"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 6 de abril de 2012

PARECE QUE FOI FISGADA

CHARLES BUKOWSKI, UM MESTRE

A BARBÁRIE INOCENTADA

Segue ganhando repercussão a polêmica votação do Superior Tribunal de Justiça, que na semana passada absolveu um homem acusado de haver estuprado, em 2002, três meninas que na ocasião tinham 12 anos de idade.
Os jornais publicam na sexta-feira (6/4) uma manifestação do Escritório Regional para a América do Sul do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos. Segundo a declaração oficial do representante da instituição, “é impensável que a vida sexual de uma criança possa ser usada para revogar seus direitos”. De acordo com sua interpretação, a decisão do STJ abre precedente perigoso e discrimina as vítimas com base na idade e gênero.

A votação dos desembargadores já havia sido deplorada por representantes da Unesco, o organismo da ONU para Educação, Ciência e Cultura, e vem sendo criticada também por autoridades brasileiras, entre as quais a ministra Maria do Rosário, da Secretaria Nacional de Direitos Humanos.
Na quarta-feira (4/4), o Ministério Público Federal ingressou com embargo de declaração na tentativa de alterar a decisão da corte.

Esforço global

O Superior Tribunal de Justiça considerou que, como o fato aconteceu antes da lei de 2009 que passou a considerar “estupro de vulnerável” ter relações sexuais com menores de 14 anos, mesmo não havendo violência o autor não poderia ser condenado, uma vez que as meninas já se prostituíam, ou seja, teriam supostamente condições de consentir em fazer sexo com ele.

Os críticos observam que a lei de 2009 apenas tornou mais explícita a norma que, em sua essência, considera a situação de vulnerabilidade de crianças e adolescentes. Essa circunstância é ainda mais clara no caso das meninas que são objeto desse julgamento.

Embora o processo corra em segredo de Justiça, sabe-se que elas viviam em condições de extrema pobreza e vulnerabilidade, circunstância que foi usada pelo acusado e que, segundo a interpretação de juristas ouvidos pelos jornais, reduz a possibilidade de discernimento. Além disso, acrescentam os críticos, as decisões judiciais sobre questões delicadas que envolvem pessoas vulneráveis devem levar em conta os aspectos sociais de cada caso.

As mudanças inseridas na legislação em 2009 tiveram como motivação a conveniência de eliminar dúvidas dos juízes exatamente na interpretação da palavra “violência”. Até então, os tribunais discutiam se seria preciso provar a ocorrência de constrangimento físico, ameaça ou fato semelhante para configurar a violência no ato sexual com menores de 14 anos.

Mas a lei anterior já considerava estupro mesmo a relação consensual, levando em conta a presunção de violência em função da desigualdade de recursos entre o perpetrador adulto e a vítima imatura.
Como lembra o representante da ONU, legislações desse tipo foram também criadas em função de tratados internacionais, no esforço global pela proteção de crianças e adolescentes por todo o mundo.

Discussões de botequim

Com todas essas evidências, chega a chocar a alegação do Superior Tribunal de Justiça, que se distancia do raciocínio que se espera dos magistrados e se aproxima do conjunto de preconceitos de gênero e do machismo típicos de discussões de botequim.
Ao perseguir o assunto e dar destaque à polêmica decisão judicial, a imprensa contribui para combater esse resquício de incivilidade que, ao que parece, ainda contamina até mesmo certas cortes de Justiça.

Além do aspecto jurídico, que se configura nessa interpretação controversa da lei, chama atenção o efeito pedagógico invertido, pelo qual os magistrados induzem a considerar aceitável o fato de um adulto procurar meninas de 12 anos para atos libidinosos, ainda que elas estejam na condição de prostituição.

Dirão os cínicos – e essa parece ter sido a interpretação dos juízes do STJ – que essa é a realidade social. O que a imprensa está dizendo é que essa é uma realidade social inaceitável, e não uma condição que deva servir impunemente à vontade e aos impulsos de um adulto.
O processo civilizatório tem esse pedágio: a necessidade de que os indivíduos considerem quanto custa ao outro a satisfação de seus desejos.

O Estado, por meio do Legislativo, procura estabelecer normas claras sobre o que é admissível nas relações interpessoais, mas cabe ao cidadão conhecer seus limites e à Justiça punir os excessos.

Por Luciano Martins Costa
06/04/2012

QUANDO A BESTA DESPERTA


Uma das figuras mais marcantes dos primeiros tempos do Jornal da Bahia (aquele mesmo que consta na história da imprensa brasileira como o herói de uma luta sem tréguas contra o caudilhismo de Antonio Carlos Magalhães) era um desenhista francês de talento invulgar. Aos 15 anos de idade, quando estreei naquele jornal formador de gente, o francês fazia-se conhecer em toda Salvador como chargista, dotado de uma percepção extraordinária para captar o espírito baiano e satirizar as mazelas políticas. Convocado para a guerra da Argélia, ele teve o conforto de assistir à reação (inútil, no fim das contas) dos baianos, que não queriam vê-lo partir.

O artista voltou são e salvo do conflito, sem ter disparado nem recebido um tiro sequer. Viveu alguns anos na Bahia e, de volta à França, fez uma carreira notável como desenhista de imprensa e de álbuns, além de cineasta, ator e contista. Eu o conheci de bem perto, antes e depois. É que permaneceu amigo de muitos brasileiros, que costumavam frequentar o seu apartamento em Paris, principalmente aqueles que ele considerava a “esquerda criativa”.

Prefiro não citá-lo nominalmente: já faleceu, não há quem responda por ele. Mas eu o evoco aqui porque começam a aparecer na imprensa e em relatos orais pequenas histórias de amigos franceses de espírito convivial e libertário, mais tarde tornados simpatizantes enrustidos, às vezes veementes porta-vozes da pior direita francesa.

Quando o desenhista faleceu em 2008, fazia muitos anos que eu não mais o visitara, mas estava bem a par de sua conversão às hostes da intolerância étnica e xenofóbica. Esta foi uma das grandes decepções de minha vida, logo eu que comungo da bonomia de “Europa, França e Bahia”, que lá estudei, que cultivo a língua e que ainda tenho sinceros amigos franceses.

Fantasia colonialista

Esta história comparece agora a propósito do massacre de crianças judias, um rabino e militares muçulmanos por um extremista francês. Mas principalmente porque a imprensa, não apenas a nossa, mas uma parte da imprensa parisiense levanta a questão do “mal-estar” da consciência francesa. Esta, a despeito de uma história gloriosa de lutas e discursos sobre a fraternidade e a liberdade, ainda parece cultivar, no mais profundo recesso de si mesma (“La France profonde...”), os sentimentos horrendos que, no passado, levaram à rejeição e ao extermínio do Outro – o judeu, o árabe, o estrangeiro.

A realidade é que nem sempre Paris foi a “festa” de que falava Hemingway. Quando o governo de Vichy, chefiado pelo marechal Pétain, extinguiu a Terceira República Francesa em 1940, o grande ponto anti-humano do acordo com a Alemanha nazista era a deportação de todos os judeus franceses para os campos de concentração alemães.
A grande maioria da população era colaboracionista, cúmplice daquele “mal-estar” civilizatório, que não acabou com o fim da Segunda Guerra, nem foi realmente redimido pela Resistência Francesa (iniciativa de comunistas, aliás), pois os sentimentos odiosos ressurgem sempre que se lhes dá a oportunidade. Em seu livro sobre o “estrangeiro”, a brilhante analista Julia Kristeva sustenta não haver pior país para o estrangeiro do que a França.

Evidentemente, não é assim que se sente ou mesmo pensa o estrangeiro que vive em Paris como estudante, turista ou exilado. Pelo menos, não inicialmente ou nunca quando se navega na superfície das coisas.O buraco é bem mais embaixo: no fundo dele mora a crença no universalismo iluminista, que mobiliza não apenas a força de trabalho do homem, mas também os recursos próprios à sua conversão ao modelo civilizatório do Ocidente, indispensável a um modo de produzir economia e cultura que sempre implicou saque, domínio e extermínio do Outro. A isto se pode chamar de “monoculturalismo paneuropeu”, ou seja, a civilização pensada no singular.

Essa civilização é oferecida por essa “Paneuropa” como um valor universal, como um Evangelho (“boa notícia”, em grego) ao resto do mundo desde o século 15. Todo e qualquer saber ou toda e qualquer religião que se queira universal tem a sua “boa notícia” a ser difundida a ferro e fogo às civilizações refratárias. Por isso, o fenômeno histórico do colonialismo, ao lado do extermínio físico e da violência predatória, fez-se sempre acompanhar da validação de uma forma única de conhecimento, em detrimento de quaisquer outras.

A respeito disso, o sociólogo português Boaventura Santos é taxativo:
“O genocídio que pontuou tantas vezes a expansão europeia foi também um epistemicídio: eliminaram-se povos estranhos porque tinham formas de conhecimento estranho e eliminaram-se formas de conhecimento estranhas porque eram sustentadas por práticas sociais e povos estranhos”.
Paneuropa não diz respeito, portanto, à dimensão geográfica do continente europeu, e sim a seu sistema-mundo cultural, um sistema de decisões universalista etnicamente orientado, desde o século 15, pela fantasia colonialista de uma unidade absoluta do sentido e refratário à admissão de outras etnias e outros saberes.

Consciência emburacada

O curioso é que esse sentimento civilizatório persiste apesar da conscientização global de que o Ocidente vem perdendo há muito tempo a sua centralidade simbólica e a sua hegemonia política. Atualmente, até mesmo o francês Alain Touraine, sociólogo festejado pela centro-direita política, admite que os europeus já não podem reivindicar, como no passado, o monopólio da ciência, da razão, da liberdade e da tolerância:
“A Europa foi tudo isso e seu contrário, em particular no espírito de conquista, de destruição e de construção de ideologias racistas”. Assim, “é preciso ser mesmo cego para não ver que a Europa, onde nasceu esse tipo de modernidade, perdeu terreno, anteriormente, para países como o Japão, e hoje perde para a China, onde se encontram os melhores exemplos de objetos e formas de vida modernas”.

Na realidade, nada disso é muito novo. O fenômeno é progressivo desde a segunda metade do século 20, quando as antigas colônias europeias se tornaram estados independentes, e quando começou a estiolar-se a evangelização que legitimava o controle imperial.
A humanitas paneuropeia hoje declina de fato. Tenta ressurgir intelectualmente aqui e ali, sob as capas de uma pretensa universalidade dos direitos humanos, ou então sob as modalidades violentas do fundamentalismo ou do racismo. Nos grotões nacionais, nos buracos profundos da consciência ressentida, a perda do poder simbólico é imaginariamente compensada pela violenta rejeição do Outro.

Esse sentimento de poder civilizatório está latente em cada cidadão das antigas potências coloniais. Foi ele que, de repente, acordou naquele “meu” francês, assim como no francês do outro, pouco importam as diferenças de classe ou de educação. Cultivada ou ignorante, a consciência emburacada teme a proximidade maciça do diferente, estrangeiro, do imigrante, do Outro, despertando ocasionalmente a besta adormecida do provincianismo cego. Foi assim com Pétain – aliás homenageado pelo socialista François Mitterrand –, é assim hoje. A crise econômica ajuda a acordar a besta. É só aguardar os resultados das próximas eleições francesas.

