutor, quero mesmo é que me expliquem o que é tomada e interruptor (5 milhões de domicílios brasileiros não têm acesso à energia elétrica).
Se isso for pedir demais, gostaria de arrumar um jeito de sair da barriga da miséria (16,2 milhões de brasileiros, de acordo com o último censo do IBGE, encontram-se em situação de extrema pobreza, a maioria deles pardos ou negros). Geração calango ? nós ainda ousam

Das ruínas de velhos e íntimos desejos, contemplo “minha” geração. Quantos desonhar ? Quantos se limitam a reclamar ? Quantos trocaram o assalto ao paraíso por um bom restaurante rodízio ? Quantos se deslumbram com ilusionistas apenas para mascarar o tédio e a preguiça ? Não tenho respostas, mas também não cheguei ao pessimismo do setentão Matogrosso.

Continuo, ranzinza e teimoso, a repetir Fernando Pessoa: “Não sou nada./Nunca serei nada./Não posso querer ser nada./À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo”.

(Artigo enviado por Mário Assis)
25 de agosto de 2012
Jacques Gruman