Filha de peixe – Diz a sabedoria popular que quem puxa os seus não degenera. Se essa teoria não pode ser considerada uma maiúscula unanimidade em muitas partes do planeta, no Maranhão cai como luva quando o assunto é a família Sarney, cujo “capo”, o senador José Sarney, está sendo acusado de grampear um colega de partido, o alagoano Renan Calheiros (PMDB). Mas o assunto ora em questão não é a mais recente acusação contra o presidente do Senado Federal, mas sua filha, Roseana Sarney, que despeja sobre o mais pobre estado brasileiro uma onda de absolutismo jamais vista.
Encastelada no Palácio dos Leões, sede do Executivo maranhense, Roseana se nega a negociar com os policiais militares do Estado, que pleiteiam 28% de aumento salarial, de acordo com o coronel Ivaldo Alves Barbosa, que por telefone conversou com a reportagem do ucho.info.
O oficial da PM do Maranhão disse que a governadora não cumpriu a promessa de negociação e, ao invés de buscar uma solução pacífica, solicitou a presença da Força Nacional de Segurança, que há dias se faz presente na capital São Luís.
Dona de temperamento histriônico e confiante na estrutura subserviente que o pai montou no estado, Roseana Sarney conseguiu na Justiça a decretação da prisão preventiva dos líderes do movimento: coronel Ivaldo Alves Barbosa, coronel Francisco Melo da Silva, sargento Jean Marie, sargento Da Hora, cabo Campos, cabo Nascimento e soldado Leite. Ademais, a Justiça, que considerou o movimento ilegal, determinou o desconto de R$ 200 por dia parado do salário dos líderes, o que faz com que os militares em questão, chefes de família que buscam um mínimo de dignidade, nada tenham a receber em dezembro próximo.
Roseana Sarney não contou com a possibilidade de um movimento puxar outro. Além da paralisação da Polícia Militar em quase 70% do estado, os delegados de polícia também cruzaram os braços. Logo mais, às 17 horas locais, o sistema de transporte público de São Luís também deve parar.
O número de arrastões na capital do Maranhão cresceu de forma assustadora nas últimas horas. Até mesmo assalto a joalherias foram registrados.
No interior do estado muitas das 217 cidades, como Imperatriz, Timon, Caxias, Grajaú, Barra do Corda, já não contam com a Polícia Militar, o que pode desencadear assaltos a agências bancárias e caixas eletrônicos. No presídio localizado na cidade de Pinheiro já há uma rebelião de presos.
Em vez de caminhar na direção de uma solução negociada, Roseana Sarney decidiu endurecer e agora conta com a presença do Exército nas ruas de São Luís. No sábado (26), um general de brigada chegará ao Maranhão, de acordo com informações obtidas pela reportagem, para assumir o comando da operação.
Instalados na Assembleia Legislativa, os policiais militares prometem revidar a bala uma possível invasão da Casa legislativa. O coronel Ivaldo Alves Barbosa disse que se a Assembleia for invadida haverá um banho de sangue no local e que a governadora sujará as mãos.
Muito estranhamente, a seccional maranhense da Ordem dos Advogados do Brasil ainda não se pronunciou. Amigo da família Sarney e ex-presidente da fundação que leva o nome do presidente do Senado, o advogado José Carlos Souza e Silva, que quer ser reconduzido ao TRE-MA com as bênçãos do chefe do clã, também está calado.
O caótico cenário que domina o Maranhão, com flagrante desrespeito ao livre direito de manifestação, mostra ao Brasil a verdadeira realidade de um estado que faz inveja (sic) a muitas republiquetas que vivem sob o manto da ditadura.
Um desfecho violento, como prevê o coronel Ivaldo Barbosa, é tema mais que suficiente para que a Comissão de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA) envie a São Luís seus representantes, pois o caudilhismo que cresceu a partir da praia do calhau é no mínimo criminoso. Voltando ao início desta matéria, Roseana puxou aos seus e não degenerou.
UPEC
Um painel político do momento histórico em que vivem o país e o mundo. Pretende ser um observatório dos principais acontecimentos que dominam o cenário político nacional e internacional, e um canal de denúncias da corrupção e da violência, que afrontam a cidadania. Este não é um blog partidário, visto que partidos não representam idéias, mas interesses de grupos, e servem apenas para encobrir o oportunismo político de bandidos. Não obstante, seguimos o caminho da direita. Semitam rectam.
"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)
"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
sábado, 26 de novembro de 2011
REFLEXÕES
O passado, o tempo e a ocupação da Rocinha
O passado já foi o futuro, e o presente é o passado e o futuro, sendo um e outro ao mesmo tempo, no incapturável segundo da existência.
Este preâmbulo é um exemplo da realidade fática do processo dialético, presente em todas as áreas do conhecimento. Somos ao mesmo tempo movimento e imobilidade.
***
AS INVASÕES
O império romano iniciou o processo de queda, depois de 13 séculos de domínio, quando as tropas dos imperadores, ao ocuparem as cidades, destruíam tudo que viam pela frente, saqueavam e matavam os que resistiam à humilhação e ao vilipêndio.
Os exemplos são tão elucidativos ao longo da História, pontuadas pela tragédia da Revolução Francesa, onde as cabeças da família real e a dos responsáveis pelo terror, Robespierre, Danton e Marat rolavam em praça pública. Um espetáculo de sangue e revolução para depois todo o poder ser entregue ao Imperador Napoleão.
O general francês planejou as famosas guerras napoleônicas, derrubou reis, anexou terras e transformou as monarquias absolutistas em Estados nacionais. Mas, o que ficou marcado em sua biografia foi a derrota em Waterloo e o Código Napoleônico.
Para ficar no tempo mais presente, lembramos da ascensão e queda do Terceiro Reich (nazismo) e das invasões soviéticas e americanas no Afeganistão, todas fracassadas e que deixaram um rastro de destruição e mortes.
***
A OCUPAÇÃO DA ROCINHA
O Estado democrático brasileiro, desde o nascimento da República, abandonou as comunidades carentes, que sem alternativa de moradia decente construíram suas casas nas encostas, nas margens dos rios e nos morros das cidades, primeiro com telhados de zinco e paredes de madeira, num segundo momento passaram a construir seus cômodos com alvenaria.
Na lacuna deixada pelo Estado, surgiram os líderes e chefões do tráfico e das milícias. Na falta do Estado, o privado tomou conta de tudo. Adotaram suas próprias regras de conduta, suas leis draconianas e sumárias, enfim dominaram através do medo e do assistencialismo de ocasião, à moda de Robin Hood.
Na outra ponta sinistra, políticos de olho nos votos em abundância, instituíram a bica d’água em épocas de eleição e a distribuição “gratuita” de tijolos, cimento e telhas para que os membros da comunidade construíssem suas casas mais resistentes as intempéries.
A vida é movimento e flexibilidade, a imobilidade e a estagnação são a decadência. Na ausência do Estado, o espaço foi ocupado pela criminalidade atual.
A instalação das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) e a midiática entrada dos soldados das Forças Armadas e da Polícia Militar na comunidade da Rocinha no Rio de Janeiro não pode se limitar apenas à entrada das forças de segurança, à moda dos exemplos descritos anteriormente, ressalvadas as comparações no tempo e no espaço.
Precisam vir acompanhadas de uma constante presença do Estado, em busca do tempo perdido. Políticas de educação, saúde, cultura, lazer, saneamento básico, proteção das áreas verdes e uma sustentável inclusão social precisam ser implementadas, caso contrário, o estado de coisas anterior voltará com todas as forças e mais organizado.
Os exemplos da História, no passado que já passou (assunto da moda), são temas inebriantes, os quais precisam ser analisados em profundidade pelos governantes, para que possam tomar decisões definitivas e não as paliativas de acordo com o momento presente das comunidades “pacificadas”.
Roberto Nascimento
O passado já foi o futuro, e o presente é o passado e o futuro, sendo um e outro ao mesmo tempo, no incapturável segundo da existência.
Este preâmbulo é um exemplo da realidade fática do processo dialético, presente em todas as áreas do conhecimento. Somos ao mesmo tempo movimento e imobilidade.
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AS INVASÕES
O império romano iniciou o processo de queda, depois de 13 séculos de domínio, quando as tropas dos imperadores, ao ocuparem as cidades, destruíam tudo que viam pela frente, saqueavam e matavam os que resistiam à humilhação e ao vilipêndio.
Os exemplos são tão elucidativos ao longo da História, pontuadas pela tragédia da Revolução Francesa, onde as cabeças da família real e a dos responsáveis pelo terror, Robespierre, Danton e Marat rolavam em praça pública. Um espetáculo de sangue e revolução para depois todo o poder ser entregue ao Imperador Napoleão.
O general francês planejou as famosas guerras napoleônicas, derrubou reis, anexou terras e transformou as monarquias absolutistas em Estados nacionais. Mas, o que ficou marcado em sua biografia foi a derrota em Waterloo e o Código Napoleônico.
Para ficar no tempo mais presente, lembramos da ascensão e queda do Terceiro Reich (nazismo) e das invasões soviéticas e americanas no Afeganistão, todas fracassadas e que deixaram um rastro de destruição e mortes.
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A OCUPAÇÃO DA ROCINHA
O Estado democrático brasileiro, desde o nascimento da República, abandonou as comunidades carentes, que sem alternativa de moradia decente construíram suas casas nas encostas, nas margens dos rios e nos morros das cidades, primeiro com telhados de zinco e paredes de madeira, num segundo momento passaram a construir seus cômodos com alvenaria.
Na lacuna deixada pelo Estado, surgiram os líderes e chefões do tráfico e das milícias. Na falta do Estado, o privado tomou conta de tudo. Adotaram suas próprias regras de conduta, suas leis draconianas e sumárias, enfim dominaram através do medo e do assistencialismo de ocasião, à moda de Robin Hood.
Na outra ponta sinistra, políticos de olho nos votos em abundância, instituíram a bica d’água em épocas de eleição e a distribuição “gratuita” de tijolos, cimento e telhas para que os membros da comunidade construíssem suas casas mais resistentes as intempéries.
A vida é movimento e flexibilidade, a imobilidade e a estagnação são a decadência. Na ausência do Estado, o espaço foi ocupado pela criminalidade atual.
A instalação das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) e a midiática entrada dos soldados das Forças Armadas e da Polícia Militar na comunidade da Rocinha no Rio de Janeiro não pode se limitar apenas à entrada das forças de segurança, à moda dos exemplos descritos anteriormente, ressalvadas as comparações no tempo e no espaço.
Precisam vir acompanhadas de uma constante presença do Estado, em busca do tempo perdido. Políticas de educação, saúde, cultura, lazer, saneamento básico, proteção das áreas verdes e uma sustentável inclusão social precisam ser implementadas, caso contrário, o estado de coisas anterior voltará com todas as forças e mais organizado.
Os exemplos da História, no passado que já passou (assunto da moda), são temas inebriantes, os quais precisam ser analisados em profundidade pelos governantes, para que possam tomar decisões definitivas e não as paliativas de acordo com o momento presente das comunidades “pacificadas”.
Roberto Nascimento
O FUNCIONÁRIO FANTASMA ESCAPOU DA PRISÃO POR VADIAGEM
...e virou Ministro do Trabalho
A Folha de S. Paulo piorou o sábado dos pecadores com a notícia pinçada nas catacumbas do Congresso: durante seis anos, Carlos Lupi foi funcionário fantasma da Câmara dos Deputados.
Até virar ministro do Trabalho por decisão de Lula, embolsou mais de R$12 mil por mês para não fazer nada.
Há quase um mês, o Brasil que pensa é afrontado pela permanência no emprego de um ministro comprovadamente corrupto.
Coisa de Dilma Rousseff. Acaba de saber que o Ministério do Trabalho é chefiado desde março de 2007 por um vigarista que merecia ter sido preso por vadiagem. Coisa de Lula
augusto nunes
CHEGA DE CRESPÚSCULO!
Quem não estiver sofrendo com as espinhas da puberdade fica proibido de ir ao cinema nos próximos dias. Estreou o filme Amanhecer, a primeira parte do final da saga Crepúsculo, que vai se espalhar pelas salas do país como doença venérea em época de carnaval.
Se você não gosta de ver meninas de aparelhos nos dentes gritando histericamente, sugiro evitar shopping centers e afins. Tive a “felicidade” de assistir ao primeiro filme da saga. Além do enredo que fez muitas novelas das seis se transformarem em clássicos da literatura, eu ainda tive que agüentar 4 adolescentes que passaram o FILME TODO falando e surtando em faniquitos hormonais.
Sério, desde quando os monstros do cinema ficaram tão viadinhos e panacas? Jurei que nunca mais veria um filme com vampiros na vida. Nem que o Bela Lugosi ressuscite e desça o cassete nesse bando de vampirinhos fashion.
Não entendo essa euforia juvenil com a série. O ator principal tem a expressividade de uma lata de cal. A atriz tem o mesmo sex appeal de um ladrilho. E os dois passam o filme fazendo cara de criança com prisão de ventre, gemendo e suspirando o amor não consumado.
Normalmente esses dois já estariam em um baile de funk proibidão, beijando mooooiiito. Pregar castidade para uma platéia com hormônios em fúria é sadismo, vamos combinar?
E para prejudicar ainda mais a verossimilhança, os dois pombinhos agora se casam e vêm passar a lua de mel no Rio de Janeiro. Sem serem assaltados nenhuma vez! Felizmente os personagens da saga não são brasileiros. Senão, em vez de vampiros teríamos sacis pernetas e curupiras com pé virado. Pois é, os monstros brasileiros se parecem mais com pacientes de uma fila do SUS.
Chega de bagunçar a mitologia que povoou a minha infância. Quero de volta os meus vampiros velhões, dentuços e vestidos como se fossem para um baile gótico. Não vou agüentar ver múmias com faixas de neoprene e lobisomens metrossexuais depilados, ok?
walter carrilho
Se você não gosta de ver meninas de aparelhos nos dentes gritando histericamente, sugiro evitar shopping centers e afins. Tive a “felicidade” de assistir ao primeiro filme da saga. Além do enredo que fez muitas novelas das seis se transformarem em clássicos da literatura, eu ainda tive que agüentar 4 adolescentes que passaram o FILME TODO falando e surtando em faniquitos hormonais.
Sério, desde quando os monstros do cinema ficaram tão viadinhos e panacas? Jurei que nunca mais veria um filme com vampiros na vida. Nem que o Bela Lugosi ressuscite e desça o cassete nesse bando de vampirinhos fashion.
Não entendo essa euforia juvenil com a série. O ator principal tem a expressividade de uma lata de cal. A atriz tem o mesmo sex appeal de um ladrilho. E os dois passam o filme fazendo cara de criança com prisão de ventre, gemendo e suspirando o amor não consumado.
Normalmente esses dois já estariam em um baile de funk proibidão, beijando mooooiiito. Pregar castidade para uma platéia com hormônios em fúria é sadismo, vamos combinar?
E para prejudicar ainda mais a verossimilhança, os dois pombinhos agora se casam e vêm passar a lua de mel no Rio de Janeiro. Sem serem assaltados nenhuma vez! Felizmente os personagens da saga não são brasileiros. Senão, em vez de vampiros teríamos sacis pernetas e curupiras com pé virado. Pois é, os monstros brasileiros se parecem mais com pacientes de uma fila do SUS.
Chega de bagunçar a mitologia que povoou a minha infância. Quero de volta os meus vampiros velhões, dentuços e vestidos como se fossem para um baile gótico. Não vou agüentar ver múmias com faixas de neoprene e lobisomens metrossexuais depilados, ok?
walter carrilho
ISSO, VAMOS DESESTIMULAR AS PESSOAS A LER
Em 2012 você já tem uma escolha perfeita para dar ao seu “Inimigo Secreto”. É o livro “Como assim, Bial?”, que vai trazer discursos de Pedro Bial no Big Brother. Três vivas para todos os editores espertinhos. Hip-hip-hurra.
O livro será uma compilação daqueles ensinamentos “profundos” ditos por Bial nas eliminações dos “gladiadores” do programa. Pelo “sucesso” que a maioria atinge depois que sai da casa, os ensinamentos são mesmo uma merda.
Se você acha que a sua estante de livros não esta fedendo o bastante, pode comprar. Aproveite e compre esses outros grandes livros de celebridades marcantes:
"Ele - Maluf, trajetória da audácia", biografia sobre Maluf: ideal para quem se preocupa com ética e lisura na vida pública.
"Serena", livro escrito por Vera Vischer: nada mais inspirador do que um livro escrito por uma ex-miss barraqueira e adepta de “aditivos” químicos.
"Faça a festa e saiba porque", guia escrito por Fábio Arruda: porque um ex integrante de A Fazenda deve saber tudo sobre etiqueta e elegância, certo?
"Trilogia do prazer", biografia de Enoli Lara: Ei, é uma biografia de ex-modelo da Playboy! Preciso dizer mais?
À Espera dos filhos da luz, livro escrito (???) por Ana Maria Braga: mulher que conversa com papagaio decide escrever um livro místico. É ou não é “um tudo”? Juro, eu ainda vou comprar essa bagaça para resenhar e tacar fogo, me aguardem.
Olha, com esses livros soltos por aí eu começo achar o analfabetismo uma boa ideia.
PS: sobrinhos, se vocês souberem de mais WAlivros edificantes como esses, deixem dicas nos comentários. Titio vai adorar indicá-los para outros leitores. Prometo NÃO ler nenhum deles.
Dica de post enviada pelo leitor Carlos Andino
walter carrilho
O livro será uma compilação daqueles ensinamentos “profundos” ditos por Bial nas eliminações dos “gladiadores” do programa. Pelo “sucesso” que a maioria atinge depois que sai da casa, os ensinamentos são mesmo uma merda.
Se você acha que a sua estante de livros não esta fedendo o bastante, pode comprar. Aproveite e compre esses outros grandes livros de celebridades marcantes:
"Ele - Maluf, trajetória da audácia", biografia sobre Maluf: ideal para quem se preocupa com ética e lisura na vida pública.
"Serena", livro escrito por Vera Vischer: nada mais inspirador do que um livro escrito por uma ex-miss barraqueira e adepta de “aditivos” químicos.
"Faça a festa e saiba porque", guia escrito por Fábio Arruda: porque um ex integrante de A Fazenda deve saber tudo sobre etiqueta e elegância, certo?
"Trilogia do prazer", biografia de Enoli Lara: Ei, é uma biografia de ex-modelo da Playboy! Preciso dizer mais?
À Espera dos filhos da luz, livro escrito (???) por Ana Maria Braga: mulher que conversa com papagaio decide escrever um livro místico. É ou não é “um tudo”? Juro, eu ainda vou comprar essa bagaça para resenhar e tacar fogo, me aguardem.
Olha, com esses livros soltos por aí eu começo achar o analfabetismo uma boa ideia.
PS: sobrinhos, se vocês souberem de mais WAlivros edificantes como esses, deixem dicas nos comentários. Titio vai adorar indicá-los para outros leitores. Prometo NÃO ler nenhum deles.
Dica de post enviada pelo leitor Carlos Andino
walter carrilho
ATORES GLOBAIS VÃO SALVAR O MUNDO?
Sim, eu também recebi o link do vídeo com os artistas globais fazendo mobilização para o movimento Gota d´água. Acho divertido ter que botar a Maitê Proença tirando o sutiã para fazer as pessoas prestarem atenção em uma questão importante. Fico imaginando que se ela tirasse a calcinha talvez até o Sarney fosse deposto, vai saber?
