"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sábado, 7 de janeiro de 2012

VALE REPRISE. BOLSA-DITADURA

Para exigir minha bolsa-ditadura só faltam duas coisas: achar o número do celular do doutor Greenhalgh e perder a vergonha

Na tarde de 11 de agosto de 1969, no bar em frente da Faculdade Nacional de Direito, eu festejava o reencontro com a namorada que saíra de circulação havia um mês, ao saber que a Justiça decretara sua prisão preventiva. Tinha 19 anos, um copo de chope na mão e ideias lascivas na cabeça: além do fim do sumiço, comemorava antecipadamente outra noite de pecados. O castigo chegou primeiro, anunciado por um leve toque no ombro e formalizado por um substantivo: “Polícia”, resumiu um dos quatro homens repentinamente hasteados em torno da mesa.

Usavam os paletós compridos demais e apertados demais que os sherloques brasileiros muito apreciam por se acharem mais altos e menos gordos do que efetivamente são. Depois fiquei sabendo que foram até lá à procura da moça. Resolveram levar-me como brinde ao descobrirem que também era diretor do Caco Livre. Separados, embarcamos em fuscas disfarçados de táxis rumo à sede da PM na Rua Frei Caneca. Nunca mais voltei a encontrá-la.

Isso já vale uma bolsa-ditadura, certo? A coisa não era ideologia nem opção política, mas investimento, constatou Millôr Fernandes. Se muita gente que só ficou presa em congestionamento de trânsito virou bolsista, um dia de cadeia no inverno de 1969 merece imediata reparação em dinheiro vivo. Pois foram quatro dias e meio. Como as horas na gaiola são mais longas, posso arredondar para cinco.

Na noite de 15 de agosto, depois de duas escalas de dois dias no prédio da Aeronáutica ao lado do Aeroporto Santos Dumont e na Base Aérea do Galeão, o major que acabara de me interrogar ordenou que eu desse o fora. Saí com a roupa que usava no momento da captura. COMUNISTA, ele antes havia anotado com letras graúdas e escuras na minha ficha.

Procure esse papel, sopra meu lado escuro ao escutar, de novo, o apito do trem-pagador pilotado pela Comissão de Anistia. A farra não pode parar, há milhares de passageiros a recolher. Aquela anotação em letra de forma pode valer a dianteira na fila dos jornalistas pedintes. Para acomodar-me na poltrona mais espaçosa do vagão, convém esquecer que não fui submetido a sessões de tortura. Melhor lembrar apenas que passei horas a fio de cócoras, mãos algemadas sob a perna, ouvindo perguntas tediosas e redundantes feito letra de samba-enredo. Como estou vivo, não custa caprichar na cara de zumbi e falar com voz de condenado à danação perpétua.

É verdade que meio mundo viveu experiências parecidas. É verdade que nove em 10 militantes do movimento estudantil souberam o que é o silêncio imposto a presos incomunicáveis, o cheiro de animal sem banho, a sensação de impotência absoluta, a vida suspensa no ar. E daí? Que sejam todos premiados. Os contribuintes nem vão notar que mais 1 bilhão saiu pelo ralo. Nenhuma despesa é desperdício se destinada a garantir aos sócios do Clube dos Heróis da Resistência o direito a indenizações milionárias, mensalidades de bom tamanho, empregos federais e outras condecorações em dinheiro.

Como a turma toda, também teria ido longe na vida se escapasse daquele agosto. O diretor da faculdade, que soubera de tudo, avisou em dezembro que me expulsaria se não tratasse já no dia seguinte da transferência para outras paragens. Só o Mackenzie me engoliu. Não engoli o Mackenzie daquele tempo e virei jornalista. Fica estabelecido, portanto, que não pendurei na parede o diploma de bacharel porque a ditadura me perseguiu por motivos políticos.

Só por isso não fui advogado, juiz, desembargador e ministro do Supremo Tribunal Federal. Muita pretensão? Não é: até Nelson Jobim já andou usando a toga. Mereço ser aposentado com o salário de ministro do STF. É pedir demais? Engano: o ex-capitão Carlos Lamarca foi promovido a general depois de morto, o que garantiu uma velhice tranquila à mulher que abandonou.

Argumentos tenho de sobra. Só estão faltando duas coisas. A primeira é achar o número do telefone do doutor Luiz Eduardo Greeenhalgh, que merece a porcentagem que leva de cada indenizado porque ganha todas. A segunda é perder a vergonha

augusto nunes

LULA, O PAPAI NOEL DE DITADORES, SAIU, MAS A CONTA FICOU

O ex-chanceler Celso Amorim e o ex-guerrilheiro José Genoino, o primeiro como ministro da Defesa e o segundo como assessor especial, são exemplos de coragem e patriotismo que servem de estímulo à tropa. Certamente os militares devem estar muito satisfeitos, orgulhosos com a missão que têm de defender o país. O Brasil está muito bem em termo de defesa, assim como está no combate à corrupção (os corruptos estão com tanto medo da repressão contra eles, que o verbo corromper só se conjuga no passado...).

Quando Evo Morales, também conhecido como “Evo Petrobale” ou “Evo Cocale”, com seus bem nutridos soldados de 1,90m de altura, invadiram as instalações da Petrobras na Bolívia e tomaram no grito a propriedade brasileira, Celso Amorim, então ministro das Relações Exteriores, disse a Lula que Morales estava no direito dele. Parece que Lula gostou do que ouviu e nada fez em defesa da estatal brasileira. Como “prêmio” à “coragem” de “Cocale”, Lula perdoou dívida de 52 milhões de dólares da Bolívia para com o Brasil e ainda aceitou que o invasor aumentasse o preço do gás que vende para nós.

Celso Amorim também auxiliou Lula a ajudar o bispo mulherengo Fernando Lugo a cumprir promessa de campanha pela Presidência do Paraguai. O bispo Lugo, que não levava a sério as limitações do sacerdócio e “faturou” umas devotas, engravidando várias delas, elegeu-se presidente do Paraguai prometendo obrigar o Brasil a pagar o “preço justo” da energia que o país dele nos “vende”, em decorrência da sociedade que tem na Hidrelétrica de Itaipu. Lula aceitou a imposição do companheiro guarani e o Brasil passou a pagar 300% a mais pela energia “comprada” do Paraguai.

O Paraguai é sócio do Brasil na Hidrelétrica de Itaipu. Como aquele país consome apenas 5% da energia a que tem direito na sociedade, vendia o restante ao Brasil pelo preço de custo. Fernando Lugo fez campanha e foi eleito, acusando o nosso país de ser explorador. Ele teria razão, se não fosse um pequeno detalhe: o Paraguai não gastou um único centavo com a construção da mega hidrelétrica. Tudo foi suportado pelo contribuinte brasileiro.

Para se ter uma ideia da dimensão de Itaipu, que continua sendo a maior hidrelétrica do mundo, mais de 40 mil operários participaram da obra. Foram 13 anos de construção, sendo gasto 15 vezes mais concreto do que no Eurotúnel que liga a Inglaterra à França. Aliás, 15 mil operários levaram sete anos escavando a construção do Eurotúnel, porém o volume de escavação na construção de Itaipu é 8,5 vezes maior do que o do empreendimento europeu. Itaipu é tão grande que hoje, 26 anos depois de sua construção, o Paraguai só consegue consumir 5% dos 50% da energia que lhe cabe na sociedade.

Nessa sociedade, o país vizinho só entrou com a cara. É como se um empresário convidasse um mendigo para construir um shopping no lugar onde este dormia. O mendigo teria 50% de direito na sociedade, sendo que sua quota financeira no empreendimento seria paga com o faturamento do shopping quando entrasse em funcionamento. Mutatis mutandis (feitos os ajustes necessários), foi isso o que aconteceu no referido empreendimento. O Paraguai não teria a menor condição de arcar financeiramente, pois o investimento representava várias vezes o seu PIB (Produto Interno Bruto). Então o Brasil assumiu o ônus financeiro, sendo que a parte do Paraguai ficou para ser paga com excedente da energia que lhe cabe na sociedade, e não consegue consumir.

Pelo acordo, o Brasil comprava o excedente da energia a preço de custo, sendo que a quitação da dívida do Paraguai ocorrerá no ano de 2023. A compra pelo preço de custo era justa, pois o investimento fora realizado apenas pelo contribuinte brasileiro. Não é razoável o Paraguai, que nada investiu, querer ter lucro em cima do investimento brasileiro. É muito o que aquele país já ganhou, porquanto desde a construção, no início da década de setenta, ele vem se beneficiando, pois milhares de empregos diretos e indiretos contemplaram tanto brasileiros como paraguaios, e a estes só coube o bônus; alem disso, em 2023, com a quitação da dívida na sociedade, o Paraguai será dono de 50% de um empreendimento de muitos bilhões de dólares, várias vezes superior ao seu PIB.

Por ter cedido ao capricho do presidente Paraguaio, Lula onerou o contribuinte brasileiro em 300% do valor da energia adquirida da quota do Paraguai, cujo investimento foi brasileiro. O presente de Lula foi aprovado pelo Congresso Nacional em maio desde ano. A “justificativa” para a aprovação é que o aumento do valor da energia, que representará algumas centenas de milhões de dólares a jorrar nos cofres paraguaios todos os anos, não será repassado ao consumidor, pois os recursos sairão do Tesouro Nacional. A pergunta que se faz é quem banca o Tesouro Nacional? É o Lula com suas palestras? É o Celso Amorim com suas aulas? Ou...

É o espoliado contribuinte brasileiro que trabalha mais de cinco meses por ano somente para pagar impostos e terá mais uma conta a ser suportada em razão dos caprichos megalomaníacos de uma pessoa, que nunca deu duro para estudar (há estudantes no interior da Amazônia que saem de suas casas 11 horas da noite para estudar no outro dia. Lula não precisaria fazer tal sacrifício, mas ele preferiu não estudar...), bem como se aposentou muito cedo, não sabendo como é duro trabalhar para pagar impostos.

A propósito, em apenas oito anos de mandato, Lula endividou o Brasil em um trilhão de reais (dívida pública interna), o que representa mais de seiscentos bilhões de dólares. Em 20 anos de governo, os militares endividaram o país em 100 bilhões de dólares, ou seja, em apenas oito anos, Lula endividou o Brasil seis vezes mais do que os militares endividaram em 20 anos de governo, sendo que os milicos fizeram várias obras gigantescas como, por exemplo, a Hidrelétrica de Itaipu; enquanto Lula apenas prometeu, mas não fez nenhuma obra de porte grande. A infraestrutura do país continua a mesma do século passado. E mais. Ao contrário dos governos Sarney, Collor, Itamar e FHC que passaram por situações de instabilidade econômica, sendo necessário investir em vários planos econômicos, Lula não precisou investir em nenhum plano, pois apenas continuou com o Real.

Pois é, além de Lula ter saído passeando pelo mundo, torrando o dinheiro suado do imposto do contribuinte no luxuoso Aerolula, ele fazia muita “caridade”, perdoando dívidas de países devedores do Brasil. A paixão dele era por ditadores; por exemplo, ele perdoou dívida do Gabão, governado por um ditador, acusado de possuir bilhões de dólares em paraísos fiscais. Se não bastassem a roubalheira com a corrupção interna, os gastos astronômicos com cabide de empregos e exageradas mordomias, o grande “estadista” distribuía benesses mundo a fora. Tudo, claro, custeado pelo contribuinte brasileiro.

