Quinhentos bilhões de dólares, montante para fazer frente em qualquer orçamento dos países do primeiro mundo.
É metade do Produto Interno Bruto, o PIB do Brasil, a sétima economia da terra. É um mundo de dinheiro. É mais que o movimento financeiro do tráfico internacional de drogas em um ano.
Pois são essas as cifras computadas por empresas de segurança em Rede e por órgãos internacionais, abocanhadas pelos custos causados pela bandidagem virtual, anualmente.
Só no Brasil, no ano de 2010, a empresa de antivírus Norton, acredita que os custos e perdas tenham chegado a 63,3 bilhões de dólares.
Essa estimativa é feita com base em levantamentos realizados pelas polícias, entidades financeiras, empresas de antivírus e outras de fiscalização e controle, internacionais.
As fraudes são multifacetadas. Mas na imensa maioria a identificação é o descuido com procedimentos, mínimos, de segurança desde a pessoa física, passando pelas pequenas empresas até as grandes corporações e governos. Uma das mais comuns, e manjadas, é aquela que pega carona nos fatos. Na esteira dos episódios, principalmente aqueles que tocam a emoção das pessoas, os hackers aproveitam para agir.
Os truques na rede se renovam e os incautos são as maiores vítimas. Os mais populares são aqueles viabilizados através de e-mails que prometem fotos de cenas de sexo, ou fotos que você não pediu e nem conhece, tratando de familiares ou de festas entre conhecidos.
O link, com certeza está carregado de vírus. Se abrir, entrou no inferno. A mesma coisa ocorre com os e-mails que prometem cenas mórbidas dos fatos envolvendo a morte ou outros acontecimentos com grandes ídolos. Os mais famosos que circularam na rede foram e-mails sobre a morte do Michael Jackson e da cantora Amy Winehouse. São habilidosas tramóias destinadas à invasão de milhões de computadores.
Outro filão é velho conhecido na rede. Trata-se de um e-mail que circula comunicando que a Microsoft ou outra grande empresa qualquer, estaria prometendo ou distribuindo algo de graça.
Ou as correntes de ajuda que solicitam serem passadas adiante. Tudo não passa de um apelo aos desavisados para caírem nas garras dos falsificadores, larápios.
Recentemente a polícia inglesa pôs as mãos num jovem de 19 anos de idade na ilha de Shetland na costa nordeste da Escócia. Era Ryan Cleary que usava o apelido na rede de Topiary.
Ele era também um representante dos grupos de hackers Luzsec e Anonymous. Pois não é que a Scotland Yard tinha colocado a mão numa fera poderosa dos crimes virtuais! Era simplesmente um dos membros do grupo que assumiu a responsabilidade pelos ataques aos sites de jogos on-line da Sony, o PlayStation, à News Corporation, a empresa de jornais de Rupert Murdoch no Reino Unido, e ainda da indústria fonográfica britânica e mais outras empresas.
A investigação partiu do território americano, comandada pela CIA, a partir de informações sobre a invasão dos sites da Apple, da Visa e da Mastercard, cartões de crédito, e da empresa de TV Fox News.
Junto com uma entidade de nome SANS, um instituto especializado em segurança de redes, eles identificaram invasões pelo grupo no próprio site da CIA e no site do Senado americano.
Analisando os depoimentos do jovem a polícia inglesa ficou convicta que tinha posto a mão em alguém que era apenas o começo de um caminho que pode levar a um grupo de cerca de 350 mil hackers, pertencentes a diversos grupos espalhados pelo mundo.
A partir da prisão desse jovem britânico, e em consequência da continuidade da investigação, logo após os grupos de hackers Luzsec e Anonymous anunciaram suas dissoluções.
O que não passa tranquilidade para ninguém, pois muitos dos seus membros permanecem por aí, soltos e atuantes.
No Brasil também eles atuam. Não faz muito tempo os sites do governo federal, em Brasília, sofreram ataques pesados, inclusive o site da Presidência da República.
Mais de 20 sites do governo federal e mais de 200 municipais foram invadidos. O mais difícil nesses casos é confirmar as suspeitas de invasões e os danos causados. Governos e empresas não gostam de admitir que ficaram vulneráveis.
Mas, no nosso caso, o Serviço Federal de Processamento de Dados – SERPRO chegou a admitir que o site da Receita Federal e do Portal Brasil, dos ministérios da Cultura e dos Esportes, do IBGE e Infraero também sofreram tentativas de invasão. A admissão veio junto com a ressalva de um diretor do órgão, senhor Gilberto Paganotto.
Segundo ele esse tipo de tentativa de invasão é comum, “ocorre quase que diariamente, e as tentativas já constatadas não geraram nenhum prejuízo ou acesso aos sites”, declinou.
Pode ser que tenha sido assim mesmo. Mas foi pesado. Em pouco mais de duas horas, da meia noite às 3 horas da madrugada de um dia qualquer de junho passado, os sites do governo sofreram 2 bilhões de tentativas de acesso com até 300 mil simultâneos. Paganotto disse ainda, em declaração ao Jornal Valor Econômico, que diariamente se repetem essas tentativas “em menor escala”.
Um hacker, que adotou o codinome Japonês Raul (@japon3sR4ul) já postou no Twitter um comunicado onde dizia:
- Sou programador, atuo na área de roubo a banco. Sou irrastreável por equipes de segurança em Tecnologia de Informação. Tomo seu dinheiro sem por a mão no seu bolso.
Este mesmo hacker já invadiu o e-mail pessoal do atual prefeito de São Paulo e diz que monitora 34 políticos nacionais. O certo é que ninguém, ninguém mesmo, está imune a ação desses gênios do mal. Na maioria das vezes quando você estiver num órgão público ou num banco, ou mesmo numa escola, e ouvir aquela frase “o sistema caiu”.
Não discuta. Ou foi falta de manutenção por parte do responsável ou o sistema foi invadido por um hacker. Prevenir, para o pessoal da área de manutenção de qualquer empresa, é uma luta penosa. Se o sistema está funcionando bem, a área que libera o dinheiro custa a crer que pode ser ameaçada numa madrugada qualquer e que para evitar isso é necessário mexer no orçamento e liberar um bom dinheiro que fará falta na previsão geral da instituição.
Eles nunca acreditam. Mas todo o cuidado é pouco e toda a defesa e prevenção são oportunas e bem vindas nesse caso.
30 de novembro de 2011
aleluia e companhia
Um painel político do momento histórico em que vivem o país e o mundo. Pretende ser um observatório dos principais acontecimentos que dominam o cenário político nacional e internacional, e um canal de denúncias da corrupção e da violência, que afrontam a cidadania. Este não é um blog partidário, visto que partidos não representam idéias, mas interesses de grupos, e servem apenas para encobrir o oportunismo político de bandidos. Não obstante, seguimos o caminho da direita. Semitam rectam.
"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)
"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
domingo, 22 de janeiro de 2012
FRUSTRAÇÕES AO RITMO DO BOLERO DE RAVEL...
As frustrações de Lula parecem até o som do Bolero de Ravel: vão se avolumando.
Primeira frustração: filme foi fracasso de bilheteria
Além de ser obrigado a deixar o cargo, poder, viagens, ostentação, o ex-presidente Lula se viu no meio de diversas frustrações. Tudo começou quando ainda era presidente, no lançamento do filme sobre sua vida.
Foi tapeação em cima de tapeação que não recebeu atenção do público. Só mesmo um megalômano alucinado poderia imaginar que brasileiros trocariam o chopp de domingo para ficar horas em fila de cinema para ver a história da carochinha que já estavam fartos de ouvir o próprio Lula contar pelo mundo afora.
O filme, segundo esperavam, seria visto por uns 20 milhões de espectadores; foi o filme mais caro produzido até hoje; teve farta publicidade; foram confeccionadas cerca de 430 cópias. Porém, com tudo isso, o filme fracassou miseravelmente
(http://www.mdig.com.br/index.php?itemid=10236, Metamorfose Digital
Segunda frustração - Saída sem cho-ro-rô
A vaidade de Lula saiu do governo de cabeça baixa, pois a megalomania esperava multidões aglomeradas pelas ruas de Brasília, chorando inconsolavemente a perda do presidente que se dizia deus, mesmo sabendo que ele seria substituído pelo seu 'continuísmo', como ele mesmo afirmava há mais de um ano antes do prazo permitido para propaganda política .
Terceira frustração - pupila tem vontade própria
Depois que Dilma Rousseff o substituiu na presidência, certamente Lula teve surpresa dupla:
1 - Ao escolher uma candidata que jamais havia se candidatado nem a um simples emprego público, tinha certeza de vê-la meter os pés pelas mãos; "ter que enfrentar" os brasileiros insatisfeitos arrancando os cabelos aos gritos de "Volta, Lula, por favor! ela é ótima, mas precisamos de você!". Mais uma vez não acontecenteu o que esperava.
2 - O comportamento de Dilma ficou muito diferente do que imaginara. Embora ainda se mostre sua pupila e o use em casos de dúvidas, não aceitou o papel de simples marionete. A presidente é ela, não ele.
Quarta frustração
Assim que deixou de ser presidente da República, Lula se transformou num homem de saúde debilitada, obrigado a fazer sessões de quimioterapia.
Sua aparência ficou completamente diferente, ao raspar cabelo, barba e bigode. Ao menos fisicamente ficou despersonalisado.
Pior, assim que soube do câncer, antes mesmo de falar com amigos e parentes, Lula correu para fazer um vídeo comentando o assunto e chamou logo a imprensa.
Resultado: nenhum, porque seus fiéis eleitores nem se abalaram com seu problema de saúde.
Quinta frustração, a mais recente
"A presidente Dilma Rousseff atingiu no fim do primeiro ano de seu governo um índice de aprovação recorde, maior que o alcançado nesse estágio por todos os presidentes, inclusive Lula, informa reportagem de Bernardo Mello Franco, publicada na Folha deste domingo." Nada pior do que uma frustração como essa para um megalômano.
AGORA, VAMOS ÀS APOSTAS
Em PERCA TEMPO - O BLOG DO MURILO (http://avaranda.blogspot.com/2012/01/cade-ala-dos-mensaleiros-revista-epoca.html), temos a história da Escola de Samba que escolheu Lula como tema para o desfile deste ano. Depois de ler o artigo, é apostar e depois conferir: SERÁ A PRÓXIMA FRUSTRAÇÃO DE LUÍS INÁCIO?
Quem sabe o desfile será a sexta grande frustração do ex-presidente?
I - Não poder aparecer no desfile;
II - ver a escola não ganhar, mesmo sendo ele o "tema";
III - ver a escola de samba perder o desfile mesmo que ele seja o tema e esteja presente.
21 de janeiro de 2012
casa da mãe joana
ERA SÓ O QUE FALTAVA...
A ciência descobre cada vez mais benefícios da nicotina
É claro que fumar faz mal, não há a menor dúvida sobre isso. Mas também não existe mais dúvida de que a nicotina faz bem para uma série de problemas e doenças. A começar pelas doenças degenerativas do cérebro, como Mal de Parkinson ou Alzheimer.
Já estava cientificamente comprovado que a nicotina é um poderoso estimulante cerebral, o que explica a resistência maior dos fumantes a essas doenças degenerativas. Agora surge a informação de que idosos com problemas de memória podem se beneficiar de uma terapia que inclui pequenas doses de nicotina, revela um estudo realizado nos Estados Unidos.
A pesquisa divulgada parcialmente na revista Neurology, da Academia Americana de Neurologia, analisou 74 não fumantes com idade média de 76 anos. A metade recebeu um adesivo de nicotina na pele durante seis meses e o outro grupo, apenas placebo (medicação sem efeito).
Os idosos submetidos ao tratamento com nicotina apresentaram melhores resultados em testes cognitivos de atenção e memória, além de maior rapidez e coerência para processar informações.
Após seis meses com o adesivo de nicotina, o grupo “recuperou 46% do rendimento normal para a idade na memória de longo prazo, enquanto o ‘grupo placebo’ teve uma queda de 26% no mesmo período”, destaca o estudo.
Os autores do trabalho advertem que os idosos não devem começar a fumar para melhorar sua função cerebral, e que serão necessárias mais pesquisas para confirmar os efeitos positivos da nicotina a longo prazo. Ou seja, a nicotina deve se assimilada através de adesivos.
Também é pouco provável que a nicotina ajude as pessoas que já têm boa memória, destacou o autor do estudo Paul Newhouse, diretor do Centro de Medicina Cognitiva da Universidade do Vanderbilt Medical Center.
“Se já está funcionando bem, não é necessária, mas se há declínio, a nicotina pode devolver parte da boa memória. Um pouco dela faz com que o desempenho melhore”, disse Newhouse.
Carlos Newton
21 de janeiro de 2012
É claro que fumar faz mal, não há a menor dúvida sobre isso. Mas também não existe mais dúvida de que a nicotina faz bem para uma série de problemas e doenças. A começar pelas doenças degenerativas do cérebro, como Mal de Parkinson ou Alzheimer.
Já estava cientificamente comprovado que a nicotina é um poderoso estimulante cerebral, o que explica a resistência maior dos fumantes a essas doenças degenerativas. Agora surge a informação de que idosos com problemas de memória podem se beneficiar de uma terapia que inclui pequenas doses de nicotina, revela um estudo realizado nos Estados Unidos.
A pesquisa divulgada parcialmente na revista Neurology, da Academia Americana de Neurologia, analisou 74 não fumantes com idade média de 76 anos. A metade recebeu um adesivo de nicotina na pele durante seis meses e o outro grupo, apenas placebo (medicação sem efeito).
Os idosos submetidos ao tratamento com nicotina apresentaram melhores resultados em testes cognitivos de atenção e memória, além de maior rapidez e coerência para processar informações.
Após seis meses com o adesivo de nicotina, o grupo “recuperou 46% do rendimento normal para a idade na memória de longo prazo, enquanto o ‘grupo placebo’ teve uma queda de 26% no mesmo período”, destaca o estudo.
Os autores do trabalho advertem que os idosos não devem começar a fumar para melhorar sua função cerebral, e que serão necessárias mais pesquisas para confirmar os efeitos positivos da nicotina a longo prazo. Ou seja, a nicotina deve se assimilada através de adesivos.
Também é pouco provável que a nicotina ajude as pessoas que já têm boa memória, destacou o autor do estudo Paul Newhouse, diretor do Centro de Medicina Cognitiva da Universidade do Vanderbilt Medical Center.
“Se já está funcionando bem, não é necessária, mas se há declínio, a nicotina pode devolver parte da boa memória. Um pouco dela faz com que o desempenho melhore”, disse Newhouse.
Carlos Newton
21 de janeiro de 2012
REFLEXÕES SOBRE O ESTUPRO NA TV E A EXISTÊNCIA DE PROGRAMAS IMBECIS COMO O BBB
É impressionante o sucesso de programas como Big Brother Brasil e assemelhados. O segredo é o incentivo ao sonho.
Hipoteticamente, qualquer um poderia participar, basta se inscrever. Mas sabe-se que não é bem assim. Há critérios para a escolha, não se trata de sorteio. O povão é enganado logo ao fazer a inscrição. Mesmo assim, muita gente assiste, sonha em estar lá e torce para os participantes que mais agradam.
O imbecilidade funciona. Assiste quem quer, ninguém é obrigado. Na fase atual, a grande atração é o tal do estupro não comprovado. Para ganhar audiência, a direção do programa expulsou um dos participantes, acusando-o de estupro, embora a jovem que participou do namoro debaixo do edredon não o tenha confirmado. Não se sabe se houve sexo, o rapaz diz que broxou, a garota não lembra de nada, os dois estavam de porre, em função da bebida fartamente distribuída pela direção do programa, que incentiva a embriaguez.
Agora, o tal estuprador quer voltar ao BBB. Seu advogado exige, mas a TV Globo não concorda. Resultado: a emissora se arrisca a encarar um belo processo judicial de indenização. Afinal, manchou a imagem do rapaz, que passou a ser tido como estuprador, retirou-o da disputa, sem direito de defesa. Qualquer advogado mediano pode fazer uma festa com esses argumentos.
Os advogados da TV Globo já sentiram o tamanho do problema, mas a direção da emissora não volta atrás. Enquanto a polêmica não chega à Justiça, o ideal é seguirmos a sugestão do comentarista Joaquim Barreto, boicotando não somente os patrocinadores, mas a própria emissora. Uma boa alternativa.
22 de janeiro de 2012
Carlos Newton
Hipoteticamente, qualquer um poderia participar, basta se inscrever. Mas sabe-se que não é bem assim. Há critérios para a escolha, não se trata de sorteio. O povão é enganado logo ao fazer a inscrição. Mesmo assim, muita gente assiste, sonha em estar lá e torce para os participantes que mais agradam.
O imbecilidade funciona. Assiste quem quer, ninguém é obrigado. Na fase atual, a grande atração é o tal do estupro não comprovado. Para ganhar audiência, a direção do programa expulsou um dos participantes, acusando-o de estupro, embora a jovem que participou do namoro debaixo do edredon não o tenha confirmado. Não se sabe se houve sexo, o rapaz diz que broxou, a garota não lembra de nada, os dois estavam de porre, em função da bebida fartamente distribuída pela direção do programa, que incentiva a embriaguez.
Agora, o tal estuprador quer voltar ao BBB. Seu advogado exige, mas a TV Globo não concorda. Resultado: a emissora se arrisca a encarar um belo processo judicial de indenização. Afinal, manchou a imagem do rapaz, que passou a ser tido como estuprador, retirou-o da disputa, sem direito de defesa. Qualquer advogado mediano pode fazer uma festa com esses argumentos.
Os advogados da TV Globo já sentiram o tamanho do problema, mas a direção da emissora não volta atrás. Enquanto a polêmica não chega à Justiça, o ideal é seguirmos a sugestão do comentarista Joaquim Barreto, boicotando não somente os patrocinadores, mas a própria emissora. Uma boa alternativa.
22 de janeiro de 2012
Carlos Newton
BRASIL SERÁ JULGADO NA OEA POR FALTA DE PAGAMENTO DE PRECATÓRIOS
Sempre atento, o comentarista Carlo Germani chama nossa atenção para a importância da reportagem de Débora Santos, do site global G1, anunciando que a Organização dos Estados Americanos (OEA) aceitou uma denúncia contra o governo brasileiro e vai julgar se a União viola os direitos humanos com a demora no pagamento dos precatórios, que são dívidas públicas resultantes de condenações judiciais.
A denúncia foi feita à OEA em 2006 por um grupo de funcionários da Prefeitura de Santo André (SP), que conseguiu na Justiça o direito ao pagamento de complementação salarial autorizada em lei.
Os servidores dizem que ainda não receberam o benefício atrasado, que, segundo eles, deveria ter sido pago até o final de 1999, por determinação da judicial. A denúncia também ressalta que não havia na Justiça brasileira meios para executar o pagamento dos precatórios.
A Prefeitura de Santo André alegou no processo que os funcionários não poderiam ter recorrido ao órgão internacional porque ainda haveria formas de recorrer à Justiça para reverter a decisão sobre o pagamento.
Apesar dessa argumentação, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), órgão da OEA que analisa esse tipo de caso, considerou que não existem na legislação brasileira “recursos judiciais efetivos para assegurar o pagamento de precatórios devidos pelo estado”.
Com isso, o governo brasileiro será julgado na OEA pela acusação de violar pontos da Convenção Americana de Direitos Humanos que tratam da garantias e da proteção judiciais e do direito à propriedade privada.
Segundo a convenção, toda pessoa tem direito a ser ouvida, com as devidas garantias e dentro de um prazo razoável, por um juiz ou tribunal competente, para que se determinem seus direitos ou obrigações e tem direito também a um recurso simples e rápido, perante os juízes ou tribunais competentes, para se proteger contra atos que violem direitos fundamentais.
###
AÇÕES CONTRA O CALOTE
Tramitam no Supremo Tribunal Federal quatro ações contra a Emenda Constitucional nº 62, editada em 2009, que ficou conhecida como PEC do Calote por permitir o parcelamento dos precatórios dos estados, Distrito Federal e municípios em 15 anos.
A emenda do senador Renan Calheiros (PMDB-AL) também alterou a forma de correção monetária desses títulos, permitiu formas de compensação e reservou percentuais mínimos nos orçamentos dos municípios (entre 1% e 1,5%) e dos estados (entre 1,5% e 2%) para quitar as dívidas.
Em outubro do ano passado, o relator das ações no Supremo, ministro Ayres Britto, defendeu que sejam derrubados os principais pontos da emenda. Após o voto do relator, o julgamento foi interrompido pelo pedido de vista do ministro Luiz Fux e não tem data para ser retomado. Em junho de 2011, a análise do caso pelo STF já havia sido adiada por falta de quórum.
Para Ayres Britto, o princípio da moralidade administrativa, previsto na Constituição, pressupõe o pagamento das dívidas do Estado. Segundo ele, a emenda Calheiros significa que os débitos doS estados devem ser pagos “quando e como” o governo quiser e revela “falta de compromisso dos governantes com o cumprimento de decisões judiciais”.
22 de janeiro de 2012
tribuna da internet
A denúncia foi feita à OEA em 2006 por um grupo de funcionários da Prefeitura de Santo André (SP), que conseguiu na Justiça o direito ao pagamento de complementação salarial autorizada em lei.
Os servidores dizem que ainda não receberam o benefício atrasado, que, segundo eles, deveria ter sido pago até o final de 1999, por determinação da judicial. A denúncia também ressalta que não havia na Justiça brasileira meios para executar o pagamento dos precatórios.