Pessoas acreditam muito mais em atores globais do que em qualquer especialista. Vocês se lembram do ator Rubens de Falco? Ele interpretou um vilão na primeira versão de Escrava Isaura e foi xingado por várias pessoas na rua. Gente que não sacou esse lance de ator interpretar um papel, manja? Enfim, se Tarcísio Meira pedir para defendermos a pena de morte, aposto que no dia seguinte teremos gente na rua batendo panela.
O problema é que continuo achando que a causa ambiental é usada port muita gente como uma espécie de detergente de consciência: gente que não sabe o que fazer para ficar bonito na fita e acaba defendendo os macacos e as florestas – só porque defender gente de verdade como órfãos e deficientes é bem mais complicado.
É o caso da perua que acha que devemos defender o meio ambiente, desde que não interfira no direito dela de gastar energia à vontade com secadores de cabelo e ar condicionado para os casacos de pele. E do garotão que defende a Mata Atlântica, mas joga saco plástico no rio e toparia comer barbatana de golfinho numa boa se a Ana Maria Braga dissesse que é chique.
É engraçado, mas comigo esse lance de campanha global costuma funcionar ao contrário: normalmente eu não abraçaria uma causa defendida por Bruno Mazzeo e Ingrid Guimarães. Nem que pandas abinos estivessem na jogada.
Mas a campanha deu certo. Muita gente se sensibilizou com a cara da Cissa Guimarães bravinha. Fica a dica: que tal atores globais defendendo o fim da fabricação de Crocs, a proibição de shows da Maria Bethânia e dos programas do Tom Cavalcante? Eu sairia às ruas na hora.
walter carrilho
NOTA AO PÉ DO TEXTO
Você sabe o que ela está dizendo?! Sabe sim! Se não estiver acusando você de irresponsável por usar sacos plásticos de supermercado e ainda utilizá-los para o lixo doméstico, com toda certeza está afirmando que você também é responsável pela extinção das baleias, ou do mico leão dourado, ou dos golfinhos. Ou será que ela está dizendo que você tem o dever de eleger o PT? Falando alguma coisa como: "Você tem a obrigação! Você tem que salvar o Brasil!"
Brincadeirinha... Isso seria um pesadelo! As 'celebridades' tem o poder de convencer só com gestos. Basta olhar numa direção e a multidão já está na parada, seja ela o que for, ainda que pedindo a volta do zé dirceu ou do delúbio.
Pena que os globais não se sensibilizem com a corrupção e com a sarneylândia eorganizem a "parada da ratoeira". Ia ser um espetáculo único!
Aí sim, ia ser a parada das multidões.
m.americo
LIÇÃO DE PUXA-SAQUISMO
Media Watch - Folha de S. Paulo
Dilma sempre que ficou sozinha aos microfones falou besteira. Sua fama de administradora deriva unicamente da sua veia autoritária, que tratava funcionários e negociantes com o governo a pontapés.
A coluna do jornalista Fernando Rodrigues, na Folha de São Paulo de hoje, é um exemplo de como se planta notícias e se constrói, em doses homeopáticas, a imagem do governante do dia. Pinço aqui duas informações que foram ali colocadas, absolutamente incompatíveis com a realidade dos fatos:
“A presidente Dilma Rousseff já ganhou a batalha da imagem. Mandou embora seis ministros e ficou com a fama de não transigir com o erro. Pouco importa se no miolo de alguns ministérios a bandalha continue ou se alguns outros ministros também já devessem estar no olho da rua. Para efeito externo, a petista é durona e está fazendo uma faxina na política”.
“Nos seus três próximos anos, é possível que Dilma avance sobre outras áreas e de maneira mais real. Uma delas é a notória ineficiência do setor público”.
O artifício retórico é introduzir uma mentira como se fosse um fato consumado (Dilma Roussef como “faxineira”), fato incompatível com o noticiário que dá destaque à vida e à ação administrativa pouco proba de dois ministros, Carlos Lupi e Mário Negromonte, sobre os quais a presidente não exerce qualquer autoridade moralizadora. E também incompatível com todos os ministros do PT caídos em desgraça, desde o “mensalão”. Aliás, este deveria ser o mote de um artigo decente, a incompatibilidade entre o discurso ético e a ação deletéria da presidente acobertando os malfeitos de seus auxiliares ilustres.
Assim, Fernando Rodrigues se comporta como se fosse uma pena de aluguel, mesmo que não tenha a intenção deliberada de fazê-lo. Está ajudando a criar a imagem mitológica da “faxineira” comprometida com a ética.
Quanto à competência, esse campo nunca foi o forte do PT e da antiga ministra da Casa Civil, ora presidente. Lula assumiu que era despreparado do ponto de vista técnico e levou a vida presidencial em cima de palanque, fazendo populismo barato. Dilma sempre que ficou sozinha aos microfones falou besteira, revelando despreparo equivalente. Sua fama de administradora deriva unicamente da sua veia autoritária, que tratava funcionários e negociantes com o governo a pontapés. Isso não é e nunca foi competência, apenas despreparo, falta de liderança.
Fernando Rodrigues é dos melhores jornalistas em atividade. Dá para imaginar o que são os piores. E os alugados.
Nivaldo Cordeiro, 26 Novembro 2011
Dilma sempre que ficou sozinha aos microfones falou besteira. Sua fama de administradora deriva unicamente da sua veia autoritária, que tratava funcionários e negociantes com o governo a pontapés.
A coluna do jornalista Fernando Rodrigues, na Folha de São Paulo de hoje, é um exemplo de como se planta notícias e se constrói, em doses homeopáticas, a imagem do governante do dia. Pinço aqui duas informações que foram ali colocadas, absolutamente incompatíveis com a realidade dos fatos:
“A presidente Dilma Rousseff já ganhou a batalha da imagem. Mandou embora seis ministros e ficou com a fama de não transigir com o erro. Pouco importa se no miolo de alguns ministérios a bandalha continue ou se alguns outros ministros também já devessem estar no olho da rua. Para efeito externo, a petista é durona e está fazendo uma faxina na política”.
“Nos seus três próximos anos, é possível que Dilma avance sobre outras áreas e de maneira mais real. Uma delas é a notória ineficiência do setor público”.
O artifício retórico é introduzir uma mentira como se fosse um fato consumado (Dilma Roussef como “faxineira”), fato incompatível com o noticiário que dá destaque à vida e à ação administrativa pouco proba de dois ministros, Carlos Lupi e Mário Negromonte, sobre os quais a presidente não exerce qualquer autoridade moralizadora. E também incompatível com todos os ministros do PT caídos em desgraça, desde o “mensalão”. Aliás, este deveria ser o mote de um artigo decente, a incompatibilidade entre o discurso ético e a ação deletéria da presidente acobertando os malfeitos de seus auxiliares ilustres.
Assim, Fernando Rodrigues se comporta como se fosse uma pena de aluguel, mesmo que não tenha a intenção deliberada de fazê-lo. Está ajudando a criar a imagem mitológica da “faxineira” comprometida com a ética.
Quanto à competência, esse campo nunca foi o forte do PT e da antiga ministra da Casa Civil, ora presidente. Lula assumiu que era despreparado do ponto de vista técnico e levou a vida presidencial em cima de palanque, fazendo populismo barato. Dilma sempre que ficou sozinha aos microfones falou besteira, revelando despreparo equivalente. Sua fama de administradora deriva unicamente da sua veia autoritária, que tratava funcionários e negociantes com o governo a pontapés. Isso não é e nunca foi competência, apenas despreparo, falta de liderança.
Fernando Rodrigues é dos melhores jornalistas em atividade. Dá para imaginar o que são os piores. E os alugados.
Nivaldo Cordeiro, 26 Novembro 2011
TRÊS PILARES DA ORDEM: EDMUND BURKE, SAMUEL JOHNSON, ADAM SMITH
Russel Kirk, 26 Novembro 2011
Artigos - Conservadorismo
Burke e Johnson e Smith, de suas diversas maneiras, descreveram e defenderam aquelas crenças e instituições que mantêm a tensão beneficente de ordem e liberdade.
Parte I
O que Matthew Arnold chamou de “uma época de concentração” paira sobre as nações de língua inglesa. Os impulsos revolucionários e os entusiasmos sociais que dominaram nosso século, desde sua grande explosão na Rússia, são agora confrontados por uma força física e intelectual equivalente. A ideologia fanática tem sido, em essência, rebelião contra a velha ordem moral de nossa civilização. Para resistir à ideologia, certos princípios e usos de ordem têm despertado, como aqueles que se ergueram contra a fúria da inovação francesa depois de 1790. Nós ingressamos em um tempo de reconstrução e reavaliação; reconhecemos um conservadorismo ressuscitado em política e filosofia e letras.
A Inglaterra durante a “época de concentração” de Arnold tornou-se, apesar de sua desilusão, uma sociedade de alto nível intelectual, a latente energia revolucionária desviada para fins de reconstrução. Que a época de concentração tenha mostrado qualidades morais tão poderosas, não afundando em uma mera reação guiada, Arnold atribuiu à influência de Edmund Burke. De fato, Burke venceu a morte, além de suas próprias expectativas, em seu ofício de sustentar a ordem da civilização. “A comunicação dos mortos é pronunciada com fogo através da linguagem dos vivos.” Deixem-me adicionar ao nome de Edmund Burke os grandes nomes de Samuel Johnson e Adam Smith, e permitam-me sugerir a vocês, muito rapidamente, como esses três nomes da segunda metade do século XVIII explicaram e defenderam aquela ordem social e moral que perdura até nossa presente década turbulenta.
Apesar de esses três grandes homens se conhecerem, eles não eram íntimos; Smith e Johnson, na verdade, eram adversários. Burke era um líder prático de partido, Johnson um poeta e um crítico, Smith um professor (normalmente) de filosofia moral (na verdade, ele também converteu seu posto em Glasgow em uma cadeira de finanças e economia política). Johnson era um Tory [2], Burke e Smith eram Whigs [3]. Indubitavelmente seus fantasmas ficariam estupefatos ao encontrar seus nomes unidos amigavelmente perto do fim do século XX. Ainda assim, pode-se dizer sobre eles o que T. S. Eliot escreveu sobre os partidários da Guerra Civil Inglesa: eles “Aceitam a constituição do silêncio / E estão juntos em um único partido.”[4] Que partido, atualmente? Ora, podemos chamá-lo de o partido da ordem.
Todos os três homens eram moralistas; todos eram realistas e observadores astutos; todos davam primazia à ordem no corpo político. Proponho falar brevemente sobre algumas de suas várias convicções, comparar os três e sugerir suas relações. Tratemos primeiro de Burke, sobre quem tenho escrito muito – provavelmente até demais.
Em 1790, quando Burke publicou suas “Reflexões sobre a Revolução Francesa”, ele havia sido político por trinta anos. Todavia, sua ambição era, nos tempos de mocidade, ser bem-sucedido como um homem de letras, abstendo-se de “políticas tortuosas”. Como Johnson, Burke era um homem de letras que extraiu sua política de sua ética e seu conhecimento de história (bem como de uma intensa experiência prática, no caso de Burke); mas, ao contrário de Johnson, ele fez da política sua carreira. Foi preciso a catástrofe da Revolução Francesa para desviar o político Whig do ofício prático do Estado para a consideração dos primeiros princípios de ordem social civil.
Quando tinha apenas dezessete anos, Burke vislumbrou o abismo no qual o Iluminismo se lançaria. “Creia-me”, ele então escreveu para um amigo, “nós estamos à beira da Escuridão e um empurrão nos fará cair – haveremos todos de viver, se vivermos muito, para ver a profecia do Dunciad [5] cumprida e a era da ignorância emergir uma vez mais... Não há ninguém para salvar o mundo de seu caminho de obscuridade? Não, ninguém...” E ele citou Virgílio: “volta o reinado de Saturno e uma nova geração humana desce do alto dos céus.”[6]
Em 1790, Saturno estava em armas. Anacharsis Cloots [7] escreveu a Burke em maio daquele ano que a Europa não deveria mais ter arquitetura gótica: Notre Dame seria posta abaixo, e um harmonioso Templo da Razão seria erigido no lugar da catedral, para ser admirado por todos os conhecedores das artes. Mas Burke concluiu que a sublimidade da religião cristã e o edifício gótico da civilização européia não deveriam ser submetidos à clave dos destruidores. Contra uma doutrina armada, uma revolução de idéias morais conduzida com violência, Burke lutou com todo seu poder. Sua determinação era renovar “o arcabouço de uma imaginação moral”. Paixões uma vez libertadas, benevolência abstrata e posturas iluminadas não eram suficientes para manter o homem longe da anarquia, Burke sabia. O obsceno e o terrível, o sensual e o sombrio, erguem-se das profundezas quando a autoridade moral é achacada. Pois o homem sai do mistério, e é tragado de volta à terrível obscuridade quando se arroga o mestre racional de tudo sobre a terra. Assim seguiu a retórica inflamada de Burke em seus últimos anos. Existem chamas de glória, e chamas de danação. Nascemos em uma ordem moral, Burke disse à Inglaterra; e se desafiarmos essa ordem, nosso fim são as trevas.
“Burke dá uma alma ao Estado”, escreve Hans Barth. “Ele o torna pessoal, ele o preenche de valores e conteúdos da alma individual. Ele quer fazê-lo digno de devoção e da possibilidade de sacrifício pessoal.” Burke percebeu que o Estado justo existe em uma tensão entre os reclames de autoridade e os reclames de liberdade. E amor ao país, como o amor por parentes ou amigos, Burke sabia, não pode ser fruto de mero cálculo racional. Nada, ele diz, é mais malévolo do que o coração de um metafísico puro – isto é, do “intelectual” que entrona seu ego e seu estoque pessoal de razão sobre as ruínas do amor, do dever e da reverência.
Nos jacobinos, Burke percebeu os fanáticos da doutrina armada, determinados a solapar o amor cristão e o Estado de Direito – a revolta dos arrogantes talentos conspiradores de uma nação contra a propriedade e as tradições da civilidade. Recaiu aos homens da Era Napoleônica cunhar a palavra “ideólogo” para descrever essa paixão por inovação, essa violenta voracidade para abolir a antiga moralidade e a velha ordem social, que a Nova Jerusalém poderia ser criada sobre princípios de razão pura.
Para resistir aos jacobinos, Burke levou a cabo o que Louis Bredvold chamou de “a reconstrução da filosofia social”. Como Platão em seus tempos de desordem, Burke trabalhou para adaptar a antiga estrutura de sua civilização aos desafios de seu tempo. Sabendo que a Humanidade é governada não pelas especulações dos sofistas, mas por uma “estupenda sabedoria moldando em conjunto a grande e misteriosa incorporação da raça humana”, Burke buscou reviver a compreensão do “contrato da eterna sociedade”.
Uma das disputas mais intensas sobre o sentido de Burke emergiu da dúvida se ele era, antes de tudo, um homem de princípios perenes, ou um campeão de conveniência e empirismo; se ele permaneceu na “grande tradição” do pensamento político clássico, ou se era um irracionalista romântico. Essa controvérsia parece ter sido promovida especialmente por uma passagem de “Direito Natural e História”, de Leo Strauss. “Burke chega perto de sugerir que opor-se a uma corrente meticulosamente malévola em relações humanas é perverso se essa corrente é suficientemente poderosa”, escreveu o professor Strauss; “ele ignora a nobreza da resistência extremada.” Ainda que Leo Strauss fosse, no fim da vida, um admirador de Burke, essa observação foi transformada por outros em uma denúncia generalizada contra Burke e como um guia em tempos de revolução.
O ultimo parágrafo de “Thoughts on French Affairs” (1791), de Burke, é a fonte à qual se referem as críticas de Strauss. “Se uma grande mudança está por ser feita em relações humanas”, escreveu Burke, “as mentes dos homens serão encaixadas a ela, as opiniões e os sentimentos gerais traçarão aquele caminho. Todo medo, toda esperança, a seguirá; e então, aqueles que persistem em se opor a essa poderosa corrente em relações humanas parecerão mais resistir aos decretos da Providência do que a meros desígnios dos homens. Eles não serão resolutos e firmes, mas perversos e obstinados.”
Os críticos contumazes de Burke interpretam essa passagem de modo a significar que, na visão de Burke, os princípios mudam com os tempos, e a moral com a atmosfera; e que (antecipando Hegel) não devemos nos opor futilmente à Marcha da História. Mas essa interpretação de Burke ignora a verdadeira trajetória de Burke. Qualquer um interessado no assunto deve reler o “Thoughts on French Affairs”. Nele, Burke não sugere que talvez os campeões da religião e das coisas estabelecidas devem deixar-se serem varridos pela corrente da Revolução Francesa. Ao contrário, ele diz que a oposição efetiva à Revolução deve ser o trabalho de muitas pessoas, agindo inteligentemente e em conjunto; ele professa sua inabilidade, como um velho político aposentado do Parlamento e afastado de seu partido, de fazer algo além de declarar o mal. A “poderosa corrente” pela qual ele anseia é um despertar dos homens com “poder, sabedoria e informação” para o perigo da Revolução; ele pede por um levante da opinião pública em apoio a coisas que não nasceram ontem. A Providência opera ordinariamente através das opiniões e dos hábitos e das decisões dos seres humanos, Burke disse anos antes; e, se a Humanidade negligenciar as leis da conduta humana, então uma providência vingativa pode começar a operar. De todos os homens de seu tempo, Burke era o que mais se opunha veementemente a qualquer comprometimento com o Jacobinismo. Ele teria escolhido a guilhotina à submissão – ou, como ele mesmo colocou, a morte com espada em punho. Ele rompeu com amigos e com o partido, sacrificando sua reputação e se arriscando a ir à falência, ao invés de encorajar a última concessão da facção “pacífica” na Inglaterra.
Nem um devoto irracional do arcaico, tampouco um apóstolo da sociedade utilitarista que estava emergindo perto do fim de sua vida, Edmund Burke surge, em todos os anos de nosso tempo, cada vez mais, como um filósofo relutante que apreendeu a ordem moral e social. Política prática, ele ensinou, é a arte do possível. Não podemos alterar unilateralmente o clima de opinião, ou as instituições de nossos dias, com a adesão altiva a inflexíveis doutrinas abstratas. O estadista prudente, em qualquer época, deve lidar com as opiniões e os costumes prevalentes como ele os encontra – ainda que ele deva agir à luz de princípios perenes (que Burke distinguiu de “abstrações”, ou teorias sem base numa verdadeira compreensão da natureza humana e das instituições sociais como realmente são).
Burke pode ter sido muitas coisas – dentre elas, um grande economista. Adam Smith declarou que o raciocínio econômico de Burke, como expresso em sua obra “Thoughts on Scarcity”, estava mais próximo de seu próprio raciocínio do que qualquer outra pessoa com quem ele não se comunicou diretamente. Como editor do Registro Anual [8] por muitos anos, e arquiteto de peças elaboradas de legislação como a Reforma Econômica, Burke conhecia intimamente a ciência estatística em sua gênese no século XVIII. Ainda assim, Burke expressava freqüentemente seu desgosto por “sofistas, economistas e calculadores”, pelos quais a glória da Europa foi extinta. Em outro ponto das “Reflexões”, ele argumenta que a indústria e o comércio devem muito aos “antigos costumes”, ao espírito cavalheiresco e ao espírito da religião, e falhariam sem o suporte desses costumes antigos; todavia, ele reforça, com algum desgosto, que “comércio, e troca, e manufatura” são “os deuses de nossos políticos econômicos”. Apesar das conexões comerciais dos Whigs, Burke permanece fortemente ligado aos interesses rurais e dos agricultores. Ele reprova a obsessão com questões econômicas, percebendo que a sociedade é algo mais vasto e nobre do que um mero contrato comercial.
