"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 15 de maio de 2012

PRA CIMA TODO SANTO AJUDA; PRA BAIXO A COISA TODA MUDA

Nas democracias dá-se o contrário do que acontece no mundo físico: pra cima todo santo ajuda; pra baixo a coisa toda muda.
Fernando Henrique Cardoso sintetizou a coisa de modo brilhantemente sucinto e preciso quando disse que "Política é a arte do possível".

No seu artigo de domingo para O Estado de S. Paulo o ex-presidente do Banco Central, Pedro Malan, citando Raghuram Rajan no livro Linhas de Falha que acaba de ser lançado no Brasil (aqui), explicou com mais minúcia quais são as pedras desse caminho.
"Governos democráticos não são programados para pensar em ações que têm custos a curto prazo, mas que produzem ganhos a longo prazo - que é o típico padrão de retorno de qualquer investimento. Que por vezes governos façam estes investimentos é uma consequência ou de uma liderança incomumente corajosa ou de um eleitorado que compreende os custos de adiar escolhas difíceis. Liderança corajosa é coisa rara. Mas também é raro um eleitorado informado e comprometido, porque os próprios especialistas são muito confusos... o debate não leva a um consenso, os moderados dentre o eleitorado não sabem bem no que acreditar, e o resultado é que as escolhas de políticas seguem o caminho de menor desconforto - até que a situação se torne insustentável.

(...)

(O problema é que) as democracias são necessariamente generosas, enquanto que os mercados e a natureza não são (...) Enquanto os políticos hesitam em empreender ações dolorosas mas necessárias (...) os problemas se agravam e se tornam mais difíceis de resolver".

É sobre o fio dessa navalha que caminham neste momento França e Alemanha, enquanto a Grécia chacoalha a lâmina tornando o equilíbrio ainda mais difícil.
A Europa estrebucha. E os Estados Unidos desfrutam de uma ainda incerta "visita da saúde". Mas os dois estão longe da cura.

Não se deram conta sequer da verdadeira natureza da doença que os afeta.
Eventualmente, depois que se cansarem de chorar a perda de seus privilégios, eles despertarão para a realidade de que, num mercado de trabalho que a internet tornou planetário, o único tratamento eficaz contra a perda de salários e direitos no Ocidente é promover o rápido aumento de salários e direitos no Oriente, e que deixar de consumir avidamente as venenosas "pechinchas" produzidas daquele lado do mundo com trabalho escravo é o mais poderoso remédio contra esse mal.


Até lá, será preciso seguir tomando um coquetel de paliativos para prolongar a vida democrática ao longo do percurso ladeira abaixo, que inclui três tipos de ingredientes milimetricamente dosados: ação "aritmética" para fazer com que o buraco entre os gastos e os ganhos não continue se aprofundando, anestesias políticas para que a ingestão do remédio seja suportável e tempo para que o paciente chegue vivo ao momento da descoberta da verdadeira cura.

E como o campo da realidade oferece pouca margem de manobra, é no território do discurso, por enquanto inteiramente tomado pelos charlatões vendendo remédios milagrosos, que essa parada será decidida.

Como sempre acontece nessas horas, a função da imprensa e da academia são decisivas. E o que se viu até o momento da participação de ambas indica que elas têm sido mais parte do problema que veículos para a solução. Descrever a crise européia com o discurso maniqueísta do século passado não é só um anacronismo irresponsável. É uma temeridade criminosa.


É preciso começar já a instilar doses crescentes de realismo nesse debate para preparar a Europa para sair da paralisia que pode levá-la de volta a um passado do qual, na nova realidade do mundo, pode não haver mais retorno.
fernaslm
15 de maio de 2012

PETEBRAS - LUCRO CAI 16% NO 1º. TRIMESTRE, PARA R$ 9,2 BILHÕES


   
A Petrobras registrou queda de 16% em seu lucro líquido no primeiro trimestre deste ano, em comparação ao mesmo período do ano anterior:
o ganho recuou de R$ 10,9 bilhões para R$ 9,2 bilhões.

O resultado veio acima das expectativas de analistas, que projetavam o resultado entre R$ 8,2 bilhões e R$ 8,7 bilhões para o período de janeiro a março.

Na comparação ao quatro trimestre do ano passado, o lucro líquido da Petrobras representou um avanço de 82%. Nos últimos três meses do ano passado, no entanto, a estatal tinha registrado seu pior resultado desde o início de 2007, ao lucrar R$ 5,05 bilhões.

O lucro da Petrobras foi o maior da atual safra de balanços, superando os ganhos de empresa como Vale (R$ 6,7 bilhões), Itaú Unibanco (R$ 3,4 bilhões) e Bradesco (R$ 2,79 bilhões).

Segundo a estatal, o ganho menor foi influenciado pelo câmbio, os maiores gastos com fretes, em razão do maior volume vendido, e pessoal. Houve ainda despesas operacionais, devido ao aumento com perdas em processos judiciais. Além disso, houve uma menor receita financeira em razão da queda na taxa de juros do país.

Apesar da pressão do preço dos combustíveis sobre os resultados da Petrobras, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou nesta terça-feira que não haverá aumento nos preços da gasolina. Ele presidiu nesta terça-feira a reunião do Conselho de Administração da Petrobras, sendo que o principal tema do encontro foi a análise dos resultados da companhia no primeiro trimestre de 2012.

Não vai haver nenhum aumento disse ele ao responder a perguntas de jornalistas na porta do Ministério da Fazenda em Brasília.

Nos bastidores do governo, um aumento dos preços da gasolina é alvo de debate em função da alta dos preços do petróleo no mercado internacional. A própria presidente da Petrobras, Graça Foster, já admitiu essa possibilidade.


15 de maio de 2012
O Globo

BOVESPA ANULA OS GANHOS DO ANO E DÓLAR FECHA A R$ 2,00



A notícia de que a Grécia vai realizar novas eleições provocou outro dia de perdas no mercado financeiro mundial. No Brasil, o dólar comercial fechou negociado a R$ 2,00 na venda e e R$ 2,00 na compra, uma valorização de 0,60%.

Na máxima do dia, a divisa atingiu o patamar de R$ 2,005 e na mínima chegou a R$ 1,983.

O dólar turismo fechou cotado a R$ 2,13 na venda e R$ 1,91 na compra. O Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) intensificou a queda no fim do pregão e encerrou pelo sexto pregão consecutivo com desvalorização de 2,25% a 56.237 pontos, a menor pontuação desde 19 de dezembro do ano passado, quando encerrou a 55.298 pontos.

Com isso, o Ibovespa, que chegou a se valorizar 20% no primeiro trimestre, zerou os ganhos do ano e entrou no vermelho. O Ibovespa agora se desvaloriza 0,91%.

O dólar subiu ao maior patamar desde 10 de julho de 2009. No mês, a moeda americana sobe 4,98% e em 2012 a valorização é de 7%. A realização de novas eleições na Grécia fez os investidores correrem para o dólar e para os títulos do Tesouro americano, fugindo do risco nas Bolsas.

Para o gerente de câmbio da corretora Treviso, Reginaldo Galhardo, além dos fatores externos pressionando o dólar, no mercado local há o fator especulação.

- Todo o mercado está comprado em moeda americana. Esperava-se que o Banco Central entrasse vendendo dólares quando a cotação chegasse a R$ 2,00, mas isso não aconteceu. O ministro Guido Mantega afirmou que o dólar a R$ 2 não preocupa e ajuda a indústria brasileira a ficar mais competitiva.

Quem está comprado ficou numa situação confortável, porque quanto mais alta for a cotação, maiores serão os ganhos - explica Galhardo.

Ele diz que agora não se sabe até onde o dólar vai chegar.

- Agora é preciso obervar se a moeda americana sobe até R$ 2,10 ou R$ 2,20 e o que o BC vai fazer. O problema é que nesse patamar, o dólar começa a pressionar a inflação. Muitas empresas também se endividaram em dólar para comprar máquinas - lembra o gerente da Treviso.

Galhardo lembra que em menos de dois meses a moeda americana saltou de R$ 1,70 para R$ 2,0020.

- Não sabemos se o patamar de R$ 2,00 para o dólar vai permanecer. Mas se isso acontecer, a situação pode ficar complicada - diz o gerente.

Na Europa, as Bolsas subiram no início do dia com o crescimento do PIB alemão, mas fecharam em queda com a indefinição política na Grécia. As Bolsas americanas também passaram a operar em queda durante a tarde e o Ibovespa seguiu o ritmo. Segundo operadores, novamente os investidores deram ordens de "stop loss", ordem automática de venda para limitar perdas.

- As ordens de stop loss acentuaram a queda no Ibovespa - diz o operador de um banco de São Paulo.

Na Bovespa, as ações com maior peso no Ibovespa fecharam em queda, com exceção dos papéis do Itaú Unibanco, puxando o índice. Vale PNA caiu 0,42% a R$ 37,10;
Petrobras PN se desvalorizou 2,16% a R$ 18,48;
OGX Petróleo ON, que divulgou seu balanço trimestral, caiu 7,81% a R$ 12,00;
Itaú Unibanco PN subiu 0,28% a R$ 28,47
e PDG Realty, que também divulgou resultados trimestrais, perdeu 9,82% a R$ 3,60.

A OGX Petróleo registrou prejuízo de R$ 144,8 milhões no trimestre.
A PDG teve um lucro líquido de R$ 32,5 milhões, contra uma previsão média de R$ 140 milhões do mercado. O número representa uma queda de 86% em relação ao mesmo período do ano passado.
A Rossi Residencial reportou lucro líquido de R$ 43,8 milhões no primeiro trimestre de 2012, menor do que o valor registrado ano passado.

O número representa uma queda de 44% em comparação com o mesmo período de 2011, quando o lucro chegou a R$ 78,1 milhões.


15 de maio de 2012
O Globo

SECRETARIA DE POLÍTICAS PARA MULHERES

         UM POUCO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DA "CARINHOSA" ENGANADORA
 
Dilma Rousseff foi à televisão no Dia das Mães para dizer que está preocupada com as brasileiras. Anunciou mais uma série de benefícios sociais que, assim como as promessas nunca cumpridas da presidente, perigam não sair do papel.

A julgar pelo que o governo petista tem feito para prevenir a violência contra as mulheres, o risco é grande.

Há alguns dias, o Instituo Sangari divulgou levantamento sobre casos de criminalidade que vitimam mulheres. Os dados do Mapa da Violência são assustadores: o Brasil é, atualmente, o sétimo país do mundo onde mais se matam pessoas do sexo feminino.

Numa lista de 84 nações para as quais há dados disponíveis, a nossa situação só não é pior que as de El Salvador,
Trinidad e Tobago,
Guatemala,
Rússia,
Colômbia
e Belize.
A taxa brasileira de mortalidade feminina é de 4,4 para cada 100 mil.

A cada cinco minutos, uma mulher é agredida no país e, a cada duas horas, uma é morta. Segundo a estatística mais recente, em 2010 foram registradas 48 mil agressões a mulheres brasileiras. O número de mortes chegou a 4.297.

A divulgação do Mapa da Violência abre oportunidade para avaliar as políticas públicas voltadas à população feminina do governo federal. Afinal, pela primeira vez na história, o país está sob o governo de uma mulher.

Além disso, uma secretaria especial voltada ao segmento foi criada pela gestão Lula em 2003 gozando de status de ministério. Sua principal linha de ação é, justamente, prevenção e enfrentamento de violência contra mulheres:
desde que a pasta passou a existir, metade do seu orçamento sempre foi destinado a este fim.

Para começar, não há nenhuma melhoria nos indicadores a respeito da violência contra as mulheres nos últimos nove anos. Enquanto a taxa de mortalidade não se alterou em nada, mantendo-se em torno de 4,4 para cada 100 mil brasileiras, o número de mortes cresceu 11,2% desde 2003.

Levando-se em conta o que os governos Lula e Dilma executaram em termos de ações de combate à violência contra as mulheres, dificilmente o quadro irá mudar. Desde 2005, a partir de quando há informações disponíveis da Secretaria de Políticas para Mulheres no Siafi, R$ 131 milhões foram destinados a esta finalidade.

Contudo, somente R$ 32 milhões, ou 24%, foram efetivamente executados.

A pasta, hoje comandada por Eleonora Menicucci, é mais um dos 40 ministérios da Esplanada petista que não consegue mostrar a que veio. Na média, nestes sete anos, apenas 60% da verba orçamentária foi aplicada.

Assim como a Secretaria para a Igualdade Racial e o quase folclórico Ministério da Pesca, a Secretaria de Mulheres é daquelas em que se consome muito mais dinheiro com a manutenção da burocracia do que com a efetiva execução de ações em favor da população.

Por várias razões, a população feminina merece atenção especial. O enfrentamento da violência - causada, segundo o Instituto Sangari, principalmente por conflito entre cônjuges - é uma delas.

Mas os decepcionantes resultados das ações do governo federal no combate à violência contra as mulheres indicam que não é apenas criando estruturas burocráticas que se alcançará o objetivo.


15 de maio de 2012
Fonte: Instituto Teotônio Vilela
Violência contra as mulheres

MILITARES VÃO MONITORAR COMISSÃO DA VERDADE


 
 
Sete militares da reserva que integram o Clube Naval, no Rio, vão se reunir quinta-feira para avaliar o primeiro dia da Comissão Nacional da Verdade, previsto para amanhã.

A equipe, presidida pelo almirante Tibério Ferreira, compõe a Comissão Paralela da Verdade, criada pelo clube para monitorar as informações divulgadas pelo grupo nomeado pela presidente Dilma Rousseff. Os militares pretendem fazer um contraponto em caso de ataques.

Para o presidente do Clube Naval, vice-almirante Ricardo Antônio da Veiga Cabral, o trabalho da Comissão Nacional da Verdade tem forte probabilidade de respingar de modo negativo nas Forças Armadas, caso "os militares não tenham voz".