A Prefeitura de Santo André alegou no processo que os funcionários não poderiam ter recorrido ao órgão internacional porque ainda haveria formas de recorrer à Justiça para reverter a decisão sobre o pagamento.
Apesar dessa argumentação, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), órgão da OEA que analisa esse tipo de caso, considerou que não existem na legislação brasileira “recursos judiciais efetivos para assegurar o pagamento de precatórios devidos pelo estado”.
Com isso, o governo brasileiro será julgado na OEA pela acusação de violar pontos da Convenção Americana de Direitos Humanos que tratam da garantias e da proteção judiciais e do direito à propriedade privada.
Segundo a convenção, toda pessoa tem direito a ser ouvida, com as devidas garantias e dentro de um prazo razoável, por um juiz ou tribunal competente, para que se determinem seus direitos ou obrigações e tem direito também a um recurso simples e rápido, perante os juízes ou tribunais competentes, para se proteger contra atos que violem direitos fundamentais.
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AÇÕES CONTRA O CALOTE
Tramitam no Supremo Tribunal Federal quatro ações contra a Emenda Constitucional nº 62, editada em 2009, que ficou conhecida como PEC do Calote por permitir o parcelamento dos precatórios dos estados, Distrito Federal e municípios em 15 anos.
A emenda do senador Renan Calheiros (PMDB-AL) também alterou a forma de correção monetária desses títulos, permitiu formas de compensação e reservou percentuais mínimos nos orçamentos dos municípios (entre 1% e 1,5%) e dos estados (entre 1,5% e 2%) para quitar as dívidas.
Em outubro do ano passado, o relator das ações no Supremo, ministro Ayres Britto, defendeu que sejam derrubados os principais pontos da emenda. Após o voto do relator, o julgamento foi interrompido pelo pedido de vista do ministro Luiz Fux e não tem data para ser retomado. Em junho de 2011, a análise do caso pelo STF já havia sido adiada por falta de quórum.
Para Ayres Britto, o princípio da moralidade administrativa, previsto na Constituição, pressupõe o pagamento das dívidas do Estado. Segundo ele, a emenda Calheiros significa que os débitos doS estados devem ser pagos “quando e como” o governo quiser e revela “falta de compromisso dos governantes com o cumprimento de decisões judiciais”.
22 de janeiro de 2012
tribuna da internet
NA GESTÃO DE LUCIANO COUTINHO, BNDES FAVORECE E PRIVILEGIA MULTINACIONAIS, BANCOS E GRANDES CORPORAÇÕES
A atuação do BNDES precisa ser analisada em profundidade e revista pelo governo, pelo Congresso e pelo Tribunal de Contas da União. Da forma como vem funcionando, o importantíssimo banco de fomento está se tornando um expressivo fator de endividamento da União.
Desde que assumiu a presidência do BNDES, em abril de 2007, o economista Luciano Coutinho vem conduzindo equivocadamente o banco estatal, beneficiando multinacionais, instituições financeiras e megacorporações, que são aquinhoadas com generosos empréstimos de 6% ano, ou seja, inferiores à própria inflação do período, e ainda ganham prazo de carência para pagar.
Por sua ligação direta com o ex-presidente Lula, Luciano Coutinho tornou-se uma espécie de cidadão acima de qualquer suspeita. Ninguém se mete com ele. Hipoteticamente, seu superior imediato seria o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, que está totalmente desmoralizado e já não manda nem mesmo no garçom que lhe serve cafezinho. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, também não dá ordens a Luciano Coutinho. E a presidente Dilma Rousseff, idem idem. Portanto, somente Lula poderia enquadrar Coutinho. Mas como o ex-presidente da República não entende nada de economia, estamos conversados, e la nave va.
Há alguns dias, o jornal Valor anunciou que o Tesouro Nacional estuda novos aportes ao BNDES. Segundo a matéria, na gestão Coutinho o BNDES recebeu repasses da União no valor de R$ 22,8 bilhões em 2008, R$ 100 bilhões em 2009, R$ 105 bilhões em 2010 e R$ 55 bilhões em 2011, dos quais R$ 10 bilhões estão sendo liberados agora.
Isso significa que o governo está se endividando para privilegiar grandes empresários, pois os R$ 282,2 bilhões repassados ao BNDES em apenas 4 anos foram obtidos mediante emissão de títulos públicos da dívida interna, que pagam juros superiores a 10% ao ano. E o pior é que o BNDES desenvolve uma gestão catastrófica: em 2011, por exemplo, os recursos aumentaram, mas os desembolsos do banco diminuíram, encolhendo 17%.
Detalhe importantíssimo: no BNDES, os juros para micros, pequenas e médias empresas é muito maior do que os cobrados às grandes corporações. As micros e pequenas empresas que usam o cartão BNDES pagam mais do que o dobro dos juros cobrados às multinacionais, bancos e megacorporações. Não é preciso dizer mais nada.
Carlos Newton
22 de janeiro de 2012
Desde que assumiu a presidência do BNDES, em abril de 2007, o economista Luciano Coutinho vem conduzindo equivocadamente o banco estatal, beneficiando multinacionais, instituições financeiras e megacorporações, que são aquinhoadas com generosos empréstimos de 6% ano, ou seja, inferiores à própria inflação do período, e ainda ganham prazo de carência para pagar.
Por sua ligação direta com o ex-presidente Lula, Luciano Coutinho tornou-se uma espécie de cidadão acima de qualquer suspeita. Ninguém se mete com ele. Hipoteticamente, seu superior imediato seria o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, que está totalmente desmoralizado e já não manda nem mesmo no garçom que lhe serve cafezinho. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, também não dá ordens a Luciano Coutinho. E a presidente Dilma Rousseff, idem idem. Portanto, somente Lula poderia enquadrar Coutinho. Mas como o ex-presidente da República não entende nada de economia, estamos conversados, e la nave va.
Há alguns dias, o jornal Valor anunciou que o Tesouro Nacional estuda novos aportes ao BNDES. Segundo a matéria, na gestão Coutinho o BNDES recebeu repasses da União no valor de R$ 22,8 bilhões em 2008, R$ 100 bilhões em 2009, R$ 105 bilhões em 2010 e R$ 55 bilhões em 2011, dos quais R$ 10 bilhões estão sendo liberados agora.
Isso significa que o governo está se endividando para privilegiar grandes empresários, pois os R$ 282,2 bilhões repassados ao BNDES em apenas 4 anos foram obtidos mediante emissão de títulos públicos da dívida interna, que pagam juros superiores a 10% ao ano. E o pior é que o BNDES desenvolve uma gestão catastrófica: em 2011, por exemplo, os recursos aumentaram, mas os desembolsos do banco diminuíram, encolhendo 17%.
Detalhe importantíssimo: no BNDES, os juros para micros, pequenas e médias empresas é muito maior do que os cobrados às grandes corporações. As micros e pequenas empresas que usam o cartão BNDES pagam mais do que o dobro dos juros cobrados às multinacionais, bancos e megacorporações. Não é preciso dizer mais nada.
Carlos Newton
22 de janeiro de 2012
RADICAIS AMERICANOS DIZEM QUE OBAMA JÁ IMPLANTOU O SOCIALISMO NOS ESTADOS UNIDOS
Há muitas críticas à atuação da Casa Branca. Notícia fresquinha do que se passa na mente dos arautos da direita radical pode ser deduzida do que foi divulgado sexta-feira. Trata-se do que eles acusam de estar sendo proposto pelo Partido Democrata, que, “durante 40 anos já interfere na economia desta nação”. É o Reasonable Profit Board (Decisão sobre Lucro Razoável, ou Controle sobre Lucro Razoável).
Se uma Companhia ultrapassa a margem de 8,5% de lucro, o que passa disso é submetido a 100 por cento de taxas. E o principal alvo é a indústria petrolífera. “Essa é a ideia democrata nesta eleição”, dizem os do GOP (Great Old Party).
Proclamam os radicais da direita que isso é a destruição do capitalismo e a completa implantação do socialismo, promovida pelo Partido Democrata.
“É a implantação da democracia socialista marxista”, dizem. Acrescentam que Barack Obama é mais perigoso para este pais do que foi a União Soviética com sua ameaça nuclear.
Palavras de um radialista da Fox News sexta-feira pela manhã: “Não posso acreditar que neste paíss os democratas estejam defendendo o Reasonable Profit Board. Barack Obama é um revolucionário marxista”.
Comentários de um ouvinte: “O comunismo corroeu a democracia e está corroendo a economia desta nação”.
Sou apenas um observador dos fatos. Não sei o que os comentaristas da Tribuna pensam sobre o assunto. Mas não entendo como alguns ainda consideram que o governo de Dona Dilma é de esquerda, já que a astronômica margem de lucro dos bancos no Brasil ainda continua intocável.
Como diz o mui digno jornalista Carlos Chagas, é uma confusão dos diabos.
Os que apoiam o RPB são grandes empresários e pesados doadores para a campanha de Barack Obama.
Outro ouvinte da Fox News declarou: “Parece que estão impressionados com o crescimento econômico de novas potências como Brasil, Índia e China, passando então a propor forte atuação do Estado na economia americana. Ontem o Presidente Barack Obama resolveu facilitar o visto para a população desses três países”.
E mais outro ouvinte declarou: “Barack Obama, reeleito ou não, ele já promoveu a destruição do livre mercado e a completa implantação do socialismo marxista. A ideia já germinou, não tendo mais a ver com Barack Obama. Nao adianta mais personificar a ideia. Trata-se de fazer os americanos cada vez mais dependentes do Estado”.
Paulo Solon
22 de janeiro de 2012
Se uma Companhia ultrapassa a margem de 8,5% de lucro, o que passa disso é submetido a 100 por cento de taxas. E o principal alvo é a indústria petrolífera. “Essa é a ideia democrata nesta eleição”, dizem os do GOP (Great Old Party).
Proclamam os radicais da direita que isso é a destruição do capitalismo e a completa implantação do socialismo, promovida pelo Partido Democrata.
“É a implantação da democracia socialista marxista”, dizem. Acrescentam que Barack Obama é mais perigoso para este pais do que foi a União Soviética com sua ameaça nuclear.
Palavras de um radialista da Fox News sexta-feira pela manhã: “Não posso acreditar que neste paíss os democratas estejam defendendo o Reasonable Profit Board. Barack Obama é um revolucionário marxista”.
Comentários de um ouvinte: “O comunismo corroeu a democracia e está corroendo a economia desta nação”.
Sou apenas um observador dos fatos. Não sei o que os comentaristas da Tribuna pensam sobre o assunto. Mas não entendo como alguns ainda consideram que o governo de Dona Dilma é de esquerda, já que a astronômica margem de lucro dos bancos no Brasil ainda continua intocável.
Como diz o mui digno jornalista Carlos Chagas, é uma confusão dos diabos.
Os que apoiam o RPB são grandes empresários e pesados doadores para a campanha de Barack Obama.
Outro ouvinte da Fox News declarou: “Parece que estão impressionados com o crescimento econômico de novas potências como Brasil, Índia e China, passando então a propor forte atuação do Estado na economia americana. Ontem o Presidente Barack Obama resolveu facilitar o visto para a população desses três países”.
E mais outro ouvinte declarou: “Barack Obama, reeleito ou não, ele já promoveu a destruição do livre mercado e a completa implantação do socialismo marxista. A ideia já germinou, não tendo mais a ver com Barack Obama. Nao adianta mais personificar a ideia. Trata-se de fazer os americanos cada vez mais dependentes do Estado”.
Paulo Solon
22 de janeiro de 2012
WOLFGANG AMADEUS MOZART
Compositor nos legou 40 sinfonias, algumas grandes óperas além de concertos e obras sacras.
Johann Chrysostom Wolfgang Amadeus Mozart nasceu em Salzburgo, Áustria, em 27 de janeiro de 1756.
Seu pai, Leopold, era músico e desde quando era quase um bebê ele brincava no piano.
Aos quatro anos ele já tocava piano bem e aos cinco compôs suas primeiras peças para o instrumento, ao mesmo tempo em que aprendia a dominar o violino.
Em 1762 o pai levou Wolfgang e a irmã Maria-Anna (1751-1829), boa pianista, em excursão durante a qual tocaram para a imperatriz Maria Theresa em Viena. Em seguida foram a Paris e Londres, onde ficaram quinze meses.
Em 1770-72 fizeram três longas viagens à Itália, experiência que influenciou o estilo do compositor.
Nessa época Mozart já tinha escrito 25 sinfonias, algumas das quais se perderam e não são conhecidas hoje.
Em 1781 Mozart foi a Viena para a coroação do Imperador Joseph II, e acabou ficando lá o resto de sua vida. Sua reputação como pianista e compositor não parava de crescer.
Mozart nos legou 40 sinfonias, algumas grandes óperas além de concertos e obras sacras.
Suas últimas obras foram as óperas “A Flauta mágica” e “A clemência de Tito” e duas compostas para a coroação de Leopold II, um concerto para clarineta e um Réquiem.
Mozart não é visto como um intelectual ou um homem culto. Seu maior prazer era jogar bilhar. Simplesmente ele era dotado de um gênio musical talvez único, que lhe permitia compor quase com perfeição.
Mozart morreu em Viena em 5 de dezembro de 1791, aos 35 anos de idade.
opinião e notícia
22/01/2012
Johann Chrysostom Wolfgang Amadeus Mozart nasceu em Salzburgo, Áustria, em 27 de janeiro de 1756.
Seu pai, Leopold, era músico e desde quando era quase um bebê ele brincava no piano.
Aos quatro anos ele já tocava piano bem e aos cinco compôs suas primeiras peças para o instrumento, ao mesmo tempo em que aprendia a dominar o violino.
Em 1762 o pai levou Wolfgang e a irmã Maria-Anna (1751-1829), boa pianista, em excursão durante a qual tocaram para a imperatriz Maria Theresa em Viena. Em seguida foram a Paris e Londres, onde ficaram quinze meses.
Em 1770-72 fizeram três longas viagens à Itália, experiência que influenciou o estilo do compositor.
Nessa época Mozart já tinha escrito 25 sinfonias, algumas das quais se perderam e não são conhecidas hoje.
Em 1781 Mozart foi a Viena para a coroação do Imperador Joseph II, e acabou ficando lá o resto de sua vida. Sua reputação como pianista e compositor não parava de crescer.
Mozart nos legou 40 sinfonias, algumas grandes óperas além de concertos e obras sacras.
Suas últimas obras foram as óperas “A Flauta mágica” e “A clemência de Tito” e duas compostas para a coroação de Leopold II, um concerto para clarineta e um Réquiem.
Mozart não é visto como um intelectual ou um homem culto. Seu maior prazer era jogar bilhar. Simplesmente ele era dotado de um gênio musical talvez único, que lhe permitia compor quase com perfeição.
Mozart morreu em Viena em 5 de dezembro de 1791, aos 35 anos de idade.
opinião e notícia
22/01/2012
"A VIOLÊNCIA NÃO É UM BALÉ", DIZ DAVID FINCHER
Diretor de "Os homens que não amavam as mulheres" diz em entrevista a ÉPOCA como tratou as cenas de violência no longa
Mariane Morisawa, de Estocolmo
OUSADIA
O diretor David Fincher, em foto de 2010. (Foto: Nicolas Guerin/Contour/Getty Images)
Em reportagem que está na edição desta semana, ÉPOCA conta como o cineasta David Fincher, responsável por filmes como Seven e Zodíaco, tenta manter sua independência artística mesmo à frente de projetos milionários. Nesta entrevista, Fincher fala sobre a busca pela autonomia e conta detalhes de como foi filmar seu último longa metragem, Os homens que não amavam as mulheres, baseado no primeiro livro da série Millennium, do sueco Stieg Larsson.
ÉPOCA - De onde vem seu fascínio com a série Millennium?
David Fincher - Não havia fascínio. Tinha recebido o livro anos atrás. Quando me contaram a história, pensei que nenhum estúdio ia querer fazer, porque parecia tão diferente do que Hollywood faz. E daí, cinco anos mais tarde, eles dizem: “Lindo! Vamos amar fazer esse filme!”.
ÉPOCA - Então o que mudou, os milhões de livros vendidos?
Fincher - Sim, os 50 milhões de livros vendidos.
ÉPOCA - Por que achou que nenhuma companhia em Hollywood ia querer fazer o filme?
Fincher - Não consigo lembrar de outro filme, talvez desde Pulp Fiction (1994) ou Amargo Pesadelo (1972), em que um estupro anal foi permitido, menos ainda como um foco emocional. Não é o tipo de coisa que Hollywood esteja ansiosa para ter nos filmes. Você não vai ouvir: “Me dê mais sodomia! É o que precisamos!”. Foi o que quis dizer. Normalmente, quando você quer fazer um filme para um estúdio, tudo o que pode deixar o público desconfortável tem de ser removido. Então, fiquei surpreso. Para ser justo com o estúdio, eles chegaram para mim e disseram: “As pessoas amam esse livro. Filme”. E eu falei que tinha muita coisa complicada, e eles simplesmente responderam: “Sim, sabemos. Faça”.
ÉPOCA - O que sua versão tem de diferente em relação ao filme europeu?
Fincher - Vi o original uma vez. Não tenho como comentar. Me lembro de achar que era muito bonito, muito arrumadinho. Acho que nosso filme é mais sujo, mais desleixado... E há mais flashbacks do passado. É provavelmente mais Hollywood.
ÉPOCA - É verdade que o fim é diferente?
Fincher - Sim.
ÉPOCA - Sua versão é melhor?
Fincher - Eu prefiro. Uma ideia foi mudada e gosto muito. É muito mais simples e direta.
ÉPOCA - O roteiro para o segundo livro, A Menina que Brincava com Fogo, já está pronto. Você vai dirigir?
Fincher - Não sei. Se você me convidasse hoje, para estar pronto no próximo Natal, a resposta seria não.
ÉPOCA - O papel de Lisbeth Salander foi disputado por muitas atrizes. Por que escolheu Rooney Mara?
Fincher - Por sua ética profissional. No começo dos testes, não sabia se daria certo. Em A Rede Social, ela precisava humanizar o Mark Zuckerberg (interpretado por Jesse Eisenberg) e ser capaz de enfrentá-lo verbalmente, isso tendo no máximo 19 falas. Minha grande questão era se ela poderia ser arredia e interiorizada como Lisbeth Salander. Uma vez tomada a decisão, cinco dias depois ela estava em Estocolmo, onde ficou por um mês sozinha, andando pelas ruas, frequentando os cafés. Disse para ela aprender a andar de skate, para ela ter a postura de um garoto de 14 anos. E ela aprendeu. E depois ainda teve a mudança do cabelo, a descoloração das sobrancelhas. Ela fez tudo.
ÉPOCA - É verdade que você divide seus filmes em categorias?
Fincher - Acho que há filmes que pedem revisitas para apreciar suas diversas camadas, suas diferentes facetas em diversas fases de sua vida. E existem produções, como O Quarto do Pânico (2002), que são feitas para serem processadas numa única sessão. Não quer dizer que o filme é menor. A Rede Social (2010) precisava funcionar em uma sessão. Já Clube da Luta (1999) tem muita coisa, não foi feito para ser ingerido de uma só vez. Seven (1995) foi feito para uma só vez, mas também é um filme que finge ser de investigação policial até você perceber que é uma meditação sobre o mal. Zodíaco (2007) era pessoal demais, é mais como um livro. Não é para ser digerido de uma só vez. Não quer dizer que o trabalho do roteirista James Vanderbilt seja superior ao de Aaron Sorkin em A Rede Social. Mas eu me aproximo do material de forma diferente filosoficamente. Espero que Os Homens que Não Amavam as Mulheres tenha mais camadas, mas foi desenhado para ser processado em duas horas e trinta minutos. Em Zodíaco, eu desisti dessa ideia. Não quero soar pretensioso, mas ele foi feito para você sentir como se fossem 30 anos. É para você se cansar.
ÉPOCA - Mas, por ser mais pessoal, Zodíaco é seu favorito?
Fincher - Não. Eu não tenho favoritos, nem vergonha de nada. Sempre aprendemos. Há coisas em Vidas em Jogo (1997) e O Quarto do Pânico que eu gostaria que fossem melhores. Em Seven, falei: preciso de mais dois meses para consertar. E o produtor disse: “Dave, não dá. Você precisa fazer a versão possível agora”. A mesma coisa aconteceu com Homens que Não Amavam as Mulheres. Houve momentos em que tive de dizer: “OK. Para o filme estar no cinema na data marcada, vou ter de conviver com certas coisas pelo resto da vida”.
ÉPOCA - O Clube da Luta e Zodíaco não foram grandes sucessos de bilheteria. Como se sente em relação a isso?
Fincher - Talvez não tenham tido tanto sucesso exatamente por terem mais camadas.
ÉPOCA - Mas você se preocupa com a bilheteria?
Fincher - Eu não faço filmes que custam US$ 3 milhões. Faço filmes de US$ 80 milhões a US$ 100 milhões. E não te deixam fazer isso se você não dá retorno. Então, sim, eu me preocupo. Clube da Luta não foi tão bem na bilheteria, mas rendeu US$ 130 milhões em vídeo. Então se pagou. Se der um pouco de lucro para quem investiu, tudo bem. E é minha responsabilidade, não acho algo irrelevante. Agora, você quer saber se penso em Clube da Luta e digo: “Diabos, esse filme deveria ter feito US$ 700 milhões no mundo todo?”. Claro que não! Nós nos divertimos tanto fazendo! Não podíamos acreditar que estavam deixando a gente fazer aquele filme! Porque era tão malvado! (risos) Quantas vezes na minha vida me diverti tanto quando cheguei ao set e disse: “Adivinhem o que vamos fazer hoje? Vamos jogar uma bola de metal gigante num Starbucks!”. Isso é divertido para c...!
