"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 22 de julho de 2012

TUCANOS À BEIRA DA EXTINÇÃO, ALERTA IBAMA


Tucanos à beira da extinção, alerta Ibama
Embora estejam cheios de amor pra dar, os tucanos não conseguem se reproduzir em cativeiro.


MATA ATLÂNTICA – A revoada de vereadores e deputados do ninho do PSDB, assim como os ataques de predadores kassabistas, ameaçam os tucanos de extinção. O grave alerta foi divulgado na manhã de hoje em Brasília pelo Ibama, instituto que monitora as espécies ameaçadas nos biomas brasileiros. Segundo o Ibama, os tucanos estariam sendo vítimas, ainda, de uma doença crônica das matas tropicias, o govenismus cronicus.

“O tucano era uma ave comum no cerrado e já foi até considerado uma praga no Planalto Central”, disse o ambientalista Paulo Nogueira Neto, presidente emérito do WWF. “Hoje em dia, é possível passar um dia inteiro no Congresso sem encontrar um único espécime sequer.”

A WWF também decidiu reclassificar o status da ave após o anúncio de que Walter Feldman, um dos fundadores do PSDB, está deixando o ninho. “Se até os tucanos históricos estão debandando, em breve não sobrará um único exemplar sequer para contar a história se não fizermos nada”, afirmou Marina Silva.

As medidas para salvar os tucanos da extinção dividem os especialistas. Um espécime de Minas foi apontado como capaz de garantir a perpetuação da espécie, mas estava bêbado demais para se reproduzir. Um espécime paulista de hábitos noturnos foi cogitado para liderar os poucos tucanos que restam, mas um exame mais detido revelou que se tratava de uma coruja.
Foi proposta a criação de um corredor ecológico entre Brasília e São Paulo para a reprodução das aves. Empreiteiras já discutem nos bastidores quem vai ganhar a licitação para a obra.

Diante da ameaça, o cineasta Carlos Saldanha já trabalha no roteiro de uma sequência para a animação Rio. No novo filme da série, um tucano exilado em Nova York é trazido de volta ao Brasil para se reproduzir e salvar a espécie.


22 de julho de 2012
The i-Piaui Herald

CRÔNICA

Colheita nos EUA”


Esta é uma história verídica, contada pela própria. Certo dia, uma mulher bem-vestida parou em frente de um homem sem-teto, que olhou para cima lentamente.

E reparou que a mulher parecia acostumada com as coisas boas da vida. O casaco era novo. Parecia que ela nunca tinha perdido uma refeição em sua vida. Seu primeiro pensamento foi: “Só quer tirar sarro de mim, como tantos outros fizeram.”

“Por favor, Deixe-me sozinho!”, resmungou o homem. Para sua surpresa, a mulher continuou de pé. Ela estava sorrindo, seus dentes brancos exibidos em linhas deslumbrantes.
“Você está com fome?”, perguntou ela. “Não”, respondeu sarcasticamente. “Acabei de voltar do jantar com o presidente. Agora vá embora.” O sorriso da mulher se tornou ainda mais amplo.
De repente, o homem sentiu uma mão suave debaixo do braço. “O que você está fazendo, senhora?”, perguntou o homem irritado. “Disse para deixar-me sozinho!” Neste momento um policial chegou. “Existe algum problema, senhora?”, perguntou ele. “Não tem problema aqui, policial – a mulher disse – eu só estou tentando ajudá-lo a ficar de pé. Pode me ajudar?” O policial coçou a cabeça. “Sim, o velho João é um estorvo por aqui há anos”. “O que você quer com ele?”, perguntou o policial. “Vê o restaurante ali? – ela disse – Eu vou dar-lhe algo para comer e tirá-lo do frio por um tempo.” “Senhora, está louca?” O homem sem-teto resistiu. “Eu não quero ir para lá!” Então sentiu mãos fortes segurando os braços e levantá-lo. “Deixe-me ir, eu não fiz nada, oficial …”
“Não vê, esta é uma boa oportunidade para você”, o oficial sussurrou em seu ouvido. Finalmente, e com alguma dificuldade, a mulher e o oficial levam João para o restaurante e o sentam a uma mesa em um canto do refeitório.

Era quase quinze horas, a maioria das pessoas já tinha comido o almoço e para jantar o grupo ainda não tinha chegado …. O gerente do restaurante veio a eles e perguntou. “O que está acontecendo aqui, oficial? O que é isso? E este homem está em apuros?” “Esta senhora trouxe-o aqui para comer alguma coisa”, respondeu o oficial.
“Oh! não, não aqui!” – o gerente respondeu com raiva – ter uma pessoa como essa aqui é ruim para os negócios!”
O velho João sorriu com poucos dentes. “Senhora, eu lhe disse. Agora, você vai me deixar ir? Eu não queria vir aqui desde o início.” A mulher virou-se para o gerente da lanchonete e sorriu. “O senhor está familiarizado com Harris & Associates, empresa que fica a duas ruas daqui? “Claro que eu sei”, respondeu o gerente impaciente. “Eles fazem as suas reuniões semanais aqui e jantam no meu restaurante”.
“E você ganha um bom dinheiro fornecendo alimentos para essas reuniões semanais?”, perguntou a Sra.
“E o que importa para você?”, respondeu o gerente impaciente.
“Eu, senhor, sou Penélope Hernandez Harris, presidente e proprietária da empresa. ” — disse ela.
“Oh desculpe!” — disse o gerente. A mulher sorriu de novo.”Eu pensei que isso poderia fazer a diferença no tratamento”, ela disse ao policial, que se esforçou para conter uma risada. “Gostaria de fazer-nos companhia numa xícara de café ou talvez uma refeição, policial?” “Não, obrigado, senhora”, respondeu ”Estou de plantão”.
“Então, talvez, uma xícara de café antes de ir?” — disse ela. “Sim, senhora. Isso seria melhor.” — respondeu o policial. O gerente do restaurante virou nos calcanhares como se recebesse uma ordem.
“Vou trazer o café para o policial imediatamente, Senhora”
O policial observou-a, de pé. E falou: “Certamente colocou-se no lugar”, disse ele.
“Essa não foi minha intenção” – disse a Sra. – Acredite ou não, eu tenho uma boa razão para tudo isso. “
Ela se sentou à mesa em frente ao seu convidado para jantar. Ela olhou para ele … “João, você se lembra de mim?”
O velho João olhou no rosto dela, com seus olhos remelentos: “Eu acho que sim – quero dizer, acho que é familiar.” “Olha, João, talvez eu seja um pouco maior, mas olha-me bem, – disse a Sra. – talvez eu esteja mais gordinha agora … mas quando você trabalhava aqui há muitos anos atrás eu vim uma vez, e por esta mesma porta entrei, morrendo de fome e frio.” — Algumas lágrimas caíam por suas bochechas.
“Senhora? – disse o policial – que não podia acreditar no que estava presenciando, mesmo pensando como uma mulher como aquela poderia ter passado fome. “Eu tinha acabado de me formar na faculdade em minha cidade natal” – disse a mulher – “e vim para a cidade à procura de um emprego, mas não consegui encontrar nada…” Com a voz quebrantada, a mulher continuou: “Quando eu tinha meus últimos centavos e entreguei meu apartamento, andava pelas ruas, sem ter onde morar, e foi em Janeiro, estava frio e, quase morrendo de fome, quando vi este lugar e entrei, pensando numa pequena chance para conseguir algo para comer”. Com lágrimas nos olhos, a mulher continuou falando: “João me recebeu com um sorriso”.
“Agora eu me lembro”, disse João. “Eu estava atrás do balcão de serviço. Ela se aproximou e perguntou se poderia trabalhar para comer alguma coisa.”
“Você me disse que era contra a política da empresa.” – A mulher continuou – “Então, você me fez o maior sanduíche de rosbife que já vi … deu-me uma xícara de café, e fui para um canto para apreciar a minha refeição. Eu estava com medo que você se metesse em encrencas. Então eu olhei e vi você colocar o valor dos alimentos no caixa. Eu sabia que tudo ficaria bem. Encontrei um trabalho naquela mesma tarde. Eu trabalhei muito duro, e eu subi com a ajuda de Deus Pai. Tempos depois eu comecei meu próprio negócio, com a ajuda d’Ele’, prosperei..” Ela abriu sua bolsa e tirou um cartão. “Quando terminar aqui, eu quero que você faça uma visita ao Sr. Martinez. Ele é o diretor de pessoal da minha empresa e vai encontrar algo para você fazer nela.”
Ela sorriu. “Eu vou até adiantar-lhe algo, o suficiente para que você possa comprar algumas roupas e arrumar um lugar para viver até se recuperar. Se você precisar de alguma coisa, minha porta está sempre aberta para você, João.” Havia lágrimas nos olhos do idoso. “Como eu posso agradecer-lhe”, ele perguntou. “Não me agradeça” – ela respondeu. “Deus me trouxe até você.”
Fora do restaurante, o policial e a mulher pararam e antes de ir embora ela disse: “Obrigada por toda sua ajuda!”. Em vez disso, o oficial disse: “Obrigado eu, que vi um milagre hoje, algo que eu nunca vou esquecer’’. E…. E obrigado pelo café”.