Burke revisou favoravelmente “A Riqueza nas Nações” no Registro Anual, e conheceu ocasionalmente Adam Smith no Clube [9], em Londres. Smith foi anfitrião de Burke em Edimburgo, em 1784, e eles se encontraram novamente em 1785; Smith foi nomeado por Burke para a Sociedade Real de Edimburgo. Eles eram amigos, em suma, mas não estreitos colaboradores. Muitos paralelos podem ser traçados entre suas respectivas lições em economia política, mas deve-se notar que Smith, em suas assunções sociais, era muito mais individualista do que Burke. Suspeito que Burke deve ter tido uma relação um pouco desconfortável com Smith em virtude da íntima amizade de Smith com o grande cético David Hume, contra cujos primeiros princípios Burke se opôs (de sua parte, Hume desejou a amizade de Burke, e foi Hume quem apresentou Smith aos escritos de Burke, dizendo a ele para enviar uma cópia de sua “Teoria dos Sentimentos Morais” para “Burke, um cavalheiro irlandês, que escreveu recentemente um belíssimo tratado sobre o Sublime.”)
Com Samuel Johnson, a conexão de Burke foi mais preciosa e interessante. Falemos, pois, do grande homem de Gough Square.
Parte II
“O primeiro Whig foi o Diabo.” Uma boa parte das pessoas conhece pouco mais da política de Samuel Johnson do que sua sagacidade, o que sugere, de fato, a ênfase de Johnson em ordenação e subordinação. Mas Johnson era um importante pensador político, ainda que não fosse um metafísico abstrato em política.
Não dá certo olhar para Johnson através dos óculos da “interpretação Whig da história” ou com base em comentários superficiais em livros-texto de literatura que resultam da ignorância das doutrinas e do tempo de Johnson. O Johnson político era um razoável, moderado e generoso campeão da ordem, pronto para sustentar autoridade justa, mas que suspeitava de poder sem controle. Se alguém analisa seu panfleto Tory “Taxation No Tyranny”, descobrirá que Johnson estava se referindo à definição amplamente aceita e ainda válida da palavra “soberania” como um termo político – não advogando o absolutismo.
Corre pelos trabalhos de Johnson uma forte veia de desilusão e dúvida acerca dos poderes humanos, um senso da vaidade dos desejos humanos. Isso é parte e parcela do dogmatismo cristão que governou a vida de Johnson. Certamente isso moldou suas convicções políticas. Dr. Raymond English fala sobre “o relativamente brutal sentido cético do espírito Tory de Johnson. A mim me parece que Johnson é semelhante a Dean Inge [1] em virtude de ele combinar uma fé cristã profundamente mística com um sólido pessimismo acerca da política prática. Possivelmente alguém poderia comparar ambos a Santo Agostinho, para quem a queda do homem transformou a lei natural em uma base algo inadequada para a autoridade política. De forma um pouco diferente, Fitzjames Stephen [2] trata de um tema semelhante.”
Nem Burke, nem Johnson gostariam de ser referidos como “filósofos políticos”. Talvez Johnson, em seu aspecto político, seria melhor descrito como “estatista” – palavra que possui um caráter neutro no Dicionário de Johnson. O que Ross Hoffman falou sobre Burke é ainda mais verdadeiro para Johnson: “Ele retirou seus princípios básicos de política da ‘Authorized Version’ [3] e do ‘Livro de Oração Comum’ [4].” Granville Hicks uma vez escreveu sobre Robert Louis Stevenson: “O Tory sempre insistiu que, se os homens poderiam cultivar virtudes individuais, problemas sociais acabariam por si mesmos.” Isso é, em essência, verdadeiro sobre a visão de Johnson acerca da natureza e da sociedade humanas; entretanto, Johnson não ignorava o papel das instituições em uma ordem social tolerável. Longe de ser um absolutista, ele lutou pelo Estado de Direito no governo, a libido dominandi controlada pelo costume e pela doutrina cristã.
“Os Whigs viverão e morrerão na heresia de que o mundo é governado por pequenos tratados e panfletos”, Walter Scott [5] escreveu certa feita – Scott, que se manteve diretamente na linha de Johnson. Nessa heresia, Samuel Johnson não caiu. Sua política não vinha de tratados dos séculos XVI, XVII ou XVIII, mas da experiência do mundo, da leitura conspícua dos politicamente sábios através dos séculos e daquilo que Eliot chamou de “a idéia de uma sociedade cristã”, com seus conceitos de ordenação e subordinação, caridade e justiça, amor divino, e falibilidade mortal.
Magnatas Whigs e “patriotas” demagógicos, Johnson estava convencido, queriam sublevar o equilíbrio de ordens e poderes que era a Inglaterra oitocentista – um argumento depois aprimorado por Disraeli [6] no prefácio de “Sybil”. Para Johnson, o Diabo foi o primeiro Whig porque os Whigs apoiaram a insubordinação e a inovação; Burke era um “Whig sem limites”, no epíteto de Johnson, porque os Whigs não se atinham a nenhum princípio de ordem social bem definido, mas viviam de conveniência e improviso. Tais acusações sobre os Whigs, apesar disso, freqüentemente extraída de Boswell [7] nos momentos mais irritadiços e imprevisíveis de Johnson, não correspondiam às reflexões mais profundas de Johnson. A pedido de Boswell, em 1781, Johnson escreveu sobre as diferenças entre Whig e Tory:
Um Tory sábio e um Whig sábio, acredito, concordarão. Seus princípios são os mesmos, mas suas maneiras de pensar são distintas. Um grande Tory torna o governo ininteligível; ele se perde nas nuvens. Um violento Whig o torna impraticável; ele permite tantas liberdades a todo homem, que não resta poder suficiente para governar qualquer homem. Um Tory não deseja conceder mais poder real ao Governo; mas esse Governo deve ter mais reverência. Assim eles também diferem sobre a Igreja. O Tory não deseja conceder mais poder legal ao Clero, mas deseja que eles tenham uma influência considerável, fundada na opinião do homem; o Whig quer limitá-lo e vigiá-lo com estreito ciúme.
Como Leslie Stephen [8] escreveu, “os Whigs possuíam uma suspeita invencível sobre o clero.” Johnson não era tão desconfiado.
Pode ser compreendido que os princípios básicos de um Tory como Johnson e de um Whig como Burke eram quase idênticos. Para ambos, a nova política da era que surgia, fossem as noções de Rousseau ou Bentham, eram repugnantes. Tanto Johnson quanto Burke reconheciam uma ordem moral transcendente, subscreveram a sabedoria da espécie, eram ligados a costume e precedente, sustentavam a idéia de uma magistratura cristã, e aderiram aos conceitos veneráveis de caridade cristã e comunidade. A estreita teoria contratual de Locke, o ceticismo de Hume, a tendência individualista dos escritos de Smith – essas eram inimigas tanto para a doutrina Tory de Johnson quanto para a doutrina Whig de Burke.
Quando, no fim de sua carreira, Burke refutou a reprimenda sardônica de Goldsmith [9] oferecendo à humanidade o que ele uma vez jurou ao partido, os princípios do Velho Whig eram quase indistinguíveis daqueles de seu amigo Johnson, que morreu antes do Cataclismo de 1789. “Eu posso viver muito bem com Burke”, disse Johnson; “Eu amo seu conhecimento, sua prolixidade, e sua fluência de conversação.” Ou, em outra ocasião: “Sim, senhor, se um homem corresse ao mesmo tempo em que Burke a um abrigo para fugir da chuva, ele diria – ‘nós tivemos um homem extraordinário por aqui.’”
Era o contrário com Johnson e Smith. Walter Scott, em uma carta escrita para John Wilson Croker [10] em 1829, lembra-se do registro de alguém sobre um encontro entre Johnson e Smith em Glasgow – ou melhor, o registro dele que foi extraído não muito tempo depois de Adam Smith:
Smith, obviamente muito descomposto, aproximou-se de um grupo que estava jogando cartas. A aparência do Doutor suspendeu a diversão, pois, como sabiam que ele encontrar-se-ia com Johnson naquela noite, todos estavam curiosos para saber o que se passara. Adam Smith, cujos nervos pareciam desarranjados, respondeu de pronto: “Ele é um grosseiro! Ele é um grosseiro!”; após um exame mais minucioso, parecia que o Dr. Johnson, tão logo viu Smith, apresentou-lhe uma acusação contra por algo em sua famosa carta acerca da morte de Hume. Smith disse que ele sustentou a verdade de sua afirmação. “E o que o Doutor disse?”, foi a pergunta geral.
“Ora, ele disse – ele disse –”, disse Smith, com uma profunda impressão de ressentimento, “ele disse – Você mente!” “E o que respondeste?” “Eu disse, ‘Você é um filho da puta!’” E em tais termos os dois grandes moralistas se encontraram e partiram e esse foi o clássico diálogo entre eles.
Birkbeck Hill [11] duvida da veracidade desse incidente; apesar disso, ele representa muito bem o grau de estima que ambos os filósofos morais nutriam um pelo outro. Trataremos sobre as razões dessa animosidade quando falarmos sobre o professor escocês.
Parte III
O débito não reconhecido aos escritos de Adam Smith é muito maior que sua influência geralmente reconhecida. Encontra-se nos volumes de John Adams [1], por exemplo, uma análise muito astuta e aparentemente original (tanto quanto qualquer psicologia pode ser chamada de original) da natureza moral do homem. Ao menos eu a tomei por original, até alguns anos atrás; então, descobri que muitas passagens de Adams, e mesmo a maior parte de suas convicções nesse importante assunto, foram emprestadas – praticamente plagiadas – da “Teoria dos Sentimentos Morais” de Smith, publicada em 1759 (similarmente, muitos registros da Revolução Americana na obra “Life of Washington”, de John Marshall [2], foram extraídos do “Registro Anual” de Burke). Os empréstimos americanos do Velho Mundo não terminaram em 1776.
Mas foi como um financista, mais do que como um moralista, que Smith moveu os homens de seu tempo. Eu possuo e faço uso da terceira edição de “Uma Investigação sobre a Natureza e as Causas da Riqueza das Nações”, publicada em 1786 – a edição que pertencia e era altamente louvada por Robert Burns [3]. A grande razão para o sucesso prático do livro foi sua combinação de educação genuína com uma profusão de cuidadosas observações do senso-comum escocês – e tudo escrito lúcida e desapaixonadamente. Charles James Fox [4] disse, sobre as edições anteriores, em uma carta à Casa dos Comuns em 1783:
Havia uma máxima escrita em um excelente livro sobre a Riqueza das Nações, que foi ridicularizada por sua simplicidade, mas que era inegavelmente verdadeira. Nesse livro, estava escrito que o único caminho para tornar-se rico era administrar matérias de modo que os custos de alguém não excedam seus ganhos. Essa máxima aplica-se igualmente a um indivíduo e a uma nação. A linha correta de conduta, portanto, era uma economia bem-direcionada para retrair todo custo corrente, e ampliar a poupança durante a paz tanto quanto possível... Não se devia pensar que, por ter-se aberta a possibilidade de recuperação, o país seria restaurado a sua grandeza anterior, a não ser que os ministros planejassem um meio ou outro de pagar uma parte do Débito Nacional, pelo menos, e fizessem algo para estabelecer um verdadeiro fundo de reserva, capaz de ser aplicado para uma constante e sensível diminuição dos fardos públicos.
A frase “aplica-se igualmente a um indivíduo” nos lábios do pródigo Fox devem ter provocado, no mínimo, sorrisos das bancadas opositoras. Por esse motivo, Smith não foi muito favorecido com os benefícios da fortuna (o louvor de Fox ajudou a aumentar muito as vendas de “A Riqueza das Nações”, elevando os recursos do autor). Para Charles Butler [5], Fox confessou mais tarde que nunca realmente leu Smith: “Há alguma coisa em todos esses assuntos que ultrapassa minha compreensão; algo tão grande, que nunca poderia abraçá-los eu mesmo ou encontrar alguém que pudesse.” A quantos outros homens públicos que citam filósofos a confissão de Fox é verdadeira!
Entretanto, o que o arqui-Whig não pôde apreender, o arqui-Tory pôde. O jovem William Pitt [6] encontrou em Smith a sagacidade necessária para financiar vinte e cinco anos de guerra. Em seu Discurso do Orçamento de 17 de fevereiro de 1792, Pitt observou que uma das causas do aumento da riqueza nacional era “a constante acumulação de capital, quando não obstruída por alguma calamidade pública ou por alguma política equivocada e enganosa. Simples e óbvio como é esse princípio, e sentido e observado como deve ter sido em maior ou menor grau desde tempos anteriores, eu duvido que já tenha sido alguma vez totalmente desenvolvido e suficientemente explicado, exceto por um autor de nosso próprio tempo – agora, infelizmente, não mais (me refiro ao autor do célebre tratado sobre a Riqueza das Nações); seu extenso conhecimento de detalhe e sua profundidade de pesquisa filosófica irão, creio eu, fomentar a melhor solução para toda questão conectada com a história do comércio, e com o sistema de economia política.”
Na América, durante o mesmo período, “A Riqueza das Nações” correu por todos os principais relatórios financeiros de Alexander Hamilton [7]. Alguns dos opositores de Hamilton também beberam do poço de sabedoria econômica de Smith em seus argumentos. Desde essa época, de ambos os lados do Atlântico, aqueles que ocupam os assentos do poder ou falaram em vão sobre Adam Smith, ou utilizaram sua grande obra sem se incomodar em citar a fonte de sua presciência.
Grandes influências algumas vezes vêm de origens pequenas e obscuras. A observação de Smith sobre o declínio da pequena indústria de fabricação de alfinetes em sua vila natal de Kirkcaldy levou-o a refletir sobre a divisão do trabalho, e sua análise sobre a divisão do trabalho tornou-se “A Riqueza das Nações”. Fazendo bem o tipo do professor escocês, Smith foi, ao longo da vida, tão absorvido pelo assunto da divisão do trabalho que, em certa ocasião, ele quase foi exterminado por ela. O London Times, em seu obituário de Smith (que faleceu em 1790), recordou, de maneira um tanto maldosa, um episódio instrutivo desse tipo. Quando Charles Townshend [8], o político, visitou Glasgow, Dr. Smith levou-o para ver um curtume:
Eles estavam em uma prancha que foi passada sobre o poço de curtimento; o Doutor, que falava calorosamente sobre seu assunto favorito, a divisão do trabalho, esquecendo da precariedade do chão em que estava, mergulhou de cabeça na piscina nauseabunda. Ele foi retirado de lá, despido, e carregado em lençóis, e acompanhado a sua casa numa grande carruagem, onde, tendo se recuperado do choque de um inesperado banho gelado, reclamou amargamente que deveria deixar a vida com todos seus assuntos em grande desordem; o que foi considerado uma afetação, pois suas transações eram poucas e sua fortuna era nada.
De fato, Smith sobreviveu a esse desastre; e sua reputação sobreviveu a quedas de impérios. Nem tanto sua Glasgow, ou sua Kirkcaldy. Até recentemente, Glasgow era uma das maiores cidades de pedra do mundo; entretanto, nas últimas décadas, políticas públicas, cuja maneira mais bondosa de chamá-las seria “vazias”, reduziram praticamente toda a parte velha da cidade ao abandono total ou uma horrenda favela – ignorando, acima de tudo, certos princípios expostos em “A Riqueza das Nações”. Quanto a Kirkcaldy, onde o linóleo substituiu o alfinete, um documentário americano sobre a vila foi produzido alguns anos atrás – ou melhor, um filme sobre a vida e a obra de Smith, no qual havia cenas da moderna Kirkcaldy, representada como uma colméia industrial que foi possível graças ao triunfo das idéias econômicas de Smith. Pude conhecer Kirkcaldy muito bem, e a indústria pulsante mostrada no filme é, em grande parte, uma falida operação socialista de Estado; e Kirkcaldy tem uma das maiores taxas de desemprego da Inglaterra; e quase todos os velhos edifícios interessantes associados a Smith e à Kirkcaldy de seu tempo foram deliberadamente demolidos, sendo substituídos pela feiúra ou por lotes cheios de entulho. Um profeta não fica sem honra...
Mas estou divagando. No começo, prometi falar porque Johnson não amava Smith. Uma razão para isso é que Smith não amava Johnson. Em suas “Conferências sobre Retórica”, Smith proclamou: “De todos os escritores antigos e modernos, aquele que mantém a maior distância do senso-comum é o Dr. Samuel Johnson.” Por outro lado, Smith disse a Boswell que “Johnson sabia mais que qualquer homem vivo.” Boswell foi aluno de Smith em Glasgow; certa vez, ele mencionou a Johnson que Smith preferia rimas a versos brancos. “Senhor”, respondeu Johnson, “eu estive uma vez na companhia de Smith, e nós não nos entendemos; mas se soubesse que ele adorava Rima tanto quanto me diz, eu o teria abraçado.” Os dois se encontraram depois por acaso no Clube, em Londres, e aparentemente foram bastante cordatos em suas disputas. Mas Smith revisou o Dicionário de Johnson de maneira hostil, e, por isso, Johnson jamais o perdoou.
Pondo de lado esses detalhes, um abismo estava crescendo mesmo no fim do último quarto do século XVIII entre os homens de intelecto que professavam o dogma cristão e os homens de intelecto que tinham suas dúvidas liberais. Johnson e Burke pertenciam àquele grupo; Smith era o maior admirador de Hume. Como disse Manning [9], toda diferença de opinião é, no fundo, teológica. Smith não era ateu, mas suas admoestações à Igreja, na primeira edição de “A Riqueza das Nações”, inquietaram até seu bom amigo Hugh Blair, o famoso pregador liberal da época, que escreveu a Smith, em abril de 1776: “Mas sobre seu sistema acerca da Igreja não posso concordar inteiramente com você. Independência nunca foi um sistema possível ou praticável. As pequenas facções das quais fala, por muitas razões, unir-se-iam em corpos maiores e trariam grandes danos à sociedade.” Com tais ressalvas, Smith fez adversários formidáveis, Blair lhe disse. Johnson era um deles, sem dúvida; e Burke, mesmo que fosse um enérgico amigo da tolerância religiosa, não era admirador da dissidência e da dissensão.
Finalmente, havia diferenças de temperamento e suposições sociais entre esses três. Burke era muito irlandês, Johnson era muito inglês – e Smith era indubitavelmente escocês. Sua mente era a mente de um Whig escocês, não importa quão urbanamente professoral Smith poderia ser. William Butler Yeats, em seu poema “The Seven Sages”, sugere que Burke, ainda que um Whig por nome e ocupação, detestava profundamente o estado mental e o caráter Whig:
Todos odiavam o espírito Whig; mas o que é
O espírito Whig?
Um nivelador, rancoroso, racional tipo de
Mente
Que nunca olhou com os olhos de um
Santo
Ou com os olhos de um bêbado. [10]
Johnson temia o inferno e venerava os santos; Burke às vezes era zombeteiro quando bebia, e lia “os pais do século XIV”. Smith parece ter sido sempre sóbrio, e não era dado a visões do mundo além do mundo. É um grande caminho de Kirkcaldy para Dublin ou para Litchfield.
Seja como for, Burke e Johnson e Smith, de suas diversas maneiras, descreveram e defenderam aquelas crenças e instituições que mantêm a tensão beneficente de ordem e liberdade. Todos foram pilares do que Burke chamou de “esse mundo de razão, e ordem, e paz, e virtude, e frutífera penitência”; todos sabiam como homens e nações podiam fazer escolhas que os lançavam “no antagonista mundo da loucura, discórdia, vício, confusão, e irremediável sofrimento.” Tais escolhas desvairadas estão sendo feitas dois séculos depois que esses homens viveram e respiraram e existiram. Assim, eu não acho realmente surpreendente que alguns dentre nós, no que cremos será uma era mais de concentração do que de excentricidade, estejam novamente compreendendo Burke e Johnson e Smith.