Lula, o Papai Noel de ditadores, saiu, mas a conta ficou. A dívida interna está quase chegando a dois trilhões de reais. A externa, que disseram ter sido paga em 2005 (e muita gente acreditou...), está quase chegando a 300 bilhões de dólares. Os efeitos disso repercutem diretamente no emprego das montanhas de recursos arrecadados com os impostos. Só nos cinco primeiros meses do ano, foram arrecadados meio trilhão de reais. Grande parte desse gigantesco recurso deve ter sido utilizada para pagar juros da dívida, principalmente a interna, outra robusta parte deve ter vazado pelo ralo da corrupção, uma parte menor, mas de bom tamanho, deve ter sido utilizada para fazer publicidade, a fim de ocultar a verdadeira realidade, sobrando muito pouco como retorno à sociedade. É por isso que o Brasil está com a infraestrutura do século passado, e a educação, saúde, segurança e outros serviços públicos são prestados em condições piores as de países do Terceiro Mundo.

A propósito, no livro “Viagens com o Presidente”, editora Record, 2ª edição, p.93, está registrado para que gerações futuras saibam, já que a atual parece não querer saber, o critério utilizado pelo ex-presidente Lula para “conquistar o mundo”. O registro consigna a grande importância do atual ministro da

Defesa, Celso Amorim, no magnífico trabalho desenvolvido pelo ex-presidente, que hoje ensina o que fez nas suas palestras. Vejamos o registro:

Nas viagens internacionais, (Lula) tem outra mania. Logo no início do trajeto de volta ao Brasil, chama o ministro Celso Amorim e um oficial da Aeronáutica à sua cabine e, com a ajuda de um grande mapa-múndi, trata de ficar imaginando quais poderiam ser as próximas nações a serem visitadas. A rotina, então, é questionar Amorim sobre as características dos países apontados por ele no mapa, e ao militar pergunta a respeito de questões técnicas das rotas imaginadas, como escalas e trajetórias viáveis à aeronave.”

Como se vê, Celso Amorim, ex-ajudante do Papai Noel de ditadores, foi muito importante no governo passado e agora o será no Governo Dilma, ainda mais contando com o assessoramento do ex-guerrilheiro José Genoino. Para quem não sabe, Genoino participou da chamada Guerrilha do Araguaia, ou melhor, ele quase participou, pois antes mesmo que fosse dado o primeiro tiro, o nosso herói desistiu da luta. Não só desistiu, como ajudou a seus companheiros a desistir.

Havia cerca de 90 guerrilheiros na Selva Amazônica. Os militares não tinham certeza da existência deles, então enviaram cerca de dez homens do serviço de inteligência para a região. Quando os guerrilheiros souberam que os milicos estavam na área, eles fizeram igual àqueles “corajosos” trezentos e poucos bandidos, armados de fuzis, que fugiram do morro igual a galinhas assustadas com medo da raposa, quando dois pequenos tanques com duas dúzias de policiais subiram o morro. Os “valentes” guerrilheiros fizeram o mesmo, tomaram doril e sumiram na densa selva, deixando para trás o acampamento e um faminto cachorro vira lata.

Genoino foi pego no meio do caminho, interrogado pelos milicos, ele disse que se chamava “Geraldo” e que era um caboclo da região. Os militares pediram para ver a mão dele e observaram que era igual a do Lula (a mão do caboclo é grossa, devido ao trabalho duro). “Geraldo” foi conduzido para o acampamento abandonado. Lá chegando foi “dedurado” pelo vira lata que foi para cima dele abanando o rabo e fazendo ruídos característicos de cães que pedem desesperadamente comida. Com a certeza de que “Geraldo” não era Geraldo, os militares disseram que se ele não colaborasse, seus “documentos” seriam extraídos com o próprio facão (ele portava um facão na cintura, quando foi pego) e serviriam de fonte de proteína para o animal faminto.

Apavorado com o “argumento” dos militares, Genoino abriu o verbo. Informou o nome falso que cada guerrilheiro usava, posição que ocupava na guerrilha etc. Além disso, tirou foto e fez declaração a seus companheiros para que se entregassem. O material foi confeccionado em panfletos e jogado de helicópteros no meio da selva. A estratégia funcionou, a maioria se entregou e quem não seguiu o conselho de Genoino virou presunto.

Portanto, Genoino tem todos os requisitos para o importante cargo que exerce, inclusive foi condecorado em maio deste ano com a “Medalha da Vitória”. Ele faz jus à condecoração, pois é um vitorioso, ponha vitorioso nisso...

Com efeito, a experiência e o elevado espírito nacionalista do ex-chanceler Celso Amorim e mais a coragem do ex-guerrilheiro José Genoino, os brasileiros podem ficar tranquilos: a defesa do país está em boas mãos; boas, não, ótimas...

Manoel Pastana, Procurador da República, é autor do livro autobiográfico De Faxineiro a Procurador da República.

CASO EM ABERTO

O ano de 2012 começa com uma porção de coisas que deveriam ter sido resolvidas pelo governo em 2011 e não foram. É natural. Não dá mesmo para resolver tudo, e menos ainda para resolver tudo da maneira mais certa. Robert McNamara, homem que muito mandou e muito errou no governo dos Estados Unidos, durante os sete anos mais complicados da Guerra do Vietnã, dizia que o grande problema dos governos deste mundo é que o dia tem 24 horas. É logicamente impossível, sustentava McNamara, qualquer governo fazer tudo o que precisa ser feito durante as 24 horas diárias que tem para funcionar; não dá tempo, pura e simplesmente. Como não há tempo, não se decide, ou então se decide com pressa – e aí é fatal que se acabem tomando decisões erradas. Tudo fica ainda pior, é claro, quando a essa dificuldade toda se junta a deliberação de não resolver questões que nada têm a ver com o relógio, na esperança de que elas desapareçam sozinhas. O problema, então, não é falta de tempo. É falta de vontade, e para isso não existe remédio.

Em matéria de história não resolvida, poucas se comparam à do ministro Fernando Pimentel, da Indústria e Comércio, que a esta altura poderia perfeitamente estar na condição de ex-ministro e de ex-problema. O que sem dúvida daria mais sossego para o governo e não faria a menor diferença para a indústria ou para o comércio. Mas não, eis que ele continua aí, sobrevivendo no ministério com equipamento de respiração artificial, e servindo de exemplo vivo de um desses surtos de rompimento com a realidade que se tomaram um dos hábitos mais curiosos do governo da presidenta Dilma Rousseff. Como se sabe, segundo revelou O Globo no começo de dezembro, Pimentel recebeu 2 milhões de reais durante os anos de 2009 e 2010, período entre sua saída da prefeitura de Belo Horizonte e sua entrada no ministério Dilma; pelo que disse, esse dinheiro lhe foi pago por clientes privados, em troca de serviços descritos como de “consultoria”. A história, em si, não é boa. Seu principal cliente, pelo que deu para entender, foi a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), conhecido cartório que representa interesses particulares mas se alimenta de dinheiro público para sobreviver, como acontece com suas irmãs espalhadas pelos demais estados brasileiros. Já o próprio Pimentel, na época em que recebeu os seus 2 milhões, era um personagem muito público; embora parte desse tempo, aliás, trabalhou abertamente como um dos chefes da campanha para a eleição de Dilma. Estaria certa uma coisa dessas? Não deu nem para começar a discussão – na verdade, não deu sequer para saber, até agora, se ele fez mesmo o trabalho pelo qual foi pago, ou se apenas recebeu o dinheiro. A presidente, o ministro e todo o governo decidiram, automaticamente, que não havia coisa nenhuma para discutir, informar ou esclarecer. O que aconteceu foi um negócio entre particulares. É confidencial. Ninguém tem nada a ver com isso. Caso encerrado.

No mundo da lógica, normalmente, o procedimento é examinar primeiro os fatos e só depois, com base no que foi constatado nesse exame, chegar a uma conclusão. No governo Dilma Rousseff chega-se primeiro à conclusão – e por aí mesmo se fica.

A consequência, como no episódio das consultorias de Pimentel, é que os problemas não fecham. Como poderiam fechar, se não são respondidas perguntas básicas sobre o que realmente aconteceu? Toda consultoria, no mundo das realidades, exige reuniões entre consultor e consultado, entrevistas com uma porção de gente, apresentações em PowerPoint, gráficos coloridos, curvas disso e daquilo. Mais que tudo, exige a apresentação de um relatório por escrito ao fim do trabalho, com as recomendações do consultor ao cliente. No caso, nem a Fiemg nem Pimentel comprovaram que houve qualquer reunião. Entrevista, apresentação etc. E o relatório final? Isso, pelo menos, existe? Ninguém, até agora, respondeu a nenhuma pergunta a respeito. Outro enigma são as conferências que, segundo a Fiemg, Pimentel fez para seus associados, e que justificariam uma boa parte dos pagamentos que recebeu. De novo, aqui, temos problemas com a realidade. Onde foram dadas essas palestras? Em que dias? A que horas? Quem assistiu a elas? Não se sabe.

A respeito disso tudo, a presidente da República, no fim do ano, fez uma declaração extraordinária. “Se quiser falar, ele fala”, disse Dilma. “Se não quiser, ele não fala”. O governo imagina, ao tratar o público dessa maneira, que está sendo forte. Está sendo apenas incompreensível.

3 de janeiro de 2012
J.R. Guzzo
Fonte: Veja, 04/01/2012

A VERDADE OCULTA

FILHO DE MINISTRO É CAMPEÃO DE EMENDAS NA PASTA DO PAI

DE SÃO PAULO

O ministro Fernando Bezerra Coelho (Integração Nacional) privilegiou seu filho, o deputado federal Fernando Coelho (PSB-PE), com o maior volume de liberação de emendas parlamentares de sua pasta em 2011, informa reportagem de Andreza Matais e Breno Costa, publicada na Folha deste sábado (íntegra disponível para assinantes do jornal e do UOL, empresa controlada pelo Grupo Folha, que edita a Folha).

Coelho foi o único congressista que teve todo o dinheiro pedido empenhado (reservado no Orçamento para pagamento) pelo ministério (R$ 9,1 milhões), superando 219 colegas que também solicitaram recursos para obras da Integração.

Liberado em dezembro, o dinheiro solicitado pelo deputado irá para ações tocadas pela Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Paraíba), uma empresa pública presidida pelo seu tio, Clementino Coelho, irmão do ministro da Integração.

OUTRO LADO

Em nota, o ministério negou que o filho do ministro tenha sido favorecido. Segundo a pasta, outros deputados tiveram "emendas aprovadas em percentuais equivalentes".


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Leia a reportagem completa na Folha deste sábado, que já está nas bancas.
DE SÃO PAULO

NORIEGA: WASHINGTON ENDURECERÁ POSTURA EM RELAÇÃO A CARACAS

Internacional - América Latina

Reportagem sobre as possíveis atividades do Irã na América Latina mostra gravação na qual a consulesa venezuelana Livia Acosta solicitava a um suposto cyberpirata mexicano as chaves de acesso às instalações nucleares nos Estados Unidos.


