"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 15 de agosto de 2012

PARA ESPECIALISTAS, REDUZIR DISCIPLINAS DO ENSINO MÉDIO É "RIDÍCULO"

Ministro da educação diz que currículo está sobrecarregado. Especialistas ressaltam que diminuir disciplinas agrava o problema

 
Alunos de escola particular de São Paulo: Brasil tem a maior taxa de abandono do ensino médio entre todos os países do Mercosul
Nove estados tiveram queda no Ideb referente ao ensino médio (Mário Rodrigues/DEDOC)

Os números do Ideb 2011, divulgados ontem pelo Ministério da Educação, trouxeram novas cores a uma antiga crise, instalada há décadas no ensino médio brasileiro. Na última terça-feira, porém, contrariado por ter de anunciar uma notícia negativa, o ministro Aloizio Mercadante tirou uma solução mágica da manga: reduzir o número de disciplinas obrigatórias – atualmente elas são 13 – na rede pública.

“O aluno precisa focar nas disciplinas tradicionais, como matemática, português e ciências”, explicou o ministro. Em outras palavras, já que os alunos não aprendem, o ministro Mercadante quer parar de ensinar. Para especialistas, a medida seria desastrosa.

“Se o objetivo é melhorar somente o Ideb, excluamos todas as disciplinas e deixemos apenas português e matemática, as únicas avaliadas pelo índice”, ironiza Romualdo Portela de Oliveira, doutor em educação e professor da Universidade de São Paulo.(USP). “Do ponto de vista educacional, porém, isso é ridículo.”

Leia também:

Ideb cai em nove estados no ensino médio37% das cidades não atingem metas do Ideb 2011


Segundo Portela, grande parte das deficiências apresentadas no ensino médio se deve ao desinteresse dos alunos pelo que é lecionado. Consequências, diz, de um "currículo que não resolve as angústias da vida real” do estudante. “Podemos ‘enchê-lo’ de português e de matemática, mas de nada adiantará se o currículo não for significativo para o aluno”, defende.

A pesquisadora Regina Lúcia Luz de Brito, professora-doutora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) defende um redesenho curricular, mas sem a simplificação proposta por Mercadante. “Todas as disciplinas são fundamentais na formação do jovem”, afirma. “A educação tem que ser vista como um todo, não algo compartimentado para melhorar os índices de uma prova.”

Por conta da complexidade do currículo escolar, é no ensino médio também que, segundo os educadores, os gargalos da educação básica ficam mais evidentes. Em 2011, por exemplo, o Brasil registrou taxa de 13,1% de reprovação nesta fase(entre escolas públicas e privadas), a maior desde que os números começaram a ser divulgados – em 1999.

O mau resultado no Ideb reforça isso: nove estados tiveram quedas na nota na comparação com 2009 e outros sete se mantiveram estagnados. Até mesmo na região Sul, que sempre se destaca pelos bons índices, houve retrocesso na nota, de 4,1 para 4.

A proposta estapafúrdia de Mercadante é só outra tentativa atabalhoada do MEC de alavancar as notas. A anterior, adotada após o Ideb de 2009, apontava na direção totalmente oposta.

À época, o MEC criou o Programa Ensino Médio Inovador (Proemi), que estimulava as escolas a oferecer mais disciplinas, de preferência alternativas nos campos de trabalho, ciência, cultura e tecnologia.

O programa ampliava a carga horária. “A ideia era testar um sistema mais atrativo”, lembra Portela. “Na prática, acabou ampliando o que não funciona.” Como provam os números do Ideb 2011.

15 de agosto de 2012
Lecticia Maggi, Veja

MENSALÃO: UFA! TERMINOU!

Os defensores se esmeraram. Teve de tudo um pouco. As citações históricas transformaram o julgamento naquilo que o humorista Sérgio Porto chamou, lá nos anos 1960, de samba do crioulo doido

Ministro do STF Ricardo Lewandowski, durante julgamento do mensalão
Ministro do STF Ricardo Lewandowski, durante julgamento do mensalão (Breno Fortes/CB/D.A Press)

Ufa, terminou! Não foi tarefa fácil assistir às dez sessões iniciais do julgamento do mensalão, ou, como preferem os petistas, da Ação Penal 470. Fiz por obrigação de ofício.

Entenda-se, antes que um advogado invoque um “ato de ofício”, do ofício de historiador. Escrever um livro sobre este julgamento é uma experiência interessante. O mundo da justiça tem suas leis, códigos, gestos e uma linguagem próprias. A encenação – e é uma encenação – no tribunal, as togas, o plenário, as formas de tratamento, tudo parece conspirar para ocultar ao neófito – como eu – os meandros do julgamento.

Em um país com uma profunda e enraizada tradição corporativa, tudo é feito para que os que não pertençam a corporação sejam simplesmente assistentes. Opinar? Não, isto é só para os especialistas. Criticar? Em hipótese alguma. Comentar a legislação? Como? Só os juristas é que conhecem as leis. Porém – e sempre há um porém, como diria Plínio Marcos – temos um belo paradoxo: a transmissão televisiva permite ao historiador entrar neste mundo.

Chamam atenção as frases feitas, não só dos defensores, como dos ministros. Um deles, disse que estava julgando “pessoas de carne e osso”. Usou diversas expressões latinas, porém teve enorme dificuldade de ler três linhas de uma frase na mesma língua, lembrando um bárbaro recém romanizado. Mas a pose que fez durante todos estes dias... Fez de tudo para parecer inteligente.

Outro, questionou um defensor, que, educadamente, retrucou que a pergunta já estava respondida nos autos. Citou, inclusive, as páginas. Mas rubor não é com ele. Dois dias depois, numa festa, em Brasília, pronunciou palavras que até em um botequim causariam espécie. E, pior, ele pode permanecer naquela Corte por três décadas.

Leia também:Infográfico: Entenda o escândalo do mensalão Diário do julgamentoDa novela das oito a Ruy Barbosa: o sarau do mensalão
Os defensores se esmeraram. Teve de tudo um pouco. As citações históricas transformaram o julgamento naquilo que o humorista Sérgio Porto chamou, lá nos anos 1960, de samba do crioulo doido.
Um deles comparou o momento que vivemos com a ditadura militar e que sua cliente sofreu tanto como um torturado no DOI-CODI. Outro, mais jovem (e a idade pode ser um atenuante) disse que não estamos no nazismo (ainda bem!), regime em que a opinião pública se impunha sobre as leis.

Havia opinião pública no nazismo? Outro resolveu citar o Código de Hamurabi e estabeleceu uma relação com o direito medieval, sem notar que entre um e outro temos um intervalo de 25 séculos.

Foram constrangedores os discursos empolados, dignos dos cursos de oratória. Um deles resolveu até bater palmas (para acordar os ministros?).

Ao longo dos dias, confesso, foi dando uma saudade. Numa das sessões, adormeci. Sonhei que entre os defensores estava Sobral Pinto e vi sentado na cadeira de ministro Pedro Lessa. Mas logo acordei. Voltei à triste realidade brasileira. Estava na tribuna um advogado homenageando um ministro. Senti um certo asco. Como é possível elogiar quem vai julgar a sua causa? É ético? E o pior é que o elogio era absolutamente descabido.

Ainda não consegui entender porque a acusação teve 5 horas e a defesa sete vezes mais. E a ausência de ministros durante as sustentações orais? Por que o STF se preocupa tanto com as formalidades (na vestimenta, nas formas de tratamento) e não consegue começar uma sessão no horário previsto? Ah, são tantas perguntas que resolvi terminar com uma citação, até para ficar no espírito do julgamento. De Oswald de Andrade: “Nunca fomos catequizados. Vivemos através de um direito sonâmbulo. Fizemos Cristo nascer na Bahia. Ou em Belém do Pará. Mas nunca admitimos o nascimento da lógica entre nós.”

15 de agosto de 2012
Marco Antonio Villa, historiador, é professor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR)

APOSENTADOS E PENSIONISTAS PROTESTAM EM FRENTE AO PALÁCIO DO PLANALTO

 

Manifestantes se posicionaram hoje em frente ao Palácio do Planalto para cobrar o fim do fator previdenciário e a aprovação do Projeto de Lei 4.434/2008 que recompõe perdas salariais dos benefícios. O ato foi organizado por associações de aposentados e pensionistas.

Os manifestantes chegaram ao palácio por volta de 17h20, romperam a barreira de grades montada na Praça dos Três Poderes e interditaram a rua em frente ao prédio. O trânsito foi bloqueado em parte da Esplanada dos Ministérios e o fluxo desviado para vias alternativas. De acordo com a Polícia Militar, cerca de mil pessoas participam do protesto.
O grupo carrega faixas com críticas à presidenta Dilma Rousseff e com pedidos de mudança da regra que fixa as aposentadorias, o chamado fator previdenciário. Servidores do Ministério Público da União e do Poder Judiciário, em greve há quase dois meses, também se juntaram à manifestação.
Seguranças da Presidência da República e a Polícia Militar acompanham a manifestação. Homens do Batalhão de Choque foram recebidos com vaias e estão posicionados na rampa e nas vias de acesso ao Palácio do Planalto.