Russel Kirk, 26 Novembro 2011
Tradução: Felipe Melo
Notas do tradutor:
Parte I
[1] Artigo originalmente publicado na revista Modern Age, edição de verão de 1981.
[2] Antigo partido conservador da Inglaterra.
[3] Antigo partido liberal da Inglaterra.
[4] Tradução livre de um trecho do poema Little Gidding, de T. S. Eliot. No original: “Accept the constitution of silence / And are folded in a single party”.
[5] “O Dunciad”, obra satírica de Alexander Pope (1688 – 1744).
[6] Versos 6 e 7 da Quarta Écloga de Virgílio, na tradução do reverendo Raymond E. Brown (1928 – 1998).
[7] Jean-Baptiste du Val-de-Grâce, Barão de Cloots (1755 – 1794), nobre de origem prussiana e figura de proa da Revolução Francesa. Seu pseudônimo refere-se ao filósofo grego Anacársis e foi retirado da obra “Voyage du jeune Anacharsis en Grèce dans le milieu du IVe siècle” (“Viagem do jovem Anacársis pela Grécia em meados do século IV”, em tradução livre), de Jean-Jacques Barthélemy (1716 — 1795).
[8] O Registro Anual (The Annual Register) é uma obra de referência criada em 1758 por James e Robert Dodsley. Seu objetivo era registrar e analisar anualmente os fatos mais importantes ocorridos no mundo. O primeiro editor do Registro Anual foi Edmund Burke.
[9] O Clube (The Club) foi um grupo de intelectuais organizado em 1764 por Sir Joshua Reynolds (1723 – 1792) e Samuel Johnson (1709 – 1784). O grupo reunia-se semanalmente para jantar e debater assuntos de importância na Inglaterra de então. Edmund Burke foi um dos nove membros fundadores do Clube.
Parte II
[1] William Ralph Inge (1860 – 1954), escritor inglês e sacerdote anglicano, ocupou o posto de Deão da Catedral de St. Paul, em Londres. Também é conhecido como Dean Inge (“Deão Inge”).
[2] Sir James Fitzjames Stephen, 1º Baronete (1829 – 1894), juiz inglês e escritor anti-libertário.
[3] A “Authorized Version” (“Versão Autorizada”, em tradução livre), também conhecida como King James, a Bíblia do Rei James, é a tradução para o inglês da Bíblia Sagrada feita pela Igreja Anglicana no início do século XVII.
[4] O “Livro de Oração Comum” (“Book of Common Prayer”) é o livro de orações pela Igreja Anglicana. Foi editado pela primeira vez em 1549, tendo passado por diversas edições desde então.
[5] Sir Walter Scott, 1º Baronete (1771 – 1832), novelista, poeta e dramaturgo escocês.
[6] Benjamin Disraeli, 1º Conde de Beaconsfield (1804 – 1881), político conservador e escritor inglês. Foi primeiro-ministro da Inglaterra no ano de 1868 e, depois, de 1874 a 1880.
[7] James Boswell, 9º Lorde de Auchinleck (1740 –1795), advogado e escritor escocês. Era amigo de Samuel Johnson, tendo escrito sua biografia em 1791.
[8] Sir Leslie Stephen (1832 –1904), escritor e crítico inglês. Era irmão de Fitzjames Stephen e pai da escritora Virginia Woolf.
[9] Oliver Goldsmith (1730 – 1774), escritor, poeta e médico anglo-irlandês.
[10] John Wilson Croker (1780 – 1857), escritor e político irlandês.
[11] George Birkbeck Norman Hill (1835 - 1903), escritor e editor inglês. É considerado o melhor comentarista da obra de Samuel Johnson.
Parte III
[1] John Adams (1735 – 1826) foi um advogado, diplomata e político americano.
[2] John Marshall (1755 – 1835) foi Chefe de Justiça dos Estados Unidos (presidente da Suprema Corte e chefe do judiciário federal norte-americano) de 1801 a 1835. Sua biografia de George Washington, “Life of Washington”, foi publicada em 5 volumes entre os anos 1804 e 1807.
[3] Robert Burns (1759 – 1796) – também conhecido como Rabbie Burns, o Poeta dos Rústicos e, na Escócia, “O Bardo” – foi um importante poeta escocês.
[4] Charles James Fox (1749 – 1806), conhecido como "O Honorável", foi um importante político Whig.
[5] Charles Butler (1750 – 1832) foi um advogado católico e escritor inglês.
[6] William Pitt (1759 – 1806) foi Primeiro-Ministro da Inglaterra entre 1783 a 1801 e, novamente, de 1804 a 1806. Seu pai foi William Pitt, 1º Conde de Chatham (1708 – 1778), também foi Primeiro-Ministro da Inglaterra (1766 - 1768), motivo pelo qual é chamado de "O Novo".
[7] Alexander Hamilton (1757 – 1804) foi um economista e filósofo político americano. É considerado um dos Founding Fathers ("Pais Fundadores", em tradução livre) dos Estados Unidos.
[8] Charles Townshend (1725 – 1767) foi Ministro da Fazenda do Reino Unido entre 1766 e 1767.
[9] Henry Edward Manning (1808–1892) foi um cardeal inglês da Igreja Católica Apostólica Romana. Ocupou o posto de Arcebispo de Westminster de 1865 a 1892.
[10] Tradução livre. No original:
All hated Whiggery; but what is
Whiggery?
A leveling, rancorous, rational sort of
Mind
That never looked out of the eye of a
Saint
Or out of drunkard’s eye.
Ensaio publicado em 1981 na edição de verão revista Modern Age.
Fonte: http://www.imaginativeconservative.org
Artigos - Conservadorismo
Burke e Johnson e Smith, de suas diversas maneiras, descreveram e defenderam aquelas crenças e instituições que mantêm a tensão beneficente de ordem e liberdade.
Parte I
O que Matthew Arnold chamou de “uma época de concentração” paira sobre as nações de língua inglesa. Os impulsos revolucionários e os entusiasmos sociais que dominaram nosso século, desde sua grande explosão na Rússia, são agora confrontados por uma força física e intelectual equivalente. A ideologia fanática tem sido, em essência, rebelião contra a velha ordem moral de nossa civilização. Para resistir à ideologia, certos princípios e usos de ordem têm despertado, como aqueles que se ergueram contra a fúria da inovação francesa depois de 1790. Nós ingressamos em um tempo de reconstrução e reavaliação; reconhecemos um conservadorismo ressuscitado em política e filosofia e letras.
A Inglaterra durante a “época de concentração” de Arnold tornou-se, apesar de sua desilusão, uma sociedade de alto nível intelectual, a latente energia revolucionária desviada para fins de reconstrução. Que a época de concentração tenha mostrado qualidades morais tão poderosas, não afundando em uma mera reação guiada, Arnold atribuiu à influência de Edmund Burke. De fato, Burke venceu a morte, além de suas próprias expectativas, em seu ofício de sustentar a ordem da civilização. “A comunicação dos mortos é pronunciada com fogo através da linguagem dos vivos.” Deixem-me adicionar ao nome de Edmund Burke os grandes nomes de Samuel Johnson e Adam Smith, e permitam-me sugerir a vocês, muito rapidamente, como esses três nomes da segunda metade do século XVIII explicaram e defenderam aquela ordem social e moral que perdura até nossa presente década turbulenta.
Apesar de esses três grandes homens se conhecerem, eles não eram íntimos; Smith e Johnson, na verdade, eram adversários. Burke era um líder prático de partido, Johnson um poeta e um crítico, Smith um professor (normalmente) de filosofia moral (na verdade, ele também converteu seu posto em Glasgow em uma cadeira de finanças e economia política). Johnson era um Tory [2], Burke e Smith eram Whigs [3]. Indubitavelmente seus fantasmas ficariam estupefatos ao encontrar seus nomes unidos amigavelmente perto do fim do século XX. Ainda assim, pode-se dizer sobre eles o que T. S. Eliot escreveu sobre os partidários da Guerra Civil Inglesa: eles “Aceitam a constituição do silêncio / E estão juntos em um único partido.”[4] Que partido, atualmente? Ora, podemos chamá-lo de o partido da ordem.
Todos os três homens eram moralistas; todos eram realistas e observadores astutos; todos davam primazia à ordem no corpo político. Proponho falar brevemente sobre algumas de suas várias convicções, comparar os três e sugerir suas relações. Tratemos primeiro de Burke, sobre quem tenho escrito muito – provavelmente até demais.
Em 1790, quando Burke publicou suas “Reflexões sobre a Revolução Francesa”, ele havia sido político por trinta anos. Todavia, sua ambição era, nos tempos de mocidade, ser bem-sucedido como um homem de letras, abstendo-se de “políticas tortuosas”. Como Johnson, Burke era um homem de letras que extraiu sua política de sua ética e seu conhecimento de história (bem como de uma intensa experiência prática, no caso de Burke); mas, ao contrário de Johnson, ele fez da política sua carreira. Foi preciso a catástrofe da Revolução Francesa para desviar o político Whig do ofício prático do Estado para a consideração dos primeiros princípios de ordem social civil.
Quando tinha apenas dezessete anos, Burke vislumbrou o abismo no qual o Iluminismo se lançaria. “Creia-me”, ele então escreveu para um amigo, “nós estamos à beira da Escuridão e um empurrão nos fará cair – haveremos todos de viver, se vivermos muito, para ver a profecia do Dunciad [5] cumprida e a era da ignorância emergir uma vez mais... Não há ninguém para salvar o mundo de seu caminho de obscuridade? Não, ninguém...” E ele citou Virgílio: “volta o reinado de Saturno e uma nova geração humana desce do alto dos céus.”[6]
Em 1790, Saturno estava em armas. Anacharsis Cloots [7] escreveu a Burke em maio daquele ano que a Europa não deveria mais ter arquitetura gótica: Notre Dame seria posta abaixo, e um harmonioso Templo da Razão seria erigido no lugar da catedral, para ser admirado por todos os conhecedores das artes. Mas Burke concluiu que a sublimidade da religião cristã e o edifício gótico da civilização européia não deveriam ser submetidos à clave dos destruidores. Contra uma doutrina armada, uma revolução de idéias morais conduzida com violência, Burke lutou com todo seu poder. Sua determinação era renovar “o arcabouço de uma imaginação moral”. Paixões uma vez libertadas, benevolência abstrata e posturas iluminadas não eram suficientes para manter o homem longe da anarquia, Burke sabia. O obsceno e o terrível, o sensual e o sombrio, erguem-se das profundezas quando a autoridade moral é achacada. Pois o homem sai do mistério, e é tragado de volta à terrível obscuridade quando se arroga o mestre racional de tudo sobre a terra. Assim seguiu a retórica inflamada de Burke em seus últimos anos. Existem chamas de glória, e chamas de danação. Nascemos em uma ordem moral, Burke disse à Inglaterra; e se desafiarmos essa ordem, nosso fim são as trevas.
“Burke dá uma alma ao Estado”, escreve Hans Barth. “Ele o torna pessoal, ele o preenche de valores e conteúdos da alma individual. Ele quer fazê-lo digno de devoção e da possibilidade de sacrifício pessoal.” Burke percebeu que o Estado justo existe em uma tensão entre os reclames de autoridade e os reclames de liberdade. E amor ao país, como o amor por parentes ou amigos, Burke sabia, não pode ser fruto de mero cálculo racional. Nada, ele diz, é mais malévolo do que o coração de um metafísico puro – isto é, do “intelectual” que entrona seu ego e seu estoque pessoal de razão sobre as ruínas do amor, do dever e da reverência.
Nos jacobinos, Burke percebeu os fanáticos da doutrina armada, determinados a solapar o amor cristão e o Estado de Direito – a revolta dos arrogantes talentos conspiradores de uma nação contra a propriedade e as tradições da civilidade. Recaiu aos homens da Era Napoleônica cunhar a palavra “ideólogo” para descrever essa paixão por inovação, essa violenta voracidade para abolir a antiga moralidade e a velha ordem social, que a Nova Jerusalém poderia ser criada sobre princípios de razão pura.
Para resistir aos jacobinos, Burke levou a cabo o que Louis Bredvold chamou de “a reconstrução da filosofia social”. Como Platão em seus tempos de desordem, Burke trabalhou para adaptar a antiga estrutura de sua civilização aos desafios de seu tempo. Sabendo que a Humanidade é governada não pelas especulações dos sofistas, mas por uma “estupenda sabedoria moldando em conjunto a grande e misteriosa incorporação da raça humana”, Burke buscou reviver a compreensão do “contrato da eterna sociedade”.
Uma das disputas mais intensas sobre o sentido de Burke emergiu da dúvida se ele era, antes de tudo, um homem de princípios perenes, ou um campeão de conveniência e empirismo; se ele permaneceu na “grande tradição” do pensamento político clássico, ou se era um irracionalista romântico. Essa controvérsia parece ter sido promovida especialmente por uma passagem de “Direito Natural e História”, de Leo Strauss. “Burke chega perto de sugerir que opor-se a uma corrente meticulosamente malévola em relações humanas é perverso se essa corrente é suficientemente poderosa”, escreveu o professor Strauss; “ele ignora a nobreza da resistência extremada.” Ainda que Leo Strauss fosse, no fim da vida, um admirador de Burke, essa observação foi transformada por outros em uma denúncia generalizada contra Burke e como um guia em tempos de revolução.
O ultimo parágrafo de “Thoughts on French Affairs” (1791), de Burke, é a fonte à qual se referem as críticas de Strauss. “Se uma grande mudança está por ser feita em relações humanas”, escreveu Burke, “as mentes dos homens serão encaixadas a ela, as opiniões e os sentimentos gerais traçarão aquele caminho. Todo medo, toda esperança, a seguirá; e então, aqueles que persistem em se opor a essa poderosa corrente em relações humanas parecerão mais resistir aos decretos da Providência do que a meros desígnios dos homens. Eles não serão resolutos e firmes, mas perversos e obstinados.”
Os críticos contumazes de Burke interpretam essa passagem de modo a significar que, na visão de Burke, os princípios mudam com os tempos, e a moral com a atmosfera; e que (antecipando Hegel) não devemos nos opor futilmente à Marcha da História. Mas essa interpretação de Burke ignora a verdadeira trajetória de Burke. Qualquer um interessado no assunto deve reler o “Thoughts on French Affairs”. Nele, Burke não sugere que talvez os campeões da religião e das coisas estabelecidas devem deixar-se serem varridos pela corrente da Revolução Francesa. Ao contrário, ele diz que a oposição efetiva à Revolução deve ser o trabalho de muitas pessoas, agindo inteligentemente e em conjunto; ele professa sua inabilidade, como um velho político aposentado do Parlamento e afastado de seu partido, de fazer algo além de declarar o mal. A “poderosa corrente” pela qual ele anseia é um despertar dos homens com “poder, sabedoria e informação” para o perigo da Revolução; ele pede por um levante da opinião pública em apoio a coisas que não nasceram ontem. A Providência opera ordinariamente através das opiniões e dos hábitos e das decisões dos seres humanos, Burke disse anos antes; e, se a Humanidade negligenciar as leis da conduta humana, então uma providência vingativa pode começar a operar. De todos os homens de seu tempo, Burke era o que mais se opunha veementemente a qualquer comprometimento com o Jacobinismo. Ele teria escolhido a guilhotina à submissão – ou, como ele mesmo colocou, a morte com espada em punho. Ele rompeu com amigos e com o partido, sacrificando sua reputação e se arriscando a ir à falência, ao invés de encorajar a última concessão da facção “pacífica” na Inglaterra.
Nem um devoto irracional do arcaico, tampouco um apóstolo da sociedade utilitarista que estava emergindo perto do fim de sua vida, Edmund Burke surge, em todos os anos de nosso tempo, cada vez mais, como um filósofo relutante que apreendeu a ordem moral e social. Política prática, ele ensinou, é a arte do possível. Não podemos alterar unilateralmente o clima de opinião, ou as instituições de nossos dias, com a adesão altiva a inflexíveis doutrinas abstratas. O estadista prudente, em qualquer época, deve lidar com as opiniões e os costumes prevalentes como ele os encontra – ainda que ele deva agir à luz de princípios perenes (que Burke distinguiu de “abstrações”, ou teorias sem base numa verdadeira compreensão da natureza humana e das instituições sociais como realmente são).
Burke pode ter sido muitas coisas – dentre elas, um grande economista. Adam Smith declarou que o raciocínio econômico de Burke, como expresso em sua obra “Thoughts on Scarcity”, estava mais próximo de seu próprio raciocínio do que qualquer outra pessoa com quem ele não se comunicou diretamente. Como editor do Registro Anual [8] por muitos anos, e arquiteto de peças elaboradas de legislação como a Reforma Econômica, Burke conhecia intimamente a ciência estatística em sua gênese no século XVIII. Ainda assim, Burke expressava freqüentemente seu desgosto por “sofistas, economistas e calculadores”, pelos quais a glória da Europa foi extinta. Em outro ponto das “Reflexões”, ele argumenta que a indústria e o comércio devem muito aos “antigos costumes”, ao espírito cavalheiresco e ao espírito da religião, e falhariam sem o suporte desses costumes antigos; todavia, ele reforça, com algum desgosto, que “comércio, e troca, e manufatura” são “os deuses de nossos políticos econômicos”. Apesar das conexões comerciais dos Whigs, Burke permanece fortemente ligado aos interesses rurais e dos agricultores. Ele reprova a obsessão com questões econômicas, percebendo que a sociedade é algo mais vasto e nobre do que um mero contrato comercial.
Burke revisou favoravelmente “A Riqueza nas Nações” no Registro Anual, e conheceu ocasionalmente Adam Smith no Clube [9], em Londres. Smith foi anfitrião de Burke em Edimburgo, em 1784, e eles se encontraram novamente em 1785; Smith foi nomeado por Burke para a Sociedade Real de Edimburgo. Eles eram amigos, em suma, mas não estreitos colaboradores. Muitos paralelos podem ser traçados entre suas respectivas lições em economia política, mas deve-se notar que Smith, em suas assunções sociais, era muito mais individualista do que Burke. Suspeito que Burke deve ter tido uma relação um pouco desconfortável com Smith em virtude da íntima amizade de Smith com o grande cético David Hume, contra cujos primeiros princípios Burke se opôs (de sua parte, Hume desejou a amizade de Burke, e foi Hume quem apresentou Smith aos escritos de Burke, dizendo a ele para enviar uma cópia de sua “Teoria dos Sentimentos Morais” para “Burke, um cavalheiro irlandês, que escreveu recentemente um belíssimo tratado sobre o Sublime.”)
Com Samuel Johnson, a conexão de Burke foi mais preciosa e interessante. Falemos, pois, do grande homem de Gough Square.
Parte II
“O primeiro Whig foi o Diabo.” Uma boa parte das pessoas conhece pouco mais da política de Samuel Johnson do que sua sagacidade, o que sugere, de fato, a ênfase de Johnson em ordenação e subordinação. Mas Johnson era um importante pensador político, ainda que não fosse um metafísico abstrato em política.
Não dá certo olhar para Johnson através dos óculos da “interpretação Whig da história” ou com base em comentários superficiais em livros-texto de literatura que resultam da ignorância das doutrinas e do tempo de Johnson. O Johnson político era um razoável, moderado e generoso campeão da ordem, pronto para sustentar autoridade justa, mas que suspeitava de poder sem controle. Se alguém analisa seu panfleto Tory “Taxation No Tyranny”, descobrirá que Johnson estava se referindo à definição amplamente aceita e ainda válida da palavra “soberania” como um termo político – não advogando o absolutismo.