ÉPOCA - E a crítica, aborrece?
Fincher - Quando você vai ver um filme no fim de semana de abertura é uma experiência diferente de quando você vai ver numa sessão de imprensa. Se você vai ver três semanas depois da estreia, com 80 pessoas na sala em vez de 400, é diferente. Quando sair em Blu-Ray ou for visto numa avião, idem. Daqui a dez anos, também. Você quer que os críticos gostem? Sim! Vai se matar se eles não gostarem? Não! Você vai ficar preocupado que seus filhos vão ler essa crítica? Não! Já tive vários filmes com resenhas arrasadoras.
ÉPOCA - Por exemplo?
Fincher - Seven. As pessoas odiavam, chamaram de tortura-pornô da MTV. Quinze anos mais tarde, é considerado um dos filmes seminais dos anos 1990. Mas alguns críticos ainda vão dizer que é horrível. Direito deles. Agora, quantos críticos eu considero bons? Uns quatro, cinco. E não é uma questão de concordar. Há críticos que admiro de quem discordo na maior parte do tempo, mas são pessoas que escrevem bem e têm um discurso. E há pessoas que me fazem rir quando não gostam de algo. Você coloca certas coisas no filme para esses críticos detestarem! (risos) Mostramos Os Homens Que Não Amavam as Mulheres ao estúdio e perguntei: “Há violência o suficiente?”. A resposta foi “não sei”. E eu disse: “Caramba, falhei tremendamente!” (risos)
ÉPOCA - Quando você vai fazer um filme sobre violência, ele tem de ser o mais violento possível?
Fincher - Não é isso! Acredito que, especialmente em filmes americanos, há cenas demais de violência sem consequência. Quando você vê Irreversível (2002), de Gaspar Noé, entende por que as pessoas ficaram ofendidas. Mas, num filme, a violência deve ofender, enojar e dar enjôo. Quando você mostra um estupro num filme, as pessoas têm de ficar mal. Porque é horrível. Acho que isso é ser responsável. Para mim, a violência não é um balé. Violência é violência e deve ser perturbadora. Se você já levou ou deu um soco na cara, há ramificações psíquicas. Você sente-se de forma diferente, o mundo fica diferente. E o cinema tem de fazer você se sentir assim. Por isso não suporto videogames em que o jogador tem a visão de um atirador. Não acho divertido ver as cabeças explodindo.
ÉPOCA - Então o que pensa sobre essa discussão sobre a influência dos filmes em atos violentos reais?
Fincher - Você só pode começar a falar da responsabilidade das imagens sobre as pessoas quando houver pesquisas científicas que provem isso. Até haver provas, não acredito. Acho que é próprio de qualquer arte mostrar e exagerar coisas para chocar as pessoas. Mas a violência está no dia a dia. No cinema, para mim, o problema é quando se torna atraente.
Mariane Morisawa, de Estocolmo
OUSADIA
O diretor David Fincher, em foto de 2010. (Foto: Nicolas Guerin/Contour/Getty Images)
Em reportagem que está na edição desta semana, ÉPOCA conta como o cineasta David Fincher, responsável por filmes como Seven e Zodíaco, tenta manter sua independência artística mesmo à frente de projetos milionários. Nesta entrevista, Fincher fala sobre a busca pela autonomia e conta detalhes de como foi filmar seu último longa metragem, Os homens que não amavam as mulheres, baseado no primeiro livro da série Millennium, do sueco Stieg Larsson.
ÉPOCA - De onde vem seu fascínio com a série Millennium?
David Fincher - Não havia fascínio. Tinha recebido o livro anos atrás. Quando me contaram a história, pensei que nenhum estúdio ia querer fazer, porque parecia tão diferente do que Hollywood faz. E daí, cinco anos mais tarde, eles dizem: “Lindo! Vamos amar fazer esse filme!”.
ÉPOCA - Então o que mudou, os milhões de livros vendidos?
Fincher - Sim, os 50 milhões de livros vendidos.
ÉPOCA - Por que achou que nenhuma companhia em Hollywood ia querer fazer o filme?
Fincher - Não consigo lembrar de outro filme, talvez desde Pulp Fiction (1994) ou Amargo Pesadelo (1972), em que um estupro anal foi permitido, menos ainda como um foco emocional. Não é o tipo de coisa que Hollywood esteja ansiosa para ter nos filmes. Você não vai ouvir: “Me dê mais sodomia! É o que precisamos!”. Foi o que quis dizer. Normalmente, quando você quer fazer um filme para um estúdio, tudo o que pode deixar o público desconfortável tem de ser removido. Então, fiquei surpreso. Para ser justo com o estúdio, eles chegaram para mim e disseram: “As pessoas amam esse livro. Filme”. E eu falei que tinha muita coisa complicada, e eles simplesmente responderam: “Sim, sabemos. Faça”.
ÉPOCA - O que sua versão tem de diferente em relação ao filme europeu?
Fincher - Vi o original uma vez. Não tenho como comentar. Me lembro de achar que era muito bonito, muito arrumadinho. Acho que nosso filme é mais sujo, mais desleixado... E há mais flashbacks do passado. É provavelmente mais Hollywood.
ÉPOCA - É verdade que o fim é diferente?
Fincher - Sim.
ÉPOCA - Sua versão é melhor?
Fincher - Eu prefiro. Uma ideia foi mudada e gosto muito. É muito mais simples e direta.
ÉPOCA - O roteiro para o segundo livro, A Menina que Brincava com Fogo, já está pronto. Você vai dirigir?
Fincher - Não sei. Se você me convidasse hoje, para estar pronto no próximo Natal, a resposta seria não.
ÉPOCA - O papel de Lisbeth Salander foi disputado por muitas atrizes. Por que escolheu Rooney Mara?
Fincher - Por sua ética profissional. No começo dos testes, não sabia se daria certo. Em A Rede Social, ela precisava humanizar o Mark Zuckerberg (interpretado por Jesse Eisenberg) e ser capaz de enfrentá-lo verbalmente, isso tendo no máximo 19 falas. Minha grande questão era se ela poderia ser arredia e interiorizada como Lisbeth Salander. Uma vez tomada a decisão, cinco dias depois ela estava em Estocolmo, onde ficou por um mês sozinha, andando pelas ruas, frequentando os cafés. Disse para ela aprender a andar de skate, para ela ter a postura de um garoto de 14 anos. E ela aprendeu. E depois ainda teve a mudança do cabelo, a descoloração das sobrancelhas. Ela fez tudo.
ÉPOCA - É verdade que você divide seus filmes em categorias?
Fincher - Acho que há filmes que pedem revisitas para apreciar suas diversas camadas, suas diferentes facetas em diversas fases de sua vida. E existem produções, como O Quarto do Pânico (2002), que são feitas para serem processadas numa única sessão. Não quer dizer que o filme é menor. A Rede Social (2010) precisava funcionar em uma sessão. Já Clube da Luta (1999) tem muita coisa, não foi feito para ser ingerido de uma só vez. Seven (1995) foi feito para uma só vez, mas também é um filme que finge ser de investigação policial até você perceber que é uma meditação sobre o mal. Zodíaco (2007) era pessoal demais, é mais como um livro. Não é para ser digerido de uma só vez. Não quer dizer que o trabalho do roteirista James Vanderbilt seja superior ao de Aaron Sorkin em A Rede Social. Mas eu me aproximo do material de forma diferente filosoficamente. Espero que Os Homens que Não Amavam as Mulheres tenha mais camadas, mas foi desenhado para ser processado em duas horas e trinta minutos. Em Zodíaco, eu desisti dessa ideia. Não quero soar pretensioso, mas ele foi feito para você sentir como se fossem 30 anos. É para você se cansar.
ÉPOCA - Mas, por ser mais pessoal, Zodíaco é seu favorito?
Fincher - Não. Eu não tenho favoritos, nem vergonha de nada. Sempre aprendemos. Há coisas em Vidas em Jogo (1997) e O Quarto do Pânico que eu gostaria que fossem melhores. Em Seven, falei: preciso de mais dois meses para consertar. E o produtor disse: “Dave, não dá. Você precisa fazer a versão possível agora”. A mesma coisa aconteceu com Homens que Não Amavam as Mulheres. Houve momentos em que tive de dizer: “OK. Para o filme estar no cinema na data marcada, vou ter de conviver com certas coisas pelo resto da vida”.
ÉPOCA - O Clube da Luta e Zodíaco não foram grandes sucessos de bilheteria. Como se sente em relação a isso?
Fincher - Talvez não tenham tido tanto sucesso exatamente por terem mais camadas.
ÉPOCA - Mas você se preocupa com a bilheteria?
Fincher - Eu não faço filmes que custam US$ 3 milhões. Faço filmes de US$ 80 milhões a US$ 100 milhões. E não te deixam fazer isso se você não dá retorno. Então, sim, eu me preocupo. Clube da Luta não foi tão bem na bilheteria, mas rendeu US$ 130 milhões em vídeo. Então se pagou. Se der um pouco de lucro para quem investiu, tudo bem. E é minha responsabilidade, não acho algo irrelevante. Agora, você quer saber se penso em Clube da Luta e digo: “Diabos, esse filme deveria ter feito US$ 700 milhões no mundo todo?”. Claro que não! Nós nos divertimos tanto fazendo! Não podíamos acreditar que estavam deixando a gente fazer aquele filme! Porque era tão malvado! (risos) Quantas vezes na minha vida me diverti tanto quando cheguei ao set e disse: “Adivinhem o que vamos fazer hoje? Vamos jogar uma bola de metal gigante num Starbucks!”. Isso é divertido para c...!
ÉPOCA - E a crítica, aborrece?
Fincher - Quando você vai ver um filme no fim de semana de abertura é uma experiência diferente de quando você vai ver numa sessão de imprensa. Se você vai ver três semanas depois da estreia, com 80 pessoas na sala em vez de 400, é diferente. Quando sair em Blu-Ray ou for visto numa avião, idem. Daqui a dez anos, também. Você quer que os críticos gostem? Sim! Vai se matar se eles não gostarem? Não! Você vai ficar preocupado que seus filhos vão ler essa crítica? Não! Já tive vários filmes com resenhas arrasadoras.
ÉPOCA - Por exemplo?
Fincher - Seven. As pessoas odiavam, chamaram de tortura-pornô da MTV. Quinze anos mais tarde, é considerado um dos filmes seminais dos anos 1990. Mas alguns críticos ainda vão dizer que é horrível. Direito deles. Agora, quantos críticos eu considero bons? Uns quatro, cinco. E não é uma questão de concordar. Há críticos que admiro de quem discordo na maior parte do tempo, mas são pessoas que escrevem bem e têm um discurso. E há pessoas que me fazem rir quando não gostam de algo. Você coloca certas coisas no filme para esses críticos detestarem! (risos) Mostramos Os Homens Que Não Amavam as Mulheres ao estúdio e perguntei: “Há violência o suficiente?”. A resposta foi “não sei”. E eu disse: “Caramba, falhei tremendamente!” (risos)
ÉPOCA - Quando você vai fazer um filme sobre violência, ele tem de ser o mais violento possível?
Fincher - Não é isso! Acredito que, especialmente em filmes americanos, há cenas demais de violência sem consequência. Quando você vê Irreversível (2002), de Gaspar Noé, entende por que as pessoas ficaram ofendidas. Mas, num filme, a violência deve ofender, enojar e dar enjôo. Quando você mostra um estupro num filme, as pessoas têm de ficar mal. Porque é horrível. Acho que isso é ser responsável. Para mim, a violência não é um balé. Violência é violência e deve ser perturbadora. Se você já levou ou deu um soco na cara, há ramificações psíquicas. Você sente-se de forma diferente, o mundo fica diferente. E o cinema tem de fazer você se sentir assim. Por isso não suporto videogames em que o jogador tem a visão de um atirador. Não acho divertido ver as cabeças explodindo.
ÉPOCA - Então o que pensa sobre essa discussão sobre a influência dos filmes em atos violentos reais?
Fincher - Você só pode começar a falar da responsabilidade das imagens sobre as pessoas quando houver pesquisas científicas que provem isso. Até haver provas, não acredito. Acho que é próprio de qualquer arte mostrar e exagerar coisas para chocar as pessoas. Mas a violência está no dia a dia. No cinema, para mim, o problema é quando se torna atraente.
PEDAGOGOS QUEREM CRIAR NOVOS SEXOS
Os pedagogos franceses, ao que tudo indica, estão querendo criar novos sexos. Leio no Nouvel Observateur que 80 deputados da Union pour un Mouvement Populaire (UMP) pediram ontem ao ministro da Educação o recolhimento de manuais escolares que explicam “a identidade sexual” dos indivíduos tanto pelo contexto sócio-cultural, como por seu sexo biológico. Os deputados fazem eco às críticas expressas sobre o assunto, na primavera passada, pela direção do ensino católico.
Na carta ao ministro, eles estimam que estes manuais de SVT (Sciences et vie de la terre) do secundário fazem referência à “teoria do gênero sexual”. Segundo os deputados, nesta teoria as pessoas não são mais definidas como homens ou mulheres, mas como praticantes de certas formas de sexualidade: homossexuais, heterossexuais, bissexuais, transexuais. Para os assinantes da carta, trata-se de uma “teoria filosófica e sociológica que não é científica, que afirma que identidade sexual é uma construção cultural”.
Os signatários citam uma passagem de um manual publicado pela Hachette: “O sexo biológico nos identifica como macho ou fêmea mas não será por isso que podemos nos qualificar de masculino ou feminino. Esta identidade sexual, construída ao longo de nossa vida, em uma interação constante entre o biológico e o contexto sócio-cultural, é no entanto decisiva em nosso posicionamento em relação ao outro”.
Em uma circular do 30 de setembro do ano passado, o ministério indicava que os programas SVT do secundário deveriam comportar um capítulo intitulado “tornar-se homem ou mulher”. Se a identidade sexual e os papéis sexuais na sociedade com seus estereótipos pertencem à esfera pública, a orientação sexual faz parte da esfera privada – dizia a circular.
Os ativistas gays tupiniquins ainda não devem ter lido o Nouvel Obs de ontem, ou a insólita teoria já estaria nos currículos do Ministério da Educação. Quem deve estar tendo orgasmos em sua tumba é Simone de Beauvoir, autora da frase sem dúvida alguma mais idiota do século passado: “uma mulher não nasce mulher; torna-se mulher”. De uma penada, Simone abolia as diferenças constitutivas de macho e fêmea.
Ainda há pouco, eu escrevia sobre a última trouvaille dos suecos. Em Estocolmo, a pré-escola proíbe que crianças sejam tratadas como meninos e meninas. Em conformidade com um currículo escolar nacional que busca combater a "estereotipação" dos papéis sexuais, uma pré-escola do distrito de Södermalm, da cidade de Estocolmo, incorporou uma pedagogia sexualmente neutra que elimina completamente todas as referências ao sexo masculino e feminino. Os professores e funcionários da pré-escola Egalia evitam usar palavras como "ele" ou "ela" e em vez disso se dirigem aos mais de 30 meninos e meninas, de idades variando entre 1 e 6 anos, como "amigos".
Segundo a diretora Lotta Rajalin, a escola contratou um "pedagogo de diversidade sexual" para ajudar os professores e funcionários a remover as referências masculinas e femininas na linguagem e conduta. Além disso, não há livros infantis tradicionais como Branca de Neve, Cinderela ou os contos de fadas clássicos, disse Rajalin. Em vez disso, as prateleiras têm livros que lidam com duplas homossexuais, mães solteiras, filhos adotados e obras sobre "maneiras modernas de brincar". Pelo jeito, a relação homem/mulher virou anomalia.
Comentei na ocasião a acrobacia mental elaborada pelos pedagogos suecos. O han e o hon (ele e ela) foram trocados pelo pronome neutro hen, palavra que não existe nos dicionários. Mas tampouco é nova. Foi proposta por Hans Karlgren em 1994. Mas já havia sido aventada por Rolf Dunas, no Upsala Nya Tidning, em 1966. Nesta proposta, hen era apresentado como substituição a han e hon e mais: henom substituiria henne/honom (dele/dela). A palavra parece ter sido inspirada no finlandês hän.
Acontece que ausência de gênero é uma característica do finês e não ideologia de feministas. Não se trata de eliminar todas as referências ao sexo masculino e feminino. É que as palavras não são masculinas nem femininas. Tampouco existem artigos. Nos tempos verbais, não há futuro. O que deve exigir muita acrobacia dos políticos locais, pois não há como dizer, por exemplo, "eu farei isto ou aquilo".
Os sexos são dois, ora bolas. Opções sexuais são outros quinhentos. Um homem homossexual não deixa de pertencer ao sexo masculino, da mesma forma que uma mulher homossexual não deixa de ser mulher. As cirurgias de mudança de sexo não mudam em nada os dados da questão. É um homem que se transforma – ou tenta transformar-se – em mulher e vice-versa.
Depois que as esquerdas pretenderam abolir a noção de raça, esta nova moda se apresenta como candidata à mais colossal asneira das últimas décadas. E tão certo como deus não existe, logo logo vai ser moda em Pindorama.
janer cristaldo
Na carta ao ministro, eles estimam que estes manuais de SVT (Sciences et vie de la terre) do secundário fazem referência à “teoria do gênero sexual”. Segundo os deputados, nesta teoria as pessoas não são mais definidas como homens ou mulheres, mas como praticantes de certas formas de sexualidade: homossexuais, heterossexuais, bissexuais, transexuais. Para os assinantes da carta, trata-se de uma “teoria filosófica e sociológica que não é científica, que afirma que identidade sexual é uma construção cultural”.
Os signatários citam uma passagem de um manual publicado pela Hachette: “O sexo biológico nos identifica como macho ou fêmea mas não será por isso que podemos nos qualificar de masculino ou feminino. Esta identidade sexual, construída ao longo de nossa vida, em uma interação constante entre o biológico e o contexto sócio-cultural, é no entanto decisiva em nosso posicionamento em relação ao outro”.
Em uma circular do 30 de setembro do ano passado, o ministério indicava que os programas SVT do secundário deveriam comportar um capítulo intitulado “tornar-se homem ou mulher”. Se a identidade sexual e os papéis sexuais na sociedade com seus estereótipos pertencem à esfera pública, a orientação sexual faz parte da esfera privada – dizia a circular.
Os ativistas gays tupiniquins ainda não devem ter lido o Nouvel Obs de ontem, ou a insólita teoria já estaria nos currículos do Ministério da Educação. Quem deve estar tendo orgasmos em sua tumba é Simone de Beauvoir, autora da frase sem dúvida alguma mais idiota do século passado: “uma mulher não nasce mulher; torna-se mulher”. De uma penada, Simone abolia as diferenças constitutivas de macho e fêmea.
Ainda há pouco, eu escrevia sobre a última trouvaille dos suecos. Em Estocolmo, a pré-escola proíbe que crianças sejam tratadas como meninos e meninas. Em conformidade com um currículo escolar nacional que busca combater a "estereotipação" dos papéis sexuais, uma pré-escola do distrito de Södermalm, da cidade de Estocolmo, incorporou uma pedagogia sexualmente neutra que elimina completamente todas as referências ao sexo masculino e feminino. Os professores e funcionários da pré-escola Egalia evitam usar palavras como "ele" ou "ela" e em vez disso se dirigem aos mais de 30 meninos e meninas, de idades variando entre 1 e 6 anos, como "amigos".
Segundo a diretora Lotta Rajalin, a escola contratou um "pedagogo de diversidade sexual" para ajudar os professores e funcionários a remover as referências masculinas e femininas na linguagem e conduta. Além disso, não há livros infantis tradicionais como Branca de Neve, Cinderela ou os contos de fadas clássicos, disse Rajalin. Em vez disso, as prateleiras têm livros que lidam com duplas homossexuais, mães solteiras, filhos adotados e obras sobre "maneiras modernas de brincar". Pelo jeito, a relação homem/mulher virou anomalia.
Comentei na ocasião a acrobacia mental elaborada pelos pedagogos suecos. O han e o hon (ele e ela) foram trocados pelo pronome neutro hen, palavra que não existe nos dicionários. Mas tampouco é nova. Foi proposta por Hans Karlgren em 1994. Mas já havia sido aventada por Rolf Dunas, no Upsala Nya Tidning, em 1966. Nesta proposta, hen era apresentado como substituição a han e hon e mais: henom substituiria henne/honom (dele/dela). A palavra parece ter sido inspirada no finlandês hän.
Acontece que ausência de gênero é uma característica do finês e não ideologia de feministas. Não se trata de eliminar todas as referências ao sexo masculino e feminino. É que as palavras não são masculinas nem femininas. Tampouco existem artigos. Nos tempos verbais, não há futuro. O que deve exigir muita acrobacia dos políticos locais, pois não há como dizer, por exemplo, "eu farei isto ou aquilo".
Os sexos são dois, ora bolas. Opções sexuais são outros quinhentos. Um homem homossexual não deixa de pertencer ao sexo masculino, da mesma forma que uma mulher homossexual não deixa de ser mulher. As cirurgias de mudança de sexo não mudam em nada os dados da questão. É um homem que se transforma – ou tenta transformar-se – em mulher e vice-versa.