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06 de abril de 2012
[Muniz Sodré é jornalista, escritor e professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro]

INVESTIGAÇÃO DIZ QUE FUNCIONÁRIO DA PF DAVA INFORMAÇÕES A CACHOEIRA


 Portal Do G1, com informações do Jornal Nacional As investigações sobre a quadrilha do bicheiro Carlinhos Cachoeira, preso em fevereiro pela Polícia Federal (PF) sob a acusação de chefiar um esquema de jogos ilegais em Goiás, revelam que a organização criminosa tinha um funcionário da PF que atuava como espião. Ele comandava a liberação de veículos para os policiais e é apontado na investigação como um contato estratégico para Cachoeira dentro da PF em Brasília. A polícia informou que o funcionário foi afastado do cargo no dia que a operação foi deflagrada.

Segundo o inquérito da operação Monte Carlo, que resultou na prisão de Cachoeira, o “auxiliar administrativo e chefe da Divisão de Serviços Gerais”, Anderson Aguiar Drumond, “recebia informações antecipadas sobre datas e locais de operações policiais”. O setor dele é “responsável pelo fornecimento de viaturas e caminhões”.

Segundo a PF, o servidor “repassava informações privilegiadas a um integrante da quadrilha, Idalberto Matias de Araújo, o “Dadá”. A polícia diz que Anderson Aguiar Drumond vazou informações de pelo menos três operações para combate do jogo ilegal entre dezembro de 2010 e março de 2011. Em um diálogo, em dezembro de 2010, Dadá conta a Lenine, apontado como braço direito de Cachoeira, as informações que teriam sido vazadas por Anderson Drumond:

Dadá: É, o parceiro tá dizendo que os caras estão tudo pronto, já pediram esse reforço todo pra ir pra lá pra aquela região.
Lenine Araújo: Perfeito.
Dadá: Deve ser lá pra 6 horas, 7 horas.
Em fevereiro de 2011, Carlinhos Cachoeira autoriza Lenine a fazer o pagamento do informante.
Lenine: Tem aquele amigo… Pode passar alguma coisa pra ele? Aquele lá que passa as informações.
Cachoeira: É o dos carros, né?
Lenine: Exatamente
Carlinhos: Tá bom, passa lá.
Na contabilidade do grupo, aparece o nome “Ander” com o valor de R$ 3 mil, quatro dias depois da conversa. De acordo com as investigações, Anderson Aguiar Drumond recebia pagamentos mensais do grupo do bicheiro. Além de atuar como informante, ele também providenciava, segundo a PF, a liberação de passaportes para pessoas indicadas pela quadrilha.
06 de abril de 2012
Reinaldo Azevedo

SENADO VÊ COM CAUTELA ABERTURA DE CPI PARA INVESTIGAR CARLINHOS CACHOEIRA

Da Agência Brasil:

A CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Câmara dos Deputados para investigar os negócios do empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, e que já tem apoio parlamentar necessário para ser aberta, ainda é vista com cautela no Senado. A postura de senadores da base aliada e da oposição é aguardar a instalação dos trabalhos do Conselho de Ética, na terça-feira (10).

Caberá ao relator de um eventual processo de cassação do senador Demóstenes Torres (sem partido-GO), acusado de envolvimento em negócios ilícitos de Cachoeira, requerer à Procuradoria-Geral da República (PGR) e ao Supremo Tribunal Federal (STF), para análise, todo o inquérito da Polícia Federal, inclusive os anexos. Parlamentares ouvidos pela Agência Brasil disseram que só a partir da análise desse material é que se terá condição de decidir se cabe ou não a instalação de uma comissão parlamentar de inquérito.

No início da semana, os senadores Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) e Pedro Taques (PDT-MT) conversaram sobre a possibilidade de iniciar logo a coleta das 27 assinaturas necessárias para a abertura de uma CPI no Senado. Taques ponderou, no entanto, que seria necessário aguardar o recebimento de todo o processo para ter uma noção exata da dimensão do esquema montado por Carlos Cachoeira e o envolvimento exato de parlamentares. Diante dessa colocação, Randolfe Rodrigues preferiu esperar o início dos trabalhos do Conselho de Ética e o recebimento da documentação.

“Para que possamos falar de CPI, temos que esperar pelos autos do processo que está no Supremo [Tribunal Federal], mesmo porque esse é um esquema pluripartidário, envolve vários partidos. Tudo vai depender do que estiver nesses autos”, disse Pedro Taques. Segundo ele, qualquer pedido de abertura de uma CPI terá que ter um objeto de investigação bem definido para que não seja barrado pela Secretaria Geral da Mesa Diretora do Senado.

Pedro Taques ressaltou que, no caso de abertura de uma comissão de inquérito, ela não terá como foco apenas as relações de Demóstenes Torres com o empresário. Ao contrário, o objetivo seria uma investigação mais ampla de todo o esquema montado por Carlos Cachoeira envolvendo empresas e parlamentares de vários partidos.

Randolfe Rodrigues disse que uma eventual CPI “será maior do que a simples investigação da contravenção e da jogatina” que teria sido montada por Carlos Cachoeira em Goiás e no Distrito Federal. O senador do PSOL lembrou que ele e Pedro Taques já encaminharam um pedido à Procuradoria Geral da República para que enviasse ao Senado o processo da PF que hoje está no Supremo Tribunal Federal, o que não foi feito até o momento. Já um pedido do Conselho de Ética, acrescentou, tanto o Supremo quanto a Procuradoria teriam que acatar.

O líder do PT, senador Walter Pinheiro (BA), concorda com essas ponderações. Segundo ele, havendo consistência no material que será encaminhado ao conselho, ele não vê motivos para que o Senado não abra uma comissão parlamentar de inquérito para investigar os negócios de Carlos Cachoeira e os envolvidos. “Aberta uma CPI, ela não pode ficar restrita ao Demóstenes [Torres]. É muito pouco. Temos que analisar todo o esquema montado e a participação dos outros”, ressaltou o petista.
Feita a análise de toda a documentação, e se houver fatos consistentes que justifiquem a abertura da comissão de inquérito, pelo Senado, o líder do PT destacou que a investigação tem que ser “rigorosa”. A seu ver, qualquer decisão neste sentido só poderá ser tomada a partir do dia 17 de abril, uma vez que, instalados os trabalhos do Conselho de Ética e requerida a documentação que está no STF, o mais provável é que o processo chegue para os senadores a partir da próxima quinta-feira (12).

Já o líder do PSDB, senador Álvaro Dias (PR), culpa o Executivo de ingerência para que não haja qualquer abertura de CPI pela Câmara ou pelo Senado. Ele também acusa a Polícia Federal e a Procuradoria de realizarem um “vazamento seletivo” das informações contidas no processo. “Houve uma orientação política nesses vazamentos, explícita para esconder outros nomes”.

Álvaro Dias disse ainda que não há qualquer possibilidade da oposição deixar de apoiar uma eventual abertura de CPI para investigar os negócios e as pessoas envolvidas no esquema comandado por Carlos Augusto Ramos. Entretanto, ele ressaltou que qualquer apoio da oposição dependerá, também, dos partidos da base aliada apoiarem uma CPI para investigar denúncias de desvios de dinheiro público praticadas em várias áreas do governo, principalmente na área da saúde. “Seria uma CPI da Corrupção”.

06 de abril de 2012
Reinaldo Azevedo

O SISTEMA SE DIVERTE


RIO DE JANEIRO - Há dias, em São Paulo, um grupo de "artistas" despejou 200 litros de tinta no cruzamento da avenida São João com a rua Helvétia, no centro. Ao passar sobre as poças, os carros espalhavam a tinta e deixavam rastros verdes, vermelhos, amarelos e azuis. Os que vinham atrás eram respingados e também saíam imundos. A sinalização do asfalto desapareceu, o caos se instaurou e ninguém achou graça naquilo.

Semanas antes, revelou-se que as pichações com letras de sete metros de altura que têm aparecido em paredes, viadutos e túneis da cidade estão sendo feitas com extintores de incêndio cheios de tinta, não mais com os já ingênuos sprays. Ao aplicar os grandes jatos, as letras escorrem como nos cartazes de filmes de terror. Os pichadores alegam se inspirar em "artistas" de Nova York, Londres e Paris.

O objetivo é "protestar contra o sistema". No primeiro caso, disse um dos lambões, ele está "manifestando seu descontentamento" pelo fato de São Paulo ser uma cidade "cinza e fechada e as pessoas não conversarem entre si". Olha só. No segundo, o protesto não fica claro, porque os garranchos dos extintores não fazem sentido. Mas a ideia é "incomodar o sistema", segundo um manifestante -e, se o sistema não se incomodar, eles "não vão mais fazer".

Não sei o que o sistema pensa desses protestos (os donos dos lava-rápidos adoraram, porque tiveram muito mais carros para lavar), mas não conheço ninguém do "povo" -a pior vítima do sistema- a favor dessa agressão a prédios e ruas. Por ironia, quem admira os vândalos e os chama de "artistas" é justamente o sistema, do qual os críticos de arte, historiadores, curadores de museus e galeristas fazem parte.

Só espero que, com tanto estímulo oficial ao protesto, os meninos não resolvam radicalizar implodindo o MASP
 
06 de abril de 2012
Ruy Castro

CONVERSAS COM ADÉLIA PRADO

RECUERDOS DE LA ALHAMBRA

MENSALÃO: O PODER A SERVIÇO DO CRIME

Como se tramou o "mensalão" e quem participou e organizou o esquema de compra de votos.


http://veja.abril.com.br/o-julgamento-do-mensalao/a-quadrilha/


VEJA.com revisa as questões centrais do maior escândalo de corrupção do país, cujos personagens devem ser julgados este ano pelo STF
Passaram-se seis anos desde que a Procuradoria-Geral da República apontou o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu como o chefe da quadrilha do mensalão. Seu operador, o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, tentou reduzir o maior escândalo de corrupção da história do país à prática de caixa 2 - saiu-se com o eufemismo "recursos não contabilizados". Mas nada na denúncia aceita pelo Supremo Tribunal Federal autoriza esta versão. É o que mostra infográfico de VEJA.com sobre o funcionamento do esquema e o papel de cada integrante da quadrilha, agora prestes a ser julgada pelo STF.
Sete anos de escândalo
Para entender o mensalão
Série de ferramentas e infográficos de VEJA.com recapitula questões centrais do mensalão, o maior escândalo político da história do país. 'A hora da sentença', que abriu a série, revisa o desenrolar do caso no Supremo. Outros destrincharão a denúncia, o papel de cada mensaleiro na quadrilha, os saques do valerioduto, as provas apontadas pela Procuradoria-Geral da República, a defesa dos réus e o esquema do julgamento.
Resumidamente, o mensalão consistiu em esquema bastante fácil de entender: consistia em desviar recursos para a compra de apoio político e o pagamento de dívidas partidárias. Segundo o Ministério Público, a quadrilha liderada por Dirceu, à época homem-forte de Lula, operou ininterruptamente entre janeiro de 2003 e junho de 2005. Era organizada em três núcleos: o político, de Dirceu e dirigentes petistas de sua confiança; o operacional, de Marcos Valério e sócios; e o financeiro, composto pela cúpula do Banco Rural.
Funcionava assim: o núcleo político fazia os acertos com parlamentares - em troca de apoio aos projetos do governo; o núcleo operacional oferecia a estrutura empresarial necessária para desviar, lavar e redistribuir os recursos - em troca de contratos vantajosos com o poder público; e o núcleo financeiro cuidava para que os pagamentos fossem feitos em segurança, longe da vista dos órgãos de controle - em troca de benefícios concedidos pelo Planalto; com o dinheiro em caixa, os parlamentares corrompidos apoiavam os projetos do governo.
06 de abril de 2012

ONU: "DIREITOS SEXUAIS" PARA CRIANÇAS DE 10 ANOS


Artigos - Globalismo     
   
ONU acelera a marcha rumo à plena legalização da pedofilia.