O grupo paralelo foi criado em 26 de março último e, segundo Cabral, prestará assessoria jurídica aos militares que, eventualmente, prestem depoimento na comissão.

- É preciso ouvir o outro lado também. Tudo precisa de um contraponto, por isso criamos a comissão. Quando a divulgação não for favorável e não tivermos chances de defesa, divulgaremos nosso contraponto. A comissão precisa ser de Estado e não de governo, para resultar em um levantamento histórico - disse Cabral, que analisa a composição da Comissão da Verdade.

- Não temos nada contra os membros da comissão, mas, sim, algumas ressalvas. A ex-advogada da presidente Dilma (Rosa Maria Cardoso da Cunha), por exemplo, está na comissão. Um advogado vai sempre defender a causa de seu cliente. Assim, não fica equilibrado.

Todos os militares integrantes da Comissão Paralela da Verdade são da reserva da Marinha, acompanharam o golpe de 1964 e a ditadura militar.

- Hoje, a maioria dos oficiais da ativa na Marinha não era nascida em 1964, só ouviu o que as pessoas falaram sobre o período. Precisamos acompanhar os resultados da comissão - ressalta Cabral.

Deputado federal com reduto eleitoral entre militares, Jair Bolsonaro (PP-RJ) disse ontem que o grupo criado pelo Clube Naval foi a maneira encontrada pelos oficiais da reserva para contestarem os depoimentos previstos para a Comissão da Verdade.

- Não vamos admitir depoimentos secretos na Comissão da Verdade, trabalhamos para que isso não aconteça. Tem gente nomeada para essa comissão que já militava em grupos de esquerda em 1962, antes dos governos militares, a partir de 1964.
Com esse monitoramento, o Clube Naval e os militares vão romper o silêncio.
Queremos colaborar com o levantamento - afirmou.

15 de maio de 2012
Marcelo Remígio O Globo

IBGE IDENTIFICOU 20 MILHÕES TRABALHANDO EM CASA

No tocante à conciliação judicial, evidente que, uma vez respeitadas às condições de admissibilidade e de validade do ato, não há por que fazer restrição a esta possibilidade de solução de conflitos, que entre todas é a que se reveste de maior credibilidade, visto tramitar perante o Judiciário.

O que não podemos permitir é o avanço desnecessário do litígio, por tendência de tecnicismo do julgador, incorporando mais uma ação às milhões já existentes, num zigue-zague enfadonho e dilacerante para o trabalhador que míngua à espera do resultado prometido por um judiciário que apregoa aos “quatro ventos” de ser social e que infelizmente não consegue entregar o resultado ao trabalhador.

É evidente que não podemos ter este mesmo direito desmoralizado, quando põe em risco a efetiva entrega da prestação jurisdicional, na medida em que privilegia e estimula à conciliação em detrimento da segurança jurídica e da finalidade maior da Justiça do Trabalho, qual seja, garantir eficazmente a tutela dos direitos trabalhistas.

De que adianta falar em justiça laboral se a grande maioria da nossa mão de obra é informal, ou seja, está afastada deste judiciário e jamais será integrada a formalidade? A não ser que o governo promova uma política de consolidação do micro empregador, sem o custo Brasil que é o mais elevado do planeta. Podemos avaliar o tamanho do estrago que a rigidez (dos direitos trabalhistas), com que os juízes da laboral divorciados da praticidade, julgam tecnicamente, sem bom senso.

O fato é que temos o resultado do Censo 2010, mostrando que 20 milhões de brasileiros, moram e trabalham no mesmo (residência) endereço. Somados aos números da informalidade, vê-se que a metade do país ativo se vira como pode. A proporção é de quase um quarto da mão de obra ocupada do país.
Segundo ainda a pesquisa, a grande maioria dos ocupados trabalham na mesma cidade em que moram: 64%. Há ainda uma parcela considerável de quase um milhão de pessoas que trabalha em mais de uma cidade ou país. Podemos avaliar que proporcionalmente para cada grupo de seis trabalhadores formais, 2,5 estão na informalidade familiar.

No 16º Congresso Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho, o presidente do Tribunal Superior do Trabalho, ministro João Oreste Dalazen, ressaltou as transformações sociais e o papel do magistrado na era da informação.
Afirmou que o juiz do trabalho tem um lugar “indispensável” na construção da democracia e na preservação da cidadania, deixando para trás a figura do juiz na torre de marfim.
“O juiz que não interage com o povo não conhece a sociedade em que milita”, assinalou. “Os novos tempos exigem que o juiz dialogue com a comunidade.

AS COTAS RACIAIS NAS UNIVERSIDADES E A COR DA POBREZA NO BRASIL

A recente pesquisa feita pelo Ministério do Desenvolvimento Social sobre a extrema pobreza no Brasil, com base nas informações do Censo 2010, realizado pelo IBGE, considera extremamente pobre a pessoa que possua rendimento mensal de até R$ 70,00. Esse levantamento confirma de modo inequívoco a assertiva de que a pobreza no Brasil tem cor e é negra.

Considerando o Brasil como um todo, 70,8% das pessoas que se encontram na situação de extrema pobreza no Brasil são ou negras ou pardas, sendo que esse percentual atinge 77% na região Norte e 75,1% no Nordeste.

A população que se declara negra ou parda possui renda em torno da metade da renda recebida pelos brancos, a taxa de desemprego entre os negros é bastante mais elevada do que entre os não-negros, a escolaridade dos segmentos afrobrasileiros é significativamente menor em relação à dos contingentes da população brasileira de origem européia, a parcela da renda nacional detida pelos brasileiros de ascendência africana é demasiadamente menor do que a parcela possuída pelos segmentos brancos.
Toda essa realidade, comprovada pelas estatísticas sociais do órgão oficial do Governo, é irrefutável e não pode ser negada. A explanação mais sensata para esse estado de coisas remete aos mais de trezentos anos de escravidão a que foram submetidos os negros no Brasil e, também, ao total desamparo a que foi relegada a população negra após a escravatura.

Desde 1888, o Estado brasileiro jamais praticou políticas públicas visando integrar os segmentos afrodescendentes na sociedade nacional. O resultado dessa ausência de ação pública e política teve como consequências as mazelas sociais – as favelas sem infraestrutura urbana, a falta de escolas públicas de qualidade e de hospitais equipados, a precariedade dos transportes e mais um imenso rol de serviços públicos que faltam nessas localidades carentes, nas quais a violência campeia. A propósito, também os negros morrem em maior número devido à violência urbana.

O primeiro governante se preocupar com isso foi Brizola, que instituiu uma Secretaria de Estado para tratar exclusivamente da questão do negro. Lula seguiu pelo mesmo caminho Lula, com a criação da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial.

É inegável que existe o racismo. E o critério de cotas nas universidades públicas é uma das pouquíssimas iniciativas que visam a integrar o negro na educação formal e na civilização no Brasil. Tal iniciativa, só por esse motivo, já seria válida. Penso que seria melhor que o critério para seleção do público alvo das políticas de ação afirmativa fosse o sócio-econômico, baseado na renda, e não o racial; entretanto, mesmo que assim fosse, indubitavelmente resultaria na seleção maciça de afrodescendentes em decorrência do fato, antes mencionado, de que a pobreza no Brasil tem cor.

Um detalhe importantíssimo: o sistema educacional brasileiro reproduz e amplia a desigualdade entre brancos e negros, entre ricos e pobres, e perpetua e eterniza as iniquidades de nosso sistema social.
Os negros e pobres frequentam escolas públicas cuja qualidade é extremamente deficiente e, na hora de cursar o ensino superior, têm que pagar as mensalidades das faculdades particulares. Enquanto isso, os ricos e a classe média preparam seus filhos nas melhores escolas particulares para que, depois, passem no vestibular e freqüentem as universidades públicas gratuitas com ensino de muito melhor qualidade do que as suas congêneres privadas.

Portanto, as cotas, ou raciais ou sócio-econômicas, qualquer que seja o critério, são mecanismos para tentar superar este círculo vicioso e promover a ascensão social de setores secularmente marginalizados.

A política de cotas é vital para tornar a sociedade brasileira mais justa e menos iníqua, e deve ser mantida até o momento em que os não-brancos tenham alcançado um grau apropriado de ascensão social em nosso país, de modo que nossos governantes concretizem aquilo que Joaquim Nabuco pregou há mais de um século, no sentido de que os negros fossem amparados pelo poder público como forma de reparação pelos malefícios de que haviam sido vítimas por mais de três séculos.

Carlos Frederico Alverga
15 de maio de 2012

ÚLTIMA RELIGIÃO DO OCIDENTE TEM FUTURO ENTRE BOTOCUDOS


As três grandes religiões contemporâneas, ditas abrâmicas, nasceram no deserto. O monoteísmo surge da areia, diz Michel Onfray. O nome do mais genial dos ficcionistas perdeu-se nos tempos. Foi aquele que criou este personagem universal, que até mesmo um mendigo analfabeto conhece: Deus. O judaísmo manteve-se mais ou menos uno e sempre fechado em si mesmo. O cristianismo optou pelo proselitismo e captação de fiéis e partiu-se em mil pedaços. O islamismo tem suas dissidências, mas mesmo assim é a religião que mais tem se expandido nos últimos séculos.

Século passado, um movimento laico e messiânico assumiu todas as características das antigas religiões. Freud o pressentiu e escreveu - em 1927 - em O Futuro de uma Ilusão: “Se quisermos expulsar de nossa civilização européia a religião, não se poderá chegar a isso senão com a ajuda de um novo sistema, e este sistema, desde sua origem, adotará todas as características psicológicas da religião: santidade, rigidez, intolerância e a mesma proibição de pensar, como autodefesa”.

Comentei a nova religião em meu ensaio Engenheiro de Almas, escrito em 1986 e publicado em 2.000, pela ebooksbrasil. Não foram muitos os escritores a intuir que não se estava precisamente ante uma revolução, mas ante uma nova religião. Entre estes, poucos foram tão precisos na denúncia do novo dogma como Nikos Kazantzakis. No relato de sua peregrinação à Rússia - Voyages - Russie, diz o cretense que pouco a pouco a luz se fazia em seu espírito. Para ele, todos os apóstolos do materialismo davam às questões respostas grosseiras, de uma evidência simplista. Como em todas as religiões, eles buscavam divulgar essas respostas, tentando torná-las compreensíveis para o povo. Kazantzakis reconhece então, na Rússia, a existência de um exército fanático, implacável, onipotente, constituído de milhões de seres, que tinha em mãos e educava como bem entendia milhões de crianças.

Este exército, diz o cretense, possui seu Evangelho, O Capital. Seu profeta, Lênin. E seus apóstolos fanatizados que pregam as Boas Novas a todas as gentes. Possui também seus mártires e heróis, seus dogmas, seus padres apologistas, escolásticos e pregadores, seus sínodos, sua hierarquia, sua liturgia e mesmo a excomunhão. E sobretudo a fé, que lhe assegurava deter a verdade e trazia a resposta definitiva aos problemas da vida.

Não há apenas um Livro - acrescentaríamos -, como também os livros apócrifos. Assim como a Igreja Romana censura os testemunhos gnósticos que não servem à sua ambição de poder, assim censurou-se até mesmo a obra de Marx na finada União Soviética. “Nós somos contemporâneos - diz Kazantzakis - deste grande momento em que nasce uma nova religião”.

Albert Camus é outra voz solitária a denunciar o caráter eclesial da nova idéia. O proletariado - diz Camus tentando entender o marxismo - “por suas dores e suas lutas, é o Cristo humano que resgata o pecado coletivo da alienação”. Sua percepção do caráter religioso do marxismo é continuamente retomada em seus ensaio mais ambicioso, L’Homme Revolté:

“O movimento revolucionário, ao final do século XIX e ao começo do século XX, viveu como os primeiros cristãos, à espera do fim do mundo e da Parusia do Cristo proletário”.

“A revolução russa permanece só, viva contra seu próprio sistema, ainda longe das portas celestes, com um apocalipse a organizar. A Parusia se afasta ainda mais. A fé resta intacta, mas ela se curva sob uma enorme massa de problemas e de descobertas que o marxismo não havia previsto. A nova igreja está de novo diante de Galileu: para conservar a fé, ela vai negar o sol e humilhar o homem livre”.

A nova religião nascera e os intelectuais do Ocidente, os lúcidos entre os lúcidos, caíram como patinhos no engodo. Este é o grande enigma que cerca o fenômeno Stalin: como foi possível que espíritos abertos e generosos da época se tornassem cúmplices e devotos deste formidável assassino? Ou talvez não fossem tão lúcidos, nem tão abertos nem tão generosos, e sim pobres crianças em busca de um novo pai? Não será por acaso que a ladainha mais freqüente entoada a Stalin é a de Paisinho dos Povos.

Nos anos 90, exaurida, a nova religião afunda. As três outras antigas religiões, que depositaram os prometidos castigos e recompensas no inexpugnável cofre do Além, persistem triunfantes. Afinal, o Além está sempre além. A nova fé prometeu o paraíso aquém. Marx colocou o paraíso duas ou três gerações logo adiante. Ora, você pode anunciar o paraíso até a geração de seus netos. Mas se o anunciado paraíso não ocorre, você não espera mais. O profeta era fajuto e a religião que pregava não chegou a durar um século.

Religião morta, religião posta. Há uns bons dez anos, escrevi que quem viu muito bem o vazio de fé que assolaria o Ocidente com a morte do comunismo foi o cineasta italiano Nanni Moretti, em Palombella Rossa. O filme é de 89, significativamente o ano em que caiu o Muro de Berlim. A história tem como personagem principal um deputado comunista que, do dia para a noite, perdeu a memória. A cena final é emblemática: em uma auto-estrada, centenas de jovens correm para saudar o sol.

