"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 24 de fevereiro de 2013

SONHÁTICOS E PERFORMÁTICOS NA REDE

 

O leitor pode enxergar excesso na comparação, mas a carga litúrgica que embalou a recém lançada Rede de Sustentabilidade (quantos sabem o significado desse termo, 3%?) dá a entender que a ex-ministra Marina Silva, ao tentar imprimir diferenciação ao seu movimento, organiza um modelo mais assemelhado à religião que a um ente político.
A começar pelo tratamento com que correligionários a saúdam – “a missionária” – passando pela semântica seletiva que abriga proibições e tempo de exercício de mandatos, culminando com a estética de véus coloridos que animaram uma tribo disposta a marcar contraste “entre nós e eles”.

O termo tribo, usado aqui de maneira proposital, vem de encontro ao eco dos “povos da floresta”, cerne da mensagem marineira e, por conseguinte, ao discurso da sustentabilidade, servindo ao propósito dos fundadores da Rede de fixar identidade asséptica, limpa de impurezas da velha política e longe de tramóias que se lêem na cartilha do espectro partidário.

Não há dúvida que o partido de Marina (ops, a Rede), sairá do papel, não devendo surgir dificuldades para alcançar as 500 mil assinaturas necessárias para a legalização. A estética de “santa” – vestimenta comedida, cabelos trançados à moda de nossos tataravós, fio de voz agudo e marcante – funciona como logomarca a puxar a lista de “sonháticos”, os aderentes da nova igreja.

Considere-se, ainda, a poderosa cadeia que se cria, a partir do nome Rede de Sustentabilidade, cujas pistas apontam para a inserção de segmentos jovens, sob o empuxo da mensagem de segurança ambiental, eixo atual do discurso das Nações e com eco nas frentes sociais. Nesse sentido, não se pode duvidar que o marketing ecológico reforçará os fios dessa teia. A questão é sobre a eficácia do novo ator.

A meta de um partido é o alcance do poder. O mestre Aristóteles ensinava que a política é a ciência mais suprema e sua missão é a de investigar a melhor forma de governo e instalar as instituições capazes de garantir a felicidade coletiva. Para tanto, precisam dos meios. Os sonháticos de Marina chegarão, um dia, ao poder por estas plagas?

Negar tal possibilidade é desacreditar na dinâmica social brasileira, na incapacidade de uma ex-seringueira chegar ao topo do poder e, mesmo, na mobilização de grupos organizados para dar vida a um partido.
Nosso passado recente demonstra que todas as hipóteses são possíveis. A ascensão do ex-metalúrgico Lula ao pódio do poder que o diga. Para chegar ao topo, porém, a seita vai carecer de meios.

Os obstáculos dizem respeito aos condicionantes adotados pela Rede, a partir de“transparência e visibilidade” e “o processo de depuração por constrangimento ético daqueles que não estão de acordo com esse tipo de procedimento”.
Se um político ficha suja entrar no partido, será constrangido a deixá-lo.
O partido se encarregará de fazer a rejeição. Interessante é observar que o banho de ética pregado pela ex-senadora se assemelha ao que o PT defendia por ocasião de sua criação, há três décadas.

A assepsia também se faz presente no limite para doação de pessoas físicas e jurídicas, na proibição de doações feitas por empresas de tabaco, álcool, agrotóxicos e armas e, até, em decisões polêmicas como a limitação de mandatos. A proposta é que o prazo máximo de um mandato seja o de 16 anos, equivalente a dois períodos de senador.

O escopo marineiro, convenhamos, reveste-se de um tecido ético que condiz com o histórico dessa ambientalista e evangélica, que se alfabetizou no Acre aos 16 anos de idade. O desafio é ter de sujeitar o novo ente aos procedimentos que regulam as relações políticas, sem deixá-lo correr na via esburacada de práticas que alimentam o cotidiano da nossa democracia representativa.

Os partidos políticos no Brasil tornaram-se homogêneos na planilha de compromissos e na forma de fazer política. O eleitorado não consegue estabelecer diferenciais entre eles.

Em 2002, por ocasião da campanha vitoriosa do PT, era possível enxergar a clivagem governo x oposição. Quatro anos mais tarde, esta diferença desapareceu, a demonstrar a equalização partidária.

A organização de Maria Osmarina Silva e Souza, ( ela ganhou o apelido de Marina de uma tia), tende a ser arrastada pela pororoca que devasta a esfera política, jogando todos as agremiações na mesma praia.
A real politik acaba modelando a fisionomia de um partido. Todos os partidos, sem exceção, se submetem aos raios de sol da política como ela é. Principalmente, quando se trata de uma organização que sinaliza desapreço pelas regras do jogo.

Marina diz, por exemplo, que a Rede não será de esquerda nem de direita, nem tampouco situação ou oposição.
Trata-se de ode a um ponto vago no espaço. Não combina tal peroração com os valores centrais de um partido, que tem como finalidade interpretar e defender parcela do pensamento social.
Ao se dizer contra ou favorável ao casamento entre pessoas do mesmo sexo ou ao aborto de anencéfalos, um partido toma posição, dizendo-se a favor disso ou contra aquilo. Nessa perspectiva, o discurso da candidata à presidente da República que obteve quase 20 milhões de votos deixa a desejar.

Por mais que se enalteça o conjunto de virtudes que impregnam a história e o perfil de Marina Silva, não escapa à análise o clima espetaculoso que cercou o lançamento do movimento, a comprovar que os “sonháticos” podem condenar a cultura de massas, mas dela se valem para dar visibilidade às suas ações. Todos os ingredientes do Estado-Espetáculo ali se fizeram presentes.

Celebridades desceram do Olimpo para prestigiar a nova entidade, ao lado de dândis, os performáticos, aqueles que praticam o culto de si mesmo. Donde se conclui que as duas categorias de Umberto Eco, os apocalípticos (que rechaçam a cultura de massa) e os integrados (que nela vêem avanços civilizatórios) deitam-se, lado a lado, na Rede de Marina, a “missionária amazônica do meio ambiente”.

24 de fevereiro de 2013
Gaudêncio Torquato, jornalista, professor titular da USP, consultor político e de comunicação

O RISCO BERLUSCONI PARA A EUROPA E O MUNDO

 

A crise europeia tem se revelado fatal para os governos, qualquer que seja sua coloração política. Obrigados a tomar medidas impopulares para reduzir déficits, dívidas e fazer reformas dolorosas, são punidos pelos eleitores quando ocorrem eleições. Na Itália, como não podia deixar de ser, foi um pouco diferente. Abalado por escândalos de ordem pessoal e contrário às medidas de austeridade reivindicadas pela União Europeia, Berlusconi renunciou no fim de 2011 ao ser derrotado no Parlamento, que aprovou o pacote.
Com grande habilidade, o presidente Giorgio Napolitano convocou para formar o novo governo o economista e ex-comissário europeu Mario Monti, com a missão de impedir que a Itália afundasse na crise e seguisse o caminho da Grécia. Napolitano conseguiu o apoio da maioria dos parlamentares ao governo de técnicos de Monti, inclusive do recalcitrante Berlusconi.