ENSINO MÉDIO PIORA EM NOVE ESTADOS, APONTA O ÍNDICE DE EDUCAÇÃO IDEB

 

Se os dados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de 2011 indicam melhora na qualidade nos primeiros anos do ensino fundamental, os resultados não são animadores no ensino médio. Entre 2009 e 2011, o Ideb do ensino médio subiu apenas 0,1 ponto, passando de 3,6 para 3,7. A meta nacional esperada para o período foi atingida, mas em nove estados o índice piorou em relação à edição anterior.
O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, argumentou que “internacionalmente” o ensino médio continua sendo um “grande desafio” para qualquer sistema educacional. Ele defendeu que o currículo da etapa precisa ser reformulado porque é muito sobrecarregado. Em algumas redes de ensino, o total de disciplinas chega a 19. “É uma sobrecarga muito grande que não contribui para você ter foco nas disciplinas essenciais, como língua portuguesa, matemática e ciências”, disse.

Mercadante: “Problema é internacional…”


Outro problema do ensino médio, segundo Mercadante, é a falta de professores com formação específica para algumas áreas, como matemática e ciências, além da alta concentração de matrículas no turno noturno – 30% dos jovens do ensino médio estudam à noite.
Vera Masagão, coordenadora-geral da organização não governamental Ação Educativa, aponta que o ensino médio é um nível subfinanciado. “A gente precisa de um investimento muito forte em qualidade e não é à toa que a matrícula também está aquém, poderia haver muito mais jovens matriculados no ensino médio que estão fora da escola”, disse.
Mercadante não quis comentar os resultados dos estados que tiveram Ideb inferior ao registrado em 2009. “Uma mesma região tem estados e cidades que evoluíram muito mais que outros. Há especificidades, a gestão na ponta. O professor na sala de aula, o diretor da escola, o secretário municipal. Vamos olhar essa informação e tentar tirar lições para avançar”, disse. O ministro aposta que a educação em tempo integral pode ser uma “grande resposta” para melhorar a qualidade do ensino.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGA reportagem é da Agência Brasil, ou seja, foi feita e distribuída pelo próprio governo federal, que costuma ser compreensivo com os próprios erros. Segundo os dados referentes ao ano passado divulgados ontem, o ensino médio, antigo colegial, estagnou no país. A nota, que vai de zero a dez, considera o desempenho em português e matemática e também a taxa de aprovação dos estudantes (quantos passaram de ano).

Mostra que a situação educacional continua vergonhosa, depois de oito anos de governo do sociólogo, mais oito anos de governo do metalúrgico, e mais um ano e meio de governo da economista, que ninguém sabe se tem mestrado, doutorado ou não, o que evidencia a falta de precisão do ensino brasileiro, digamos assim. É desanimador.
Agora, o governo federal anuncia que pretende mudar a grade curricular do ensino médio público e diminuir o número de disciplinas na grade das escolas. Até parece que o problema é causado pelo currículo…
O plano de mudança foi desenhado pelo Ministério da Educação após a divulgação dos resultados do Ideb, o índice que mede o desempenho da educação básica nacional.

TUDO POR DINHEIRO

PCdoB cobra a conta de Haddad e a aliança com o PT entra em crise


Conforme previmos aqui no Blog da Tribuna, o PCdoB, que foi o último partido a apoiar o petista Fernando Haddad, iria cobrar a conta, e o apoio não sairia barato. É justamente o que está acontecendo. Reportagem de Bernardo Mello Franco, na Folha, mostra que, insatisfeito com a falta de apoio financeiro a seus candidatos a vereador, o PCdoB abriu uma nova crise na campanha de Haddad a prefeito de São Paulo.
O partido diz ser boicotado pela cúpula petista e promete fazer queixa ao ex-presidente Lula, fiador da aliança. Nos bastidores, seus dirigentes ameaçam até retirar da chapa a vice Nádia Campeão. Os comunistas acusam o PT de privilegiar seus próprios candidatos e atrasar os repasses prometidos em junho, quando a coligação entre as siglas foi formalizada.
O repórter assinala que os dois partidos fazem mistério sobre os valores envolvidos na negociação. A coordenação da campanha de Haddad reconhece o problema, mas diz que o dinheiro será liberado em breve.
“Estão subestimando o nosso papel. A gente quer ajudar o Haddad, mas também precisa ser ajudado”, disse à Folha o presidente municipal do PCdoB, Vander Geraldo. “Estamos com muita dificuldade para fazer nossas campanhas, e eles sabem disso. Agora vamos procurar outros mecanismos de pressão.”
Ele diz que os petistas afirmam concordar com as queixas, mas não tomam providências para ajudar. “Todo mundo concorda, diz que vai resolver, mas na prática nada acontece”, reclama.
O sumiço do vereador Netinho de Paula das aparições públicas de Haddad é outro sinal da tensão entre os dois partidos. Ele foi presença constante ao lado do candidato nas primeiras semanas da campanha, mas depois viajou para os EUA e desapareceu das fotos com o petista.

CONHEÇA O SITE INFANTIL DO MPF QUE O CENSOR-TAREFEIRO DO PT MENSALEIRO QUER CENSURAR-

 

Cândido Vaccarezza, numa recaída de deixar os últimos stalinistas roxos de vergonha, decidiu censurar uma página eletrônica criada pelo Ministério Público Federal para crianças. A página, que pode ser lida abaixo, é parte do conteúdo de um site em que os procuradores federais criaram para explicar às crianças o que o MP faz. E ali há um post bastante sucinto cumprindo essa função. Não há aleivosias como as que Vaccarezza e outros defensores dos mensaleiros levantam contra o Procurador-Geral Roberto Gurgel, nem qualquer tipo de mentira ou assacação. Talvez por isso a página tenha virado alvo de uma ação do deputado petista.
É mais uma tentativa de acólitos do PT de impedir a divulgação do fato que levou a cúpula do partido em 2004 a ocupar o banco dos réus. Na primeira, as mesmas vozes ameaçaram tentar impedir judicialmente o uso da palavra ‘Mensalão’ em referência ao maior escândalo político da história do País. A manobra fracassou, como fracassará qualquer outra tentativa semelhante de impor o método soviético de gerenciar a informação em uma República democrática como a nossa.
Vaccarezza poderia alegar que o assunto não é pertinente ao universo infantil porque o que está descrito nas peças sobre o que seus colegas de partido fizeram compõe material pornográfico, impróprio para pessoas decentes de qualquer faixa de idade. Estaria sendo verdadeiro. Mas ainda que a preocupação do parlamentar fosse esta, não lhe caberia estabelecer o que alguém deve ou não escrever na internet ou nas mídias convencionais. E, convenhamos, chamar o Mensalão de AP-470, ou impedir que crianças saibam do assunto, como querem Vaccarezza e sua turma, não vai mudar a realidade nem amenizar o fardo que pesa sobre o partido.
Com sua iniciativa autoritária e despropositada, o censor Cândido Vaccarezza acabou fazendo o contrário do que desejava: chamou a atenção para a página, cuja íntegra reproduzo a seguir. Isso se chama burrice, o mesmo nome que têm todas as demais iniciativas do mesmo naipe dos partidários dos mensaleiros.
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A TURMINHA DO MP

Leia agora o que a Turminha do MP tem a dizer sobre o Mensalão.
“No próximo dia 2 de agosto o Supremo Tribunal Federal deverá iniciar o julgamento da ação penal 470, conhecida como Mensalão. Em 2006, o procurador-geral da República narrou na denúncia que havia uma “sofisticada organização criminosa, dividida em setores de atuação, que se estruturou profissionalmente para a prática de crimes como peculato, lavagem de dinheiro, corrupção ativa, gestão fraudulenta, além das mais diversas formas de fraude”. (confira no Glossário e no quadro dos crimes o que é cada crime e as penas).
Segundo a denúncia, os crimes tiveram início com a vitória eleitoral de 2002 do Partido dos Trabalhadores no plano nacional e tinham por objetivo principal garantir a continuidade do projeto de poder do PT por meio da compra de suporte político de outros partidos e do financiamento das suas próprias campanhas eleitorais.


O que será julgado


No julgamento da ação penal 470 estão sendo analisados apenas os supostos desvios de recursos da Câmara dos Deputados e do Banco do Brasil. Há outros inquéritos e ações em que se investigam crimes praticados pelos mesmos réus integrantes das empresas publicitárias e financeira denunciados na AP 470 em contratos celebrados, naquele período, com os Correios, a Eletronorte, o Ministério dos Esportes e outros órgãos públicos.
Em suas alegações finais, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, requereu a condenação de todos os réus, à exceção de Luiz Gushiken e Antônio Lamas. Pediu também a absolvição de Emerson Palmieri em relação a um dos crimes de corrupção passiva* de que foi acusado.


( *corrupção passiva: quando o funcionário público recebe ou pede dinheiro ou outra vantagem a que não tem direito para fazer ou deixar de fazer algo com o uso do cargo que ocupa.)


Alegações finais do PGR


Segundo Gurgel, “a instrução comprovou que foi engendrado um plano criminoso voltado para a compra de votos dentro do Congresso Nacional”. Em relação à suposta quadrilha, sustentou que os sócios das empresas de publicidade envolvidas no esquema (Marcos Valério, Rogério Tolentino, Cristiano Paz e Ramon Hollerbach) “já tinham um canal de diálogo com o PSDB desde 1998 e precisavam montar uma estratégia de ação para a hipótese do Partido dos Trabalhadores vencer as eleições”.