Está inaugurada a nova religião, o culto da natureza. Em vez de anjos derramando taças sobre o planeta, que trazem fome, pestes, terremotos, maremotos, temos o aquecimento global e o efeito estufa. O que era Terra passa a chamar-se Gaia, um ser vivo com projetos próprios. O João de Patmos do novo apocalipse chama-se James Lovelock. O mínimo que prometia era o Saara invadindo a Europa e uma Berlim tão quente quanto Bagdá. Isso para as próximas três décadas. Em fins de 2007, Al Gore desembarcou em Sevilha para falar de seu movimento contra o câmbio climático. Em seu afã de chegar aos interlocutores, Gore, que é profundamente religioso, usa frases como: "A Noé foi dito que salvasse as espécies vivas e isto hoje continua sendo nossa obrigação”. A nova religião pretendia salvar a humanidade da entropia.

Mês passado, o profeta se retratou. O que é insólito. Jamais vi profetas se retratando. Os profetas bíblicos, cautelosos, anunciavam o fim dos tempos para quando não mais estariam na terra. Lovelock precipitou-se e, como o planeta teimava em não aquecer-se, teve de voltar atrás. Mesmo assim, fez acólitos no mundo todo com a sua Hipótese Gaia. Mas, para bom crente, tanto faz como tanto fez que o profeta se desdiga. A religião está em pleno desenvolvimento e a bicicleta tem de continuar andando.

Universidades, ONGs e instituições outras apostaram milhões de dólares em pesquisas que visavam não propriamente a estudar os fenômenos climáticos, mas a comprovar a tese do aquecimento global. Cientistas e pesquisadores comprometeram seus currículos e reputações. Agora é tarde para voltar atrás. Azar do Lovelock. Vai ver que está ficando caduco. Pois só velhotes caducos podem negar o aquecimento global. Está hoje acontecendo com os ecochatos o mesmo que aconteceu ontem com os velhos intelectuais bolcheviques. Produziram tantos ensaios e teses apostando na revolução do proletariado que hoje não podem mais negá-la. Seria algo como dizer: “tudo que escrevi era besteira e minha vida toda foi inútil”.

O homem que desenvolveu a tese idiota, mais própria de histórias em quadrinhos, acaba de renegá-la. A imprensa, como se nem tivesse ouvido falar da retratação de Lovelock, continua batendo na tecla do aquecimento global. No Rio Grande do Sul, nestes dias, está sendo incensado como santo um maluco que assumiu a Hipótese Gaia, o José Lutzenberger. Os gaúchos, que parecem só ler Zero Hora, ainda desconhecem as notícias do mês passado da imprensa internacional.

Nietzsche já nos alertava sobre o quanto fede o cadáver de um deus morto. É fácil construir religiões. Difícil é descontruí-las. Como aconteceu com o marxismo, a nova fé começará a morrer no mundo desenvolvido. Cá entre nós, botocudos, continuará a gozar de boa saúde pelas próximas décadas.

15 de maio de 2012
janer cristaldo

QUANDO O HUMOR RETRATA A REALIDADE 9

PPS CRITICA O PROGRAMA "BRASIL CARINHOSO"

PPS critica o “Brasil Carinhoso”, programa rebatizado que ajudará o PT nas eleições municipais



Plano em ação – O PPS divulgou, nesta terça-feira (15), nota em que critica a forma como o governo federal trata a questão social no País. Para o partido que integra a oposição ao Palácio do Planalto, o lançamento do programa Brasil Carinhoso, mera elevação do valor do benefício do programa Bolsa Família, é a reinauguração pela presidente Dilma de “promessas já feitas” durante a campanha eleitoral de 2010.

De acordo com a nota, o governo de Dilma Vana Rousseff fez grande estardalhaço publicitário para relançar um programa fracassado, o ProInfância, rebatizado de “Brasil Carinhoso” e atrelado diretamente ao aumento do Bolsa Família.

O presidente nacional do PPS, deputado federal Roberto Freire (SP), entende que o Bolsa Família deveria ser um programa emergencial, ao passo que o governo, por tudo o que anuncia com a conhecida pirotecnia, tem a obrigação moral de “construir uma política de geração de emprego e renda”, ao invés de insistir na distribuição de dinheiro público sem qualquer tipo de contrapartida.

O lançamento do programa “Brasil Carinhoso” não aconteceu por acaso. Foi uma obra planejada e premeditada, pois o Palácio do Planalto sabe da necessidade de manter intacto e coeso o curral eleitoral no em que o PT almeja conquistar o maior número possível de prefeituras. Trata-se do financiamento público de campanhas, por via indireta, ao arrepio da opinião do contribuinte.

15 de maio de 2012
ucho.info

OS COFRES PÚBLICOS

 
Merval Pereira
Até parece que o deputado Miro Teixeira, do PDT do Rio, estava adivinhando quando, antes mesmo de a CPI começar formalmente seus trabalhos, anunciou que um dos seus objetivos principais deveria ser a garantia de que o dinheiro eventualmente desviado dos cofres públicos fosse devolvido. Por isso, encaminhou proposta de indisponibilidade dos bens de pessoas e empresas suspeitas de envolvimento no escândalo.

Num país em que o dinheiro roubado dos cofres públicos quase nunca é restituído, essa seria uma decisão fundamental da CPI. Segundo dados oficiais da Controladoria Geral da União (CGU), do total de recursos desviados em casos de corrupção na esfera Federal em 2011, só 15,39% foram recuperados, num total de R$ 2,14 bilhões. A meta para este ano é aumentar para 25% essa restituição.

A lista de Miro incluía o bicheiro Carlinhos Cachoeira, o senador Demóstenes Torres, o empresário Fernando Cavendish, dono da construtora Delta, e empresas-fantasmas ligadas à empreiteira identificadas nas investigações da Polícia Federal.

Com o anúncio da venda da empreiteira para uma empresa de outro ramo de negócio que tem o BNDES como sócio – a J&F Participações é uma holding que controla a empresa de alimentos JBS, a de higiene e limpeza Flora, a de papel e celulose Eldorado Brasil e o banco Original -, Miro pediu imediatamente ao Ministério Público Federal providências para impedir a venda, com o objetivo de garantir que, em caso de condenação por corrupção, o dinheiro possa ser restituído.
Para tanto, pediu que fossem relacionados e tornados indisponíveis todos os bens da empreiteira, para evitar “essencialmente que bandidos encontrem no crime uma atividade lucrativa e vantajosa”.

O procurador regional da República Nívio de Freitas Silva Filho requereu a abertura de inquérito civil público para apurar possíveis irregularidades na venda da construtora Delta ao grupo J&F, e o pedido será analisado pela área de Patrimônio Público, que pode estar sendo afetado já que o BNDES, um banco público, tem 30% da empresa.

O temor é que a venda faça parte da desconstrução da empreiteira que estava em curso desde que a CPI foi instalada, com o objetivo de tentar fazer com que ela desaparecesse do noticiário e, pelo visto, da vida real também.

A Delta já saíra das obras do Maracanã e das obras da Petrobras, como que para se desligar dos governos estadual do Rio e Federal, em que, ao final de 2011, era a principal fornecedora do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), com contratos avaliados em mais de R$ 2 bilhões.
A prisão de seu diretor para o Centro-Oeste, Cláudio Abreu, fez com que o relator da CPI quisesse restringir as investigações da empreiteira àquela região do país, e, mesmo depois das evidências de que essa atitude fora rejeitada pela CPI, ele insiste em começar as investigações sobre a empreiteira pelo diretor preso.

Como o próprio deputado Miro Teixeira disse na abertura dos trabalhos, quando se discutia a organização dos depoimentos, “réu preso tem preferência”. O que não quer dizer que o empreiteiro Fernando Cavendish não tenha necessariamente que ser ouvido, ainda mais agora, depois do anúncio da venda em tempo recorde.

A CPI terá condições de investigar qual a verdadeira relação do bicheiro Carlinhos Cachoeira com a empreiteira, pois a promiscuidade dos negócios de ambos sugere que Cachoeira tem mais a ver com a Delta do que os documentos demonstram.

As transferências de dinheiro da Delta para empresas do bicheiro estão sendo também investigadas, depois dos depoimentos dos delegados da Polícia Federal que atuaram nas operações Vegas e Monte Carlo.

“Se a Delta fez transações com empresas-fantasmas, se envolveu em negócios escusos, como é que a solução é vendê-la? Eles metem o dinheiro no bolso?”, questiona o deputado Miro Teixeira, que pediu ao MPF o cancelamento do negócio como “medida assecuratória”.

Tenho me referido aqui na coluna ao fato de que os que pretendem convocar o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, para depor na CPI o fazem por causa da denúncia do mensalão, mas essa referência genérica leva a um entendimento incorreto sobre o autor da denúncia do mensalão, que foi seu antecessor, o ex-procurador-geral da República Antonio Fernando de Souza.
A CPI terá condições de investigar qual a verdadeira relação do bicheiro Carlinhos Cachoeira com a empreiteira
Gurgel foi o autor das alegações finais do caso do mensalão, já em 2011, e terá, por decisão do plenário do Supremo, cinco horas para fazer a acusação no julgamento.
As alegações finais, também ato processual como a denúncia, são uma manifestação das partes sobre a procedência ou improcedência da acusação estampada na denúncia, e devem se limitar aos fatos narrados na denúncia, às provas coligidas na instrução criminal, questões processuais e pedido de condenação ou absolvição.

As alegações finais do MP não podem acrescentar um milímetro à denúncia, qualquer modificação só é possível através de um aditamento à denúncia.
Foi o que o então procurador-geral Antonio Rangel fez retirando do rol dos acusados o ex-ministro Gushiken, por falta de provas, mantendo todas as demais acusações.

A Comissão da Verdade anunciada ontem pelo Palácio do Planalto tem uma composição à altura da responsabilidade da sua missão, que é a de revelar detalhes históricos que foram sonegados ao cidadão brasileiro pela falta de transparência característica das ditaduras e geralmente por força da censura à imprensa.

O mesmo governo que criou a Comissão da Verdade não pode, portanto, ser responsável pela tentativa de cercear a liberdade de expressão com o projeto de um suposto “controle social da mídia”, que não passa de uma tentativa de censura que não tem a coragem de assumir a intenção.

Merval Pereira
15 de maio de 2012
Fonte: O Globo

SO O CRESCIMENTO ECONÔMICO PODE SALVAR

O grande e imortal Jornalista Helio Fernandes, quando escrevia em sua velha guerreira e nacionalista Tribuna da Imprensa, inúmeras vezes destacou importantes pontos da economia brasileira, propositalmente ignorados pelos economistas “chapa branca” e da grande imprensa “livre”.


Dentre esses pontos, o formidável e importantíssimo mercado interno do Brasil, hoje em 200 milhões de consumidores. Para uma rápida visão de sua importância, 200 milhões de consumidores brasileiros é maior que a população de consumidores da Argentina, França, Inglaterra e Portugal, juntos.


Além dessa vital questão, Helio Fernandes sempre destacou a mortal violência dos altos e entreguistas juros praticados no Brasil. Fatal para a indústria, para o comércio e para os serviços.
Por conta do esquecido e fantástico mercado interno, a presidente Dilma Rousseff deve prosseguir com toda força possível na acertada rota de redução da Selic, que nos desastrados tempos FHC/PSDB chegou a mais de 45% ao ano, causando milhares de desempregados e de falências.


Já estamos a 9% ao ano – ainda muito alta. Temos que situá-la na faixa de 4% a 5%. Ainda seria altíssima para o primeiro mundo. Mas, como os nossos meios de produção de riquezas, forçados a aprender a trabalhar com estratosferas taxas de juros, com Selic na faixa de 4% a 5%, a nossa economia passaria a crescer a mais de 8% ao ano. Sem dúvida alguma.


A importância vital de juros baixos pode ser evidenciada na política econômica dos EUA, que assim que percebeu o tamanho do buraco econômico e financeiro que estava entrando, imediatamente reduziu os seus juros para a faixa de zero a 0,25% ao ano. Não são idiotas nem incompetentes.


Outra medida importante é prosseguir desvalorizando nossa moeda visando aquecer as exportações brasileiras, melhorando as condições para enfrentar a feroz concorrência externa numa hora de grande crise econômica. A China, que de boba nada tem, sempre soube manter sua moeda bem desvalorizada, para o total desespero dos EUA. Por isso e por outras razões, há mais de 40 anos a China vem crescendo a invejáveis sucessivas taxas, por diversas vezes, ultrapassando 11%, ao ano.


Juros mais baixos, junto com moeda brasileira mais desvalorizada, a possibilidade de formidáveis crescimentos econômicos, por anos e anos seguidos, é coisa garantida. Será a alegria da indústria, do comércio e dos serviços, principalmente de nosso povo – felicidade ampla e geral do Brasil.


Só os banqueiros vão chorar. São avarentos e ingratos. Se tivessem a coragem e a grandeza de devolver 50% da sideral fortuna acumulada só nessas últimas cinco décadas, ainda assim, continuariam bilionários. Quem sabe, não iriam arder eternamente nas labaredas do inferno.

15 de maio de 2012
Welinton Naveira e Silva

NOTA AO PÉ DO TEXTO

Creio que mais adequado seria o binômio ÉTICA&ECONOMIA, a que se pode agregar competência
no tratamento da desigualdade social.
m.americo

O PARECER DE LULA SOBRE COLLOR

O parecer de Lula: ‘Deve haver qualquer sintoma de debilidade mental no funcionamento do cérebro de Collor’

ALAGOAS/LULA/ADUTORA

Em 1993, pouco depois do despejo de Fernando Collor, o radialista Milton Neves quis saber o que Lula achava do adversário escorraçado do gabinete presidencial por ter desonrado o cargo.

“Você tem pena de Fernando Affonso Collor de Mello?”, pergunta o entrevistador no começo do áudio.
Ouça a resposta de Lula.