Quando jogamos pão sobre as águas, você nunca sabe quando ele será devolvido para você.
Como lembrou outro dia um nosso colega comentarista mas, invertendo o sinal do significado bíblico:
A Semeadura é Opcional mas, a Colheita é Obrigatória


22 de julho de 2012
Magu

ESQUERDAS ANALFABETIZAM UNIVERSIDADE


Após terminar Direito e Filosofia, comecei a trabalhar em jornal e passei duas décadas afastado da universidade brasileira. Digo da brasileira, porque nesse período tive quatro anos na Université Sorbonne Nouvelle, em Paris. Da qual também mantive distância. Nesses quatro anos, tive apenas 16 horas de aula, das quais apenas quatro foram muito úteis. Em verdade, nunca pensei em fazer doutorado. Queria apenas curtir Paris. Se a condição para uma bolsa era defender uma tese, tudo bem. Foi o que fiz. Só então fiquei sabendo que um doutorado servia para lecionar.

Em 81, a Folha da Manhã fechou as portas. A Caldas Júnior estava à beira da falência. Eu, que enviava uma crônica diária para Porto Alegre, fiquei pendurado no pincel. Às margens do Sena, mas desempregado. Meu orientador ofereceu-me mais um ano de pesquisa, mas recusei. Estava longe de minha mulher – que tivera de retomar seu trabalho após dois anos comigo em Paris – e com vontade de voltar. Acabei mudando de mala e cuia para Florianópolis, onde passei a lecionar literatura na UFSC, como professor visitante. Foi meu retorno à universidade.

Fiquei perplexo. Boa parte de minhas aluninhas, em final de curso – de Letras – não tinha noções mínimas de vernáculo. A meu ver, não podiam sequer ter entrado na universidade. (Digo aluninhas, pois os varões eram raros). Certa vez, ao reprovar uma negrinha em último ano de curso, tive de ouvir choro e ranger de dentes. “Racismo, professor, racismo. Eu nunca tirei zero nesta universidade”.

Então é porque teus professores não lêem tuas provas – respondi. Chamei-a ao estrado. E mostrei a ela o colar de zeros que havia distribuído a mais doze alunas brancas. Não fossem elas, provavelmente seria processado por racismo.

Mais tarde, reprovei a sobrinha de um deputado. Foi, a meu ver, o gesto que me fez ser ejetado da universidade. Não sabia que a festa de formatura da moça seria a festa do ano da cidade, e que 300 convites já haviam sido enviados. Se soubesse, com mais prazer a teria zerado. Resumindo: ao voltar à universidade, nos anos 90, descobri que tivera melhor formação no ginásio Nossa Senhora do Patrocínio, em Dom Pedrito, no início dos 60. Em trinta anos, o ensino universitário havia decaído irremediavelmente.

Leio recente pesquisa segundo a qual apenas 35% das pessoas com ensino médio completo podem ser consideradas plenamente alfabetizadas e 38% dos brasileiros com formação superior têm nível insuficiente em leitura e escrita. É o que apontam os resultados do Indicador do Alfabetismo Funcional (Inaf) 2011-2012, pesquisa produzida pelo Instituto Paulo Montenegro (IPM) e a organização não governamental Ação Educativa.

Ou seja, mais de um terço dos universitários são analfabetos funcionais. O que não me espanta. Isto eu já havia constatado na universidade, há mais de vinte anos. Segundo outra pesquisa também recente, Lula está em primeiro lugar em votação do programa televisivo “O Maior Brasileiro de Todos os Tempos”. Quando um analfabeto é considerado o maior brasileiro de todos os tempos, isto significa que para os brasileiros ser culto é o que menos importa. O que importa é ter sucesso.

A História é uma eterna luta entre alfabetizados e analfabetos, dizia Nestor de Hollanda, de saudosa memória. Em seu livro A Ignorância ao Alcance de Todos, o autor defendia a tese de que os analfabetos estavam avançando inexoravelmente em todas as áreas. Dito e feito. Agora tomaram os campi de assalto. Por obra dos legisladores nacionais, um analfabeto de pai e mãe já pode ostentar em seu currículo um diploma de curso superior. A reprovação, único instrumento eficaz de controle da qualidade de ensino, virou coisa do passado. Se no secundário está se tornando proibida, nos cursos superiores é cada vez mais rara e mesmo inexistente.

Conta-me um amigo, professor de universidade privada, que não pode reprovar nem mesmo alunos que jamais assistiram a suas aulas. O ensino virou um teatro, onde o aluno finge que aprende e o professor finge que ensina - disto está consciente todo professor que costuma olhar-se no espelho antes de entrar em sala de aula. Mas, segundo Hollanda, havia alguma esperança. Alguns alfabetizados já haviam se infiltrado nos quartéis.

Em recente postagem no Facebook, Anselmo Heidrich retomou uma entrevista de Veja, de novembro de 2008, que explica em boa parte a decadência do ensino nacional. Segundo a antropóloga Eunice Durham, professora da USP e ex-secretária de política educacional do Ministério da Educação (MEC) no governo Fernando Henrique, a responsabilidade desta catástrofe deve ser atribuída aos cursos de pedagogia.

- As faculdades de pedagogia formam professores incapazes de fazer o básico, entrar na sala de aula e ensinar a matéria. Mais grave ainda, muitos desses profissionais revelam limitações elementares: não conseguem escrever sem cometer erros de ortografia simples nem expor conceitos científicos de média complexidade. Chegam aos cursos de pedagogia com deficiências pedestres e saem de lá sem ter se livrado delas. Minha pesquisa aponta as causas. A primeira, sem dúvida, é a mentalidade da universidade, que supervaloriza a teoria e menospreza a prática. Segundo essa corrente acadêmica em vigor, o trabalho concreto em sala de aula é inferior a reflexões supostamente mais nobres.

Não por acaso, só fui reprovado uma vez em minha vida em meus cursos universitários. Foi na Filosofia da UFRGS – então URGS – na cadeira de pedagogia. A faculdade só oferecia licenciatura e os alunos foram obrigados a assistir às aulas das pedagogas. Masturbação acadêmica total. As professoras, que não tinham conteúdo nenhum a oferecer, abominavam as aulas expositivas e se compraziam a ensinar ridículas técnicas de ensino, em geral de extração ianque. Me opus violentamente ao embuste e fui solenemente reprovado. Devo ter sido o primeiro – e talvez o único – acadêmico a ser reprovado naquele curso.

Tive de repetir a cadeira. A situação era tão tensa que, ao encontrar-me com a professora, eu e ela éramos acometidos de taquicardia. “Professora – sugeri – acho melhor aprovar-me logo, esta situação faz mal para nós dois”. Ela concordou comigo. Fiz, no ano seguinte, uma formatura individual.

O problema ocorre basicamente nas tais de ciências humanas. Cursos que, a meu ver, se fossem extintos seria uma benção para o país. Prossegue a professora Durham:

- Há dois fenômenos distintos nas instituições públicas. O primeiro é o dos cursos de pós-graduação nas áreas de ciências exatas, que, embora ainda atrás daqueles oferecidos em países desenvolvidos, estão sendo capazes de fazer o que é esperado deles: absorver novos conhecimentos, conseguir aplicá-los e contribuir para sua evolução. Nessas áreas, começa a surgir uma relação mais estreita entre as universidades e o mercado de trabalho. Algo que, segundo já foi suficientemente mensurado, é necessário ao avanço de qualquer país. A outra realidade da universidade pública a que me refiro é a das ciências humanas. Área que hoje, no Brasil, está prejudicada pela ideologia e pelo excesso de críticas vazias. Nada disso contribui para elevar o nível da pesquisa acadêmica.

Tampouco por acaso, o rebotalho da História – os velhos marxistas – até hoje dominam “as Humana”, como se dizia – e escrevia, juro – na UFSC. Foram “as Humana” da USP que difundiram o marxismo no ensino universitário brasileiro, em detrimento de conhecimentos banais – mas fundamentais - como o bom manejo do vernáculo.

A repórter pergunta o que, exatamente, se ensina aos futuros professores. Responde Durham:

- Fiz uma análise detalhada das diretrizes oficiais para os cursos de pedagogia. Ali é possível constatar, com números, o que já se observa na prática. Entre catorze artigos, catorze parágrafos e 38 incisos, apenas dois itens se referem ao trabalho do professor em sala de aula. Esse parece um assunto secundário, menos relevante do que a ideologia atrasada que domina as faculdades de pedagogia.
- Como essa ideologia se manifesta?
- Por exemplo, na bibliografia adotada nesses cursos, circunscrita a autores da esquerda pedagógica. Eles confundem pensamento crítico com falar mal do governo ou do capitalismo. Não passam de manuais com uma visão simplificada, e por vezes preconceituosa, do mundo.