Durante um ano, Monti fez o que se esperava dele: corte de gastos públicos, flexibilização parcial da legislação trabalhista (para baixar custos empresariais) etc., resgatando boa parte da credibilidade do país, o que se refletiu nos mercados e reduziu o custo de rolagem da dívida.
Com isso, passou a receber total apoio da UE e, principalmente, da líder que tem dado as cartas na crise da zona do euro: a chanceler alemã Angela Merkel.

Mas Berlusconi tem faro apurado e viu no desgaste de Monti, pelos mesmos motivos pelos quais outros governos europeus foram castigados, a chance para voltar à cena política.
Depois de ácidas críticas ao economista, a quem acusou de pôr a Itália de joelhos diante da Alemanha, Il Cavaliere retirou seu apoio a Monti, que se demitiu, obrigando à antecipação das eleições gerais para hoje e amanhã. Faz, como é do seu feitio, promessas populistas, inexequíveis.

À frente nas pesquisas está a coligação de centro-esquerda liderada pelo Partido Democrático, de Pier Luigi Bersani. Em segundo, mas reduzindo a distância, vem a coligação de direita de Berlusconi, que prometeu aos aliados, em caso de vitória, não ser o premier.
O próprio Monti concorre, mas sua lista vem num distante quarto lugar. O grande destaque é o movimento Cinco Estrelas, do comediante Beppe Grillo, iconoclasta, antieuro e anti-Europa. Está em terceiro, simbolizando o desencanto do eleitor italiano.

O quadro é de incerteza. A maior parte das pessoas sensatas torce por uma vitória da esquerda e uma posterior coligação dela com os centristas de Monti.
Aí reside a esperança de manutenção da política de austeridade do ex-premier. Infelizmente, é grande a chance de sair uma coligação frágil, sem forças para se manter no poder, o que seria ruim.
Como seria de altíssimo risco a volta do populista Berlusconi. A única força descartada por todos é a de Beppe Grillo, um estranho no ninho. Mas, dada a fragmentação política, não surpreenderá se ele acabar sendo o fiel da balança.

24 de fevereiro de 2013
Editorial O Globo

LULA-LUZ E O POSTE

 


Dilma Rousseff é a presidente com o maior índice de aprovação que o País já teve. É alguém que obedece tão fielmente às instruções de seu marqueteiro que tem coragem de, sem qualquer constrangimento, bater no peito e anunciar a data do fim da miséria. É “o poste que está iluminando o Brasil”, como disse Lula ao lançá-la candidata à reeleição na festa dos 33 anos do PT e do decênio do partido no poder.

Então, por que Lula e o PT andam tão aflitos? Por que gastar quase dois anos de um mandato seguro, popularíssimo, para tentar garantir o próximo?

Com o batido discurso do "nós x eles", em que o eles é Fernando Henrique Cardoso, a mídia golpista, os que não suportam um operário ter chegado ao poder e toda essa ladainha, Lula consegue trazer o debate para o seu campo de conforto.

É certo que Lula anda menos falante. Tem preferido palcos sob medida, com claque garantida, sem chance de ser questionado sobre a sua auxiliar Rose-tudo-pode ou sobre as denúncias de Marco Valério de que o ex-presidente teria usufruído de dinheiro do mensalão.

De jornalistas não oficiais, quer distância.

Ainda assim, se mantém no topo do noticiário, como o grande articulador, o imbatível. Aquele que conseguirá, mais uma vez, trazer a vitória das urnas.

As chances são grandes.

Mas, ao contrário do que Lula quer fazer crer, sua preocupação do momento não é o governador do Pernambuco Eduardo Campos (PSB), muito menos o senador tucano Aécio Neves (MG). Eles só vão incomodar se a economia - que já patina - piorar. Aí, Aécio pode crescer e Campos torna-se realmente um perigo.


Ao insistir no lengalenga populista, no “nunca antes neste País”, Lula redirecionou e personalizou o debate. É ele x FHC. É ele x Campos. É ele x qualquer um.

Com isso, divide as atenções, dá um refresco nas críticas mais afiadas contra ele, seu governo, sua pupila e os seus.

Substitui as manchetes sobre a inflação, que começa a corroer os ganhos dos mais pobres. Tira o fiasco da Petrobrás das primeiras páginas. E com sua fala de efeito, ocupa todos os espaços com articulações mirabolantes – como a de oferecer a candidatura ao governo de São Paulo a Michel Temer (PMDB) e a vaga de vice a Campos.

Safo como ele só, Lula é capaz até de culpar a oposição pela incompetência do poste que escolheu para a cadeira do Planalto. De atribuir os reveses da economia à elite, a mesma que lhe garantiu e lhe assegura o trono.

Há tempos reservou para si o papel da luz.

Joga ciente de que, se ao fim e ao cabo a economia fraquejar, será ele, Lula, o ungido. Não dá para saber quem torce mais para esse curto-circuito: se o PT ou Lula. Ou ambos.

24 de fevereiro de 2013
Mary Zaidan é jornalista. Trabalhou nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, em Brasília. Foi assessora de imprensa do governador Mario Covas em duas campanhas e ao longo de todo o seu período no Palácio dos Bandeirantes.

ARTES E ANÁLISES VELHAS

 

A arte da capa do folheto e dos cartazes comemorativos dos 10 anos do PT foi comparada à estética gráfica dos regimes totalitários de direita e de esquerda. Parece mesmo. Aquelas fotos enormes das duas cabeças em um corpo, e um povo miúdo em comemoração, evoca a idolatria personalista de regimes autoritários. O texto é ainda mais discutível.
A versão de que a virtude absoluta está de um lado, e toda a maldade se concentra nos adversários, é bizarra. Hoje, após quase três décadas de democracia, o país foi exposto ao contraditório, teve decepções, aprendeu nuances, vê com espírito crítico mesmo aqueles nos quais vota.

É fazer pouco da inteligência dos brasileiros. Eles não são adoradores infantilizados de líderes macrocéfalos, mas cidadãos capazes de pensar criticamente.

A história democrática recente não está dividida em dois períodos — os anos desastrosos e os anos gloriosos. É uma simplificação grosseira, só aceitável em regimes que controlam a opinião pública, o que é impossível na democracia. Há nuances, virtudes e defeitos nos dois períodos de governo.
Há diferenças até dentro de um mesmo período presidencial.
O período Palocci é diferente da gestão Mantega, por exemplo, com superioridade para o primeiro, que preservou a estabilidade da moeda, conquistada no governo anterior. O segundo tem tomado decisões perigosas na área fiscal e monetária.