“Tenho. Não é que eu tenho pena. Como ser humano eu acho que uma pessoa que teve uma oportunidade que aquele cidadão teve de fazer alguma coisa de bem para o Brasil, um homem que tinha respaldo da grande maioria do povo brasileiro, ou seja.
E ao invés de construir um governo, construir uma quadrilha como ele construiu, me dá pena, porque deve haver qualquer sintoma de debilidade no funcionamento do cérebro do Collor.

Efetivamente eu fico com pena, porque eu acho que o povo brasileiro esperava que essa pessoa pudesse pelo menos conduzir o país, se não a uma solução definitiva, pelo menos a indícios de soluções para os velhos problemas que nós vivemos.

Lamentavelmente a ganância, a vontade de roubar, a vontade de praticar corrupção, fez com que o Collor jogasse o sonho de milhões e milhões de brasileiros por terra.

Mas de qualquer forma eu acho que foi uma grande lição que o povo brasileiro aprendeu e eu espero que o povo brasileiro, em outras eleições, escolha pessoas que pelo menos eles conheçam o passado político”
Como informa a foto na abertura do post, os dois viraram amigos de infância. Collor continua o mesmo. E Lula também não mudou: só deixou de fingir que era o que nunca foi.

15 de maio de 2012
augusto nunes

NOTA AO PÉ DO TEXTO


Escreveu Marx que a história somente se repete como farsa. Hoje, que o Brasil - com algum exagero, pois o Brasil é grande demais e abriga cerca de 200 milhões de brasileiros, e quantos deles conhecem a verdadeira história do lulopetismo - conhece os fatos que construíram os mandatos de Lula, parece ironia ouvi-lo falar em "quadrilha", em "traição do povo brasileiro", "a grande lição que o povo brasileiro aprendeu", "ganância", "vontade de roubar", "vontade de praticar corrupção"...
Em nenhum momento da história dessa República, se investiu com tanta fúria contra a ética, contra as instituições e o Estado de Direito. Em nenhum momento esse país assistiu ao espetáculo da corrupção, da desfaçatez, do enriquecimento ilícito, da improbidade, como nos dois mandatos lulopetista. "Nunca antes nesse pais" - o sarcástico refrão que imortalizou a farsa -  se  corrompeu tanto, em tão pouco tempo.
Ao assistir o vídeo, podemos entender o que realmente aconteceu, pois ele traça o perfil, de modo fidedigno, daquele que com "arte e engenho", próprio dos grandes mistificadores, fez da bandeira da ética o trunfo de suas conquistas, enganando tanta gente, tanto tempo, servindo apenas aos seus interesses e objetivos.
Collor, Sarney, Temer, Renan e quantos mais além dos "300 picaretas" - como se referiu aos congressistas - alvos anteriores de sua fúria destrutiva - transformaram-se em parceiros e co-autores dessa desgovernança.
E continuamos a assistir o triste espetáculo que ainda proporciona, com índices espantosos de popularidade, apesar de todo o mal que trouxe a essa nação...
m.americo

O FARSANTE ESCORRAÇADO DA PRESIDÊNCIA ACHA QUE O BANDIDO VAI PRENDER O XERIFE

Vinte anos depois de escorraçado do cargo que desonrou, o primeiro presidente brasileiro que escapou do impeachment pelo porão da renúncia reafirmou, nesta segunda-feira, a disposição de engrossar o prontuário com outra façanha sem precedentes.
Primeiro chefe de governo a confiscar a poupança dos brasileiros, o agora senador Fernando Collor, destaque do PTB na bancada do cangaço, quer confiscar a lógica, expropriar os fatos, transformar a CPMI do Cachoeira em órgão de repressão à imprensa independente e, no fim do filme, tornar-se também o primeiro bandido a prender o xerife.
Forçado a abandonar a Casa Branca em 1974, tangido pelas patifarias reveladas pelo Caso Watergate, o presidente Richard Nixon passou os anos seguintes murmurando, em vão, que não era um escroque.
Perto do que faria a versão alagoana, o que fizera o original americano não garantiria a Nixon mais que a patente de trombadinha. Como isto é o Brasil, Collor não só se negou a pedir desculpas como deu de exigir que o país lhe peça perdão por ter expulso do Planalto um chefe de bando.
Foi o que fez no discurso de estreia que colocou de joelhos os demais pensionistas da Casa do Espanto (leia o post reproduzido na seção Vale Reprise).

Neste outono, excitado com a instauração da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito destinada a apurar bandalheiras praticadas por Carlos Cachoeira e seus asseclas, o farsante sem remédio decidiu enxergar na CPMI as iniciais de um Comitê de Pilantras Magoados com a Imprensa.
Caso aparecesse no Capitólio em busca de vingança contra o jornal The Washington Post ou a revista Time, Nixon seria, na mais branda das hipóteses, transferido sem escalas para uma clínica psiquiátrica. Nestes trêfegos trópicos, um serial killer da verdade articula manobras liberticidas com a pose de pai da pátria em perigo ─ e com o apoio militante de inimigos do século passado.

José Dirceu, por exemplo, embarcou imediatamente no navio corsário condenado ao naufrágio ─ ansioso por incluir entre os alvos da ofensiva a Procuradoria Geral da República. E Lula, claro, estendeu a mão solidária para reiterar que os dois ex-presidentes nasceram um para o outro. Em 1993, como se ouve no áudio reprisado pela seção História em Imagens, a metamorfose ambulante endossou, sempre em português de botequim, a opinião nacional sobre a farsa desmontada pouco antes:
“Lamentavelmente a ganância, a vontade de roubar, a vontade de praticar corrupção, fez com que o Collor jogasse o sonho de milhões e milhões por terra”, disse Lula, caprichando na pose de doutor em ética. “Deve haver qualquer sintoma de debilidade no funcionamento do cérebro do Collor”.

O parecer foi revogado por Lula, mas segue em vigor no país que presta. Entre os brasileiros decentes, a cotação do ex-presidente é mesma estabelecida em 1992: zero. Há quase 20 anos, Collor não vale nada.

HOLLANDE ASSUME E QUER UM PACTO PELO CRESCIMENTO DA EUROPA

O presidente francês, François Hollande, afirmou que pedirá aos parceiros europeus de seu país que deem apoio a um pacto que una os objetivos de redução de déficit e estímulo econômico.

O socialista Hollande deu a declaração em seu discurso de posse antes de uma viagem a Berlim, onde pedirá à chanceler (primeira-ministra) alemã, Angela Merkel, que ajuste um pacto fiscal acordado por líderes europeus em março para incluir um compromisso pró-crescimento.

“Vou propor a meus parceiros europeus um pacto que alie a redução necessária do déficit ao estímulo indispensável da economia”, disse Hollande, que venceu a eleição de 6 de maio e substituiu Nicolas Sarkozy nesta terça-feira.

O CANASTRÃO INVADE O PALCO PARA PERSEGUIR UM EMPREGO NO PAPEL DE CABO ELEITORAL


O ator José de Abreu só consegue escapar da multidão de coadjuvantes condenados à obscuridade perpétua quando desempenha na vida real o papel de militante do PT eternamente em busca de emprego no governo.

No momento, o companheiro Abreu persegue o cargo de ministro da Cultura fantasiado de cabo eleitoral de Fernando Haddad, candidato do partido a prefeito de São Paulo por ordem de Lula.

Para mostrar quem é a figura, a seção O País quer Saber republica o post de 6 de novembro de 2010. Com aliados assim, o Terror dos Estudantes nem precisa de adversários para naufragar nas urnas. Confira.

15 de maio de 2012
augusto nunes

EM MATÉRIA DE CARA-DE-PAU, O GOVERNADOR AGNELO QUEIROZ É MESMO INSUPERÁVEL

Acusado das mais diversas irregularidades, desde os tempos em que ainda era filiado ao PCdoB e ocupava uma das diretorias da Anvisa (Vigilância Sanitária), passando depois pelo Ministério do Esporte até chegar ao governo do Distrito Federal, já pela legenda do PT e sempre acumulando cada vez mais denúncias, o governador Agnelo Queiroz agora diz que pode ir depor na CPI do Cachoeira para dar o “bom exemplo” de um contrato assinado com a construtura Delta, vejam só a que ponto chegamos.

“Se eu for convidado, posso ir à CPI”, disse ele ao repórter Filipe Coutinho, da Folha, acrescentando que poderia explicar como o contrato assinado com a Delta representou uma economia de 40% para os cofres públicos.

O governador é um cara-de-pau ou um tremendo gozador. Em Brasília, todos sabem que o PT está pouco ligando para ele. Pelo contrário, está dando as costas para o neopetista. Recentemente, o Planalto e o PT o obrigaram a nomear para a Casa Civil um ex-assessor de Dilma Rousseff e de Lula, Swedenberger Barbosa, braço direito da presidente Dilma Rousseff e do ex-presidente Lula.

O motivo foi justamente a Operação Monte Carlo, que detonou o escândalo de Carlinhos Cachoeira.
O Palácio do Planalto já sinalizou, através do ministro Gilberto Carvalho, que entregaria Agnelo Queiroz à própria sorte. Mas a estratégia do PT comandada por José Dirceu foi a de nomear o interventor, como chefe da Casa Civil, na tentativa de estancar a sangria que Agnelo vem provocando na Capital da República desde a posse no início de 2011.

Outro agravante: o chefe de gabinete de Agnelo, Cláudio Monteiro, pediu afastamento do cargo após ser citado em conversas telefônicas de pessoas do grupo de Cachoeira. Em uma das conversas, é discutido um suposto pagamento de propina a Monteiro pelo sargento aposentado da Aeronáutica Idalberto Matias, o Dadá, e Cláudio Abreu, então diretor da Delta.

Monteiro também é citado com um dos que teriam celular antigrampo. Ele nega envolvimento com o grupo acusações, mas admite que se encontrou com Dadá por duas vezes, na condição de funcionário da Delta, empresa que faz a coleta do lixo em Brasília.

15 de maio de 2012
Carlos Newton

QUANDO O HUMOR RETRATA A REALIDADE 8



E ROLA A CABEÇA DO REI SARKÔ!

O homem fez pose de fenomenal grandeur, como neoimperial Libertador da Líbia – poucos anos depois de o coronel Muammar Gaddafi ter ajudado a financiar sua campanha eleitoral, com nada menos que límpidos 65 milhões de dólares.

Servindo-se de um misterioso pacto entre o Espírito Santo e uma camareira africana em New York, ele se livrou do adversário que já o desafiava e muito provavelmente o derrotaria na reeleição, o ex-diretor-geral do Fundo Monetário Internacional, Dominique Strauss-Khan, libertino assumido.

Bashir Saleh é ex-chefe de gabinete de Gaddafi e ex-presidente do Fundo Soberano Líbio. Foi o encarregado de ir e vir, quando Gaddafi decidiu financiar a campanha eleitoral de Sarkozy, em 2007.
O Rei Sarkô, como seria de prever, negou tudo e disse que processaria o Mediapart, website francês que revelou o que, para muitos, nem foi novidade.
Seja como for, dia 3 de abril, o ex-primeiro-ministro líbio Baghdadi Ali al-Mahmoudi confirmou tudo, outra vez. E disse exatamente o que o filho de Gaddafi e ex-aluno de prestígio da London School of Economics, Saif al-Islam, já dissera antes, em março de 2011: “Sarkozy que devolva todo o dinheiro que aceitou da Líbia, para pagar sua campanha presidencial.”

Saleh está na lista de procurados da Interpol, mas permanece na França, autorizado pelo regime rebelde da OTAN na Líbia, o qual, simultaneamente, também diz estar à procura dele. Guarda com ele confortáveis US$ 5,2 milhões, bem próximo da fronteira suíça, com vista para o Mont Blanc.

Tudo isso protegido pela polícia do Rei Sarkô, que disse que o negócio todo é feito com “pleno conhecimento e acordo do presidente [do Conselho Líbio de Transição] Abdel Jalil”. A vida é bela. E Saleh foi visto badalando no Ritz, em Paris.

COMISSÃO DA VERDADE: SE NÃO É REVANCHISMO, É O QUÊ?

O revanchismo está implícito e explicito, dá para ver em todos lugares, não é de hoje que as Forças Armadas vêm sofrendo com os desfeitos concebidos pelo governo, o desmantelamento e sucateamento são provenientes desse revanchismo, a falta de investimento que vem gerando a decadência da tropa, vem matando nossos soldados. Desafio o Ministério Público a entrar nos Batalhões Históricos caindo aos pedaços.

Os militares, para se ter alguma regalia, têm que tirar dinheiro do próprio bolso e investir na própria unidade para ter um lugar decente para dormir e em muitas vezes para comer, os armamentos são obsoletos da década de 60, por mais que se faça a manutenção, vêm matando nossos soldados em todo o Brasil com disparos “acidentais”.

Quem não viu as viaturas do Exercito enguiçadas pela cidade? E o porta-aviões São Paulo, da segunda Guerra, que matou um soldado este ano com um acidente mal explicado, já é a segunda vez que se envolve nesse tipo de problema?

A base de pesquisas da Antártida foi incendiada com a morte de dois militares por falta de investimento para se fazer o básico. A base de lançamentos de foguetes de Alcântara no Maranhão teve a plataforma incendiada com 21 técnicos e engenheiros mortos, e muitos outros casos que vem ceifando vidas devido à falta de investimento, sendo claras as motivações políticas de revanchismo.

Não satisfeitos pelo corte de verba para as necessidades básicas de sobrevivência da tropa, os políticos se voltaram contra o pessoal diretamente, os integrantes da Forças Armadas, que nada tiveram a ver com os fatos ocorridos nas décadas de 60 e 70. Foram e estão sendo afetados, e mais se degrada o soldado, afetando-o diretamente através do corte dos salários que é refletido em sua família.