O ex-sub-secretário de Estado para o Hemisfério Ocidental, Roger Noriega, vaticinou na última sexta-feira um endurecimento da postura de Washington frente à Venezuela, ante o aparecimento de evidências que mostram uma estreita colaboração do governo de Hugo Chávez com o Irã, em atividades que ameaçam a segurança dos Estados Unidos.

Noriega, que tem denunciado insistentemente os riscos da crescente influência do Irã na América Latina, disse a El Nuevo Herald que as evidências, aliadas às pressões exercidas por legisladores norte-americanos, poderiam obrigar a administração de Barack Obama a deixar de lado uma postura que qualificou de passiva e negligente.“Mesmo quando o Departamento de Estado foi negligente ante as atividades do Irã na América Latina, o presidente Obama declarou muito claramente, recentemente, que as ameaças devem ser monitoradas e enfrentadas”, disse Noriega, ao vaticinar a adoção de políticas “mais vigorosas para revelar e neutralizar as ameaças”. Noriega, que disse conhecer detalhes sobre a situação que ainda não foram reveladas, advertiu que as atividades do Irã na América Latina representam uma ameaça grave e que não poderão ser ignoradas pela administração.

“Na medida em que o Poder Executivo descubra estes detalhes preocupantes, não vão ter mais alternativas que atuar com força depois de anos de passividade e negligência. Hoje [a adoção de] simples sanções poderiam não ser suficientes para reverter a grande ameaça que fez metástase em anos recentes”, assinalou. As declarações de Noriega produziram-se no momento em que um número maior de legisladores republicanos expressam indignação ante o que consideram como uma postura extremamente branda, adotada pelo Departamento de Estado frente à Venezuela, e mais recentemente, frente às acusações de que a consulesa da Venezuela em Miami, Livia Acosta, possivelmente participou de um complô iraniano contra os Estados Unidos. Essas acusações, formuladas por uma reportagem da cadeia Univisión, foram reforçadas por documentos obtidos por El Nuevo Herald que identificam Acosta como integrante ativa do Serviço Bolivariano de Inteligência Nacional (SEBIN).

Noriega juntou sua voz a estas críticas na sexta-feira (30.12.2011) e relatou que altos diplomatas norte-americanos mantiveram uma “reunião cordial” com o alto representante da Venezuela em Washington, Angelo Rivero, para assegurar-lhe que, em que pese o escândalo da consulesa venezuelana, o Departamento de Estado aspira a melhorar a cooperação bilateral com a nação sul-americana. “Nossas fontes na Venezuela asseguram que o diplomata (norte-americano) de mais alto grau responsável na Venezuela, parecia estar mais preocupado com a segurança da consulesa em Miami do que com qualquer dano potencial à segurança dos Estados Unidos”, comentou Noriega.

“O mesmo funcionário, que há meses ofereceu privadamente ajuda médica a Hugo Chávez [que padece de câncer], agora está aconselhando diplomatas venezuelanos sobre como proteger seus espiões em nosso território. Este é um comportamento vergonhoso da parte de um diplomata norte-americano comissionado”, acrescentou. O diplomata disse que os legisladores norte-americanos, encabeçados pela representante Ileana Ros-Lehtinen, estão corretos em exigir a imediata expulsão de Acosta, em vista de seus vínculos com os serviços de inteligência da Venezuela e das evidências de que ela estava possivelmente envolvida em um complô iraniano.

A reportagem de Univisión sobre as possíveis atividades do Irã na América Latina mostra uma gravação de Acosta, na qual a consulesa solicitava a um suposto cyberpirata mexicano as chaves de acesso às instalações nucleares nos Estados Unidos. Na gravação, o suposto cyberpirata comenta que forneceu ao Irã as chaves secretas e a localização de cada uma das usinas nucleares dos Estados Unidos, e uma voz atribuída a Acosta expressa: “Deverias me dar isso também (...) para enviá-lo ao presidente, ao chefe da Defesa, melhor, da segurança presidencial, ele é meu amigo”. Os documentos obtidos por El Nuevo Herald mostram que Acosta e o vice-cônsul, Edgard González Belandria, que dirige a emissão de passaportes no consulado em Miami, estão registrados como integrantes ativos do SEBIN na caixa de poupanças do organismo. O SEBIN substituiu a antiga Direção Geral de Serviços de Inteligência e Prevenção (DISIP).

Segundo a relação de contas, à qual se tem acesso fornecendo a cédula de identidade do usuário, ambos os funcionários tinham montantes acumulados na caixa de poupança criada para os empregados do organismo de segurança. Fontes próximas aos organismos de segurança venezuelanos disseram ter conhecimento de que Acosta é integrante do SEBIN, e assinalaram que ela realizou trabalhos de inteligência para esse organismo quando exercia funções diplomáticas no México. Segundo Noriega, a reação do Departamento de Estado ante estas evidências deixa muito a desejar. “O Congresso não deveria investigar só Acosta. Deveria investigar também o Departamento de Estado e outras agências que fracassaram em proteger os Estados Unidos da perigosa agressão empreendida pelo Irã desde a Venezuela, e desde outros lugares do hemisfério”, expressou.

Antonio Maria Delgado, 07 Janeiro 2012

AS DOENÇAS DO MUNDO VIRTUAL CHEGAM POR EMAIL

Para evitar passar adiante algo que verdadeiramente fará mal a seus amigos e parentes, o usuário pode verificar a autenticidade de certos conteúdos da rede.

Não existe pessoa no mundo que não tenha recebido por e-mail uma destas mensagens ou se dado ao trabalho de lê-la, na íntegra, ao menos uma vez. São abaixo-assinados, alertas de crimes ou perigos iminentes, correntes, falsas mensagens bancárias, malas diretas ou pirâmides. É o mal que povoa a internet e nossas caixas de e-mail roubando nosso tempo e paciência.

Um dos alertas, por exemplo, narra em detalhes o perigo de ser paquerado na rua por uma bela mulher e, algumas horas depois, acabar com ela num motel. Esse sonho de consumo acabaria, segundo a corrente recebida, com o incauto desmaiado numa banheira com água gelada e um alerta para não sair dali, uma vez que os rins da vítima haviam sido retirados para transplante.

Sempre acompanhadas de frases afirmativas como “vamos alertar a todos – é sério”, “esta aconteceu no Barra Shopping”, “uma nova modalidade de roubo – muito cuidado”, “leia com atenção e avise parentes, filhos, amigos e vizinhos” ou “isto veio de fonte confiável e pode acontecer com você”, estas lendas urbanas seriam uma espécie de versão eletrônica da mula sem cabeça ou outras superstições sem sentido. Tais mensagens vêm, geralmente, em spam – de origem desconhecida – que recebemos diariamente em nossos e-mails pessoais ou de trabalho. Algumas delas utilizam programas que facilitam ou automatizam a obtenção de endereços e o envio a um grande número de destinatários. Esta mesma ferramenta é utilizada para a disseminação de spywares – vírus que invadem o computador e têm, como objetivo principal, a identificação de senhas pessoais de contas bancárias, de e-mail e outras informações pessoais, secretas e intransferíveis.

Seu amigo traz um vírus de presente

Mas nada impede que um amigo mais impressionável e bem intencionado envie o conteúdo de uma delas para que você, leitor, “não caia num novo golpe” que pode ser, por exemplo, aquele que narra a abordagem de alguém usando muletas e se aproxima com um pedaço de papel nas mãos. Logo em seguida, a “vítima” começa a se sentir mal e perde os sentidos. Pronto, a rede de mentiras acaba de inocular mais um com a droga “que está na moda no Brasil”: a burundanga ou escopolamina.

Fora do fantasioso mundo virtual, o produto butilbrometo de escopolamina, na verdade, é utilizado como um antiespasmódico que, eventualmente, e no máximo, pode causar a sensação de “boca seca”, retenção urinária ou outras pequenas reações. Ocorre que o spam é extremamente dramático e destaca que a escopolamina pode levar à “perda total do livre-arbítrio”, permitindo que criminosos transformem suas vítimas em obedientes zumbis com aparência sóbria – subordinados a esvaziar suas próprias contas bancárias e até fazer sexo com seus algozes. Tem gente que acredita e, quem sabe, chutaria as muletas do primeiro deficiente físico que lhe aparecesse pela frente.

Lendas urbanas, falsas mensagens de bancos e sites de vendas ou tentativas de envolver o usuário em correntes de doações, por exemplo, recebem o nome genérico de “hoax” e buscam explorar o lado emocional do leitor, exibindo fotos – geralmente de crianças doentes – e pedindo dinheiro para o tratamento delas. O hoax pode trazer também ameaças ao leitor ou ainda um link contendo o já citado “spyware” e um inevitável binômio de causa e consequência: “clicou, dançou”.

Para evitar passar adiante algo que verdadeiramente fará mal a seus amigos e parentes, o usuário pode verificar a autenticidade de certos conteúdos da rede. O endereço http://www.symantec.com é mantido pelo fabricante do antivírus Norton e informa sobre novos e falsos vírus e hoax na rede. Função semelhante tem o brasileiro http://www.quatrocantos.com que revela ainda dicas simples para identificar uma mensagem ou link falsos. Uma delas, por exemplo, sugere que se passe a seta do mouse sobre o link “oferecido” pelo remetente e verificar se coincide com o da verdadeira instituição. Se for diferente ou utilizar serviço de provedor gratuito você acaba de descobrir que recebeu uma mensagem falsa. O Quatrocantos destaca também os mais recentes “lançamentos” do mundo do mal, como os e-mails “Não atenda o 9965-0000: o seu telefone será clonado” e “Suco de limão com bicarbonato de sódio cura o câncer” embora disfarçados de prestação de serviço, são, na verdade, os novos vírus da dor de ouvido e do amargor do estômago, respectivamente.

Outra modalidade de hoax traz textos medíocres – e pretensamente intelectualizados – atribuídos a Arnaldo Jabor, Carlos Drummond de Andrade, João Ubaldo Ribeiro, Luis Fernando Veríssimo, Ricardo Boechat ou Zuenir Ventura. Apesar do aspecto inofensivo deste formato, ele traz uma droga perigosa que rouba o que você tem de mais precioso: o seu tempo. E cuidado: alguns conteúdos são tão ruins que podem causar transtornos à inteligência e à paciência. Tais mensagens trazem ainda um grande mistério: por que seus autores perderam tanto tempo redigindo para entregar os direitos autorais a alguém que eles mal conhecem?

Por Claudio Carneiro
04 de janeiro de 2012

COLUNA DO CARLOS CHAGAS

A hora de os soldados voltarem

Por melhores que sejam as intenções e as iniciativas internacionais, um soldado estrangeiro armado transitando em terra estrangeira será sempre considerado inimigo pelas populações locais. Esse é o obstáculo intransponível às chamadas Forças de Paz, de Guerra, Coligações ou sucedâneos espalhadas pelo planeta. Não houve paz enquanto tropas americanas continuaram no Iraque, de onde se diz que saíram, ou continuam no Afeganistão e alhures.

A propósito, é sempre lembrada como exemplo a história daquele jornalista, comunista empedernido, na Itália, que dirigia um pequeno matutino há muito proibido por fascistas e nazistas. Quando as tropas do general Mark Clark estavam nos subúrbios de Roma e os alemães já tinham fugido, os jornais da capital italiana prepararam manchetes patrióticas a respeito da entrada dos soldados: “AMERICANOS, MUITO OBRIGADO!”, “BENVINDOS, SALVADORES DO UNIVERSO!”, “VAMOS APLAUDIR OS DEMOCRATAS QUE CHEGAM!” e coisas parecidas.