No texto, há um trecho que diz: “A teoria do bolo, de que somente após a economia crescer seria possível distribuir, se tornou uma referência a não ser questionada.” Tal teoria do bolo não foi invenção de nenhum adversário do PT, mas do seu neoamigo Delfim Netto.

Os redatores da cartilha não conseguem provar a tese de que um período concentrou renda e o outro distribuiu. Nos números que contrapõe, admite que houve redução da desigualdade, medida pelo Índice Gini, nos dois períodos.
Houve mais redução no governo Lula, mas o processo virtuoso começou após a estabilização da moeda. Só é possível fazer políticas sociais eficientes quando há inflação sob controle.

O PT tem erros a omitir e virtudes a exibir. Fiquemos na segunda parte: a ampliação da rede de proteção social. Mas os dados do próprio governo mostram que o programa anterior estava transferindo R$ 4 bilhões no fim do governo Fernando Henrique. No governo Lula, R$ 15 bilhões, e agora, R$ 23 bilhões. O programa mudou de nome e foi ampliado e aperfeiçoado. Omite-se que a ideia original da campanha de 2002 era distribuir vales para trocar por alimentos. Felizmente, a ideia obsoleta foi abandonada.

O texto alega que nos anos petistas foi feita a organização das finanças públicas, o que na verdade foi um trabalhoso esforço que consumiu anos até se chegar à Lei de Responsabilidade Fiscal.
Isso tem sido ameaçado pela alquimia contábil. Em dado momento da cartilha, eles dizem que nos anos petistas o crescimento do PIB por habitante foi de 2,2%. No final desta semana, será confirmado que em 2012 o PIB per capita teve crescimento zero.

Peça de propaganda publicitária não é para dialogar com sinceridade, mas para construir uma versão a ser vendida ao eleitorado.
O problema é que faltam 18 meses para o período oficial da campanha eleitoral e o governo precisa governar.

Explicações maniqueístas têm um defeito básico: elas anulam o espaço para a conversa inteligente.
O início extemporâneo de campanha põe em risco a ação sóbria do governo para corrigir o rumo na
direção do que o país quer, seja quem for que o governe: desenvolvimento com moeda estável.

24 de fevereiro de 2013
Míriam Leitão, O Globo

AVANÇOS ILUSÓRIOS

 

Durante os governos petistas, a estrutura econômica brasileira iniciou ou aprofundou tendências que comprometem a capacidade de desenvolvimento do país no longo prazo, afirma o professor titular de Economia Internacional da UFRJ Reinaldo Gonçalves em análise da economia brasileira nos 10 anos de governos petistas em trabalho intitulado “Brasil Negativado, Brasil Invertebrado: Legado de 2 governos do PT”.
Essas tendências, entre outras, segundo ele, são desindustrialização; reprimarização das exportações; maior dependência tecnológica; desnacionalização; perda de competitividade internacional; crescente vulnerabilidade externa estrutural; maior concentração de capital e política econômica marcada pela dominação financeira.

Até mesmo no campo social o professor da UFRJ vê ilusão onde o governo vende “conquistas notáveis”. Para ele, as políticas distributivas não atingem a estrutura de concentração de riqueza e não alteram a distribuição funcional da renda (salários versus juros, lucros e aluguéis).
No que se refere ao desenvolvimento social, tomando o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) como referência, Gonçalves constata “a total ausência de ganhos do país relativamente ao resto do mundo”.

O Brasil Negativado também aparece em outro importante indicador de desempenho econômico, a inflação. Durante os governos petistas a taxa média de inflação é 6,1% (preços ao consumidor). Segundo o estudo, a taxa de inflação no Brasil é maior do que média mundial em 6 anos e maior do que a mediana mundial em 9 anos.

A melhora na distribuição de renda, na visão de Gonçalves, não é vigorosa ou sustentável em decorrência da própria natureza do modelo de desenvolvimento, que envolve trajetória de desempenho fraco e instável.
Ele alega que os indicadores capturam fundamentalmente os rendimentos do trabalho e os benefícios da política social, e a Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios (PNAD), que serve de base para o cálculo dos indicadores de desigualdade, subestima os rendimentos do capital (juros, lucros e aluguéis).

Segundo o estudo, a distribuição da riqueza, muito provavelmente, não se alterou tendo em vista a vigência de elevadas taxas de juros reais no governo Lula, o reduzido crescimento do salário médio real, a concentração de capital e a ausência de medidas que inibam práticas comerciais restritivas (abuso do poder econômico) das grandes empresas.

Também como exemplo de concentração de capital e de riqueza, Gonçalves ressalta que no início do século XXI o valor dos ativos totais dos 50 maiores bancos era igual aos ativos totais das 500 maiores empresas; em 2011 os ativos dos 50 maiores bancos eram 78% mais elevados do que os ativos das 500 maiores empresas.

A base de dados do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) com coeficientes de Gini (que mede a desigualdade) num painel de 110 países mostra que, apesar de haver queda da desigualdade na América Latina na primeira década do século XXI, os países da região continuam com os mais elevados indicadores de desigualdade de renda no mundo.

Em meados desta década, lembra Reinaldo Gonçalves, 4 entre os 5 países com maior desigualdade estão na região (Colômbia, Bolívia, Honduras e Brasil).

No conjunto dos 10 países mais desiguais, há 8 países latino-americanos. Segundo o levantamento, o Brasil experimentou melhora marginal na sua posição no ranking mundial dos países com maior grau de desigualdade entre meados da última década do século XX e meados da primeira década do século XXI. Saiu da 4ª posição no ranking mundial dos mais desiguais para a 5ª posição.

Gonçalves ressalta que os avanços que ocorrem no Brasil não implicam ganhos em relação ao resto do mundo durante os governos petistas. Ele toma como exemplo o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do PNUD. Embora ao longo do período 2000-11 o IDH do Brasil tenha aumentado de 0,665 em 2000 para 0,718 em 2011, este mesmo fenômeno ocorreu com a maioria dos países.

Em consequência, destaca Gonçalves, não há mudanças nas diferenças entre o IDH do Brasil, que se manteve praticamente estável (70ª posição) durante os governos petistas, e a média dos IDHs dos outros países.

24 de fevereiro de 2013
Merval Pereira, O Globo

OS PRÓXIMOS PASSOS DE AÉCIO

 

Mesmo antes de ser eleito presidente do PSDB, o que vai ocorrer na convenção de 25 de maio, o senador Aécio Neves (MG) já está negociando a contratação de um instituto de pesquisa e de uma empresa de marketing para as eleições presidenciais.