Depois que as esquerdas pretenderam abolir a noção de raça, esta nova moda se apresenta como candidata à mais colossal asneira das últimas décadas. E tão certo como deus não existe, logo logo vai ser moda em Pindorama.
janer cristaldo
GERAÇÃO DE SAFADOS CAMUFLADOS EIS A HERANÇA EM DESENVOLVIMENTO DO FILHO DO BRASIL
EIS A HERANÇA EM DESENVOLVIMENTO INICIADA PELO CACHACEIRO, O FILHO...DO BRASIL E SUA CORJA : Dinheiro para saúde de índios abastece fraudes(R$ 13,6 milhões)
Documentos e depoimentos obtidos pelo GLOBO apontam para a existência de esquemas de desvio de recursos da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) e do Ministério da Saúde em pelo menos nove dos 34 Distritos Sanitários Especiais Indígenas (Dseis) distribuídos de Norte a Sul do Brasil, além de ONGs que receberam dinheiro para ações de saúde indígena.
As fraudes estão concentradas no serviço de abastecimento de combustível de barcos e veículos, compra de alimentos e pagamento por horas de voo para o deslocamento de pacientes, médicos e insumos.
Apenas o contrato nacional de combustível, firmado entre a Funasa e a Ticket Serviços S/A, pagou, nos últimos 4 anos, R$ 142,5 milhões nos 26 estados e no Distrito Federal.
As fraudes, de acordo com farta documentação elaborada por fiscais e gestores da Saúde ao longo de 2011, teriam beneficiado servidores públicos em postos de chefia, empresários e lideranças indígenas, que recebiam sua "cota de combustível" como "cala boca" preventivo ao péssimo atendimento de saúde, relatam procuradores da República e agentes federais com atuação na Amazônia Legal.
Enquanto o dinheiro escorre no ralo da corrupção, o Dsei Javarí, na segunda maior área indígena no país, com 4.915 moradores, contabilizou, entre 2010 e 2011, 255 nascidos vivos e 33 mortes por desnutrição aguda, diarreia e pneumonia de crianças entre 1 e 5 anos 1,2 mortes para cada dez nascimentos.
As irregularidades prosperaram no uso do Ticket Car, cartão de pagamento de combustível para veículos terrestres e fluviais. Em Manaus, por exemplo, os cartões dos servidores públicos caíram nas mãos de intermediários, que administram postos que atendem à Funasa.
Em 05 de abril de 2011, por meio do memorando 017/2011, um fiscal de contrato relatou a existência de veículos parados, no Dsei de Manaus, mas que continuavam "rodando" e sendo abastecidos de maneira fraudulenta.
Ofícios que autorizam pagamentos são recolhidos
Foi o estopim para a descoberta de 53 cartões de abastecimento, que ficavam sob controle do Posto Sideral, em Manaus.
O estabelecimento pagava créditos de combustível para contas bancárias indicadas pelos chefes dos distritos indígenas, conforme admitiu ao GLOBO o encarregado administrativo do posto, Landy Rodrigues Lima.
Dinheiro que, em tese, servia para subsidiar o abastecimento de veículos no interior do estado.
- Eles deixavam (os cartões) aqui e, no fim de semana, buscavam. Ninguém entendia o porquê. Eu só fazia passar o que eles pediam para passar. A gente fazia a intermediação - diz Lima, que não sabe quanto o posto ganhava na intermediação.
O MPF descobriu que os chefes do Dsei emitiam ofícios para liberar os créditos de combustível. Porém, no final do mês, funcionários do distrito recolhiam nos postos os ofícios de forma a sumir com as provas, informa um procurador da República.
Técnicos do Ministério da Saúde, ouvidos pelo GLOBO, detectaram procedimento semelhantes nos Dseis Tefé e Parintins. Um servidor, que pediu anonimato, conta que o dinheiro também beneficia lideranças indígenas. É a cota de combustível.
Os desvios agora revelados reforçam um histórico de fraudes no atendimento de saúde indígena. Apenas quatro investigações federais, concluídas nos últimos dois anos no Amapá, Rondônia e Roraima, apontam prejuízo de R$ 13,6 milhões.
São desvios na compra de alimentos, pagamentos de horas de voo, e serviços sem execução comprovada.
Foram detectados indícios de desvios em combustíveis, uso fraudulento de cartão de abastecimento e pagamentos irregulares por serviços nos Dseis Médio Rio Solimões e Afluentes;
Araguaia;
Minas Gerais/Espírito Santo;
Cuiabá;
Xavante/MT;
e Médio Rio Purus.
A documentação seguiu para Brasília.
O coordenador nacional dos fóruns de conselhos distritais de saúde indígena (Condisis), Jorge Marubo, confirma as irregularidades e diz que há grande resistência inclusive entre lideranças indígenas para estancar a sangria.
Para romper esse sistema de desvio de recursos é muito difícil. Alguns indígenas se envolvem nisso, querem manter o sistema da Funasa.
Há muita dificuldade para a organizar a mudança diz Marubo, que vive no Vale da Javarí, região que, segundo ele, tem o pior atendimento de saúde indígena do Brasil.
O Globo
postado por camuflado
Documentos e depoimentos obtidos pelo GLOBO apontam para a existência de esquemas de desvio de recursos da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) e do Ministério da Saúde em pelo menos nove dos 34 Distritos Sanitários Especiais Indígenas (Dseis) distribuídos de Norte a Sul do Brasil, além de ONGs que receberam dinheiro para ações de saúde indígena.
As fraudes estão concentradas no serviço de abastecimento de combustível de barcos e veículos, compra de alimentos e pagamento por horas de voo para o deslocamento de pacientes, médicos e insumos.
Apenas o contrato nacional de combustível, firmado entre a Funasa e a Ticket Serviços S/A, pagou, nos últimos 4 anos, R$ 142,5 milhões nos 26 estados e no Distrito Federal.
As fraudes, de acordo com farta documentação elaborada por fiscais e gestores da Saúde ao longo de 2011, teriam beneficiado servidores públicos em postos de chefia, empresários e lideranças indígenas, que recebiam sua "cota de combustível" como "cala boca" preventivo ao péssimo atendimento de saúde, relatam procuradores da República e agentes federais com atuação na Amazônia Legal.
Enquanto o dinheiro escorre no ralo da corrupção, o Dsei Javarí, na segunda maior área indígena no país, com 4.915 moradores, contabilizou, entre 2010 e 2011, 255 nascidos vivos e 33 mortes por desnutrição aguda, diarreia e pneumonia de crianças entre 1 e 5 anos 1,2 mortes para cada dez nascimentos.
As irregularidades prosperaram no uso do Ticket Car, cartão de pagamento de combustível para veículos terrestres e fluviais. Em Manaus, por exemplo, os cartões dos servidores públicos caíram nas mãos de intermediários, que administram postos que atendem à Funasa.
Em 05 de abril de 2011, por meio do memorando 017/2011, um fiscal de contrato relatou a existência de veículos parados, no Dsei de Manaus, mas que continuavam "rodando" e sendo abastecidos de maneira fraudulenta.
Ofícios que autorizam pagamentos são recolhidos
Foi o estopim para a descoberta de 53 cartões de abastecimento, que ficavam sob controle do Posto Sideral, em Manaus.
O estabelecimento pagava créditos de combustível para contas bancárias indicadas pelos chefes dos distritos indígenas, conforme admitiu ao GLOBO o encarregado administrativo do posto, Landy Rodrigues Lima.
Dinheiro que, em tese, servia para subsidiar o abastecimento de veículos no interior do estado.
- Eles deixavam (os cartões) aqui e, no fim de semana, buscavam. Ninguém entendia o porquê. Eu só fazia passar o que eles pediam para passar. A gente fazia a intermediação - diz Lima, que não sabe quanto o posto ganhava na intermediação.
O MPF descobriu que os chefes do Dsei emitiam ofícios para liberar os créditos de combustível. Porém, no final do mês, funcionários do distrito recolhiam nos postos os ofícios de forma a sumir com as provas, informa um procurador da República.
Técnicos do Ministério da Saúde, ouvidos pelo GLOBO, detectaram procedimento semelhantes nos Dseis Tefé e Parintins. Um servidor, que pediu anonimato, conta que o dinheiro também beneficia lideranças indígenas. É a cota de combustível.
Os desvios agora revelados reforçam um histórico de fraudes no atendimento de saúde indígena. Apenas quatro investigações federais, concluídas nos últimos dois anos no Amapá, Rondônia e Roraima, apontam prejuízo de R$ 13,6 milhões.
São desvios na compra de alimentos, pagamentos de horas de voo, e serviços sem execução comprovada.
Foram detectados indícios de desvios em combustíveis, uso fraudulento de cartão de abastecimento e pagamentos irregulares por serviços nos Dseis Médio Rio Solimões e Afluentes;
Araguaia;
Minas Gerais/Espírito Santo;
Cuiabá;
Xavante/MT;
e Médio Rio Purus.
A documentação seguiu para Brasília.
O coordenador nacional dos fóruns de conselhos distritais de saúde indígena (Condisis), Jorge Marubo, confirma as irregularidades e diz que há grande resistência inclusive entre lideranças indígenas para estancar a sangria.
Para romper esse sistema de desvio de recursos é muito difícil. Alguns indígenas se envolvem nisso, querem manter o sistema da Funasa.
Há muita dificuldade para a organizar a mudança diz Marubo, que vive no Vale da Javarí, região que, segundo ele, tem o pior atendimento de saúde indígena do Brasil.
O Globo
postado por camuflado
ESPAVORIMENTO: TCU FARÁ PENTE-FINO NA PETROBRAS
Segundo o órgão, estatal fechou R$ 16,3 bilhões em contratos sem licitação em 2011
O Tribunal de Contas da União (TCU) vai promover este ano uma varredura nos contratos assinados pela Petrobras e por empresas em que a estatal tenha o controle societário, no Brasil e no exterior.
Segundo o Tribunal, a empresa tem desrespeitado regras de contratação.
Maior estatal brasileira, a Petrobras assinou no ano passado contratos que somam R$ 16,3 bilhões sem qualquer tipo de concorrência ou tomada de preços com fornecedores, o que representou quase um terço da contratação de serviços da companhia (R$ 52 bilhões).
O valor equivale ainda a 19% dos R$ 84,7 bilhões em investimentos previstos pela empresa em 2011. Se levarmos em conta os últimos três anos, as contratações sem concorrência engordaram as contas bancárias de prestadores de serviços em R$ 49,8 bilhões.
Os dados foram compilados pelo GLOBO com base em cerca de 20 mil contratos de serviços construção, projetos, instalações de equipamentos e manutenção, por exemplo disponíveis no site da estatal.
A compra sem concorrência é prevista pela própria Lei das Licitações (número 8.666) e pelo decreto que simplificou as contratações da estatal em 1998, que permitem classificar os contratos como "dispensa", "inexigibilidade", "inaplicabilidade" ou "convênios".
Segundo o Tribunal, que se posiciona contrário à flexibilização das regras de compras da empresa, seu técnicos começam a observar desrespeito às regras, mesmo pelos critérios previstos no decreto de 1998.
Muitas vezes, o Tribunal verifica que a Petrobras tem descumprido até as regras do decreto. A Petrobras é muito grande, dentro do Brasil e no exterior. Estamos agora tentando varrer todas as atividades societárias da Petrobras.
A Petrobras América, que tem escritórios no Golfo do México e em Nova York, pode ser auditada a qualquer momento. No ano passado, fizemos isso na Petrobras Netherlands, que contrata plataformas, e impedimos o pagamento referente ao reequilíbrio financeiro de um contrato diz Carlos Eduardo de Queiroz Pereira, titular da 9ª Secretaria de Controle Externo do TCU.
Os contratos sem licitação da Petrobras geram polêmica desde que o governo Fernando Henrique Cardoso baixou o decreto em 1998 flexibilizando as regras de contratação da companhia. São casos específicos em que a empresa pode abrir mão da concorrência.
É o caso de "guerra ou calamidade pública", urgência que possa "ocasionar prejuízo ou comprometer a segurança de pessoas, obras", serviços de "natureza singular".
Concorrência reduz custos, diz advogado
Entre os contratos fechados pela Petrobras sem concorrência está, por exemplo, o de fornecimento de alimentação por R$ 1,9 milhão, em abril de 2011, com "inexigibilidade" de concorrência. Há ainda o de fornecimento de bens e serviços do oleoduto de Cacimbas, em Barra do Riacho (ES), por R$ 6,4 milhões, assinado em março de 2011.
Em outro contrato, a estatal vai desembolsar R$ 5,9 milhões para serviços de montagem industrial de caldeiraria e tubulação com "dispensa" de concorrência, contrato de fevereiro de 2011.
Segundo especialistas, a Petrobras atua em um mercado competitivo e não pode ficar engessada em regras burocráticas que exigem lançamento de editais, publicações, prazos de propostas. Por outro lado, eles ressaltam que se trata de empresa majoritariamente pública, que administra contratos bilionários, e cobram transparência e mais fiscalização para o melhor uso do dinheiro público.
Para Claudio Weber Abramo, diretor-executivo da ONG Transparência Brasil, os gastos sem licitação mostram um uso exagerado do decreto que simplificou as regras de contratações da estatal.
A dispensa de licitação, por si só, não é um indício de fraude. O ponto é que, quando você faz uso recorrente disso, abre espaço para possíveis irregularidades. Sempre ficam dúvidas sobre os critérios que foram usados para a escolha de determinada empresa, se houve direcionamento avalia Abramo, especialista no tema corrupção.
O uso do decreto de 1998 é sistema$criticado pelo TCU, que chegou a sugerir que administradores da Petrobras fossem responsabilizados por contratações sem licitações. O Supremo Tribunal Federal (STF) garantiu, no entanto, em decisões liminares, o direito de a estatal recorrer ao decreto. Uma decisão final sobre o assunto está pendente.
Especialistas em petróleo afirmam que o processo licitatório é mais transparente e promove a competição.
Os números da Petrobras são superlativos por causa dos grandes montantes de recursos e empreendimentos envolvidos. E eu entendo que, onde houver dinheiro público, é preciso o respectivo controle, seja interno, com auditorias, como externos, como no caso do Tribunal de Contas. E, claro, da coletividade afirma Marcio Pestana, professor de Direito Administrativo e Público da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap).
Essa é também a opinião do advogado Cláudio Pinho, especialista na área de petróleo e gás:
A Petrobras não é obrigada, mas é uma prática saudável, de boa governança e transparência, fazer licitações. Gera mais competição e pode-se reduzir custos.
A maior transparência nas compras e contratações é fundamental, segundo Pinho, em se tratando de uma sociedade de economia mista, como a Petrobras, onde parte dos recursos é pública. Mas o advogado concorda também que a Petrobras precisa ter certa agilidade em suas compras para competir no setor. Por isso, Pinho acha muito importante a atuação cada vez maior do TCU na averiguação das compras sem licitação.
Estatal diz que busca competição
Outro especialista, o advogado Guilherme Vinhas, também defende maior fiscalização. Ele concorda que as compras sem licitação trazem mais agilidade à estatal, mas destaca que, devido aos elevados valores envolvidos, é necessária uma fiscalização mais rígida.
Essas compras sem licitação têm de ter uma justificativa muito razoável afirmou Vinhas.
Já o especialista Adriano Pires Rodrigues, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), disse que, apesar de ser favorável à Petrobras contratar sem licitação para ter mais agilidade, ele se preocupa com a forte ingerência política na gestão da companhia.
A empresa ter mais agilidade nas contratações é importante, mas, ao mesmo tempo, me preocupa, pois sabemos a forte ingerência política na Petrobras quando vemos o governo controlando a política de preços dos combustíveis, por exemplo.
Então essas compras sem licitação precisam ter um controle e uma fiscalização mais rigorosos afirmou Adriano Pires.
Para a indústria fabricante de materiais e equipamentos, não faz diferença se as compras da Petrobras são feitas por carta-convite, ou por meio de licitações, afirmou o diretor da Associação Brasileira das Indústrias de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) Alberto Machado.
Segundo ele, o mais importante para o setor é garantir que o maior número de encomendas seja feito no país:
O que a indústria pleiteia sempre é ter a informação das demandas para poder se preparar e atendê-las.
Em nota, a Petrobras afirmou que a licitação "é a regra para toda e qualquer contratação de obras, fornecimento de bens ou serviços". E acrescentou que há casos previstos na legislação em que a licitação é dispensada ou mesmo inexigível, por absoluta inviabilidade de competição.
Para a companhia, seria o caso, por exemplo, de fornecedor detentor de patente ou direito autoral sobre o produto ou serviço requisitado ou, ainda, que possui exclusividade de representação comercial de fabricante estrangeiro.
Segundo a estatal, quando a legislação dispensa a licitação formal, a prática da Petrobras "é a de sempre buscar a competição, obtendo, no mínimo, três propostas de preços, de modo a garantir a competição entre fornecedores".
A companhia acrescenta que a contratação direta, por si só, "não gera redução da competitividade" e que "será sempre a situação de mercado que indicará se é viável ou não haver competição entre os fornecedores".
O Globo
O Tribunal de Contas da União (TCU) vai promover este ano uma varredura nos contratos assinados pela Petrobras e por empresas em que a estatal tenha o controle societário, no Brasil e no exterior.
Segundo o Tribunal, a empresa tem desrespeitado regras de contratação.
Maior estatal brasileira, a Petrobras assinou no ano passado contratos que somam R$ 16,3 bilhões sem qualquer tipo de concorrência ou tomada de preços com fornecedores, o que representou quase um terço da contratação de serviços da companhia (R$ 52 bilhões).
O valor equivale ainda a 19% dos R$ 84,7 bilhões em investimentos previstos pela empresa em 2011. Se levarmos em conta os últimos três anos, as contratações sem concorrência engordaram as contas bancárias de prestadores de serviços em R$ 49,8 bilhões.
Os dados foram compilados pelo GLOBO com base em cerca de 20 mil contratos de serviços construção, projetos, instalações de equipamentos e manutenção, por exemplo disponíveis no site da estatal.
A compra sem concorrência é prevista pela própria Lei das Licitações (número 8.666) e pelo decreto que simplificou as contratações da estatal em 1998, que permitem classificar os contratos como "dispensa", "inexigibilidade", "inaplicabilidade" ou "convênios".
Segundo o Tribunal, que se posiciona contrário à flexibilização das regras de compras da empresa, seu técnicos começam a observar desrespeito às regras, mesmo pelos critérios previstos no decreto de 1998.
Muitas vezes, o Tribunal verifica que a Petrobras tem descumprido até as regras do decreto. A Petrobras é muito grande, dentro do Brasil e no exterior. Estamos agora tentando varrer todas as atividades societárias da Petrobras.
A Petrobras América, que tem escritórios no Golfo do México e em Nova York, pode ser auditada a qualquer momento. No ano passado, fizemos isso na Petrobras Netherlands, que contrata plataformas, e impedimos o pagamento referente ao reequilíbrio financeiro de um contrato diz Carlos Eduardo de Queiroz Pereira, titular da 9ª Secretaria de Controle Externo do TCU.
Os contratos sem licitação da Petrobras geram polêmica desde que o governo Fernando Henrique Cardoso baixou o decreto em 1998 flexibilizando as regras de contratação da companhia. São casos específicos em que a empresa pode abrir mão da concorrência.
É o caso de "guerra ou calamidade pública", urgência que possa "ocasionar prejuízo ou comprometer a segurança de pessoas, obras", serviços de "natureza singular".
Concorrência reduz custos, diz advogado
Entre os contratos fechados pela Petrobras sem concorrência está, por exemplo, o de fornecimento de alimentação por R$ 1,9 milhão, em abril de 2011, com "inexigibilidade" de concorrência. Há ainda o de fornecimento de bens e serviços do oleoduto de Cacimbas, em Barra do Riacho (ES), por R$ 6,4 milhões, assinado em março de 2011.
Em outro contrato, a estatal vai desembolsar R$ 5,9 milhões para serviços de montagem industrial de caldeiraria e tubulação com "dispensa" de concorrência, contrato de fevereiro de 2011.
Segundo especialistas, a Petrobras atua em um mercado competitivo e não pode ficar engessada em regras burocráticas que exigem lançamento de editais, publicações, prazos de propostas. Por outro lado, eles ressaltam que se trata de empresa majoritariamente pública, que administra contratos bilionários, e cobram transparência e mais fiscalização para o melhor uso do dinheiro público.
Para Claudio Weber Abramo, diretor-executivo da ONG Transparência Brasil, os gastos sem licitação mostram um uso exagerado do decreto que simplificou as regras de contratações da estatal.
A dispensa de licitação, por si só, não é um indício de fraude. O ponto é que, quando você faz uso recorrente disso, abre espaço para possíveis irregularidades. Sempre ficam dúvidas sobre os critérios que foram usados para a escolha de determinada empresa, se houve direcionamento avalia Abramo, especialista no tema corrupção.
O uso do decreto de 1998 é sistema$criticado pelo TCU, que chegou a sugerir que administradores da Petrobras fossem responsabilizados por contratações sem licitações. O Supremo Tribunal Federal (STF) garantiu, no entanto, em decisões liminares, o direito de a estatal recorrer ao decreto. Uma decisão final sobre o assunto está pendente.
Especialistas em petróleo afirmam que o processo licitatório é mais transparente e promove a competição.
Os números da Petrobras são superlativos por causa dos grandes montantes de recursos e empreendimentos envolvidos. E eu entendo que, onde houver dinheiro público, é preciso o respectivo controle, seja interno, com auditorias, como externos, como no caso do Tribunal de Contas. E, claro, da coletividade afirma Marcio Pestana, professor de Direito Administrativo e Público da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap).
Essa é também a opinião do advogado Cláudio Pinho, especialista na área de petróleo e gás:
A Petrobras não é obrigada, mas é uma prática saudável, de boa governança e transparência, fazer licitações. Gera mais competição e pode-se reduzir custos.