Corre pelos trabalhos de Johnson uma forte veia de desilusão e dúvida acerca dos poderes humanos, um senso da vaidade dos desejos humanos. Isso é parte e parcela do dogmatismo cristão que governou a vida de Johnson. Certamente isso moldou suas convicções políticas. Dr. Raymond English fala sobre “o relativamente brutal sentido cético do espírito Tory de Johnson. A mim me parece que Johnson é semelhante a Dean Inge [1] em virtude de ele combinar uma fé cristã profundamente mística com um sólido pessimismo acerca da política prática. Possivelmente alguém poderia comparar ambos a Santo Agostinho, para quem a queda do homem transformou a lei natural em uma base algo inadequada para a autoridade política. De forma um pouco diferente, Fitzjames Stephen [2] trata de um tema semelhante.”
Nem Burke, nem Johnson gostariam de ser referidos como “filósofos políticos”. Talvez Johnson, em seu aspecto político, seria melhor descrito como “estatista” – palavra que possui um caráter neutro no Dicionário de Johnson. O que Ross Hoffman falou sobre Burke é ainda mais verdadeiro para Johnson: “Ele retirou seus princípios básicos de política da ‘Authorized Version’ [3] e do ‘Livro de Oração Comum’ [4].” Granville Hicks uma vez escreveu sobre Robert Louis Stevenson: “O Tory sempre insistiu que, se os homens poderiam cultivar virtudes individuais, problemas sociais acabariam por si mesmos.” Isso é, em essência, verdadeiro sobre a visão de Johnson acerca da natureza e da sociedade humanas; entretanto, Johnson não ignorava o papel das instituições em uma ordem social tolerável. Longe de ser um absolutista, ele lutou pelo Estado de Direito no governo, a libido dominandi controlada pelo costume e pela doutrina cristã.
“Os Whigs viverão e morrerão na heresia de que o mundo é governado por pequenos tratados e panfletos”, Walter Scott [5] escreveu certa feita – Scott, que se manteve diretamente na linha de Johnson. Nessa heresia, Samuel Johnson não caiu. Sua política não vinha de tratados dos séculos XVI, XVII ou XVIII, mas da experiência do mundo, da leitura conspícua dos politicamente sábios através dos séculos e daquilo que Eliot chamou de “a idéia de uma sociedade cristã”, com seus conceitos de ordenação e subordinação, caridade e justiça, amor divino, e falibilidade mortal.
Magnatas Whigs e “patriotas” demagógicos, Johnson estava convencido, queriam sublevar o equilíbrio de ordens e poderes que era a Inglaterra oitocentista – um argumento depois aprimorado por Disraeli [6] no prefácio de “Sybil”. Para Johnson, o Diabo foi o primeiro Whig porque os Whigs apoiaram a insubordinação e a inovação; Burke era um “Whig sem limites”, no epíteto de Johnson, porque os Whigs não se atinham a nenhum princípio de ordem social bem definido, mas viviam de conveniência e improviso. Tais acusações sobre os Whigs, apesar disso, freqüentemente extraída de Boswell [7] nos momentos mais irritadiços e imprevisíveis de Johnson, não correspondiam às reflexões mais profundas de Johnson. A pedido de Boswell, em 1781, Johnson escreveu sobre as diferenças entre Whig e Tory:
Um Tory sábio e um Whig sábio, acredito, concordarão. Seus princípios são os mesmos, mas suas maneiras de pensar são distintas. Um grande Tory torna o governo ininteligível; ele se perde nas nuvens. Um violento Whig o torna impraticável; ele permite tantas liberdades a todo homem, que não resta poder suficiente para governar qualquer homem. Um Tory não deseja conceder mais poder real ao Governo; mas esse Governo deve ter mais reverência. Assim eles também diferem sobre a Igreja. O Tory não deseja conceder mais poder legal ao Clero, mas deseja que eles tenham uma influência considerável, fundada na opinião do homem; o Whig quer limitá-lo e vigiá-lo com estreito ciúme.
Como Leslie Stephen [8] escreveu, “os Whigs possuíam uma suspeita invencível sobre o clero.” Johnson não era tão desconfiado.
Pode ser compreendido que os princípios básicos de um Tory como Johnson e de um Whig como Burke eram quase idênticos. Para ambos, a nova política da era que surgia, fossem as noções de Rousseau ou Bentham, eram repugnantes. Tanto Johnson quanto Burke reconheciam uma ordem moral transcendente, subscreveram a sabedoria da espécie, eram ligados a costume e precedente, sustentavam a idéia de uma magistratura cristã, e aderiram aos conceitos veneráveis de caridade cristã e comunidade. A estreita teoria contratual de Locke, o ceticismo de Hume, a tendência individualista dos escritos de Smith – essas eram inimigas tanto para a doutrina Tory de Johnson quanto para a doutrina Whig de Burke.
Quando, no fim de sua carreira, Burke refutou a reprimenda sardônica de Goldsmith [9] oferecendo à humanidade o que ele uma vez jurou ao partido, os princípios do Velho Whig eram quase indistinguíveis daqueles de seu amigo Johnson, que morreu antes do Cataclismo de 1789. “Eu posso viver muito bem com Burke”, disse Johnson; “Eu amo seu conhecimento, sua prolixidade, e sua fluência de conversação.” Ou, em outra ocasião: “Sim, senhor, se um homem corresse ao mesmo tempo em que Burke a um abrigo para fugir da chuva, ele diria – ‘nós tivemos um homem extraordinário por aqui.’”
Era o contrário com Johnson e Smith. Walter Scott, em uma carta escrita para John Wilson Croker [10] em 1829, lembra-se do registro de alguém sobre um encontro entre Johnson e Smith em Glasgow – ou melhor, o registro dele que foi extraído não muito tempo depois de Adam Smith:
Smith, obviamente muito descomposto, aproximou-se de um grupo que estava jogando cartas. A aparência do Doutor suspendeu a diversão, pois, como sabiam que ele encontrar-se-ia com Johnson naquela noite, todos estavam curiosos para saber o que se passara. Adam Smith, cujos nervos pareciam desarranjados, respondeu de pronto: “Ele é um grosseiro! Ele é um grosseiro!”; após um exame mais minucioso, parecia que o Dr. Johnson, tão logo viu Smith, apresentou-lhe uma acusação contra por algo em sua famosa carta acerca da morte de Hume. Smith disse que ele sustentou a verdade de sua afirmação. “E o que o Doutor disse?”, foi a pergunta geral.
“Ora, ele disse – ele disse –”, disse Smith, com uma profunda impressão de ressentimento, “ele disse – Você mente!” “E o que respondeste?” “Eu disse, ‘Você é um filho da puta!’” E em tais termos os dois grandes moralistas se encontraram e partiram e esse foi o clássico diálogo entre eles.
Birkbeck Hill [11] duvida da veracidade desse incidente; apesar disso, ele representa muito bem o grau de estima que ambos os filósofos morais nutriam um pelo outro. Trataremos sobre as razões dessa animosidade quando falarmos sobre o professor escocês.
Parte III
O débito não reconhecido aos escritos de Adam Smith é muito maior que sua influência geralmente reconhecida. Encontra-se nos volumes de John Adams [1], por exemplo, uma análise muito astuta e aparentemente original (tanto quanto qualquer psicologia pode ser chamada de original) da natureza moral do homem. Ao menos eu a tomei por original, até alguns anos atrás; então, descobri que muitas passagens de Adams, e mesmo a maior parte de suas convicções nesse importante assunto, foram emprestadas – praticamente plagiadas – da “Teoria dos Sentimentos Morais” de Smith, publicada em 1759 (similarmente, muitos registros da Revolução Americana na obra “Life of Washington”, de John Marshall [2], foram extraídos do “Registro Anual” de Burke). Os empréstimos americanos do Velho Mundo não terminaram em 1776.
Mas foi como um financista, mais do que como um moralista, que Smith moveu os homens de seu tempo. Eu possuo e faço uso da terceira edição de “Uma Investigação sobre a Natureza e as Causas da Riqueza das Nações”, publicada em 1786 – a edição que pertencia e era altamente louvada por Robert Burns [3]. A grande razão para o sucesso prático do livro foi sua combinação de educação genuína com uma profusão de cuidadosas observações do senso-comum escocês – e tudo escrito lúcida e desapaixonadamente. Charles James Fox [4] disse, sobre as edições anteriores, em uma carta à Casa dos Comuns em 1783:
Havia uma máxima escrita em um excelente livro sobre a Riqueza das Nações, que foi ridicularizada por sua simplicidade, mas que era inegavelmente verdadeira. Nesse livro, estava escrito que o único caminho para tornar-se rico era administrar matérias de modo que os custos de alguém não excedam seus ganhos. Essa máxima aplica-se igualmente a um indivíduo e a uma nação. A linha correta de conduta, portanto, era uma economia bem-direcionada para retrair todo custo corrente, e ampliar a poupança durante a paz tanto quanto possível... Não se devia pensar que, por ter-se aberta a possibilidade de recuperação, o país seria restaurado a sua grandeza anterior, a não ser que os ministros planejassem um meio ou outro de pagar uma parte do Débito Nacional, pelo menos, e fizessem algo para estabelecer um verdadeiro fundo de reserva, capaz de ser aplicado para uma constante e sensível diminuição dos fardos públicos.
A frase “aplica-se igualmente a um indivíduo” nos lábios do pródigo Fox devem ter provocado, no mínimo, sorrisos das bancadas opositoras. Por esse motivo, Smith não foi muito favorecido com os benefícios da fortuna (o louvor de Fox ajudou a aumentar muito as vendas de “A Riqueza das Nações”, elevando os recursos do autor). Para Charles Butler [5], Fox confessou mais tarde que nunca realmente leu Smith: “Há alguma coisa em todos esses assuntos que ultrapassa minha compreensão; algo tão grande, que nunca poderia abraçá-los eu mesmo ou encontrar alguém que pudesse.” A quantos outros homens públicos que citam filósofos a confissão de Fox é verdadeira!
Entretanto, o que o arqui-Whig não pôde apreender, o arqui-Tory pôde. O jovem William Pitt [6] encontrou em Smith a sagacidade necessária para financiar vinte e cinco anos de guerra. Em seu Discurso do Orçamento de 17 de fevereiro de 1792, Pitt observou que uma das causas do aumento da riqueza nacional era “a constante acumulação de capital, quando não obstruída por alguma calamidade pública ou por alguma política equivocada e enganosa. Simples e óbvio como é esse princípio, e sentido e observado como deve ter sido em maior ou menor grau desde tempos anteriores, eu duvido que já tenha sido alguma vez totalmente desenvolvido e suficientemente explicado, exceto por um autor de nosso próprio tempo – agora, infelizmente, não mais (me refiro ao autor do célebre tratado sobre a Riqueza das Nações); seu extenso conhecimento de detalhe e sua profundidade de pesquisa filosófica irão, creio eu, fomentar a melhor solução para toda questão conectada com a história do comércio, e com o sistema de economia política.”
Na América, durante o mesmo período, “A Riqueza das Nações” correu por todos os principais relatórios financeiros de Alexander Hamilton [7]. Alguns dos opositores de Hamilton também beberam do poço de sabedoria econômica de Smith em seus argumentos. Desde essa época, de ambos os lados do Atlântico, aqueles que ocupam os assentos do poder ou falaram em vão sobre Adam Smith, ou utilizaram sua grande obra sem se incomodar em citar a fonte de sua presciência.
Grandes influências algumas vezes vêm de origens pequenas e obscuras. A observação de Smith sobre o declínio da pequena indústria de fabricação de alfinetes em sua vila natal de Kirkcaldy levou-o a refletir sobre a divisão do trabalho, e sua análise sobre a divisão do trabalho tornou-se “A Riqueza das Nações”. Fazendo bem o tipo do professor escocês, Smith foi, ao longo da vida, tão absorvido pelo assunto da divisão do trabalho que, em certa ocasião, ele quase foi exterminado por ela. O London Times, em seu obituário de Smith (que faleceu em 1790), recordou, de maneira um tanto maldosa, um episódio instrutivo desse tipo. Quando Charles Townshend [8], o político, visitou Glasgow, Dr. Smith levou-o para ver um curtume:
Eles estavam em uma prancha que foi passada sobre o poço de curtimento; o Doutor, que falava calorosamente sobre seu assunto favorito, a divisão do trabalho, esquecendo da precariedade do chão em que estava, mergulhou de cabeça na piscina nauseabunda. Ele foi retirado de lá, despido, e carregado em lençóis, e acompanhado a sua casa numa grande carruagem, onde, tendo se recuperado do choque de um inesperado banho gelado, reclamou amargamente que deveria deixar a vida com todos seus assuntos em grande desordem; o que foi considerado uma afetação, pois suas transações eram poucas e sua fortuna era nada.
De fato, Smith sobreviveu a esse desastre; e sua reputação sobreviveu a quedas de impérios. Nem tanto sua Glasgow, ou sua Kirkcaldy. Até recentemente, Glasgow era uma das maiores cidades de pedra do mundo; entretanto, nas últimas décadas, políticas públicas, cuja maneira mais bondosa de chamá-las seria “vazias”, reduziram praticamente toda a parte velha da cidade ao abandono total ou uma horrenda favela – ignorando, acima de tudo, certos princípios expostos em “A Riqueza das Nações”. Quanto a Kirkcaldy, onde o linóleo substituiu o alfinete, um documentário americano sobre a vila foi produzido alguns anos atrás – ou melhor, um filme sobre a vida e a obra de Smith, no qual havia cenas da moderna Kirkcaldy, representada como uma colméia industrial que foi possível graças ao triunfo das idéias econômicas de Smith. Pude conhecer Kirkcaldy muito bem, e a indústria pulsante mostrada no filme é, em grande parte, uma falida operação socialista de Estado; e Kirkcaldy tem uma das maiores taxas de desemprego da Inglaterra; e quase todos os velhos edifícios interessantes associados a Smith e à Kirkcaldy de seu tempo foram deliberadamente demolidos, sendo substituídos pela feiúra ou por lotes cheios de entulho. Um profeta não fica sem honra...
Mas estou divagando. No começo, prometi falar porque Johnson não amava Smith. Uma razão para isso é que Smith não amava Johnson. Em suas “Conferências sobre Retórica”, Smith proclamou: “De todos os escritores antigos e modernos, aquele que mantém a maior distância do senso-comum é o Dr. Samuel Johnson.” Por outro lado, Smith disse a Boswell que “Johnson sabia mais que qualquer homem vivo.” Boswell foi aluno de Smith em Glasgow; certa vez, ele mencionou a Johnson que Smith preferia rimas a versos brancos. “Senhor”, respondeu Johnson, “eu estive uma vez na companhia de Smith, e nós não nos entendemos; mas se soubesse que ele adorava Rima tanto quanto me diz, eu o teria abraçado.” Os dois se encontraram depois por acaso no Clube, em Londres, e aparentemente foram bastante cordatos em suas disputas. Mas Smith revisou o Dicionário de Johnson de maneira hostil, e, por isso, Johnson jamais o perdoou.
Pondo de lado esses detalhes, um abismo estava crescendo mesmo no fim do último quarto do século XVIII entre os homens de intelecto que professavam o dogma cristão e os homens de intelecto que tinham suas dúvidas liberais. Johnson e Burke pertenciam àquele grupo; Smith era o maior admirador de Hume. Como disse Manning [9], toda diferença de opinião é, no fundo, teológica. Smith não era ateu, mas suas admoestações à Igreja, na primeira edição de “A Riqueza das Nações”, inquietaram até seu bom amigo Hugh Blair, o famoso pregador liberal da época, que escreveu a Smith, em abril de 1776: “Mas sobre seu sistema acerca da Igreja não posso concordar inteiramente com você. Independência nunca foi um sistema possível ou praticável. As pequenas facções das quais fala, por muitas razões, unir-se-iam em corpos maiores e trariam grandes danos à sociedade.” Com tais ressalvas, Smith fez adversários formidáveis, Blair lhe disse. Johnson era um deles, sem dúvida; e Burke, mesmo que fosse um enérgico amigo da tolerância religiosa, não era admirador da dissidência e da dissensão.
Finalmente, havia diferenças de temperamento e suposições sociais entre esses três. Burke era muito irlandês, Johnson era muito inglês – e Smith era indubitavelmente escocês. Sua mente era a mente de um Whig escocês, não importa quão urbanamente professoral Smith poderia ser. William Butler Yeats, em seu poema “The Seven Sages”, sugere que Burke, ainda que um Whig por nome e ocupação, detestava profundamente o estado mental e o caráter Whig:
Todos odiavam o espírito Whig; mas o que é
O espírito Whig?
Um nivelador, rancoroso, racional tipo de
Mente
Que nunca olhou com os olhos de um
Santo
Ou com os olhos de um bêbado. [10]
Johnson temia o inferno e venerava os santos; Burke às vezes era zombeteiro quando bebia, e lia “os pais do século XIV”. Smith parece ter sido sempre sóbrio, e não era dado a visões do mundo além do mundo. É um grande caminho de Kirkcaldy para Dublin ou para Litchfield.
Seja como for, Burke e Johnson e Smith, de suas diversas maneiras, descreveram e defenderam aquelas crenças e instituições que mantêm a tensão beneficente de ordem e liberdade. Todos foram pilares do que Burke chamou de “esse mundo de razão, e ordem, e paz, e virtude, e frutífera penitência”; todos sabiam como homens e nações podiam fazer escolhas que os lançavam “no antagonista mundo da loucura, discórdia, vício, confusão, e irremediável sofrimento.” Tais escolhas desvairadas estão sendo feitas dois séculos depois que esses homens viveram e respiraram e existiram. Assim, eu não acho realmente surpreendente que alguns dentre nós, no que cremos será uma era mais de concentração do que de excentricidade, estejam novamente compreendendo Burke e Johnson e Smith.
Russel Kirk, 26 Novembro 2011
Tradução: Felipe Melo
Notas do tradutor:
Parte I
[1] Artigo originalmente publicado na revista Modern Age, edição de verão de 1981.
[2] Antigo partido conservador da Inglaterra.
[3] Antigo partido liberal da Inglaterra.
[4] Tradução livre de um trecho do poema Little Gidding, de T. S. Eliot. No original: “Accept the constitution of silence / And are folded in a single party”.
[5] “O Dunciad”, obra satírica de Alexander Pope (1688 – 1744).
[6] Versos 6 e 7 da Quarta Écloga de Virgílio, na tradução do reverendo Raymond E. Brown (1928 – 1998).
[7] Jean-Baptiste du Val-de-Grâce, Barão de Cloots (1755 – 1794), nobre de origem prussiana e figura de proa da Revolução Francesa. Seu pseudônimo refere-se ao filósofo grego Anacársis e foi retirado da obra “Voyage du jeune Anacharsis en Grèce dans le milieu du IVe siècle” (“Viagem do jovem Anacársis pela Grécia em meados do século IV”, em tradução livre), de Jean-Jacques Barthélemy (1716 — 1795).
[8] O Registro Anual (The Annual Register) é uma obra de referência criada em 1758 por James e Robert Dodsley. Seu objetivo era registrar e analisar anualmente os fatos mais importantes ocorridos no mundo. O primeiro editor do Registro Anual foi Edmund Burke.
[9] O Clube (The Club) foi um grupo de intelectuais organizado em 1764 por Sir Joshua Reynolds (1723 – 1792) e Samuel Johnson (1709 – 1784). O grupo reunia-se semanalmente para jantar e debater assuntos de importância na Inglaterra de então. Edmund Burke foi um dos nove membros fundadores do Clube.