A primeira tarefa do novo time será planejar o programa nacional de TV do partido (30 de maio) e as 40 inserções que vão ao ar dias 23, 25 e 29 de maio e 1º de junho.

Integrantes de sua coordenação política dizem que essa janela na mídia será um divisor de águas. Em termos de estratégia, já há uma definição:
“Não vamos discutir a herança do passado, mas apresentar nossas propostas para o futuro.”

 
24 de fevereiro de 2013
Ilimar Franco, O Globo

TUDO PELO ELEITORAL

 

Sob a direção da presidente Dilma Rousseff, efeitos especiais a cargo do ex-presidente Luiz Inácio da Silva e aplausos da arquibancada, o Brasil está assistindo à reprise de um filme cujo desfecho é conhecido: o prejuízo vence no final.

Economistas, empresários e especialistas no tema vêm alertando para os desacertos na condução da política econômica, para o excesso de intervencionismo estatal, para os efeitos nefastos da manipulação de dados, para o abandono, enfim, dos alicerces de uma estabilidade a duras penas construída desde o início da década dos 90.

O governo não lhes dá ouvidos. Ao contrário: menospreza os alertas, qualifica a todos como inimigos de um projeto de País "glorioso", inovador e progressista. Nas palavras da presidente Dilma Rousseff, as críticas decorrem da "falta de compreensão dos conservadores".

Na verdade, quem não parece compreender a distinção entre o que é bom para o País e o que é bom para o partido no poder é o governo, com sua clara opção por proporcionar satisfação imediata aos seus eleitores (reais e potenciais) em detrimento das bases sobre as quais foi construído o edifício da estabilidade.

Quais foram elas? Sistema de livre movimentação de preços, controle fiscal e foco firme e constante no combate à inflação.

Da segunda metade do segundo mandato de Lula para cá houve uma clara troca de prioridade. Deixou-se de lado o conceito de crescimento com estabilidade para privilegiar o agrado ao eleitor a qualquer custo, notadamente à chamada nova classe média que sustenta em alta a popularidade, obviamente rende votos e assegura a sobrevivência política não só do PT, mas de todo o espectro partidário de sua área de influência.

O preço congelado dos combustíveis agrada ao consumidor, ainda que ponha em risco o desempenho da Petrobrás; a redução das tarifas de energia agrada ao consumidor, ainda que leve a um aumento de consumo e comprometa as empresas de energia; a interferência no Banco Central para forçar a baixa de juros, mesmo quando seria necessária uma margem de autonomia para calibrar a demanda, agrada ao consumidor de bens a prestação, mas põe em risco a meta de inflação.

Preço baixo é bom e todo mundo gosta, mas tem um custo que não é visível (ainda) ao público. Uma hora aparece, e da pior maneira possível. Como para manter essa situação o governo tem que entrar com dinheiro, o resultado é o aumento do gasto público, o descontrole fiscal. Daí para a volta de um cenário de inflação alta, o perigo é concreto.

Trata-se de uma lógica populista que seduz o eleitor, rende vitória nas urnas. Em contrapartida, planta as sementes do desajuste que, mais dia menos dia, apresenta a conta.

Queira o bom senso que os atuais locatários do poder, a pretexto de "construir" um Brasil de faz de conta em nome de vitórias eleitorais, não levem o Brasil de volta aos tempos de desorganização interna, descrédito internacional e aos malefícios decorrentes das concessões ao imediatismo que provoca sensação de bem estar agora e adiante pode levar a pique o patrimônio de todos.

Adeus às ilusões. Os tucanos que ficaram encantados com as mesuras da presidente da República a Fernando Henrique Cardoso no início do governo acabaram de ver a vida como ela é.

No rugir do palanque, Dilma Rousseff não teve dúvida: "Não herdamos nada, construímos tudo", disse, compartilhando a versão criacionista sobre o surgimento do Brasil sob a ação divina do PT.

Esses tucanos, entre os quais se incluem diplomatas, alguns intelectuais e até gente inteligentíssima na economia (pais do real), mas ingênua na política, chegaram a considerar seriamente os gestos de Dilma como sinal de que ela logo se afastaria de Lula.

24 de fevereiro de 2013
DORA KRAMER - O Estado de S.Paulo

"2005, O ANO QUE NÃO EXISTIU".

 



“Nós não herdamos nada, nós construímos”, discursou a presidente Dilma Rousseff, no palanque da festa organizada pelo PT, em São Paulo, para celebrar os dez anos do partido no poder. Foi o ”decênio que mudou o Brasil”, o “decênio glorioso”, nas palavras da cartilha propagandística distribuída no evento, trazendo o balanço dos avanços econômicos e sociais obtidos nos anos petistas. Na figura de presidente da República, Dilma soube ser magnânima.

Em 2011, em carta enviada ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que completava 80 anos, ela afirmou que o tucano foi “o presidente que contribuiu decisivamente para a consolidação da estabilidade econômica” e ”essencial para a consolidação da democracia brasileira”.

No palanque de candidata à reeleição, Dilma fez ecoar o discurso de seus partidários: antes do PT, eram o caos e o abismo.

O PT atribui a si conquistas para as quais seu governo pouco contribuiu (veja o quadro abaixo), num típico embaralhamento entre causas e consequências.

O grande feito econômico dos petistas foi preservar a essência da política econômica herdada por eles. Na verdade, na condução da economia o PT sempre foi mais bem-sucedido quando se manteve longe de suas antigas ideias. É inegável o avanço do país em inúmeras áreas desde 2003, entre elas a redução contínua da desigualdade e o aumento na renda dos mais pobres.
 Mas, em seu discurso no palco da celebração petista, o próprio ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva confidenciou, inadvertidamente, que precisou assumir uma rota diferente da original para comandar o país.

“Passei dez dias sem querer aceitar a carta, porque tinha de mudar parte da minha história”, afirmou Lula, ao se referir à histórica Carta ao Povo Brasileiro, documento apresentado durante a campanha eleitoral de 2002 no qual o PT assumia, caso saísse vitorioso, o compromisso de manter os fundamentos econômicos do país, como a estabilidade dos preços, o equilíbrio fiscal e o respeito aos contratos.
O PT construiu a partir daquilo que herdara, colheu os resultados e ganhou as duas eleições seguintes.

Na economia, o PT acertou ao negar os seus princípios anteriores. Na política, deu-se o inverso.

“No exercício do governo, o PT passou a compor amplas alianças políticas e sem critério”, afirma o historiador Marco Antonio Villa. “A ética foi jogada na lata do lixo para priorizar o projeto de assumir o governo e se manter no poder por um longo período. O PT percebeu que isso era possível estabelecendo alianças com velhos coronéis da política e entregando a eles parcelas do aparelho de estado”, completa Villa.
 