Assim, os interesses deles teriam coincidido “com os propósitos de José Dirceu [ministro da Casa Civil] e o seu grupo – Delúbio Soares, Sílvio Pereira e José Genoíno – de angariar recursos para consolidar o projeto de poder recém vitorioso do Partido dos Trabalhadores, mediante a compra de suporte político de outros Partidos Políticos e do financiamento futuro e pretérito (pagamento de dívidas) das suas próprias campanhas eleitorais”.
De acordo com o procurador-geral, “as provas colhidas demonstraram que a atuação delituosa de Marcos Valério, Rogério Tolentino, Ramon Hollerbach e Cristiano Paz sempre esteve associada ao Banco Rural e a seus principais dirigentes, parceiros inseparáveis nas empreitadas criminosas desde 1998”.


(Artigo enviado pelo comentarista Mário Assis,
transcrito do Blog do Pannunzio)

DE UM MANICÔMIO TENEBROSO DO RIO A UM MUSEU FINO DE LONDRES: A LONGA E SOFRIDA JORNADA DE BISPO DO ROSÁRIO

 

LONDRES – De um manicômio tenebroso no Rio de Janeiro em que passou a maior parte da vida até uma sala exclusiva no Victoria and Albert Museum, o V&A, um dos endereços mais refinados da arte em Londres, foi longo e sofrido o percurso do sergipano Arthur Bispo do Rosário.
Rosário é dono de uma das histórias mais extraordinárias da arte brasileira. Descendente de escravos nascido em 1908, ele acabou sendo um faz tudo na casa de um carioca rico. Com cerca de trinta anos, teve alucinações. Achou que era o Messias. Procurou uma igreja para anunciar a novidade e terminou num hospício, diagnosticado como esquizofrênico paranóico.
A partir da internação, Bispo do Rosário começou a usar material jogado fora – botões, garrafas, papel, tecidos – para criar esculturas, miniaturas e roupas com bordados primorosamente caóticos. Oitenta dessas criações estão expostas no V&A até outubro.

Ele foi descoberto por acaso. Um psiquiatra certa vez foi ao hospício para um estudo e se encantou instantaneamente pelo trabalho de Bispo do Rosário. Fez um documentário sobre ele, que é passado no V&A com legendas em inglês para quem vai à sala dedicada à exposição de Bispo do Rosário.
Ele tinha a criatividade dos gênios e dos loucos. Uma vez, com base em fotos de um concurso de misses publicadas na revista Cruzeiro, Rosário fez um cetro de madeira e uma faixa para cada candidata. Em todos as faixas, bordou caprichosamente referências aos países das beldades. A obra está no V&A. Foi a que mais nos impressionou – a Erika e a mim – na visita que fizemos hoje ao museu.
Ele sempre disse que fazia o que fazia por receber ordens divinas. Mais de vinte anos depois de sua morte na miséria e na loucura, Bispo do Rosário é uma figura cultuada em alguns círculos da arte brasileira por sua obra não clássica, não acadêmica, não esteticamente refinada — mas desconcertantemente original, um retrato perturbador da grandiosidade confusa e às vezes bela a que pode chegar a mente de um homem inventivo e iletrado que um dia acorda com a certeza de ser Deus.

PENSAMENTO DO DIA

 

Livre pensar é só pensar (Millôr Fernandes)




REDE DO PDT NA INTERNET PEDE QUE O PARTIDO AVALIE A FILIA;'AO DO EX-MARIDO DE DILMA

 

Em seu site na internet, a chamada Rede PDT propõe que a direção nacional do partido avalie se o ex-deputado estadual Carlos Araújo, ex-marido da presidente Dilma Rousseff, deve ou não se filiar à legenda trabalhista.


Carlos Araújo, ex-marido de Dilma

Enviado ao Blog da Tribuna pelo comentarista Mário Assis, trabalhista histórico e ex-secretário estadual de Administração no governo do PDT no Rio de Janeiro, o texto da Rede PDT destaca que a forma como Carlos Araújo está atravessando sua eventual refiliação ao PDT em Porto Alegre, por ostentar no currículo o título de “ex-marido da presidente Dilma Rousseff (PT)” deve provocar recursos para deliberação pelo Diretório Nacional do partido.
Isto porque é norma estatutária, colocada ainda sob a presidência de Leonel Brizola, de que filiações de projeção nacional como esta devem ser acolhidas ou não pela instância partidária superior. Quando o casal estava no PDT a ascendência política era outra, e ela era apresentada como “a mulher do Carlos Araújo”, mas agora, como os papéis inverteram, ele passou a ser apresentado como “o ex-marido da Dilma”.
Uma boa pauta para o Diretório Nacional analisar, caso a direção partidária não resolva o impasse, considerando a arrogância com a qual Araújo já se manifesta sobre problemas internos do PDT, diz a mensagem da Rede.

QUANDO O HUMOR DESENHA A REALIDADE



AFINAL, POR QUE A AGÊNCIA DE DUDA MENDONÇA CONTINUA FATURANDO TANTO COM O GOVERNO FEDERAL?

 

O escândalo do mensalão tem o dom de trazer a público outros escândalos. Um dos mais curiosos é o extraordinário faturamento federal da agência do publicitário Duda Mendonça – um dos 38 réus do processo do mensalão. Segundo levantamento do site Contas Abertas, a empresa do marqueteiro recebeu, de 2004 até hoje, a nada desprezível quantia de R$ 195,2 milhões do governo federal.
Isso significa que, mesmo tendo sido acusado pela Procuradoria Geral da República por lavagem de dinheiro e evasão de divisas, ele continuou a trabalhar para o Executivo, comandado por Lula em oito anos, e Dilma em dois.
Mas esse número (R$ 195,2 milhões) não bate com os totais divulgados pela própria agência O Globo, que distribuiu a notícia sobre o levantamento. Apenas em 2004, um ano antes do mensalão, a Duda Mendonça & Associados Propaganda (DM&AP) recebeu R$ 63,5 milhões por contratos com a Presidência da República. Em 2005, a agência recebeu R$ 50 milhões da Presidência e R$ 9,4 milhões da Saúde.
Após o depoimento de Duda na CPI dos Correios, quando admitiu receber pagamento de dívida de campanha no exterior, a Presidência não mais o contratou, segundo a Agência Globo. Porém, já em 2006, ele recebeu R$ 10,6 milhões do governo federal e, em 2007, R$ 9,6 milhões. Em 2008, ele recebeu R$ 12 milhões, enquanto que em 2009 e 2010 recebeu, respectivamente, R$ 26 milhões e R$ 30 milhões. Em 2011, a empresa de publicidade recebeu R$ 3,9 milhões.
Bem, somente aí, chegamos a R$ 214,6 milhões, sem contar o faturamento deste ano, em que a agência continua prestando serviços ao governo de Dilma Rousseff. Sem contar também com os generosos pagamentos que são feitos ao publicitário, como pessoa física, pelo PT, que para tanto se utiliza de paraísos fiscais, conforme o próprio Duda Mendonça admitiu na CPI do mensalão.

EQUADOR ANUNCIA ESTA SEMANA SE CONCEDE ASILO A JULIAN ASSANGE

 

 As agências Associated Press e Dow Jones revelam que o presidente do Equador, Rafael Correa, disse que espera anunciar nesta semana a decisão sobre se vai ou não conceder asilo ao fundador e editor-chefe do WikiLeaks, Julian Assange.

Correa disse à televisão estatal ECTV que é necessário examinar uma grande quantidade de material jurídico internacional para tomar uma decisão responsável. Correa disse esperar receber os últimos relatórios até quarta-feira.
Como s sabe, Assange refugiou-se na embaixada do Equador em Londres em 19 de junho para evitar sua extradição para a Suécia, onde é procurado para ser julgado por supostos crimes sexuais (fazer amor sem camisinha).
O Equador teme que Assange esteja em risco de ser extraditado para os Estados Unidos e sentenciado à pena de morte por ter vazado documentos secretos dos governo norte-americano.
Segundo Correa, a mera possibilidade de Assange ser condenado à morte em território norte-americano pode ser uma razão suficiente para seu governo conceder asilo a ele. Os partidários de Assange acreditam que ele já teria sido secretamente indiciado nos Estados Unidos.
A mãe de Assange e o ex-juiz espanhol Baltasar Garzón estiveram recentemente no Equador para pedir que o país conceda asilo a Assange.