Parte II
[1] William Ralph Inge (1860 – 1954), escritor inglês e sacerdote anglicano, ocupou o posto de Deão da Catedral de St. Paul, em Londres. Também é conhecido como Dean Inge (“Deão Inge”).
[2] Sir James Fitzjames Stephen, 1º Baronete (1829 – 1894), juiz inglês e escritor anti-libertário.
[3] A “Authorized Version” (“Versão Autorizada”, em tradução livre), também conhecida como King James, a Bíblia do Rei James, é a tradução para o inglês da Bíblia Sagrada feita pela Igreja Anglicana no início do século XVII.
[4] O “Livro de Oração Comum” (“Book of Common Prayer”) é o livro de orações pela Igreja Anglicana. Foi editado pela primeira vez em 1549, tendo passado por diversas edições desde então.
[5] Sir Walter Scott, 1º Baronete (1771 – 1832), novelista, poeta e dramaturgo escocês.
[6] Benjamin Disraeli, 1º Conde de Beaconsfield (1804 – 1881), político conservador e escritor inglês. Foi primeiro-ministro da Inglaterra no ano de 1868 e, depois, de 1874 a 1880.
[7] James Boswell, 9º Lorde de Auchinleck (1740 –1795), advogado e escritor escocês. Era amigo de Samuel Johnson, tendo escrito sua biografia em 1791.
[8] Sir Leslie Stephen (1832 –1904), escritor e crítico inglês. Era irmão de Fitzjames Stephen e pai da escritora Virginia Woolf.
[9] Oliver Goldsmith (1730 – 1774), escritor, poeta e médico anglo-irlandês.
[10] John Wilson Croker (1780 – 1857), escritor e político irlandês.
[11] George Birkbeck Norman Hill (1835 - 1903), escritor e editor inglês. É considerado o melhor comentarista da obra de Samuel Johnson.
Parte III
[1] John Adams (1735 – 1826) foi um advogado, diplomata e político americano.
[2] John Marshall (1755 – 1835) foi Chefe de Justiça dos Estados Unidos (presidente da Suprema Corte e chefe do judiciário federal norte-americano) de 1801 a 1835. Sua biografia de George Washington, “Life of Washington”, foi publicada em 5 volumes entre os anos 1804 e 1807.
[3] Robert Burns (1759 – 1796) – também conhecido como Rabbie Burns, o Poeta dos Rústicos e, na Escócia, “O Bardo” – foi um importante poeta escocês.
[4] Charles James Fox (1749 – 1806), conhecido como "O Honorável", foi um importante político Whig.
[5] Charles Butler (1750 – 1832) foi um advogado católico e escritor inglês.
[6] William Pitt (1759 – 1806) foi Primeiro-Ministro da Inglaterra entre 1783 a 1801 e, novamente, de 1804 a 1806. Seu pai foi William Pitt, 1º Conde de Chatham (1708 – 1778), também foi Primeiro-Ministro da Inglaterra (1766 - 1768), motivo pelo qual é chamado de "O Novo".
[7] Alexander Hamilton (1757 – 1804) foi um economista e filósofo político americano. É considerado um dos Founding Fathers ("Pais Fundadores", em tradução livre) dos Estados Unidos.
[8] Charles Townshend (1725 – 1767) foi Ministro da Fazenda do Reino Unido entre 1766 e 1767.
[9] Henry Edward Manning (1808–1892) foi um cardeal inglês da Igreja Católica Apostólica Romana. Ocupou o posto de Arcebispo de Westminster de 1865 a 1892.
[10] Tradução livre. No original:
All hated Whiggery; but what is
Whiggery?
A leveling, rancorous, rational sort of
Mind
That never looked out of the eye of a
Saint
Or out of drunkard’s eye.
Ensaio publicado em 1981 na edição de verão revista Modern Age.
Fonte: http://www.imaginativeconservative.org
DE BAR EM BAR...
Melhor os bares, dizia eu há pouco, me referindo aos museus. Ou restaurantes. Em algum momento de sua obra, Kafka fala de uma utopia, uma casa onde toda pessoa pode entrar e sair na hora em que bem entender. Essa utopia existe desde há muito. São os bares e restaurantes. Em Praga, recentemente, estive não exatamente em uma dessas casas de Kafka, mas na casa de Kafka. Que hoje é um restaurante. Fica em frente àquele relógio astronômico que reúne centenas de turistas a cada hora.
Em 2007, comentei o livro A Invenção do Restaurante, de Rebecca L. Spang, que estuda o fenômeno em suas origens, ou seja, em Paris. Considero os restaurantes um dos mais esplêndidos achados da história humana. Neste livro de Rebecca, descobri que os restaurantes evoluíram das maisons de santé até o que hoje conhecemos por restaurante. A palavra decorre de uma paráfrase de um versículo de Mateus (11:28) "Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei". Lá pelos estertores do século XVIII, um dos primeiros restaurateurs da época pôs na entrada de sua casa esta frase um tanto blasfema: "Accurite ad me omnes qui stomacho laboratis et ego vos restaurabo". Ou seja, corram a mim todos vós cujos estômagos padecem, e eu vos restabelecerei.
O mundo está cheio de comensais que comem sem jamais pretender entender o que comem. Há também os que gostam de saber o que estão comendo. Me situo entre estes últimos e entre minhas leituras prediletas estão os autores que tratam de história da comida. O primeiro livro que li nesta área foi Food in Civilization – How History Has Been Affected by Human Tastes, de Carson I. A. Ritchie. O livro tem uma origem curiosa. Carson havia convidado alguns amigos a jantar em um bom restaurante. Comeram bem e fartamente. Na hora de pagar, Carson pegou a carteira ... e viu que não tinha dinheiro suficiente. Seus amigos o salvaram. "Mas uma vez passado o mau momento, pensei que a história da alimentação em algo se parece a esta anedota: quando chega o momento de pagar o banquete, podemos descobrir que o que desfrutamos custa mais do que estávamos dispostos a pagar quando nos sentamos à mesa". Decidiu então escrever este estudo para que o leitor descubra uma nova interpretação de sua própria história e de suas atitudes frente ao que come.
No ano que vivi em Madri, meu guru era Enrique Sordo, jornalista que escreveu España, entre trago y bocado, minha bíblia naqueles dias. Viajando de região em região do país, o autor vai mostrando suas características físicas e geográficas, a estética de sua paisagem, a psicologia de seus habitantes... e as cozinhas regionais. Não é um guia para jogar-se entre outros mapas de turismo, mas um estudo antropológico e sociológico sobre o modo e estilo de comer de cada povo.
Nos últimos vinte anos – talvez trinta – só tenho viajado para visitar estas casas. Começo com uma cerveja lá pelas 10 ou 11 horas, trato do almoço e vinho lá pelas duas, mais algum aperitivo antes da janta. Adoro uma Leffe numa manhã de inverno ensolarada – oito ou dez graus, digamos – em uma terrasse de um café. Se estou com meus jornais e livros, é minha concepção de paraíso. Claro que nos intervalos visito – ou revisito – as ruas e a arquitetura das cidades. Se a cidade é nova, dedico mais tempo a este esporte. Se já é conhecida, procuro novas casas de Kafka.
Nesta última viagem, em Paris, fiquei no Quartier Latin e o ponto mais distante do Sena ao qual cheguei foi a Mouffetard, que fica a uns vinte minutos de caminhada. Isso de torre Eiffel e Champs Elysées é coisa para turistas.
Mal chego em Paris, vou direto ao Rélais Odéon, no metrô Odéon. Fica em frente ao Danton, outro de meus bebedouros diletos. E ao lado do Procope, tido como o mais antigo restaurante do mundo. E não longe do Aux Charpentiers, refinado restaurante com cuisine du terroir. Só atravesso o Sena para ir ao Zimmer, na Rive Droite. Eventualmente ao Julien, na rue du Faubourg Saint-Denis. Não que seja glutão nem bebum. É que me sinto bem nestes ambientes. Em Paris, hoje, meu território habitável é menor que Dom Pedrito. Copenhague, Praga ou Budapeste, geografias para mim mais ou menos do anecúmeno, exigiram mais caminhadas. Mas em Copenhague, de bom grado, eu não me afastaria muito do Nyhavn, um canal rodeado de cafés e restaurantes. Não vejo muito porque afastar-se dali.
Em Madri, tenho me hospedado perto da Puerta del Sol. Na rua do hotel, há um museu que gosto muito de freqüentar, o Museo del Jamón. É uma cadeia de restaurantes que tem tetos e paredes cobertas de presuntos. A quinze minutos de caminhada, está o magnífico El Oriente, em frente ao Palácio Real. Em seus subterrâneos, há uma solene cave do século XVI, onde às vezes el Rey recebe seus amigos estadistas. Se el Rey não estiver lá, como geralmente não está, você pode comer na sala dele.
Na Plaza Mayor, também ali perto, está o Sobrino de Botín, que disputa com o Procope de Paris o título de mais antigo do mundo. E um pouco mais adiante, para o lado do solene prédio dos Correos, estão El Gijón e El Espejo, dois restaurantes que sempre me impediram de visitar a Biblioteca Nacional. É que ficam no Paseo de Recoletos, a meio caminho da biblioteca. Nunca consegui atravessar aquele passeio.
Descobri, recentemente, que não gosto de cidades onde o melhor da festa está esparramado, como em Berlim ou Londres. Prefiro Paris, Madri, Barcelona ou mesmo Roma, onde o bem-bom está centralizado em uma pequena área. Em Paris, não preciso sair do Quartier Latin para me sentir viajando. Em Madri, tudo fica dentro de um quadrilátero não muito extenso, que vai da Plaza Mayor até Manuela Malasaña, passando pelo Palácio Real e Paseo de Recoletos. O que está fora desse quadrilátero pode até ser interessante, mas não muito. Em Barcelona, me restrinjo ao Barrio Gotico, com eventual escapadela até a Barceloneta. Em Roma, fico entre Piazza Spagna e o Trastevere, com uma pausa em Campo dei Fiori. Em São Paulo, me restrinjo a meu bairro. Claro que Higienópolis está longe de representar São Paulo. Mas me basta. Vez que outra, em atenção a alguma amiga, vou até Pinheiros ou Vila Madalena. E só.
Leitores me pedem les bonnes adresses na Europa. Já tenho falado deles ao longo destas crônicas. Qualquer hora volta ao assunto.
Janer Cristaldo
"A CIA QUER ACABAR COM O SAMBA."
Se vocês quiserem dar boas risadas e ver como funciona o cérebro lavado de uma esquerdofrênica, é só clicar no título da postagem que irá para a página do Ultimo Segundo do IG, onde a velha senhora do Samba desfila toda sua alienação esquerdofrênica. (entrevista abaixo)
Não vou me alongar demais, leiam a matéria e tirem suas conclusões.
Eu já percebí que para ser esquerdiota uma das primeiras atitudes é ser simplesmente...idiota.
Eu jamais gostei dessa senhora como artista, agora não gosto nem como pessoa.
Certo que do alto dos seus 65 anos regados a muitas "branquinhas" os neurônios claramente foram afetados, mas será que só sobraram os neurônios esquerdofrênicos?
Bem, quem tiver tempo e paciência poderá se indignar, ficar com dó, ou apenas rir.
Estaria a decadente cantora senil ou é apenas alienação?
Boa leitura.
O MASCATE
Beth Carvalho: "A CIA quer acabar com o samba"
Cantora lança CD e, em entrevista ao iG, acusa a Agência Central de Inteligência dos EUA.
Beth Carvalho, 65 anos, no hall de entrada de sua casa
Ao abrir o elevador, ainda no hall de entrada do apartamento, um quadro com a foto de Che Guevara. Não há dúvidas. Ali é o andar de Beth Carvalho. Ela surge na sala, amparada por duas muletas, que logo deixa de lado para posar para as fotos. “Nunca vi coisa para cair mais do que muletas. Estas meninas caem toda hora”, diz, bem-humorada.
Ainda se recuperando de uma fissura no sacro (osso do final da coluna), aos 65 anos, Beth anda com dificuldades. Ficou dois anos sem pôr os pés no chão. “Estou ótima, salva! Os médicos comentaram com minha filha que eu poderia não andar mais. Mas não me abati. Foi um processo menos doloroso por perceber a prova de amor dos amigos e da família”, relata.
Após quinze anos, a sambista lança o CD de inéditas “Nosso samba tá na rua”, dedicado a dona Ivone Lara, com canções sobre a negritude, o amor e o feminismo. Uma das letras, “Arrasta a sandália”, é de autoria de sua filha, Luana Carvalho. Cercada de quadros de Cartola e Nelson Cavaquinho, entre almofadas verdes e rosas (cores de sua escola de samba Mangueira), perante uma estante com dezenas de troféus e outra com bonecos de Che, Fidel Castro e orixás, Beth concede a entrevista a seguir ao iG.
No fundo da janela, o mar de São Conrado, bairro vizinho à favela da Rocinha. “A CIA quer acabar com o samba. É uma luta contra a cultura brasileira. Os Estados Unidos querem dominar o mundo através da cultura”, diz a cantora, presidente de honra do PDT. Entre os fartos risos, também não faltaram palavras ríspidas para defender seu ponto de vista.
Baluartes em miniatura: Beth entre Dorival Caymmi, Nelson Cavaquinho, Tom Jobim, Cartola e Luiz Gonzaga
iG: Qual foi a sensação ao voltar a andar?
BETH CARVALHO: A pior da minha vida. Quando pus os pés pela primeira vez no chão, achei que nunca ia andar de novo. Parecia que não tinha mais pernas, sem força muscular. Depois, com a fisioterapia, a recuperação foi rápida. Precisei colocar dois parafusos de 15 cm cada um, só isso me fez voltar a andar. Agora sou interplanetária e biônica (risos).
iG: Em seu novo CD, a letra “Chega” é visivelmente feminista. Por que é raro o samba dar voz a mulheres?
BETH CARVALHO: O mundo, não só o samba, é machista. Melhorou bastante devido à luta das mulheres, mas a cada cinco minutos uma mulher apanha no Brasil. É um absurdo. Parece que está tudo bem, mas não é bem assim. Sempre fui ligada a movimentos libertários.
iG: De que forma o samba é machista?
BETH CARVALHO: A maioria dos sambistas é homem. Depois de mim, Clara Nunes e Alcione, as coisas melhoraram. O samba é machista, mas o papel da mulher é forte. O samba é matriarcal, na medida que dona Vicentina, dona Neuma, dona Zica comandam os bastidores da história. Eu, por exemplo, sou madrinha de muitos homens (risos).
"Não desanimo nunca. Minha esperança é a última que morre"
iG: A senhora é vizinha da favela da Rocinha. Como vê o processo de pacificação?
BETH CARVALHO: Faltou, por muitos anos, a força do estado nestas comunidades. Agora estão fazendo isso de maneira brutal e, de certa forma, necessária. Mas se não tiver o lado social junto, dando a posse de terreno para quem mora lá há tanto tempo, as pessoas vão continuar inseguras. E os morros virarão uma especulação imobiliária.
iG: Alguns culpam o governo Leonel Brizola (1983-1987/1991-1994) pelo fortalecimento do tráfico nos morros. A senhora, que era amiga do ex-governador, concorda?
BETH CARVALHO: Isso é muito injusto. É absurdo (diz em tom áspero). Se tivessem respeitado os Cieps, a atual geração não seria de viciados em crack, mas de pessoas bem informadas. Brizola discutia por que não metem o pé na porta nos condomínios da Avenida Viera Souto (em Ipanema) como metem nos barracos. Ele não podia fazer milagre.
Relíquia: o instrumento que foi de Nelson Cavaquinho
iG: Defende a permanência de Carlos Lupi no Ministério do Trabalho?
BETH CARVALHO: Olha, sou presidente de honra do PDT porque é um título carinhoso que Brizola me deu, mas não sou filiada ao PDT. Não tenho uma opinião formada sobre isso, porque não sei detalhes. Existe uma grande rigidez a partidos de esquerda. Fizeram isso com o PC do B do Orlando Silva, e agora fazem com o PDT. O que conheço do Lupi é uma pessoa muito correta. Eles deveriam ser menos perseguidos pela mídia.
iG: Aqui na sua casa há várias imagens de Che Guevara e de Fidel Castro. Acredita no modelo socialista?
BETH CARVALHO: Eu só acredito no modelo socialista, é o único que pode salvar a humanidade. Não tem outro (fala de forma enfática). Cuba diz ‘me deixem em paz’. Os Estados Unidos, com o bloqueio econômico, fazem sacanagem com um país pobre que só tem cana de açúcar e tabaco.
iG: Mas e a falta de liberdade de expressão em Cuba?
BETH CARVALHO: Eu não me sinto com liberdade de expressão no Brasil.
iG: Por quê?
BETH CARVALHO: Porque existe uma ditadura civil no Brasil. Você não pode falar mal de muita coisa.
iG: Como quais?
BETH CARVALHO: Não falo. Tem uma mídia aí que acaba com você. Existe uma censura. Não tem quase nenhum programa de TV ao vivo que nos permita ir lá falar o que pensamos. São todos gravados. Você não sabe que vai sair o que você falou, tudo tem edição. A censura está no ar.
iG: Mas em países como Cuba a censura é institucionalizada, não?
BETH CARVALHO: Não existe isso que você está falando, para começo de conversa. Cuba não precisa ter mais que um partido. É um partido contra todo o imperialismo dos Estados Unidos. Aqui a gente está acostumada a ter vários partidos e acha que isso é democracia.
"Só acredito no modelo socialista, é o único que pode salvar a humanidade"
iG: Este não seria um pensamento ultrapassado?
BETH CARVALHO: Meu Deus do céu! Estados Unidos têm ódio mortal da derrota para oito homens, incluindo Fidel e Che, que expulsaram os americanos usando apenas o idealismo cubano. Os americanos dormem e acordam pensando o dia inteiro em como acabar com Cuba. É muito difícil ter outro Fidel, outro Brizola, outro Lula. A cada cem anos você tem um Pixinguinha, um Cartola, um Vinicius de Moraes... A mesma coisa na liderança política. Não é questão de ditadura, é dificuldade de encontrar outro melhor para ocupar o cargo. É difícil encontrar outro Hugo Chávez.
iG: Chávez é acusado por muitos de ter acabado com a democracia na Venezuela.
BETH CARVALHO: Acabou com o quê? Com o quê? (indaga com voz alta)
iG: Com a democracia...
BETH CARVALHO: Chávez é um grande líder, é uma maravilha aquele homem. Ele acabou com a exploração dos Estados Unidos. Onde tem petróleo estão os Estados Unidos. Chávez acabou com o analfabetismo na Venezuela, que é o foco dos Estados Unidos porque surgiu um líder eleito pelo povo. Houve uma tentativa de golpe dos americanos apoiada por uma rede de TV.
iG: A emissora que fazia oposição ao governo e que foi tirada do ar por Chávez...
BETH CARVALHO: Não tirou do ar (fala em tom áspero). Não deu mais a concessão. É diferente. Aqui no Brasil o governo pode fazer a mesma coisa, televisão aberta é concessão pública. Por que vou dar concessão a quem deu um golpe sujo em mim? Tem todo direito de não dar.
iG: A senhora defende que o governo brasileiro deveria cassar TV que faz oposição?
BETH CARVALHO: Acho que se estiver devendo, deve cassar sim. Tem que ser o bonzinho eternamente? Isso não é liberdade de expressão, é falta de respeito com o presidente da República. Quem cassava direitos era a ditadura militar, é de direito não dar concessão. Isso eu apoio.
Che e Fidel "enfeitam" a estante da casa da sambista
iG: Por ser oriundo dos morros, o samba foi conivente com o poder paralelo dos traficantes?