É verdade que o soldado apresenta uma simbiose que faz desenvolver suas tarefas em qualquer meio por mais degradante que seja, mas quando afeta as suas famílias, não. O militar das Forças Armadas incorporava 1% do soldo a cada ano trabalhado, similar aos triênios que são concedidos, até hoje, às forças auxiliares. Foram cortados, a licença especial que tem direito a ficar seis meses de descanso a cada cinco anos trabalhados, idem, fato que é concedido as Forças Auxiliares até hoje. E o pior, o rebaixamento indireto sobre a patente, o aumento do interstício, tempo que o militar leva para ser promovido, que aumentou de 4,5 anos para 8 anos, ou seja, um aumento de 77,7% no tempo para ser promovido, entre outras ofensivas, que se descritas vão nos estender e muito.

O soldado Brasileiro recebe 900 reais por mês, o recruta menos de um salário mínimo, o soldado brasileiro está sobre fogo amigo constantemente mas me parece que os políticos não sabem o que eles são!!

Todos os benefícios que são concedidos pelas forças auxiliares, como isenção de IPI na compra de carros, financiamento de imóveis a juros baixo, não são estendidos aos integrantes da Forças Armadas.

As forças auxiliares não tiveram redução de seus salários, pelo contrário adquiriram alguns benefícios, que não é o caso das Forças Armadas, evidenciando claramente um tratamento diferenciado que caracteriza o revanchismo que causa o desmantelamento e sucateamento. E, por consequência, mortes.
Assim são as Forças Armadas, subjugadas pela hierarquia !!!

15 de maio de 2012
Prentice Franco

DO FLAGELO PARTIDÁRIO AO OCASO DA OPOSIÇÃO

O Brasil deve estar em festa. Faz pouco, foi anunciada a criação do 30º partido político nacional. Sim, caro leitor, você não leu errado, temos a fantástica cifra de 30 agremiações partidárias! No entanto, uma simples pergunta insiste em navegar perdida nos mares de meus pensamentos: será que temos ao menos 30 políticos autênticos? Caso não consiga apresentar-me uma resposta nominal, fique tranquilo: o questionamento, que não quer calar, seguirá falando por si só.

É lamentável e assustador ter de conviver com a suposição de que inexista um político digno para cada partido. Aliás, talvez fosse melhor ter apenas pedido meio político, pois, assim, bastariam 15 potenciais candidatos a políticos inteiros. Seria aquela velha fórmula de dois para valer um, ou seja, em matéria política a matemática é inexata. Enfim, vivemos um tempo tão paradoxal que não é de duvidar que haja mais partidos do que políticos de boa cepa.
Será? E se sim, por quê?

Bem, esse descalabro dos quadros políticos tem nome e sobrenome: tibieza partidária. Enquanto os partidos brasileiros forem uma confraria de amigos, não podemos esperar muita coisa. Ora, não existe política alta sem partidos fortes. E, como sabido, partidos não são erguidos com improvisações.

Infelizmente, a história partidária brasileira tem como marca o flagelo institucional. Sem cortinas, é possível dizer que durante a República Velha a insinceridade era o traço das urnas – poderíamos ter usado um termo mais penetrante, mas vamos ser delicados e convir que insinceridade já diz o que tem de dizer. Nesse contexto, a busca da lisura eleitoral foi um dos objetivos do Código Assis Brasil. Por falar no bom e velho Joaquim Francisco de Assis Brasil, é oportuno lembrar que em 1928 foi fundado o Partido Libertador e entre seus princípios norteadores estava a imposição do voto secreto como condição impreterível da moralidade dos pleitos. O Código Eleitoral de 1932 foi, nessa medida, uma reação à falta de probidade e igualdade das eleições.

Enquanto os partidos brasileiros forem uma confraria de amigos, não podemos esperar muita coisa
Com o advento Estado Novo, os partidos vieram a ser extintos em dezembro de 1937. Concomitantemente ao movimento nacional de retomada da liberdade, os partidos ressurgiram em 1945, com a exigência de que deveriam ser de âmbito nacional. A ferro e fogo, os partidos foram criando corpo, unindo semelhantes e afastando dissidentes.

Aos poucos, com muito tato e labor artesanal, um esboço de vida partidária voltou a ser desenhado no País. Todavia, traindo os preceitos que ensejou, o movimento de 1964 fez o que fez: para atender aos interesses do arbítrio, ou ao arbítrio dos interessados, os partidos foram novamente extintos, pelo malsinado Ato Institucional n.º 2, de outubro de 1965.

A partir daí tivemos um bipartidarismo forçado e perneta, pois um dos partidos tinha de ser másculo e potente, enquanto o outro haveria de ser esquálido e frágil; um tinha de ganhar todas, o outro estava condenado a viver na derrota permanente. Acontece que, como dizia a inteligência luminosa de Otávio Mangabeira, ninguém pode tudo, ninguém pode sempre. Cedo ou tarde, aquilo que agride a natureza das coisas desmorona sobre suas pífias estruturas.

Enquanto esse bipartidarismo de fantasia atendeu aos donos do poder, o modelo foi mantido. Mas incompreensivelmente, como num passe de mágica, os ventos mudaram, trazendo novos interesses, e em 1979 se voltou a permitir o que estava proibido. Foi partido para cima, para baixo, para a direita, para a esquerda… Em judiciosa expressão, foi o “facilitário partidário”.

O objetivo da medida, fracionar a oposição, que, apesar de todas as dificuldades e dos impedimentos, ganhava força nas ruas e arregimentava crescentes fiéis para a causa democrática. A Constituição de 88 consagrou a livre criação, fusão, incorporação e extinção dos partidos. Com a volta do clima democrático, foi natural a explosão de instituições partidárias. Nesse fértil terreno de siglas e mais siglas, para não dizer letras sobre letras, a decisão do colendo Supremo Tribunal Federal no sentido de assegurar a fidelidade partidária, bem como o recente pronunciamento sobre a constitucionalidade da Lei da Ficha Limpa deixam a palpável esperança de que algo positivo começa a delinear-se.

Como se vê, resta claro e incontestável que a acidentada vida partidária brasileira é um elemento que não pode ser desconsiderado no tabuleiro incoerente da política nacional. Com a chegada do PT ao governo foi possível ver que o discurso cândido de outrora não passava de conversa pra boi dormir. Nossos políticos e partidos são muito parecidos. Ocasionalmente discutem em público, mas ao cair da noite se deitam na mesma cama, fazendo juras de amor.

Olhando as coisas como estão, independentemente do que aconteça, com um sol bonito ou no relampejar das trovoadas, o PMDB será sempre governo; o PDT ainda busca um norte pós-Brizola; o DEM, especialmente após o caso Demóstenes, parece estar rumo ao ostracismo; o PSDB, para fazer uma oposição madura e aguerrida, precisa voltar a ter coesão interna e deixar as vaidades pessoais de lado; Kassab precisa decidir se é de direita ou de esquerda, pois, quem tudo quer acaba sem nada; e o PSOL e o PV precisam ganhar mais corpo e representatividade coletiva.

Caso tenha esquecido alguém ou algum, esclareço que foi por lapso involuntário. Falando nisso, lembrei-me de mais um personagem que não poderia deixar de ser mencionado: afinal, “nunca antes na História deste país” ocorreram fatos tão alarmantes. Entre tantas incertezas e incredulidades, é imperioso reconhecer que o lulismo foi ou é um fenômeno que não pode ser ignorado, mas para falar desse assunto necessariamente teremos de analisar o esfacelamento do princípio da legalidade em favor de uma permissividade absoluta aos amigos do poder. Aí terei de escrever um artigo só sobre esse tema. Será que então terei a oposição de 30 com valor de 15? Aliás, qual o valor da oposição brasileira?

Sebastião Ventura Pereira da Paixão Jr
Fonte: O Estado de S. Paulo, 14/05/2012

O CHEFE - CAPÍTULO 19



Capítulo XIX

Apesar do desgaste, Lula defendeu José Sarney
e retribuiu apoio recebido no caso do mensalão

O mundo político foi marcado pela eleição de José Sarney (PMDB-AP) à presidência do Senado no início de 2009. Se houvesse alguma dúvida sobre o papelão que os senhores parlamentares desempenhariam, naquele sétimo e penúltimo ano da era Lula, acabou desfeita com as primeiras palavras do novo segundo vice-presidente da Câmara dos Deputados e corregedor da Casa, Edmar Moreira (DEM-MG), eleito na mesma época. Edmar Moreira queria o fim dos julgamentos de deputados por falta de decoro parlamentar. Ninguém mais seria cassado. Propôs um vale-tudo.

É digno de nota o fato de que o novo corregedor responderia a inquérito no STF (Supremo Tribunal Federal) por suspeita de apropriação indébita de contribuições previdenciárias e crime contra a ordem tributária. O deputado mineiro não teria repassado para o INSS (Instituto Nacional de Seguro Social) um total de R$ 655 mil referentes a contribuições recolhidas dos salários dos funcionários de uma de suas empresas de segurança.

O histórico de Edmar Moreira incluía votos contra as cassações de sete deputados denunciados por envolvimento no escândalo do mensalão e a renúncia à vaga de titular do Conselho de Ética da Câmara. Motivo: ficou indignado com a rejeição de seu relatório absolvendo o deputado José Mentor (PT-SP), que não dera explicações consideradas razoáveis para um dinheiro depositado pelo valerioduto em sua conta bancária. Nem precisava: José Mentor acabou inocentado por seus pares. O elo com o PT proporcionara os votos necessários para Edmar Moreira eleger-se corregedor.

O que o tornou conhecido nacionalmente, contudo, foram as imagens de um castelo estapafúrdio, em estilo medieval, estampadas nos jornais de todo o País. A propriedade suntuosa virou um símbolo da imoralidade política. Acusado de esconder da Justiça Eleitoral o famoso Castelo Monalisa, avaliado em R$ 25 milhões, Edmar Moreira alegou que era dos seus filhos a construção erguida em área de 192 hectares, com 36 suítes dotadas de hidromassagem e torres de até sete andares, em São João do Nepomuceno (MG). O deputado sofreu outra acusação: teria gastado boa parte dos R$ 15 mil mensais da chamada verba indenizatória fornecida pela Câmara para contratar segurança privada. Em vez de usar o dinheiro para cobrir despesas do mandato com serviços de transporte, hospedagens e aluguel de escritórios, por exemplo, justificou o dispêndio de R$ 230 mil dos R$ 360 mil, num período de dois anos, com segurança pessoal.

Pior: Edmar Moreira apresentou notas de duas empresas de sua propriedade, a Ronda e a Itatiaia, como se tivessem sido contratadas por ele com o objetivo de protegê-lo. As investigações apontaram que a Ronda existiria apenas para emitir notas, a fim de justificar o uso da verba indenizatória.
As empresas estariam em situação pré-falimentar. O deputado não comprovou a prestação dos serviços. Ficou a forte suspeita de que amealhou os recursos públicos em benefício pessoal. O primeiro relator do caso Edmar Moreira perdeu o cargo após dizer que não via motivos para condenar nem pedir a cassação do colega. Palavras do deputado Sérgio Moraes (PTB-RS):
- Estou me lixando para a opinião pública.
O deputado do castelo não perdeu o mandato.

O destino das verbas indenizatórias tornou-se um escândalo recorrente nos anos Lula. Em 2006 mais de 100 deputados teriam apresentado notas fiscais falsas para justificar gastos com combustível. Provavelmente enfiaram o dinheiro no bolso. As investigações deram em nada. Ninguém foi punido. Em apenas dois meses de 2008, as notas apresentadas pelos senhores deputados justificaram compras de 1 milhão de litros de gasolina, o suficiente para dar 250 voltas ao redor do planeta. Se o leitor permite outra comparação, 1 milhão de litros de combustível daria para fazer 25 viagens da Terra à Lua.

Ainda antes do Carnaval de 2009, uma bomba: inconformado com a eleição de José Sarney para a presidência do Senado, o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) concedeu entrevista ao repórter Otávio Cabral, da revista Veja, e acusou Sarney de não ter compromisso ético. Atacou o próprio partido, "uma confederação de líderes regionais, cada um com seu interesse, sendo que mais de 90% deles praticam o clientelismo, de olho principalmente nos cargos".
- Para que o PMDB quer cargo?
- Para fazer negócios, ganhar comissões. Alguns ainda buscam o prestígio político. Mas a maioria dos peemedebistas se especializou nessas coisas pelas quais os governos são denunciados: manipulação de licitações, contratações dirigidas, corrupção em geral. A corrupção está impregnada em todos os partidos. Boa parte do PMDB quer mesmo é corrupção.

Jarbas Vasconcelos não perdoou Lula. Para ele, o presidente era chefe de "um governo medíocre". Segundo o senador pernambucano, Lula "havia se comprometido com a sociedade a promover reformas e governar com ética. Com o desenrolar do primeiro mandato, diante dos sucessivos escândalos, percebi que Lula não tinha compromissos com reformas ou com ética".
Sobrou também para o partido do presidente: "O PT denunciava todos os desvios, prometia ser diferente ao chegar ao poder. Quando deixou cair a máscara, abriu a porta para a corrupção. O pensamento típico do servidor desonesto é: 'Se o PT, que é o PT, mete a mão, por que eu não vou roubar?'"

A entrevista teve repercussão nacional. Jarbas Vasconcelos não poupou o senador Renan Calheiros (PMDB-AL), alçado ao cargo de líder do PMDB no Senado com a eleição de José Sarney:
- Ele não tem nenhuma condição moral ou política para ser senador, quanto mais para liderar qualquer partido. Renan é o maior beneficiário desse quadro político de mediocridade em que os escândalos não incomodam mais e acabam se incorporando à paisagem.