A Comissão sobre População e Desenvolvimento está considerando “direitos de saúde sexual e reprodutiva” para crianças de dez anos.

Até mesmo o secretário-geral Ban Ki-Moon concorda. Numa declaração recentemente dada ele disse: “Os jovens, tanto quanto todas as pessoas, têm o mesmo direito humano à saúde, inclusive saúde sexual e reprodutiva”.

Atualmente, o direito internacional não reconhece um “direito” à saúde sexual e reprodutiva e certamente não reconhece esse direito no caso de menores de idade. Mas no ano passado, Anand Grover, Inspetor Especial da ONU para Saúde, provocou polêmica significativa quando não só afirmou que existe um “direito” de saúde sexual e reprodutiva, mas tentou definir esse direito como incluindo acesso ao aborto, à contracepção e à educação sexual.

A associação desse direito com jovens, principalmente crianças, feita pelo secretário-geral e pela Comissão sobre População e Desenvolvimento (CPD) é mais polêmica considerando que se pôde definir o direito como incluindo acesso ao aborto e à contracepção.
Organizações como a Planned Parenthood (Federação Internacional de Planejamento Familiar, conhecida pela sigla em inglês IPPF) e IPAS, defensoras ferrenhas dos direitos sexuais e reprodutivos de menores de idade internacionalmente e na ONU, já anunciaram relatórios oficiais à secretaria da conferência apoiando a linguagem de direitos que inclui contracepção e aborto. Eles estão também usando a conferência como uma oportunidade para atacar o envolvimento dos pais na saúde sexual de seus filhos.

Para organizações como a Planned Parenthood, os pais são os maiores obstáculos para que crianças menores de idade tenham acesso a serviços como aborto e contracepção, e eles esperam garantir a linguagem na conferência que marginalizará o papel dos pais.

Em sua declaração oficial, a IPPF declara: “As leis que restringem o acesso dos jovens aos serviços de saúde sexual e reprodutiva, inclusive leis de consentimento dos pais ou do marido”, têm de ser removidas ou impedidas de serem aplicadas. A IPAS vai muito mais longe, argumentando que os jovens têm de ser considerados participantes independentes, livres de quaisquer obstáculos que ignorem sua própria “capacidade de fazer decisões informadas”. A principal meta deles nesta conferência será marginalizar o envolvimento dos pais e incentivar países que apóiam sua posição a aumentar a pressão para o tipo de linguagem que o secretário-geral já vem propondo.

Considerando que o documento a ser negociado na conferência exorta “os governos… a dar atenção total a atender às necessidades de educação, serviços e saúde reprodutiva dos jovens com total respeito pela privacidade e confidencialidade deles”, parece que os esforços deles podem já estar tendo um grande avanço inicial.

Os membros da Comissão começaram a negociar o documento agora e a sessão final de negociação ocorrerá em abril. A certeza é que estará entre as mais polêmicas, em anos.

Timothy Herrmann
06 de abril de 2012
Publicado no “Friday Fax” do C-FAM.

Tradução: Julio Severo

ADIANTE, PARA TRÁS!

Artigos - Governo do PT        

Nos anos 50 e 60 do século passado, era forte a influência dos "estruturalistas" da Cepal, que ditavam aberrações semelhantes à que o governo brasileiro agora anuncia.

O governo brasileiro anuncia uma nova política industrial, com a reformulação nas linhas de financiamento para investimento e capital de giro do Banco Nacional de Desenvolvimento, Econômico e Social (BNDES), a ampliação dos setores favorecidos (isto é, o aumento no número dos "amigos do rei"), redução das taxas de juros e maiores prazos para pagamento.
A previsão de mais essa agressão aos pagadores de tributos — mascarada de "inventivos à competitividade" — é de um aumento de gastos de cerca de R$ 18 bilhões.

Leia comigo parte da matéria publicada pelo O Estado de São Paulo no dia 1º de abril (infelizmente, não é uma brincadeira com a data):

Haverá mudanças nas regras de atuação dos fundos de desenvolvimento regional para alavancar investimentos em infraestrutura. Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal poderão atuar neste mercado, oferecendo empréstimos com recursos do Fundo de Desenvolvimento do Nordeste e do Fundo de Desenvolvimento da Amazônia.
O risco das aplicações deve ser transferido do Tesouro para os bancos. As medidas, preparadas pelo ministro da Fazenda Guido Mantega, serão anunciadas amanhã pela presidente Dilma Rousseff no Palácio do Planalto. O Estado apurou que as principais alterações no BNDES serão no Revitaliza e nas linhas do Programa de Sustentação do Investimento (PSI).
Estes programas foram criados no governo Lula para ajudar setores que enfrentavam forte concorrência de produtos importados, mas que são grandes geradores de emprego.

PSI. O governo ampliará em R$ 18 bilhões o limite de financiamento das linhas do PSI, com subvenção do Tesouro Nacional. Subirá para R$ 227 bilhões o volume de empréstimo do banco com taxas de juros subsidiadas. Esta será a quarta mudança no PSI desde o seu lançamento em julho de 2009 para enfrentar a crise internacional.
As novas condições de financiamento vão valer até dezembro de 2013. Será criada, dentro do PSI, uma linha para financiar projetos estratégicos com o objetivo de reduzir o custo de obra. A nova linha terá aporte de R$ 8 bilhões com taxas de juros de 5% ao ano. Os projetos terão que ser aprovados por uma comissão interministerial.

Os juros ficarão um ponto porcentual menor na linha do PSI destinada a financiar a aquisição de máquinas e equipamentos. Para micro, pequenas e médias empresas (MPME), o custo do empréstimo cai de 6,5% para 5,5%. Para as grandes empresas, de 8,7% para 7,7% ao ano. O BNDES ampliará o limite a ser financiado. Até 100% para as empresas de menor porte e de até 90% do investimento para as grandes.
A linha para as MPME passa de R$ 3 bilhões para R$ 13 bilhões. A linha para financiar a aquisição de ônibus e caminhões o juro cortado de 10% para 7,7% ao ano. O prazo será ampliado de 96 para 120 meses.

O financiamento, então, será de até 100% para as MPMEs e 90% para as grandes. Para os exportadores, as taxas de juros serão de 9% para as grandes empresas e de 7% para as demais. O limite do investimento a ser financiado sobe de 90% para 100% e o prazo de pagamento será ampliado de 24 para 36 meses. Esta linha ganhará um reforço de R$ 1 bilhão. Haverá uma queda nos juros de 5% para 4% no financiamento para capital inovador. No Procaminhoneiro, para autônomos, o prazo passa de 36 para 48 meses.

Passa de R$ 100 milhões para R$ 150 milhões o volume de recursos que podem ser liberados por grupo econômico. O Revitaliza tem linhas para capital de giro, investimento e a exportação.
Uma fonte do governo informou que serão anunciadas mudanças nas linhas para exportadores por meio do Adiantamento sobre Contrato de Câmbio (ACC) para ampliar as empresas com acesso aos recursos. O Banco do Brasil é o líder no mercado.

Parece o enredo de um filme de terror, mas não é. Parece uma piada de mau gosto, mas não é. Parece um retrocesso de 50/60 anos no tempo. E é! Notemos que, de acordo com o noticiário, o governo já havia liberado para a indústria nos últimos seis anos algo em torno de R$ 97,5 bilhões e, mesmo com todas essas "bondades" para os empresários amigos (leia-se "maldades" contra os consumidores e pagadores de tributos) o crescimento industrial não chega a pífios 3% ao ano.

Nos anos 50 e 60 do século passado, era forte a influência dos "estruturalistas" da Cepal, que ditavam aberrações semelhantes à que o governo brasileiro agora anuncia. É incrível como mercantilismo está de volta, com todos os seus malditos ingredientes: protecionismo, intervencionismo, dirigismo, nacionalismo, inflacionismo e outros "ismos", todos denotativos de uma absoluta ignorância do funcionamento do processo de mercado e, mais amplamente, das causas que levam as economias a crescerem de forma autossustentada.

É inacreditável que os economistas do governo ainda falem em "projetos estratégicos"! Estratégicos para quem? Podem ser para suas cabeças iluminadas, para os empresários contemplados com as benesses e para lobistas e políticos a seu serviço, mas, certamente, não têm nada de estratégico no que diz respeito aos verdadeiros empreendedores, aos pagadores de impostos (eu me recuso a usar a expressão "contribuintes") e aos consumidores.

Na verdade, os verdadeiros empreendedores no conceito da Escola Austríaca serão prejudicados de saída, porque não foram escolhidos para serem favorecidos, os tributos mais cedo ou mais tarde poderão aumentar para financiar a festa e os consumidores serão obrigados a pagar mais caro por bens e serviços de qualidade inferior, pois esta é uma das consequências líquidas e certas das políticas protecionistas. Isto para não falarmos dos incentivos à corrupção que medidas desse tipo sempre acarretam.

Essas novas medidas do governo brasileiro, então, prejudicam enormemente o verdadeiro empreendedorismo e, onde quer que não exista empreendedorismo e onde quer que o arcabouço institucional prejudique a função empresarial, não existe lugar para o progresso. Mas, por incrível que pareça, nem todos pensam assim, a começar pelos economistas do governo. Prevalece uma aversão ao empreendedor, provocada por uma mistura de influências históricas, culturais e midiáticas que forjaram durante muitos anos uma mentalidade antiempresarial muito forte e não temos dúvidas de que esse é um dos fatores que prejudicam o desenvolvimento da economia desses países. Nessas sociedades, pode-se detectar uma verdadeira aversão à atividade empresarial.

E, além disso, uma ignorância absoluta dos fatores que motivam os empreendedores a investirem. A presidente do Brasil, por exemplo, só para citarmos uma pessoa importante e que diz possuir um mestrado em Economia na Unicamp, há poucos dias fez questão de demonstrar essa minha afirmativa, quando "conclamou" os empresários brasileiros a... investirem! Se isto fosse dito há 50/60 anos, ainda valeria a pena comentar, mas hoje, em 2012, sinceramente, eu me recuso a fazê-lo...

Qualquer pessoa pode ser um empresário, mas apenas algumas pessoas podem ser empreendedores, porque os atributos de vontade, perspicácia, inventividade e capacidade decisória sob condições de incerteza e de assumir riscos são virtudes que a maioria dos seres humanos não possui. Fulano, por exemplo, pode ser muito inventivo, mas detestar correr riscos; ou Beltrano ter muita vontade, mas não possuir capacidade decisória.
Abrir uma empresa e mantê-la sempre voltada para atender aos interesses dos consumidores é o que garante e justifica moralmente o lucro, porque se trata de uma verdadeira aventura e, em muitos países em que o Estado parece fazer de tudo para interpor obstáculos entre os que produzem e os que consomem, é mesmo um ato de heroísmo.