Pois o nosso confrade vermelho preparou a primeira página do jornal há tanto tempo proibido com a manchete: “AMERICANOS, FORA DE ROMA!” Era a premonição do que viria depois. Vale o mesmo para a presença brasileira no Haiti, ainda que por enquanto falte a exortação de “BRASILEIROS, GO HOME! Que não tarda a ser impressa.

Até nossa seleção de futebol foi jogar lá, para agradar a população e demonstrar que somos amigos. Não adiantou nada. Fica indignado cada haitiano que vê passar um carro de combate cheio de soldados brasileiros, mesmo que estejam indo apaziguar uma briga interna ou distribuir água ou comida.

Sem falar nos inevitáveis entreveros muitas vezes provocados por maus elementos, quando não por patriotas sequiosos de independência. Está na hora de o governo brasileiro repensar nossa presença naquele infeliz país. Somos invasores, quaisquer que pareçam os bons propósitos de impedir o caos e tentar levar a tranquilidade a uma sociedade posta em frangalhos. E de ajudar em suas piores hora, quando do passado terremoto, da fome permanente e das inevitáveis epidemias.

Nossos contingentes não são tidos como libertadores, mas como invasores e intrusos. Há anos suportamos o ônus de cumprir determinações das Nações Unidas. Está na hora de nossos soldados voltarem. Ainda semana passada morreu um de nossos soldados, em acidente de trânsito. Precisava?

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HORA E VEZ DE TANCREDO

Silvio Tendler, cineasta empenhado em recuperar a memória nacional, já nos deu monumentais documentários sobre João Goulart e Juscelino Kubitschek. Resgatou a trajetória dos dois ex-presidentes e depois dedicou-se a um terceiro, Tancredo Neves. Ajudado pelo jornalista José Augusto Ribeiro, mandou para as telas e telinhas material de primeira qualidade, já se constituindo em contribuição fundamental para o historiador do futuro. E para todos nós, do presente, os que conheceram e os que não conheceram a saudosa raposa política mineira.

Entre mil episódios da vida de Tancredo, vale pinçar um dos que estão sendo apresentados por Silvio Tendler: Tancredo iniciava sua campanha para a presidência da República e conversava, como quase todas as manhãs, com José Hugo Castelo Branco, Francisco Dornelles, Hélio Garcia, Mauro Salles e outros.

Estava sendo um massacre, pois cada um dos interlocutores criticava o candidato, fosse por suas abordagens serenas a respeito de temas político-institucionais, fosse por sua postura amena nos palanques ou até por conta das regiões que precisava e ainda não tinha visitado.

De repente Tancredo levanta-se, dedo em riste e manda que se dirijam porta a fora. Dispensava-os todos, com rispidez. Um deles voltou-se e perguntou: “Para onde nós iremos, dr. Tancredo?” Resposta sutil, à qual seguiu-se uma malicioso toque de humor: “Ora, vão para a campanha do Maluf, que é o lugar de vocês…”

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UM FIO DE ESPERANÇA

Resposta direta ou não ao horror que ainda assola os subúrbios do Rio, apesar das Polícias Pacificadoras, a verdade é que a Polícia Federal, auxiliada pelas polícias de diversos estados, vem apreendendo quantidades jamais imaginadas de cocaína, maconha, crack e outras drogas, bem como prendendo montes de traficantes. É a melhor resposta para enfrentar o crime organizado: atingí-lo no bolso, causando-lhe prejuízos capazes de desarticular suas atividades.

Permanecer no morro e às vezes levando tiros pode tornar-se necessário, mas adianta muito pouco quando se sabe que atrás de um traficante eliminado virão outros, já escolhidos à maneira dos planos de estado-maior nas batalhas. Atacar e destruir suas provisões parece mais inteligente e mais eficaz. E, se possível, invadir os gabinetes refrigerados, no asfalto, dos verdadeiros chefões do tráfico.

Carlos Chagas
07 de janeiro de 2012

REVELADOS OS SEGREDOS DA GUERRILHA DO ARAGUAIA


Após silenciar-se por 35 anos, Sebastião Rodrigues de Moura, o militar responsável pelo ataque final à Guerrilha do Araguaia, revelou onde estão os corpos de guerrilheiros que morreram na batalha e indicou o ex-presidente do PT e deputado federal, José Genuino, como o principal delator dos militantes.

Na maior operação militar realizada pelo país desde a Segunda Guerra Mundial, quatro mil soldados do exército embrenharam-se na floresta amazônica para combater jovens militantes do PCdoB que tentavam introduzir o comunismo no país no início dos anos 70. Estima-se que cerca de 70 insurgentes foram mortos, mas até hoje só um corpo foi encontrado.

Sebastião Rodrigues, popularmente conhecido como Curió, afirmou que muitos corpos estão enterrados na Palestina, cidade localizada a 286 quilômetros de Belém. Outros tantos teriam sido devorados por animais na floresta.

O militar revelou também que só foi possível acabar com a guerrilha devido à traição de militantes, principalmente a de José Genoino. Segundo Curió, o atual deputado entregou seus companheiros assim que foi preso como mensageiro dos guerrilheiros, revelando os codinomes e contando sobre três unidades de combate do movimento.

Procurado pela revista IstoÉ, José Genoino não respondeu aos recados e telefonemas.

Curió afirma ter documentos que comprovam suas declarações e diz que irá revelar detalhes em um documentário e um livro que sairão em breve – coisa que já está prometendo há 20 anos.

SOMOS UM PAÍS RACISTA OU UM PAÍS COM RACISTAS?

Casos como o do restaurante Nonno Paolo são manifestações individuais ou sinais representativos da sociedade? Por Felipe Varne

“Como ter preconceito no Brasil?”, perguntou Camila Pereira, 22, uma das sócias do restaurante Nonno Paolo. O restaurante, no bairro do Paraíso, na Zona Sul de São Paulo, foi acusado por um casal de espanhóis de expulsar, no dia 30 de dezembro, o filho deles, um menino negro de seis anos, adotado na Etiópia. Segundo os pais, ele foi segurado pelo braço e levado até o lado de fora do restaurante, onde foi encontrado, aos prantos, pelo casal.

Existem muitas versões para o caso do Nonno Paolo. Não se sabe se o – agora afastado – funcionário que tirou o menino do restaurante de fato o segurou pelo braço (a versão de Camila conta que a criança, que não fala português, teria se assustado ao ser abordada, e saído por conta própria). De acordo com o delegado Márcio de Castro, da 36ª DP (Vila Mariana), tudo indica que a expulsão foi “em decorrência das características da criança, configurando em tese o delito de preconceito de raça, pois impediram o acesso da criança ao local por causa da sua cor”. Segundo a polícia, na ocasião, um homem que se apresentou como gerente teria confirmado que tirou a criança do local, alegando que a confundiu com um morador de rua.

O caso, e a frase da sócia do restaurante, reabriram a discussão sobre o racismo no Brasil. Apesar de questões como as cotas raciais nas universidades, e as infelizes declarações do deputado federal Jair Bolsonaro (que afirma ter entendido mal uma pergunta da cantora Preta Gil no programa CQC da Rede Bandeirantes) trazerem o assunto à tona de tempos em tempos, o Brasil ainda é visto como uma nação onde a miscigenação conseguiu evitar que o racismo se instalasse de maneira marcante na sociedade (o que não evitaria as eventuais manifestações individuais de racismo que todos conhecemos).

É verdade que no Brasil não há grupos de extrema-direita pregando reduções dos direitos dos negros; que os neonazistas do país não passam de meia dúzia de acéfalos com um bocado de tempo livre; e que, nos anos 1960, quando Martin Luther King falava sobre seu “sonho”, as crianças brasileiras nos mais variados tons de peles já iam à escola juntas há décadas. Diferentemente de locais como o sul dos Estados Unidos, no Brasil nunca houve assentos especiais para negros nos ônibus, ou estabelecimentos com placas proibindo a entrada de negros, ou nada próximo do que se viu no regime do apartheid sul-africano.

É verdade também, segundo pesquisas anuais, que os negros no Brasil recebem salários menores, e formam a maior parte dos desempregados do país. No entanto, esses dados são contestados pela afirmação de que isso acontece não por motivos étnicos, mas sim porque os negros formam a maior parte das classes D e E, e, portanto, são menos escolarizados e menos qualificados para o mercado de trabalho, o que nos levaria de volta ao velho argumento de que o preconceito no Brasil não seria racial, e sim social. Essa afirmação, por sua vez, também é contestada: que motivo – senão o racismo – haveria para que negros formassem a maior parte das camadas menos favorecidas da sociedade?

Ontem, hoje e amanhã existirão pessoas racistas, em todo e qualquer segmento de toda e qualquer sociedade. A pergunta que não quer calar é se casos como o do restaurante Nonno Paolo são expressões individuais de racismo ou se são, de fato, representações significativas da sociedade brasileira. E não há momento melhor para se fazer essa pergunta, do que o atual: o Brasil, esse enorme país povoado por gente de todas as cores, pela primeira vez na história tem uma maioria de negros e pardos, de acordo com o censo oficial. Se somos, de fato, uma sociedade racista, o momento para reverter esse cenário, e criar anticorpos para o futuro, é este.

Caro leitor,

O Brasil é um país racista?

O preconceito existente no Brasil é mais racial ou social?

Os sócios do restaurante Nonno Paolo deveriam ser punidos pela expulsão de um menino negro confundido com menino de rua?

6/01/2012
opinião e notícia

ENQUANTO ISSO, NA SEXTA ECONOMIA DO MUNDO...

Tem alguns ufano idiotas comemorando o fato do Brasil ter sido considerado a "sexta economia" do planeta.
Mas que porra é essa de sexta economia se nosso IDH é de número 84. Se o nosso ranking educacional é 88?

A saúde pública é uma tragédia, metade das cidades do país não tem saneamento básico. E o "hit" do verão será novamente a Dengue, que já é considerada como certa a epidemia no Hell de Janeiro, a cidade que será sede de Olimpíadas e de Copa do Mundo.

E quando chega o verão, o Brasil da sexta economia fica debaixo d'água e com epidemia de Dengue. Este realmente é um país que vai para frente!!
Alguém lembra há quanto tempo o país sofre com a Dengue?

E todos os esforços "sérios" para combater a doença acabam assim que o verão termina. E depois passam mais alguns meses empurrando a situação com a barriga até o próximo ano onde as estatísticas continuarão subindo negativamente.
Centenas de pessoas morrem por conta da doença todos os anos.

E neste ano certamente muitos morrerão, e centenas de milhares ficarão dias a fio sofrendo, por conta da própria falta de educação que não se previne e não ajuda a manter a cidade limpa. E acima de tudo, por conta da corrupção que esvazia os cofres públicos e deixa o povo a própria sorte.
E este ano já está previsto o caos nos "modernos e eficientes" hospitais da sexta economia do planeta.