O mesmo tom aparece nos programas dos cursos, que eu ajudo a analisar no Conselho Nacional de Educação. Perdi as contas de quantas vezes estive diante da palavra dialética, que, não há dúvida, a maioria das pessoas inclui sem saber do que se trata. Em vez de aprenderem a dar aula, os aspirantes a professor são expostos a uma coleção de jargões. Tudo precisa ser democrático, participativo, dialógico e, naturalmente, decidido em assembléia.

Se hoje um terço dos universitários são analfabetos funcionais, não é preciso ir muito longe para saber quem os analfabetizou. O pior é que a peste, apesar da queda do muro de Berlim e do desmoronamento da União Soviética, não dá sinais de arrefecer neste país que aspira a pertencer ao Primeiro Mundo, mas ainda vive a reboque da História.


22 de julho de 2012
janer cristaldo

A PROPÓSITO DA POLÍTICA ECONÔMICA DE ROBERTO CAMPOS E DELFIM NETO NO REGIME MILITAR

 

A bem da verdade, no início do regime militar Roberto Campos e sua equipe conseguiram frear a inflação, não obstante terem dando um arrocho tremendo tanto nos trabalhadores como nos empresários.

Primeiro: o Estado estava quebrado. A desorganização das contas públicas, principalmente em função da construção de Brasília e do programa de metas 50 anos em 5, continuava trazendo seus reflexos. O Estado, desde Getúlio Vargas, era o indutor do desenvolvimento do país e estava com o caixa zerado.

Segundo. As opções não eram muitas, mas sem dúvida os trabalhadores pagaram a conta maior, uma vez que o salário só podia ser reajustado uma vez por ano e para os rentistas criaram a correção monetária, mensal.

Terceiro. De 1965 à 1969, as indústrias também tiveram um dos maiores arrochos conhecidos desde que se intensificou a industrialização após 1930. No entanto, esta estratégia recuperou a capacidade de investimento do Estado e acabou beneficiando o parque industrial brasileiro como um todo.

Podemos frisar, sim, que a recuperação dos investimentos por parte do Estado foi conseguida em sua maior parte com a transferência de renda dos trabalhadores, que, se por um lado tiveram aumentados os postos de trabalho, muito se deve justamente à sua “contribuição”, e que o Estado soube administrar, não transferindo essa renda para o bolso das bases aliadas, passando de 12 para 38 Ministérios, como nos tempos atuais.

Apenas nos últimos anos começou a recuperação dos salários mais baixos, mas à custa dos salários mais altos, até de aposentados, pois desta vez quem não faz o dever de casa são os governantes, que tiram de todas faixas salariais via imposto de renda mas não investem, usando essa extraordinária receita apenas para manter o inchaço da máquina pública e as contas particulares dos seus aliados.

Extorquem da população 38% do PIB ou 1,7 trilhões em impostos, e têm a cara de pau de regatear 50 bilhões em investimentos. Não mal comparando, em 1984 entregávamos para o governo 20% do PIB. Esta é a realidade dos números.

Martim Berto Fuchs

PENSAMENTO DO DIA

Livre pensar é só pensar (Millôr Fernandes)


UMA ELEIÇÃO DE CADA VEZ

 

A eleição em Belo Horizonte virou atração nacional, adquiriu um tom político muito forte, é vista como sinalização para a distribuição de forças que deverá ocorrer em 2014 e poderá definir o alinhamento ou não do PSB em relação aos dois principais polos: o PT e o PSB.

Resta saber o que a eleição poderá trazer para Belo Horizonte. Os problemas da cidade não são poucos e, certamente, preocupam muito mais o eleitor do que qualquer consequência política do desmembramento da aliança referendada pela população em 2008. A eleição de 2014 vai ser uma preocupação para o eleitor somente em 2014.

Por enquanto, o cidadão de Belo Horizonte quer saber se o posto médico de seu bairro está funcionando adequadamente, se as ruas possuem asfaltamento de qualidade, se pais, professores e alunos estão satisfeitos com os rumos da educação, se há empregos, se a violência vai diminuir e se o trânsito vai melhorar. Em resumo, o cidadão quer saber se a vida em Belo Horizonte tem condições de ganhar qualidade.

Obviamente, os candidatos sabem desse desejo e, por isso, afirmam em seus discursos que estão interessados em debater os problemas da cidade. A questão é que, nos bastidores, a disputa eleitoral tem pouca preocupação com esse debate. É perceptível uma guerra de desconstrução de imagens.
Passado, presente e as possibilidade de futuro são usados para abalar as trajetórias dos candidatos.
A proposta, especialmente na internet, parece ser desmontar as imagens dos candidatos. Os programas de governo ainda nem estão prontos ou, se estão, não foram apresentados. O que importa do ponto de vista das coordenações de campanha são os candidatos os projetos políticos.

Em uma eleição assim, há sempre o risco de julgamentos precipitados, preconceituosos, e, claro, extremamente personalistas. Questões mais ligadas à ética pessoal e aos posicionamentos ideológicos serão motes muito explorados. Mas nem sempre é possível para o eleitor entender com clareza o que está acontecendo no quadro eleitoral.

O eleitor precisa gastar seu tempo para fazer análises mais apuradas. Ele não pode se deixar levar pelas meias verdades ou pelas mentiras repetidas várias vezes. O decisão do voto precisa ser, mais do que em outras situações, muito cuidadosa e balizada.

A eleição permite algo que é raro e valioso. No momento de votar, todos os cidadãos são absolutamente iguais. Não há diferenças de raça, religião, classe social e gênero. Não há peso e tratamentos diferentes para nenhum tipo de voto.
Mas é preciso lembrar que qualquer cidadão pode escolher bem ou mal. O preço disso será conhecido em quatro anos.

SAÍDA DA CHINA É BAIXAR OS JUJROS E ESTIMULAR O CONSUMO INTERNO

 

Pequim, é claro, está extremamente preocupada com a crise na eurozona. Por isso, o Banco Central chinês acaba de baixar os juros. Haverá mais um pacote de estímulos – no mínimo, US$ 320 bilhões –, para aumentar o consumo interno. O país talvez cresça “só” 7,5% em 2012.

Mas a expansão não para nunca. O premiê Wen Jiabao acaba de propor um acordo comercial entre a China e o Mercosul – o Mercado Comum Latino-americano. Cataratas de energia, vinda de todos os cantos – Sibéria, Ásia Central, Irã, Oriente Médio, África, América do Sul – têm de continuar a jorrar, para manter ativo o dragão mercantilista.

Por tudo isso, investir bilhões no Irã e promover a exploração conjunta da energia no Mar do Sul da China são, para Pequim, medidas óbvias de desenvolvimento. Não é tempo para sanções ou tambores de guerra. É tempo para fazer negócios. Um negócio de cada vez. Sem parar nunca.

QUANDO O HUMOR RETRATA A REALIDADE



22 de julho de 2012

OS PAÍSES OCIDENTAIS SÃO OS RESPONSÁVEIS PRINCIPAIS PELA CRISE DA CIVILIZAÇÃO

O complexo de crises que avassala a humanidade nos obriga a fazer um balanço. É o momento filosofante de todo observador crítico, caso queira ir além dos discursos convencionais e intrasistêmicos.

Por que chegamos à atual situação que objetivamente ameaça o futuro da vida humana e de nossa obra civilizatória? Os principais causadores desse percurso são os que, nos últimos séculos, detiveram o poder, o saber e o ter. Eles se propuseram dominar a natureza, conquistar o mundo, subjugar os povos e colocar tudo a serviço de seus interesses.

Para isso foi utilizada uma arma poderosa: a tecnociência. Identificaram como funciona a natureza e operaram intervenções para benefício humano sem reparar nas consequências.
Esses senhores foram os europeus ocidentais. Nós, latino-americanos, fomos agregados à força como o Extremo Ocidente.



Ilustração: Duke

Hoje, eles estão perplexos. Perguntam-se aturdidos: como podemos estar no olho da crise se possuímos o melhor saber, a melhor democracia, a melhor consciência dos direitos, a melhor economia, a melhor técnica, o melhor cinema, a maior força militar e a melhor religião, o cristianismo?

Essas “conquistas” estão postas em xeque, pois, não obstante seu valor, não nos fornecem mais nenhum horizonte de esperança. O tempo ocidental se esgotou, perdeu qualquer legitimidade e força de convencimento.

Arnold Toynbee, analisando as grandes civilizações, notou esta constante histórica: sempre que o arsenal de respostas para os desafios não é mais suficiente, as civilizações entram em crise, começam a esfacelar-se até seu colapso ou assimilação por outra. Esta traz vigor, novos sonhos e novos sentidos de vida pessoais e coletivos. Qual virá? Quem o sabe? Eis a questão cruciante.

O que agrava a crise é a persistente arrogância ocidental. Mesmo em decadência, o Ocidente se imagina ainda a referência obrigatória para todos.