A maior transparência nas compras e contratações é fundamental, segundo Pinho, em se tratando de uma sociedade de economia mista, como a Petrobras, onde parte dos recursos é pública. Mas o advogado concorda também que a Petrobras precisa ter certa agilidade em suas compras para competir no setor. Por isso, Pinho acha muito importante a atuação cada vez maior do TCU na averiguação das compras sem licitação.
Estatal diz que busca competição
Outro especialista, o advogado Guilherme Vinhas, também defende maior fiscalização. Ele concorda que as compras sem licitação trazem mais agilidade à estatal, mas destaca que, devido aos elevados valores envolvidos, é necessária uma fiscalização mais rígida.
Essas compras sem licitação têm de ter uma justificativa muito razoável afirmou Vinhas.
Já o especialista Adriano Pires Rodrigues, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), disse que, apesar de ser favorável à Petrobras contratar sem licitação para ter mais agilidade, ele se preocupa com a forte ingerência política na gestão da companhia.
A empresa ter mais agilidade nas contratações é importante, mas, ao mesmo tempo, me preocupa, pois sabemos a forte ingerência política na Petrobras quando vemos o governo controlando a política de preços dos combustíveis, por exemplo.
Então essas compras sem licitação precisam ter um controle e uma fiscalização mais rigorosos afirmou Adriano Pires.
Para a indústria fabricante de materiais e equipamentos, não faz diferença se as compras da Petrobras são feitas por carta-convite, ou por meio de licitações, afirmou o diretor da Associação Brasileira das Indústrias de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) Alberto Machado.
Segundo ele, o mais importante para o setor é garantir que o maior número de encomendas seja feito no país:
O que a indústria pleiteia sempre é ter a informação das demandas para poder se preparar e atendê-las.
Em nota, a Petrobras afirmou que a licitação "é a regra para toda e qualquer contratação de obras, fornecimento de bens ou serviços". E acrescentou que há casos previstos na legislação em que a licitação é dispensada ou mesmo inexigível, por absoluta inviabilidade de competição.
Para a companhia, seria o caso, por exemplo, de fornecedor detentor de patente ou direito autoral sobre o produto ou serviço requisitado ou, ainda, que possui exclusividade de representação comercial de fabricante estrangeiro.
Segundo a estatal, quando a legislação dispensa a licitação formal, a prática da Petrobras "é a de sempre buscar a competição, obtendo, no mínimo, três propostas de preços, de modo a garantir a competição entre fornecedores".
A companhia acrescenta que a contratação direta, por si só, "não gera redução da competitividade" e que "será sempre a situação de mercado que indicará se é viável ou não haver competição entre os fornecedores".
O Globo
O LOSANGO SUBSTITUI A PIRÂMIDE
Quase 80% das famílias brasileiras estão nas classes C e B, segundo vários estudos. Temos agora o losango social, substituindo a velha pirâmide social. Verdade ou mentira, esta é a maior justificativa para a popularidade de Dilma Rousseff. E o povo não quer saber quem foi que fez. O povo quer é mais.
Pela primeira vez a classe E, a base da pirâmide social, representa menos de 1% dos 49 milhões de domicílios existentes no País. Isso significa que o número de brasileiros em situação de pobreza extrema teve uma drástica redução nos últimos dez anos, conforme apontam duas pesquisas de consultorias que usaram metodologias distintas.
Em números exatos: 404,9 mil ou 0,8% dos lares são hoje de classe E, segundo os cálculos do estudo IPC-Maps, feito pela IPC Marketing, consultoria especializada em avaliar o potencial de consumo.
Em 1998, a classe E reunia 13% dos domicílios, indica o estudo baseado em dados do IBGE.
Marcos Pazzini, responsável pelo estudo, explica que os dados são atualizados segundo um modelo desenvolvido pela consultoria, que leva em conta a pesquisa do Ibope Mídia sobre a distribuição socioeconômica dos domicílios, projeções de crescimento da população e da economia, entre outros indicadores. Os lares são classificados segundo o Critério Brasil, da Associação Brasileira das Empresas de Pesquisa (Abep), que leva em conta a posse de bens e o nível de escolaridade do chefe da família.
O Instituto Data Popular, especializado em baixa renda, vai na mesma direção. Em 2001, a classe E era 10% da população (17,3 milhões) e, em 2011, tinha caído para 3,6% ou 7 milhões, segundo o estudo que divide a população pela renda mensal per capita - R$ 79 para a classe E. "Não dá para dizer que acabaram os pobres, mas diminuíram muito, e a condição social deles melhorou porque tiveram acesso a vários bens de consumo, o que antes era praticamente impossível", afirma Pazzini.
Segundo o sócio diretor do Data Popular, Renato Meirelles, a tendência das pesquisas é a mesma: uma forte redução do contingente de pobres. "Em dez anos, foram 10 milhões de pessoas a menos na classe E", observa, ponderando que a divergência entre a ordem de grandeza dos resultados pode ser decorrente do fato de muitas pessoas da classe E não terem domicílio.
As participações das classes E e D na estrutura social encolheram por causa da forte migração que houve entre 1998 e 2011. A fatia dos domicílios de classe D caiu quase pela metade no período, de 33,6% para 15,1%. Já os estratos C e B cresceram. Em 1998, 17,8% dos domicílios eram da classe B e, em 2011, representavam 30,6%.
Na classe C, o crescimento foi ainda mais significativo, de 31% em 1998 para 49,3% em 2011, aponta o IPC-Maps. Resultado: quase 80% dos lares brasileiros hoje já são de classe C ou B. "Não dá mais para falar em pirâmide social, com a baixa renda representando a maior parte da população. Agora a estratificação social é como um losango", diz Pazzini. Ele destaca que hoje o porcentual de domicílios mais pobres (0,8%) quase empata com o total de mais ricos (0,5%).
(Do Estadão)
CABEÇA VAZIAS, CORPOS SARADOS E COMPORTAMENTOS PATÉTICOS
Não demorou muito e o BBB é caso de polícia. Mais, é caso de estupro. Mais, é caso do habitual descaso com que a programação da tevê aberta brasileira é tratada tanto pela sociedade quanto pelas instâncias governamentais.
A 12ª edição de um dos programas mais fúteis dentre a enormidade de produção de lixo televisivo nem chegou a completar uma semana de existência e já mostrou a que veio: vender cabeças vazias em corpos sarados e uma série quase interminável de comportamentos humanos aceitáveis na esfera privada e patéticos quando transbordam para a esfera pública.
Na noite de sábado [14/1], festa no BBB. Prenúncio de comas alcoólicos e certeza de danças variando entre o sensual e o erótico, ritmo alucinante, luzes piscando e tudo contribuindo para a exposição, sem reservas, dos instintos humanos.
Na madrugada de domingo, o Twitter passa a movimentar um sem número de mensagens denunciando Daniel de ter estuprado Monique, tudo captado pelas lentes do BBB, tanto imagem de cobertor em movimento quanto som. O problema, segundo o Twitter, é que apenas um dos dois parece estar vivo – apresenta, vamos dizer, sinais vitais. Este seria o Daniel. Não tardou para que hashtag #DanielExpulso viesse a ser um dos tópicos mais comentados do domingo.
E a onda se espraia na internet com força de tsunami: todos se unem para pedir a cabeça do Daniel e, de quebra, criticar ferozmente a existência de um programa como o Big Brother Brasil. Muitos questionam a correção em classificá-lo como programa. Muitos anunciam que irão boicotar a marca de automóveis Fiat, aquela que premia os carros entre os participantes e entre a audiência, e muitos clamam por intervenção do governo na grade de programação da tevê aberta.
Caso de polícia
Na tarde da segunda-feira [16/1], investigadores da polícia vão ao Projac (centro de produção da emissora, localizado na Zona Oeste do Rio) para apurar a suspeita de que Daniel teria abusado sexualmente de Monique durante a madrugada do último domingo [15/1]. A essa altura, Monique, a presumida vítima, é chamada no “confessionário” para dar explicações sobre o que aconteceu entre ela e Daniel na madrugada de segunda-feira. A moça parece não dizer coisa com coisa, algo como “não sei muito bem”, “acho que não passamos disso”, “ele seria muito mau-caráter se tivesse se aproveitado de mim”, e por aí vai. Logo, as notícias na internet, em particular no sítio G1, da TV Globo, produtora e responsável pela “atração”, passam a divulgar que a moça negou a ocorrência de estupro e replicam a fala do diretor-geral do reality show, J.B. Oliveira, o Boninho.
“Ela não confirmou que teve sexo e disse que tudo o que aconteceu foi consensual. Não dá para garantir que houve sexo, muito menos estupro. Eles estavam debaixo do edredom e de lado. Mas o mais importante é que ela [Monique] estava consciente de tudo. Ela me disse que na hora que o clima esquentou pediu para ele [Daniel] sair da cama”. Não ficaria por aí: “O que está acontecendo nada mais é que racismo”.
Ainda na segunda-feira, a ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres, Iriny Lopes, enviou ofício ao Ministério Público do Rio de Janeiro solicitando que o órgão “tome providências em relação ao suposto estupro que teria acontecido dentro do programa Big Brother Brasil 2012, exibido pela TV Globo.”
Nesta mesma noite, Pedro Bial lê em teleprompter a nota oficial da TV Globo dando conta da expulsão de Daniel por “haver infringido gravemente o regulamento do BBB”. É evidente o clima de constrangimento, sentimento que nem deveria existir em se tratando do BBB, que bem poderia ser visto como uma gincana ininterrupta de constrangimentos... à condição humana. Patética a figura de Bial.
Porque ele é aquele jornalista que cobriu a histórica derrubada do muro de Berlim, em novembro de 1989, e mostra à larga que o seu talento é melhor aproveitado fazendo o que faz há 12 anos seguidos no BBB: uma mistura de mestre-de-cerimônias com animador de picadeiro e bedel de escola primária com direito a filosofices tão rasas quanto o programa em que foi aceito como sumo pontífice. Fez o caminho de volta sem ao menos ter ido.
Silêncio da imprensa
Em um país que busca combater a violência contra a mulher em seus muitos aspectos e, em especial, combater o crime de estupro, chama a atenção o silêncio da grande imprensa em torno do caso.
Sim, porque pedidos pela expulsão de Daniel e punições à TV Globo não partiram dos jornais Folha de S.Paulo, Estado de S.Paulo e muito menos da emissora-líder na desconfortável posição de facilitar a ocorrência de estupro, com tudo gravado, segundo a segundo, e retransmitido para todo o Brasil. As denúncias começaram na forma de “piados” (twitter, em inglês), passaram pelo Facebook e tomaram forma nos tais blogues sujos (para a grande imprensa) e alternativos (para a cidadania).
No espaço de 24 horas, muitas águas rolaram nos desfiladeiros oceânicos da internet. Muitos levantaram o assunto na forma de algo adredemente planejado pela emissora do Jardim Botânico carioca para alavancar a audiência do BBB nesta sua 12ª edição.
Outros tantos foram mais enfáticos e exigiram nada menos que a suspensão do programa por tempo ilimitado ou, ao menos, pelo tempo em que durarem as investigações policiais. Mas isto é pedir muito quando estão em jogo interesses unicamente comerciais. Porque o dinheiro não tem nem pátria, ética, nem moral, nem costumes. Tem apenas a densidade que seu proprietário a ele conceda.
E nesses tempos em que a liberdade é vista como garantia de expressão dos instintos humanos básicos a qualquer momento, o sucesso nada mais é que conseguir esticar ao máximo seus quinze minutos de fama (lembram do Andy Warhol?), amealhar bens materiais e financeiros sem qualquer escrúpulo, usando os meios mais torpes para sua consecução. Neste contexto, não há muito o que esperar.
Nos últimos três anos escrevi no Observatório da Imprensa críticas ao conteúdo, formato, estilo, produção e transmissão do Big Brother Brasil. Tratei de estética, de conteúdo, de ética e de direitos humanos. Abordei a questão da privacidade e o circo de horrores que a qualquer momento poderia vir a ser a marca registrada do BBB.
Depois, resolvi não mais escrever. Porque é difícil falar para o deserto, ou pior, para o vácuo. Mas com a chegada da polícia ao Projac julguei oportuno voltar a tratar do “assunto”. Não porque o programa mereça, mas sim porque é um momento propício para debater sobre a sociedade que temos e a sociedade que queremos.
E qual o papel da mídia, enquanto espelho da realidade, na formulação dessa nova sociedade, uma sociedade que seja justa, igualitária, fraterna, inclusiva e promotora dos direitos humanos?
***
18/01/2012
Washington Araújo, é mestre em Comunicação pela UnB e escritor.
A 12ª edição de um dos programas mais fúteis dentre a enormidade de produção de lixo televisivo nem chegou a completar uma semana de existência e já mostrou a que veio: vender cabeças vazias em corpos sarados e uma série quase interminável de comportamentos humanos aceitáveis na esfera privada e patéticos quando transbordam para a esfera pública.
Na noite de sábado [14/1], festa no BBB. Prenúncio de comas alcoólicos e certeza de danças variando entre o sensual e o erótico, ritmo alucinante, luzes piscando e tudo contribuindo para a exposição, sem reservas, dos instintos humanos.
Na madrugada de domingo, o Twitter passa a movimentar um sem número de mensagens denunciando Daniel de ter estuprado Monique, tudo captado pelas lentes do BBB, tanto imagem de cobertor em movimento quanto som. O problema, segundo o Twitter, é que apenas um dos dois parece estar vivo – apresenta, vamos dizer, sinais vitais. Este seria o Daniel. Não tardou para que hashtag #DanielExpulso viesse a ser um dos tópicos mais comentados do domingo.
E a onda se espraia na internet com força de tsunami: todos se unem para pedir a cabeça do Daniel e, de quebra, criticar ferozmente a existência de um programa como o Big Brother Brasil. Muitos questionam a correção em classificá-lo como programa. Muitos anunciam que irão boicotar a marca de automóveis Fiat, aquela que premia os carros entre os participantes e entre a audiência, e muitos clamam por intervenção do governo na grade de programação da tevê aberta.
Caso de polícia
Na tarde da segunda-feira [16/1], investigadores da polícia vão ao Projac (centro de produção da emissora, localizado na Zona Oeste do Rio) para apurar a suspeita de que Daniel teria abusado sexualmente de Monique durante a madrugada do último domingo [15/1]. A essa altura, Monique, a presumida vítima, é chamada no “confessionário” para dar explicações sobre o que aconteceu entre ela e Daniel na madrugada de segunda-feira. A moça parece não dizer coisa com coisa, algo como “não sei muito bem”, “acho que não passamos disso”, “ele seria muito mau-caráter se tivesse se aproveitado de mim”, e por aí vai. Logo, as notícias na internet, em particular no sítio G1, da TV Globo, produtora e responsável pela “atração”, passam a divulgar que a moça negou a ocorrência de estupro e replicam a fala do diretor-geral do reality show, J.B. Oliveira, o Boninho.
“Ela não confirmou que teve sexo e disse que tudo o que aconteceu foi consensual. Não dá para garantir que houve sexo, muito menos estupro. Eles estavam debaixo do edredom e de lado. Mas o mais importante é que ela [Monique] estava consciente de tudo. Ela me disse que na hora que o clima esquentou pediu para ele [Daniel] sair da cama”. Não ficaria por aí: “O que está acontecendo nada mais é que racismo”.
Ainda na segunda-feira, a ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres, Iriny Lopes, enviou ofício ao Ministério Público do Rio de Janeiro solicitando que o órgão “tome providências em relação ao suposto estupro que teria acontecido dentro do programa Big Brother Brasil 2012, exibido pela TV Globo.”
Nesta mesma noite, Pedro Bial lê em teleprompter a nota oficial da TV Globo dando conta da expulsão de Daniel por “haver infringido gravemente o regulamento do BBB”. É evidente o clima de constrangimento, sentimento que nem deveria existir em se tratando do BBB, que bem poderia ser visto como uma gincana ininterrupta de constrangimentos... à condição humana. Patética a figura de Bial.
Porque ele é aquele jornalista que cobriu a histórica derrubada do muro de Berlim, em novembro de 1989, e mostra à larga que o seu talento é melhor aproveitado fazendo o que faz há 12 anos seguidos no BBB: uma mistura de mestre-de-cerimônias com animador de picadeiro e bedel de escola primária com direito a filosofices tão rasas quanto o programa em que foi aceito como sumo pontífice. Fez o caminho de volta sem ao menos ter ido.
Silêncio da imprensa
Em um país que busca combater a violência contra a mulher em seus muitos aspectos e, em especial, combater o crime de estupro, chama a atenção o silêncio da grande imprensa em torno do caso.
Sim, porque pedidos pela expulsão de Daniel e punições à TV Globo não partiram dos jornais Folha de S.Paulo, Estado de S.Paulo e muito menos da emissora-líder na desconfortável posição de facilitar a ocorrência de estupro, com tudo gravado, segundo a segundo, e retransmitido para todo o Brasil. As denúncias começaram na forma de “piados” (twitter, em inglês), passaram pelo Facebook e tomaram forma nos tais blogues sujos (para a grande imprensa) e alternativos (para a cidadania).
No espaço de 24 horas, muitas águas rolaram nos desfiladeiros oceânicos da internet. Muitos levantaram o assunto na forma de algo adredemente planejado pela emissora do Jardim Botânico carioca para alavancar a audiência do BBB nesta sua 12ª edição.
Outros tantos foram mais enfáticos e exigiram nada menos que a suspensão do programa por tempo ilimitado ou, ao menos, pelo tempo em que durarem as investigações policiais. Mas isto é pedir muito quando estão em jogo interesses unicamente comerciais. Porque o dinheiro não tem nem pátria, ética, nem moral, nem costumes. Tem apenas a densidade que seu proprietário a ele conceda.
E nesses tempos em que a liberdade é vista como garantia de expressão dos instintos humanos básicos a qualquer momento, o sucesso nada mais é que conseguir esticar ao máximo seus quinze minutos de fama (lembram do Andy Warhol?), amealhar bens materiais e financeiros sem qualquer escrúpulo, usando os meios mais torpes para sua consecução. Neste contexto, não há muito o que esperar.
Nos últimos três anos escrevi no Observatório da Imprensa críticas ao conteúdo, formato, estilo, produção e transmissão do Big Brother Brasil. Tratei de estética, de conteúdo, de ética e de direitos humanos. Abordei a questão da privacidade e o circo de horrores que a qualquer momento poderia vir a ser a marca registrada do BBB.
Depois, resolvi não mais escrever. Porque é difícil falar para o deserto, ou pior, para o vácuo. Mas com a chegada da polícia ao Projac julguei oportuno voltar a tratar do “assunto”. Não porque o programa mereça, mas sim porque é um momento propício para debater sobre a sociedade que temos e a sociedade que queremos.
E qual o papel da mídia, enquanto espelho da realidade, na formulação dessa nova sociedade, uma sociedade que seja justa, igualitária, fraterna, inclusiva e promotora dos direitos humanos?
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18/01/2012
Washington Araújo, é mestre em Comunicação pela UnB e escritor.
CONFLITOS LEVAM `A "LEI DO SILÊNCIO"
Felipe Recondo, 17/01/2012
Reproduzido do Estado de S. Paulo, 14/01/2012.
Felipe Recondo, 17/01/2012
Título original:
“Conflitos no Poder Judiciário levam à ‘lei do silêncio’”.
O silêncio cerimonioso que cerca os juízes vitimou, em tempos de conflito entre CNJ e Supremo, as notícias produzidas pelos canais de comunicação do Judiciário. Entre as notícias produzidas nos últimos dias pelas assessorias de imprensa do CNJ e do STF, nenhuma informação sobre a batalha judicial travada em torno das competências do Conselho. Na rádio e na TV, o comportamento é o mesmo: não se fala no assunto até que o Supremo dê a última palavra sobre quem está com a razão.
Na quinta-feira (12/1), os canais da Justiça ignoraram solenemente as informações prestadas pela ministra Eliana Calmon, corregedora nacional de Justiça, ao STF no processo que interrompeu as inspeções em 22 tribunais do País. No CNJ, a última e derradeira notícia sobre o caso data do dia 22 de dezembro.
Naquele dia, Eliana Calmon, nos corredores do CNJ, concedeu uma entrevista para negar que tenha quebrado os sigilos bancário e fiscal de ministros do STF ou de magistrados. O site do STF parou de tratar do assunto também no final do ano passado. A última notícia sobre o caso data de 22 de dezembro.
***
Freio no CNJ é obstáculo para investigar indícios da venda de sentenças no País
Reproduzido do Estado de S. Paulo
[14/01/2012]
Integrantes do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) temem que a barreira imposta dentro do próprio Judiciário – via liminares do Supremo Tribunal Federal – para a continuidade de investigações nos tribunais impeça a comprovação de indícios de venda de sentenças e enriquecimento ilícito de magistrados e servidores, no radar da Corregedoria Nacional de Justiça.
Conforme relatos de membros da Corregedoria ao Estado, o CNJ partiu para a série de inspeções em 22 tribunais, que começou pelo Tribunal de Justiça de São Paulo, munido de denúncias de que magistrados teriam patrimônio incompatível com seus rendimentos, o que leva à suspeita de que estariam negociando sentenças.
A proibição de acesso aos dados da evolução patrimonial de magistrados e servidores e à folha de pagamento dos tribunais, imposta pelo STF, praticamente torna sem efeito o relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), que mesmo sem revelar a identidade de servidores ou magistrados, mostrou que R$ 855,7 milhões foram movimentados entre 2000 e 2010 de forma suspeita.