O empreendedor, ao exercer sua função empresarial, deverá naturalmente ser obrigado a enfrentar os competidores que já estão estabelecidos, a dar respostas positivas para as inovações que surgirem e a lutar contra interesses já estabelecidos e que se sentirão ameaçados, o que os levará, já que sua vontade é de que tudo permaneça da maneira como está, a reagir, muitas vezes utilizando recursos não recomendados pela ética, como o de valer-se de proteções de grupos políticos que ocupam o poder.
Além disso, precisa fazer com que os trabalhadores que dependem de sua iniciativa se sintam estimulados.
Definitivamente — e contrariamente ao que a maioria das pessoas pensa — qualquer obstáculo à livre iniciativa e ao empreendedorismo é, também, em empecilho ao progresso e ao desenvolvimento da economia e da sociedade.

A função empresarial e o empreendedorismo são plenamente exercidos quando o governo é limitado, quando existe respeito aos direitos de propriedade, quando as leis são boas e estáveis e quando prevalece a economia de mercado. Por isso, uma ordem social que estimule as virtudes do empreendedorismo deve estimular o florescimento desses quatro atributos.
O novo pacote do governo, nesse sentido, é um verdadeiro desastre. Um desastre de R$ 18 bilhões, que vai ser colocado nas nossas contas! Acordai, consumidor brasileiro!

06 de abril de 2012
Escrito por Ubiratan Iorio

O SANTO SUDÁRIO E O SAGRADO PREPÚCIO


Matéria fria, no jargão jornalístico, não é sinônimo de matéria desimportante. É apenas aquela que não está vinculada a um acontecimento e pode ser publicada a qualquer momento do ano. Matéria quente, ao contrário, é aquela que deve ser publicada já. Assim, a morte de um Fidel ou Ratzinger, por exemplo, constituíriam matérias quentes. Não por acaso, o necrológio destes senhores está pronto em todos os jornais, só falta colocar dia e hora do passamento. A Veja desta semana oferece ao leitor, em matéria de capa, uma matéria geladérrima, o Santo Sudário. Verdade que anuncia um livro, O Sinal, de Thomas de Wesselow, historiador de arte inglês, que deve ser lançado no Brasil, na próxima semana, pela Cia. de Letras. Mesmo assim, continua sendo matéria fria. Particularmente em semana de tantos e suculentos escândalos no Planalto.

O Santo Sudário, visto como uma prova da ressurreição do Cristo, é aquela peça de linho que mostra a imagem de um homem nu, que aparentemente sofreu traumatismos físicos de maneira consistente com a crucificação. Segundo a lenda, a primeira menção não-evangélica a ele data de 544, quando um pedaço de tecido mostrando uma face que se acreditou ser a de Jesus foi encontrado escondido sob uma ponte em Edessa. De lá para cá, após muitas idas e vindas, o linho acabou caindo na Catedral de Turim, onde está guardado desde o século XIV.

Por que seria o linho que envolveu o cadáver do Cristo? Porque a imagem do negativo fotográfico do manto, vista pela primeira vez em maio de 1898, através da chapa inversa feita por um fotógrafo amador, seria semelhante ao rosto do Cristo. E aqui já vai a primeira prova – e prova cabal – de que se trata de uma farsa. Pois não existe momento algum nos Evangelhos que descreva o rosto ou corpo de Jesus. A imagem física do Cristo foi forjada, através dos séculos, pela iconografia católica.

O próprio Vaticano não o reconhece como autêntico. Mas os papas sabem que o dito manto sagrado atrai devotos e o toleram como se autêntico fosse. Em 1988, a peça foi submetida a exames com o carbono 14, que situou o tecido como sendo da época entre 1260 e 1390. O desejo de crer dos crentes, no entanto, contesta a eficácia de tais exames.

O historiador inglês pretende ressuscitar a fama do sudário, hoje abalada pelas pesquisas. Segundo Wesselow, a relíquia não pode ser dissociada da cena bíblica narrada por São João Evangelista. Segundo a revista, na condição de mistério, aquele lençol foi no decorrer dos milênios a fagulha que ajudou a incendiar a propagação da fé cristã. O culto do Santo Sudário ajudou o cristianismo a superar sua condição de seita minoritária confinada aos rincões do Império Romano para se transformar na maior religião do planeta.

Diz Wesselow: “Já para os apóstolos o sudário foi tomado como a prova da Ressurreição de Cristo, e disso deriva sua extraordinária força de convencimento”. Ou seja, um pedaço de pano encontrado em tempos perdidos da História comprovaria a ousada bravata de Paulo: “Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão?” Para Paulo, se Cristo não ressuscitou, “nossa pregação e nossa fé são em vão”.

Portanto, o sudário é autêntico. Tem de ser autêntico, ou o cristianismo é uma solene mentira. Curiosamente, há três anos, Veja era mais cética. Em reportagem sobre o sudário, publicada em 05 de outubro de 2009, a revista anunciava:

“Cientistas italianos afirmaram nesta segunda-feira ter reproduzido o Santo Sudário. Segundo Luigi Garlaschelli, professor de Química Orgânica da Universidade de Pavia e responsável pela recriação do manto que teria envolvido o corpo de Jesus Cristo, o feito pode ser considerado uma prova de que o Sudário é uma farsa”.

Pretendem os teólogos que os exames de carbono 14 são imprecisos. Que sejam. Está ao alcance de qualquer leitor comprovar esta farsa. Besunte um linho qualquer com algum óleo ou graxa e coloque-o sobre seu rosto. Você verá que jamais chegará a obter aquele desenho harmonioso de um rosto que vemos no sudário. Enfim, há a tese – pelo menos mais lógica – de que o desenho final seja derivado de um milagre. Pode ser... desde que você acredite em milagres.

Matéria fria por matéria fria, prefiro uma outra discussão, que percorreu toda a Idade Média, a crucial questão de saber se o prepúcio de Cristo ficou na terra. Por diversas vezes ao longo da história, houve várias igrejas ou catedrais a reclamar a sua posse, algumas ao mesmo tempo. Há inclusive vários milagres atribuídos a esta relíquia. O menino era um só, mas aparentemente tinha vários prepúcios.

Segundo a Bíblia, só três personagens bíblicos subiram aos céus. Elias, no Antigo Testamento, e Cristo e Maria no Novo. A ascensão de Elias, em um carro de fogo, não gerou dogma. Dogmas foram a Assunção de Maria, curiosamente só oficializado em 1950, pelo papa Pio XII. A virgem, toda gloriosa, sobe aos céus, e a Igreja só reconhece o fato dois mil anos depois. Um outro dogma mais complicado é a Ascensão de Cristo, que "ressuscitou dentre os mortos e subiu ao céu em Corpo e Alma." Os teólogos, especialistas em filigranas, tiveram de discutir um grave problema. Cristo era judeu. Como todo judeu, havia sido circuncidado. Ao subir aos céus, teria deixado o prepúcio na terra?

Corria o ano da graça de 1351. Uma grave discussão tomou conta das mentes da época, o prepúcio de Cristo. A discussão de fundo, em verdade, era outra. Em Barcelona, um guardião franciscano levantou a tese, em um sermão público, que o sangue versado pelo Cristo durante a Paixão havia perdido toda divindade, havia se separado do Verbo e ficado na terra. A proposição era nova e de difícil demonstração.

Nicolas Roselli, inquisidor de Aragon, aproveitou a vaza para atacar os franciscanos, que detestava, e a transmitiu a Roma. O cardeal de Sainte-Sabine, sob as ordens de Clemente VI, escreveu que o papa havia recebido com horror esta odiosa asserção. Sua Santidade, tendo reunido uma assembléia de teólogos, combateu em pessoa esta doutrina e conseguiu que fosse condenada. Os inquisidores receberam em todos os lugares a ordem de abrir os procedimentos contra aqueles que tivessem a audácia de sustentar esta heresia. O triunfo de Roselli foi completo. O infeliz franciscano barceloneta teve de negar sua tese, do alto da mesma cátedra em que a havia proferido.

Restou o problema do prepúcio. Segundo os franciscanos, o sangue do Cristo podia ter ficado na terra, pois o prepúcio extirpado durante a circuncisão havia sido conservado na igreja de Latrão e era venerado como uma relíquia sob os olhos do próprio papa e do cardeal. Um século transcorreu quando, em 1448, o franciscano Jean Bretonelle, professor de teologia da Universidade de Paris, submeteu a affaire à faculdade. Uma comissão de teólogos foi nomeada. Após sérios debates, tomou uma decisão solene, declarando não ser contrário à fé crer que o sangue vertido durante a Paixão tivesse ficado na terra. Por analogia, o prepúcio também. Ou seja, se Cristo foi aos céus, o Sagrado Prepúcio ficou entre nós.

De inhapa, estava resolvida também a questão do prepúcio. Que não tenha subido aos céus, me parece fora de qualquer dúvida. Já o sudário é uma questão de fé.
Matéria fria, no jargão jornalístico, não é sinônimo de matéria desimportante. É apenas aquela que não está vinculada a um acontecimento e pode ser publicada a qualquer momento do ano. Matéria quente, ao contrário, é aquela que deve ser publicada já. Assim, a morte de um Fidel ou Ratzinger, por exemplo, constituíriam matérias quentes. Não por acaso, o necrológio destes senhores está pronto em todos os jornais, só falta colocar dia e hora do passamento. A Veja desta semana oferece ao leitor, em matéria de capa, uma matéria geladérrima, o Santo Sudário. Verdade que anuncia um livro, O Sinal, de Thomas de Wesselow, historiador de arte inglês, que deve ser lançado no Brasil, na próxima semana, pela Cia. de Letras. Mesmo assim, continua sendo matéria fria. Particularmente em semana de tantos e suculentos escândalos no Planalto.

O Santo Sudário, visto como uma prova da ressurreição do Cristo, é aquela peça de linho que mostra a imagem de um homem nu, que aparentemente sofreu traumatismos físicos de maneira consistente com a crucificação. Segundo a lenda, a primeira menção não-evangélica a ele data de 544, quando um pedaço de tecido mostrando uma face que se acreditou ser a de Jesus foi encontrado escondido sob uma ponte em Edessa. De lá para cá, após muitas idas e vindas, o linho acabou caindo na Catedral de Turim, onde está guardado desde o século XIV.

Por que seria o linho que envolveu o cadáver do Cristo? Porque a imagem do negativo fotográfico do manto, vista pela primeira vez em maio de 1898, através da chapa inversa feita por um fotógrafo amador, seria semelhante ao rosto do Cristo. E aqui já vai a primeira prova – e prova cabal – de que se trata de uma farsa. Pois não existe momento algum nos Evangelhos que descreva o rosto ou corpo de Jesus. A imagem física do Cristo foi forjada, através dos séculos, pela iconografia católica.

O próprio Vaticano não o reconhece como autêntico. Mas os papas sabem que o dito manto sagrado atrai devotos e o toleram como se autêntico fosse. Em 1988, a peça foi submetida a exames com o carbono 14, que situou o tecido como sendo da época entre 1260 e 1390. O desejo de crer dos crentes, no entanto, contesta a eficácia de tais exames.