Para a Bíblia e os gregos, essa atitude constituía o supremo desvio, pois as pessoas se colocavam no mesmo pedestal da divindade. Chamavam a isso de “hybris”, quer dizer: arrogância e excesso do próprio eu.

Foi essa arrogância que levou os Estados Unidos a intervir, com razões mentirosas, no Iraque, depois no Afeganistão e antes na América Latina, sustentando regimes ditatoriais.

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PROJETO IMPERIAL

Com o presidente Barak Obama se esperava um novo rumo, mais multipolar, respeitador das diferenças culturais e compassivo para com os vulneráveis. Ledo engano. Está levando avante o projeto imperial na mesma linha do fundamentalismo de George W. Bush.

Não mudou substancialmente nada naquela estratégia. Ao contrário, inaugurou algo inaudito e perverso: uma guerra não declarada usando “drones”, aviões não tripulados. Dirigidos eletronicamente a partir de bases militares no Texas, atacam matando lideranças individuais e até grupos inteiros nos quais supõem estarem terroristas.

O próprio cristianismo, em suas várias vertentes, se distanciou do ecumenismo e está assumindo traços fundamentalistas. Há uma disputa no mercado religioso para ver qual das denominações mais aglomera fiéis.

Assistimos na Rio+20 à manifestação dessa mesma arrogância: os poderosos recusaram-se a participar e a buscar convergências que aliviassem a crise da Terra.
E pensar que, no fundo, procuramos a singela utopia bem expressa por Pablo Milanes e Chico Buarque: “a história poderia ser um carro alegre, cheio de um povo contente”.

CAMPANHA PRÓ-FAXINA DOS POLÍTICOS CONTA A HISTÓRIA DO BARBEIRO QUE FAZIA SERVIÇO COMUNITÁRIO E NÃO COBRAVA CORTES DE CABELO

O comentarista Luiz Fernando Brito Pereira, sempre atento, nos envia uma curiosa mensagem que faz sucesso na internet, na defesa de uma faxina na política, sob o lema

“Na próxima eleição troque um ladrão por um cidadão".


O BARBEIRO

O florista foi ao barbeiro para cortar seu cabelo. Após o corte perguntou ao barbeiro o valor do serviço e o barbeiro respondeu:
- Não posso aceitar seu dinheiro porque estou prestando serviço comunitário essa semana.
O florista ficou feliz e foi embora.
No dia seguinte, ao abrir a barbearia, havia um buquê com uma dúzia de rosas na porta e uma nota de agradecimento do florista.
Mais tarde, no mesmo dia, veio um padeiro para cortar o cabelo.
Após o corte, ao pagar, o barbeiro disse:
- Não posso aceitar seu dinheiro porque estou prestando serviço comunitário essa semana.
O padeiro ficou feliz e foi embora.
No dia seguinte, ao abrir a barbearia, havia um cesto com pães e doces na porta e uma nota de agradecimento do padeiro.
Naquele terceiro dia veio um deputado para um corte de cabelo. Novamente, ao pedir para pagar, o barbeiro disse:
- Não posso aceitar seu dinheiro porque estou prestando serviço comunitário essa semana.
O deputado ficou feliz e foi embora.
No dia seguinte, quando o barbeiro veio abrir sua barbearia, havia uma dúzia de deputados fazendo fila para cortar cabelo.
Essa é a diferença entre os cidadãos e os políticos. Justamente por isso, o escritor Eça de Queiroz recomendava que “os políticos e as fraldas devem ser trocados frequentemente e pela mesma razão”.

22 de julho de 2012

IMAGEM DO DIA

Amigos e familiares das vítimas, junto com organizações judáicas, pedem justiça 18 anos após os atentados à sede israelense da Mutua, na Argentina, onde morreram 85 pessoas

Amigos e familiares das vítimas, junto com organizações judáicas, pedem justiça 18 anos após os atentados à sede israelense da Mutua, na Argentina, onde morreram 85 pessoas - Alejandro Pagni/AFP

22 de julho de 2012

AS VÍTIMAS DA POLÍTICA ECONÔMICA DE CRISTINA KIRCHNER

Depois de conversar com moradores e comerciantes em Buenos Aires, Tatiana Gianini, repórter de VEJA, relata os efeitos do intervencionismo governamental na economia da Argentina.

22 de julho de 2012

AUSENTES PRESENTES

Memoriais como o dedicado às vítimas do voo 3054 ajudam a sociedade a se reapropiar do que a morte indevidamente levou

É corrente a suposição de que nós brasileiros não temos memória histórica, desinteressados das grandes ocorrências do nosso destino e até mesmo descuidados da preservação dos nossos monumentos e dos marcos de nossa trajetória. Isso tudo é relativo.

Nas últimas décadas vem crescendo o interesse pela materialização monumental do que diz o que fomos para dizer-nos quem somos, ainda que memória irregular, porque não há equivalência entre os fatos celebrados e nem sempre são eles relevantes na constituição de nossa identidade coletiva.
Nossa memória ainda se ativa em função da dor e do sentimento de perda, como extensão das celebrações funerárias.

A inauguração da praça memorial alusiva aos mortos na queda do avião da TAM, em 17 de julho de 2007, só aparentemente é exceção aos nossos costumes, cujo significado não vem espontaneamente às lembranças. Aquela praça é, na verdade, um cemitério. Esses lugares acabam sendo destacados nos ritos populares de visitas, deposição de flores, afixação de bilhetes, como ali já vinha acontecendo desde o acidente. São, na prática, memoriais, no pleno sentido da palavra.

Essas deposições, ao pé de algum lugar referencial de injusta interrupção da vida, são comuns na Europa e nos EUA, como expressões secularizadas do luto. Indicam um modo de lidar com a morte inesperada para suturar e superar o rompimento que ela representa. O memorial materializa o intento de que, como lembrança, os que se foram permaneçam além dos momentos emocionais da partida.

São contraposições simbólicas aos perecimentos drásticos, à contrariedade do inesperado. São também manifestações da responsabilidade social dos vivos pelos que morreram em condição adversa, em público, fora dos parâmetros socialmente aceitos do morrer, no âmbito do privado e da família. No memorial, a sociedade se reapropria do que a morte indevidamente invadiu.

Maurice Halbwachs, um dos expoentes dos estudos sociológicos sobre a memória, ele mesmo morto num campo de concentração e, portanto, no anonimato de um perecimento injusto, refere-se à topografia da memória. Estendida aos dias de hoje, a cultura dos lugares da memória ressalta esse nós coletivo ameaçado pelo individualismo e pela solidão dissolventes da modernidade.
A sociedade moderna criou uma concepção de identidade que é restritiva, limitada à vida, em conflito com os arcaísmos e a religiosidade, que sobrevivem nos gestos de afeto coletivo. Os lugares da memória são expressões de uma poderosa visão comunitária do mundo e da vida que a modernidade não venceu.

Os memoriais, populares e oficiais, existem no Brasil, ainda que não necessariamente sob esse nome.
 No bairro paulistano da Liberdade, a Capela de Santa Cruz das Almas e dos Enforcados é nosso memorial das almas. Erguida a poucos metros de onde existiu a forca, no século 19, surgiu ao redor de uma cruz ao pé da qual os devotos acendiam velas, e continuam acendendo.
O culto se robusteceu com a morte de um inocente, Francisco José das Chagas, o Chaguinhas, ali enforcado. As cruzes de beira de estrada são memoriais do mesmo gênero, para demarcar o lugar em que alguém teve a vida abreviada, para suprir a solidão de quem ali pereceu.

Memorial é também, embora não com esse nome, o obelisco erguido por Galileo Emendabili no Parque Ibirapuera, em memória dos mortos da Revolução de 1932. Ali estão reunidos e sepultados, na trincheira simbólica da cripta, os que perderam a vida pelos valores transcendentes da democracia.

A antiga estação da Sorocabana, onde por muitos anos funcionou o Dops, lugar de tortura e confinamento de presos políticos, abriga o Memorial da Resistência. É ocupação simbólica de um lugar de sofrimento e de tolhimento da esperança. Proclamação de que o mal não pode triunfar sobre o bem.

O Memorial da América Latina é secular. Mas a mão espalmada, de concreto, concebida por Oscar Niemeyer, na palma esculpido em baixo relevo e revestido de acrílico vermelho o mapa da América Latina, como sangue que escorre pelo punho, filia-o à tradição funerária dos memoriais.
Referência alegórica ao sacrifício da conquista, de escravos, índios e negros. Influência notória da busca de identidade latino-americana na herança de misérias e opressões. É também, no entanto, uma proclamação de esperança.
No Rio de Janeiro, o Monumento Nacional aos Mortos na 2ª Guerra Mundial abriga os restos mortais de 462 pracinhas brasileiros que estavam sepultados no Cemitério da FEB em Pistoia, na Itália. É um memorial, embora o cemitério original seja mantido como era, no bucólico cenário campestre do primeiro sepultamento, o que indica a complexa mediação da morte em questões assim.