Se a epidemia vier como o previsto, se preparem, pois quem precisar de atendimento médico vai se phuder duas vezes: Uma por conta da Dengue. E a outra pelo descaso e corrupção que sucatearam os serviços públicos de saúde e arrasaram o país dos idiotas alegres que já estão em ritmo de carnaval. E tome TYLENOL, a Johnson & Johnson agradece a preferência.

Na Bahia tem rebolation, o carnaval por lá já começou e o metrô de Salvador que após 12 anos em construção PODE ser que comece a funcionar antes das próximas eleições em 2012...Já gastaram 700 milhões e só construíram em 12 anos metade da obra, ou seja, 6 KM dos 12 previstos.

Depois reclamam quando dizem que baiano é preguiçoso. E o mais interessante é que o guvernu da Bahia disse que ainda precisa de mais 33 milhões para fazer funcionar os primeiros 6 km que entrarão em funcionamento...algum dia...
walter carrilho

CORRESPONDÊNCIA ENTRE LACERDA E CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

No Natal de 1975, Carlos Lacerda envia bilhete ao poeta, oferecendo um livro da Nova Fronteira, editora que criou:

“Para Carlos Drummond de Andrade, que não gosta de mim, mas certamente gosta de Fernando Pessoa e há de gostar do Otávio Araújo, a Nova Fronteira oferece, Natal de 75, Carlos Lacerda”.

Resposta de Drummond para Lacerda:

“Agradeço-lhe vivamente, e à Nova Fronteira, o magnífico exemplar de ‘Ode Marítima’ de Fernando Pessoa, com que me distinguiram neste Natal. Realmente, é um fino objeto de arte, a que Otávio Araújo deu contribuição relevante, para maior glória do poeta. Parabéns à arte gráfica do nosso país. A afirmação de que ‘não gosto de você’ seria pelo menos exagerada, se não fosse, como é, totalmente errada. Ninguém é indiferente ao ‘charmeur’ fascinante que você é, e mesmo os que supõem detestá-lo, no fundo gostam de você. Gostam pelo avesso, mas gostam. Quanto a mim, tenho presente que fomos bons camaradas na luta perdida da ABDE, e que lhe dei o meu voto para Governador (voto de que não me arrependi, em face dos lances criativos do seu Governo). Apenas, discordei de posteriores atitudes políticas de você, o que é coisa comum na vida, e não afeta relacionamento pessoal. Certo?”

De Lacerda para Drummond, janeiro de 1976:

“Apresso-me em responder à sua pergunta datada de 25 de dezembro. Foi bom que lhe dissesse e ótimo que você falasse, na carta. Haviam-me dito isso, e eu remordia a mágoa, pela muita admiração que lhe tenho, e não só intelectual, pois respeito também a sua maneira de ser, a sua integridade essencial. Transmiti à Nova Fronteira o seu elogio, que será por todos bem, isto é, devidamente bem recebido. Saúde e paz lhe deseja, com um abraço, o Carlos Lacerda.”

07 de janeiro de 2012
José Carlos Werneck

A REPÚBLICA DOS CARTÕES CORPORATIVOS

Como a precariedade no controle dos gastos e a desfaçatez de funcionários do governo desmoralizaram um instrumento criado para dar mais transparência aos gastos públicos.

O mau exemplo começa na Presidência da República, cujas faturas milionárias permanecem secretas.

No mundo real, um cartão de crédito é um instrumento que impõe uma série de regras ao seu portador. Em primeiro lugar, é preciso passar por uma análise da operadora, que definirá o limite a ser autorizado para as despesas.

Quem tenta gastar mais do que pode tem o cartão bloqueado, e quem atrasa o pagamento é punido com juros de até 14% ao mês. No mundo real, um cartão também serve para sacar dinheiro vivo em caixas eletrônicos, mas isso sai caro, já que o banco cobra até 10 reais de taxa fixa por saque, mais os juros até o dia do vencimento da fatura.

Há outro mundo, no entanto, habitado por uma casta de funcionários públicos federais, onde tudo é infinitamente mais fácil. Nele, qualquer um pode ter um cartão corporativo, desde que conte com a simpatia do chefe.

Não há limite para gastos nem para saques em espécie (por lei, o teto das despesas deveria ser definido em cada repartição pública, mas uma série de truques contábeis permite driblá-lo sem maiores problemas).
Seus portadores não precisam se preocupar com as taxas que serão cobradas pelos bancos ou pela operadora, já que o dinheiro não é deles. Ah, sim, também não é preciso esquentar a cabeça com o pagamento da fatura no fim do mês – ele fica a cargo do Tesouro Nacional.

Quanto às eventuais malversações ou "equívocos" cometidos no uso dos cartões, isso é o de menos. A fiscalização dos gastos, como se provou nas últimas semanas, é conduzida com o rigor que já se tornou uma característica do atual governo. O mundo deles, convenhamos, é muito melhor do que o nosso – o real, construído com estudo e trabalho.

Os contribuintes começaram a informar-se do funcionamento desse mundo encantado dos burocratas federais há algumas semanas. Por lei, os cartões de crédito corporativos, adotados pelo governo em 2001, para conferir mais transparência aos gastos dos funcionários públicos, servem para que seus portadores possam fazer face a despesas "esporádicas e emergenciais". Mas está evidente que, na prática, eles se tornaram passaportes para uma verdadeira esbórnia com o dinheiro público.

A primeira descoberta foi a de que alguns ministros se habituaram a usar o cartão a toda hora e da maneira que lhes dava na telha: para comer um lanchinho, fazer compras em free shop, hospedar-se com a família em hotéis de luxo e jantar em restaurantes caros (churrascarias parecem ter a predileção da maioria). Em seguida, soube-se que a bandalha envolvia milhares de funcionários, incluindo os que servem à Presidência da República.

Andre Dusek/AE

Dilma Rousseff: segundo a ministra, gastos da Presidência têm de continuar sigilosos

Na semana passada, VEJA mostrou que até as despensas e adegas do Palácio da Alvorada e da Granja do Torto – residências oficiais da família Lula – vêm sendo abastecidas por meio de cartões corporativos.

Um dos assessores mais próximos de Lula, José Henrique de Souza, usou o cartão em açougues, supermercados, padarias, peixarias e lojas de bebidas.
O caso chama atenção porque manda a lei que os fornecedores da Presidência devem ser escolhidos por licitação – e não por acaso, ou por escolha pessoal de um assessor. Ao longo do ano passado, Souza gastou 115.000 reais com despesas aparentemente bem pouco emergenciais.


No mundo real, trata-se de um bom dinheiro, suficiente para comprar um apartamento de dois quartos em São Paulo.
No mundo encantado, porém, é uma mixaria.

Para se ter uma idéia, dez colegas de Souza no Planalto, responsáveis por dar assistência a Lula e sua família e acompanhá-los em viagens oficiais, gastaram nada menos que 3,7 milhões de reais em 2007. No que eles torraram a mufunfa? É segredo de estado, "questão de segurança", segundo disse a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. O detalhamento dos gastos do despenseiro Souza, por exemplo, só veio à tona graças a um cochilo do governo.

O grupo dos dez não conhece limites. O maior gastador do gabinete presidencial no ano passado foi João Domingos da Silva Neto, com 585.900 reais.

Desde que o PT chegou ao poder, em 2003, ele já fez despesas de 1,3 milhão de reais no cartão oficial – desse total, 181 500 reais foram sacados em dinheiro vivo.

O campeão de gastos no acumulado da gestão petista, no entanto, é Clever Pereira Fialho. Suas faturas, somadas, chegam a 2,4 milhões de reais, dos quais 263 500 reais foram sacados em espécie. Juntos, os dez maiores gastões da secretaria da Presidência foram responsáveis por despesas de 11,6 milhões de reais desde 2003.

Sem licitação, sem controle, sem medo de ser felizes. Tudo sob o manto da "questão de segurança", uma explicação que não resiste à luz da legalidade. "Se a Presidência da República tem gastos, esses gastos devem ser revelados. Não há preceito na Constituição Federal que, interpretado e aplicado, direcione a esse sigilo quanto aos gastos do poder público", afirmou o ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal.

A recusa do governo em detalhar os gastos dos assessores mais próximos do presidente Lula e de sua família não contribui em nada para desanuviar as suspeitas que se acumulam sobre os 11 510 cartões corporativos atualmente nas mãos de 7 145 funcionários públicos do governo federal (alguns têm mais de um). É justificável que os gastos realizados estritamente com a segurança presidencial sejam mantidos em sigilo.

Mas há uma grande diferença entre gastos sigilosos e gastos clandestinos. No modelo atual, não há nenhum controle externo sobre boa parte das despesas da Presidência. Quem faz esse trabalho é um órgão ligado ao gabinete presidencial – ou seja, é a clássica história da raposa tomando conta do galinheiro.

Uma das poucas tentativas de fiscalização do uso do cartão corporativo data de 2003, quando o deputado Carlos Sampaio, do PSDB paulista, pediu à Procuradoria da República esclarecimentos sobre os gastos dos assessores mais próximos de Lula.

Na ocasião, o Tribunal de Contas da União iniciou uma nunca concluída auditoria sobre o tema. Os parquíssimos resultados divulgados até agora revelam, no entanto, que, se algum dia o tribunal decidir empenhar-se na análise do tema, terá muito trabalho.

Sabe-se, por exemplo, que, em 2003, logo no início do governo, assessores palacianos transformaram em uma grande festa uma viagem de Lula ao interior de São Paulo, pagando diárias a pessoas que nem sequer estavam na comitiva oficial e superfaturando o pagamento de hospedagens.

Uma análise superficial de um pacote de notas fiscais emitidas em nome da Presidência da República mostra a existência de fraudes primárias.

A de número 7.987, por exemplo, emitida em 2004 pela empresa Belini Pães e Gastronomia, teve seu valor rasurado de R$ 9,44 para R$ 99,44, como puderam notar os auditores do TCU.

"O que mais preocupa é que essa nota foi encontrada em um trabalho de fiscalização por amostragem, que analisou apenas 2% do total de notas", diz o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP). "É impossível saber quantas fraudes desse tipo foram feitas", conclui.

Celso Junior/AE

O senador Jucá, líder do governo: empenho para criar uma CPI que, em vez de investigar, abafe

Até o momento, os cartões corporativos do governo ora foram usados para desviar dinheiro público, ora para pagar gastos que não deveriam ser bancados por esse sistema. No caso das despesas feitas com cartão oficial pelos seguranças dos filhos do presidente Lula, nada indica que as despesas declaradas não ocorreram.

A única filha do presidente, Lurian Cordeiro da Silva, mora com o marido e dois filhos em um condomínio em Florianópolis. Para protegê-la, o governo alugou uma casa na cidade.
O imóvel funciona como centro de operações de uma equipe formada por meia dúzia de agentes que se revezam na tarefa de proteger Lurian e sua família.
Com essa finalidade, entre abril e dezembro do ano passado, João Roberto Fernandes Júnior, servidor lotado no Gabinete de Segurança Institucional da Presidência, gastou 55 000 reais com um cartão corporativo do governo.

A maior parte das despesas diz respeito a pagamentos em concessionárias de automóveis – referentes à manutenção da frota que serve aos seguranças de Lurian –, casas de ferragens e lojas de aparelhos eletrônicos de segurança, como câmeras e alarmes.