As denúncias que chegaram ao CNJ, as investigações em curso e os alvos nessas inspeções aos tribunais são sigilosos e não são revelados.
O cruzamento entre as declarações de bens de servidores e juízes e a folha de pagamentos dos tribunais poderia indicar discrepâncias. Aqueles que estivessem nessa situação, seriam chamados a esclarecer as diferenças e, eventualmente, a corrigir as declarações apresentadas ao tribunal e à Receita Federal. Se não houvesse explicação plausível, uma investigação certamente seria aberta no âmbito administrativo.
Recesso
A decisão do ministro Ricardo Lewandowski, em processo das associações de magistrados, interrompeu as inspeções em todos os tribunais. Quando voltar do recesso, o tribunal terá de julgar o caso e decidir diversas questões jurídicas que envolvem este caso, entre elas se a Corregedoria teria poderes para solicitar dados sigilosos do Coaf ou se poderia, a qualquer momento, analisar informações das declarações de bens e rendas de servidores e magistrados.
A depender do entendimento dos ministros do Supremo, uma série de investigações já em curso no CNJ será comprometida.
Atualmente, a Corregedoria investiga 62 magistrados, cujos patrimônios pessoais e de dependentes não condizem com os rendimentos. Em 17 casos, indícios de irregularidades por trás da incompatibilidade entre patrimônio e salário levaram à abertura de sindicâncias. O conselho investiga se esses juízes construíram esse patrimônio se valendo da venda de sentenças.
Na apuração desses casos, a corregedora nacional de Justiça, ministra Eliana Calmon, recebeu informações sigilosas da Polícia Federal, da Receita, do Banco Central e do Coaf. Para obter esses dados, ela se baseou no regimento interno do conselho. O texto permite que o corregedor requisite “das autoridades fiscais, monetárias e de outras autoridades competentes, exames, perícias ou documentos, sigilosos ou não, imprescindíveis ao esclarecimento de processos ou procedimentos submetidos à sua apreciação”.
A depender da decisão do STF no mandado de segurança que barrou as inspeções, as investigações de venda de sentença que tenham se baseado em dados considerados sigilosos poderão ser comprometidas.
Na defesa que encaminhou ao Supremo, na tentativa de liberar as inspeções, Calmon negou que as apurações tenham violado os sigilos bancário e fiscal de magistrados e servidores ou que estivesse promovendo uma devassa nos tribunais. “Não foi solicitada qualquer investigação e muito menos devassa sobre magistrados e servidores”, afirmou a corregedora nas informações prestadas ao STF. “Não há nada de incomum ou extravagante na fiscalização da Corregedoria.”
No documento, Calmon anexou os dados do Coaf que indicam que 3.426 servidores e magistrados movimentaram em dez anos R$ 855,7 milhões. Em dinheiro vivo, foram R$ 274,9 milhões movimentados de forma atípica entre 2003 e 2010. Pessoas ligadas ao Judiciário receberam em suas contas R$ 77,1 milhões em espécie e depositaram na conta de terceiros, também em espécie, R$ 29,7 milhões.
Concentra-se na Justiça de SP, Rio e Bahia a maior quantidade de operações que entraram no radar do órgão de combate à lavagem de dinheiro. Em 2008, somente três pessoas ligadas ao TJ-SP e ao TJ da Bahia foram responsáveis por movimentações suspeitas no valor de R$ 116,5 milhões, o equivalente a 73% do apurado naquele ano. O TJ-BA diz desconhecer quem seria o magistrado ou servidor que teve movimentação financeira considerada “atípica” em 2008. (Colaborou Tiago Décimo)
Reproduzido do Estado de S. Paulo, 14/01/2012.
Felipe Recondo, 17/01/2012
Título original:
“Conflitos no Poder Judiciário levam à ‘lei do silêncio’”.
O silêncio cerimonioso que cerca os juízes vitimou, em tempos de conflito entre CNJ e Supremo, as notícias produzidas pelos canais de comunicação do Judiciário. Entre as notícias produzidas nos últimos dias pelas assessorias de imprensa do CNJ e do STF, nenhuma informação sobre a batalha judicial travada em torno das competências do Conselho. Na rádio e na TV, o comportamento é o mesmo: não se fala no assunto até que o Supremo dê a última palavra sobre quem está com a razão.
Na quinta-feira (12/1), os canais da Justiça ignoraram solenemente as informações prestadas pela ministra Eliana Calmon, corregedora nacional de Justiça, ao STF no processo que interrompeu as inspeções em 22 tribunais do País. No CNJ, a última e derradeira notícia sobre o caso data do dia 22 de dezembro.
Naquele dia, Eliana Calmon, nos corredores do CNJ, concedeu uma entrevista para negar que tenha quebrado os sigilos bancário e fiscal de ministros do STF ou de magistrados. O site do STF parou de tratar do assunto também no final do ano passado. A última notícia sobre o caso data de 22 de dezembro.
***
Freio no CNJ é obstáculo para investigar indícios da venda de sentenças no País
Reproduzido do Estado de S. Paulo
[14/01/2012]
Integrantes do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) temem que a barreira imposta dentro do próprio Judiciário – via liminares do Supremo Tribunal Federal – para a continuidade de investigações nos tribunais impeça a comprovação de indícios de venda de sentenças e enriquecimento ilícito de magistrados e servidores, no radar da Corregedoria Nacional de Justiça.
Conforme relatos de membros da Corregedoria ao Estado, o CNJ partiu para a série de inspeções em 22 tribunais, que começou pelo Tribunal de Justiça de São Paulo, munido de denúncias de que magistrados teriam patrimônio incompatível com seus rendimentos, o que leva à suspeita de que estariam negociando sentenças.
A proibição de acesso aos dados da evolução patrimonial de magistrados e servidores e à folha de pagamento dos tribunais, imposta pelo STF, praticamente torna sem efeito o relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), que mesmo sem revelar a identidade de servidores ou magistrados, mostrou que R$ 855,7 milhões foram movimentados entre 2000 e 2010 de forma suspeita.
As denúncias que chegaram ao CNJ, as investigações em curso e os alvos nessas inspeções aos tribunais são sigilosos e não são revelados.
O cruzamento entre as declarações de bens de servidores e juízes e a folha de pagamentos dos tribunais poderia indicar discrepâncias. Aqueles que estivessem nessa situação, seriam chamados a esclarecer as diferenças e, eventualmente, a corrigir as declarações apresentadas ao tribunal e à Receita Federal. Se não houvesse explicação plausível, uma investigação certamente seria aberta no âmbito administrativo.
Recesso
A decisão do ministro Ricardo Lewandowski, em processo das associações de magistrados, interrompeu as inspeções em todos os tribunais. Quando voltar do recesso, o tribunal terá de julgar o caso e decidir diversas questões jurídicas que envolvem este caso, entre elas se a Corregedoria teria poderes para solicitar dados sigilosos do Coaf ou se poderia, a qualquer momento, analisar informações das declarações de bens e rendas de servidores e magistrados.
A depender do entendimento dos ministros do Supremo, uma série de investigações já em curso no CNJ será comprometida.
Atualmente, a Corregedoria investiga 62 magistrados, cujos patrimônios pessoais e de dependentes não condizem com os rendimentos. Em 17 casos, indícios de irregularidades por trás da incompatibilidade entre patrimônio e salário levaram à abertura de sindicâncias. O conselho investiga se esses juízes construíram esse patrimônio se valendo da venda de sentenças.
Na apuração desses casos, a corregedora nacional de Justiça, ministra Eliana Calmon, recebeu informações sigilosas da Polícia Federal, da Receita, do Banco Central e do Coaf. Para obter esses dados, ela se baseou no regimento interno do conselho. O texto permite que o corregedor requisite “das autoridades fiscais, monetárias e de outras autoridades competentes, exames, perícias ou documentos, sigilosos ou não, imprescindíveis ao esclarecimento de processos ou procedimentos submetidos à sua apreciação”.
A depender da decisão do STF no mandado de segurança que barrou as inspeções, as investigações de venda de sentença que tenham se baseado em dados considerados sigilosos poderão ser comprometidas.
Na defesa que encaminhou ao Supremo, na tentativa de liberar as inspeções, Calmon negou que as apurações tenham violado os sigilos bancário e fiscal de magistrados e servidores ou que estivesse promovendo uma devassa nos tribunais. “Não foi solicitada qualquer investigação e muito menos devassa sobre magistrados e servidores”, afirmou a corregedora nas informações prestadas ao STF. “Não há nada de incomum ou extravagante na fiscalização da Corregedoria.”
No documento, Calmon anexou os dados do Coaf que indicam que 3.426 servidores e magistrados movimentaram em dez anos R$ 855,7 milhões. Em dinheiro vivo, foram R$ 274,9 milhões movimentados de forma atípica entre 2003 e 2010. Pessoas ligadas ao Judiciário receberam em suas contas R$ 77,1 milhões em espécie e depositaram na conta de terceiros, também em espécie, R$ 29,7 milhões.
Concentra-se na Justiça de SP, Rio e Bahia a maior quantidade de operações que entraram no radar do órgão de combate à lavagem de dinheiro. Em 2008, somente três pessoas ligadas ao TJ-SP e ao TJ da Bahia foram responsáveis por movimentações suspeitas no valor de R$ 116,5 milhões, o equivalente a 73% do apurado naquele ano. O TJ-BA diz desconhecer quem seria o magistrado ou servidor que teve movimentação financeira considerada “atípica” em 2008. (Colaborou Tiago Décimo)
DILMA TEM PONTUAÇÃO "ÓTIMA" PARA 59% DO ELEITORADO
Dilma é considerada ótima ou boa por 59% após um ano, diz Datafolha. E daí?
A presidente Dilma Rousseff atingiu no fim do primeiro ano de seu governo um índice de aprovação recorde, maior que o alcançado nesse estágio por todos os presidentes que a antecederam desde a volta das eleições diretas. Pesquisa Datafolha realizada na última semana mostra que 59% dos brasileiros consideram sua gestão ótima ou boa — um salto de 10 pontos percentuais em seis meses. Outros 33% classificam a gestão como regular, e 6% como ruim ou péssima — cinco pontos a menos que na pesquisa de agosto. Não responderam 2% dos entrevistados. A nota média do governo é 7,2. Os números atestam que a presidente não teve a imagem afetada pelos escândalos que marcaram o início de sua gestão. Ela demitiu sete ministros em 2011, seis deles sob suspeita de corrupção.
Ao completar um ano no Planalto, Fernando Collor tinha 23% de aprovação. Itamar Franco contava 12%. Fernando Henrique Cardoso teve 41% no primeiro mandato e 16% no segundo. Luiz Inácio Lula da Silva alcançou 42% e 50%, respectivamente.
De acordo com o novo levantamento, a avaliação de Dilma melhorou entre homens e mulheres e em todas as faixas de idade, renda familiar e escolaridade. Sua aprovação agora é de 62% no eleitorado feminino e de 56% no masculino.
A presidente alcançou um equilíbrio entre os eleitores da base e do topo da pirâmide social. Tem 61% de ótimo e bom entre os que estudaram até o ensino fundamental e 59% entre os que chegaram ao ensino superior.
Na divisão por renda familiar, o maior avanço foi na faixa de cinco a dez salários mínimos: 16 pontos de melhora, atingindo 61% de aprovação. Para o diretor-geral do Datafolha, Mauro Paulino, a chave para entender a evolução dos números nos últimos meses está na economia.
(…)
A fatia de entrevistados que acredita que sua situação econômica vai melhorar subiu de 54% em junho passado para 60% neste mês.
O otimismo sobre a economia do país foi de 42% para 46% no período. Em 2011, a inflação chegou a 6,5%, a maior em sete anos.
A alta de preços atingiu o pico em setembro, mas agora segue tendência de queda. A imagem pessoal de Dilma também melhorou.
Ela é considerada “decidida” por 72% dos brasileiros. Para 80%, ela é “muito inteligente”, e para 70%, “sincera”.
(…)
Por Bernardo Mello Franco, na Folha
Comento
Os índices são formidáveis para presidente que teve de demitir seis ministros sob suspeita de corrupção — e só não demitiu mais porque achou que tinha capital político, e tem, para não arrumar mais confusão na base aliada.
A economia deu uma discreta piorada para o consumidor na comparação com Lula, mas nada que assuste. Continua fortemente ancorada no consumo, e a percepção é a de que tudo vai bem.
A oposição, como discurso alternativo, neste primeiro ano de governo Dilma, mal existiu. Procurou repercutir denúncias feitas pela imprensa e coisa e tal, mas é preciso bem mais do que isso.
Se, no passado, não soube cuidar dos seus acertos, hoje, não consegue cuidar dos erros do governo. É claro que há exceções, como, para citar um, o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), sempre muito atento.
Dilma deu a sua grande tacada quando se livrou da primeira leva de ministros-problema. É bem verdade que amplos setores da imprensa colaboraram, alimentando a imagem da presidente decidida, que é ombudsman do próprio governo. Ela é tratada como a gerente durona da máquina — 72% a consideram “decidida”.
A presidente não cumpriu, nem minimamente, as promessas feitas para o primeiro ano. E daí?
Anteontem, lemos nos jornais que Dilma, vejam vocês, se opõe a cortes no Orçamento que atinjam áreas sociais ou que acabem refletindo no consumo e no emprego. Tem-se a imagem da mulher destemida que luta por nós “lá junto aos homens”. É a nossa protetora. Assim como nos protegeu ao demitir aqueles seis — que ela havia nomeado.
É evidente que essas construções têm menos chances de prosperar quando encontram pela frente um discurso organizado de combate a mitos e mitologias. Mas não há nada parecido.
Concorre, finalmente, para essa avaliação positiva em setores onde o próprio Lula nunca conseguiu avaliação tão expressiva o fato de a presidente ter escolhido o figurino da sobriedade — há o risco de escorregões em período eleitoral, vamos ver.
Os mais exigentes nunca tiveram muita paciência para as bazófias de Lula. Dilma optou pelo caminho da discrição. Fala pouco e conseguiu plasmar a imagem de que está sempre muito ocupada, cuidando do Brasil.
De fato, seu governo é lento, fraco. Mas só 6% acham isso, e, para um político, é o que importa. A menos que a crise internacional dê um tombo na economia brasileira — e não há essa perspectiva — ou que venha à luz um escândalo avassalador (ainda existe?), caminha para a reeleição (sim, sei que é cedo e coisa e tal).
Ora, perguntem-se: quem lidera o contraponto no país, tornando audível a sua voz?
Encerro lembrando que, se Dilma tivesse dado bola àquele bando de puxa-sacos pagos com dinheiro público, teria mantido no governo todos os suspeitos. Preferiu, ao contrário, atentar para o que informa a imprensa séria, que aqueles vagabundos chamam de “golpista”. Ao fazê-lo, captou um sentimento que a canalha a soldo já não reconhece: indignação.
Fez algumas demissões e consolidou a sua imagem de durona e austera. Esse foi o seu maior acerto até agora. O resto é pífio. “E daí?”, pergunta o petralha.
“Você está nos 6%, Reinaldo!” Claro que sim! Numa democracia se tolera a crítica da minoria, não é mesmo?
Reinaldo Azevedo
A presidente Dilma Rousseff atingiu no fim do primeiro ano de seu governo um índice de aprovação recorde, maior que o alcançado nesse estágio por todos os presidentes que a antecederam desde a volta das eleições diretas. Pesquisa Datafolha realizada na última semana mostra que 59% dos brasileiros consideram sua gestão ótima ou boa — um salto de 10 pontos percentuais em seis meses. Outros 33% classificam a gestão como regular, e 6% como ruim ou péssima — cinco pontos a menos que na pesquisa de agosto. Não responderam 2% dos entrevistados. A nota média do governo é 7,2. Os números atestam que a presidente não teve a imagem afetada pelos escândalos que marcaram o início de sua gestão. Ela demitiu sete ministros em 2011, seis deles sob suspeita de corrupção.
Ao completar um ano no Planalto, Fernando Collor tinha 23% de aprovação. Itamar Franco contava 12%. Fernando Henrique Cardoso teve 41% no primeiro mandato e 16% no segundo. Luiz Inácio Lula da Silva alcançou 42% e 50%, respectivamente.
De acordo com o novo levantamento, a avaliação de Dilma melhorou entre homens e mulheres e em todas as faixas de idade, renda familiar e escolaridade. Sua aprovação agora é de 62% no eleitorado feminino e de 56% no masculino.
A presidente alcançou um equilíbrio entre os eleitores da base e do topo da pirâmide social. Tem 61% de ótimo e bom entre os que estudaram até o ensino fundamental e 59% entre os que chegaram ao ensino superior.
Na divisão por renda familiar, o maior avanço foi na faixa de cinco a dez salários mínimos: 16 pontos de melhora, atingindo 61% de aprovação. Para o diretor-geral do Datafolha, Mauro Paulino, a chave para entender a evolução dos números nos últimos meses está na economia.
(…)
A fatia de entrevistados que acredita que sua situação econômica vai melhorar subiu de 54% em junho passado para 60% neste mês.
O otimismo sobre a economia do país foi de 42% para 46% no período. Em 2011, a inflação chegou a 6,5%, a maior em sete anos.
A alta de preços atingiu o pico em setembro, mas agora segue tendência de queda. A imagem pessoal de Dilma também melhorou.
Ela é considerada “decidida” por 72% dos brasileiros. Para 80%, ela é “muito inteligente”, e para 70%, “sincera”.
(…)
Por Bernardo Mello Franco, na Folha
Comento
Os índices são formidáveis para presidente que teve de demitir seis ministros sob suspeita de corrupção — e só não demitiu mais porque achou que tinha capital político, e tem, para não arrumar mais confusão na base aliada.
A economia deu uma discreta piorada para o consumidor na comparação com Lula, mas nada que assuste. Continua fortemente ancorada no consumo, e a percepção é a de que tudo vai bem.
A oposição, como discurso alternativo, neste primeiro ano de governo Dilma, mal existiu. Procurou repercutir denúncias feitas pela imprensa e coisa e tal, mas é preciso bem mais do que isso.
Se, no passado, não soube cuidar dos seus acertos, hoje, não consegue cuidar dos erros do governo. É claro que há exceções, como, para citar um, o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), sempre muito atento.
Dilma deu a sua grande tacada quando se livrou da primeira leva de ministros-problema. É bem verdade que amplos setores da imprensa colaboraram, alimentando a imagem da presidente decidida, que é ombudsman do próprio governo. Ela é tratada como a gerente durona da máquina — 72% a consideram “decidida”.
A presidente não cumpriu, nem minimamente, as promessas feitas para o primeiro ano. E daí?
Anteontem, lemos nos jornais que Dilma, vejam vocês, se opõe a cortes no Orçamento que atinjam áreas sociais ou que acabem refletindo no consumo e no emprego. Tem-se a imagem da mulher destemida que luta por nós “lá junto aos homens”. É a nossa protetora. Assim como nos protegeu ao demitir aqueles seis — que ela havia nomeado.
É evidente que essas construções têm menos chances de prosperar quando encontram pela frente um discurso organizado de combate a mitos e mitologias. Mas não há nada parecido.
Concorre, finalmente, para essa avaliação positiva em setores onde o próprio Lula nunca conseguiu avaliação tão expressiva o fato de a presidente ter escolhido o figurino da sobriedade — há o risco de escorregões em período eleitoral, vamos ver.
Os mais exigentes nunca tiveram muita paciência para as bazófias de Lula. Dilma optou pelo caminho da discrição. Fala pouco e conseguiu plasmar a imagem de que está sempre muito ocupada, cuidando do Brasil.
De fato, seu governo é lento, fraco. Mas só 6% acham isso, e, para um político, é o que importa. A menos que a crise internacional dê um tombo na economia brasileira — e não há essa perspectiva — ou que venha à luz um escândalo avassalador (ainda existe?), caminha para a reeleição (sim, sei que é cedo e coisa e tal).
Ora, perguntem-se: quem lidera o contraponto no país, tornando audível a sua voz?
Encerro lembrando que, se Dilma tivesse dado bola àquele bando de puxa-sacos pagos com dinheiro público, teria mantido no governo todos os suspeitos. Preferiu, ao contrário, atentar para o que informa a imprensa séria, que aqueles vagabundos chamam de “golpista”. Ao fazê-lo, captou um sentimento que a canalha a soldo já não reconhece: indignação.
Fez algumas demissões e consolidou a sua imagem de durona e austera. Esse foi o seu maior acerto até agora. O resto é pífio. “E daí?”, pergunta o petralha.
“Você está nos 6%, Reinaldo!” Claro que sim! Numa democracia se tolera a crítica da minoria, não é mesmo?
Reinaldo Azevedo
SOMOS 6%... QUEM SÃO OS 59% ?
MAIORIA DOS BRASILEIROS APROVA O PRIMEIRO ANO DO GOVERNO DE DILMA
O instituto Datafolha publicou neste domingo (22) uma pesquisa sobre a aprovação do primeiro ano do governo Dilma Rousseff. Segundo a pesquisa, Dilma teve a melhor aprovação no primeiro ano de mandato, se comparada com os presidentes anteriores.
O Datafolha ouviu 2.575 pessoas, nos dias 18 e 19 de janeiro. Os resultados mostram que 59% dos brasileiros consideraram o primeiro ano do governo Dilma como “ótimo” ou “bom”; 33% classificaram a gestão como “regular”, e 6% como “ruim” ou “péssima”.