José de Souza Martins - O Estado de S.Paulo
22 de julho de 2012 

JOSÉ DE SOUZA MARTINS É SOCIÓLOGO. PROFESSOR EMÉRITO DA FACULDADE DE FILOSOFIA DA USP E ORGANIZADOR DE A MORTE, OS MORTOS NA SOCIEDADE BRASILEIRA (HUCITEC)

LUZ, CÂMERA, ESCULHAMBAÇÃO

Meu avô de Itaparica, o inderrotável Coronel Ubaldo Osório, não era muito dado a novas tecnologias e à modernidade em geral. Jamais tocou em nada elétrico, inclusive interruptores e pilhas. Quando queria acender a luz, chamava alguém e mantinha uma distância prudente do procedimento. Tampouco conheceu televisão, recusava-se.
A gente explicava a ele o que era, com pormenores tão fartos quanto o que julgávamos necessário para convencê-lo, mas não adiantava. Ele ouvia tudo por trás de um sorriso indecifrável, assentia com a cabeça e periodicamente repetia "creio, creio", mas, assim que alguém ligava o aparelho, desviava o rosto e se retirava. "Mais tarde eu vejo", despedia-se com um aceno de costas.

O único remédio que admitia em sua presença era leite de magnésia Phillips, assim mesmo somente para olhar, enquanto passava um raro mal-estar. Acho que ele concluiu que, depois de bastante olhado, o leite de magnésia fazia efeito sem que fosse necessário ingeri-lo. Considerava injeção um castigo severo e, depois que as vitaminas começaram a ser muito divulgadas, diz o povo que, quando queria justiçar alguma malfeitoria, apontava o culpado a um preposto e determinava:
"Dê uma injeção de vitamina B nesse infeliz." Dizem também que não se apiedava diante das súplicas dos sentenciados à injeção de vitamina, enquanto eram arrastados para o patíbulo, na saleta junto à cozinha, onde o temido carcereiro Joaquim Ovo Grande já estava fervendo a seringa. (Naquele tempo, as seringas eram de vidro e esterilizadas em água fervente, vinha tudo num estojinho, sério mesmo.)

- Amoleça a bunda, senão vai ser pior! - dizia Ovo Grande, de sorriso viperino, olhos faiscantes e agulha em riste, numa cena a que nunca assisti, mas que não devia ser para espíritos fracos.
- Sim, mas acabo fazendo a biografia de meu avô e não chego ao assunto, que, pelo menos quando me sentei faz pouco para escrever, tinha a ver com fotografia. O coronel não evitava codaques, nome por que chamava indistintamente qualquer máquina fotográfica, mas só admitia ser fotografado se houvesse a preparação que ele considerava essencial. Nada do que então se chamava "instantâneo".

Ele fazia a barba, tomava banho, vestia paletó e gravata, botava perfume e posava imóvel como uma rocha, diante da codaque. Daí a um mês, mais ou menos, as fotos voltavam, reveladas e copiadas, de um laboratório da cidade - e sua chegada era uma espécie de festa, que reunia parentes, amigos e correligionários.

Se o coronel estivesse vivo hoje, acho que acabaria tomando o leite de magnésia. Aproxima-se o dia em que seremos filmados, fotografados e monitorados em absolutamente todas as circunstâncias, inclusive no banheiro.
Claro, reconheço que deliro um pouco, mas somente um pouco, quando imagino que, num futuro em que a água será escassa, cada morador terá cotas para todo tipo de uso da água e sofrerá penalidades diversas, se ultrapassá-las.
Facilmente, a monitorização saberia quantas vezes e com que finalidade o freguês usou o vaso, estatística talvez considerada indispensável para a formulação de políticas sanitárias e de saneamento básico. Não saberemos como teremos vivido sem isso, até então.

Entrando em elevadores, dei para perceber gente olhando para as câmeras e se ajeitando como se fosse entrar no ar dentro de alguns instantes. Algumas moças chegam mesmo a passar a mão na nuca e ajeitar faceiramente os cabelos com um movimento de cabeça, como nos comerciais de xampus.
Foi-se a manobra, tão praticada em gerações pretéritas, em que, tendo-se a sorte de encontrar no elevador a dadivosa e adrede acumpliciada vizinha do 703, apertava-se o botão de emergência, parava-se a cabine entre dois andares e davam-se os dois a um furtivo e inesquecível pecadilho da carne.
O clipe já estaria no YouTube assim que ambos chegassem em casa, com dezenas de "visualizações", inclusive do marido e da família da vizinha.

Antigamente, a gente só tinha que dizer "que gracinha", "que beleza" ou "muito interessante" umas duas ou três vezes por amigo de boteco, no máximo. Era quando ele mostrava a foto da última neta, o retrato de toda a família junta ou um documento velho. Hoje a gente assiste a várias dezenas de clipes de celulares e sucessões de slides por dia, enquanto todo mundo fotografa e filma todo mundo, o tempo todo.

E outro dia, num noticiário de tevê, apareceu a notícia de um sequestro relâmpago em que um dos sequestradores filmou tudo com seu celular. Fico querendo adivinhar qual a razão para isso e me ocorre que, em muitos criminosos, suas ações talvez despertem um certo orgulho autoral e eles agora têm muitos recursos para documentar seus feitos para a História.
De qualquer maneira, presenciamos o primeiro making of de um ato criminoso e espero somente que algum filósofo francês não saiba disso e publique um livro designando essa atividade como uma nova forma de arte, para que depois um porreta de uma agência governamental qualquer ache isso científico e premie com absoluta impunidade qualquer assalto, ou semelhantes, para o qual o seu autor haja preparado um making of de qualidade, gerando empregos e estimulando a arte. É bom viver onde o seguinte diálogo pode ocorrer:
- Então, como se foi de assalto hoje?
- Ah, legal. Só faltou me levar as calças, mas em compensação a crítica considera esse cara o melhor diretor de filmagem de assalto do Brasil, tablete de 12 megapixels, tudo muito profissional. Desta vez eu saio no Fantástico com certeza.

22 de julho de 2012
João Ubaldo Ribeiro, O Estado de S.Paulo

A FERROVIA DA CORRUPÇÃO

ISTOÉ teve acesso a sete inquéritos abertos pela Polícia Federal para apurar os superfaturamentos na Ferrovia Norte-Sul que provocaram rombo de até R$ 1 bilhão

chamada.jpgOs desvios de verbas na ferrovia norte-sul somam R$ 1 bilhão
só no trecho entre Palmas (TO) e Anápolis (GO) foram superfaturados
R$ 400 milhões a obra já consumiu R$ 8 bilhões

No início do mês, a Polícia Federal prendeu o ex-presidente da Valec José Francisco das Neves, o Juquinha, acusado de enriquecimento ilícito. Segundo os autos do inquérito da Operação Trem Pagador, ele teria comandado um esquema que desviou mais de R$ 100 milhões de obras da Ferrovia Norte-Sul, a mais extensa via férrea do País.

ISTOÉ revela agora que o rombo provocado pelo esquema de Juquinha, que comandou a estatal de ferrovias por oito anos, pode chegar à escandalosa cifra de R$ 1 bilhão, dinheiro que teria abastecido não só as contas pessoais do ex-presidente, familiares e ex-integrantes da cúpula da Valec, mas também o caixa de partidos como PR e PMDB. A estimativa é da própria PF, com base numa série de investigações em andamento.
Só na Delegacia de Crimes Financeiros da Polícia Federal em Goiás foram abertos sete diferentes inquéritos que abarcam os quase 4,5 mil quilômetros de extensão da ferrovia. Ao longo da Norte-Sul, que já consumiu R$ 8 bilhões, correm suspeitas de superfaturamento em materiais, como trilhos e dormentes, nas ações de terraplanagem, escavações e aterros.
A PF encontrou ainda indícios de conluio entre empreiteiras, direcionamento de licitações e subcontratação de empresas ligadas a políticos. As investigações, que tiveram origem em fiscalizações do TCU, da CGU e denúncias do Ministério Público, estão longe de terminar.

As investigações indicam que só no trecho entre Palmas (TO) e Anápolis (GO), justamente o que ajudou a enriquecer Juquinha e sua família, foram desviados mais de R$ 400 milhões. Laudos técnicos que compõem os inquéritos mostram que a estrada de ferro consumiu todo o orçamento previsto nos contratos com as construtoras Andrade Gutierrez, SPA Engenharia, Constram, Queiroz Galvão e Camargo Corrêa.