O historiador inglês pretende ressuscitar a fama do sudário, hoje abalada pelas pesquisas. Segundo Wesselow, a relíquia não pode ser dissociada da cena bíblica narrada por São João Evangelista. Segundo a revista, na condição de mistério, aquele lençol foi no decorrer dos milênios a fagulha que ajudou a incendiar a propagação da fé cristã. O culto do Santo Sudário ajudou o cristianismo a superar sua condição de seita minoritária confinada aos rincões do Império Romano para se transformar na maior religião do planeta.

Diz Wesselow: “Já para os apóstolos o sudário foi tomado como a prova da Ressurreição de Cristo, e disso deriva sua extraordinária força de convencimento”. Ou seja, um pedaço de pano encontrado em tempos perdidos da História comprovaria a ousada bravata de Paulo: “Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão?” Para Paulo, se Cristo não ressuscitou, “nossa pregação e nossa fé são em vão”.

Portanto, o sudário é autêntico. Tem de ser autêntico, ou o cristianismo é uma solene mentira. Curiosamente, há três anos, Veja era mais cética. Em reportagem sobre o sudário, publicada em 05 de outubro de 2009, a revista anunciava:

“Cientistas italianos afirmaram nesta segunda-feira ter reproduzido o Santo Sudário. Segundo Luigi Garlaschelli, professor de Química Orgânica da Universidade de Pavia e responsável pela recriação do manto que teria envolvido o corpo de Jesus Cristo, o feito pode ser considerado uma prova de que o Sudário é uma farsa”.

Pretendem os teólogos que os exames de carbono 14 são imprecisos. Que sejam. Está ao alcance de qualquer leitor comprovar esta farsa. Besunte um linho qualquer com algum óleo ou graxa e coloque-o sobre seu rosto. Você verá que jamais chegará a obter aquele desenho harmonioso de um rosto que vemos no sudário. Enfim, há a tese – pelo menos mais lógica – de que o desenho final seja derivado de um milagre. Pode ser... desde que você acredite em milagres.

Matéria fria por matéria fria, prefiro uma outra discussão, que percorreu toda a Idade Média, a crucial questão de saber se o prepúcio de Cristo ficou na terra. Por diversas vezes ao longo da história, houve várias igrejas ou catedrais a reclamar a sua posse, algumas ao mesmo tempo. Há inclusive vários milagres atribuídos a esta relíquia. O menino era um só, mas aparentemente tinha vários prepúcios.

Segundo a Bíblia, só três personagens bíblicos subiram aos céus. Elias, no Antigo Testamento, e Cristo e Maria no Novo. A ascensão de Elias, em um carro de fogo, não gerou dogma. Dogmas foram a Assunção de Maria, curiosamente só oficializado em 1950, pelo papa Pio XII. A virgem, toda gloriosa, sobe aos céus, e a Igreja só reconhece o fato dois mil anos depois. Um outro dogma mais complicado é a Ascensão de Cristo, que "ressuscitou dentre os mortos e subiu ao céu em Corpo e Alma." Os teólogos, especialistas em filigranas, tiveram de discutir um grave problema. Cristo era judeu. Como todo judeu, havia sido circuncidado. Ao subir aos céus, teria deixado o prepúcio na terra?

Corria o ano da graça de 1351. Uma grave discussão tomou conta das mentes da época, o prepúcio de Cristo. A discussão de fundo, em verdade, era outra. Em Barcelona, um guardião franciscano levantou a tese, em um sermão público, que o sangue versado pelo Cristo durante a Paixão havia perdido toda divindade, havia se separado do Verbo e ficado na terra. A proposição era nova e de difícil demonstração.

Nicolas Roselli, inquisidor de Aragon, aproveitou a vaza para atacar os franciscanos, que detestava, e a transmitiu a Roma. O cardeal de Sainte-Sabine, sob as ordens de Clemente VI, escreveu que o papa havia recebido com horror esta odiosa asserção. Sua Santidade, tendo reunido uma assembléia de teólogos, combateu em pessoa esta doutrina e conseguiu que fosse condenada. Os inquisidores receberam em todos os lugares a ordem de abrir os procedimentos contra aqueles que tivessem a audácia de sustentar esta heresia. O triunfo de Roselli foi completo. O infeliz franciscano barceloneta teve de negar sua tese, do alto da mesma cátedra em que a havia proferido.

Restou o problema do prepúcio. Segundo os franciscanos, o sangue do Cristo podia ter ficado na terra, pois o prepúcio extirpado durante a circuncisão havia sido conservado na igreja de Latrão e era venerado como uma relíquia sob os olhos do próprio papa e do cardeal. Um século transcorreu quando, em 1448, o franciscano Jean Bretonelle, professor de teologia da Universidade de Paris, submeteu a affaire à faculdade. Uma comissão de teólogos foi nomeada. Após sérios debates, tomou uma decisão solene, declarando não ser contrário à fé crer que o sangue vertido durante a Paixão tivesse ficado na terra. Por analogia, o prepúcio também. Ou seja, se Cristo foi aos céus, o Sagrado Prepúcio ficou entre nós.

De inhapa, estava resolvida também a questão do prepúcio. Que não tenha subido aos céus, me parece fora de qualquer dúvida. Já o sudário é uma questão de fé.
06 de abril de 2012
janer cristaldo

TOLERÂNCIA ZERO DE ÁLCOOL E AUMENTO DE MULTA DE TRÂNSITO PODEM GERAR INJUSTIÇAS

Ninguém tem dúvida de que boa parte dos mais graves acidentes, em rodovias e vias urbanas, no contexto da guerra e da barbárie do trânsito brasileiro, envolvem motoristas alcoolizados e/ou drogados. É ponto pacífico também que boa parte de nossos motoristas são imprudentes, agressivos, estressados e deseducados. Portanto, fiscalização e repressão permanentes em vias públicas são por demais necessárias.

Há, sem dúvida, uma verdadeira luta de poder por espaços cada vez mais inexistentes e saturados por parte de muitos motoristas, que vivem se digladiam, descumprindo normas de trânsito e se consideram autênticos ‘donos de rua’, alguns dirigindo perigosamente sob o efeito do álcool e/ou de substâncias entorpecentes.

Assim é que as recentes propostas de alteração do Código de Trânsito, a serem votadas na Câmara Federal na próxima quarta-feira, de ‘tolerância zero’ de álcool ao volante e do aumento do dobro do valor de multa por dirigir alcoolizado (passaria a R$ 1915,54), precisam ser objeto de muita reflexão.

Há que se entender primeiramente que uma determinação proibitiva de total de ingestão de álcool para motoristas, pode ser causa de injustiças para quem está dirigindo e não consumiu bebida alcoólica. É fato real que o álcool está também presente em antissépticos bucais, em alguns medicamentos indicados por receita ou não ou mesmo num bombom recheado com licor.
Até onde estaríamos, através de uma lei de trânsito, interferindo na vida privada, no tratamento da saúde, na higiene bucal e no prazer por alguma guloseima?

Há que se refletir sobre isso para que não se cometa injustiças irreparáveis. Uma lei de trânsito deve ter limites de rigidez e não pode ser arbitrária. Suspender o direito de dirigir pelo prazo de um ano de um motorista, submetê-lo a curso obrigatório de reciclagem e fazê-lo desembolsar uma alta soma no pagamento de uma multa, pelo simples fato de que fez uso de um antisséptico bucal, por ter consumido um bombom ou pela ingestão de um medicamento necessário à manutenção de sua saúde, parece-me extremament injusto.

E se o condutor, punido por tais motivos, for um motorista de táxi ou de um coletivo? Ficaria proibido por um ano do exercício de sua profissão? Não estaríamos causando, injustamente, para si e para seus familiares, que dele dependem para sobreviver, um enorme prejuízo, tratando-se de um profissional dovolante?

Conclui-se, portanto, a meu ver, pela inviabilidade da proposta de‘tolerância zero’ e pela necessária manutenção do limite de tolerância de 2 decigramas se álcool por litro de sangue, conforme previsto atualmente pelo Decreto Federal 6488/08, como medida de puro bom senso.

Salta aos olhos também a notícia da proposta do aumento do valor das multas. Se levarmos em consideração que boa parte das infrações de trânsito são lavradas por agentes que representam o poder de polícia do Estado, sujeito a falhas próprias da natureza humana, as implicações no ato da aplicação da medida corretiva-punitiva seriam notórias.

Mais lúcido e consciente está sendo a proposta de que o crime de direção alcoolizada possa também ser caracterizado pela prova testemunal, exame clínico, pericial, imagens e vídeos. Os meios de comprovação do uso de substâncias entorpecentes ao volante também deverão ser regulamentados, o que siginifica dizer que o teste da saliva está a caminho.

Ninguém é contra a fiscalização permanente de trânsito e ao endurecimento da lei, que objetivem punir para reeducar e tornar o trânsito uma atividade mais humana e menos violenta. Que as novas medidas ora propostas não se tornem, no entanto, fontes geradoras de injustiça e corrupção, nem de mera arrecadação de uma indesejável indústria de multas. Tudo na vida tem limites. O limite da lei de trânsito, sem dúvida, é o bom senso.

o6 de abril de 2012
Milton Corrêa da Costa

OPOSIÇÃO QUER SABER POR QUE CRIAÇÃO DE PEIXES LIBERADA POR IDELI VIROU PLANTAÇÃO DE MANDIOCA

O PSDB vai pedir ao Conselho de Ética da Presidência da República que também investigue a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, pela execução de um contrato com a ONG Pró-Natureza para criação de peixes em Brasília, no valor de R$ 869,9 mil, que não saiu do papel.

O jornal O Estado de S. Paulo mostrou que durante a gestão de Ideli, o Ministério da Pesca liberou de uma só vez R$ 769,9 mil – de um contrato de R$ 869,9 mil – para a organização não governamental de um funcionário comissionado do governo de Agnelo Queiroz (PT-DF) implantar, no entorno de Brasília, um tanque para criação de tilápias.

No entanto, 11 meses depois da liberação do pagamento, nenhum viveiro foi instalado. No lugar onde deveria haver a produção de peixes, existe uma plantação de mandiocas.
“É mais um fato que reforça a necessidade da investigação”, avaliou o líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias (PR). “Agora eles plantam peixes e colhem mandioca”, ironizou o tucano.

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A ONG QUER MAIS DINHEIRO

A Pró-Natureza ainda solicitou, ao então titular da pasta, ministro Luiz Sérgio (PT-RJ), um aditivo de 16 meses e mais R$ 224,7 mil. O pedido foi reforçado agora ao atual ministro, Marcelo Crivella (PRB).
Em outra frente, o PPS vai pedir ao Tribunal de Contas da União (TCU) – por meio de requerimento à Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara – que o órgão de controle faça uma “devassa completa” nos convênios do Ministério da Pesca com organizações não governamentais.
O líder do PPS, deputado Rubens Bueno (PR), também vai tentar convocar a ministra Ideli Salvatti para prestar esclarecimentos à comissão. “Esses convênios podem estar servindo de fachada para abastecer o caixa do PT”, disse Bueno.