O partido que se vendia como a última vestal na política brasileira criou o mensalão, o maior caso de corrupção da história brasileira.
 
“O PT inovou na corrupção”, afirma o sociólogo Demétrio Magnoli. “Antes da chegada do partido ao poder, a corrupção era uma operação fragmentária, não obedecia a um comando central. Com ele aparece uma quadrilha organizada dentro do partido e dentro do governo.
Outra novidade é que, com o mensalão, se procura legitimar o ato de desvio de recursos públicos em nome do progresso do país, pois é realizado pelo partido que encarna essa ideia.” Sem um pingo de autocrítica, os petistas ignoraram completamente o mensalão nas comemorações da semana passada. No palanque da festa em São Paulo, Lula discursava que o partido ”não tem medo de comparação, inclusive comparação em debate sobre corrupção”.
 
Na plateia, a atestar o destemor dos petistas diante da Justiça e da opinião pública, os recém-condenados José Dirceu (ex-ministro da Casa Civil), João Paulo Cunha (ex-presidente da Câmara) e José Genoino (ex-presidente do PT) circulavam pela festa, sempre assediados pela militância.
O desejo de reescrever a história ficou explícito em um mural colocado no Senado, celebrando o decênio petista. O ano de 2005, quando foi revelado o mensalão, foi simplesmente suprimido.
 
Compreende-se a ânsia de sublimar aquele ano — a cada novo depoimento, a cada nova prova, ficava mais nítida a dimensão do maior escândalo de corrupção da história do Brasil.
 
No fim do ano passado, o Supremo Tribunal Federal condenou 25 envolvidos e selou o veredicto definitivo sobre o mensalão. Para os petistas, 2005 é mesmo um ano para esquecer. Mas os brasileiros não se olvidam.


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24 de fevereiro de 2013
Augusto Nunes, Veja

LULA: BRAVATA PERIGOSA



O ex-presidente disse na festa do PT que não tem medo de falar sobre corrupção. Se é assim, deveria parar de fugir de perguntas sobre o escândalo que protagonizou com Rosemary Noronha.
 
24 de fevereiro de 2013

PROJETO BIZARRO 1

 

Estupradores castrados em proposta

Ivo Cassol quer tolerância zero contra estupradores de crianças e adolescentes. O senador do PP de Rondônia apresentou um projeto de lei, já em tramitação, determinando a castração química de violentadores reincidentes de menores de idade.

O texto propõe que, nas primeiras duas vezes em que cometer o crime, o réu pode optar por substituir a pena de reclusão pela castração química — ou seja, um tratamento médico para deixá-lo impotente.
Caso o criminoso reincida o juiz pode determinar a castração compulsória.
Cassol queria, na verdade, a mutilação peniana do agressor, mas isso a Constituição não permite.

A propósito, o notório Ivo Cassol acaba de ser condenado por imbrobidade, acusado de compra de votos nas eleições de 2006.

Em relação a este crime, Cassol deve pensar em remédios mais brandos para resolvê-los. Prefere, neste caso, não cortar o mal pela raiz.

24 de fevereiro de 2013
Por Lauro Jardim

NOTA AO PÉ DO TEXTO

E você leitor, o que pensa disto? Acha que o Senador está exagerando no castigo, ou acredita que seria uma punição exemplar e de "faxina sexual"? Você concorda com o projeto ou pensa que seja de fato, um projeto bizarro? Você concorda que se trata de um crime hediondo?
Dê a sua opinião.
m.americo

Á ESPERA DA PUNIÇÃO

 



Os ministros Joaquim Barbosa e Ricardo Lewandowski atuaram em trincheiras opostas no julgamento dos principais pontos do processo do mensalão, numa dicotomia que transcendeu — e muito — o contraponto esperado entre o relator e o revisor.
Barbosa acolheu a tese da acusação e afirmou que o PT montou, no primeiro mandato do ex-presidente Lula, um esquema de compra de votos no Congresso custeado com recursos desviados dos cofres públicos.

Já Lewandowski, ecoando a defesa, alegou que essa denúncia não foi comprovada nos autos. Barbosa condenou à cadeia a antiga cúpula petista, enquanto Lewandowski votou pela absolvição de José Dirceu e José Genoino, ex-presidentes do partido.

Barbosa também defendeu a cassação imediata dos deputados condenados, prevalecendo, como nos casos anteriores, à recomendação de Lewandowski para que a última palavra sobre a perda dos mandatos fosse dada pela Câmara dos Deputados.

Superada a parte principal do maior julgamento da história do Supremo Tribunal Federal (STF), o duelo se repete agora na definição do prazo para o cumprimento da sentença. Barbosa espera executá-la, o mais tardar, até julho. Lewandowski aposta em novembro ou dezembro.

Em 2012, o STF gastou 53 sessões plenárias e 138 dias para condenar 25 dos 38 réus do mensalão. Somadas, as penas chegam a quase 270 anos de prisão, e as multas, a 22 milhões de reais.
Tais sanções só serão aplicadas depois de vencidas duas etapas derradeiras do processo. A primeira é a publicação do acórdão.
A segunda, a análise dos recursos que serão apresentados pelos advogados de defesa. Presidente do Supremo, Barbosa já pediu pelo menos duas vezes aos ministros que liberem rapidamente seus voto revisados, o que permitirá a divulgação do acórdão.

Na semana passada, o pedido constou de um ofício encaminhado formalmente aos colegas. No início do mês, Barbosa fez o mesmo apelo numa conversa informal entabulada pouco antes do início de uma sessão plenária.
O prazo para a publicação do acórdão, segundo o regimento, acaba em 1º de abril, mas Barbosa quer ganhar tempo. Se dependesse só dele, o texto seria publicado ainda neste mês.
O problema é que apenas três ministros liberaram os votos: Cezar Peluso e Carlos Ayres Britto, já aposentados, e Gilmar Mendes. Luiz Fux, Celso de Mello e Marco Aurélio Mello prometem fazer o mesmo até meados de março. Os outros ainda não se pronunciaram.

Depois de publicado o acórdão, os réus têm cinco dias para recorrer da decisão. Não há limite de tempo para o julgamento dos chamados embargos. Por isso, apesar de tais recursos raramente resultarem na extinção das penas impostas, o fim do processo depende do empenho dos próprios ministros.
Jogar com o tempo, prorrogando a tomada de decisões, foi uma estratégia urdida pelo próprio Lula quando era travada a discussão sobre a data do início do julgamento do mensalão.