O senador Pedro Simon (PMDB-RS) foi dos poucos a apoiar as investidas de Jarbas Vasconcelos contra o PMDB, o maior partido político do País:
- Acontecem essas mesmas coisas com os outros partidos, com PT, PSDB, DEM, PPS e PTB. Estamos em uma geleia geral. Acontece que alguns têm mais corrupção que outros porque são maiores.
Jarbas Vasconcelos não recuou:
- Não é de hoje que o PMDB tem sido corrupto. Mas Lula tem sido conivente com a corrupção. Não foi Lula ou o PT que inventaram a corrupção, mas essa tem sido a marca do governo dele, a marca do toma-lá-dá-cá.
- A impunidade estimula a corrupção. Se o governador, o senador e o deputado são corruptos e nada acontece, as pessoas logo pensam que também podem fazer corupção.
A retaliação não tardou. Renan Calheiros destituiu Jarbas Vasconcelos da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), um dos órgãos mais importantes do Senado. Lula só se pronunciaria após 40 dias, com a costumeira cara de paisagem, em visita ao Recife:
- Eu sempre tratei o senador Jarbas Vasconcelos tão bem e não sei por que ele, eleito senador, tem agredido tanto o governo.

Depois do castelo, certa mansão de R$ 5 milhões ganhou as páginas dos jornais. Seu ilustre morador, Agaciel Maia, diretor-geral do Senado, comprara o imóvel luxuoso em 1996, apenas um ano após assumir o cargo de chefão do Senado, escolhido por José Sarney, durante sua primeira gestão como presidente da Casa. As fotografias do casarão de 960 metros quadrados, erguido no Lago Sul, área nobre de Brasília, escandalizaram o País. Agaciel Maia registrou-o em nome do irmão, deputado João Maia (PR-RN), mas o imóvel não foi declarado à Receita Federal ou à Justiça Eleitoral.

A mansão derrubou Agaciel Maia do cargo. Durante 14 anos, ele comandou a máquina administrativa do Senado. Fez e desfez, num período em que José Sarney ocupou a presidência da Casa por três vezes. Exemplos: 4 mil postos de trabalho instituídos, mas apenas 150 preenchidos por concurso público. Os demais eram nomeações políticas. Cerca de 700 funcionários do Senado receberiam salários superiores a R$ 25 mil por mês em 2009, extrapolando o teto estabelecido pela Constituição. Para pagar as despesas o orçamento da Casa subiria de R$ 882 milhões a R$ 2,7 bilhões, em uma década. Triplicou.

Entre 2003 e 2005, na segunda gestão de José Sarney à frente do Senado, surgiriam 70% dos 181 cargos de diretor existentes na Casa. Tempos do primeiro mandato de Lula. As atenções, voltadas para o escândalo do mensalão, deixaram à vontade os senhores senadores. Por outro lado, José Sarney, competente operador de bastidores, havia feito o que estava a seu alcance para blindar Lula e livrá-lo do mensalão. No segundo mandato de Lula, porém, a confusão se instalaria no Senado e, como veremos, foi a vez de Lula retribuir. Os dois salvaram-se mutuamente. Antes de iluminarmos mais maracutaias no Senado e como Lula protegeu Sarney, tratemos de outro escândalo que sacudiu o Congresso em 2009: a farra das passagens aéreas.

Em 2 de abril, o jornal Folha de S.Paulo revelou que o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) gastou R$ 469 mil da sua cota de passagens aéreas para fretar jatinhos. Tasso Jereissati contestou o valor, mas admitiu ter usado R$ 358 mil na alocação de aeronaves. Outros três senadores reconheceram ter feito o mesmo: Mário Couto (PSDB-PA), Jefferson Praia (PDT-AM) e Heráclito Fortes (DEM-PI), primeiro-secretário do Senado.

Parlamentares trataram de converter as cotas em bilhetes para viagens de turismo. Levantamento do site Congresso em Foco constatou 1.855 viagens internacionais solicitadas por deputados, apenas no período entre janeiro de 2007 e outubro de 2008. A pesquisa apontou os campeões, aqueles que fizeram o maior número de requisições para deslocamentos ao exterior naquele espaço de tempo. Os cinco recordistas: Dagoberto Nogueira (PDT-MS), com 40 viagens; Léo Alcântara (PR-CE) e Marcelo Teixeira (PR-CE), com 35 cada um; Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP), com 29; e Jilmar Tatto (PT-SP), que cravou 28 viagens.

O presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), também usou bilhetes aéreos comprados com dinheiro público para viajar. Foi com a mulher para a França e gastou passagens para curtir a Bahia com o irmão e outros três familiares. Os deputados Ricardo Berzoini (PT-SP) e Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidentes nacionais dos respectivos partidos, usaram a cota para distribuir benesses. Ricardo Berzoini forneceu bilhete para a filha ir a Argentina. Rodrigo Maia levou a mulher e a filha a Nova York. Bancou também bilhete ao mesmo destino para uma prima. A mulher de Rodrigo Maia ainda foi a Paris e Londres.

Ex-ministro do governo Lula, o deputado Eunício Oliveira (PMDB-CE) presenteou a mulher e a filha com passagens a Miami. O deputado José Genoino (PT-SP) carregou a mulher e o filho a Madri. Vic Pires (DEM-PA) levou parentes e até o namorado da filha a Miami. Monteiro Neto (PTB-PE) mandou emitir bilhetes para a mulher, a filha e o filho nas rotas Santiago, Madri e Buenos Aires. O líder do PP, deputado Mário Negromonte (BA), não economizou: cinco familiares para Nova York. José Carlos Aleluia (DEM-BA) viajou com a mulher e o filho a Paris e Londres.

O deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) cedeu passagem a que tinha direito para a filha ir ao Havaí. "Agi como se a cota fosse minha propriedade soberana. Confesso que caí na ilusão patrimonialista brasileira", reconheceu, depois. Eugênio Rabelo (PP-CE) bancou com verba da Câmara 77 bilhetes aéreos para jogadores e dirigentes de um time de futebol.

Outro festival foi comandado pelo deputado Fábio Faria (PMN-RN). Deu sete passagens aéreas à namorada. Usou sua cota de bilhetes pagos com dinheiro público para presentear terceiros com viagens aos Estados Unidos. Em uma ocasião, levou 12 pessoas a uma festa em Natal. Descoberta a farra, prometeu devolver R$ 23.748.

Mais viagens de deputados: José Sarney Filho (PV-MA) levou a mulher e o filho a Montevidéu, Buenos Aires, Santiago e Madri. José Aníbal (PSDB-SP) a mulher a Paris. Sandro Mabel (PR-GO) a mulher a Buenos Aires. Henrique Alves (PMDB-RN) a mulher e dois filhos a Buenos Aires, Miami e Nova York. Fernando Coruja (PPS-SC) a mulher e dois filhos a Buenos Aires e Paris. Ivan Valente (PSOL-SP) a mulher a Paris.

O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) usou a cota pessoal de passagens aéreas para custear viagens da namorada em território nacional. Também a levou a Paris. Informou ter restituído R$ 20.621 aos cofres públicos. Renan Calheiros (PMDB-AL) cedeu várias passagens a terceiros. Entre os beneficiados, o primo Ildefonso Tito Uchoa, o primo acusado de ser testa-de-ferro do senador.
A senadora Rosalba Ciarlini (DEM-RN) aproveitou a farra aérea. Com dinheiro público "pagou" viagens e até estadias em hotéis para ela, o marido, filhos, parentes e amigos. No Brasil e no exterior. A Folha de S.Paulo apurou que, em menos de um ano, de maio de 2007 a fevereiro de 2008, Rosalba Ciarlini usou a cota de bilhetes aéreos do Senado para proporcionar 240 viagens. Quase uma por dia.

Ao todo, somaram R$ 160 mil. Ela disse ao repórter Leonardo Souza que poderia usar a cota como quisesse:
- Eu cheguei aqui, senadora nova, a orientação era essa.
O deputado Inocêncio Oliveira (PR-PE) usou recursos públicos para adquirir passagens aéreas com destino a Nova York, Miami, Frankfurt e Milão em benefício da mulher, três filhas e uma neta. Depois, justificou:
- A família é sagrada, não tem nada demais.
Leandro Sampaio (PPS-RJ) lançou mão da cota e obteve 11 bilhetes para ele, parentes e amigos. Viajaram para Alemanha, Chile e Argentina. O deputado Nelson Marquezelli (PTB-SP) foi a Nova York e Buenos Aires. João Paulo Cunha (PT-SP) usou os bilhetes da Câmara dos Deputados para ir com a mulher e a filha a Bariloche, na Argentina. A assessora Silvana Paz Japiassu e outras três pessoas também ganharam passagens à Argentina.

Não foram apenas deputados que participaram da farra das passagens. Ex-deputados também. A Câmara arcou com bilhetes aéreos entre fevereiro de 2007 e dezembro daquele ano a 116 ex-parlamentares. Do total, 28 usaram as cotas que teriam sobrado da época do mandato para fazer mais de 20 voos cada um. Rasparam o tacho. Solicitaram e obtiveram 896 bilhetes aéreos. Os recordistas: Almeida de Jesus (PR-CE), um dos acusados de envolvimento no escândalo dos sanguessugas, com 81 passagens; Hamilton Casara (PSDB-RO), com 57 bilhetes emitidos; e Miguel de Souza (PR-RO), que usufruiu 56.

A lista dos 28 incluía o ex-ministro do Esporte de Lula, Agnelo Queiroz (transferiu-se do PC do B para o PT-DF em 2008), que depois assumiu o cargo de diretor da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária); Roberto Freire (PE), presidente nacional do PPS; Murilo Zauith (DEM), vice-governador de Mato Grosso do Sul; e Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP).

Ex-senadores não ficaram atrás. Onze deles pediram e foram atendidos, com 291 bilhetes aéreos. Mesmo fora do Senado usaram passagens aéreas da Casa em benefício próprio e de parentes e amigos. O vice-governador do Maranhão, João Alberto Souza (PMDB), pôs as mãos em 98 bilhetes. Usou 22 e mandou emitir os demais em nomes de terceiros. Rodolpho Tourinho (DEM-BA) tratou de obter 79 passagens. Roberto Saturnino Braga (PT-RJ), 54 bilhetes.

Joaquim Roriz (PMDB-DF), como se sabe, ficou no cargo apenas cinco meses. Renunciou para escapar de possível processo de cassação. Após sair do Senado, utilizou sete passagens. Teotônio Vilela (PSDB), eleito governador de Alagoas, não abriu mão da cota aérea dos tempos de senador. Requereu oito bilhetes. José Jorge (DEM-PE) virou ministro do TCU (Tribunal de Contas da União), mas pediu 14 passagens. Jorge Bornhausen (DEM-SC) usufruiu 13 viagens, sem contar os dois bilhetes para os netos irem a Nova York. Saíram da cota do deputado Paulo Bornhausen (DEM-SC). Por fim a ex-senadora Heloísa Helena (PSOL-AL). Usou seis passagens após o término do mandato.
Lula demorou a se manifestar. Mas também deu a sua opinião:
- Não acho um crime um deputado dar uma passagem para um dirigente sindical ir a Brasília. Quando eu era deputado, muitas vezes convoquei dirigentes da CUT e outras centrais para se reunir, com passagens do meu gabinete. Graças a Deus, nunca levei nenhum filho meu para a Europa. Mas um deputado levar a mulher para Brasília... Qual é o crime?
O crime, senhor presidente, é usar dinheiro público. Parlamentares ganham suficientemente bem para pagar do próprio salário passagens às digníssimas esposas. De relatório técnico do TCU (Tribunal de Contas da União):
"É flagrante que a utilização de passagens aéreas em viagens de férias com a família e turismo internacional, como nos casos reportados pela imprensa, caracteriza afronta aos princípios da legalidade, da moralidade e da impessoalidade."

Para o deputado Arnaldo Madeira (PSDB-SP), fornecer passagens para sindicatos, como Lula admitiu ter feito quando era deputado, é transgressão.
- A prática do presidente Lula é de banalizar a ética. Com essas declarações, ele está dizendo que ética é hipocrisia e todo o mundo deve se locupletar.

Comissão de sindicância instalada na Câmara dos Deputados identificou uma "máfia das passagens". Encontraram indícios de um esquema para vender bilhetes aéreos das cotas de parlamentares em 45 gabinetes. Ou seja, implicaria 45 deputados. Estranhamente, apenas dois poderiam ser responsabilizados. Os outros, tão ciosos, desconheciam que tinham bilhetes aéreos à disposição, deixando tudo nas mãos de espertos assessores...

Os deputados investigados eram Eugênio Rabelo (PP-CE) e Paulo Roberto (PTB-RS). Três outros talvez estivessem envolvidos. No restante dos casos, a culpa iria recair sobre os funcionários. Seriam eles que, em vez de emitir bilhetes pela internet para uso dos gabinetes, pegavam as senhas fornecidas pelas companhias aéreas e negociavam com agências de turismo de fachada que, por sua vez, vendiam as passagens para agências estabelecidas.

Uma das agências sem cadastro, a Morena Turismo, pertenceria a Pedro Damião Pinto Rabelo, que compraria passagens da uma funcionária do gabinete do deputado Nazareno Fonteles (PT-PI). Outra, a Special Tour, teria como representante Marco Aurélio Cunha Vilanova, apontado como funcionário-fantasma do gabinete do deputado Marcio Junqueira (DEM-RR).

Eugênio Rabelo e Paulo Roberto foram absolvidos. Não teriam participado do esquema de venda de passagens. O gaúcho Paulo Roberto, no entanto, seria apontado como suspeito de manter funcionários-fantasmas em seu gabinete e ficar com parte de seus salários.

A farra aérea respingou no governo Lula. Após a nomeação para o primeiro escalão da administração do PT, três ex-deputados usaram e distribuíram a parentes e amigos 64 passagens da Câmara. O ministro das Relações Institucionais, José Múcio (PTB-PE), enfiou no bolso 54 bilhetes. Foi ilustre passageiro por cinco vezes. Desfrutaram da mordomia filho, genro, sobrinho e primo. Voaram entre Brasília, São Paulo, Rio, Recife e Porto Alegre.