Em uma das lojas, a Dominik, foram compradas peças de ferro usadas na construção de alvos fixos para a prática de tiro. O cartão também bancou a instalação de grades na casa dos seguranças, lanches em padarias e material de escritório.
Ao contrário do que ocorreu com os ministros de Lula, os funcionários a serviço de Lurian não gastaram dinheiro com diversão particular.

O dado espantoso é que um segurança tenha autonomia para ordenar despesas dessa monta – o equivalente a um bom carro zero-quilômetro. Faz parte da boa administração do dinheiro público o critério na escolha de fornecedores e a cotação de preços, condutas normalmente observadas por funcionários especializados em compras – mas não necessariamente por um segurança.

Além de explicar os gastos dos assessores do Planalto – os públicos e os secretos –, a maior dor de cabeça para o governo diante da auditoria do TCU (se ela for para valer) será apresentar notas fiscais capazes de justificar não apenas as compras feitas com os cartões, mas, principalmente, os saques em espécie.

Essa é uma das maiores caixas-pretas da administração Lula. Nos últimos anos, os petistas promoveram uma derrama de cartões oficiais pela máquina pública.

Hoje, os 11 510 cartões válidos estão nas mãos de servidores das mais variadas patentes, de ministros de estado a seguranças, passando por assessores palacianos, motoristas, reitores de universidades, pesquisadores e arapongas dos serviços de informação.

No ano passado, todo esse pessoal sacou 58,7 milhões de reais em dinheiro. No Portal da Transparência – o site do governo que contém os dados sobre os cartões corporativos e se transformou em um hit da internet nas últimas semanas – é simplesmente impossível saber o destino dessa dinheirama.
Com os saques em espécie sendo feitos aos borbotões, os cartões perdem sua função primordial: em vez de facilitar a fiscalização dos gastos públicos, acabam por dificultá-la.

Celso Junior/AE

O ministro Marco Aurélio Mello, do STF: defesa da total transparência

As regras que deveriam orientar o uso dos cartões oficiais não estão claras para a maioria dos servidores. Por incrível que pareça, quem recebe um cartão oficial não é obrigado a assinar nenhum termo de responsabilidade, especificando em quais situações o instrumento pode ser usado. Essa foi a justificativa utilizada pela ex-ministra Matilde "Free Shop" Ribeiro, da Igualdade Racial, obrigada a pedir demissão depois que sua farra com os cartões veio a público.
Ela disse que os usou para pagar despesas pessoais porque não foi orientada corretamente.

A mesma explicação deu o ministro Orlando Silva, dos Esportes, que devolveu 30 800 reais aos cofres públicos – a totalidade de sua fatura em 2006 e 2007 –, para conseguir se manter no cargo. Ou seja, mais uma vez fica demonstrado que não dá para confiar na ética pessoal de cada um. Por isso, as regras precisam ser transparentes, escritas em linguagem simples e, por fim, assinadas por quem ocupa um cargo público.

No setor privado, onde os cartões corporativos surgiram, há normas bem delineadas para controlar os gastos dos executivos. Em geral, não se permitem saques em dinheiro. Quando essa possibilidade existe, o portador do cartão deve se submeter a uma rigorosa prestação de contas, apresentando notas fiscais que justifiquem a retirada.

Em algumas empresas, isso deve ser feito em, no máximo, dez dias. No governo, o prazo é a perder de vista.
Além disso, no mundo empresarial, não se pode usar o cartão em qualquer tipo de estabelecimento, mas apenas naqueles definidos pela empresa.
Em muitos casos, o cartão só fica em poder do funcionário durante viagens a trabalho e é devolvido assim que ele retorna. Os executivos brasileiros que possuem cartões corporativos gastam, em média, 4.000 reais por ano.

Os funcionários do governo federal despendem quase 70% a mais: 6 700 reais, em média. Já entre os servidores da Presidência da República, onde a maior parte dos gastos fica mantida em sigilo, os valores médios saltam para 56 000 reais por ano. Essa diferença mostra claramente que, quanto menor é o controle, maior é a gastança.

A transparência, no entanto, não é uma exclusividade do setor privado. Muitos governos conseguem controlar os gastos de suas autoridades sem maiores problemas. Um dos países onde o controle de cartões corporativos é mais eficiente é a Austrália.
Além de ter sido uma das primeiras nações do mundo a adotar o cartão corporativo, ainda em 1989, a Austrália foi também uma das pioneiras na divulgação de gastos governamentais na internet.

Há uma série de diferenças entre o modelo australiano e o brasileiro. Lá, existe um manual de uso do cartão com regras claras para os gastos. O funcionário que recebe esses cartões tem de assinar um termo de compromisso responsabilizando-se pelo uso.
Isso faz com que o governo possa processá-lo, caso haja abuso de gastos. Também há diversas restrições.

O cartão não pode ser usado para: despesas pessoais, combustível (para isso há um cartão específico), saque de dinheiro (a não ser com permissão por escrito de alguma autoridade), compras em que o funcionário receba vantagens individuais na transação, como aquisição de passagens aéreas com ganho de milhas e gastos que, se fossem pagos em dinheiro ou em cheque, sairiam mais em conta.

Na vizinha Nova Zelândia, o uso dos cartões de forma irregular – para pagar despesas pessoais ou sacar dinheiro em espécie, por exemplo – é causa de punições rigorosas, que vão de descontos na folha de pagamento à perda do cargo ou do mandato.
Na França, até a ex-mulher do presidente Nicolas Sarkozy, Cécilia Sarkozy, teve de devolver um cartão de crédito funcional depois que a imprensa descobriu que ela o havia utilizado para pagar refeições a convidados em restaurantes.

Ao contrário das crises anteriores, quando o governo apenas reagia às denúncias de maneira atabalhoada, desta vez há uma estratégia bem definida. A ministra Matilde Ribeiro foi rapidamente demitida.
E, pela primeira vez na administração Lula, o Palácio do Planalto se antecipou e pediu a instalação de uma CPI para investigar o próprio governo. A idéia foi sugerida ao ministro das Relações Institucionais, José Múcio, pelo líder do governo no Senado, Romero Jucá.
"Como a CPI no Senado era iminente, decidimos que nós mesmos iríamos sugerir a abertura da investigação", diz José Múcio. Por telefone, o ministro consultou o presidente Lula, que está em férias no litoral de São Paulo. "Vamos em frente. Não temos nada a esconder", disse Lula.
O governo avalia que a crise é pequena e passageira se comparada a outros escândalos, como o mensalão.

Teme, porém, as conseqüências políticas, porque considera o assunto de fácil entendimento pela população.

Mordomia de governantes, afinal, é uma das poucas coisas que ainda provocam indignação em muitos eleitores. Mas é uma ingenuidade pensar que o pedido de CPI apresentado pelo Palácio do Planalto é para esclarecer os fatos. Na verdade, não passa de uma estratégia para que a investigação não chegue a lugar algum.

"Propor a CPI nos dá a prerrogativa de estabelecer o foco das investigações – e o foco será amplo", explica José Múcio. Com isso, as despesas do governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso feitas antes da criação dos cartões corporativos foram incluídas no pedido de abertura. A devassa, segundo a proposta, retroage a 1998. O objetivo é esmiuçar todos os gastos com despesas administrativas no segundo mandato de FHC. O governo, evidentemente, não ampliou a investigação por acaso.

Uma equipe de auditores, trabalhando sigilosamente dentro do Palácio do Planalto, já encontrou vestígios de irregularidades em gastos durante a gestão dos tucanos. Por fim, da forma como a CPI foi proposta, as investigações arrastariam para o balaio mais três ex-presidentes da República – José Sarney, Fernando Collor e Itamar Franco. Os ex-presidentes têm direito à segurança oficial depois de deixar o cargo.
As pequenas despesas da equipe também são custeadas com o uso dos cartões de crédito corporativos. Quebrar o sigilo dos gastos de Lula significa estender a medida a todos os ex. "Já tem senador de oposição querendo tirar a assinatura da CPI", diz José Múcio.
A estratégia oficial ainda conta com o trunfo de mostrar que os gastos totais diminuíram no atual governo – e com a esperança de que a oposição "esqueça" que os saques em dinheiro aumentaram exponencialmente.

A fumaça do escândalo sobre o mau uso dos cartões de crédito do governo federal foi detectada pelo Tribunal de Contas da União (TCU) há três anos. De lá para cá, o órgão já realizou três auditorias sobre o caso, mas curiosamente nunca encontrou nada parecido com as maracutaias que vieram a público nas últimas semanas. Na primeira investigação, realizada em 2005, o TCU descobriu que funcionários do Palácio do Planalto, cujas faturas somavam 3 milhões de reais, sacaram 2 milhões em espécie em apenas sete meses.
Em vez de investigar a natureza desses gastos, esmiuçando as notas fiscais que justificavam os gastos em dinheiro, o TCU limitou-se a recomendar ao governo que agisse com mais moderação na boca do caixa.
Ao analisar um conjunto de apenas cinqüenta notas fiscais, porém, uma equipe lotada no gabinete do senador Alvaro Dias (PSDB-PR) encontrou quatro notas fiscais frias. A divulgação dos comprovantes fajutos levou o TCU a abrir a segunda investigação, no início de 2006.

De novo, porém, o tribunal se limitou a confirmar o que já se sabia. Ao detectar as notas frias, o TCU recomendou que os funcionários responsáveis pelo uso indevido dos cartões devolvessem o dinheiro aos cofres públicos. A terceira investigação, que está em curso, apura o uso de cartões de crédito por agentes da Agência Brasileira de Inteligência, a Abin.

Na semana passada, diante das novas revelações sobre o escândalo dos cartões, o TCU anunciou que fará a quarta auditoria. Tudo indica que, de novo, não chegará a lugar algum. "Fiscalizamos as despesas de 12.000 órgãos públicos, mas temos apenas 1.500 analistas. A onipresença, nesse caso, é humanamente impossível", adianta o ministro Ubiratan Aguiar, do alto da experiência de quem já comandou duas investigações fracassadas. O mundo da burocracia federal é mesmo encantado.