A Valec de Juquinha autorizou aditivos que atingiram o limite legal de 25% e mesmo assim a obra chegou ao fim infestada de problemas estruturais, como a falta de proteção vegetal de taludes e canais de drenagem superficial.
O resultado é a erosão de áreas que estão provocando a desestabilização dos trilhos, inviabilizando o uso da ferrovia.
Não foram construídos oito pátios intermodais que estavam previstos em contrato. Isso significa que, mesmo os trens sendo liberados para transitar na estrada de ferro, eles simplesmente não têm onde ser carregados e descarregados.
IEpag40a43_Ferrovia-3.jpgINFLUÊNCIA
De acordo com delegado ouvido por ISTOÉ, o senador José Sarney
e o deputado Costa Neto dividiam cargos na cúpula da Valec

As construtoras reclamam que a obra ali consumiu mais que o previsto, por conta de desvios e da existência de aterros moles, que acabam consumindo mais horas de trabalho das máquinas e do orçamento. Daí, segundo a PF, chega-se a outro problema: não há medição confiável, os métodos utilizados são os mesmos de 40 anos atrás.
Essa falha foi explorada não só pelos empreiteiros, mas pela própria Valec, segundo a PF.

O escamoteamento de custos, de acordo com os relatórios de investigação obtidos por ISTOÉ, era processado em Brasília, no 20º andar do edifício-sede da estatal, e se estendia ao campo de trabalho. Laudos da Perícia Criminal indicam sobrepreço tanto no orçamento de referência da estatal como nas propostas das empreiteiras. A análise de centenas de planilhas de preços feita pelos peritos apontam uma variação entre 6,5% e 48% de sobrepreço nos orçamentos.

O TCU agiu em alguns casos, como nas obras de Aguiarnópolis (TO) e Anápolis-Uruaçu (GO). Em ambos, determinou-se a suspensão cautelar de 10% do valor dos contratos, muito pouco, considerando o volume de recursos utilizados.

O tribunal instaurou tomadas de contas especiais em contratos como o da SPA Engenharia, que se recusou a seguir as determinações de repactuação do orçamento. Um relatório interno da consultoria jurídica da Valec, obtido por ISTOÉ, mostra que só em dois contratos os fiscais encontraram sobrepreços de R$ 42 milhões e R$ 40 milhões, respectivamente.

Desde o início da obra, a Valec tem comprado dormentes, fabricados pelas próprias empreiteiras, a valores 40% superiores ao de outros fornecedores. Esses dados, além de abastecerem os inquéritos da PF, levaram o atual presidente da Valec, José Eduardo Castello Branco, a criar uma força-tarefa para melhorar a fiscalização das obras da Norte-Sul e passar um pente fino nas obras em andamento. Talvez por isso, desde que assumiu no lugar de Juquinha no ano passado, Castello Branco tem sofrido pressões de partidos e empresários para deixar o cargo.

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O perfil técnico do atual presidente da Valec causa desconforto para um grupo de políticos que se acostumou a gerenciar o orçamento bilionário da empresa. Escutas telefônicas feitas pela PF com autorização judicial mostram como se articularam os dirigentes da estatal às vésperas da faxina determinada pela presidenta Dilma Rousseff, diante das denúncias de pagamento de propina no Ministério do Transportes.

Em conversa gravada no dia 19 de outubro de 2011, Juquinha, ciente da iminente dança das cadeiras na Valec, telefona para seu advogado, Heli Dourado, e pergunta se ele conversou com o “presidente”, segundo a PF numa referência ao senador José Sarney. Heli diz que “Sarney conversou com o ministro duas vezes e não tem mais o que falar com ele; que ele sabe que a pessoa é sua indicada”. Na conversa, Heli diz ainda que foi até a casa de Sarney para tentar evitar a queda dos apadrinhados. Segundo a PF, o presidente do Senado foi atropelado pela decisão do Palácio do Planalto.

Além de “presidente”, Sarney é citado por Juquinha e outros integrantes do grupo pelas alcunhas de “velhinho” e “chefe”. Para a PF, não há dúvidas de que o grupo usava constantemente o nome de Sarney. De acordo com um delegado ouvido por ISTOÉ, as investigações demonstram que o presidente do Senado e o deputado Valdemar da Costa Neto (PR) dividiam os cargos na cúpula da Valec.


A Ferrovia Norte-Sul, no entendimento dos investigadores, era uma espécie de “menina dos olhos” dos parlamentares. Quem cuidava dos interesses de Sarney nos contratos da ferrovia, de acordo com a PF, era Luiz Carlos Oliveira Machado, o então diretor de engenharia da estatal. Responsável por acompanhar diretamente todas as obras da Valec, Oliveira Machado é um dos principais alvos dos inquéritos.

Pelas investigações iniciais, ele estaria ligado às empresas CMT Norte-SUL e Trilha Engenharia, que foram subcontratadas nos lotes 2 e 11 para fornecer maquinário. Sarney informou, por meio de sua assessoria, que Oliveira Machado não é sua indicação e nem sequer lembra “se conhece essa pessoa”. Costa Neto, por sua vez, admitiu sua relação com Juquinha e a indicação para a presidência da Valec, mas disse que não tinha nenhuma “ascendência administrativa” sobre ele.

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Não é a primeira vez que o nome de Sarney surge em escândalos envolvendo a Ferrovia Norte-Sul. Seu filho Fernando Sarney, citado na Operação Faktor (Boi Barrica), é investigado por conta de contratos suspeitos da Valec com a empresa Dismaf para o fornecimento de trilhos.

A empresa, mesmo denunciada pelo Ministério Público por fraude no fornecimento de fardamento para o Exército, conseguiu entrar na Valec. Quem intermediou o negócio, segundo a PF, foi o senador Gim Argello (PTB) e o filho de Sarney.

Um dos sócios da Dismaf é Basile Pantazis, que até estourar o escândalo no ano passado era tesoureiro do PTB. Entre 2008 e o início de 2011, a Dismaf recebeu mais de R$ 410 milhões, segundo levantamento das ordens bancárias da Valec feito pela ONG Contas Abertas.

A empresa quase conseguiu um segundo contrato de R$ 750 milhões, mas a licitação foi suspensa por determinação do TCU.

Claudio Dantas Sequeira
22 de julho de 2012

fotos: Adriano Machado/AG. ISTOÉ; Wildes Barbosa/O Popular/Folhapress

AS ESFUMAÇADAS GREVES FEDERAIS

Quantas voltas o mundo dá. O Brasil que o diga. Há 32 anos, o ABC paulista, sob os braços cruzados de 100 mil trabalhadores metalúrgicos, acendia a mais alta fogueira do movimento grevista nacional.Em 1º de abril de 1980, Lula emergia como o maior líder operário, ao comandar um movimento paredista que resistiu por mais de um mês e abriria um dos mais gloriosos capítulos no livro das greves. Eram tempos heróicos, plenos de risco e medo. Lula e outros 14 líderes acabaram presos.

Hoje, sob fogo baixo e muita fumaça, a peça ganha novo enredo. O chão das fábricas do ABC abriga mãos e braços, agora não cruzados, mas movimentando máquinas. Os antigos fogueteiros trocaram o casacão suado de metalúrgicos e a camiseta do furioso João Ferrador por paletó e gravata. O ex-operário Luiz Inácio, depois de passar 8 anos no posto mais alto da República, continua a ter papel central na região (e em outras praças), desta feita patrocinando a reeleição do prefeito de São Bernardo do Campo, Luiz Marinho, também ex-metalúrgico e protagonista daquele ciclo.

Hoje como ontem, bastiões grevistas são montados. A diferença é que, agora, fustigam o Estado, como se pode ver nas paralisações em 7 ministérios do governo (Saúde, Trabalho, Planejamento, Integração Nacional, Desenvolvimento Agrário, Agricultura e Justiça), em Agências Reguladoras, Universidades Federais, sistema Eletrobrás e outros setores.

Uma observação se faz pertinente: a teia de greves que cobre alguns vãos da administração federal é pouco percebida, sugerindo a hipótese de que a sensação de normalidade se explica pelo fato de não haver plena adesão aos movimentos.

Avoca-se outra razão: a máquina é tão inchada que dispensa alguns parafusos para se mover. Argumenta-se, ainda, que há greves com forte impacto perante consumidores, como as que afetam o abastecimento de alimentos (leite, carne, arroz, feijão) e serviços essenciais (energia, transportes, saúde) e congêneres. Vamos ao ponto.

As greves que envolvem 135 mil funcionários públicos federais geram, sim, prejuízos ao país e à sociedade, seja pelo efeito retardado que provocam nas prateleiras da burocracia seja por prejuízos aos sistemas produtivos, usuários e consumidores.

São irrecuperáveis os danos causados ao universo estudantil em decorrência da greve nos Institutos e universidades federais. Medidas como prolongamento do ano letivo não atenuarão os impactos sobre a estrutura educacional. Pior é achar que a vida institucional do país flui naturalmente.

A aparente harmonia social tem o condão de esconder os percalços do governo na frente de articulação junto aos setores grevistas. O efeito concêntrico de uma onda de greves poderá abalar a confiança que a sociedade deposita no governo.