Os outros dois ministros que paparam passagens da Câmara dos Deputados são Reinhold Stephanes (PMDB-PR), da Agricultura, e Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), da Integração Nacional. Geddel, aliás, também voava em avião particular pelo interior da Bahia. O piloto, Francisco Meireles, era contratado como secretário parlamentar do deputado Edigar Mão Branca (PV-BA), que assumiu o mandato como suplente de Geddel Vieira Lima. Salário do piloto do ministro, pago pela Câmara dos Deputados: R$ 8.040. De Edigar Mão Branca, sobre as atribuições do alto cargo público de Francisco Meireles:
- Comigo aqui a ordem é fazer qualquer coisa, a qualquer hora, o que for necessário.
Mais um ministro de Lula enrolado: Hélio Costa (PMDB-MG), das Comunicações. Usou passagens do Senado para ir com a família a Miami. Os bilhetes saíram da cota do suplente de Hélio Costa no Senado, Wellington Salgado (PMDB-MG), que também cedeu um cargo do gabinete para rechear a conta bancária da secretária do ministro, Eliana Maria Ros. Ela recebia até hora extra do Senado.

Salário dela: R$ 7.484. A propósito: Alexandre Costa, filho do ministro, foi nomeado no gabinete do senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA), de onde só saiu exonerado depois de acusado em 2008 de ser funcionário-fantasma. Em 2009, já fazia mais de seis anos que Januário Rodrigues, motorista da família de Hélio Costa em Belo Horizonte, estava comissionado em Brasília. Nos últimos tempos, como funcionário de Wellington Salgado. Como senador, Hélio Costa teria abrigado em seu gabinete, durante cinco anos, um repórter de uma rádio de Minas Gerais.

Hélio Costa também se enrolou no caso dos ministros de Lula que receberam auxílios-moradia suspeitos, pagos pelo Senado. Além dele, que teve o salário engordado ao longo dos anos em R$ 178.600, o ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento (PR-AM), recebeu R$ 110.200, e o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão (PMDB-MA), R$ 57.000. Total de auxílio-moradia nas contas bancárias dos três: R$ 345.800. O benefício não exigia apresentação de notas ou qualquer comprovação de despesas.

Edison Lobão, aliado de José Sarney, empregou o estudante Luiz Gustavo Amorim, namorado de Rafaela Sarney, neta de Sarney, no Ministério de Minas e Energia. Com salário de R$ 2.518, o rapaz não apareceria no trabalho. Enquanto ocupou o cargo de senador, Edison Lobão manteve como assessora parlamentar a nora Marta Fadel Lobão, casada com o filho Márcio Lobão.
E mais: após se afastar do Senado para ser ministro de Lula, Edison Lobão continuou a receber auxílio-moradia destinado aos senadores, no valor de R$ 3.800 por mês. A mulher dele, deputada, também. Recebia R$ 3.000 por mês, da Câmara. Com agravante: o casal morava em casa própria em Brasília.

O jornal O Globo relatou que a mulher do ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc (PT-RJ), Maria Margarida Galamba de Oliveira, estava empregada no gabinete da deputada Cida Diogo (PT-RJ). Ela foi contratada por R$ 4.020, para trabalhar de terça a quinta-feira, apenas três semanas após uma funcionária e parente de Cida Diogo, Flávia Martins Marques, ser nomeada, por R$ 5.967, no Ministério do Meio Ambiente. Tudo em família.
Lula não fez comentários sobre a conduta de seus ministros. Nem tomou qualquer providência. Ficou por isso mesmo.

Já foi mencionado que, às escondidas, o Senado criou 181 cargos de diretor, mais que dois postos de direção para cada um dos 81 senadores. A esbórnia, como definiu o jornal O Estado de S. Paulo, foi explicada pelo senador Pedro Simon (PMDB-RS): "É coisa feita para o cara ganhar mais". As diretorias de fachada que não acabavam mais remuneravam muito bem: salários em torno de R$ 20 mil. Dois exemplos: Diretoria de Apoio Aeroportuário, para facilitar o embarque de senadores, parentes e amigos no aeroporto de Brasília, também conhecida como diretoria de fura-fila ou de check-in; e Diretoria de Visitação, para acompanhar os turistas que percorriam as dependências do Senado.

Descobriu-se ainda que o Senado adotara a prática de editar atos secretos para instituir cargos, aumentar salários e nomear parentes e amigos, sem divulgá-los em publicações oficiais, sem levar a conhecimento público. Ao todo, foram 544 atos secretos em 14 anos, período em que Agaciel Maia deu as cartas no Senado. Quem denunciou foi o jornal O Estado de S. Paulo. Mandaram às favas o princípio da moralidade na administração pública, que pressupõe transparência no uso do dinheiro público. Com medidas sigilosas criaram, por exemplo, assistência vitalícia odontológica e psicológica a maridos e mulheres de ex-parlamentares. Autorizaram servidores a parcelar em até 99 vezes créditos consignados. Tiveram a coragem de reajustar o auxílio-alimentação dos servidores, com valores retroativos a 12 meses.

Com os atos secretos, espertalhões deixaram escondidos em gavetas textos sucintos, desprovidos de numeração e com decisões suspeitas. Consolidaram ações polêmicas como a de acabar com limitações para 800 servidores efetivos fazerem horas extras. Com conhecimento discreto dos senhores senadores, Agaciel Maia espalhou benesses e multiplicou contratos com empresas terceirizadas. Servidores em viagem ao exterior foram autorizados a receber diárias além dos dias específicos de trabalho. Aumentaram as gratificações de chefes de gabinete de secretarias. Tornaram permanentes adicionais salariais. Instituíram comissões e espalharam conselhos só para proporcionar gordos jetons (adicionais de salários) a funcionários.

Ato secreto supostamente autorizado por José Sarney criou uma gratificação-fantasma em 2003. A medida teria implicado despesas de R$ 20 milhões em seis anos. Funcionava assim: servidores de nível médio, desde que indicados para cargos de chefia, passavam a receber um bônus que elevava os ganhos como se já tivessem no final da carreira de nível superior. Haveria mais de 100 casos nessa situação no fim de 2009. Gente ganhando mais de R$ 20 mil.

Durante os dois mandatos do presidente Lula, o Senado adotou como norma prorrogar e aditar contratos com empresas terceirizadas. Valores foram corrigidos, sempre para cima. Em 2009 eram R$ 152 milhões por ano em diversos serviços, como os de limpeza, comunicação e segurança. Sindicâncias detectaram indícios de superfaturamento, excesso de pessoal, altos salários e ausências de justificativa para as contratações.

Com a crise, a luz do dia chegou a iluminar a caixa-preta do Senado, ainda que parcialmente. Revelou-se o pagamento de R$ 6,2 milhões em horas extras para 3.883 funcionários, por serviços prestados em janeiro de 2009. O primeiro mês do ano, para quem não sabe, é de recesso parlamentar, e não havia o que justificasse o benefício. Veio à tona também que com apenas seis meses de mandato, senadores e seus familiares passavam a ter direito a um sistema de saúde vitalício, que consome R$ 17 milhões por ano.

Não havia limite para a gastança. Bastava apresentar recibos que atestassem as despesas. Em 2008, cada um dos 81 senadores despendeu R$ 80 mil. O valor equivale a cerca de R$ 7 mil por mês, incluindo os serviços médicos destinados aos familiares. Já os 310 ex-senadores e seus parentes eram obrigados a obedecer a um limite, embora dispensados de contribuir para o plano de saúde: os gastos deles não podiam exceder os R$ 32 mil por ano, incluídas aí as despesas com tratamentos odontológicos e psicológicos.

Não foram apenas atos secretos. Havia ainda contas bancárias secretas, contas ocultas ou contas paralelas, como o leitor preferir chamá-las. O fato é que continham R$ 160 milhões em julho de 2009. Tinham sido abertas 12 anos antes. Eram movimentadas livremente por Agaciel Maia. Não faziam parte da contabilidade oficial do Senado, nem do Siafi (Sistema Integrado de Administração Financeira, do Governo Federal). Foram abertas e recheadas com dinheiro descontado dos salários dos funcionários do Senado, para o custeio de planos de saúde. A única fiscalização estaria a cargo de uma comissão de 11 servidores, toda indicada por Agaciel Maia. A comissão não se reunira em cinco anos. Serviria para referendar as decisões do diretor-geral. Agaciel Maia manteve em 2008 uma conta bancária com R$ 2 milhões na Caixa Econômica Federal. O valor era incompatível com os seus rendimentos.

A revista Época relatou que Agaciel Maia construiu um bunker para encontros íntimos dentro das dependências do Senado. Era acessível por uma escada giratória secreta. Dava numa porta com três fechaduras. Dentro, área de 130 metros quadrados com banheiro privativo, sofás e tapetes vermelhos, spots com luz especial, frigobar, equipamentos de som, vídeo e telão. A secretária de Agaciel Maia, Cristiane Tinoco Mendonça, morava em apartamento funcional do Senado e estacionava seu luxuoso automóvel BMW nas vagas reservadas aos senadores. Para se ter ideia do poder do diretor-geral, José Sarney o autorizou, em janeiro de 2005, a contratar, sem licitação, hospitais e médicos para o plano de saúde dos funcionários do Senado.

Braço-direito de Agaciel Maia, João Carlos Zoghbi, diretor de Recursos Humanos do Senado, afastou-se do cargo em 2009. O jornal Correio Braziliense relatou que ele cedera um imóvel funcional do Senado para o filho morar. João Carlos Zoghbi teria feito uso de ao menos 42 bilhetes aéreos da cota de 12 deputados, contando 10 viagens internacionais, e usado sua influência para empregar vários parentes no Senado por meio de atos secretos.

Em abril de 2009, a revista Época denunciou que João Carlos Zoghbi usou sua ama de leite e babá, Maria Izabel Gomes, uma senhora de 83 anos, sem renda e semi-analfabeta, como laranja para receber quantias milionárias pagas por bancos autorizados a fazer operações de empréstimo consignado a funcionários do Senado. A babá aparecia como controladora de três empresas que fecharam negócios com ao menos quatro instituições financeiras. Apenas uma das empresas da babá, a Contact Assessoria de Crédito, teria recebido R$ 2,3 milhões do banco Cruzeiro do Sul, em nome de comissões referentes a R$ 380 milhões em empréstimos a servidores. O banco Santander também teria tido um contrato comercial com a Contact.

Segundo a reportagem, o banco Finasa/BMC, um braço do grupo Bradesco, elevou a quantia de empréstimos a funcionários do Senado de R$ 5,7 milhões para R$ 156,1 milhões entre 2006 e 2008. Antes, o banco contratara a BC Assessoria de Crédito, outra empresa cuja acionista majoritária era a babá de João Carlos Zoghbi. A terceira empresa da babá, a BM Assessoria de Crédito, foi contratada pelo banco Bancred em 2007. A carteira da instituição no Senado pulou de R$ 4 milhões para R$ 91 milhões. Com a intermediação, a BM teria faturado R$ 541 mil. A BM também teria agenciado empréstimos com desconto em folha de pagamento a servidores e deputados na Câmara.
Com a repercussão do caso da babá, João Carlos Zoghbi e a mulher, Denise Zoghbi, ex-funcionária do Senado, trataram de culpar Agaciel Maia pela corrupção. Acusaram-no de ser dono do Senado.

Palavras de Denise a Época:
- Ele fica com a parte do leão. Agaciel está milionário. Eu sei que ele tem casa, apartamento em Natal, uma fazenda no interior do Rio Grande do Norte, várias casas em Brasília em nome dos irmãos. Ele faz bem feito.
- O que todo mundo dentro do Senado sabe é que todas as terceirizadas são dele. Todas as contratações passam por ele.

A revista Época voltou a denunciar João Carlos Zoghbi. Ele também teria explorado negócios de corretagem de seguros de vida no Senado, Câmara dos Deputados e TCU (Tribunal de Contas da União). A transação envolveu a DMZ Corretora de Seguros, supostamente comandada pela babá Maria Izabel Gomes, que teria faturado R$ 236 mil. "Esse número está correto", disse ele.

Não é só. João Carlos Zoghbi, que ficou dez anos no cargo, teria fraudado a folha de pagamento do Senado para aumentar valores disponíveis para crédito consignado. Criava "margens adicionais" de renda, a fim de justificar empréstimos acima do porcentual estabelecido, de 30% dos rendimentos dos funcionários. Foi acusado de montar uma indústria de empréstimos. Em três anos, o mercado de empréstimos no Senado movimentou R$ 1,2 bilhão. As fraudes de João Carlos Zoghbi teriam ocorrido em cerca de 10% dos pedidos de crédito. Beneficiariam mil funcionários e injetariam recursos na Contact Assessoria de Crédito, a empresa em nome da babá. A Polícia Federal indiciou o ex-diretor por formação de quadrilha, concussão (extorsão praticada por agente público) e inserção de dados falsos em sistema público de informação.

A crise no Congresso Nacional respingou em muita gente importante. O senador Tião Viana (PT-AC) ficou furioso com a notícia de que sua filha viajara para o México com o celular funcional dele, bancado pelo Senado. Era um segredo. Tião Viana disse que pagaria a conta, mas se recusou a informar o valor. Afinal, quanto poderia ter sido o gasto do celular em uma viagem de férias de apenas três semanas? Dias depois, a imprensa publicou a despesa: R$ 14.758. Em que diabo de viagem se gasta mais de R$ 700 de telefone por dia?

Tião Viana voltaria a ser notícia de jornal. Ele não declarara à Justiça Eleitoral, em 2006, a compra de um terreno num condomínio residencial de alto padrão, em Rio Branco, adquirido dois anos antes. Na área bem localizada, em frente a um lago com margens arborizadas, o senador construiu uma casa de 477 metros quadrados, avaliada em R$ 600 mil.