DNA DO MENSALÃO

 


Mensalão, para juízes, é um processo de 50 mil folhas. Para mim, é um marco: o PT jamais cumpriria a promessa de campanha de ética na política.
O mensalão, para os juízes, é um processo de 50 mil folhas. Para mim, é matéria de memória. Maio de 2005 é um marco na política brasileira. Mas não um relâmpago em céu azul.
É um marco porque ficou evidente, naquele mês, que o PT jamais cumpriria uma de suas maiores promessas de campanha: ética na política. A entrevista do então presidente Lula em Paris, tentando justificar o mensalão, ainda menciona a responsabilidade ética do partido, mas com uma dose de convicção tão pequena que entendi como um adeus à bandeira do passado. Eu já havia deixado o PT e a base do governo em 2003. O escândalo do mensalão foi, no entanto, uma tomada de consciência popular de que a ética na coalizão do governo era só propaganda.
O termo mensalão cresceu porque foi bem escolhido. Roberto Jefferson, ao usá-lo pela primeira vez, não ignorava o apelo popular de um aumentativo. Na TV, as feiras de carros são anunciadas como feirão, as lojas de atacado, como atacadão e até os estádios de futebol, Engenhão, Barradão, Mineirão, seguem o mesmo caminho. Um setor que ainda acreditava nas promessas do PT se sentiu traído, como se o armário do quarto escondesse um amante: Ricardão.
Não foi um relâmpago em céu azul. Lula estava cansado de perder eleições. Decidiu disputar em 2002 com as condições profissionais dos adversários. Começou aí a necessidade de captar em grande escala. Programas de TV são dispendiosos. Mulheres grávidas desfilando a esperança, muitas câmeras, luz, gruas, tudo isso custa dinheiro.
Uma vez no poder, era preciso controlar os aliados, garantir sua sobrevivência política e, em troca, sua fidelidade. Agora o dinheiro corria mais fácil.
A primeira tentativa de combater o estrago do mensalão foi afirmar que jamais existiu com rigor temporal. Não havia pagamentos mensais, dizia a defesa. Mas que importância legal tem isso? O dinheiro era distribuído aos líderes dos partidos amigos. O apartamento do deputado José Janene, do PP, era chamado de pensão pelos deputados que o frequentavam. Talvez lhes pagasse quinzenalmente. Seria apenas um quinzenão.
Segundo a ex-mulher de Valdemar Costa Neto, em depoimento na Câmara, ele gastou numa só noite de cassino o equivalente a US$ 300 mil. Pode muito bem ter dado o cano nos deputados naquele mês, ou pago apenas um vale para acalmá-los. Quem jamais saberá?
A segunda tentativa de atenuar os estragos do mensalão foi o uso da novilíngua: eram apenas sobras de campanha, mero crime eleitoral. Tão brando que nem poderíamos chamar esse dinheiro de caixa 2, mas de recursos não contabilizados. Era tanto dinheiro em cena que recursos não contabilizados não conseguiam explicá-lo. Surgiram, então, empréstimos do Banco Rural e do BMG. O dinheiro foi emprestado por bancos que não cobram juros nem acossam devedores. Bancos amigos.
O relatório da CPI indicou com bastante clareza de onde veio o dinheiro: do BANCO DO BRASIL e da Visanet. Naufragou ali a última atenuante: o dinheiro do mensalão, num total de R$ 100 milhões, é público.
Lembro-me como se fosse hoje do depoimento de Duda Mendonça. Ele anunciou a alguns deputados que iria falar. E falou: recebeu dinheiro do PT no exterior, pouco mais de R$ 10 milhões, que nunca mais retornariam ao País.
O episódio do mensalão não evitou que Lula vencesse as eleições em 2006 e, quatro anos mais tarde, elegesse Dilma Rousseff. A força eleitoral do PT manteve-se e as consequências políticas pareciam neutralizadas. O dinheiro continuou fluindo em campanhas milionárias e o partido, como os comunistas italianos, poderia até montar uma sólida estrutura econômica alternativa. Mas as consequências políticas não morrem tão cedo.
O julgamento do caso vai recolocá-lo na agenda política. Não acredito que possa modificar o curso das eleições. Será apenas uma nova dimensão a considerar. Muito se falou que a CPI do Cachoeira iria ofuscar o julgamento do mensalão. Deve ocorrer o contrário: o julgamento vai conferir importância à CPI do Cachoeira. A mensagem é simples: mesmo quando não há consequências políticas imediatas, a corrupção ainda tem toda uma batalha legal pela frente.
O PT vai se distanciar do mensalão, Dilma também. Dilma distanciou-se da Delta, de Fernando Cavendish, mas seu governo continua a irrigar os cofres da empresa fantástica. É compreensível a distância. No caso do mensalão, ela nos faz crer que todo o mecanismo foi montado pelo cérebro do ex-ministro José Dirceu, que operava num paraíso de inocentes. No da Delta, a distância convida-nos a crer que tudo se passou numa obscura seção goiana da empresa.
Nas paredes de cadeia sempre há esta inscrição: aqui o filho chora e a mãe não ouve. A mãe do PAC finge que não ouve os choros da Delta. Grande administradora, não desconfiou que a empresa que mais trabalhava nas obras do PAC era, na verdade, um antro de picaretagem. Assim como Lula não sabia que houve o mensalão. Todo aquele dinheiro rolando a partir da campanha de 2002 era um milagre político. É um senhor que me ajuda, como diria a mulher bonita vivendo súbita prosperidade. É tudo um tecido de mentiras que ainda não se rasgou no Brasil. No mensalão era uma agência de publicidade de Marcos Valério que despejava grandes somas nas contas dos políticos. O nome dela era DNA. Recentemente, foram as empresas fantasmas da Delta que realizaram essa tarefa.
Em 2005 ainda havia um mínimo de combatividade parlamentar para buscar a verdade. Hoje nem com isso podemos contar. O mensalão arrasta-se como um vírus mutante pela História moderna do Brasil. Mas a corrupção não é uma fatalidade genética. E o grande equívoco de alguns marxistas vulgares é supor que ela é um componente natural, insuperável, diante do qual a única reação sensata é tirar proveito.
Sete anos o Brasil esperou para julgar o mensalão. Sete anos mais vamos esperar pelo júri da Delta. E mais poderíamos esperar, não fora para tão longa sede tão curta a vida.

15 de agosto de 2012
Fernando Gabeira (Estadão)

SEM DOCUMENTOS. QUER UM LENÇO?

Vem aí um memorial: A propósito, Niemeyer acaba de receber uma encomenda para criar um Memorial dos Presidentes da República.

Lula deu a idéia a José Roberto Arruda. E o governador do Distrito Federal encomendou o projeto ao arquiteto.
Lá ficarão todos os documentos amealhados pelos presidentes enquanto ocuparam o cargo.

Em que pese o custo de construir um prédio desses, a idéia é muito boa.

Seria muito útil saber que existe um lugar onde se possa ter acesso às ordens de Getúlio Vargas durante o Estado Novo, às planilhas dos "Cinco Anos em Cinco" do Juscelino Kubitschek, aos famosos bilhetinhos de Jânio Quadros, à documentação que circulava pelo gabinete de Médici durante o regime militar, às trocas de memorandos enquanto Tancredo estava no hospital etc. Útil pra caramba.

O problema é combinar com os russos. Hoje, esses documentos estão pulverizados pelo Brasil - em instituições determinadas ou sob o colchão de alguém. Mal se sabe que tipo de informação foi mantida e que tipo de informação foi parar no lixo.

Apenas para citar um caso recentemente mencionado no noticiário, os papéis produzidos e manuseados por Fernando Collor de Mello durante sua Presidência
foram negados ao Arquivo Nacional, como noticiou recentemente a Folha. Passados quinze anos, muitos dos documentos mais sigilosos já poderiam ser abertos.

O Arquivo Nacional mantém na internet um
Centro de Informação de Acervos dos Presidentes da República, com dados sobre onde estão mantidos os papéis dos ex-governantes.

Suponha, por exemplo, que você queira fazer uma pesquisa aprofundada sobre os planos econômicos da redemocratização, do Cruzado ao Real. Para isso, você precisaria ter acesso aos documentos utilizados por ministros e pelo presidente da vez para a discussão das medidas. Supondo que tais documentos ainda existam, você precisaria visitar pelo menos São Paulo, Juiz de Fora e São Luís - correndo o risco de bater com o nariz em algumas portas e com a certeza de sair com a pesquisa incompleta:

    Fernando Henrique Cardoso: Os documentos estão no Instituto Fernando Henrique Cardoso, em São Paulo (SP). Há 10 mil fotos, 280 mil negativos, 2.500 fitas cassete, 3.000 caixas de documentos textuais e 2.500 "documentos tridimensionais". O acesso, porém, é restrito enquanto o instituto prepara sua base de dados.

    Itamar Franco: O acervo está em poder do Fundo Itamar Franco, em Juiz de Fora (MG). As fotos e objetos estão expostos em vitrines. Os documentos estão num depósito separado, em caixas identificadas. Constam do acervo "diários oficiais, correspondência oficial e a de populares que recebeu como presidente da república (esta está sendo identificada para inserção em uma base de dados)". Se você quiser pesquisar a formulação do Plano Real, vai encontrar pouco além da correspondência.

    Fernando Collor de Mello: O acesso foi negado ao Arquivo Nacional. Não se sabe o que há nele. O detentor seria o próprio Collor. Hoje, não há lei que obrigue um ex-presidente a tornar públicos seus arquivos.

    José Sarney: Os documentos estão em poder da Fundação José Sarney, em São Luís (MA). São 2 km de estantes, somando tudo. Constam ali "correspondência, produção intelectual, documentos pessoais, recortes de jornais, anais da assembléia". Pouca coisa do que interessaria a um pesquisador dos planos Cruzado e Bresser, aparentemente.

Pois vejam como funciona nos EUA, que tem uma lei de direito de acesso a informações públicas desde 1966. Desde 1978, com o Presidential Records Act, é consenso que todos os documentos dos presidentes pertencem ao Estado, e não ao político. Reparem que isso é quatro anos após a queda de Nixon, em que o acesso quase acidental às fitas gravadas por ele forneceu provas importantes no processo de impeachment.
Há um site do Arquivo Nacional americano que mostra onde ficam essas bibliotecas presidenciais. O Registro Federal edita uma publicação informando o que há nesses arquivos. Estão na internet instruções para obter esses papéis. As mesmas regras e prazos valem para todos. Guias online para a pesquisa informam que tipos de documentos estão disponíveis.