O petista queria que o caso ficasse para 2013. Falou isso diretamente a ministros, mas não conseguiu convencer a maioria deles. O fato de o revisor prever o desfecho apenas em novembro ou dezembro alimenta especulações nada edificantes.

Essa disputa pelo controle do andamento do processo interessa principalmente aos deputados condenados: José Genoino e João Paulo Cunha, do PT, além de Valdemar Costa Neto (PR) e Pedro Henry (PP).
Se prevalecer o prazo idealizado por Barbosa, eles poderão perder os mandatos ainda neste ano. Caso o ritmo imaginado por Lewandowski se imponha, a cassação ficará, na melhor das hipóteses, para o próximo ano.
Como em 2014 haverá eleições gerais e os parlamentares praticamente não darão expediente em Brasília, na Câmara há até quem aposte que os mensaleiros conseguirão concluir o mandato.

É justamente isso que Barbosa quer evitar, sob pena de desmoralizar a Justiça e tornar manca uma sentença histórica do STF.

24 de fevereiro de 2013
DANIEL PEREIRA E HUGO MARQUES, VEJA

NÃO É QUE ELES AMEM TANTO O COMUNISMO... ELES AMAM MESMO É A DITADURA!

 

Por que Yoani Sánchez, mulher de aparência frágil, fala doce e textos nada inflamados, provoca a fúria de alguns dinossauros da ideologia mundo afora, inclusive no Brasil?
A resposta não é simples. Ainda que as esquerdas contemporâneas tenham mudado a sua pauta, e já não se encontrem mais comunistas de verdade nem em Pequim (restaram alguns apenas nas universidades brasileiras), é certo que elas conservam o gene totalitário e o ódio à democracia e à pluralidade.
Herdaram do passado uma concepção de sociedade que as coloca como a vanguarda da história.
 
Essa vanguarda seria a caudatária legítima de todas as lutas em favor do progresso, da igualdade e da justiça e, por isso, estaria habilitada a conduzir a humanidade para o futuro. Elas se consideram dotadas desse exclusivismo moral — e, em nome dele, tudo lhes seria permitido.
Os que não aderem à sua pauta, pouco importa o conteúdo, seriam forças da reação, agentes do atraso, sabotadores do progresso.
A história é rica em exemplos. A depender das necessidades, o comunismo internacional ora se alinhou com o nazi-fascismo “contra o imperialismo”, ora com o imperialismo “contra o nazi-fascismo”.
Seus comandados defenderam com igual entusiasmo uma coisa e outra e, em ambas, vislumbraram o caminho para a redenção do homem. Afinal, os donos da história sempre sabem o que é melhor para a humanidade.
 
Esses grandes embates ficaram no passado. Desmoronou também a ambição de se criar um modelo econômico alternativo ao capitalismo. Setenta anos de história bastaram para evidenciar a impossibilidade, restando, a exemplo de Cuba, algumas experiências que vivem de esmagar as liberdades individuais e que se impõem pela violência.
O capitalismo fatalmente chegará à ilha hoje tiranizada pelos irmãos Raúll e Fidel Castro não porque a história tenha acabado, e esse modelo de sociedade vencido.
O capitalismo chegará justamente porque a história não acabou, e o estado comunista fracassou no seu intento de refundar o homem, a economia, a ciência, a natureza e até a metafísica. Não custa lembrar que as esquerdas é que eram partidárias do “fim da história”, não os liberais.
 
O comunismo fracassou. Curiosamente, aquele “império” ruiu mais com suspiros do que com estrondo, tais eram as suas fragilidades.
Não foi o pouco de abertura econômica proporcionada pela era Gorbachev que liquidou o modelo, mas o pouco de liberdade que ele resolveu inocular no sistema. O totalitarismo é uma doença anaeróbia do espírito.
Não convive com o oxigênio da liberdade e do contraditório. Aquilo tudo foi abaixo. A existência de Cuba e da Coreia do Norte é a prova mais evidente de que o comunismo, como a humanidade o conheceu um dia, acabou. Mas as esquerdas sobreviveram com a sua mesma concepção de história.
 
A despeito de todos os desastres humanitários que já provocaram, continuam a reivindicar o monopólio do humanismo e da verdade e a vender a fantasia de que são as únicas forças moralmente habilitadas a nos conduzir para o futuro.
Essa é a razão pela qual a noção de “crise” — entendida como um momento de transformação — é a que mais estimulou, ao longo do tempo, a imaginação dos historiadores e ensaístas de esquerda, a começar do pai original, Karl Marx. Eles julgam saber para onde conduzir a humanidade, ainda que esta, eventualmente, não queira…
 
Yoani provoca a fúria do governo cubano e dos esquerdistas que se manifestam sem restrições nas democracias (justamente porque o comunismo perdeu…) não porque defenda a economia de mercado — todo esquerdista sabe, hoje em dia, que não há alternativa; não porque esteja colocando em dúvida supostas “conquistas” da revolução — ela é até bastante cordata a respeito.
Os furiosos protestam porque Yoani é a evidência de que o exercício da liberdade individual desconstrói a fantasia totalitária, pouco importa em que modelo econômico ela esteja ancorada. E isso vale também para o Brasil.
 
Vivemos, a despeito dos totalitários em voga, num regime de plenas liberdades democráticas. É uma conquista da população brasileira, não desta ou daquela forças políticas em particular. Não existe mais em nosso país um embate relevante entre os que defendem e os que atacam a economia de mercado.
O mercado venceu porque é a escolha mais eficiente, mais racional e mais adequada às habilidades e às aspirações humanas. Mas permanece, sim, um confronto inconciliável entre os que acreditam nas liberdades individuais e os que entendem que estas devam se subordinar aos anseios daqueles que se apresentam ainda hoje como “a vanguarda”.
 
Aqueles patetas fantasiados de Che Guevara que hostilizaram Yoani, a absurda participação de um funcionário graduado do governo na conspirata armada pela embaixada cubana, as grosserias que contra ela desferiram parlamentares de esquerda, tudo isso é a evidência não de amor pelo comunismo, mas do ódio à liberdade.
Com a sua simplicidade, com a sua verve mais tímida do que encantatória, com algumas formulações muitas vezes óbvias sobre o que é ser livre, Yoani não trouxe à luz apenas as violências do regime político cubano; ela conseguiu denunciar também as tentações totalitárias que ainda estão muito vivas no Brasil.
Não é que essa gente que saiu urrando contra ela ainda acredite no comunismo. Mas é certo que essa gente ainda acredita na ditadura. Em Cuba ou aqui.
 
24 de fevereiro de 2013
Por Reinaldo Azevedo

CRISE DA BURCA NA FILADÉLFIA


          Internacional - Estados Unidos 
burcanicabePraticamente qualquer cidade no Ocidente, a qualquer hora, poderia passar pelos mesmos problemas da Filadélfia

Filadélfia, cidade em que eu moro, tornou-se tranquila e discretamente a capital do mundo Ocidental em que o traje islâmico feminino favorece a prática criminosa.