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O CASO DAS LANCHAS

No início da semana, o PSDB acionou o Conselho de Ética para que instaurasse processo ético-disciplinar e investigasse Ideli pela compra de 28 lanchas-patrulhas adquiridas entre dezembro 2008 e março de 2011 pelo valor de R$ 31 milhões.
O Estadão mostrou que um ex-dirigente da pasta, Karim Bacha, pediu à empresa contratada, Intech Boating Ltda., doação para a campanha de Ideli. A empresa doou R$ 150 mil ao PT de Santa Catarina, que bancou 80% da campanha de Ideli ao governo, vejam só que coincidência.

Ninguém tem dúvida de que boa parte dos mais graves acidentes, em rodovias e vias urbanas, no contexto da guerra e da barbárie do trânsito brasileiro, envolvem motoristas alcoolizados e/ou drogados. É ponto pacífico também que boa parte de nossos motoristas são imprudentes, agressivos, estressados e deseducados. Portanto, fiscalização e repressão permanentes em vias públicas são por demais necessárias.

Há, sem dúvida, uma verdadeira luta de poder por espaços cada vez mais inexistentes e saturados por parte de muitos motoristas, que vivem se digladiam, descumprindo normas de trânsito e se consideram autênticos ‘donos de rua’, alguns dirigindo perigosamente sob o efeito do álcool e/ou de substâncias entorpecentes

Assim é que as recentes propostas de alteração do Código de Trânsito, a serem votadas na Câmara Federal na próxima quarta-feira, de ‘tolerância zero’ de álcool ao volante e do aumento do dobro do valor de multa por dirigir alcoolizado (passaria a R$ 1915,54), precisam ser objeto de muita reflexão.

Há que se entender primeiramente que uma determinação proibitiva de total de ingestão de álcool para motoristas, pode ser causa de injustiças para quem está dirigindo e não consumiu bebida alcoólica. É fato real que o álcool está também presente em antissépticos bucais, em alguns medicamentos indicados por receita ou não ou mesmo num bombom recheado com licor.
Até onde estaríamos, através de uma lei de trânsito, interferindo na vida privada, no tratamento da saúde, na higiene bucal e no prazer por alguma guloseima?

Há que se refletir sobre isso para que não se cometa injustiças irreparáveis. Uma lei de trânsito deve ter limites de rigidez e não pode ser arbitrária. Suspender o direito de dirigir pelo prazo de um ano de um motorista, submetê-lo a curso obrigatório de reciclagem e fazê-lo desembolsar uma alta soma no pagamento de uma multa, pelo simples fato de que fez uso de um antisséptico bucal, por ter consumido um bombom ou pela ingestão de um medicamento necessário à manutenção de sua saúde, parece-me extremament injusto.

E se o condutor, punido por tais motivos, for um motorista de táxi ou de um coletivo? Ficaria proibido por um ano do exercício de sua profissão? Não estaríamos causando, injustamente, para si e para seus familiares, que dele dependem para sobreviver, um enorme prejuízo, tratando-se de um profissional dovolante?

Conclui-se, portanto, a meu ver, pela inviabilidade da proposta de‘tolerância zero’ e pela necessária manutenção do limite de tolerância de 2 decigramas se álcool por litro de sangue, conforme previsto atualmente pelo Decreto Federal 6488/08, como medida de puro bom senso.

Salta aos olhos também a notícia da proposta do aumento do valor das multas. Se levarmos em consideração que boa parte das infrações de trânsito são lavradas por agentes que representam o poder de polícia do Estado, sujeito a falhas próprias da natureza humana, as implicações no ato da aplicação da medida corretiva-punitiva seriam notórias.

Mais lúcido e consciente está sendo a proposta de que o crime de direção alcoolizada possa também ser caracterizado pela prova testemunal, exame clínico, pericial, imagens e vídeos. Os meios de comprovação do uso de substâncias entorpecentes ao volante também deverão ser regulamentados, o que siginifica dizer que o teste da saliva está a caminho.

Ninguém é contra a fiscalização permanente de trânsito e ao endurecimento da lei, que objetivem punir para reeducar e tornar o trânsito uma atividade mais humana e menos violenta. Que as novas medidas ora propostas não se tornem, no entanto, fontes geradoras de injustiça e corrupção, nem de mera arrecadação de uma indesejável indústria de multas. Tudo na vida tem limites. O limite da lei de trânsito, sem dúvida, é o bom senso.

REFLEXÕES SOBRE O APOIO ESTRANGEIRO AOS REBELDES NA SÍRIA


As armas oficialmente não virão mais para os rebeldes da Síria, mas clandestinamente já tinham vindo. Haja vista a resistência dos rebeldes, que, em condições normais já teriam capitulado. O Exército Sírio é muito forte.

A mídia não-comprometida tem noticiado a prisão de elementos uriundos do Catar, Arabia Saudita e França. Além de armamento sofisticado, que o Exército Sírio não tem. Não fora a posição dura da Russia e China, Assad teria caido.
Entretando, as armas que Estados Unidos, França, Inglaterra e Alemanha principalmente, agora oferecem: telefones guiados por satélites e dinheiro em forma de salário para os rebeldes e famílias, são tão eficazes ou mais, que as armas de guerra. O futuro da Síria depende muito do apoio da Rússia e China.

O governo sírio com Bachar Al Assad é crucial para o equilíbrio da região. Caindo a Síria, cairá o Hezbolah e o Hamas. Ficando assim o Irã como o “prato principal” para Israel saciar seu ódio, jogando uma bomba atômica sobre o Estado Persa.
Diz um velho ditado: sopa quente queima a boca. A resposta do Irã pode surpreender e mudar o rumo dos acontecimentos.

UM CASO DE AMOR TUPAMARO, SEMELHANTE AO DE SEBASTIÃO NERY EM MOSCOU

Sebastião Nery publicou aqui no Blog bela crônica sobre aquele amor em Moscou. Vivi algo semelhante nos conturbados dias de agosto de 1970, em Montevideu, quando os tupamaros sequestraram o consul brasileiro Aloysio Gomide, o agente da Cia Dan Mitrione e o funcionário da FAO, Claude Fly.
Conheci uma jovem tupamara e tivemos um romance daqueles que só jornalistas em missão especial sabem o quanto isso é gostoso. Fui enviado pelo Estadão (era da sucursal de Porto Alegre) e meu companheiro de quarto (Hotel República, Plaza Entrevero, centro de Montevideu) era o saudoso Inajar Souza.
Lá, na cobertura do caso, estavam também o Paulo Totti (Veja, chefe da sucursal de Porto Alegre) e o Henrique Caban (O Globo). Sobre o Caban, uma curiosidade. Emprestei uma gravata para ele, que desejava ir ao Cassino de Carrasco. Ganhou na roleta e ficou com a gravata que lhe dava sorte.
Mas a jovem tupamara era uma mulher meiga, linda e de uma sensualidade, digamos, revolucionária. Trabalhava no telex e eu furava a fila dando-lhe o meu material para ser picotado e enviado a São Paulo, na frente dos colegas.
Saíamos à noite, após o trabalho, para jantares e amores incríveis. Voltei diversas vezes a Montevideu a serviço, mas a perdi inexplicavelmente. Queria casar e viver no Brasil, mas aí, com tais compromissos, perde a graça a aventura vivida em dias sombrios numa Montevideu fria, invernosa e cheia de soldados nas ruas.
Nery, um abraço do colega que admira suas boutades diárias na Tribuna On Line.

06 de abril de 2012
Rogério Mendelski

A ARTE DE CHAMAR ATENÇÃO

 

Meu temor é abrir o jornal na semana que vem e dar de cara com uma coluna chamando a todos de burros

Também quero celebrar Mil­lôr. Mas em vez de lembrar sua capacidade de nos levar das profundezas ao riso em duas línguas, prefiro virá-lo do avesso.

Se Shakespeare falasse português teria o desprendimento de tradu­zir "Fechou-se em copas" para "He shut himself in Hearts"? Ou a suti­leza de ver na frase "Fazer de conta" a tradução "To make a bead"?
Pois Millôr era, segundo sua ver­são, "of the turned shovel", da pá virada. Podia dar-se ao luxo de alter­nar seriedade e leveza com o que bem en­tendesse. E eu nunca ouvi contar que tenha perdido a estribeira com seu público.

Aliás, estou há quase 30 anos no ramo e não me consta que parte dos atributos do colunista seja chamar para o pau, falar de cima para baixo, dar lição de moral, armar arapuca ou esculachar o próprio leitorado.
E olha que eu sou "Crazy Sperm". E não dou aula de filosofia, você está ligado, não está, meu caro leitor? Não tenho o costume de lidar com aluno, não tenho uma base conceitual para lá de elevada nem sou uma das mais respeitáveis filósofas do cenário acadêmico nacional.

Porém, olha só, vivo de ser colunista há suficientes invernos para saber que há de se ter um certo temperamento para cumprir a função.

Ao longo do tempo, e nós estamos falando de anos, você fatalmente acaba ficando completamente ex­posto. Quem quiser durar no mé­tier, deve estar preparado para ter suas intenções testadas, pois fatal­mente elas estarão visíveis aos olhos do público. Não adianta vir com artimanhas nem ser mestre na matéria sobre a qual está falando.

Se não for absolutamente despido de truques, o cliente vai cair matan­do. Essa é a beleza da coisa. Espe­cialmente nos dias de hoje, em que leitor fala de igual para igual com presidente da República, ombudsman e o raio que o parta.

Colunismo é sacerdócio, não exis­te espaço para traquinagem. Não adianta o sujeito querer dar uma de Jorge Kajuru do jornalismo im­presso e ter um sonho secreto de ser assassinado em praça pública só para ressuscitar como mártir ao terceiro dia e continuar a pregar seu evangelho aos berros. Chamar atenção é uma droga mais poderosa do que a heroína.

Se eu assinasse coluna no "Diário de Pinheiros" (com todo respeito à publicação), será que eu teria tan­tos leitores quantos tenho aqui? É esse tipo de questionamento que o colunista deve começar a fazer quando o fracasso começa a lhe su­bir à cabeça ou quando ele se mete em falsas polêmicas que em nada con­tribuem para a discussão cultural.

Não sei patavina sobre filosofia e imagino que as cenas de canibalis­mo descritas por meu colega Pondé na semana passada na "Ilustrada" te­nham tido a ver com a simbologia do Sofrimento e da Carne. Meu te­mor é abrir o jornal na próxima se­gunda e dar de cara com uma colu­na sua chamando a todos os leitores de burros por não terem se dado conta de que o penoso relato se re­feria a uma passagem manjada da Bíblia ou da mitologia.

Não sei direito qual o objetivo de Pondé, mas não me parece que es­teja inaugurando uma nova lingua­gem. No mínimo, denota falta de poder de síntese ao estender o as­sunto de uma semana para outra.
Além do mais, esse mergulho no sensacionalismo evidentemente não lhe fez bem aos nervos. Peço que você volte a ser quem era, Pon­dé. Em vez de se pautar exclusiva­mente pelo queixume dos leitores, que tal escrever sobre as belas para­gens que visita nas viagens a que ser­ve de guia cultural? Olha lá que o Millôr vem puxar o seu pé!
06 de abril de 2012
 Barbara Gancia

DOCE PECADO

Na nossa sociedade é de costume se desejar “Feliz Páscoa” a alguém dando de presente um ovo de chocolate. Mas nem sempre esta delícia de cacau foi bem recebida pela religião.