BETH CARVALHO: Não, o samba teve prejuízo enorme. Hoje dificilmente se consegue senhoras para a ala das baianas nas escolas de samba. Elas estão nas igrejas evangélicas, proibidas de sambar. Não se vê mais garoto com tamborim na mão, vê com fuzil. O samba perdeu espaço para o funk.
iG: Quem é o culpado?
BETH CARVALHO: Isso tem tudo a ver com a CIA (Agência Central de Inteligência dos EUA), que quer acabar com o samba. É uma luta contra a cultura brasileira. Os Estados Unidos querem dominar o mundo através da cultura. Estas armas dos morros vêm de onde? Vem tudo de fora. Os Estados Unidos colocam armas aqui dentro para acabar com a cultura dos morros, nos fazendo achar que é paranoia da esquerda. Mas não é, não.
iG: O samba vai resistir a esta “guerra” que a senhora diz existir?
BETH CARVALHO: Samba é resistência. Meu disco é uma resistência, não deixa de ser uma passeata: “Nosso samba tá na rua”.
Não vou me alongar demais, leiam a matéria e tirem suas conclusões.
Eu já percebí que para ser esquerdiota uma das primeiras atitudes é ser simplesmente...idiota.
Eu jamais gostei dessa senhora como artista, agora não gosto nem como pessoa.
Certo que do alto dos seus 65 anos regados a muitas "branquinhas" os neurônios claramente foram afetados, mas será que só sobraram os neurônios esquerdofrênicos?
Bem, quem tiver tempo e paciência poderá se indignar, ficar com dó, ou apenas rir.
Estaria a decadente cantora senil ou é apenas alienação?
Boa leitura.
O MASCATE
Beth Carvalho: "A CIA quer acabar com o samba"
Cantora lança CD e, em entrevista ao iG, acusa a Agência Central de Inteligência dos EUA.
Beth Carvalho, 65 anos, no hall de entrada de sua casa
Ao abrir o elevador, ainda no hall de entrada do apartamento, um quadro com a foto de Che Guevara. Não há dúvidas. Ali é o andar de Beth Carvalho. Ela surge na sala, amparada por duas muletas, que logo deixa de lado para posar para as fotos. “Nunca vi coisa para cair mais do que muletas. Estas meninas caem toda hora”, diz, bem-humorada.
Ainda se recuperando de uma fissura no sacro (osso do final da coluna), aos 65 anos, Beth anda com dificuldades. Ficou dois anos sem pôr os pés no chão. “Estou ótima, salva! Os médicos comentaram com minha filha que eu poderia não andar mais. Mas não me abati. Foi um processo menos doloroso por perceber a prova de amor dos amigos e da família”, relata.
Após quinze anos, a sambista lança o CD de inéditas “Nosso samba tá na rua”, dedicado a dona Ivone Lara, com canções sobre a negritude, o amor e o feminismo. Uma das letras, “Arrasta a sandália”, é de autoria de sua filha, Luana Carvalho. Cercada de quadros de Cartola e Nelson Cavaquinho, entre almofadas verdes e rosas (cores de sua escola de samba Mangueira), perante uma estante com dezenas de troféus e outra com bonecos de Che, Fidel Castro e orixás, Beth concede a entrevista a seguir ao iG.
No fundo da janela, o mar de São Conrado, bairro vizinho à favela da Rocinha. “A CIA quer acabar com o samba. É uma luta contra a cultura brasileira. Os Estados Unidos querem dominar o mundo através da cultura”, diz a cantora, presidente de honra do PDT. Entre os fartos risos, também não faltaram palavras ríspidas para defender seu ponto de vista.
Baluartes em miniatura: Beth entre Dorival Caymmi, Nelson Cavaquinho, Tom Jobim, Cartola e Luiz Gonzaga
iG: Qual foi a sensação ao voltar a andar?
BETH CARVALHO: A pior da minha vida. Quando pus os pés pela primeira vez no chão, achei que nunca ia andar de novo. Parecia que não tinha mais pernas, sem força muscular. Depois, com a fisioterapia, a recuperação foi rápida. Precisei colocar dois parafusos de 15 cm cada um, só isso me fez voltar a andar. Agora sou interplanetária e biônica (risos).
iG: Em seu novo CD, a letra “Chega” é visivelmente feminista. Por que é raro o samba dar voz a mulheres?
BETH CARVALHO: O mundo, não só o samba, é machista. Melhorou bastante devido à luta das mulheres, mas a cada cinco minutos uma mulher apanha no Brasil. É um absurdo. Parece que está tudo bem, mas não é bem assim. Sempre fui ligada a movimentos libertários.
iG: De que forma o samba é machista?
BETH CARVALHO: A maioria dos sambistas é homem. Depois de mim, Clara Nunes e Alcione, as coisas melhoraram. O samba é machista, mas o papel da mulher é forte. O samba é matriarcal, na medida que dona Vicentina, dona Neuma, dona Zica comandam os bastidores da história. Eu, por exemplo, sou madrinha de muitos homens (risos).
"Não desanimo nunca. Minha esperança é a última que morre"
iG: A senhora é vizinha da favela da Rocinha. Como vê o processo de pacificação?
BETH CARVALHO: Faltou, por muitos anos, a força do estado nestas comunidades. Agora estão fazendo isso de maneira brutal e, de certa forma, necessária. Mas se não tiver o lado social junto, dando a posse de terreno para quem mora lá há tanto tempo, as pessoas vão continuar inseguras. E os morros virarão uma especulação imobiliária.
iG: Alguns culpam o governo Leonel Brizola (1983-1987/1991-1994) pelo fortalecimento do tráfico nos morros. A senhora, que era amiga do ex-governador, concorda?
BETH CARVALHO: Isso é muito injusto. É absurdo (diz em tom áspero). Se tivessem respeitado os Cieps, a atual geração não seria de viciados em crack, mas de pessoas bem informadas. Brizola discutia por que não metem o pé na porta nos condomínios da Avenida Viera Souto (em Ipanema) como metem nos barracos. Ele não podia fazer milagre.
Relíquia: o instrumento que foi de Nelson Cavaquinho
iG: Defende a permanência de Carlos Lupi no Ministério do Trabalho?
BETH CARVALHO: Olha, sou presidente de honra do PDT porque é um título carinhoso que Brizola me deu, mas não sou filiada ao PDT. Não tenho uma opinião formada sobre isso, porque não sei detalhes. Existe uma grande rigidez a partidos de esquerda. Fizeram isso com o PC do B do Orlando Silva, e agora fazem com o PDT. O que conheço do Lupi é uma pessoa muito correta. Eles deveriam ser menos perseguidos pela mídia.
iG: Aqui na sua casa há várias imagens de Che Guevara e de Fidel Castro. Acredita no modelo socialista?
BETH CARVALHO: Eu só acredito no modelo socialista, é o único que pode salvar a humanidade. Não tem outro (fala de forma enfática). Cuba diz ‘me deixem em paz’. Os Estados Unidos, com o bloqueio econômico, fazem sacanagem com um país pobre que só tem cana de açúcar e tabaco.
iG: Mas e a falta de liberdade de expressão em Cuba?
BETH CARVALHO: Eu não me sinto com liberdade de expressão no Brasil.
iG: Por quê?
BETH CARVALHO: Porque existe uma ditadura civil no Brasil. Você não pode falar mal de muita coisa.
iG: Como quais?
BETH CARVALHO: Não falo. Tem uma mídia aí que acaba com você. Existe uma censura. Não tem quase nenhum programa de TV ao vivo que nos permita ir lá falar o que pensamos. São todos gravados. Você não sabe que vai sair o que você falou, tudo tem edição. A censura está no ar.
iG: Mas em países como Cuba a censura é institucionalizada, não?
BETH CARVALHO: Não existe isso que você está falando, para começo de conversa. Cuba não precisa ter mais que um partido. É um partido contra todo o imperialismo dos Estados Unidos. Aqui a gente está acostumada a ter vários partidos e acha que isso é democracia.
"Só acredito no modelo socialista, é o único que pode salvar a humanidade"
iG: Este não seria um pensamento ultrapassado?
BETH CARVALHO: Meu Deus do céu! Estados Unidos têm ódio mortal da derrota para oito homens, incluindo Fidel e Che, que expulsaram os americanos usando apenas o idealismo cubano. Os americanos dormem e acordam pensando o dia inteiro em como acabar com Cuba. É muito difícil ter outro Fidel, outro Brizola, outro Lula. A cada cem anos você tem um Pixinguinha, um Cartola, um Vinicius de Moraes... A mesma coisa na liderança política. Não é questão de ditadura, é dificuldade de encontrar outro melhor para ocupar o cargo. É difícil encontrar outro Hugo Chávez.
iG: Chávez é acusado por muitos de ter acabado com a democracia na Venezuela.
BETH CARVALHO: Acabou com o quê? Com o quê? (indaga com voz alta)
iG: Com a democracia...
BETH CARVALHO: Chávez é um grande líder, é uma maravilha aquele homem. Ele acabou com a exploração dos Estados Unidos. Onde tem petróleo estão os Estados Unidos. Chávez acabou com o analfabetismo na Venezuela, que é o foco dos Estados Unidos porque surgiu um líder eleito pelo povo. Houve uma tentativa de golpe dos americanos apoiada por uma rede de TV.
iG: A emissora que fazia oposição ao governo e que foi tirada do ar por Chávez...
BETH CARVALHO: Não tirou do ar (fala em tom áspero). Não deu mais a concessão. É diferente. Aqui no Brasil o governo pode fazer a mesma coisa, televisão aberta é concessão pública. Por que vou dar concessão a quem deu um golpe sujo em mim? Tem todo direito de não dar.
iG: A senhora defende que o governo brasileiro deveria cassar TV que faz oposição?
BETH CARVALHO: Acho que se estiver devendo, deve cassar sim. Tem que ser o bonzinho eternamente? Isso não é liberdade de expressão, é falta de respeito com o presidente da República. Quem cassava direitos era a ditadura militar, é de direito não dar concessão. Isso eu apoio.
Che e Fidel "enfeitam" a estante da casa da sambista
iG: Por ser oriundo dos morros, o samba foi conivente com o poder paralelo dos traficantes?
BETH CARVALHO: Não, o samba teve prejuízo enorme. Hoje dificilmente se consegue senhoras para a ala das baianas nas escolas de samba. Elas estão nas igrejas evangélicas, proibidas de sambar. Não se vê mais garoto com tamborim na mão, vê com fuzil. O samba perdeu espaço para o funk.
iG: Quem é o culpado?
BETH CARVALHO: Isso tem tudo a ver com a CIA (Agência Central de Inteligência dos EUA), que quer acabar com o samba. É uma luta contra a cultura brasileira. Os Estados Unidos querem dominar o mundo através da cultura. Estas armas dos morros vêm de onde? Vem tudo de fora. Os Estados Unidos colocam armas aqui dentro para acabar com a cultura dos morros, nos fazendo achar que é paranoia da esquerda. Mas não é, não.
iG: O samba vai resistir a esta “guerra” que a senhora diz existir?
BETH CARVALHO: Samba é resistência. Meu disco é uma resistência, não deixa de ser uma passeata: “Nosso samba tá na rua”.
FALA SÉRIO, DELÚBIO! ESPETÁCULO MIDIÁTICO FOI O MENSALÃO DO PT
O famoso e antigo tesoureiro do PT, Delúbio Soares, afirmou que o julgamento do processo do mensalão será "o maior espetáculo midiático do Brasil". Como assim, Delúbio? Nada foi mais espetaculoso do que a descoberta do Mensalão projetado e executado pelo PT para favorecer o seu governo, garantindo maioria no Congresso Nacional, fato que veio à tona em 2005, quando o ex-deputado Roberto Jefferson revelou o esquema. A surpresa foi muito grande, uma vez que ninguém esperava que aquela dinheirama toda era oriunda de 'recursos não contabilizados', nova nomenclatura para 'Caixa Dois' lançada pelos petistas quando flagrados praticando aquele 'malfeito'. Parte da imprensa deu bastante ênfase ao Mensalão do PSDB de Minas Gerais, que realmente existiu, porém de valor muito pequeno diante do que havia sido lançado pelo PT, além do fato de que os tucanos nunca apregoaram nenhuma santidade na política.
Dentro de pouco tempo (parece) o Supremo Tribunal Federal (STF) vai julgar cerca de 40 participantes do esquema do Mensalão do PT indiciados por vários crimes, sendo o principal deles formação de quadrilha, segundo parecer do relator tendo como chefe o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu. O esquema do Mensalão está de certo modo desativado. Agora, o esquema é outro.
Desde o segundo mandato de Lula, a distribuição de 'recursos não contabilizados' para garantir maioria no Congresso é diferente. Os partidos da ''base aliada' comandam ministérios promovendo desvios de verbas beneficiando partidos e líderes partidários à custas de dinheiro proveninete de impostos, usado para isso diretorias regionais de órgãos de ministérios, e, como agora foi denunciado como prática no Ministério do Trabalho, através das ONGs conveniadas para execução de programas fantasmas ou até mesmos falsos. O Mensalão foi denunciado por Roberto Jefferson. Os casos mais recentes correm por conta de denúncias publicas pela imprensa, em especial pelas revistas semanais;
Diante de tudo isso, não há razão para Delúbio afirmar que o julgamento do processo do mensalão será "o maior espetáculo midiático do Brasil". O espetáculo, vê-se agora, já vem acontecendo há cerca de nove anos. Resta saber ser o povo está ciente disso e se ainda vai continuar elegendo quem só pensa em avançar no dinheiro público, investindo milhões desses desvios para se reelegerem e continuarem 'metendo a mão' no dinheiro desse mesmo povo que os elege. O difícil, pelas suas últimas decisões, é acreditar que o Supremo vá condenar essa gente.
Airton Leitão, 26 de novembro de 2011
Dentro de pouco tempo (parece) o Supremo Tribunal Federal (STF) vai julgar cerca de 40 participantes do esquema do Mensalão do PT indiciados por vários crimes, sendo o principal deles formação de quadrilha, segundo parecer do relator tendo como chefe o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu. O esquema do Mensalão está de certo modo desativado. Agora, o esquema é outro.
Desde o segundo mandato de Lula, a distribuição de 'recursos não contabilizados' para garantir maioria no Congresso é diferente. Os partidos da ''base aliada' comandam ministérios promovendo desvios de verbas beneficiando partidos e líderes partidários à custas de dinheiro proveninete de impostos, usado para isso diretorias regionais de órgãos de ministérios, e, como agora foi denunciado como prática no Ministério do Trabalho, através das ONGs conveniadas para execução de programas fantasmas ou até mesmos falsos. O Mensalão foi denunciado por Roberto Jefferson. Os casos mais recentes correm por conta de denúncias publicas pela imprensa, em especial pelas revistas semanais;
Diante de tudo isso, não há razão para Delúbio afirmar que o julgamento do processo do mensalão será "o maior espetáculo midiático do Brasil". O espetáculo, vê-se agora, já vem acontecendo há cerca de nove anos. Resta saber ser o povo está ciente disso e se ainda vai continuar elegendo quem só pensa em avançar no dinheiro público, investindo milhões desses desvios para se reelegerem e continuarem 'metendo a mão' no dinheiro desse mesmo povo que os elege. O difícil, pelas suas últimas decisões, é acreditar que o Supremo vá condenar essa gente.
Airton Leitão, 26 de novembro de 2011
NOTAS POLÍTICAS
SEM DEFESA
Contundente pronunciamento fez ontem o senador Alvaro Dias, da tribuna. Relacionou episodios de corrupçao na Esplanada dos Ministerios, com enfase para Trabalho e as Cidades. Não poupou o palacio do Planalto, sustentando a inexistencia de faxina no governo, mas “conivencia, complacencia e cumplicidade”.
0 singular é que, mesmo presentes, líideres do governo como Romero Juca e Renan Calheiros nem se tocaram. Preferiram referir-se as grandes mudanças economico-sociais verificadas no pais. A bancada do PT, então, alem de ficar calada, fez que nao ouviu nada …
***
MAIS DOIS ESTADOS?
Dia 11 o eleitorado do Para decidirá, em plebiscito, se o Estado será dividido em tres, criando-se os estados do Tapajós e de Carajas.
A propaganda é grande, dos dois lados, mas não deixa de ser maldade transformar o Pará em Parazinho, pois ficaria com menos de um terço de seu territ6rio atual, apesar de manter a maior populaçao. 0 problema, na verdade, é que os dois novos estados, se criados, iriam indicar tres senadores cada um, mais dois Tribunais de Contas, duas Assembleias Legislativas, dois Tribunais de Justiça e duas novas capitais.
A pergunta que se faz é se o Pará dispõe de recursos para tanto, ou se, como em oportunidades anteriores, as despesas correrão por conta da Uniao …
***
VIOLÊNCIA
Nao tem tamanho a onda de violência que assola o pais. A cada dia toma-se conhecimento de crimes os mais barbaros, atingindo crianças, familias e inocentes de todo tipo.
Conversavam a respeito diversos deputados e senadores, no cafezinho do Congresso, alguns ate defendendo a pena de morte e a prisao perpetua para autores de crimes hediondos. Ia passando o senador Demóstenes Torres, de larga tradiçao no Ministerio Publico de Goias, que deu solução mais 1ógica e menos traumatica: basta que os condenados a’ pena máxima prevista em nossa legislaçao, de trinta anos, cumpram integralmente suas sentenças, sem direito a qualquer beneficio…
Carlos Chagas
Contundente pronunciamento fez ontem o senador Alvaro Dias, da tribuna. Relacionou episodios de corrupçao na Esplanada dos Ministerios, com enfase para Trabalho e as Cidades. Não poupou o palacio do Planalto, sustentando a inexistencia de faxina no governo, mas “conivencia, complacencia e cumplicidade”.
0 singular é que, mesmo presentes, líideres do governo como Romero Juca e Renan Calheiros nem se tocaram. Preferiram referir-se as grandes mudanças economico-sociais verificadas no pais. A bancada do PT, então, alem de ficar calada, fez que nao ouviu nada …
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MAIS DOIS ESTADOS?
Dia 11 o eleitorado do Para decidirá, em plebiscito, se o Estado será dividido em tres, criando-se os estados do Tapajós e de Carajas.
A propaganda é grande, dos dois lados, mas não deixa de ser maldade transformar o Pará em Parazinho, pois ficaria com menos de um terço de seu territ6rio atual, apesar de manter a maior populaçao. 0 problema, na verdade, é que os dois novos estados, se criados, iriam indicar tres senadores cada um, mais dois Tribunais de Contas, duas Assembleias Legislativas, dois Tribunais de Justiça e duas novas capitais.
A pergunta que se faz é se o Pará dispõe de recursos para tanto, ou se, como em oportunidades anteriores, as despesas correrão por conta da Uniao …
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VIOLÊNCIA
Nao tem tamanho a onda de violência que assola o pais. A cada dia toma-se conhecimento de crimes os mais barbaros, atingindo crianças, familias e inocentes de todo tipo.
Conversavam a respeito diversos deputados e senadores, no cafezinho do Congresso, alguns ate defendendo a pena de morte e a prisao perpetua para autores de crimes hediondos. Ia passando o senador Demóstenes Torres, de larga tradiçao no Ministerio Publico de Goias, que deu solução mais 1ógica e menos traumatica: basta que os condenados a’ pena máxima prevista em nossa legislaçao, de trinta anos, cumpram integralmente suas sentenças, sem direito a qualquer beneficio…
Carlos Chagas
CORREGEDORIA INVESTIGA JUÍZES POR ENRIQUECIMENTO ILÍCITO
A suspeita ou boatos sobre venda de sentenças, há muito tempo, faz parte das conversas entre aqueles que militam na área jurídica, sem que houvesse nenhuma denúncia formalizada judicialmente. Entretanto, recentemente, a Corregedoria Nacional de Justiça, principal órgão de fiscalização do Poder Judiciário, ligado ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ), passou a investigar o crescimento do patrimônio de 62 juízes suspeitos de enriquecimento ilícito.