Primeiramente uma explicação sobre as indumentárias islâmicas, todas com a tendência de serem chamadas de véus em inglês, podem ser classificadas em três categorias.

Algumas cobrem parte do corpo (abaya, hijab, xador, jilbab ou khimar), principalmente o cabelo, pescoço e ombros, mas revelam o rosto e a identidade da mulher, algumas cobrem o rosto (o yashmak) mas mostram as curvas do corpo enquanto outras cobrem o corpo todo, inclusive a identidade e o sexo da pessoa.

O yashmak, nosso tópico de hoje, seria melhor descrito como manto para cobrir o corpo inteiro do que simplesmente um véu: que por sua vez é subdividido em dois tipos, os que cobrem a pessoa completamente (a chadari ou burca) e os com uma fenda para os olhos (haik ou nicab).

Pelas minhas contas, a região da Filadélfia sofreu 14 roubos (ou tentativas de roubo) de instituições financeiras nos últimos seis anos em que os ladrões fizeram uso dos mantos islâmicos que cobrem o corpo inteiro.

Ocorreram em janeiro de 2007, junho de 2007, maio de 2008, novembro de 2009, outubro de 2010 (dois), fevereiro de 2011, junho de 2011, dezembro de 2011, janeiro de 2012, março de 2012 (dois) e abril de 2012 (dois).

O ataque mais violento ocorreu em 3 de maio de 2008, quando o sargento de polícia Stephen Liczbinski foi morto com uma AK-47 em um tiroteio após um roubo em que os bandidos trajavam burcas; na sequência a polícia matou um dos criminosos.

Conforme destaca David J. Rusin do Middle East Forum em sua detalhada pesquisa envolvendo crimes com o uso de burcas na Filadélfia, a vestimenta muçulmana leva duas grandes vantagens sobre outras formas de disfarce: primeiro, muitas mulheres com o corpo coberto por inteiro, andam pelas ruas sem nenhuma intenção criminosa, proporcionando com isso, inadvertidamente, dissimulação para ladrões; quanto mais coberto estiver o corpo mais facilitará a atividade criminosa. segundo, a própria estranheza e desagradabilidade desses trajes propiciam àqueles que os usam, inclusive criminosos, um nível extraordinário de proteção.

Como em outros casos (três aquisições de bebidas alcoólicas por um menino de 14 anos vestido com uma burca em lojas de bebidas no estado de Toronto, esquivamento de mulheres muçulmanas das vistorias nos aeroportos canadenses), encarregados tão receosos de serem acusados de racismo ou de "islamofobia" que fazem vista grossa sem efetuar os procedimentos obrigatórios, como por exemplo exigir que os usuários de nicabes mostrem seus rostos e apresentem suas identidades.
Captura de vídeo de um menino de 14 anos usando uma burca em uma loja de bebidas em Ontário.
Em um gesto louvável, alguns bancos não permitem a entrada de pessoas com o rosto coberto.
Por exemplo, uma agência do PNC Bankna Filadélfia exibe o seguinte aviso na porta de entrada: "Nossa prioridade é a segurança de nossos funcionários e clientes. Solicitamos que tirem os chapéus, bonés, óculos escuros ou capuzes no interior dessa instituição financeira".
Essas medidas têm como objetivo reduzir roubos a bancos por pessoas vestidas com burcas.

Ficando mais difícil assaltar bancos, a vestimenta islâmica apresenta um perigo geral a alvos mais fáceis. Por exemplo, em 2008 na região da Filadélfia, assaltantes fizeram uso de vestimentas islâmicas para assaltar uma agência de imóveis e em 2012 para cometer um assassinato em uma barbearia.

Entre os dias 14 e 15 de janeiro também na Filadélfia outro crime horrível, apesar de não ter sido fatal, um sequestro e estupro de uma criança de 5 anos.
Alguém vestido de nicabe tirou Nailla Robinson da Escola Fundamental Bryant fazendo-se passar pela mãe com a desculpa de levá-la para tomar o café da manhã.

Os investigadores acreditam que ambos caminharam alguns quarteirões onde um homem os aguardava. Nailla desapareceu por quase um dia e foi encontrada somente na manhã seguinte por um transeunte em uma praça, trêmula, seminua.

Na semana passada a polícia prendeu, Christina Regusters, 19, funcionária de um asilo diurno para idosos que teve contato com Nailla. As acusações contra ela incluem sequestro, estupro, lesão corporal, por em risco a vida das pessoas e formação de quadrilha.
Foto de Christina Regusters no Facebook, supostamente vestida com nicabe no caso Nailla Robinson.
Os fatores mais comuns citados acima foram cruciais para a comissão formada para investigar o crime:
A difusão da cobertura completa do corpo (a mãe de Nailla, Latifah Rashid, usa a vestimenta islâmica, significando que o sequestrador poderia teoricamente se passar por ela) e o quadro de funcionários da escola Bryant que deixou passar a nicabe (ignorando as diversas regras pertinentes à saída de uma criança da escola).

A análise do problema na Filadélfia gera uma série de reflexões: primeiro, praticamente qualquer cidade no Ocidente, a qualquer hora, poderia passar pelos mesmos problemas da Filadélfia.

Segundo, trata-se de um problema extremamente grave, envolvendo assaltos extremamente violentos, estupros e assassinatos. terceiro, à medida que a cobertura integral do corpo vai sendo difundida, cada vez mais criminosos fazem uso desse artifício. quarto, os funcionários públicos precisam superar a timidez e aplicar os procedimentos costumeiros mesmo naqueles que estão usando vestimentas que cobrem integralmente o corpo, mesmo nas lojas de bebidas, aeroportos e escolas de ensino fundamental.
E por último, a solução para o problema é óbvia: proibir o uso da nicabe e da burca em locais públicos, assim como já o fizeram recentemente os governos da França e da Bélgica.

24 de fevereiro de 2013
Daniel Pipes
Publicado no The Washington Times.
Original em inglês: Philadelphia's Burqa Crisis
Tradução: Joseph Skilnik

TROPA DE CHOQUE

    
          Internacional - América Latina 
Esta pessoa não cessa de dar provas, não agora, mas desde antes, de que é uma peça do castrismo fundida nas fileiras da dissidência e da oposição.
 

Nota da tradutora:


No vídeo abaixo, registra-se o momento em que a blogueira afirma na Câmara dos Deputados, em Brasília, que deseja o fim do embargo com os Estados Unidos e advoga pela libertação dos 5 espiões castristas julgados, condenados e presos nos Estados Unidos. A revolta da comunidade cubana é porque essas defesas são as principais bandeiras da ditadura dos irmãos Castro, pondo em dúvida o rótulo de “opositora” da referida senhora.