Atualmente, um dos maiores escândalos da política americana é a revelação de que
e-mails da Casa Branca têm sido deletados com muita freqüência. Percebam: os e-mails de um presidente e de seus assessores são considerados documentos públicos. Karl Rove, o complicado ex-assessor de Bush, precisou explicar à Justiça por que raios ele apagou várias mensagens. Disse que foi sem querer. Querendo.

Alguém aí sabe o que os presidentes FHC e Lula fizeram com os emails que mandaram e receberam? Não gostariam de saber o que havia nas caixas postais de Eduardo Jorge e José Dirceu?

Sem o acesso às informações realmente relevantes, o museu periga ser tão útil quanto
este meigo site feito pelo governo para informar as crianças sobre quem foram os presidentes.

15 de agosto de 2012
Deu blog do josias

"O POVO NÃO É BOBO", LEMBRA-SE LULA?


Cidadãos acreditam em culpa de ‘mensaleiros’, mas não acham que eles venham a cumprir pena

O ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, que é homem de confiança do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o mais próximo auxiliar da presidente Dilma Rousseff, já pontificou que o “mensalão” não terá influências maléficas sobre os candidatos do Partido dos Trabalhadores (PT) nas eleições municipais deste ano.
Depois dele, o presidente nacional do partido do governo, Rui Falcão, também menosprezou eventuais prejuízos a seus militantes, porque o brasileiro comum estaria mais interessado na Olimpíada e no arrasa-quarteirão das 9 da noite na Globo, a telenovela Avenida Brasil. Um pode ter razão; o outro, não.
De qualquer maneira, se ambos raciocinam de forma correta, perde qualquer sentido a cruzada de Lula tentando convencer ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) a adiar o julgamento a pretexto de não “contaminar” o processo eleitoral.
Ainda que se acredite na versão do ex-presidente de que ele tenha marcado um encontro com o ministro Gilmar Mendes no escritório do amigo comum Nelson Jobim para discutir o sexo dos anjos ou o que viria a paralisar Fabiana Murer na hora de saltar nos Jogos de Londres, não dá para negar o vídeo que Rui Falcão inseriu no site do PT fazendo o mesmo apelo. Se os debates no Supremo não prejudicam os petistas e o eleitor não está ligando para o que neles se debate, por que, então, se pretendeu adiá-los?
Teremos de esperar para saber se, no caso de as eleições serem disputadas antes de o julgamento terminar, os candidatos petistas serão prejudicados por uma condenação generalizada de seus militantes ou ajudados pela absolvição deles. Pelo andar da carruagem, não é improvável que o veredicto seja dado depois da consulta às urnas. Mas não é impossível – embora seja pouco provável – que, antes da decisão do STF, os eleitores votem sob influência do conhecimento adquirido com a divulgação dos fatos trazidos de volta a lume. E isso nada tem que ver com pressão da opinião pública sobre o Judiciário, certo?
Haja o que houver, o noticiário sobre a acusação do procurador-geral, Roberto Gurgel, e a defesa dos advogados dos 38 réus já pode trazer uma contribuição efetiva e muito rica para o debate institucional no Brasil.
É salutar que se exija, como se exige, numa República tão assolada pelos surtos autoritários, o respeito ao indivíduo, que só é completo com a prática do amplo, geral e irrestrito direito à defesa, com base no ancestral favorecimento do réu pela dúvida, como preconizavam os romanos e o ex-presidente Lula, neste caso sendo o réu um fiel devoto da crença nele. Mas respeitar a presunção de inocência não é tornar dogmas argumentos da defesa e estigmatizar como diabólicos os da acusação.
Segundo pesquisa do Datafolha, 73% dos brasileiros acreditam na culpa dos réus. Isso significa, obviamente, que quase três quartos da população consultada pelo instituto entendeu a narrativa lógica e encadeada dos fatos que fizeram o ex-procurador-geral Antônio Fernando de Souza encaminhar o caso a julgamento e seu sucessor, Roberto Gurgel, formalizar a acusação. E também que não se deixaram impressionar por volteios retóricos e, às vezes, meramente semânticos com que os advogados tentaram desconstruí-la e até desmoralizá-la.
O Zé Mané da favela distingue com mais clareza do que os juristoides de plantão a diferença entre plena defesa e impunidade total. Se só 11% acham que, inculpados, os réus cumprirão pena em prisão, não é porque a quase totalidade acha que eles não mereçam punição, mas por conhecimento de causa sobre a justiça real a que todos têm acesso. Isso tem o lado positivo de confirmar o que os metalúrgicos sob comando de Lula bradavam nas greves do ABC: “O povo não é bobo”. Mas também transmite uma inquietante sensação de consciência da impunidade, que se alastra pela sociedade. Quem acredita na culpa, mas não na pena, pode se perguntar: “E por que não eu?”.
Rui Falcão – cujos companheiros do PT tentam impedir o uso do noticiário do julgamento na propaganda eleitoral e chegam ao ridículo de querer obrigar os meios de comunicação a trocar “mensalão” por Ação Penal 470 – está mais certo, pois, do que seu alter ego. Este aposta na Olimpíada, que acabou três meses antes do pleito, e na novela para desviar a atenção do eleitor dos “malfeitos” dos companheiros.
Os dois juntos e Gilberto Carvalho devem ter tomado um susto quando descobriram que a crença na culpa de sua turma é semelhante à audiência do folhetim eletrônico e à indiscutível popularidade de Lula. E este se assustará ainda mais ao perceber que, do rebanho fiel que lhe devota amor e fé, quatro em cada cinco entrevistados aceitam a tese defendida pelos procuradores-gerais de que foi dinheiro público que comprou apoio político. E mais grave: só 7% dizem aceitar a hipótese de que foi “só caixa 2”.
Dificilmente a pesquisa mudará o destino dos réus, pois juízes experientes como os ministros do STF não deverão se deixar influenciar pela opinião da massa inculta e distante. Cada um dos 11 teve sua convicção formada ao longo dos sete anos de debate em torno do momentoso escândalo. Mas, ao registrar o pulso do brasileiro comum, a pesquisa presta o grande serviço de mostrar que o cidadão pode sentir-se indefeso e impotente diante de um sistema político que finge representá-lo e o despreza, mas não se deixa enganar com facilidade.
E caberá aos supremos julgadores não perderem de vista a oportunidade de devolver ao cidadão o protagonismo que o regime diz que ele tem, mas na prática lhe nega. A missão do STF, a ser cumprida antes ou depois das eleições, será provar que, como o brasileiro comum, não se deixa lograr por lorotas políticas e chicanas jurídicas que criam um Dirceu inválido na chefia da Casa Civil e um Delúbio inocente útil nas mãos de um espertalhão. Sob pena de verem Papai Noel descer do trenó na Praça dos Três Poderes para apresentar as alegações finais.
(Imagens da Internet via Google).
15 de agosto de 2012
José Nêumanne Pinto
Estado de São Paulo

MEMÓRIAS DO MENSALÃO


O que une ou separa Lula do PT

(Comentário aqui publicado em 30.9.2005)

Dá para acreditar que a bancada do PT nas CPIs se comporta à revelia ou em desacordo com o governo? Não dá, é claro - salvo em questões imprevistas, decididas ali no calor da hora.
Lula não insiste em dizer que as investigações de roubalheiras devem ir fundo custe o que custar? E que brasileiro tão ético quanto ele pode existir, mais ético não?
Então fala sério: por que os petistas na CPI dos Correios, principalmente nela, suam a camisa para atrapalhar a apuração dos crimes? Ou para que o trabalho caminhe devagar quase parando?
Foi isso o que eles mais uma vez fizeram esta semana - dessa vez ao impedirem a votação da quebra do sigilo bancário de dez corretoras suspeitas de irregularidades.
O senador Delcídio Amaral (PT-MS), presidente da CPI, pode repetir quantas vezes queira que prorrogará o prazo de validade dela. Mas o prazo acaba em 15 de dezembro.
E para ser prorrogado, precisa do ok dos presidentes da Câmara e do Senado. Os dois operam em sintonia com Lula. E Lula quer acabar com a crise antes do fim do ano.
A crise para Lula tem duas faces: as CPIs ora em curso (Correios, Mensalão e Bingos) e a cassação de mandatos de deputados. Cassações podem ser trocadas por renúncias, pensa ele.
As CPIs simplesmente têm que acabar, e logo. O PT faz o jogo de Lula, essa é a verdade. Apesar de Lula nem sempre fazer o jogo do PT. Ele usa o PT e faz o jogo dele mesmo.

15 de agosto de 2012
in blog do noblat

ITAIPU É UMA ENCRENCA FABRICADA

 

As colinas de Golan envenenam as relações de Israel com a Síria e a Jordânia, mas foi o Padre Eterno quem as colocou lá. A hidrelétrica de Itaipu virou um espinho nas relações do Brasil com o Paraguai, mas foi produzida pela megalomania da ditadura militar. A velha história de “maior do mundo”, “Brasil grande”, “Ame-o ou deixe-o”.

Se os generais tivessem dado atenção ao embaixador Guimarães Rosa, que chefiava a divisão de fronteiras do Itamaraty, não teriam reconhecido que o Paraguai tinha soberania sobre a outra margem do Rio Paraná.

