Existe uma ONG na capital paulista chamada Rede Nossa São Paulo. Tem o apoio de um sem-número de entidades e empresas, mas está, como a esmagadora maioria de entidades não governamentais, sob o controle do PT. Seu chefão é Oded Grajew, ex-assessor especial de Lula.
Os cadernos de cidades e, com frequência, as TVs comem pela mão dessa ONG. Ela cria a pauta e fornece os dados. Repórteres, com frequência, nem mesmo perguntam por quê. Uma das especialidades da turma é produzir números, estatísticas. Confere-se, assim, aparência de seriedade mesmo à mais descarada pilantragem. Qual foi a última dos valentes?
A Nossa São Paulo encomendou ao Ibope, “no fim do ano passado” — não se informa em que data — uma pesquisa sobre a segurança pública na capital. Atenção! Em meio a uma crise no setor, que foi magnificada pelo terrorismo político e, sim, jornalístico, a tal ONG financia uma pesquisa… O resultado foi divulgado ontem. Virou reportagem do Jornal da Globo, com direito a entrevista de Grajew, e no Estadão desta sexta.
O resultado, é evidente, não poderia ser pior. Lê-se no jornal (em vermelho):
“Feita com 1.512 pessoas no fim do ano passado, aponta a segurança pública entre as maiores preocupações. O porcentual dos que acham a cidade insegura subiu de 89%, em 2011, para 91%, em 2012. De 1 a 10, a nota média dada ao quesito foi a menor desde o início da medição, em 2009 – caiu de 3,9 em 2011, para 3. O motivo mais citado foi a ‘violência em geral’. Depois, ‘assaltos’ e ‘medo de sair à noite’. Para 60%, tanto a Polícia Militar quanto a Civil não são confiáveis. Entre os órgãos avaliados, só a Câmara Municipal, com 69% de reprovação, e o Tribunal de Contas do Município (64%), tiveram resultado pior. Mesmo parte da PM, o Corpo de Bombeiros é confiável para 88%.”
O petista Oded fala ao Estadão. Reproduzo:
“A população tem medo da polícia. Não sabe de que lado o policial está e sente falta da presença do Estado e de qualidade nos equipamentos e serviços públicos”.
O petista Oded fala ao Jornal da Globo. Reproduzo:
“As pessoas têm medo de viver na cidade de São Paulo, elas não confiam no poder público. Então, a polícia que deveria proteger o cidadão, que deveria oferecer segurança, não é confiável para a grande maioria da população”.
O petista Oded tinha um objetivo ao fazer a pesquisa num período como aquele: atacar a polícia e a política de segurança pública de São Paulo, estado governado pelo PSDB. Como se pode notar, o texto é o mesmo. Já é parte da campanha eleitoral de 2014.
O fato
São Paulo é a capital com o menor número de homicídios por 100 mil habitantes do país, segundo o Mapa da Violência. Os dados do ano passado ainda foram fechados. Se não continuar na mesma posição, certamente estará ali, disputando a rabeira. A taxa de homicídios na cidade corresponde a quase um terço da do país.
Bastam, no entanto, algumas ocorrências que causem comoção — ou uma onda de ações de caráter terrorista, como, de fato, aconteceu no ano passado — para que dispare o alarme do medo. É uma reação humana e compreensível. A questão é saber o que se faz com ela. Os vigaristas logo pensam em extrair dividendos políticos.
Ora, depois de uns dois ou três meses de notícias diárias na TV sobre mau atendimento no SUS, faça-se uma pesquisa para saber o que pensa o brasileiro sobre o sistema… Até aquele que foi eventualmente bem atendido vai considerá-lo uma porcaria. O estado de São Paulo e sua capital estão, pode parecer incrível, entre as áreas mais seguras do país, em que se mata quase o triplo. Setores da imprensa e o petismo, operando em conjunto, conseguiram vender a imagem do caos.
Prestem atenção!
Na mesma página em que o Estadão publicou os dados da pesquisa, há um outro texto. Reproduzo-o em vermelho, com alguns destaques:
O prefeito Fernando Haddad (PT) quer usar o “bico oficial” da Polícia Militar, a Operação Delegada, para aumentar a segurança da cidade à noite. “Não temos ostensivamente o policiamento noturno como temos o diurno. Uma das providências que tomaremos é usar o contingente dos policiais contratados para atuar à noite, que é quando a cidade se torna mais violenta”, disse, ao sair do evento da Rede Nossa São Paulo, no centro da capital.
Ele promete colocar tanto a Operação Delegada quanto a Guarda Civil Metropolitana (GCM) à disposição do Estado, responsável pela segurança, para auxiliar no combate à violência. “Você não tem o acolhimento da população em equipamentos públicos e isso gera violência”, disse Haddad. “Mas não é só isso. É também a falta de um policiamento mais ostensivo.“
A vice-prefeita Nádia Campeão (PCdoB) afirma que a administração municipal pretende dar sugestões sobre a segurança pública ao governo do Estado. “Claro que a PM é responsabilidade do governo de São Paulo, mas nada impede que a Prefeitura dê sua opinião, diga como a cidade tem visto a ação da PM, que tipo de ação nós gostaríamos de ter, como a gente poderia colaborar nesse sentido.”
De acordo com Nádia, está entre as prioridades da Prefeitura ter uma GCM de perfil mais comunitário. “Vamos reorientar a guarda no sentido de um trabalho mais preventivo do que propriamente uma guarda que seja mais uma ameaça”, disse.
Ela e o prefeito prometeram mais diálogo e transparência na gestão. Haddad afirma que a população tem hoje a percepção de que há “uma negociata por trás de toda obra pública”.
Voltei
Vejam que notável coincidência! Quem estava na ONG Nossa São Paulo no dia em que se divulgaram os dados da pesquisa? Haddad! Poucos atentarão para a estupidez embutida em sua fala. Ele se mostra inconformado com o fato de que não se faça à noite o policiamento ostensivo que se faz durante o dia… Santo Deus! No mundo inteiro, há mais policiais nas ruas à luz do sol porque há também… mais gente na rua.
Haddad finge não saber o que quer dizer “policiamento ostensivo”. É aquele em que a força de segurança se mostra presente, se exibe mesmo, para desestimular eventuais ações delinquentes. Como a esmagadora maioria das pessoas costuma dormir à noite (eu não, mas não saio por aí barbarizando…), é evidente que o policiamento diminui.
Para fazer policiamento ostensivo à noite, como ele sugere, há uma de duas saídas: ou se aumenta brutalmente o efetivo ou se diminui a presença de policiais nas ruas durante o dia. Caso se opte por esse caminho, os bandidos logo perceberão que se abriram janelas de oportunidades.
Com mais gente na rua e menos policiais, a canalha pode mudar o turno de serviço. Fica evidente o ânimo de Haddad e de sua vice: atacar a polícia e o governo de São Paulo, ainda que a seu modo: aquela coisa aparentemente suave, docinha, típica do Estilo Coxinha.
Para encerrar: quanto à suspeita de que, atrás de uma obra pública, há sempre uma negociata, Haddad deve saber do que fala. A cadeia aguarda alguns figurões de seu partido.
18 de janeiro de 2013