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=nBZ-XBfsr8A

Alguns cubanos, não todos, são seres espetacularmente singulares, sobretudo aqueles que supostamente se consideram exilados. É provável que vivam a síndrome da vítima pendente e obediente do verdugo para a eternidade, ou o que é pior, que ainda lhes manipulam as cordas desde o Comitê Central em Havana, e seu corpo e seu pensamento respondam por recursos manipuláveis, segundo lhe puxem seus titiriteiros ou lhe ordenem seus domadores.
 
O assunto não falha, enquanto endeusam uma pessoa, não se pode opinar sobre a pessoa em questão de maneira desfavorável sem que se desate o linchamento, ao ponto em que surgem as tropas de choque para impedir que cada um observe, pense e se manifeste livremente como se faz em democracia.

Não importa se seu nível de ignorância é tal, ou talvez não seja, e se trate de sem-vergonhice, que não possam calcular e ver onde está a verdade, velando unicamente por seus interesse pessoais e não pela liberdade de Cuba.
 
Assim, continuar insistindo em que uma declaração se fez com ironia, quando no vídeo se percebe claramente que se disse como convicção, é tão errôneo e malsão, para não chamá-lo como se deve, que só é comparável a quando em Cuba se aplaudia fervorosamente aos Castro enquanto nos matavam de fome, de terror e de todo o demais que ninguém ignora.
 
Querer tapar o sol com a peneira a estas alturas é de uma irresponsabilidade política que não se pode contornar facilmente. E aquele que o faça deverá carregar com seu peso e com seu custo.
 
Nomear um indivíduo como o representante dos cubanos sem que ele seja eleito democraticamente é o mesmo que apoiar o castrismo, ainda mais se esta pessoa não cessa de dar provas, não agora, mas desde antes, de que é uma peça do castrismo fundida nas fileiras da dissidência e da oposição, o que é preciso ser cego para não ver.
E no caso em que não seja, coisa que jamais neguei, ela está fazendo o maravilhoso trabalho para o castrismo. Com esses dissidentes teremos castrismo por um montão de anos mais.
 
Porém, o mais curioso é que a tropa de choque instiga, intriga, mente tanto quanto ela, e desde as tribunas mais importantes, desde colunas da imprensa no exílio, lhe dão as boas-vindas como deram aos próprios Castro, esses Messias! E como a deram aos Nikita Kruschev e quantos russos ou comunistas assassinos se perderam pelo mundo e foram parar na ilha.
 
Por isso me uno à opinião daqueles que pensam que uma grande maioria de cubanos são seres verdadeiramente desprezíveis, uns idiotas do traseiro (em El Universal estão proibidos os palavrões que são tão bons e do meu agrado), cordeiros que vão ao matadouro com prazer, ao abismo cantando a favor de quem os empurra. Então merecem a todos esses Messias que tanto os reprimiu, criticou, insultou e tratou de tudo, até expulsá-los de seu país como párias.
 
Que com seu pão o comam, e se depois não têm Alka-Seltzer para digerí-lo, que voltem a se lançar em balsa mas, nesta ocasião, nadando ao contrário.
 
24 de fevereiro de 2013
Zoé Valdés  
Tradução: Graça Salgueiro

OS PIORES CEGOS

       
          Artigos - Governo do PT 
Volta e meia, o PT e seus parceiros promovem fóruns de esquerda. Com tudo custeado mediante recursos públicos, trazem ao Brasil gente da pior espécie.


Reinaldo Azevedo mostrou muito bem, em um de seus textos mais recentes, o erro crasso cometido pelos jornalistas que avaliaram quase como se fosse um Fla-Flu a mobilização de grupos antagônicos em torno da visita de Yoani Sanchez ao Brasil. De fato, é um absurdo tratar as milícias fascistas montadas para impedir uma pessoa de falar e os cidadãos que a isso se opõem querendo ouvi-la como se fossem forças opostas com iguais méritos e deméritos. Não são.


Só para lembrar. Volta e meia, o PT e seus parceiros promovem fóruns de esquerda. Com tudo custeado mediante recursos públicos, trazem ao Brasil gente da pior espécie. Verdadeiros gângsteres da filosofia e da política. Se fosse consultada, a sociedade que paga impostos jamais concordaria em patrocinar esses gastos. Mesmo assim, não tenho notícias de que forças políticas oponentes organizem milícias para impedir que os participantes desses eventos profiram suas tolices e difundam seus maus ensinamentos.
 
Por outro lado, é indispensável escrever e sublinhar que os agressores da blogueira estavam - vejam só! - declaradamente a serviço de dois governos e de um projeto geopolítico. A serviço do governo cubano, a serviço do governo brasileiro e a serviço do Foro de São Paulo. Isso não é tarefa que se atribua a meninos arrogantes. A presença de um membro do gabinete do ministro Gilberto Carvalho na reunião preparatória dessas estripulias fascistas, ocorrida na embaixada de Cuba, torna tudo muito evidente.
 
A reunião era para combinar as ações de repúdio à senhora cubana. A articulação se faria pelas redes sociais. Para facilitar o trabalho, foi distribuído um CD com as informações necessárias. E o funcionário do governo brasileiro presente à reunião era, casualmente, o assessor do Palácio do Planalto para redes sociais (um bom exemplo do que eu chamo de aparelhamento partidário da estrutura do Estado).
 
Em São Paulo, na esquina do Conjunto Nacional onde Yoani autografava seu livro, um grupo gritava: "Sai fora, blogueira imperialista. A América Latina será toda comunista". Ora, esse é o projeto do Foro de São Paulo.
 
Tenho certeza de que muitas pessoas, ao lerem este pequeno texto - quase um desabafo para que não se diga que eu não entendi o que esteve em curso - dirão que estou ampliando as dimensões de um fato menor.
 
Pois esses são os piores cegos. Lula, Dilma e os seus amam de paixão quem pensa assim. Os gângsteres da política, da filosofia e da educação não querem outros opositores. O projeto proclamado alta voz na esquina da Rua Augusta com Avenida Paulista, vai bem adiantado na Venezuela, Equador, Bolívia, Paraguai, Argentina, Peru, Uruguai, Brasil, Nicarágua e - historicamente - em Cuba.
 
Os resultados são péssimos, mas isso não tem qualquer significado diante da importância da causa. Para tudo contam com o generoso beneplácito dos que não querem ver. Nada mais adequado a estes do que um líder que nada sabe, nada vê e nada ouve.
 
24 de fevereiro de 2013
Percival Puggina