Em 1966, ele sustentava que se criara uma disputa fronteiriça na qual a ditadura-irmã do general Alfredo Stroessner apresentava argumentações “desastradas, falseadas e declaradas sem pejo”.

Na sua mesa do Itamaraty, com uma cumbuca cheia de lápis de cor, Guimarães Rosa era capaz de mostrar exatamente onde ficaria a tão sonhada hidrelétrica, objeto do desejo dos paraguaios.

Se tivessem ouvido o engenheiro Octávio Marcondes Ferraz (1896-1990), presidente da Eletrobrás e construtor de Paulo Afonso, não teriam compartilhado a hidrelétrica com o Paraguai, nem afogado as cataratas de Sete Quedas.

Ele defendia a construção de uma série de pequenas barragens dentro do território brasileiro. Partiu-se para a maior hidrelétrica do mundo.

Uma metade da energia ficaria com o Brasil e a outra, com o Paraguai. Como ele não tinha o que fazer com ela, venderia sua parte para o Brasil.

Marcondes Ferraz bateu em todas as portas, nada. Brincava-se de geopolítica, acreditando-se que o tratado assinado por Stroessner seria eterno.

Em 2006 o governo paraguaio forçou uma revisão marota do acordo. No ano seguinte o companheiro Fernando Lugo fez campanha defendendo um novo ajuste e ameaçou levar o Brasil à Corte de Haia. Acertou-se com Lula, mas o problema continuou do mesmo tamanho.

Depois da estudantada de julho da doutora Dilma, suspendendo o Paraguai do Mercosul para abraçar o companheiro Hugo Chávez, o presidente Federico Branco reabriu a questão. Fez isso em termos vagos dizendo que não pretende “ceder” a energia de seu país. Como ele não cede coisa alguma, pouco haveria a discutir.

Em vez de tratar a questão na suavidade das negociações diplomáticas, os companheiros partiram para cima. Trataram-no como um demagogo. Era o que ele queria, a mobilização política de seu país.
Atualmente o Paraguai só consome 8% da energia produzida por Itaipu. Cada quilowatt da hidrelétrica é essencial para a economia brasileira.

Do outro lado do Equador, há duas grandes nações de olho nessa energia barata. A China, porque precisa, já andou namorando projetos no Paraguai. Os Estados Unidos, porque finalmente ganharam uma oportunidade para colocar um pé no país.

Há quase 50 anos, Guimarães Rosa procurou, sem sucesso, apontar os perigos de um debate irracional. Se dependesse dele, talvez a hidrelétrica estivesse em outro lugar.

Prevaleceram falsos argumentos geopolíticos, sonhos de marquetagem e a encrenca está aí.
Se a doutora Dilma tirar o Paraguai da agenda pública do seu governo, poderá negociar numa posição mais confortável do que aquela em que se meteram os militares

15 de agosto de 2012
Elio Gaspari, O Globo

A HORA É DE VOTAR

LULA LÁ

Para o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, e para seu antecessor Antonio Fernando de Souza, autor da denúncia, tanto faz como tanto fez se o advogado de Roberto Jefferson considera a peça de acusação nula por falha de origem: a não inclusão do então presidente Luiz Inácio da Silva como mandante do conjunto de crimes ora em exame no Supremo Tribunal Federal.

Para os ministros que julgarão os réus culpados ou inocentes, da mesma forma pouco afeta o alerta sobre o "risco" de a população voltar-se contra o STF em caso de absolvições, por "culpa" de aludida omissão do Ministério Público.

Nenhum deles vive de votos nem está em jogo no processo. Não dependem profissionalmente do que deles se diga, tampouco são personagens explícitos ou implícitos dessa trama. Portanto, se a ideia do advogado era expor a acusação e sensibilizar os julgadores, desperdiçou seus talentos.

Agora, se por algum motivo a intenção era deixar exposto o ex-presidente ao constrangimento de se ver no centro de uma cena a cujo desmonte prometeu se dedicar, cumpriu seu intento.
Não porque tenha necessariamente fé a afirmação do advogado de que Lula não apenas sabia de todo o esquema - "safo que é" - como teria de ser enquadrado como mandante dos crimes.

O embaraço ao ex-presidente é ver-se em destaque como alvo de ação penal por improbidade administrativa na Justiça Federal junto com um ex-ministro da Previdência demitido na ocasião por suspeita de imprevidências, e personagem de relato sobre uma medida provisória e um decreto que favoreceram os bancos (BMG e Rural) onde o PT obteve questionáveis empréstimos na operação do mercado de crédito consignado.

O relato desse e de outros advogados que igualmente citaram o ex-presidente como beneficiário de ações dos acusados não põe Lula em julgamento, mas o integra a um ambiente do qual havia se distanciado e quebra o tabu da inviolabilidade de sua majestade.

Inútil paisagem. A CPI do Cachoeira aprovou ontem nova série de convocações, chamando novamente o bicheiro e marcando a data do depoimento de Fernando Cavendish, da Delta.
Pura perda de tempo e energia se a comissão não mudar seus procedimentos e continuar permitindo que convidados e convocados fiquem calados para em seguida serem dispensados.
A CPI dá a nítida impressão de que cumpre tabela até o encerramento oficial dos trabalhos, com o propósito explícito de evitar que as pessoas falem para não ferir interesses mútuos de partidos. De governo e oposição.

Rigor virtual. O governo fez pouco caso da greve do funcionalismo. Apostou no recuo e assistiu ao avanço crescente das paralisações. Se a presidente não quer ceder, é uma decisão que, no entanto, não está levando em consideração o lado de quem paga a conta.
Uma queda de braço desequilibrada, pois a população sofre o prejuízo e os grevistas seguem medindo forças sem que o governo aja com efetivo rigor permitido por decisão judicial que os submete às mesmas regras válidas para o setor privado.

15 de agosto de 2012
Dora Kramer - O Estado de S.Paulo

A RETÓRICA DO ESCÁRNIO

Kakay, evocando o nome de Lula, fica a um passo de pedir que procurador-geral lhe seja grato por estar no cargo. É um escárnio, um despropósito! Ou: De Raymundo Faoro a Raymundo Faoro


Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, avançou o sinal. Sem pejo, evocou o nome de Lula, cantou as suas glórias, e, acreditem, lembrou, por vias tortas, que Roberto Gurgel deveria é ser grato ao ex-presidente, quem sabe ao próprio orador… Por quê?

Sem nenhum constrangimento, deixando claro a sua condição de grande fidalgo da República, revelou que foi ele, Kakay, quem indicou a Lula o nome de Claudio Fonteles para a procuradoria-geral da República, em 2003. O presidente lhe teria perguntado: “Kakay, e o que fazer com a Procuradoria?” E ele: “Presidente, se o senhor quer uma que funcione, indique o Cláudio Fonteles, porque o procurador anterior não foi muito bem…” Não são palavras literais, mais foi esse o conteúdo.

E Kakay avançou, deixando claro que foi assim que o “atual grupo” do Ministério Público chegou à Procuradoria-Geral da República. Fonteles foi substituído por Antonio Fernando de Souza. E Kakay continuou a exaltar Lula, que o manteve no cargo mesmo com o processo do mensalão — como se houvesse favor aí. Assim, Roberto Gurgel, estava claro pelo encaminhamento do raciocínio, deveria é ser grato a Lula e, por que não?, ao próprio Kakay porque faria parte do “mesmo grupo”.

Kakay, a rigor, não fez a defesa de Zilmar Fernandes coisa nenhuma! Dedicou poucos minutos à causa. Esse papel coube a seu sócio, Luciano Feldens, o defensor oficial de Duda, que o antecedeu. Os dois casos, ele deixou claro, eram um só. Dedicou seu tempo à retórica palavrosa, lembrando, em última instância, que, afinal, estão em Brasília e que, por ali, todos são amigos.

Chegou mesmo a dizer que via Gurgel a falar ao pé do ouvido com ministros do Supremo, privilégio que os advogados de defesa não têm. Bem, não seria quem sou se não lembrasse. Gurgel conversa com os ministros no tribunal, aos olhos de toda gente e das câmeras de TV.
Na madrugada de sexta para sábado, protegidos da curiosidade de toda gente, Kakay e Dias Tóffoli, por exemplo, compartilharam uma noite festiva, aquela que terminou com impropérios e palavrões — e só por isso nós ficamos sabendo.

A defesa de Kakay — ou sua peroração — é um emblema do que é o Brasil. Ninguém mais do que ele evocou uma República de fidalgos. E era a supostos fidalgos que falava. Espero que os ministros do Supremo se lembrem de que estão numa República.

Imaginem se, na corte americana ou na de qualquer democracia europeia, um advogado, como quem diz “hoje é quarta-feira”, teria o topete de lembrar que indicou o procurador-geral da República (ou cargo correspondente). Kakay assumiu a tribuna para destacar que o mensalão, ou como se queira chamar a sem-vergonhice, é um assunto dos nobres cortesãos. O povo fica do lado de fora.

Roberto Gurgel deu início à sua denúncia citando “Os Donos de Poder”, de Raymundo Faoro; Kakay encerrou a fase das defesas aludindo, sem querer, a “Os Donos do Poder”, de Raymundo Faoro! Gurgel apelou ao livro destacando que o país do patrimonialismo, do compadrio, das relações incestuosas que se sobrepõem às instituições ou que as contaminam, precisam ter fim. Kakay evocou, sem saber, a mesma obra para destacar que esse é o país em que eles todos se divertem.