A presidente Dilma Rousseff atingiu no fim do primeiro ano de seu governo um índice de aprovação recorde, maior que o alcançado nesse estágio por todos os presidentes que a antecederam desde a volta das eleições diretas. (…) Ao completar um ano no Planalto, Fernando Collor tinha 23% de aprovação. Itamar Franco contava 12%. Fernando Henrique Cardoso teve 41% no primeiro mandato e 16% no segundo. Lula alcançou 42% e 50%, respectivamente.
Bruno Calixto
22/01/2012
Redação Época
NOTA AO PÉ DO TEXTO
Não vamos considerar o analfabeto funcional, uma categoria que não frequenta o índice de analfabetos nas pesquisas do IBGE.
Brasil tem segundo maior índice de analfabetismo da América do Sul
*** *** ***
O que fazer para acabar com o analfabetismo? Opine
A queda de 29,1% na taxa de analfabetismo entre 1996 e 2006 não foi suficiente para tirar o Brasil do incômodo penúltimo lugar no ranking de alfabetização na América do Sul. Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgados nesta sexta-feira, o percentual de brasileiros que não sabem ler e escrever é inferior apenas ao da Bolívia, onde a taxa de analfabetismo foi de 11,7% em 2005.
Analfabetismo na América Latina e Caribe*
Haiti 45,2
Nicarágua 31,9
Guatemala 28,2
Honduras 22,0
El Salvador 18,9
República Dominicana 14,5
Bolívia 11,7
Jamaica 11,3
Brasil 11,1
Peru 8,4
México 7,4
Colômbia 7,1
Equador 7,0
Panamá 7,0
Venezuela 6,0
Paraguai 5,6
Porto Rico 5,4
Belize 5,3
Bahamas 4,2
Costa Rica 3,8
Chile 3,5
Antilhas Holandesas 3,1
Argentina 2,8
Cuba 2,7
Uruguai 2,0
Trinidad e Tobago 1,2
Guiana 1,0
Barbados 0,3
Média 9,95
*Dados do Cepal 2005
Em relação a todos os países latino-americanos e caribenhos, o Brasil também vai mal no quesito: tem o 9º pior índice do grupo.
Mais grave ainda é a situação do Nordeste, que tem o mais elevado índice entre as cinco regiões do país. Na média, um em cada cinco nordestinos declarou que não sabe ler nem escrever um bilhete simples. Se fosse um país, o Nordeste teria o 5º pior desempenho em alfabetização da América Latina e Caribe, à frente apenas de Honduras, Guatemala, Nicarágua e Haiti.
Na comparação de dados de população urbana da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) com os da Cepal (Comissão Econômica para América Latina e Caribe) em 2005, o Brasil se saiu pior do que vizinhos de IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) mais baixo, como Peru, Venezuela e Colômbia.
A taxa brasileira de analfabetismo, 11,1% entre os maiores de 15 anos, ficou, em 2005, acima da média do grupo, que foi 9,95%. O número divulgado pelo IBGE referente a 2006, 10,4%, também está acima dessa linha.
O contingente de analfabetos no Brasil acima de 15 anos, 14 milhões de pessoas, coloca o país no grupo das 11 nações com mais de 10 milhões de não-alfabetizados, ao lado do Egito, Marrocos, China, Indonésia, Bangladesh, Índia, Irã, Paquistão, Etiópia e Nigéria.
O grupo é considerado prioritário para a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura), que criou programa de metas de erradicação de analfabetismo até 2015.
Bruno Aragaki
Da Redação
O instituto Datafolha publicou neste domingo (22) uma pesquisa sobre a aprovação do primeiro ano do governo Dilma Rousseff. Segundo a pesquisa, Dilma teve a melhor aprovação no primeiro ano de mandato, se comparada com os presidentes anteriores.
O Datafolha ouviu 2.575 pessoas, nos dias 18 e 19 de janeiro. Os resultados mostram que 59% dos brasileiros consideraram o primeiro ano do governo Dilma como “ótimo” ou “bom”; 33% classificaram a gestão como “regular”, e 6% como “ruim” ou “péssima”.
A presidente Dilma Rousseff atingiu no fim do primeiro ano de seu governo um índice de aprovação recorde, maior que o alcançado nesse estágio por todos os presidentes que a antecederam desde a volta das eleições diretas. (…) Ao completar um ano no Planalto, Fernando Collor tinha 23% de aprovação. Itamar Franco contava 12%. Fernando Henrique Cardoso teve 41% no primeiro mandato e 16% no segundo. Lula alcançou 42% e 50%, respectivamente.
Bruno Calixto
22/01/2012
Redação Época
NOTA AO PÉ DO TEXTO
Não vamos considerar o analfabeto funcional, uma categoria que não frequenta o índice de analfabetos nas pesquisas do IBGE.
Brasil tem segundo maior índice de analfabetismo da América do Sul
*** *** ***
O que fazer para acabar com o analfabetismo? Opine
A queda de 29,1% na taxa de analfabetismo entre 1996 e 2006 não foi suficiente para tirar o Brasil do incômodo penúltimo lugar no ranking de alfabetização na América do Sul. Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgados nesta sexta-feira, o percentual de brasileiros que não sabem ler e escrever é inferior apenas ao da Bolívia, onde a taxa de analfabetismo foi de 11,7% em 2005.
Analfabetismo na América Latina e Caribe*
Haiti 45,2
Nicarágua 31,9
Guatemala 28,2
Honduras 22,0
El Salvador 18,9
República Dominicana 14,5
Bolívia 11,7
Jamaica 11,3
Brasil 11,1
Peru 8,4
México 7,4
Colômbia 7,1
Equador 7,0
Panamá 7,0
Venezuela 6,0
Paraguai 5,6
Porto Rico 5,4
Belize 5,3
Bahamas 4,2
Costa Rica 3,8
Chile 3,5
Antilhas Holandesas 3,1
Argentina 2,8
Cuba 2,7
Uruguai 2,0
Trinidad e Tobago 1,2
Guiana 1,0
Barbados 0,3
Média 9,95
*Dados do Cepal 2005
Em relação a todos os países latino-americanos e caribenhos, o Brasil também vai mal no quesito: tem o 9º pior índice do grupo.
Mais grave ainda é a situação do Nordeste, que tem o mais elevado índice entre as cinco regiões do país. Na média, um em cada cinco nordestinos declarou que não sabe ler nem escrever um bilhete simples. Se fosse um país, o Nordeste teria o 5º pior desempenho em alfabetização da América Latina e Caribe, à frente apenas de Honduras, Guatemala, Nicarágua e Haiti.
Na comparação de dados de população urbana da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) com os da Cepal (Comissão Econômica para América Latina e Caribe) em 2005, o Brasil se saiu pior do que vizinhos de IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) mais baixo, como Peru, Venezuela e Colômbia.
A taxa brasileira de analfabetismo, 11,1% entre os maiores de 15 anos, ficou, em 2005, acima da média do grupo, que foi 9,95%. O número divulgado pelo IBGE referente a 2006, 10,4%, também está acima dessa linha.
O contingente de analfabetos no Brasil acima de 15 anos, 14 milhões de pessoas, coloca o país no grupo das 11 nações com mais de 10 milhões de não-alfabetizados, ao lado do Egito, Marrocos, China, Indonésia, Bangladesh, Índia, Irã, Paquistão, Etiópia e Nigéria.
O grupo é considerado prioritário para a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura), que criou programa de metas de erradicação de analfabetismo até 2015.
Bruno Aragaki
Da Redação
ENTREVISTA: DELEGADO WAGNER GIUDICE, DIRETOR DE NARCÓTICOS DA POLÍCIA CIVIL DE SÃO PAULO
DROGAS - 21/01/2012
Wagner Giudice: ‘O Brasil não está preparado para descriminalização das drogas’
Wagner Giudice, diretor do Departamento de Narcóticos da Polícia Civil de São Paulo, diz que educar a população pode levar à diminuição no consumo de drogas
Humberto Maia
A voz grave e confiante, a postura altiva e o olhar compenetrado do delegado Wagner Giudice escondem uma verdade: Giudice é um homem pressionado e que se incomoda com as cobranças que recebe.
Há um ano ele é o diretor do Denarc, o Departamento da Polícia Civil de São Paulo responsável pelo combate ao narcotráfico. “É um trabalho muito duro”, diz o delegado de 46 anos, 23 deles na polícia. “Há uma pressão terrível em cima da gente. Todo mundo acha que vamos resolver o problema das drogas.”
A questão que se levanta é: o que significa “resolver o problema das drogas”? Tolerar o consumo? Liberar a compra e venda de drogas? Todas as drogas? Ou a solução é erradicar as drogas do planeta? Como?
Num assunto cujo debate costuma ser polarizado por opiniões extremistas, o delegado Giudice tenta evitar radicalismos. Ele tem consciência da impossibilidade de um mundo livre de entorpecentes. Sabe que sempre haverá pessoas interessadas no uso de substâncias que alteram a consciência. Mas acha temerário liberar o uso das drogas. “É algo complicado”, diz.
Por fim, admite: sendo impossível coibir esse comércio, lutar contra as drogas é um trabalho parecido com “enxugar gelo”. Mas é um trabalho que deve ser feito, afirma. “Se você não enxugar o gelo vai ficar uma poça embaixo”. Abaixo, entrevista concedida a EPOCA.
Época: Como vencer a guerra contra as drogas?
Wagner Giudice: Antes de tudo, o combate às drogas passa pela educação. Acho que todas as polícias que trabalham com combate ao narcotráfico têm essa noção. O país que mais gasta dinheiro no combate às drogas é os Estados Unidos. Mesmo assim a droga continua presente. Por isso, num primeiro momento, a educação é o primeiro passo para que a gente tenha bons resultados. Num segundo momento, aí sim entra a repressão e o que vemos hoje em dia.
Época: Combater o consumo então é o primeiro passo?
Giudice: Sim, é preciso convencer as pessoas de que as drogas fazem mal. E os resultados no curto e no longo prazos são perniciosos para o ser humano. Uma vez entendido isso, eu presumo que o consumo caia drasticamente. Caindo o consumo, o fornecedor terá menos mercado e aí facilita o combate.
Época: Mas não existe sempre uma parcela da população com tendência a transgredir regras?
Giudice: Isso é uma coisa interessante. De cada 100 pessoas que provam drogas, de 10 a 13 terão muitos problemas em abandonar o uso. A ciência não consegue explicar isso. Para algumas pessoas, o prazer do uso é maior que a vontade delas de largá-la. É o caso do crack, que tem um poder viciante muito grande. Dizem que de cada dez pessoas que provam, nove terão muita dificuldade em largar. Ele causa uma sensação de bem estar em quem usa em curtíssimo prazo e, no longo prazo, provoca efeitos devastadores na saúde do usuário.
Época: O senhor acha que o crack é mesmo uma epidemia?
Giudice: Acho que o crack é um problema muito sério. O usuário de crack rompeu muitas barreiras morais: mora na rua, se droga na rua, dorme no lixo, come comida do chão, adota a promiscuidade... o usuário de maconha, ecstasy ou cocaína se esconde em nichos e não se expõe socialmente. O usuário de crack perde essas barreiras. É uma droga tão viciante que o leva a romper barreiras morais. E aí ele fica exposto à luz do dia num processo de degradação à vista de todos. Engraçado é que as pessoas que fazem marcha pela maconha criticam o crack. Mas o traficante que fornece a droga é o mesmo. São coisas que andam juntas, não adianta dissociá-las.
"O que a gente propõe é que o usuário seja obrigado a se tratar. Seja obrigado a ter de largar droga."
Época: O senhor falou em reprimir o consumo. E qual a importância do papel da polícia?
Giudice: A polícia faz o papel da repressão. Atua para impedir que a droga alcance o consumidor. Mas vivemos um paradoxo. As legislações do mundo em geral são liberais para o usuário e demonizam o traficante. Você tem de combater o tráfico mas ser condescendente com o usuário. No Brasil hoje ele não é preso. Nem é obrigado a se tratar. O que a gente propõe é que esse usuário seja obrigado a se tratar. Seja obrigado a ter de largar droga. As legislações mais modernas do mundo vão nesse sentido.
Época: O senhor é favorável à internação compulsória?
Giudice: Eu acho que deve isso ser discutido com todos os setores da sociedade. Acho que deve haver alguma obrigação para o usuário se livrar do vício. É preciso ver a forma como isso seria feito. Por exemplo, uma pessoa que é pega pela primeira vez com drogas precisaria ser internada? Talvez o problema dela seja resolvido com uma conversa com os pais. Ou bastaria um acompanhamento ambulatorial e psicoterapias. Se ele for reincidente, aí talvez seja necessária internação compulsória. Mas isso deve ser discutido de forma ampla.
Época: Qual sua avaliação sobre as ações da Cracolândia?
Giudice: Olha, apesar das críticas que (a ação) sofreu, e é natural que sofresse – uma vez que qualquer ação seria alvo de críticas – acho que foi positiva. Por quê? Porque conseguiu debelar aquele aglomerado de gente que estava se tornando agressiva. Espalhou. “Ah, mas não prenderam ninguém”, alguém diz. A prisão de traficantes será conseqüência disso. Hoje o usuário está mais vulnerável à ação de agentes sociais. Um agente de saúde pode se aproximar com maior facilidade, porque ele não estará mais no meio de um grupo de usuários transtornados pela droga. Para o agente social ficou mais fácil a aproximação.
Época: Mas agentes sociais criticaram a ação da Polícia e dizem que o efeito foi o contrário – que o trabalho deles foi prejudicado.
Giudice: Os policiais conseguem se aproximar dos caras com maior facilidade, eles estão menos agressivos e mais propícios a conversar. Quando íamos lá, os usuários protegiam os pequenos traficantes. Era difícil agir. Agora passamos a enxergar a ação do traficante com mais clareza. Mas acho que só teremos uma leitura completa do cenário em algumas semanas.
Época: Quem apoiou a ação da PM disse que era obrigação do Estado retomar uma área degradada, tomada por usuários e traficantes.
Giudice: A Cracolândia nunca foi um lugar onde a polícia não entrasse. Tanto é verdade que no ano passado fizemos 200 flagrantes lá dentro. A Cracolândia de fato era um refúgio dos usuários. Eles se sentiam confortáveis. E quanto mais gente chegava mais difícil era a ação policial. A gente sofreu muitos ataques por parte deles. De qualquer modo, a sensação para quem passava lá era muito ruim. Era algo horrível em todos os aspectos – estético, de higiene e de humanidade. Era questão de tempo acontecer uma coisa dessas. Eu estou vendo isso há um ano, quando vim para cá. Usuários são muito resistentes em sair de lá. É um negócio impressionante. A PM vai lá com um aparato forte, e eles insistem em voltar. Vai levar uns dias para eles entenderem que não poderão mais voltar para lá. Essa é a verdade. Vivemos o começo do fim da Cracolândia.
Época: É inevitável?
Giudice: Não vai voltar. O Estado não vai permitir. Seria uma derrota deixar que aquilo volte. Agora, a ação pode gerar efeitos colaterais, como a migração para outras áreas da cidade. Cabe a nós da polícia evitar que isso aconteça. E aí quem sabe ocorra um uso mais discreto, dentro de casas, hotéis. Pode ser que a gente chegue nisso.
"A Cracolândia de fato era um refúgio dos usuários. Eles se sentiam confortáveis."
Época: Mas o Estado não tem de oferecer tratamento aos usuários?
Giudice: O Estado tem de dar isso. Opção de internação. É importante a polícia debelar e o Estado dar oportunidade de tratamento. O jogo está em equilibrar isso.
Época: O Brasil não dá muita ênfase à questão policial no combate às drogas?
Giudice: Eu sou policial por formação é, por isso, fui levado a pensar mais nesse aspecto. Mas é preciso subir no topo da pirâmide e enxergar tudo que tem em volta. O uso de crack é reflexo de um problema social. Compete a todos nós darmos a nossa contribuição. A polícia e todas as áreas. O que não pode é engolir legislação que é feita por meia dúzia que têm pouco conhecimento do assunto e a polícia que se vire para aplicar essa lei.
Época: De que legislação o senhor está falando?
Giudice: A legislação repressiva da droga. Tem de ter a parte de repressão, mas e a parte do usuário? Escrever (na lei) que tem de ser tratado, mas como? Só escrever? E o aparato para tratar dessa gente? Isso tem de ser seriamente tratado. A legislação não pode ser casuística, tem de ter base objetiva para que a gente possa tratar essas pessoas.
Época: O senhor acha que a polícia está preparada para lidar com o usuário?
Giudice: Não. Acho que o usuário é um capítulo a parte nessa história. Ele tem completa ojeriza pela polícia. Anualmente recebemos no Denarc de 400 a 500 encaminhamentos de usuários. Muitos chegam trazidos pelos pais e amigos e acham que a polícia vai ser agressiva, vai maltratar, bater, vai acontecer. O próprio usuário tem muito problema com a polícia. Por isso temos de fazer uma aproximação com o usuário.
Época: Mas o policial não é, muitas vezes, truculento com usuários?
Giudice: Eu acho que é cultural. Por mais que você trate o usuário dentro da lei ele ainda se sente agredido. Ele acha que tem o direito de usar e que a polícia não pode se intrometer na vida dele.
Época: Quando eu perguntei se a polícia está preparada para lidar com o usuário, o senhor disse que não. Não está preparada em que sentido?
Giudice: De fazer essa aproximação com o usuário e convencê-lo a se tratar. Agora, truculência é um problema de cada policial. Tem cara (policial) que gosta de bater nos outros, tem cara que não gosta. Vou te contar um caso que aconteceu na semana passada, na sexta-feira. Pegamos um sujeito, um usuário que se tornou microtraficante. Enquanto era feito um laudo, ele dormiu numa cadeira, num canto da delegacia. Umas três horas depois, quando o laudo de constatação da droga ficou pronto, ele acordou. Um pessoal daqui da delegacia tinha comprado pão, queijo, presunto, refrigerante para um lanche da tarde. Ofereceram para ele. Ele comeu quatro sanduíches. Depois comeu bolo, doce, tudo que tinha na delegacia. Quando chegou a hora de enviá-lo ao presídio, ele pediu para ficar aqui, disse que fazia muito tempo que não era bem tratado. Ele até se ofereceu para ajudar em alguma coisa. Por quê? Ele viu que não fomos agressivos com ele. Dificilmente tem algum tipo de violência contra usuário aqui no Denarc. Já houve no passado.
Época: Mas o policial, de modo geral, não trata o usuário como um vagabundo?
Giudice: Principalmente os mais antigos. Os mais novos tem uma educação mais humanista.
Época: O jornalista italiano Roberto Saviano escreveu no livro A Beleza e o Inferno que a “cocaína era o produto de mais sucesso da história do capitalismo”. O senhor concorda?
Giudice: É um caso a se pensar, heim? (Risos) É uma frase forte. Pode ser. Dificilmente alguém vai defender a cocaína em público, mas ela tem um glamour inegável na alta sociedade. Tudo isso contribui para que ela continue sendo usada. A cultura ocidental se adaptou à cocaína de uma maneira muito forte. É algo impressionante.
Época: Se sempre existem pessoas interessadas em usar drogas e pessoas querendo vendê-las, acha possível realmente um mundo livre de drogas?
Giudice: Debelar completamente, não, mas é possível diminuir muito a incidência.
Época: O que o senhor considera um sucesso na luta contras as drogas?
Giudice: Diminuir de maneira muito drástica as conseqüências do uso de drogas – usuário largar a família, estudo, trabalho, morrer...
Época: E o tráfico?
Giudice: Além de vender o produto causador desses problemas, ele traz a violência: extermínio do usuário que não paga, matar o concorrente, cometer outros crimes seqüestro, roubo a banco, roubo a carro, residência, enfim... formas de não ficar descapitalizado caso a polícia faça uma grande apreensão de droga. O efeito das drogas não se restringe a destruir vidas de usuários. Tem um corolário de violência que traz com ele.
Época: Se a polícia prende o pequeno traficante, logo esse espaço será ocupado por outra pessoa. Se prender um grande “barão do tráfico”, outro vai assumir o espaço deixado. Dessa forma, o trabalho da polícia não é como enxugar gelo?
Giudice: É, mas se você não enxugar o gelo vai ficar uma poça embaixo, né ? (risos). Sem dúvida, é um trabalho que às vezes você se questiona muito. Mas é um trabalho que precisa ser feito. E constantemente. Eu trabalhei dez anos na Delegacia Anti Seqüestro. Conseguimos baixar o número de 300 para 30. No Narcotráfico você nunca tem a exata noção de onde você está. Você tem sensação, mas nunca exata noção. Quem pode dizer o quanto de droga rola no mundo? Só temos estimativas de estimativas. Quando você apreende muitas toneladas de droga, o que significa? Que você está fazendo um bom trabalho ou que há uma quantidade absurda de droga? E quando você apreende pouco? É que tem pouca droga no mercado ou você está sendo pouco eficiente? É um paradoxo. A gente trabalha assim: estima-se a quantidade produzida de droga e compara com a quantidade apreendida. Mas nunca dá para ter certeza de nada.
Época: Como funciona o tráfico em São Paulo?
Giudice: O Brasil não produz droga. E a cocaína que chega a São Paulo vem da Bolívia – 80% da produção boliviana vem para o Brasil. Estima-se que eles produzam 115 toneladas de droga por ano. Tem brasileiro que domina a produção, que é exportada para cá. A maior parte da droga entra de caminhão pelo oeste do Estado. Pouca coisa em pequenos aviões. Hoje os traficantes não transportam grandes quantidades. Não passa de 50 kg ou 60kg. Porque, se houver intervenção policial a perda é menor. Em São Paulo, eles transformam a cocaína, que vem em pasta, para ser vendida no varejo. Nesses pequenos laboratórios, o sujeito embala, repassa para um terceiro, que vende na rua. O negócio é muito dissolvido. E tem gente insuspeita que investe no negócio. Gente que conhece o traficante que faz o transporte. É um lucro gigantesco.