Equipe RHBN
6/4/2012
  • Em nossa tradição, é impossível não associar o chocolate à Páscoa, festa maior do cristianismo. Desejar “Feliz Páscoa” a alguém é um costume que quase sempre vem acompanhado de um presente previsível: um ovo de chocolate – ou, simplesmente, um “ovo de Páscoa”. Mas a relação entre a iguaria e a religião que está na base da cultura ocidental nem sempre foi pacífica.

    A guloseima, originalmente consumida por “pagãos” americanos e que caiu no gosto das altas rodas da Europa, era cercada de mistérios, como no caso dos chocolates aromáticos das cortes italianas, como revela Eddy Stols nesta edição. Os Médici, titulares do grão-ducado da Toscana, mantinham segredo absoluto sobre a receita do chocolate com aroma de jasmim, cobiçado por outras casas européias. Sua fórmula era guardada em uma caixa-forte. A Igreja, como se sabe, não via com bons olhos mistérios que não estavam sob sua guarda.

    Mas o apreço pelo produto não era resultado apenas do aroma irresistível ou do paladar inigualável. Além de saboroso, o chocolate era apreciado por suas virtudes terapêuticas. Em meio a um verdadeiro frenesi, não tardaram a surgir, no século XVII, as primeiras denúncias de abuso na sua ingestão. E numa época profundamente marcada pela religião, o debate se dava na esfera da Igreja. De um lado, jesuítas cantavam as delícias do cacau; do outro, os dominicanos lamentavam o novo vício europeu.

    A Europa, terra do vinho, era aos poucos invadida por legiões de beberrões de chocolate – inicialmente a Espanha, e posteriormente o resto do continente; nos cafés que se multiplicavam no rastro de outra bebida famosa, homens amanheciam em busca das primeiras doses do líquido turvo; nos palácios e nas casas mais refinadas, as xícaras passavam a figurar ao lado das taças, em lugar de destaque. Quente ou gelado, líquido ou pastoso, puro ou com aguardente, tomava-se chocolate de todas as maneiras, com o objetivo de estimular os sentidos de formas inusitadas.

    Acreditava-se ainda que o chocolate possuía a propriedade de aquecer o sangue, despertando “virtudes” que eram sistematicamente combatidas pela Igreja. O italiano Francesco Arisi, autor de um tratado intitulado Il cioccolato, de 1736, versejava contra a iguaria:

    Nos torrões já é usado,
    Nas tortas é o principal.
    Penso, pois, que ainda um dia,
    Vão servi-lo com codornas,
    Desdenhando o santo pão
    Ou colocando-o de parte.


    Os próprios jesuítas, que elogiaram seu uso na Itália, chegaram a dizer em Portugal, onde o hábito de beber chocolate se alastrou no século XVIII, que o produto era um estimulante sexual. Contrariando a interpretação tradicional de S. Tomás de Aquino, para quem líquidos não quebravam o jejum, exigiram sua proibição durante o período da Quaresma, quando os cristãos deveriam se afastar dos prazeres da carne (em todos os sentidos). Tentativa inútil, pois o papa, em Roma, cedendo à pressão dos primeiros chocólatras, e para a felicidade de quase todos, autorizou o pecado durante o ano inteiro.

    O artigo acima foi originalmente publicado em abril de 2009 na RHBN, cujo tema de capa era o chocolate

OS BONS MARIDOS DE ESPARTA

 
O espartano casado, se encontrasse um rapagão belo e imponente, oferecia-lhe a sua mulher, para que reproduzissem. Era a eugenia: o “aperfeiçoamento” da raça por meio da seleção genética. Licurgo, o grande legislador, caçoava dos que hesitavam em partilhar as esposas, dizendo que eles se importavam mais com a reprodução de seus cães e cavalos do que com a de suas mulheres.

A intenção dos espartanos era formar uma casta de guerreiros. Há uma passagem da Batalha das Termópilas em que o rei Leônidas, marchando à frente de seus 300 soldados, encontra o pelotão de 7 mil aliados de outras cidades. O comandante dos aliados olha para aquele punhado de homens e se espanta, sabendo que o inimigo persa conta com um exército de centenas de milhares de combatentes.

– Mas você só trouxe esses soldados?!? – pergunta, incrédulo.

Ao que Leônidas aponta para um dos aliados:

– Qual é a sua profissão?

– Eu sou moleiro.

– E você – prossegue Leônidas, indicando outro.

– Camponês.

– Você?

– Ferreiro.

E assim por diante. Por fim, Leônidas volta-se para os seus 300 homens e grita:

– Espartanos! Qual é a sua profissão?

Os 300 batem com as lanças nos escudos de ferro e urram, em uníssono:

– HO-HAAAA!!!

Leônidas sorri para o comandante aliado:

– Como vê, trouxe mais soldados do que você.

Imagino a mesma cena no Congresso brasileiro. Você espeta o dedo no peito de um deputado:

– O senhor! Qual é a sua profissão?

– Advogado.

– E o senhor aí, de óculos, qual a sua profissão?

– Médico.

– E o senhor?

– Jornalista.

– Ex-palhaço de circo.

– Pastor evangélico.

Não existem políticos profissionais no Brasil. Ninguém é político de nascença ou faz curso de político. Os políticos somos nós, o povo inteiro. Será, então, que somos um povo de ladrões, como indica o comportamento dos nossos representantes? Será hereditário? A corrupção corre nas nossas veias, vermelha e quente?

Não pode ser. Porque, se um dia houve o espartano geneticamente falando, não se pode dizer o mesmo do brasileiro. O brasileiro é índio e negro, é alemão e japonês, é italiano e português, e é tudo isso miscigenado. Então, como explicar o vezo de desonestidade do brasileiro?

Tive uma pista para a solução do mistério ao ler Uma Jornada, relato que o ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair fez de seu governo. Em dado momento, Blair conta que “o sistema britânico é essencialmente dirigido por funcionários públicos de carreira até nos altos escalões. Os assessores especiais são poucos e não muito frequentes (...). Quando, após alguns anos de governo, acumulei cerca de 70, algumas pessoas consideraram que isso era um ultraje constitucional”.

O primeiro-ministro acumulou 70 assessores e os ingleses consideraram esse número um ultraje. Quantas dezenas de milhares de funcionários foram nomeados pelos presidentes brasileiros nos últimos anos? Quase tantos, talvez, quantos os soldados do exército persa que enfrentou Leônidas. Eis a origem do mal: não são os políticos. É o sistema. É o sistema que gera a corrupção. É o sistema que precisa mudar.
06 de abril de 2012
David Coimbra

A TIRANIA DO BEM

 

Há exagero nas tentativas de controlar o tabagismo no Brasil?
 
SIM.
 
A cruzada antitabagista segue com força total. Após a obrigatoriedade daquelas imagens terríveis no maço de cigarros, da suspensão de propagandas e do banimento dos "fumódromos", eis que a Anvisa aprovou agora a proibição de sabor nos cigarros. O objetivo da agência está evidente: querem sumir com o tabaco da face da Terra.

Há duas maneiras de se criticar esta postura. A primeira delas é com base em princípios, tais como a liberdade individual. Não cabe ao governo nos proteger de nós mesmos. Viver é sempre uma aventura arriscada. Cada um deve ser livre para escolher como encarar esta jornada, assumindo a responsabilidade por seus atos. Parte da liberdade é o direito de escolher ir ao "inferno" à sua maneira.

Ninguém ousaria afirmar que os indivíduos desconhecem os riscos associados ao tabaco. Eles já são mais do que divulgados. Ainda assim, deve ser um direito inalienável assumir tais riscos, se esse for o desejo. O risco de vício também é conhecido antes de o sujeito começar a fumar. Além disso, vários outros produtos podem viciar, inclusive o álcool. O abuso de alguns não deve tolher o uso dos demais.

Uma pessoa pode levar uma vida de abstinência total das substâncias prejudiciais à saúde e sofrer um acidente ou mesmo contrair uma doença terrível como o câncer.

Outra pode beber, fumar e viver uma longa vida - menos chata, diriam alguns. A probabilidade de ele ter câncer de pulmão pode ser maior, mas impedi-lo de optar pelo risco é solapar sua liberdade mais básica.

Adotar políticas intervencionistas somente com base nas probabilidades é ignorar o indivíduo e a sua singularidade. Regimes coletivistas, como o nazismo, o comunismo e o fascismo, seguiram esse caminho, desembocando no totalitarismo. O indivíduo passa a ser um simples meio sacrificável pela maioria.

Alguns argumentam que o fato de existirem impostos para manter o SUS justifica tal intervenção. Se nós pagamos a conta, então podemos impor restrições aos outros para reduzir o risco de doença.

Trata-se de uma linha de raciocínio que leva inexoravelmente ao totalitarismo. Com base nela, o governo poderia também obrigar cada um a praticar exercícios físicos diariamente, além de cortar a fritura, a gordura, o sal e o açúcar. Tudo em prol da saúde geral.

A segunda forma de atacar a postura da Anvisa é pelo resultado prático de suas medidas.

Ao dificultar a venda legal de cigarro, a agência não faz desaparecer a demanda por ele. Ela apenas transfere a oferta para a informalidade. Empregos e impostos serão perdidos, e o contrabando será alimentado - com o risco agravado pela má qualidade do produto.

Cerca de 30% do mercado de cigarros no país já é ilegal. Os contrabandistas agradecem o fervor da Anvisa em lutar pelo bem geral, tal como Al Capone celebrava a Lei Seca em Chicago.

Aliás, é no mínimo curioso que muitos dos que aplaudem a cruzada antitabagista são os mesmos que defendem a descriminalização da maconha. Incoerência total.

Muito me preocupa este movimento coordenado em busca de uma espécie de "saúde perfeita". Seria isto uma nova seita religiosa e moralista? Seria o resultado de uma geração acovardada, que pensa ser viável abolir os riscos de se viver?

Se o indivíduo quiser adotar essa postura no âmbito particular, trata-se de um direito seu. Mas, quando a coisa vira uma imposição coletivista, a liberdade corre sério perigo. As piores tiranias são feitas em nome do bem geral. Com a consciência limpa, esses tiranos são incansáveis em suas ambições "altruístas".

Apenas para constar: não fumo.
 
06 de abril de 2012
Rodrigo Constantino

MAIS UM PRÊMIO NOBEL DESMORALIZA O NOBEL


Há mais de década venho afirmando que os prêmios Nobel da Paz e Literatura estão reunindo os mais ilustres canalhas do século. Nas útimas décadas, a coleta de canalhas vem se acelerando. Oslo e Estocolmo estão organizando um seleto clubinho de celerados. Ainda há pouco eu comentava o caso da bióloga e ativista queniana Wangari Maathai. Após a entrega do Nobel da Paz, a bióloga reiterou sua opinião, muito divulgada na África subsaariana, de que o vírus da Aids foi criado por cientistas para a guerra biológica, para dizimar os negros africanos, como se alguma nação no mundo ganhasse algo com dizimar negros na África. Afirmou também que o uso do preservativo não é eficaz contra a transmissão do vírus.