Os mais gastões

Órgãos do governo federal

Presidência da República - Com 93 funcionários autorizados a fazer despesas com cartões corporativos, a Presidência da República gastou 5,2 milhões de reais no ano passado, dos quais 10% são referentes a saques em dinheiro. A maior parte dos gastos está justificada no Siafi (sistema eletrônico que relaciona as despesas do governo federal) apenas como "suprimento de fundos", o que torna impossível identificar sua origem

Otávio Magalhães/AE

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - Responsável por 46% dos gastos com cartões corporativos do governo, o IBGE é também recordista no número de servidores que possuem o benefício: 1 746. Gastou 37 milhões de reais no ano passado. Quase 90% desse valor se refere a saques em dinheiro

Haroldo Abrantes/AE

Comando da Marinha - Sozinho, foi responsável por 97% das despesas do Ministério da Defesa pagas com cartão corporativo em 2007. As faturas, que totalizam 915 000 reais, incluem compra de chocolates finos e de pedras brasileiras, além de almoços e jantares

Abin - A Agência Brasileira de Inteligência está entre os líderes de gastos nos cartões corporativos. Em 2007, foram 11,6 milhões de reais, dos quais pelo menos 1 milhão de reais em saques.
Todas as faturas são secretas. Sabe-se apenas que o órgão usa, no mínimo, sessenta cartões

Agências reguladoras

Anvisa, Anatel, ANP, ANTT e Aneel, cinco das 10 agências reguladoras do país, gastaram, juntas, mais de 1 milhão de reais com cartões.
Entre as despesas, constam compras em supermercados, postos de gasolina e artigos para festas. A Anvisa foi a que mais gastou: 288 000 reais — dos quais quase um terço do valor foi sacado em dinheiro

Seguranças dos filhos do presidente Lula

Funcionários que fazem a segurança da família do presidente Lula em São Bernardo do Campo (SP) gastaram 149 000 reais em cartões corporativos no ano passado. Já as faturas apresentadas pelos seguranças de Lurian, a filha do presidente que mora em Florianópolis (SC), somaram 55 000 reais

Ministros

Celso Junior/AE

Matilde Ribeiro - A ex-ministra da Igualdade Racial, campeã nos gastos com cartão corporativo em 2007, acumulou 171 500 reais em despesas, incluindo uma compra num free shop e pagamentos em bares e restaurantes no período em que estava de férias. Caiu no último dia 1º

Marcello Casal/ABR

Altemir Gregolin - Segundo colocado no ranking dos ministros que mais gastaram com o cartão corporativo (22 600 reais), o titular da Pesca usou o recurso para pagar despesas com alimentação e diárias em hotéis durante o Carnaval do Rio de Janeiro no ano passado. Alegou estar lá a serviço, já que o tema de um dos desfiles era o bacalhau

Patricia Santos/AE

Orlando Silva - O ministro do Esporte, terceiro lugar no ranking dos gastões, usou o dinheiro público para pagar, além da própria hospedagem, também a da filha, da mulher e da babá em hotel no Rio. Dos quatro dias em que a família permaneceu na cidade, apenas dois eram úteis. No último dia 2, Silva anunciou a devolução de 30 800 reais aos cofres públicos referente aos seus gastos desde 2006

Como funciona em outros países

Ao contrário do que ocorre no Brasil, a maioria dos governos que utilizam cartões corporativos proíbe o saque em dinheiro.
O número de funcionários autorizados a usar o recurso também é mais limitado, assim como o leque de despesas permitidas

AUSTRÁLIA

Quem está autorizado a usar cartões corporativos: funcionários responsáveis pelo setor de compras e serviços dos departamentos e funcionários que viajam freqüentemente

Quem controla os gastos: Departamento de Tesouro e Finanças do Ministério da Fazenda

Saques: não são permitidos, a não ser mediante autorização por escrito

O que pode ser pago: serviços de comunicação (fax, telefone, correio), despesas de viagem, compras feitas por meio de leilão eletrônico promovido pelo governo e compras que não superem o equivalente a 4 400 dólares

NOVA ZELÂNDIA

Quem está autorizado a usar cartões corporativos: ministros, secretários de estado, diretores de departamento dos ministérios, diplomatas e funcionários cujo cargo exija viagens constantes e participação em compromissos oficiais

Quem controla os gastos: auditorias internas dos ministérios e auditoria externa por um tribunal de contas

Saques: não são permitidos

O que pode ser pago: despesas em viagens e compromissos oficiais


ESPANHA

Quem está autorizado a usar cartões corporativos: ministros e secretários de estado

Quem controla os gastos: auditorias internas e o Ministério da Fazenda

Saques: não são permitidos

O que pode ser pago: exclusivamente despesas em viagens


FRANÇA

Quem está autorizado a usar cartões corporativos: alguns funcionários do primeiro escalãoSaques: não são permitidos

O que pode ser pago: despesas com viagens (passagem, hospedagem, alimentação)

Fábio Portela

A FORÇA REPULSIVA DA NATUREZA E A IMPOTÊNCIA E O DESCASO

Chegamos a um ponto tal, com as notícias de constantes desatres ambientais e mudanças climáticas, que hoje ninguém precisa ser mais grande mestre na área de meio ambiente, em desenvolvimento sustentável ou no estudo dos seres vivos.

É fácil constatar que a emissão inconsequente e progressiva de gases poluentes, o desmatamento e a poluição de rios e mares vêm tornando a Terra, com o consequente aquecimento global provocado pelo efeito estufa, um planeta em progressivo desequilíbrio ecológico, com risco iminente, daqui pra frente, da própria sobrevivência humana e do reino animal. Isso é fato real.

Ainda que por enquanto livre de tsunamis, de grandes tornados e furacões, de permanentes tremores de terra, tipo o que destruiu no passado recente o Haiti, o Brasil é, porém, sinônimo de permanentes catástrofes ambientais, provocadas pelo excesso ou escassez de chuvas, onde o cenário em algumas regiões e cidades do país é simplesmente desolador.

O Rio Grande do Sul, por exemplo, vai decretar calamidade pública (coletiva) em todo o seu território pela falta de chuvas, onde o efeito da longa estiagem se fará sentir fortemente na produção agrícola do feijão, da soja e do milho. Santa Catarina, onde meses atrás sofreu com muitas regiões alagadas pelas chuvas, agora também sente os efeitos da seca, além do Estado do Paraná que já contabiliza os milhões de prejuízos na produção de soja.

Minas Gerais, no outro lado da moeda, tem hoje 87 municípios em situação de emergência pela intensidade das chuvas. Cataguazes está praticamente isolada e quase submersa, atingida intensamente pela cheia de dois rios que circundam a região. No Estado do Rio de Janeiro, mormente nas regiões Norte e Noroeste, cerca de 35 mil pessoas tiveram que deixar suas residências.

Alguns poucos ali permaneceram com receio ( pasmem) de serem roubados no restante dos utensílios que ainda conseguiram salvar. É ação da maldade e insensibilidade humana até em momentos de dificuldade, desolação e tristeza. É a falta absoluta de amor e compaixão de alguns ‘desumanos’ com o próximo. Vergonha e absurdo com todas as letras.

Santo Antônio de Pádua e Itaperuna sofrem fortemente com a ação devastadora do volume de chuvas. No município de Campos – é a terceira vez que ocorre desde 2007 – um trecho do KM 120 da rodovia BR-356, veio a baixo, com o rompimento de um dos diques de contenção do Rio Muriaé.

Quatro mil pessoas foram retiradas às pressas da região e há riscos de que as correntezas do rio atinjam mais cidades do município. Em Friburgo, vítima no ano passado, juntamente com parte de Teresópolis e Itaipava, da maior tragédia ambiental já vista no país, com o desabamento de encostas e deslizamento de terras – houve canalhas que se aproveitaram das verbas das enchentes para roubar -, está em situação de alerta máximo ante a sombria previsão de chuvas intensas para este final de semana na Região Serrana como também nas regiões Norte, Noroeste e Região Metropolitana do Rio de Janeiro.

O fenômeno La Niña vem fazendo o seu estrago e parecemos impotentes ante tamanho desequilíbrio climático. Sequer levamos, com a seriedade devida, a importância do setor de defesa civil no país. Estamos despreparados para enfrentar a força repulsiva e progressiva da natureza. A burocracia e o clientelismo na distribuição de verbas também são bastante evidentes.

A única certeza é que há hoje no Planeta Terra áreas inóspitas à sobrevivência humana e animal. Até onde irão a falta de consciência e o descaso do homem com as permanentes agressões ao meio ambiente? Até onde a natureza permanecerá em sua ação repulsiva e com que intensidade? Com a palavra os líderes mundiais e os doutos em meio ambiente que participarão da RIO + 20. O Planeta Terra pede socorro e é preciso salvá-lo com a devida urgência.

Por enquanto, tudo indica que os desastres ambientais e as mudanças climáticas prosseguirão de forma avassaladora. O homem está em alerta permanente contra a fúria da natureza em seu próprio habitat.

Milton Corrêa da Costa
07 de janeiro de 2012

CHALITA E LURIAN, A DUPLA ESPECIALIZADA EM AUTO-AJUDA

Eu te ajudo, tu me ajudas, nós nos ajudamos...

Gabriel Chalita (PMDB-SP) é um dos fenômenos de auto-ajuda, no sentido de que tudo o que faz é para ajudar a si mesmo.

Foi assim ao dar emprego para a incompetente Lurian, filha do Lula. Para quem não lembra, Lurian fez sumir alguns milhões de uma ONG em Santa Catarina, que eram do Fome Zero.


Era a famosa Rede 13. E usava o cartão corporativo para pagar despesas pessoais. Também é outro fenômeno de auto-ajuda. Agora estão juntos, ajudando-se mutuamente.

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Lurian aproxima Lula de Chalita, já em campanha

Notícia

O pré-candidato do PMDB à Prefeitura de São Paulo, Gabriel Chalita, tem mantido uma agenda ativa neste início do ano. Ontem, ele visitou a favela incendiada na região central da cidade. A situação dos moradores da favela do Moinho impressionou o deputado federal e sua assessora Lurian Cordeiro Lula da Silva, que recorreu à intervenção do pai, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Influenciada por Chalita, Lurian ligou pata Lula enquanto ele era submetido à sua terceira sessão de radioterapia, no Hospital Sírio-Libanês, e conversava com o deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP).

O ex-presidente foi então informado pelo petista que há a possibilidade de o governo federal ajudar os moradores daquela região e que Teixeira pretende voltar à favela nos próximos dias acompanhado de Chalita.

O deputado do PMDB já havia visitado a favela logo após o incêndio do último dia 22, quando 368 barracos pegaram fogo, deixando dois mortos e 1,5 mil pessoas desabrigadas.
Ele nega interesse eleitoral nas recentes visitas. "Não quero usar isso politicamente", rebateu.

07 de janeiro de 2012
DAIENE CARDOSO , GUSTAVO URIBE / AGÊNCIA ESTADO - O Estado de S.Paulo

INCOMPETÊNCIA E POLITICALHA DO GOVERNO PETRALHA

Fernando Bezerra usa ministério para prestigiar base eleitoral da família


Petrolina, reduto eleitoral do titular da Integração Nacional, é a cidade que receberá a maior parte das cisternas compradas pela pasta. Projeto de irrigação beneficia empresas ligadas ao ministro

O município de Petrolina (PE), base eleitoral e cidade natal do ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho, foi escolhido para receber a maior quantidade de cisternas de plástico compradas pelo ministério, dentre as regiões do Nordeste que serão contempladas com os equipamentos. O edital do pregão que resultou na contratação da empresa que vai fabricar as 60 mil cisternas, a um custo de R$ 210,6 milhões, é assinado pelo presidente da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), Clementino de Souza Coelho, irmão do ministro. A Codevasf é uma estatal vinculada ao Ministério da Integração Nacional.

Das 60 mil cisternas, 22.799 (38%) precisam ser entregues na unidade da Codevasf em Petrolina, conforme o edital. Das sete cidades nordestinas previstas no programa para a entrega dos equipamentos, Petrolina — onde Fernando Bezerra já foi prefeito por três vezes — é a que receberá a maior quantidade de cisternas, seguida de Bom Jesus da Lapa e Juazeiro (BA), com 11 mil; Penedo (AL), com 7.429; e Montes Claros (MG), com 7.391 cisternas.