Chama atenção, ainda, a mudança de foco dos movimentos. Agora, o adversário é o Estado. Lembre-se que, desde o século XIX, fluindo na esteira da industrialização, o sindicalismo elegia como alvo preferencial os nichos produtivos da iniciativa privada. Os ciclos de greves no país ganharam volume nos períodos de transição política, quando o discurso da inclusão social e da justiça para todos atinge seu ponto máximo. Escolhem-se adversários principalmente em espaços de intensa concentração operária, como no ABC, com uso da artilharia nas datas-chave de reajuste salarial.

O Estado getulista propiciou a construção da base sindicalista. De lá para cá, o sindicalismo, sob a proteção estatal, aprofundou raízes, particularmente no Sudeste. Em 1963, às vésperas do golpe de 64, a pauta sindical abrigou 200 greves, alimentando-se da instabilidade política.

Dados coletados por Eduardo G. Noronha, em seu estudo sobre “Ciclo de Greves, Transiçã
o Política e Estabilização: Brasil-1978/2007” revelam a natureza das passagens: entre 1965-1968 (Castelo Branco-Costa Silva), a média anual foi de 13 greves; entre 1969-1977 (linha dura dos militares), nenhuma greve; entre 1978-1984 (abertura política e inicio do 1º Grande ciclo de greves), a média por ano foi de 214 movimentos. A greve da Scania, em 1978, foi simbólica por demonstrar que as paralisações eram viáveis.

A era Sarney foi memorável: a média anual de greves foi de 1.102. No primeiro semestre de 1989, a ausência de regras para reajustes salariais, a proximidade das eleições presidenciais e a ameaça da hiperinflação elevaram os conflitos trabalhistas para níveis inéditos. Ocorreram mais de 2 mil greves.
O pico chegou nos tempos tumultuados de Collor, quando a média atingiu 1.126 greves. A partir daí, entra-se na fase do declínio, com a média de 865 greves por ano no 1º governo FHC (1995-1998), e 440 no segundo mandato (1998-2002). A primeira fase do ciclo Lula (2003-2007), já com as Centrais Sindicais entrando nas malhas do governo e o programa Bolsa Família, amortece a onda. A média anual cai para 322.

Como se pode aferir, a cadeia grevista no Brasil foi rompida. Os sindicatos passaram a enfrentar novas realidades, a partir da garantia do emprego. A cabeça do planeta sindical – formada pelas estrelas brilhantes (e sonantes) das Centrais Sindicais decidiu manter e ampliar “feudos” dentro do poder central. Ademais, encheram seus cofres. Em 2011, centrais e federações receberam do governo cerca de R$ 110 milhões. Não carregam a obrigação de prestar contas.

A convocação à greve – é também a leitura que se faz – torna-se dever artificial de ofício para as estruturas. Como convocar, por exemplo, servidores do Ministério do Trabalho à paralisação, se ali estão braços de entidades que formam a constelação sindical? Seria incongruência.

O pleito atual dos servidores dos três Poderes custaria, segundo o governo, R$ 92 bilhões. Bancar tal conta em cenário de desaceleração econômica seria mortal para o Tesouro. Último ato da peça: bancários, comerciários, metalúrgicos, químicos e petroleiros, têm encontro marcado no segundo semestre com os patrões. Pauta: reajuste de planilhas salariais. Haverá mais fumaça ou mais fogo?

22 de julho de 2012
Gaudêncio Torquato, jornalista, é professor titular da USP, consultor político e de comunicação Twitter gaudtorquato

FRASE DO DIA

Marcos Valério tinha relação com o partido, ele fez coisas com o partido. Eu nunca acompanhei isso. Então, quem pariu Mateus que o embale, né, meu querido?

Paulo Okamotto, diretor-presidente do Instituto Lula, negando participar das negociações entre Marcos Valério e PT.

22 de julho de 2012

A PRAÇA É DA TROPA

A partir de 2 de agosto e enquanto durar o julgamento do mensalão, a Praça dos Três Poderes ganhará desenho diferente do original vão aberto ao horizonte.

Haverá policiamento ostensivo constante com tropas da Polícia Militar do Distrito Federal, da Força de Segurança Nacional e dos agentes do Supremo Tribunal Federal, impedindo o acesso direto do público ao prédio do STF.

A montagem dessa logística vem sendo tratada pelo presidente do Tribunal, Carlos Ayres Britto, com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, em conjunto com a Secretaria de Segurança Pública do DF.

Será reforçada a segurança individual dos ministros, cujos trajetos de chegada, entrada e saída do tribunal serão alterados diariamente.

Por mais que os ministros digam que será um julgamento como outro qualquer, há o entendimento de que a realidade não é assim tão simples: querendo ou não, o Judiciário será protagonista de ocasião especialíssima.

Ao mesmo tempo em que examinará um processo inédito na forma e no conteúdo, terá de lidar com outras duas situações senão mais, tão polêmicas quanto.

Eventualmente decidirá sobre temas relativos à CPI do Cachoeira e ainda julgará questões sobre as eleições municipais no Tribunal Superior Eleitoral, integrado por parte dos ministros do Supremo.
Embora o Brasil já tenha assistido ao julgamento na esfera penal de um presidente cassado no Parlamento, a circunstância atual é diversa. Fernando Collor não tinha defensores na sociedade, seu caso não despertava emoções populares, o grupo político em xeque já não estava no poder e, sobretudo, o STF não desempenhava o papel ativo de hoje nem as sessões eram transmitidas pela televisão.

Desta vez é inegável que de alguma forma o Judiciário estará submetido a julgamento. E isso pode dar margem a manifestações até violentas à medida que forem sendo conhecidos os votos dos ministros, seja se houver tendência para absolvição ou condenação dos réus.
A ideia do policiamento ostensivo é evitar tanto o acesso ao STF quanto o assédio aos ministros para inibir cercos inoportunos.

Advogados, imprensa e todos os interessados devidamente credenciados terão garantido seus lugares, mas ao público em geral chegou-se à conclusão de que é melhor impor limitações de caráter preventivo.

Nesses dias que antecedem o julgamento que internamente no Supremo é tido como "diferenciado", os ministros têm recebido advogados dos réus, sistemática vista não como pressão, mas como o exercício do pleno direito de defesa de cada um.

Diferente é a interpretação a respeito de gestos mais contundentes - como aquele em que José Dirceu convocou movimentos sociais a saírem às ruas ou declarações que lançam suspeições sobre a lisura dos métodos de exame do processo - vistos como inconvenientes tentativas de coação. A elas os juízes acham melhor não reagir.

Se a cada uma correspondesse uma representação ao Ministério Público contra os autores, a avaliação é a de que acabariam contribuindo para tumultuar ainda mais o já conturbado ambiente.

Diante da pressão, a decisão do colegiado é de "engolir em seco" e deixar que as coisas se resolvam no devido tempo.

Ou seja, a partir de 2 de agosto, quando se inicia a primeira fase dos trabalhos com a apresentação de um resumo do processo na voz no relator Joaquim Barbosa, seguida das sustentações orais.

Primeiro fala a Procuradoria-Geral da República pela acusação e depois os advogados de defesa de cada um dos réus. Os trabalhos irão de segunda a sexta-feira, das 14h às 19h.

Essa etapa está prevista para se encerrar em 15 de agosto, quando, então, votam os ministros em sessões às segundas, quartas e sextas, na seguinte ordem: o relator, depois o revisor Ricardo Lewandowski e, em seguida, os demais do mais novo (Rosa Weber) ao decano (Celso de Mello).

Se a maioria for pela condenação, a etapa final será a da definição das penas. A previsão é a de que o julgamento entre pelo mês de setembro e esteja concluído antes das eleições de outubro.

22 de juloho de 2012
DORA KRAMER - O Estado de S.Paulo

SUPER-RICOS BRASILEIROS TÊM R$ 1 TRILHÃO EM PARAÍSOS FISCAIS

Pesquisa feita por consultor mostra que país ocupa o quarto lugar entre os que enviam mais recursos ao exterior, livres de impostos

Dólares
Cédulas de dólar (Divulgação)

Uma elite global de super-ricos escondia pelo menos 21 trilhões de dólares em paraísos fiscais no fim de 2010, revela estudo elaborado por James Henry, ex-economista-chefe da consultoria McKinsey.
O volume equivale ao das economias de Estados Unidos e Japão juntas, destaca a rede pública britânica BBC em sua página na internet. De acordo com Henry, 21 trilhões de dólares é uma estimativa conservadora. O número final, prossegue ele, poderia alcançar 32 trilhões de dólares.

De acordo com o relatório, os super-ricos brasileiros possuem cerca de 520 bilhões de dólares (mais de 1 trilhão de reas) em contas em paraísos fiscais - quantia que coloca o país em quarta posição nessa modalidade de conta, na comparação mundial. Na América Latina, além do Brasil, países como o México, a Argentina e Venezuela aparecerem entre os 20 que mais enviaram recusos a paraísos fiscais.