Esse trabalho é feito com a colaboração da Polícia Federal, da Receita Federal, do Banco Central e do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), que monitora movimentações financeiras atípicas.
Os levantamentos sobre venda de sentenças têm sido conduzidos em sigilo e envolvem também parentes dos juízes e pessoas que podem ter atuado como laranjas para disfarçar a real extensão do patrimônio dos magistrados sob suspeita.
Associações de juízes acusaram o CNJ de abusar dos seus poderes e recorreram ao Supremo Tribunal Federal para impor limites à sua atuação. O Supremo ainda não decidiu a questão. A corregedoria começou a analisar o patrimônio dos juízes sob suspeita em 2009, quando o ministro Gilson Dipp era o corregedor, e aprofundou a iniciativa após a chegada da ministra Eliana Calmon ao posto, há um ano.
Será que o Supremo terá a ousadia de reduzir os poderes do Conselho Nacional de Justiça?
Paulo Peres
Esse trabalho é feito com a colaboração da Polícia Federal, da Receita Federal, do Banco Central e do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), que monitora movimentações financeiras atípicas.
Os levantamentos sobre venda de sentenças têm sido conduzidos em sigilo e envolvem também parentes dos juízes e pessoas que podem ter atuado como laranjas para disfarçar a real extensão do patrimônio dos magistrados sob suspeita.
Associações de juízes acusaram o CNJ de abusar dos seus poderes e recorreram ao Supremo Tribunal Federal para impor limites à sua atuação. O Supremo ainda não decidiu a questão. A corregedoria começou a analisar o patrimônio dos juízes sob suspeita em 2009, quando o ministro Gilson Dipp era o corregedor, e aprofundou a iniciativa após a chegada da ministra Eliana Calmon ao posto, há um ano.
Será que o Supremo terá a ousadia de reduzir os poderes do Conselho Nacional de Justiça?
Paulo Peres
POR QUE BOLSONARO NÃO PODE DIZER O QUE PENSA?
Arre égua! Virou paranóia entre a tropa de bajuladores de Dilma. Julgam que a presidente é intocável. Jamais pode ser criticada. Francamente. É a torpe democracia de alguns petistas, como este deputado Paulo Teixeira e a senadora Marta Suplicy.
Tudo porque o deputado Jair Bolsonaro achou por bem criticar Dilma, a propósito do que o parlamentar carioca chama de “kit gay”. Ora, porque tanto pavor das fortes, firmes e claras declarações de Bolsonaro? Marta e Teixeira deveriam procurar algo de mais útil para fazer, e não fincar a bandeira da hipocrisia, da intimidação e da burrice, contra Bolsonaro, alegando que vão pedir a cassação do mandato dele.
Marta e Teixeira não são mais parlamentares do que Bolsonaro. Todos eles têm o direito e o dever de se manifestar como acharem conveniente. É estranho por que alguns beócios têm tanto pavor das palavras de Bolsonaro. Querem é aparecer.
Vicente Limongi Netto
REFLEXÕES SOBRE QUEM FOI OU NÃO FOI TORTURADO NA DITADURA MILITAR
Desculpem, mas não vejo de forma negativa o depoimento da jornalista Mírian Macedo, que confessou ter mentido ao declarar ter sofrido tortura no regime militar. Mesmo que quisesse, ela não poderia desqualificar os que foram verdadeiramente torturados.
Todos sabemos que houve muita tortura no período ditatorial. Mas existem torturados e “torturados”. Eu, aqui nesse Blog, já coloquei em dúvida a tortura sofrida pela nossa presidente Dilma Rousseff. Por que assim fiz? Porque o que se dizia e ela não desmentia é que passara três anos sendo torturada.
Eu argumento que ninguém aguenta 24 horas de tortura. E prosseguia perguntando: Como Dilma saiu da prisão toda “tranquila e serelepe sem nenhuma sequela”?
Na campanha presidencial, foi entrevistada pelo Datena. Ao ser perguntada se era verdade que passara três anos sendo torturada respondeu: “Três anos não, três meses”. Depois, em outra entrevista, disse que foram três semanas de tortura.
Seu marido, que fora deputado no Rio Grande do Sul, falando ao SBT disse: “Dilma entrou na prisão inteira e saiu inteira”.
Então, companheiros, cada caso é um caso. Torturas houve e muita. É só ver o caso do sargento Raimundo, no Rio Grande do Sul. Morreu sendo torturado e depois jogado no Rio Guaíba. Não entregou ninguém. Os torturadores foram identificados. E a punição qual foi? Ninguém sabe.
Antonio Santos Aquino
Todos sabemos que houve muita tortura no período ditatorial. Mas existem torturados e “torturados”. Eu, aqui nesse Blog, já coloquei em dúvida a tortura sofrida pela nossa presidente Dilma Rousseff. Por que assim fiz? Porque o que se dizia e ela não desmentia é que passara três anos sendo torturada.
Eu argumento que ninguém aguenta 24 horas de tortura. E prosseguia perguntando: Como Dilma saiu da prisão toda “tranquila e serelepe sem nenhuma sequela”?
Na campanha presidencial, foi entrevistada pelo Datena. Ao ser perguntada se era verdade que passara três anos sendo torturada respondeu: “Três anos não, três meses”. Depois, em outra entrevista, disse que foram três semanas de tortura.
Seu marido, que fora deputado no Rio Grande do Sul, falando ao SBT disse: “Dilma entrou na prisão inteira e saiu inteira”.
Então, companheiros, cada caso é um caso. Torturas houve e muita. É só ver o caso do sargento Raimundo, no Rio Grande do Sul. Morreu sendo torturado e depois jogado no Rio Guaíba. Não entregou ninguém. Os torturadores foram identificados. E a punição qual foi? Ninguém sabe.
Antonio Santos Aquino
UM PREFEITO IRRESPONSÁVEL
Eduardo Paes é um prefeito tão irresponsável que faz o carioca sentir saudades de Cesar Maia.
É impressionante o que está acontecendo no Rio de Janeiro. Temos um prefeito insano, com evidentes distúrbios mentais, e não aparece um psiquiatra para tratá-lo, ninguém chama uma ambulância, nada, nada. E assim Eduardo Paes continua despachando normalmente na sede da Prefeitura, assinando papéis, dando ordens e tudo o mais.
Enquanto Nero se divertia incendiando Roma, Eduardo Paes procura prazeres diferentes. Excita-se com a possibilidade de derrubar o gigantesco Viaduto da Perimetral, erguido há décadas pelo grande prefeito Marco Tamoio para desafogar o trânsito no Centro da cidade. No lugar do elevado, Paes está incentivando a construção de uma gigantesca via subterrânea, que, em sua santa ignorância, ele chama de “túnel”, ora vejam só.
Como foi criado e mora na Barra da Tijuca, o prefeito nem conhece direito o Rio de Janeiro. Nas últimas semanas, mandou fazer obras na zona portuária e criou um engarrafamento permanente na estratégica entrada do Centro do Rio, de enlouquecer qualquer motorista. Com a demolição do elevado, o trânsito ficará permanentemente engarrafado até Caxias ou Nova Iguaçu, no mínimo. Mas Paes não está nem aí, vai imitar Nero e tocar cavaquinho no farol da Barra.
Em entrevista à rádio CBN, ele pediu desculpas à população pelos transtornos causados pelas obras de revitalização do porto e também por outras frentes de trabalho, como a construção dos corredores expressos de ônibus Transoeste e Transcarioca. Para justificar engarrafamentos desnecessários, Paes voltou a usar a expressão de que “para fazer uma omelete, tem que se quebrar os ovos”. Quanta originalidade…
Suas soluções são geniais. Onde existe um elevado, passará a existir a via subterrânea que ele chama de “túnel”. O elevado será demolido pela Prefeitura, que não tem nem noção de quanto vai gastar. Mas o criativo Eduardo Paes já encontrou solução: “O valor ainda está sendo orçado, mas acredito que a despesa possa ser amortizada com a venda do concreto e do aço que sobrarem do desmonte”. Caramba, ele deveria ser nomeado para o Ministério da Fazenda, pois daria solução imediata para qualquer financiamento de obra.
Diante desse quadro, fica comprovado que se trata de um débil mental. A única solução para os cariocas seria retirá-lo da Prefeitura, na próxima eleição de outubro. Mas será muito difícil isso acontecer, porque o tresloucado prefeito tem apoio total do governador Sergio Cabral, da presidente Dilma Rousseff e de toda a base aliada. Fenando Gabeira já desistiu de enfrentá-lo nas urnas, Cesar Maia, também, os dois já anunciaram que serão candidatos a vereador.
Sinceramente, jamais pensei que fosse sentir saudade de Cesar Maia na Prefeitura do Rio. Foi ele quem inventou Eduardo Paes e o colocou na política, ao nomeá-lo administrador da Barra da Tijuca. O resultado aí está. A grande diferença entre os dois é que Cesar Maia assume que é maluco, entra em açougue para comprar sorvete e usa agasalho no alto verão, enquanto Eduardo Paes finge que é sadio e faz loucuras muito piores.
Carlos Newton
É impressionante o que está acontecendo no Rio de Janeiro. Temos um prefeito insano, com evidentes distúrbios mentais, e não aparece um psiquiatra para tratá-lo, ninguém chama uma ambulância, nada, nada. E assim Eduardo Paes continua despachando normalmente na sede da Prefeitura, assinando papéis, dando ordens e tudo o mais.
Enquanto Nero se divertia incendiando Roma, Eduardo Paes procura prazeres diferentes. Excita-se com a possibilidade de derrubar o gigantesco Viaduto da Perimetral, erguido há décadas pelo grande prefeito Marco Tamoio para desafogar o trânsito no Centro da cidade. No lugar do elevado, Paes está incentivando a construção de uma gigantesca via subterrânea, que, em sua santa ignorância, ele chama de “túnel”, ora vejam só.
Como foi criado e mora na Barra da Tijuca, o prefeito nem conhece direito o Rio de Janeiro. Nas últimas semanas, mandou fazer obras na zona portuária e criou um engarrafamento permanente na estratégica entrada do Centro do Rio, de enlouquecer qualquer motorista. Com a demolição do elevado, o trânsito ficará permanentemente engarrafado até Caxias ou Nova Iguaçu, no mínimo. Mas Paes não está nem aí, vai imitar Nero e tocar cavaquinho no farol da Barra.
Em entrevista à rádio CBN, ele pediu desculpas à população pelos transtornos causados pelas obras de revitalização do porto e também por outras frentes de trabalho, como a construção dos corredores expressos de ônibus Transoeste e Transcarioca. Para justificar engarrafamentos desnecessários, Paes voltou a usar a expressão de que “para fazer uma omelete, tem que se quebrar os ovos”. Quanta originalidade…
Suas soluções são geniais. Onde existe um elevado, passará a existir a via subterrânea que ele chama de “túnel”. O elevado será demolido pela Prefeitura, que não tem nem noção de quanto vai gastar. Mas o criativo Eduardo Paes já encontrou solução: “O valor ainda está sendo orçado, mas acredito que a despesa possa ser amortizada com a venda do concreto e do aço que sobrarem do desmonte”. Caramba, ele deveria ser nomeado para o Ministério da Fazenda, pois daria solução imediata para qualquer financiamento de obra.
Diante desse quadro, fica comprovado que se trata de um débil mental. A única solução para os cariocas seria retirá-lo da Prefeitura, na próxima eleição de outubro. Mas será muito difícil isso acontecer, porque o tresloucado prefeito tem apoio total do governador Sergio Cabral, da presidente Dilma Rousseff e de toda a base aliada. Fenando Gabeira já desistiu de enfrentá-lo nas urnas, Cesar Maia, também, os dois já anunciaram que serão candidatos a vereador.
Sinceramente, jamais pensei que fosse sentir saudade de Cesar Maia na Prefeitura do Rio. Foi ele quem inventou Eduardo Paes e o colocou na política, ao nomeá-lo administrador da Barra da Tijuca. O resultado aí está. A grande diferença entre os dois é que Cesar Maia assume que é maluco, entra em açougue para comprar sorvete e usa agasalho no alto verão, enquanto Eduardo Paes finge que é sadio e faz loucuras muito piores.
Carlos Newton
RELATÓRIO SIGILOSO DA DEFESA COMPROVA SUCATEAMENTO DO SETOR MILITAR NO PAÍS
Documento sigiloso produzido pelos comandos militares sobre a situação da defesa nacional repassado ao Palácio do Planalto nos últimos dias mostra um sucateamento dos equipamentos das três Forças. Segundo os militares, os dados esvaziam as pretensões brasileiras de obter uma cadeira permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas, além de inibir a participação do País em missões especiais da ONU.
De acordo com a planilha obtida pelo Estado, a Marinha, que em março mantinha em operação apenas dois de seus 23 jatos A-4, não tem hoje condições de fazer decolar um avião sequer do porta-aviões São Paulo. Com boa parte do material nas mãos de mecânicos, a situação da Marinha se distancia do discurso oficial, cuja missão seria zelar pela área do pré-sal, apelidada de Amazônia Azul.
Segundo o balanço, que mostrou uma piora em relação ao último levantamento, realizado em março, a situação da flotilha também não é confortável. Apenas metade dos navios chamados de guerra está em operação. Das 100 embarcações, incluídas corvetas, fragatas e patrulhas, apenas 53 estão navegando. Dos cinco submarinos, apenas dois ainda operam.
Das viaturas sobre lagartas (com esteiras), como as usadas pelos Fuzileiros Navais para subir os morros do Rio de Janeiro, apenas 28 das 74 estão em operação. O Ministério da Defesa mantém os dados sob sigilo.
A presidente Dilma Rousseff já foi informada das dificuldade que as Forças estão enfrentando e a expectativa, pelo menos da Aeronáutica, é de que a partir do ano que vem o governo retome as discussões em relação à compra dos novos 36 caças brasileiros já que os atuais deixam de voar em 2014.
Queixas
Já afinado com a caserna, o ministro da Defesa, Celso Amorim, que está há apenas três meses no cargo, queixou-se dos baixos investimentos do Brasil no setor e pediu apoio dos parlamentares para a modernização das Forças Armadas.
Segundo ele, proporcionalmente ao Produto Interno Bruto (PIB), o Brasil é um dos países que menos investem em defesa entre os integrantes dos BRICS, grupo que integra Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. O orçamento atual da defesa no País representa 1,39% do PIB, enquanto a Índia investe nesta área 2,8% de seu PIB, e a China, 2,2%.
Na Força Aérea Brasileira (FAB), a situação não é diferente. Dos 219 caças que a Força dispõe, há apenas 72 em operação, o que corresponde a 32%. Em março, eram 85 caças em funcionamento.
Dos 81 helicópteros que a Aeronáutica possui, apenas 22 estão voando, o que corresponde a 27% do total. Em março, eram 27 helicópteros em operação. No caso dos aviões de transporte de tropa, dos 174 que a FAB possui, 67 estão em operação, ou seja, 38%. Em março, 100 aviões deste tipo estavam voando. Aviões de instrução e treinamento caíram de 74 para 49 em funcionamento.
Reforço.
Nos bastidores, os militares reclamam e pedem reforço orçamentário. Apontam que quase 90% dos aviões da FAB têm mais de 15 anos de uso, enquanto numa força operacional o recomendável é que, no máximo 50% das aeronaves podem ter mais do que 10 anos de uso. As nove baterias antiaéreas do País estão fora de uso.
O Exército também enfrenta problemas com seus helicópteros. Dos 78 que possui, exatamente a metade está parada. Em relação aos blindados, 40% deles estão parados. A Força terrestre apresenta apenas um número grandioso: 5.318 viaturas sobre rodas. No entanto, essas são na maior parte carros oficiais para transporte de oficiais de alta patente, jipe e caminhões ultrapassados.
A situação é tão precária que todas as 23 aeronaves a jato da Marinha estão nas oficinas da Embraer. Mas só 12 sairão de lá para missões. As outras 11 serão "canibalizadas" para fornecer peças para aos "sobreviventes".
Tânia Monteiro
BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo
De acordo com a planilha obtida pelo Estado, a Marinha, que em março mantinha em operação apenas dois de seus 23 jatos A-4, não tem hoje condições de fazer decolar um avião sequer do porta-aviões São Paulo. Com boa parte do material nas mãos de mecânicos, a situação da Marinha se distancia do discurso oficial, cuja missão seria zelar pela área do pré-sal, apelidada de Amazônia Azul.
Segundo o balanço, que mostrou uma piora em relação ao último levantamento, realizado em março, a situação da flotilha também não é confortável. Apenas metade dos navios chamados de guerra está em operação. Das 100 embarcações, incluídas corvetas, fragatas e patrulhas, apenas 53 estão navegando. Dos cinco submarinos, apenas dois ainda operam.
Das viaturas sobre lagartas (com esteiras), como as usadas pelos Fuzileiros Navais para subir os morros do Rio de Janeiro, apenas 28 das 74 estão em operação. O Ministério da Defesa mantém os dados sob sigilo.
A presidente Dilma Rousseff já foi informada das dificuldade que as Forças estão enfrentando e a expectativa, pelo menos da Aeronáutica, é de que a partir do ano que vem o governo retome as discussões em relação à compra dos novos 36 caças brasileiros já que os atuais deixam de voar em 2014.
Queixas
Já afinado com a caserna, o ministro da Defesa, Celso Amorim, que está há apenas três meses no cargo, queixou-se dos baixos investimentos do Brasil no setor e pediu apoio dos parlamentares para a modernização das Forças Armadas.
Segundo ele, proporcionalmente ao Produto Interno Bruto (PIB), o Brasil é um dos países que menos investem em defesa entre os integrantes dos BRICS, grupo que integra Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. O orçamento atual da defesa no País representa 1,39% do PIB, enquanto a Índia investe nesta área 2,8% de seu PIB, e a China, 2,2%.
Na Força Aérea Brasileira (FAB), a situação não é diferente. Dos 219 caças que a Força dispõe, há apenas 72 em operação, o que corresponde a 32%. Em março, eram 85 caças em funcionamento.
Dos 81 helicópteros que a Aeronáutica possui, apenas 22 estão voando, o que corresponde a 27% do total. Em março, eram 27 helicópteros em operação. No caso dos aviões de transporte de tropa, dos 174 que a FAB possui, 67 estão em operação, ou seja, 38%. Em março, 100 aviões deste tipo estavam voando. Aviões de instrução e treinamento caíram de 74 para 49 em funcionamento.
Reforço.
Nos bastidores, os militares reclamam e pedem reforço orçamentário. Apontam que quase 90% dos aviões da FAB têm mais de 15 anos de uso, enquanto numa força operacional o recomendável é que, no máximo 50% das aeronaves podem ter mais do que 10 anos de uso. As nove baterias antiaéreas do País estão fora de uso.
O Exército também enfrenta problemas com seus helicópteros. Dos 78 que possui, exatamente a metade está parada. Em relação aos blindados, 40% deles estão parados. A Força terrestre apresenta apenas um número grandioso: 5.318 viaturas sobre rodas. No entanto, essas são na maior parte carros oficiais para transporte de oficiais de alta patente, jipe e caminhões ultrapassados.
A situação é tão precária que todas as 23 aeronaves a jato da Marinha estão nas oficinas da Embraer. Mas só 12 sairão de lá para missões. As outras 11 serão "canibalizadas" para fornecer peças para aos "sobreviventes".
Tânia Monteiro
BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo
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