Comentei também o caso da presidente da Libéria, Ellen Johnson Sirleaf, que recebeu o prêmio da Paz em 2011, junto com mais uma conterrânea e outra iemenita. Em março passado, Sirleaf defendeu a legislação que pune a homossexualidade com cadeia em seu país. "Temos certos valores tradicionais em nossa sociedade que gostaríamos de preservar", afirmou Ellen, em depoimento divulgado pelo site do jornal britânico The Guardian.

Ao ser questionada sobre se assinaria alguma proposta que descriminalize o homossexualismo, a resposta da presidente foi negativa. "Já tomei uma posição sobre isso. Não assinarei essa lei ou nenhuma lei que tenha a ver com essa área, de maneira nenhuma. Gostamos de nós mesmos exatamente da maneira que somos."

Isso sem falar em vigaristas outros como Arafat, Neruda, Dalai Lama, Luther King, Rigoberta Menchú, madre Tereza de Calcutá. A ignomínia contaminou agora Günter Grass, Nobel de Literatura em 1999. Não que Grass já não tivesse mostrado ao que vinha. Dois anos após receber o prêmio, dizia sobre o 11 de setembro: "os americanos fazem muita história por causa de três mil brancos mortos pelos soldados da Al-Qaeda". Sete anos depois, confessou sua participação na Waffen-SS, força de elite com critérios de seleção baseados em cega fidelidade a Hitler e ao regime nazista.

Se em 1938 esta força tinha tinha apenas 7000 integrantes, em 1945 contava com 900 mil homens, muitos deles então recrutados entre cidadãos fiéis ao regime nazista em outros países europeus. As divisões da Waffen-SS participaram de campanhas na Áustria, Tchecoslováquia, Polônia e em países nórdicos, balcânicos e bálticos. Mas afinal se até Sua Santidade Bento XVI foi militante da Juventude Hitlerista, não podemos negar a um escritor não-católico o direito de participar das forças de elite nazistas.

Mas o prêmio já fora conferido. Nesta semana, Grass recidivou em seu anti-semitismo. Quarta-feira passada, publicou no Süddeutsche Zeitung um “poema” em que faz a defesa do Irã acusa Israel e suas armas atômicas de ameaçar a paz mundial. Ponho poema entre aspas, porque seu texto não passa de um panfleto vagabundo, belicoso e delirante. É de espantar a facilidade com que a imprensa, tanto nacional como internacional, assumiu sem questionar a palavra poema. Vai ver que foi por ter sido escrito em frases curtas, colocadas uma abaixo da outra. Há quem pense que um texto assim disposto é um poema.

Ahmadnejad proclama aos quatro ventos que Israel deve ser varrido do mapa e o “poeta”, impertérrito, escreve:

É o suposto direito a um ataque preventivo,
que poderá exterminar o povo iraniano,
conduzido ao júbilo
e organizado por um fanfarrão,
porque na sua jurisdição se suspeita
da fabricação de uma bomba atômica.


Ora, as pretensões iranianas ao armamento nuclear desde há muito são conhecidas. Ano passado, o Irã se dizia disposto a abrir suas instalações nucleares à inspeção da Agência Internacional de Energia Atômica. Em fevereiro último, a AIEA parece ter-se aproximado demais da caverna do tesouro. No mesmo dia em que o governo recusou a inspeção da usina nuclear em Parchin pela agência, o general Mohammed Hejazi ameaçou um ataque preventivo contra os inimigos do Irã, ou seja, Israel. Os explosivos nucleares e gatilhos são produzidos em Parchin, daí a recusa do Irã. No fundo, Günter Grass traduziu em “linguagem poética” a bravata do general. Prossegue o “poeta”:

Por que me calei até agora?
Porque acreditava que a minha origem,
marcada por um estigma indelével,
me impedia de atribuir esse fato, como evidente,
ao país de Israel, ao qual estou unido
e quero continuar a estar.


Está unido ao povo de Israel e defende o vizinho que proclama publicamente sua pretensão de varrer o país do mapa. E ainda se dá ao luxo de denunciar a “hipocrisia do Ocidente”. Com amigos assim, dispensa-se inimigos. Grass pretende que os governos de ambos os países permitam o controle permanente e sem entraves, por parte de uma instância internacional, do potencial nuclear israelita e das instalações nucleares iranianas.

Ora, sobre o potencial nuclear israelita não paira dúvida alguma. Desde há décadas se sabe que o país domina a arma nuclear. O que se pretende investigar é se o país que quer varrer Israel do mapa está chegando à bomba.

Ontem ainda, Grass deu entrevista a uma rede de televisão pública, na qual até parece acreditar que escreveu um poema: "O tom geral dos debates não é entrar no conteúdo do poema, mas realizar uma campanha contra mim para que minha reputação fique deteriorada até o fim dos tempos". O homem cava sua própria cova e acusa a imprensa de fazer campanha contra ele.

De nazista a comunista e de comunista a defensor do Islã, Grass não surpreende. Muda de ideologia mas não de propósitos. Sob peles cambiantes, o eterno desejo de totalitarismo. Não há comunista hoje – falo dos fósseis ambulantes que ainda perambulam por aí – que não defenda o Islã. Até mulheres, que têm tudo para abominar um sistema que as oprime, quando comunistas tomam sua defesa.

E assim marcham os Nobéis da Paz e Literatura, desmoralizando aceleradamente o prêmio.
Há mais de década venho afirmando que os prêmios Nobel da Paz e Literatura estão reunindo os mais ilustres canalhas do século. Nas útimas décadas, a coleta de canalhas vem se acelerando. Oslo e Estocolmo estão organizando um seleto clubinho de celerados. Ainda há pouco eu comentava o caso da bióloga e ativista queniana Wangari Maathai. Após a entrega do Nobel da Paz, a bióloga reiterou sua opinião, muito divulgada na África subsaariana, de que o vírus da Aids foi criado por cientistas para a guerra biológica, para dizimar os negros africanos, como se alguma nação no mundo ganhasse algo com dizimar negros na África. Afirmou também que o uso do preservativo não é eficaz contra a transmissão do vírus.

Comentei também o caso da presidente da Libéria, Ellen Johnson Sirleaf, que recebeu o prêmio da Paz em 2011, junto com mais uma conterrânea e outra iemenita. Em março passado, Sirleaf defendeu a legislação que pune a homossexualidade com cadeia em seu país. "Temos certos valores tradicionais em nossa sociedade que gostaríamos de preservar", afirmou Ellen, em depoimento divulgado pelo site do jornal britânico The Guardian.

Ao ser questionada sobre se assinaria alguma proposta que descriminalize o homossexualismo, a resposta da presidente foi negativa. "Já tomei uma posição sobre isso. Não assinarei essa lei ou nenhuma lei que tenha a ver com essa área, de maneira nenhuma. Gostamos de nós mesmos exatamente da maneira que somos."

Isso sem falar em vigaristas outros como Arafat, Neruda, Dalai Lama, Luther King, Rigoberta Menchú, madre Tereza de Calcutá. A ignomínia contaminou agora Günter Grass, Nobel de Literatura em 1999. Não que Grass já não tivesse mostrado ao que vinha. Dois anos após receber o prêmio, dizia sobre o 11 de setembro: "os americanos fazem muita história por causa de três mil brancos mortos pelos soldados da Al-Qaeda". Sete anos depois, confessou sua participação na Waffen-SS, força de elite com critérios de seleção baseados em cega fidelidade a Hitler e ao regime nazista.

Se em 1938 esta força tinha tinha apenas 7000 integrantes, em 1945 contava com 900 mil homens, muitos deles então recrutados entre cidadãos fiéis ao regime nazista em outros países europeus. As divisões da Waffen-SS participaram de campanhas na Áustria, Tchecoslováquia, Polônia e em países nórdicos, balcânicos e bálticos. Mas afinal se até Sua Santidade Bento XVI foi militante da Juventude Hitlerista, não podemos negar a um escritor não-católico o direito de participar das forças de elite nazistas.

Mas o prêmio já fora conferido. Nesta semana, Grass recidivou em seu anti-semitismo. Quarta-feira passada, publicou no Süddeutsche Zeitung um “poema” em que faz a defesa do Irã acusa Israel e suas armas atômicas de ameaçar a paz mundial. Ponho poema entre aspas, porque seu texto não passa de um panfleto vagabundo, belicoso e delirante. É de espantar a facilidade com que a imprensa, tanto nacional como internacional, assumiu sem questionar a palavra poema. Vai ver que foi por ter sido escrito em frases curtas, colocadas uma abaixo da outra. Há quem pense que um texto assim disposto é um poema.

Ahmadnejad proclama aos quatro ventos que Israel deve ser varrido do mapa e o “poeta”, impertérrito, escreve:

É o suposto direito a um ataque preventivo,
que poderá exterminar o povo iraniano,
conduzido ao júbilo
e organizado por um fanfarrão,
porque na sua jurisdição se suspeita
da fabricação de uma bomba atômica.


Ora, as pretensões iranianas ao armamento nuclear desde há muito são conhecidas. Ano passado, o Irã se dizia disposto a abrir suas instalações nucleares à inspeção da Agência Internacional de Energia Atômica. Em fevereiro último, a AIEA parece ter-se aproximado demais da caverna do tesouro. No mesmo dia em que o governo recusou a inspeção da usina nuclear em Parchin pela agência, o general Mohammed Hejazi ameaçou um ataque preventivo contra os inimigos do Irã, ou seja, Israel. Os explosivos nucleares e gatilhos são produzidos em Parchin, daí a recusa do Irã. No fundo, Günter Grass traduziu em “linguagem poética” a bravata do general. Prossegue o “poeta”:

Por que me calei até agora?
Porque acreditava que a minha origem,
marcada por um estigma indelével,
me impedia de atribuir esse fato, como evidente,
ao país de Israel, ao qual estou unido
e quero continuar a estar.


Está unido ao povo de Israel e defende o vizinho que proclama publicamente sua pretensão de varrer o país do mapa. E ainda se dá ao luxo de denunciar a “hipocrisia do Ocidente”. Com amigos assim, dispensa-se inimigos. Grass pretende que os governos de ambos os países permitam o controle permanente e sem entraves, por parte de uma instância internacional, do potencial nuclear israelita e das instalações nucleares iranianas.

Ora, sobre o potencial nuclear israelita não paira dúvida alguma. Desde há décadas se sabe que o país domina a arma nuclear. O que se pretende investigar é se o país que quer varrer Israel do mapa está chegando à bomba.

Ontem ainda, Grass deu entrevista a uma rede de televisão pública, na qual até parece acreditar que escreveu um poema: "O tom geral dos debates não é entrar no conteúdo do poema, mas realizar uma campanha contra mim para que minha reputação fique deteriorada até o fim dos tempos". O homem cava sua própria cova e acusa a imprensa de fazer campanha contra ele.

De nazista a comunista e de comunista a defensor do Islã, Grass não surpreende. Muda de ideologia mas não de propósitos. Sob peles cambiantes, o eterno desejo de totalitarismo. Não há comunista hoje – falo dos fósseis ambulantes que ainda perambulam por aí – que não defenda o Islã. Até mulheres, que têm tudo para abominar um sistema que as oprime, quando comunistas tomam sua defesa.

E assim marcham os Nobéis da Paz e Literatura, desmoralizando aceleradamente o prêmio.

06 de abril de 2012
janer cristaldo