A compra dos equipamentos integra o Plano Brasil sem Miséria, programa que é vitrine do governo da presidente Dilma Rousseff. O Cadastro Único, o mesmo usado para o Bolsa Família, encontrou 738,8 mil famílias em oito estados do Nordeste e em Minas Gerais que precisam de uma cisterna para obtenção da água necessária ao consumo. Conforme a radiografia do cadastro, Pernambuco é apenas o terceiro estado com a maior demanda: 128,6 mil famílias ainda não contam com o equipamento.

A maior necessidade está na Bahia (224,9 mil famílias), seguida do Ceará (185,9 mil). Mesmo assim, Fernando Bezerra e o irmão Clementino privilegiaram Petrolina e região com a destinação de novas cisternas. Clementino e um dos filhos do ministro, o deputado federal Fernando Bezerra Coelho Filho, são pré-candidatos à prefeitura de Petrolina nas eleições deste ano. Enquanto a Bahia, recordista em demandas por cisternas, receberá 11 mil equipamentos de plástico, não há nenhuma previsão de entrega para o Ceará, o segundo estado com maior números de famílias inscritas no Cadastro Único.

A cisterna de plástico que será fornecida pela Dalka do Brasil Ltda., a empresa contratada pela Codevasf, custa duas vezes mais do que as tradicionais cisternas de placa construídas no semiárido nordestino. O custo unitário do equipamento de polietileno é de R$ 3,5 mil, enquanto uma cisterna tradicional custa R$ 1,8 mil (veja arte).

Fábrica

Somados os gastos com transporte, instalação e manutenção, a cisterna de polietileno sairá por R$ 5 mil. A tradicional tem custo final de R$ 2.080, segundo a Articulação no Semiárido (ASA), organização responsável pelo programa de construção de um milhão de cisternas na região, financiado basicamente pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS). A pasta de Fernando Bezerra foi incluída no Programa Água para Todos, do Brasil sem Miséria, e a opção dele foi substituir parte das cisternas tradicionais por equipamentos de plástico.

No mesmo dia em que a Dalka do Brasil Ltda. foi anunciada como vencedora da licitação, em 25 de outubro de 2011, representantes da empresa estiveram na Prefeitura de Petrolina para discutir a instalação de uma unidade da fábrica na cidade. Os executivos da Dalka ressaltaram que “grande parte do volume de entrega (de cisternas) está num raio de 150km de Petrolina”, como consta em notícia publicada no site da prefeitura. A Dalka do Brasil tem o nome fantasia Acqualimp. É, na verdade, a multinacional mexicana Rotoplas, que atua em 16 países da América Latina.

O grupo está no Brasil há 10 anos e foi contratado pela Codevasf em 28 de novembro do ano passado. As primeiras cisternas de plástico estão instaladas. Se antes a construção das cisternas era decidida pela comunidade, a distribuição dos equipamentos de plástico passou a ser definida pelos titulares da Codevasf e do Ministério da Integração Nacional, que privilegiam a região de Petrolina. “Grandes grupos acabam sendo favorecidos. É mais uma ação de clientelismo no Nordeste. O acesso à água é um direito da família ou passa a ser mais uma benesse?”, critica a coordenadora executiva da ASA, Cristina Nascimento. O Correio tentou falar com os representantes da multinacional mexicana no Brasil, contratada para a fabricação das cisternas. Na tarde de ontem, ninguém atendeu os telefones na Dalka do Brasil, sediada em Valinhos (SP).

Com o aval da CGU

O edital do pregão para a contratação da empresa fabricante de cisternas de plástico foi submetido à Controladoria-Geral da União (CGU) e, somente depois, aprovado pela diretoria da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf). É o que sustenta o Ministério da Integração Nacional em nota da assessoria de imprensa enviada ao Correio.

O edital foi assinado pelo irmão do ministro Fernando Bezerra, porque, na ocasião (setembro de 2011), ele respondia interinamente pela presidência da estatal. Clementino de Souza Coelho é diretor de Desenvolvimento Integrado e Infraestrutura da Codevasf desde 2003, segundo a assessoria. É o presidente em exercício da estatal. “O processo obedeceu a todos os princípios de publicidade, foi amplamente divulgado em conformidade com as determinações legais. Não obstante todas as providências adotadas, apenas uma empresa, a Acqualimp, foi habilitada.”

Conforme o ministério, a distribuição das cisternas é definida pelo comitê gestor do Programa Água Para Todos, formado por diferentes pastas, entre elas a de Integração Nacional. O Cadastro Único indica onde estão as principais demandas. “A demanda de Petrolina que será atendida é de 2.658 cisternas. A decisão de situá-las em Penedo (AL), Montes Claros (MG), Teresina (PI) e Petrolina (PE) se deve ao fato de serem os municípios onde se localizam as sedes regionais da Codevasf.”

O pregão foi aberto à participação internacional “tendo em vista o reduzido número de empresas aptas a produzir este equipamento no Brasil”, cita a assessoria do ministério. A opção por cisternas de plástico é para que o governo cumpra a meta de 750 mil equipamentos até 2014, diz a assessoria.

Vinicius Sassine, Correio Braziliense

O DIA DO JUÍZO SOBRE NOSSA CULTURA?

O início do ano oferece a ocasião para um balanço sobre a nossa situação humana neste planeta. O que podemos esperar e que rumo tomará a história? São perguntas preocupantes pois os cenários globais apresentam-se sombrios.

Estourou uma crise de magnitude estrutural no coração do sistema econômico-social dominante (Europa e USA), com reflexos sobre o resto do mundo. A Bíblia tem uma categoria recorrente na tradição profética: o dia do juízo se avizinha. É o dia da revelação: a verdade vem à tona e nossos erros e pecados são denunciados como inimigos da vida.

Grandes historiadores como Toynbee e von Ranke falam também do juízo sobre inteiras culturas. Estimo que, de fato, estamos face a um juízo global sobre nossa forma de viver na Terra e sobre o tipo de relação para com ela. Considerando a situação num nível mais profundo que vai além das análises econômicas que predominam nos governos, nas empresas, nos foros mundiais e nos meios de comunicação, notamos, com crescente clareza, a contradição existente entre a lógica de nossa cultura moderna, com sua economia política, seu individualismo e consumismo e entre a lógica dos processos naturais de nosso planeta vivo, a Terra. Elas são incompatíveis.

A primeira é competitiva, a segunda, cooperativa. A primeira é excludente, a segunda, includente. A primeira coloca o valor principal no indivíduo, a segunda no bem de todos. A primeira dá centralidade à mercadoria, a segunda, à vida em todas as suas formas. Se nada fizermos, esta incompatibilidade pode nos levar a um gravíssimo impasse.O que agrava esta incompatibilidade são as premissas subjacentes ao nosso processo social: que podemos crescer ilimitadamente, que os recursos são inesgotáveis e que a prosperidade material e individual nos traz a tão ansiada felicidade.

Tais premissas são ilusórias: os recursos são limitados e uma Terra finita não aguenta um projeto infinito. A prosperidade e o individualismo não estão trazendo felicidade mas altos níveis de solidão, depressão, violência e suicídio. Há dois problemas que se entrelaçam e que podem turvar nosso futuro: o aquecimento global e a superpopulação humana.

O aquecimento global é um código que engloba os impactos que nossa civilização produz na natureza, ameaçando a sustentabilidade da vida e da Terra. A consequência é a emissão de bilhões de toneladas/ano de dióxido de carbono e de metano, 23 vezes mais agressivo que o primeiro. Na medida em que se acelera o degelo do solo congelado da tundra siberiana (permafrost), há o risco, nos próximos decênios, de um aquecimento abrupto de 4-5 graus Celsius, devastando grande parte da vida sobre a Terra.

O problema do crescimento da população humana faz com que se explorem mais bens e serviços naturais, se gaste mais energia e se lancem na atmosfera mais gases produtores do aquecimento global. As estratégias para controlar esta situação ameaçadora praticamente são ignoradas pelos governos e pelos tomadores de decisões.

Nosso individualismo arraigado tem impedido que nos encontros da ONU sobre o aquecimento global se tenha chegado a algum consenso. Cada pais vê apenas seu interesse e é cego ao interesse coletivo e ao planeta como um todo. E assim vamos, gaiamente, nos acercando de um abismo.

Mas a mãe de todas as distorções referidas é nosso antropocentrismo, a convicção de que nós, seres humanos, somos o centro de tudo e que as coisas foram feitas só para nós, esquecidos de nossa completa dependência do que está à nossa volta. Aqui radica nossa destrutividade que nos leva a devastar a natureza para satisfazer nossos desejos.

Faz-se urgente um pouco de humildade e vermo-nos em perspectiva. O universo possui 13,7 bilhões de anos; a Terra, 4,45 bilhões; a vida, 3,8 bilhões; a vida humana, 5-7 milhões; e o homo sapiens cerca de 130-140 mil anos. Portanto, nascemos apenas há alguns minutos, fruto de toda a história anterior. E de sapiens estamos nos tornando demens, ameaçadores de nossos companheiros na comunidade de vida.

Chegamos no ápice do processo da evolução não para destruir mas para guardar e cuidar este legado sagrado. Só então o dia do juízo será a revelação de nossa verdade e missão aqui na Terra.

Leonardo Boff
07 de janeiro de 2012

O HAITI É AQUI!

Vale a pena ler http://reflexaogeral.blogspot.com/2010/10/haiti-africa-esta-aqui.html, que fala sobre os problemas dos haitianos que saem de seu país e imigram para o Brasil à procura de emprego, comida e direito à saúde. Ao fugir da miséria, representam, hoje, quase 10% dos habitantes de Brasiléia (mapa do final da página).

Em sua página mais recente, há uma troca de idéias muito interessante sobre os estudantes invasores da USP, onde tanto o Fernando Borges quanto o sociólogo Luis Antônio Groppo, expõem suas idéias sobre o assunto.
...
Ainda bem que temos direito a expor nossas opiniões, ao menos por enquanto (*)...

Não vem ao caso ser mais ou menos aceitável a imigração ilegal . O problema é nosso país fazer o mesmo que fazem algumas pessoas que, mesmo sabendo não ter condições de sobreviver, jogam mais filhos pelas ruas. Estimulados principalmente por um governo que precisa ter o povo "comendo" em suas mãos.

O governo não oferece (nunca ofereceu) condições para que os brasileiros tenham um vida decente, principalmente na área da Saúde e da Educação. Muita irresponsabilidadade querer passar a idéia de um país dadivoso ao "adotar" outros povos carentes.


(*) Enquanto Cristina kirchner pretende reescrever a história da Argentina, o governo de Sebastián Piñera decide elimiar a expressão "ditadura militar" dos textos escolares.
Prepotência assustadora na América do Sul, que pretendem transformar, moralmente, numa simples américa de baixo. Que o caranguejo venha nos salvar!

QUE RAÇA, HEIM!!!


Conjunto Raça Negra e Edson Café
- NO PALCO E NA RUA -


NO PALCO:

Show do grupo Raça Negra, quando ainda contava com a participação de Edson Café, um dos criadores do grupo.



NA RUA

Reportagem Vídeo 1 em
http://www.sbt.com.br/sbtvideos/media/?id=2c9f94b534a5f48c0134a8cc9de201f3

Reportagem Vídeo 2 abaixo



O desprezo é uma pílula amarga, que se pode engolir, mas que não se pode mastigar sem fazer caretas. Jean Molière

Amigos são os dentes e, mesmo assim, eles doem.

casa da mãe joana