O direito de defesa é sagrado. Mas viola o pacto democrático quem insinua, num tribunal, que as decisões de relevo no campo da Justiça se tomam fora dali. Kakay não decepcionou. Como jurista afamado, é um homem do entretenimento, um fidalgo, um verdadeiro amigo dos amigos.
A tarefa do Supremo é mesmo gigantesca: fazer justiça com os réus e fazer justiça com os brasileiros que não são réus.

15 de agosto de 2012
Por Reinaldo Azevedo

NEURÔNIO OLÍMPICO

"Porque medalhas olímpicas são muito importantes. E não estou falando só de ouro, só prata, só bronze. A distinção é um país ser premiado pela sua capacidade, pela sua expertise, pela sua arte".


Dilma Rousseff, durante encontro no Palácio do Planalto com os irmãos pugilistas Esquiva e Yamaguchi Falcão, revelando que em 2016, nos Jogos Olímpicos do Rio, estarão em disputa medalhas de ouro, de prata, de bronze, de capacidade, de expertise e de arte.

15 de agosto de 2012

IMAGEM DA SEMANA

Servidores públicos em greve protestam na Esplanada dos Ministérios, região central de Brasília


 Servidores públicos em greve protestam na Esplanada dos Ministérios, região central de Brasília - Marcello Casal Jr./ABr

15 de agosto de 2012

ENTREVISTA: O ÚLTIMO COMANDANTE MILITAR DO GRUPO GUERRILHEIRO ALN

A INCRÍVEL HISTÓRIA DO GUERRILHEIRO QUE RECRUTOU A MÃE PARA A LUTA ARMADA, PARTICIPOU DE “JUSTIÇAMENTO” E DEU AULA DE MÚSICA A CRIANÇAS: É HORA DE “JOGAR LUZ” NOS PORÕES

seg, 02/07/12
por Geneton Moraes Neto |
 

O último comandante militar do grupo guerrilheiro ALN faz confissão sobre execução de companheiro porque acha que é hora de todos os lados envolvidos na luta armada virem a público dizer o que aconteceu nos “porões”.

Um dos principais personagens da luta armada contra a ditadura militar confessou, diante das câmeras da Globonews, ter participado pessoalmente da execução de um companheiro - um integrante da chamada “coordenação nacional” da Ação Libertadora Nacional (ALN) que caíra em desgraça junto ao comando da organização.

Em declarações anteriores, o ex-guerrilheiro admitira que tinha participado da reunião do “Tribunal Revolucionário” que selara a execução. Mas nunca tinha admitido ter sido um dos executores da sentença.

O cenário da confissão foi o estúdio G da TV Globo, no Jardim Botânico, durante a gravação de um depoimento para o programa Dossiê Globonews (a entrevista completa vai ser reexibida neste domingo, às 17:05). O autor da declaração: Carlos Eugênio Paz, o Clemente, comandante militar da Ação Libertadora Nacional, organização criada por Carlos Marighella para combater, com armas, o regime militar.

Primeiro, Carlos Eugênio Paz falou genericamente sobre a decisão “colegiada”. Depois, ao ser perguntado pela terceira vez se tinha participado diretamente da execução, respondeu:
- É uma informação quer até hoje não dei. Você está perguntando.
A verdade verdadeira é que não dei porque ninguém teve esta atitude de me perguntar diretamente. Participei – sim – da ação. Um comando de quatro companheiros participou. Não fui sozinho. Os outros três estão mortos. A execução foi feita a tiros, numa rua, nos Jardins, em São Paulo, no dia 23 de março de 1971. Tomamos aquela decisão coletivamente.

Era uma decisão de organização. Não assumo sozinho. Não sou maluco, não sou louco de decidir uma coisa dessa sozinho. Isso é uma direção. A ALN considerou que ele passava a ser um perigo para a própria organização,porque era dirigente, pela quantidade de informações que ele tinha e pelo fato de que estava abandonando companheiros à própria sorte num combate. É essa a questão. 
  
Ao quebrar um voto de silêncio que deveria durar até a morte, Carlos Eugenio Paz diz que quer dar o exemplo nestes tempos de Comissão da Verdade: se um ex-guerrilheiro confessa participação num ato “nada glorioso”, militares envolvidos em atos violentos deveriam, também, vir a público para relatar o que ocorreu nos “porões”:

- Enquanto as duas partes não falarem abertamente, vai se ficar jogando tudo para baixo do tapete. Faço uma exortação: eu estou aqui contando tudo. Conto o que dá glória e o que não dá glória. O nosso lado foi todo investigado.

O que não foi investigado é: onde está Paulo de Tarso Celestino – da ALN ? Onde está Jonas? Cadê o corpo de Jonas ? ( Preso por agentes do Doi-Codi no Rio de Janeiro, em 12 de julho de 1971, o advogado Paulo de Tarso Celestino, que militava na ALN, desapareceu desde então. O ex-operário Virgílio Gomes da Silva, o Jonas, um dos chefes da ALN, comandou em setembro de 1969 o operação de seqüestro do embaixador americano. Preso três semanas depois, entrou para a lista dos desaparecidos políticos).
Evidentemente, mataram. Mas por que mataram ? Onde mataram ? Quem matou ? Onde está ? Isso nos importa. Porque os livros de História precisam ter estas lacunas preenchidas. Você não pode entrar na História, causar tudo o que causamos e, depois, não querer assumir as coisas. Eu assumo! Como não temos vergonha do que fizemos, contamos.

A confissão do ex-comandante militar da ALN significa, na prática, que uma cena ocorrida no dia 23 de março de 1971, na rua Caçapava, na Consolação, em São Paulo, finalmente ganhou um desfecho – quarenta e um anos depois. Naquele dia, um comando da ALN formou uma expedição punitiva para executar a tiros o militante Márcio Leite de Toledo. Ex-estudante de sociologia de vinte e seis anos de idade, Toledo tinha sido enviado a Cuba para treinar guerrilha. Voltou, clandestino, ao Brasil.

A volta coincidiu com a morte de dirigentes da ALN, capturados pelos órgãos de segurança. Márcio se tornou, então, uma espécie de dissidente dentro da organização. Tinha dúvidas sobre se a tática de luta da ALN era correta. Resultado: reunido, o comando da ALN decidiu que Toledo passara a ser um perigo para a organização. Se desertasse, levaria consigo todos os segredos sobre as táticas de luta, identidade dos militantes e planos da ALN.

A decisão extrema foi tomada: Mário seria executado. Um encontro foi marcado para a rua Caçapava. Quando chegou ao local, Márcio Toledo Leite foi surpreendido pelo comando da ALN – que abriu fogo contra ele. Panfletos deixados no local diziam que a ALN, “uma organização revolucionária em guerra declarada, não pode permitir uma defecção desse grau em suas fileiras”.

Os executores da sentença de morte selaram, desde então, um pacto de silêncio:
- “Um comando é designado. Os componentes fazem pacto de silêncio. O ato mais polêmico da história da ALN é cometido (…). É uma ação de sobrevivência, não nos trará glórias nem conseguiremos jamais saber se foi ou não acertada, simplesmente os tempos exigem” – escreveria Carlos Eugênio em suas “memórias romanceadas” – o livro Viagem à Luta Armada.

Numa declaração ao Fantástico,em 1996, ele finalmente reconheceria que a morte de Márcio Toledo foi “um erro”, mas não admitiu a participação direta na execução:
- O comando de quatro pessoas tomou a decisão de manter o segredo até a morte. 

"Clemente": biografia agitada ( Foto: Jorge Mansur )

MISSÃO: SEQUESTRAR O COMANDANTE DO II EXÉRCITO

“Clemente” é o único sobrevivente do comando da ALN. Todos os outros estão mortos. Carlos Eugênio – que adotou como nome de guerra o sobrenome de um ex-jogador do Corinthians e do Bangu, Ari Clemente – diz, na entrevista, que um dos mais ousados ataques da ALN chegou a ser parcialmente executado, em São Paulo: nada menos que o sequestro do comandante do II Exército, general Humberto de Souza Melo, um militar de “linha dura”. O ataque não chegou a ser noticiado pelos jornais, então submetidos à censura. A guerrilha nunca tinha tentado seqüestrar um militar de alta patente.O comando da ALN decidiu, no início de 1971, que a hora tinha chegado. 
 
A ALN descobriu que o comandante do II Exército frequentava uma igreja batista na rua Joaquim Távora, na Vila Mariana, em São Paulo. Um comando de dez guerrilheiros foi ao local. O que aconteceu foi uma cena digna de filme de Tarantino: guerrilheiros e agentes do DOI-CODI – uns apontando armas para os outros. Em meio a tudo, o comandante do II Exército, sob a mira do comandante Clemente: 

-Eu estava com um fuzil. Nosso companheiro José Milton Barbosa estava com uma metralhadora alemã de nove milímetros. Chegamos a render o general na porta da igreja. Neste momento, chega uma patrulha do DOi-CODI. Ficou o general – com uma pequena comitiva – na porta da Igreja.
Nós, em volta do general. E os agentes do DOI-CODI em volta da gente. Houve um “cerco dentro do cerco”.
E ainda havia outro carro nosso – que estava apontando para o “cerco do cerco”. Eu disse ao general: “Aqui, vai morrer muita gente. Os agentes estão nos cercando. Mas nós estamos o cercando. Se algum tiro for disparado, a primeira rajada vai ser no peito do senhor! Vai ser um morticínio”.
O general disse :”Não! Aqui, hoje, ninguém vai morrer!”.Começamos a recuar, mas sempre apontando as armas para ele. Fui o último a entrar no nosso carro – que partiu em disparada.
Devo dizer que o general se portou como combatente.Há uma coisa que,nós, combatentes,prezamos: é o outro combatente se comportar como combatente. O general não demonstrou nervosismo.Neste dia, a gente salvou a vida de um bocado de gente – inclusive do general. Porque, se eles disparassem, nós iríamos disparar. O general ia morrer. Quem estava na comitiva morreria. E nós todos iríamos morrer também.