O estudo foi encomendado pela Rede de Justiça Tributária, um grupo de pressão que faz lobby contra paraísos fiscais. Henry baseou sua pesquisa em dados do Banco de Compensações Internacionais (BIS, por suas iniciais em inglês), do Fundo Monetário Internacional (FMI), do Banco Mundial e de governos de diversos países.

O autor do estudo concluiu que o dinheiro deixou dezenas de países com destino a contas secretas em bancos estabelecidos em lugares como a Suíça, as Ilhas Cayman e outros conhecidos paraísos fiscais, que buscam atrair os depósitos de pessoas de renda elevada ante promessas de sigilo do titular da conta e redução ou isenção de impostos. O jornal britânico The Guardian destaca que, ainda de acordo com o levantamento de Henry, os correntistas contaram com a ajuda direta de diversas instituições financeiras privadas.

"O que é mais chocante é que alguns dos maiores bancos do mundo estão envolvidos até o pescoço em iniciativas para ajudar seus clientes a sonegarem impostos e a transferirem sua riqueza a paraísos fiscais", declarou John Christensen, da Rede de Justiça Tributária, em entrevista à emissora pan-árabe de televisão Al Jazeera. "Nós estamos falando de marcas muito grandes e bastante conhecidas - HSBC, Citigroup, Bank of America, UBS, Crédit Suisse -, alguns dos maiores bancos do planeta envolvidos nisso. E eles o fizeram sabendo muito bem que seus clientes, na maioria dos casos, estavam sonegando impostos", afirmou Christensen.

Em entrevista à à BBC, Christensen afirmou que países exportadores de riquezas minerais seguem um padrão. Segundo ele, elites locais vêm sendo abordadas há décadas por bancos, principalmente norte-americanos, para enviarem seus recursos ao exterior. "Instituições como Bank of America, Goldman Sachs, JP Morgan e Citibank vêm oferecendo este serviço. Como o governo americano não compartilha informações tributárias, fica muito difícil para estes países chegar aos donos destas contas e taxar os recuros", afirma.

Segundo ele, além dos acionistas de empresas dos setores exportadores de minerais (mineração e petróleo), os segmentos farmacêutico, de comunicações e de transportes estão entre os que mais remetem recursos para paraísos fiscais.
"As elites fazem muito barulho sobre os impostos cobrados delas, mas não gostam de pagar impostos", observa Christensen. "No caso do Brasil, quando vejo os ricos brasileiros reclamando de impostos, só posso crer que estejam blefando. Porque eles remetem dinheiro para paraísos fiscais há muito tempo".

(Com Agência Estado)
22 de julho de 2012

MENSALÃO: SETE ANOS DEPOIS, EXPOENTES DA OPOSIÇÃO CAMINHAM JUNTOS COM O PT

Estrelas da investigação, que ganharam notoriedade atacando mensaleiros, hoje estão do lado petista: a conveniência política pesou

Gabriel Castro
Sergio Cabral e  Eduardo Paes vistam Lula no hospital
Sérgio Cabral e Eduardo Paes visitam Lula (Ricardo Stuckert/Instituto Lula)

A crise do mensalão, que abalou e colocou em risco a continuidade do governo Lula em 2005, assumiu proporções tão grandes que o Palácio do Planalto não foi capaz de manter as rédeas sobre a investigação feita no Congresso em três Comissões Parlamentares de Inquérito (CPI).

Foi nessa época, especialmente sob os holofotes da CPI dos Correios, que um grupo de parlamentares de oposição ganhou projeção nacional pelo rigor e pela artilharia contra a gestão petista. Sete anos depois, às vésperas do início do julgamento do maior esquema de corrupção já montado por um governo, alguns deles estão de mãos dadas com o PT em busca de votos.

Leia também: Entenda o caso do mensalão

Um dos melhores exemplos é o ex-tucano Eduardo Paes (PMDB), que resolveu pegar carona na popularidade de Lula para se eleger prefeito do Rio de Janeiro.
Na época, Paes integrava a linha de frente da oposição nas investigações da CPI dos Correios.
Chegou a sugerir a volta dos caras-pintadas às ruas, a exemplo das manifestações pelo impeachment de Fernando Collor de Melo.

"Está na hora de os caras-pintadas da UNE (União Nacional dos Estudantes), que recebem recursos vultosos, deixarem de fazer passeatas vagas, como se o atual governo não tivesse relação com a corrupção", afirmou o então deputado de oposição Eduardo Paes, no ápice da crise de 2005.

Passado o escândalo e garantidos os dividendos políticos da sua exposição, o ex-tucano preferiu tomar outro rumo: aliou-se ao próprio Lula, em 2008, com o objetivo de disputar a prefeitura do Rio. No caminho de conversão ao lulismo, filiou-se ao PMDB pelas mãos do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral.

Conveniência - A CPI também projetou no cenário político outro deputado tucano: o paranaense Gustavo Fruet, sub-relator da comissão.
A ascensão foi tamanha que Fruet chegou a ser candidato à presidência da Câmara respaldado pelo chamado "grupo dos éticos" da Casa.
Derrotado, ganhou respeito no seu partido e ocupou o cargo de líder da minoria no Congresso até o final de 2010, quando tentou um voo mais alto: o Senado Federal.
Ficou em terceiro lugar, mas saiu das urnas com mais de 2,5 milhões de votos - 200 000 votos a menos que Roberto Requião (PMDB).

Sem mandato, Fruet encolheu no PSDB e não conseguiu maioria interna para encabeçar uma chapa à prefeitura de Curitiba. Decidiu, então, mudar de campo político, aderiu ao PDT e não resistiu à tentação de disputar as eleições com o PT a tiracolo.

Em maio, o ex-tucano viajou de Curitiba para São Paulo para receber pessoalmente a benção de Lula. Na saída do encontro, repetiu o discurso de Eduardo Paes:
“Na ocasião, assumi a postura que o momento exigia. Fui contundente na investigação, mas nunca entrei em desqualificação pessoal do presidente”.

A mudança de lado é usada diariamente pelos adversários de Fruet para tentar desqualificar sua candidatura. "Cada um é guardião da sua história. Exerci com total lealdade e dedicação o trabalho que fiz lá. Muito do que está sendo utilizado hoje no processo teve por base o trabalho da CPI", diz ele. "A gente tem de ter capacidade de preservar as posições", defende-se.

Fruet afirma que sua aliança com o PT foi costurada com figuras que não tiveram relação com o mensalão, como o casal de ministros Gleisi Hoffmann (Casa Civil) e Paulo Bernardo (Comunicações).

Relator - Apontado em 2005 como um peemedebista "independente", o deputado federal Osmar Serraglio (PMDB-PR) recebeu uma das tarefas mais árduas no turbilhão do mensalão: a relatoria da CPI dos Correios, cujo manancial de documentos e revelações poderia fazer com que o mandato do ex-presidente Lula terminasse mais cedo.

Na época, parte do PMDB ainda não havia aderido ao governo petista. Hoje, Serraglio se vê confortável na base de apoio à presidente Dilma Rousseff - a quem ele vê como mais rigorosa do que Lula no combate à corrupção.

O peemedebista trata com naturalidade a guinada de parlamentares que, após atacar enfaticamente o PT durante o mensalão, agora são entusiastas do petismo: "Não sei se é oportunismo. Eles se tornaram peças importantes polticamente, porque foram valorizados pela própria CPI, e a população identificou a luta deles contra a corrupção", analisa.

A mudança de postura dos antigos algozes do PT faz parte de um processo mais amplo: o do esvaziamento da oposição no Brasil.
Em 2005, o governo podia contar com pouco mais da metade do Congresso Nacional. Hoje, a oposição controla apenas 17% da Câmara e 19% do Senado, menos de um terço do Congresso, número insuficiente, por exemplo, para abrir uma CPI.

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22 de julho de 2012
VEJA

O CUSTO PT

Não bastasse o uso político da maior empresa brasileira, Luiz da Silva ainda patrocinou um dos maiores escãndalos administrativos da história da empresa petrolífera.
 
Dados informados pela imprensa brasileira, trazem a constatação de que a refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco, que seria um projeto de suma utilidade para empresa, tornou-se um mar de desperdício e a mais cara refinaria de petróleo do mundo.
 
O projeto orçado, inicialmente, em US$ 2,3 bilhões, tem custo estimado, atualmente, em US$ 17,1 bilhões o que caracteriza um aumento de cerca de 643% em relação ao orçamento inicial da obra.
Paralisada algumas vezes pelo Tribunal de Contas da União por suspeitas de irregularidades o projeto tente a continuar, trazendo custos adicionais que penalizam investidores, contribuintes e, possivelmente, consumidores.
 
Há estimativas da própria Petrobrás que trazem informações de que o custo do projeto poderá chegar a valores superiores a US$ 20 bilhões.
 
Será, sem dúvida, a mais cara refinaria de petróleo do mundo. Fruto da irresponsabilidade política e administrativa de um gestor público que só trouxe prejuízos aos cofres públicos, "como nunca antes neste país".
 
22 de julho de 2012
blog do mario fortes