Época: É pulverizado.
Giudice: Muito pulverizado, muito espalhado. A gente fez muitas ações na Cracolândia no ano passado. Eu achava que havia um grande barão atuando por lá. Uma mentira. Num laboratório da periferia tem um dono. Em outro laboratório, outro dono. Todos são fornecedores. Há poucos dias prendemos um garoto de 19 anos que preparava droga.
Época: Essa pulverização dificulta do trabalho da polícia?
Giudice: É difícil para a gente. Todo dia uma novidade, tem de
mapear da melhor forma que puder.
Época: A sociedade reclama que a polícia só prende pequenos traficantes. Por que não prende os grandes traficantes?
Giudice: Chegar nesses sujeitos demanda tempo, eles são muito bem protegidos e a legislação não facilita o nosso trabalho.
Época: Como assim?
Giudice: Para chegar nesse sujeito você precisa abrir tantos sigilos bancários, telefônicos.. há muita resistência para isso. A legislação, que garante direitos individuais, acaba impedindo o trabalho. Mesmo a Polícia Federal, atuando na fronteira, tem dificuldade... A legislação facilita o trabalho em quem coloca a mão na droga. A associação com o tráfico é tênue e difícil de ser provada. Mas já não estamos na época do Pablo Escolar ou Scar Face. Hoje em dia há muitos pequenos e médios traficantes. Mas é muito dinheiro e tem muita gente disposta a se arriscar por ele.
" Não existe Cracolândia apenas em São Paulo, existe no Brasil inteiro e mundo."
Época: Em grandes cidades do mundo o consumo de drogas é maior que em metrópoles brasileiras, mas o tráfico não é tão violento e o consumo é mais discreto.
Giudice: Não existe Cracolândia apenas em São Paulo, existe no Brasil inteiro e mundo. Na década de 90, havia uma Cracolândia igual ou pior à nossa em Nova York. Com ações sociais e policiais, hoje não existe mais. O Brasil vai enfrentar os problemas que São Paulo está enfrentando.
Época: No Brasil a questão das drogas não saiu do controle? A sensação de insegurança que o tráfico provoca na população não é maior aqui do que em outros países?
Giudice: Os lugares mais pobres do Brasil são muito sensíveis à ação desses criminosos. Favelas são pontos usados pelos traficantes se esconderem e distribuírem droga. A própria configuração das nossas cidades propicia isso – as favelas no Rio, a periferias em São Paulo. Somado a isso têm a falta de educação, de saúde... é um caldeirão que propicia a ação mais ostensiva de traficantes armados, querendo mostrar um poder paralelo.
Época: O Senhor é favorável à descriminalização das drogas?
Giudice: Não.
Época: Por quê?
Época: Não estamos preparados. Não temos cultura para isso. Primeiro, o sujeito tem de estar muito ciente do que está fazendo. Um povo desamparado e mal educado não pode estar à mercê da droga. Ele tem de ter possibilidade de escolha, mas escolha estudada.
Época: Como assim?
Giudice: O Brasil é um país de iletrados. Quem lê não entende...Qual poder de escolha dessa pessoa? Vai ser uma vítima do uso da droga. Ele sabe que é errado (uso de drogas) e só isso. Mas por que é errado, os efeitos da droga em que usa, não sabe.
Época: O que o senhor acha que poderia acontecer se o Brasil aprovasse a descriminalização do uso?
Giudice: Eu não consigo imaginar. Acho que, num primeiro momento, teríamos um consumo desenfreado. E quem venderia a droga? Isso me preocupa muito. Por isso eu digo, que é algo complicado. Quem vai controlar a droga?
Wagner Giudice: ‘O Brasil não está preparado para descriminalização das drogas’
Wagner Giudice, diretor do Departamento de Narcóticos da Polícia Civil de São Paulo, diz que educar a população pode levar à diminuição no consumo de drogas
Humberto Maia
A voz grave e confiante, a postura altiva e o olhar compenetrado do delegado Wagner Giudice escondem uma verdade: Giudice é um homem pressionado e que se incomoda com as cobranças que recebe.
Há um ano ele é o diretor do Denarc, o Departamento da Polícia Civil de São Paulo responsável pelo combate ao narcotráfico. “É um trabalho muito duro”, diz o delegado de 46 anos, 23 deles na polícia. “Há uma pressão terrível em cima da gente. Todo mundo acha que vamos resolver o problema das drogas.”
A questão que se levanta é: o que significa “resolver o problema das drogas”? Tolerar o consumo? Liberar a compra e venda de drogas? Todas as drogas? Ou a solução é erradicar as drogas do planeta? Como?
Num assunto cujo debate costuma ser polarizado por opiniões extremistas, o delegado Giudice tenta evitar radicalismos. Ele tem consciência da impossibilidade de um mundo livre de entorpecentes. Sabe que sempre haverá pessoas interessadas no uso de substâncias que alteram a consciência. Mas acha temerário liberar o uso das drogas. “É algo complicado”, diz.
Por fim, admite: sendo impossível coibir esse comércio, lutar contra as drogas é um trabalho parecido com “enxugar gelo”. Mas é um trabalho que deve ser feito, afirma. “Se você não enxugar o gelo vai ficar uma poça embaixo”. Abaixo, entrevista concedida a EPOCA.
Época:
Wagner Giudice: Antes de tudo, o combate às drogas passa pela educação. Acho que todas as polícias que trabalham com combate ao narcotráfico têm essa noção. O país que mais gasta dinheiro no combate às drogas é os Estados Unidos. Mesmo assim a droga continua presente. Por isso, num primeiro momento, a educação é o primeiro passo para que a gente tenha bons resultados. Num segundo momento, aí sim entra a repressão e o que vemos hoje em dia.
Época: Combater o consumo então é o primeiro passo?
Giudice: Sim, é preciso convencer as pessoas de que as drogas fazem mal. E os resultados no curto e no longo prazos são perniciosos para o ser humano. Uma vez entendido isso, eu presumo que o consumo caia drasticamente. Caindo o consumo, o fornecedor terá menos mercado e aí facilita o combate.
Época: Mas não existe sempre uma parcela da população com tendência a transgredir regras?
Giudice: Isso é uma coisa interessante. De cada 100 pessoas que provam drogas, de 10 a 13 terão muitos problemas em abandonar o uso. A ciência não consegue explicar isso. Para algumas pessoas, o prazer do uso é maior que a vontade delas de largá-la. É o caso do crack, que tem um poder viciante muito grande. Dizem que de cada dez pessoas que provam, nove terão muita dificuldade em largar. Ele causa uma sensação de bem estar em quem usa em curtíssimo prazo e, no longo prazo, provoca efeitos devastadores na saúde do usuário.
Época: O senhor acha que o crack é mesmo uma epidemia?
Giudice: Acho que o crack é um problema muito sério. O usuário de crack rompeu muitas barreiras morais: mora na rua, se droga na rua, dorme no lixo, come comida do chão, adota a promiscuidade... o usuário de maconha, ecstasy ou cocaína se esconde em nichos e não se expõe socialmente. O usuário de crack perde essas barreiras. É uma droga tão viciante que o leva a romper barreiras morais. E aí ele fica exposto à luz do dia num processo de degradação à vista de todos. Engraçado é que as pessoas que fazem marcha pela maconha criticam o crack. Mas o traficante que fornece a droga é o mesmo. São coisas que andam juntas, não adianta dissociá-las.
"O que a gente propõe é que o usuário seja obrigado a se tratar. Seja obrigado a ter de largar droga."
Época: O senhor falou em reprimir o consumo. E qual a importância do papel da polícia?
Giudice: A polícia faz o papel da repressão. Atua para impedir que a droga alcance o consumidor. Mas vivemos um paradoxo. As legislações do mundo em geral são liberais para o usuário e demonizam o traficante. Você tem de combater o tráfico mas ser condescendente com o usuário. No Brasil hoje ele não é preso. Nem é obrigado a se tratar. O que a gente propõe é que esse usuário seja obrigado a se tratar. Seja obrigado a ter de largar droga. As legislações mais modernas do mundo vão nesse sentido.
Época: O senhor é favorável à internação compulsória?
Giudice: Eu acho que deve isso ser discutido com todos os setores da sociedade. Acho que deve haver alguma obrigação para o usuário se livrar do vício. É preciso ver a forma como isso seria feito. Por exemplo, uma pessoa que é pega pela primeira vez com drogas precisaria ser internada? Talvez o problema dela seja resolvido com uma conversa com os pais. Ou bastaria um acompanhamento ambulatorial e psicoterapias. Se ele for reincidente, aí talvez seja necessária internação compulsória. Mas isso deve ser discutido de forma ampla.
Época: Qual sua avaliação sobre as ações da Cracolândia?
Giudice: Olha, apesar das críticas que (a ação) sofreu, e é natural que sofresse – uma vez que qualquer ação seria alvo de críticas – acho que foi positiva. Por quê? Porque conseguiu debelar aquele aglomerado de gente que estava se tornando agressiva. Espalhou. “Ah, mas não prenderam ninguém”, alguém diz. A prisão de traficantes será conseqüência disso. Hoje o usuário está mais vulnerável à ação de agentes sociais. Um agente de saúde pode se aproximar com maior facilidade, porque ele não estará mais no meio de um grupo de usuários transtornados pela droga. Para o agente social ficou mais fácil a aproximação.
Época: Mas agentes sociais criticaram a ação da Polícia e dizem que o efeito foi o contrário – que o trabalho deles foi prejudicado.
Giudice: Os policiais conseguem se aproximar dos caras com maior facilidade, eles estão menos agressivos e mais propícios a conversar. Quando íamos lá, os usuários protegiam os pequenos traficantes. Era difícil agir. Agora passamos a enxergar a ação do traficante com mais clareza. Mas acho que só teremos uma leitura completa do cenário em algumas semanas.
Época: Quem apoiou a ação da PM disse que era obrigação do Estado retomar uma área degradada, tomada por usuários e traficantes.
Giudice: A Cracolândia nunca foi um lugar onde a polícia não entrasse. Tanto é verdade que no ano passado fizemos 200 flagrantes lá dentro. A Cracolândia de fato era um refúgio dos usuários. Eles se sentiam confortáveis. E quanto mais gente chegava mais difícil era a ação policial. A gente sofreu muitos ataques por parte deles. De qualquer modo, a sensação para quem passava lá era muito ruim. Era algo horrível em todos os aspectos – estético, de higiene e de humanidade. Era questão de tempo acontecer uma coisa dessas. Eu estou vendo isso há um ano, quando vim para cá. Usuários são muito resistentes em sair de lá. É um negócio impressionante. A PM vai lá com um aparato forte, e eles insistem em voltar. Vai levar uns dias para eles entenderem que não poderão mais voltar para lá. Essa é a verdade. Vivemos o começo do fim da Cracolândia.
Época: É inevitável?
Giudice: Não vai voltar. O Estado não vai permitir. Seria uma derrota deixar que aquilo volte. Agora, a ação pode gerar efeitos colaterais, como a migração para outras áreas da cidade. Cabe a nós da polícia evitar que isso aconteça. E aí quem sabe ocorra um uso mais discreto, dentro de casas, hotéis. Pode ser que a gente chegue nisso.
"A Cracolândia de fato era um refúgio dos usuários. Eles se sentiam confortáveis."
Época: Mas o Estado não tem de oferecer tratamento aos usuários?
Giudice: O Estado tem de dar isso. Opção de internação. É importante a polícia debelar e o Estado dar oportunidade de tratamento. O jogo está em equilibrar isso.
Época: O Brasil não dá muita ênfase à questão policial no combate às drogas?
Giudice: Eu sou policial por formação é, por isso, fui levado a pensar mais nesse aspecto. Mas é preciso subir no topo da pirâmide e enxergar tudo que tem em volta. O uso de crack é reflexo de um problema social. Compete a todos nós darmos a nossa contribuição. A polícia e todas as áreas. O que não pode é engolir legislação que é feita por meia dúzia que têm pouco conhecimento do assunto e a polícia que se vire para aplicar essa lei.
Época: De que legislação o senhor está falando?
Giudice: A legislação repressiva da droga. Tem de ter a parte de repressão, mas e a parte do usuário? Escrever (na lei) que tem de ser tratado, mas como? Só escrever? E o aparato para tratar dessa gente? Isso tem de ser seriamente tratado. A legislação não pode ser casuística, tem de ter base objetiva para que a gente possa tratar essas pessoas.
Época: O senhor acha que a polícia está preparada para lidar com o usuário?
Giudice: Não. Acho que o usuário é um capítulo a parte nessa história. Ele tem completa ojeriza pela polícia. Anualmente recebemos no Denarc de 400 a 500 encaminhamentos de usuários. Muitos chegam trazidos pelos pais e amigos e acham que a polícia vai ser agressiva, vai maltratar, bater, vai acontecer. O próprio usuário tem muito problema com a polícia. Por isso temos de fazer uma aproximação com o usuário.
Época: Mas o policial não é, muitas vezes, truculento com usuários?
Giudice: Eu acho que é cultural. Por mais que você trate o usuário dentro da lei ele ainda se sente agredido. Ele acha que tem o direito de usar e que a polícia não pode se intrometer na vida dele.
Época: Quando eu perguntei se a polícia está preparada para lidar com o usuário, o senhor disse que não. Não está preparada em que sentido?
Giudice: De fazer essa aproximação com o usuário e convencê-lo a se tratar. Agora, truculência é um problema de cada policial. Tem cara (policial) que gosta de bater nos outros, tem cara que não gosta. Vou te contar um caso que aconteceu na semana passada, na sexta-feira. Pegamos um sujeito, um usuário que se tornou microtraficante. Enquanto era feito um laudo, ele dormiu numa cadeira, num canto da delegacia. Umas três horas depois, quando o laudo de constatação da droga ficou pronto, ele acordou. Um pessoal daqui da delegacia tinha comprado pão, queijo, presunto, refrigerante para um lanche da tarde. Ofereceram para ele. Ele comeu quatro sanduíches. Depois comeu bolo, doce, tudo que tinha na delegacia. Quando chegou a hora de enviá-lo ao presídio, ele pediu para ficar aqui, disse que fazia muito tempo que não era bem tratado. Ele até se ofereceu para ajudar em alguma coisa. Por quê? Ele viu que não fomos agressivos com ele. Dificilmente tem algum tipo de violência contra usuário aqui no Denarc. Já houve no passado.
Época: Mas o policial, de modo geral, não trata o usuário como um vagabundo?
Giudice: Principalmente os mais antigos. Os mais novos tem uma educação mais humanista.
Época: O jornalista italiano Roberto Saviano escreveu no livro A Beleza e o Inferno que a “cocaína era o produto de mais sucesso da história do capitalismo”. O senhor concorda?
Giudice: É um caso a se pensar, heim? (Risos) É uma frase forte. Pode ser. Dificilmente alguém vai defender a cocaína em público, mas ela tem um glamour inegável na alta sociedade. Tudo isso contribui para que ela continue sendo usada. A cultura ocidental se adaptou à cocaína de uma maneira muito forte. É algo impressionante.
Época: Se sempre existem pessoas interessadas em usar drogas e pessoas querendo vendê-las, acha possível realmente um mundo livre de drogas?
Giudice: Debelar completamente, não, mas é possível diminuir muito a incidência.
Época: O que o senhor considera um sucesso na luta contras as drogas?
Giudice: Diminuir de maneira muito drástica as conseqüências do uso de drogas – usuário largar a família, estudo, trabalho, morrer...
Época: E o tráfico?
Giudice: Além de vender o produto causador desses problemas, ele traz a violência: extermínio do usuário que não paga, matar o concorrente, cometer outros crimes seqüestro, roubo a banco, roubo a carro, residência, enfim... formas de não ficar descapitalizado caso a polícia faça uma grande apreensão de droga. O efeito das drogas não se restringe a destruir vidas de usuários. Tem um corolário de violência que traz com ele.
Época: Se a polícia prende o pequeno traficante, logo esse espaço será ocupado por outra pessoa. Se prender um grande “barão do tráfico”, outro vai assumir o espaço deixado. Dessa forma, o trabalho da polícia não é como enxugar gelo?
Giudice: É, mas se você não enxugar o gelo vai ficar uma poça embaixo, né ? (risos). Sem dúvida, é um trabalho que às vezes você se questiona muito. Mas é um trabalho que precisa ser feito. E constantemente. Eu trabalhei dez anos na Delegacia Anti Seqüestro. Conseguimos baixar o número de 300 para 30. No Narcotráfico você nunca tem a exata noção de onde você está. Você tem sensação, mas nunca exata noção. Quem pode dizer o quanto de droga rola no mundo? Só temos estimativas de estimativas. Quando você apreende muitas toneladas de droga, o que significa? Que você está fazendo um bom trabalho ou que há uma quantidade absurda de droga? E quando você apreende pouco? É que tem pouca droga no mercado ou você está sendo pouco eficiente? É um paradoxo. A gente trabalha assim: estima-se a quantidade produzida de droga e compara com a quantidade apreendida. Mas nunca dá para ter certeza de nada.
Época: Como funciona o tráfico em São Paulo?
Giudice: O Brasil não produz droga. E a cocaína que chega a São Paulo vem da Bolívia – 80% da produção boliviana vem para o Brasil. Estima-se que eles produzam 115 toneladas de droga por ano. Tem brasileiro que domina a produção, que é exportada para cá. A maior parte da droga entra de caminhão pelo oeste do Estado. Pouca coisa em pequenos aviões. Hoje os traficantes não transportam grandes quantidades. Não passa de 50 kg ou 60kg. Porque, se houver intervenção policial a perda é menor. Em São Paulo, eles transformam a cocaína, que vem em pasta, para ser vendida no varejo. Nesses pequenos laboratórios, o sujeito embala, repassa para um terceiro, que vende na rua. O negócio é muito dissolvido. E tem gente insuspeita que investe no negócio. Gente que conhece o traficante que faz o transporte. É um lucro gigantesco.
Época: É pulverizado.
Giudice: Muito pulverizado, muito espalhado. A gente fez muitas ações na Cracolândia no ano passado. Eu achava que havia um grande barão atuando por lá. Uma mentira. Num laboratório da periferia tem um dono. Em outro laboratório, outro dono. Todos são fornecedores. Há poucos dias prendemos um garoto de 19 anos que preparava droga.
Época: Essa pulverização dificulta do trabalho da polícia?
Giudice: É difícil para a gente. Todo dia uma novidade, tem de
mapear da melhor forma que puder.
Época: A sociedade reclama que a polícia só prende pequenos traficantes. Por que não prende os grandes traficantes?
Giudice: Chegar nesses sujeitos demanda tempo, eles são muito bem protegidos e a legislação não facilita o nosso trabalho.
Época: Como assim?
Giudice: Para chegar nesse sujeito você precisa abrir tantos sigilos bancários, telefônicos.. há muita resistência para isso. A legislação, que garante direitos individuais, acaba impedindo o trabalho. Mesmo a Polícia Federal, atuando na fronteira, tem dificuldade... A legislação facilita o trabalho em quem coloca a mão na droga. A associação com o tráfico é tênue e difícil de ser provada. Mas já não estamos na época do Pablo Escolar ou Scar Face. Hoje em dia há muitos pequenos e médios traficantes. Mas é muito dinheiro e tem muita gente disposta a se arriscar por ele.
" Não existe Cracolândia apenas em São Paulo, existe no Brasil inteiro e mundo."
Época: Em grandes cidades do mundo o consumo de drogas é maior que em metrópoles brasileiras, mas o tráfico não é tão violento e o consumo é mais discreto.
Giudice: Não existe Cracolândia apenas em São Paulo, existe no Brasil inteiro e mundo. Na década de 90, havia uma Cracolândia igual ou pior à nossa em Nova York. Com ações sociais e policiais, hoje não existe mais. O Brasil vai enfrentar os problemas que São Paulo está enfrentando.
Época: No Brasil a questão das drogas não saiu do controle? A sensação de insegurança que o tráfico provoca na população não é maior aqui do que em outros países?
Giudice: Os lugares mais pobres do Brasil são muito sensíveis à ação desses criminosos. Favelas são pontos usados pelos traficantes se esconderem e distribuírem droga. A própria configuração das nossas cidades propicia isso – as favelas no Rio, a periferias em São Paulo. Somado a isso têm a falta de educação, de saúde... é um caldeirão que propicia a ação mais ostensiva de traficantes armados, querendo mostrar um poder paralelo.
Época: O Senhor é favorável à descriminalização das drogas?
Giudice: Não.
Época: Por quê?
Época: Não estamos preparados. Não temos cultura para isso. Primeiro, o sujeito tem de estar muito ciente do que está fazendo. Um povo desamparado e mal educado não pode estar à mercê da droga. Ele tem de ter possibilidade de escolha, mas escolha estudada.
Época: Como assim?
Giudice: O Brasil é um país de iletrados. Quem lê não entende...Qual poder de escolha dessa pessoa? Vai ser uma vítima do uso da droga. Ele sabe que é errado (uso de drogas) e só isso. Mas por que é errado, os efeitos da droga em que usa, não sabe.
Época: O que o senhor acha que poderia acontecer se o Brasil aprovasse a descriminalização do uso?
Giudice: Eu não consigo imaginar. Acho que, num primeiro momento, teríamos um consumo desenfreado. E quem venderia a droga? Isso me preocupa muito. Por isso eu digo, que é algo complicado. Quem vai controlar a droga?
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