O CONSELHO DE MARIGHELLA: “UM COMANDANTE SÓ APRENDE A MANDAR QUANDO APRENDE A OBEDECER”

Carlos Eugênio cita três nomes que estavam na lista dos “sequestráveis” da ALN : o presidente do Bradesco, Amador Aguiar; o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo(Fiesp), Theobaldo De Nigris, além do presidente do grupo Ultra, Peri Igel:

-Tínhamos essa lista.Prefiro chamar de captura de agentes do inimigo, não de seqüestro.Jamais seqüestramos alguém para pedir dinheiro. Queríamos libertar nossos companheiros presos e torturados. Marighella definia muito bem: quem vai financiar nossa atuação é o capital financeiro. Não estamos tirando dinheiro do correntista. Estamos tirando dinheiro do dono do banco. Sempre foi assim. Assaltávamos bancos, expropriávamos dinheiro dos carros pagadores. 

O envolvimento de Carlos Eugênio Paz, o “Clemente”, com a ALN começou cedíssimo. Aos dezessete anos de idade, ouviu a pregação de Carlos Marighella, pessoalmente. O fundador da ALN recomendou que ele servisse ao Exército no Forte de Copacabana. O conselho que recebeu de Marighella:

- Você não vai ao Exército para aprender a atirar. Porque aprender a atirar você pode aprender aqui mesmo. Quero que você vá lá para duas coisas. Primeiro: aprender a obedecer. A base de qualquer comando militar é assim: o comandante aprende a mandar quando aprende a obedecer. Um soldado disciplinado pode, então, se tornar um comandante de uma tropa de guerrilha. Você vai, primeiro, aprender a obedecer. Segundo: quero que você aprenda como raciocina um militar, para que você possa se transformar num quadro militar da guerrilha.

Assim foi feito. O alagoano radicado no Rio saiu de quartel sabendo o que é uma granada, um fuzil, uma metralhadora, uma pistola automática e o que significa hierarquia. Estava pronto para a guerrilha:

- “A direita jogou suas tropas na rua. A esquerda não jogou nada. Nossa geração queria reagir. Como é que os militares chegam, acabam com a liberdade, arrombam a porta do Palácio do Governo e do Congresso, saem cassando todo mundo ?”, diz ele. “Queríamos participar da resistência. Marighella foi o primeiro que lançou esta palavra de ordem: temos de resistir com as mesmas armas que eles usaram para tomar o poder.
Ou seja: as armas de fogo. Temos de construir uma guerrilha urbana, uma guerrilha rural para derrubar a ditadura. Decidi que ia colocar minha juventude e minha vida sob o comando de Carlos Marighella(…) Qual foi o primeiro ato violento que foi feito dentro de nosso país, senão o dia 31 de março de 1964? Deram o primeiro tiro. Vi um general dizendo que nós é que demos. Não! Quem deu o primeiro tiro foram as Forças Armadas, no dia 31 de março de 1964”.

O “TRIBUNAL REVOLUCIONÁRIO” CONDENA O EMPRESÁRIO

Em outro ponto da entrevista, Carlos Eugenio dá detalhes de outra decisão extrema tomada pela ALN: a execução do empresário Henning Albert Boilesen, morto a tiros na manhã do dia 15 de abril de 1971, na rua Barão de Capanema, nos Jardins, em São Paulo. Boilesen foi condenado por um “tribunal revolucionário” da ALN por ter financiado a Operação Bandeirante,organização criada pelo II Exército em São Paulo para centralizar o combate à luta armada. Eugênio apertou o gatilho:

- Dirigi a ação. Fui autor do tiro de misericórdia. É o último tiro que é dado. Tínhamos testemunhas – vivas até hoje – que foram torturadas na frente de Boilesen. Não era um inocente. Não foi justiçado por ser empresário, mas por ser um quadro direto da repressão. Como tal, estava sujeito a sanções da guerra.
Todos nós estávamos sujeitos a sanções. Boilensen também. E estas sanções,no caso de Boilesen, foram aplicadas. Eu estava sujeito também a sanções de guerra: quantas vezes não mandaram tiro em cima de mim ?
Nesta altura do depoimento, o ex-comandante militar da ALN faz a lista das “marcas da guerra”:

- Pegaram a minha mãe em 1974, em São Paulo : ela passou um mês torturada pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury. Minha irmã foi torturada. Minha companheira que tive na vida, Ana Maria Nacinovic, foi fuzilada na luta armada, quando saía de um restaurante. Com todas essas pessoas que iam morrendo, eu morria junto também. E tinha as mortes que cometi. Veja o prejuízo que o golpe de Estado de 1964 causou: fez com que brasileiros e brasileiras tivessem de participar de um aluta fraticida. Alguém acha que estávamos ali porque gostávamos de ficar dando tiro nos outros ?

O ex-comandante militar da ALN é um caso único na história da luta armada: recrutou a própria mãe para a guerrilha. Maria da Conceição Coelho da Paz terminou entrando para a ALN. Tinha 49 anos de idade. Adotou o codinome de Joana. Passou dois em Cuba treinando enfermagem. Iria atuar como enfermeira dos guerrilheiros no Brasil. De volta ao Brasil, terminou presa e torturada, em São Paulo, para dizer onde o filho estava.
Não disse. A essa altura, Carlos Eugênio já estava fora do país. Tempos depois,em Paris, disse que uma mãe não entrega um filho. Ficou com sequelas nas mãos, resultado da tortura.

A cabeça de Carlos Eugênio valia ouro para os órgãos de segurança. O silêncio da mãe de Eugenio valia ouro para a guerrilha. A “Joana da ALN” morreu aos 79 anos, em 2000.
Carlos Eugênio Paz não chegou a ser preso. Conseguiu sair do Brasil pela fronteira com a Argentina. Usou, na identidade falsa providenciada pela ALN, o mais banal dos nomes:

João José da Silva. Tremeu nas bases quando viu o próprio rosto estampado num cartão de “Procurados” colado na parede do posto da Polícia Federal na estação rodoviária. Mas o agente que o atendeu não notou que aquele João José Silva era Carlos Eugênio Paz. “João José” passou pela Argentina, pelo Chile,por Cuba, pela Rússia e pela Tchecoslováquia, até desembarcar em Paris.

Em Cuba, o comandante militar da ALN viu um general chamado Arnaldo Ochoa estender um mapa em cima da mesa e mostrar o plano de trazer para o Brasil um navio lotado de guerrilheiros cubanos. Eugênio recusou a oferta. Disse que a ALN, organização que carregava a palavra “nacional” no nome, não iria internacionalizar a luta armada.

Ao descobrir que a guerrilha estava sofrendo um golpe atrás do outro, o então comandante militar da ALN desistiu de voltar para o país. Passaria oito anos em Paris,refugiado.

Terminou condenado, à revelia, a 124 anos de prisão, por crimes contra a segurança nacional. Eugênio calcula em cerca de oito o número de militares mortos nas ações de que participou. 

De volta ao Brasil em 1981,o ex-guerrilheiro arranjou um ocupação improvável, ao percorrer os anúncios classificados de um jornal em busca de trabalho: virou professor de música de crianças na creche Acalanto, na rua Visconde de Caravelas,em Botafogo.

Depois, deu aulas de música na Escola Parque, na Gávea. Abriu um curso em Ipanema. Toca violão, piano e baixo. Tinha estudado música quando criança. Considerado desertor do exército, requereu, junto à Comissão de Anistia, a reintegração nas forças armadas.

Conseguiu. A portaria do Ministério da Justiça que reintegra Clemente ao Exército foi publicada no dia três de fevereiro de 2010. Hoje, é terceiro-sargento do Exército – inativo, obviamente. Precisou de dez anos de psicanálise para conviver com as “marcas da luta”.

Não é tarefa para amadores. Tinha interrompido as sessões, mas retomou, há pouco. Aos 61 anos de idade, vive com a mulher no interior do Rio. Pretende, em breve, publicar um novo livro. É personagem de um documentário que, se tudo der certo, deve chegar às telas no ano que vem. Teve um enfarte, mas foi salvo por uma angioplastia, em outubro de 1988.

 Ainda assim, voltou a fumar, desbragadamente. Ao final da entrevista, fumou três cigarros- um atrás do outro, sem intervalo. Em troca de e-mails com o repórter, assina o nome que usava nos tempos da guerrilha: Clemente. É como se quisesse dizer: Carlos Eugênio ainda é Clemente. E Clemente nunca deixou de ser Carlos Eugênio.

15 de agosto de 2012