A filha do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB-SP) ocupou por seis anos alto cargo no gabinete do senador Heráclito Fortes (DEM-PI). Salário mensal de Luciana Cardoso, como secretária parlamentar, sem contar benefícios do Senado: R$ 7.600. Ela não despachava em Brasília. Nem no Piauí, terra do senador. Cuidava na própria casa, em São Paulo, das "coisas pessoais dele". Funcionária-fantasma? De Luciana Cardoso à Folha de S.Paulo, para justificar: o gabinete de Heráclito Fortes "é um trem mínimo e a bagunça, eterna". Em seguida, a filha de FHC se desligou do cargo.

Em 2005, o então presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), deu um presentão aos 81 senadores. Cada um ganhou o direito de nomear mais sete pessoas para cargos de confiança, com salários de R$ 9.900. Outro agrado de Renan Calheiros na época: o Senado aumentou, por ato secreto, o valor da verba indenizatória dos senadores. Subiu de R$ 12 mil para R$ 15 mil, com um prêmio: o pagamento foi retroativo a seis meses. Um extra de R$ 18 mil.

Com a revelação da existência dos atos secretos, aliás, Renan Calheiros foi notícia constante nos jornais. Marlene Galdino, ex-presidente da Câmara Municipal de Murici (AL), área de influência do senador, fora nomeada na Diretoria-Geral de Agaciel Maia. Já Renato Friedmann, cujo salário mensal era de R$ 15 mil, seria funcionário-fantasma sob o manto de Renan Calheiros. Apesar de lotado em Brasília, trabalharia na loja da sua família em Porto Alegre. Amélia Neli Pizatto, sogra de Douglas de Felice, assessor de imprensa de Renan, seria outra funcionária-fantasma da cota do senador. Teria recebido por quase seis anos, sem trabalhar, salário mensal de R$ 4.900.

Aliado de Renan Calheiros, José Góis Machado teria ficado dois anos na folha de pagamento do Senado, nomeado por ato secreto, embora vivesse em Alagoas. Renan seria o responsável pela nomeação da funcionária-fantasma Vânia Lins Uchoa Lopes quando foi presidente do Senado. Mulher de seu primo, Idelfonso Tito Uchoa, ela teria residência em Maceió. Na época em que o caso de Vânia Lins Uchoa Lopes veio a público, a "servidora" estava no gabinete do então presidente do Senado, José Sarney. Renan teria autorizado também o funcionário Rui Palmeira, filho de Guilherme Palmeira, ex-presidente do TCU, a estudar no exterior, sem cortar os seus salários.

Geraldo Anízio de Amorim, chefe de gabinete do prefeito de Murici (AL), Renan Calheiros Filho, o "Renanzinho", teria sido motorista-fantasma por mais de seis anos no gabinete do senador em Brasília. Outros quatro integrantes da "república de Murici" teriam tido empregos no Senado, por influência de Renan Calheiros. Por ato secreto, Alexandre Murta de Araújo Rocha manteria o cargo de funcionário do gabinete de Renan em Brasília, ao mesmo tempo em que era candidato a deputado em Alagoas, contrariando dispositivo da Justiça Eleitoral.

Ato secreto serviu para empregar Ricardo Araújo Zoghbi, filho de João Cargos Zoghbi, o diretor de Recursos Humanos do Senado. O rapaz passou pela liderança do PDT e pelo gabinete do senador Delcídio Amaral (PT-MS), que disse não conhecê-lo. Cedeu o lugar a pedido de Agaciel Maia:
- Muitas vezes as vagas estão disponíveis. Eventualmente acontece de alguém ocupar a nossa vaga. Mas eu não tenho nenhuma relação com Zoghbi.

Delcídio Amaral abrigou em seu gabinete Lia Raquel Vaz de Souza. Ela fora transferida por ato secreto para o gabinete dele, depois de passar pelo de Demóstenes Torres (DEM-GO). A "funcionária" é filha de Valdeque Vaz de Souza, um dos principais assessores de Agaciel Maia. Demóstenes Torres disse que Agaciel Maia fez a nomeação à revelia. Mas admitiu:
- Os culpados de tudo isso somos nós mesmos, que aceitamos que esse delinquente ficasse por tanto tempo à frente da Diretoria-Geral.

Demóstenes Torres assumiu a responsabilidade pela nomeação em seu gabinete de Marcelo Zoghbi, outro filho do diretor de Recursos Humanos João Carlos Zoghbi. Demóstenes Torres informou que o nomeou a pedido do então senador Edison Lobão. O rapaz ganhou o emprego por ato secreto.
Bem relacionado, Delcídio Amaral prestou favor ao senador José Sarney. Nomeou Vera Portela Macieira Borges, sobrinha de Sarney. Em tese, ela deveria despachar no escritório político de Delcídio Amaral em Campo Grande. Mas não foi vista por lá durante os seis anos em que ficou sob a batuta do senador petista, desde o começo da era Lula.

Líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM) anunciou a devolução de R$ 328 mil aos cofres públicos. O dinheiro corresponderia a 18 meses de salários e benefícios de Carlos Alberto Andrade Nina Neto, funcionário do gabinete de Arthur Virgílio, durante o período em que o rapaz foi autorizado pelo senador a receber do Senado apesar de morar na Espanha. Com a notícia nos jornais, o tucano não teve outra saída. O funcionário era filho do subchefe de gabinete de Arthur Virgílio, Carlos Homero Vieira Nina. O subchefe ainda tinha a mulher e a irmã empregadas no Senado, sendo que a irmã, por ato secreto. Mais três filhos eram devidamente nomeados no Senado, não apenas o que foi morar na Espanha. Os três no gabinete do líder do PSDB.

Outro episódio envolvendo Arthur Virgílio chamou a atenção: o pagamento do tratamento médico da mãe do senador. Ela tinha o direito de gastar até R$ 32 mil por ano por conta do sistema de saúde do Senado, pois era dependente do pai de Arthur Virgílio, também senador. O Senado cobriu despesas de R$ 723 mil, mais de 22 vezes o limite anual. Ficou a suspeita de que Arthur Virgílio usou do prestígio para liberar o pagamento.

O Senado gastou pelo menos R$ 70 mil para custear as despesas da senadora Ideli Salvatti (PT-SC) num curso para capacitar executivos de empresas privadas. O caso foi revelado pela Folha de S.Paulo. Ela arrastou consigo um assessor, Paulo André Argenta, para México, Argentina e Espanha. O tal curso tinha como promotor Luiz Sérgio Gomes da Silva, ex-assessor da CUT (Central Única dos Trabalhadores, ligada ao PT). Líder do governo Lula no Congresso Nacional, Ideli Salvatti teve o assessor Guilherme Ricardo Chimidt, com salário de R$ 9.900 mensais, nomeado por ato secreto.
A filha do presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), viajou com o pai para os Estados Unidos em fevereiro de 2007. As cinco diárias de Helena Olympia de Almeida Brennand Guerra na cidade de Nova York, no valor de R$ 4.580, foram pagas pelo Senado. Com a notícia na imprensa, Sérgio Guerra informou que teria devolvido o dinheiro, caso tivesse sido cobrado. Em setembro de 2009, o TCU anunciou que iria pedir a restituição.

Não escapou nem a Corregedoria do Senado, responsável por zelar pelo decoro parlamentar. O corregedor, Romeu Tuma (PTB-SP), tinha 46 funcionários comissionados, e parecia comandar um cabide de empregos. Do total, 17 haviam sido nomeados por atos secretos. Enquanto isso...
Durante os cinco anos em que esteve preso, condenado por latrocínio (roubo seguido de morte), o funcionário João Paulo Esteves Coutinho recebeu os salários em dia. Esteve lotado no gabinete do senador Marco Maciel (DEM-PE). Ao todo o Senado depositou R$ 219 mil em nome do preso.

História confusa: o irmão dele, Silvio Esteves Coutinho, funcionário no mesmo gabinete de Marco Maciel, teria assinado as folhas de frequência e recebido os salários no lugar de João Paulo. Alegou que o irmão não cumpria expediente por sofrer de tuberculose e alcoolismo. Por cinco anos! Silvio seria o responsável pelo desvio, embora isso não o tenha impedido de continuar empregado no Senado por mais 13 anos. E João Paulo, alheio à irregularidade, cumpriu a pena e reassumiu o cargo. Acabou afastado com diagnóstico de alienação mental. O Senado não divulgou o valor da aposentadoria.

O motorista do ex-deputado Roberto Jefferson (RJ), presidente do PTB, Eduardo Nunes Serdoura, morador do Rio, foi acusado de ser funcionário-fantasma do Senado entre 2007 e 2009. A irmã de Caroline Medeiros Collor de Mello, mulher do senador Fernando Collor (PTB-AL), teve cargo na presidência do Senado. O senador Heráclito Fortes (DEM-PI) abrigou Tatiana Maria Pedrosa Maria Lima, casada com Afrísio Vieira Lima Filho, irmão do ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima (PMDB-BA).

O senador Mão Santa (PMDB-PI) tinha um assessor, Aricelso Lopes, suspeito de ser funcionário-fantasma. No papel exercia a função de coordenador de atividade policial no Senado. Na prática ficava mesmo no Piauí. Explicação do gabinete de Mão Santa: Aricelso Lopes foi contratado para capturar um tal pistoleiro que ameaçava o senador. Outro que vivia no Piauí e também era lotado no gabinete de Mão Santa, nomeado por ato secreto, era Nilton Carvalho Neto, conhecido como o poeta "Neto Sambaíba".

A nora do senador Efraim Morais (DEM-PB), Flávia Carolina Braz Rocha, casada com o deputado Efraim Filho (DEM-PB), tinha cargo no Senado. O filho do senador Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR), Rafael de Almeida Neves Júnior, foi nomeado por ato secreto. Já o senador Sérgio Zambiasi (PTB-RS) teve quatro funcionários emplacados por meio de atos secretos.
Um ato secreto deu cargo de R$ 10 mil a Antonio José Costa Freitas Guimarães no Senado. Ele trabalhava na Câmara para o deputado Jader Barbalho (PMDB-PA). Outro ato secreto garantiu emprego no Senado para Andressa Alves, filha do deputado Henrique Alves (PMDB-RN). A mulher do governador de Sergipe, Marcelo Déda (PT), Eliane Aquino, recebeu salário mensal de R$ 6.400, durante sete anos, no gabinete do senador Antonio Carlos Valadares (PSB-SE). A primeira-dama não cumpria expediente no Senado.

O sobrinho do senador Paulo Paim (PT-RS), Alexandre Rafael Carvalho Paim, talvez por ter o mesmo sobrenome do tio, foi empregado numa empresa terceirizada, a Adservis, uma das 14 contratadas para prestar serviços no Senado. Juntas, elas empregavam, em 2009, 299 funcionários que tinham parentesco com servidores do Senado. Só a Adservis tinha 101 parentes. E, claro, dois contratos, no valor de R$ 26,8 milhões por ano, com o Senado.

Ex-deputado do PSOL, João Alfredo foi contratado como consultor pelo gabinete do deputado Chico Alencar (PSOL-RJ). Durante 19 meses recebeu R$ 49.700 da verba indenizatória de Chico Alencar. Já a funcionária Solange Amorelli teria mantido vínculo empregatício no gabinete da senadora Serys Slhessarenko (PT-MT), mesmo nos dois anos em que morou nos Estados Unidos. A ex-mulher do deputado Eliseu Padilha (PMDB-RS), Maria Eliane, trabalhou no Senado, nomeada por ato secreto, durante quase três anos.

O senador Adelmir Santana (DEM-DF), que presidia a Federação do Comércio de Brasília, usou R$ 12 mil da verba indenizatória de seu gabinete para pagar empresa de consultoria de um diretor da Fecomércio, Carlos Augusto Guimarães Baião. Adelmir Santana também admitiu ter tido dois funcionários comissionados em seu gabinete que prestavam serviços para o vice-governador do Distrito Federal, Paulo Octávio (DEM).

Secretário de Transportes do Distrito Federal, o deputado licenciado Alberto Fraga (DEM) teve a sogra, Gilda de Souza Dias, e o cunhado, José Alexandre França Brasil, nomeados no gabinete do deputado Osório Adriano (DEM-DF), suplente de Alberto Fraga. Já João Ribeiro da Silva Neto, namorado da filha de Alberto Fraga, foi nomeado para a própria Secretaria de Transportes. Os três sofreram acusação de ser funcionários-fantasmas.

Outro caso envolvendo a dupla: Osório Adriano, o suplente, herdou do gabinete de Alberto Fraga, o secretário, a funcionária Izolda da Silva Lima. Apesar de nomeada na Câmara, ela trabalhava como empregada doméstica na casa de Alberto Fraga. Ele concordou em conceder entrevista à GloboNews:
- É uma empregada que presta serviços domésticos. Perdão... Que presta serviços externos e... Agora, realmente, ficou complicado explicar...

Por dois anos e meio, o deputado Arnaldo Jardim (PPS-SP) manteve como secretária parlamentar de seu gabinete Maria Helena de Jesus. Só que ela era empregada doméstica no apartamento de Arnaldo Jardim, em Brasília. "Lavo, passo e cozinho", contou Maria Helena. O deputado, por sua vez, com a fotografia nos jornais, tratou de exonerar a funcionária. E explicou:
- Pensei que ela pudesse não só ajudar esporadicamente no gabinete, como também prestando serviços no apartamento. Quando eu soube que isso não era possível, eu a desliguei.
Mais verbas indenizatórias. O senador Epitácio Cafeteira (PTB-MA) teria destinado R$ 7 mil mensais para justificar a contratação de serviços de locomoção de interesse de seu gabinete. O beneficiário, um amigo de Ivan Sarney, irmão de José Sarney, possuiria empresa de transporte escolar e fretamento de ônibus. Tem mais: Epitácio Cafeteira também usou verba indenizatória para pagar o condomínio do edifício Granville, em São Luís, onde era proprietário de um apartamento residencial. A despesa foi declarada como aluguel de escritório político.

Outro afilhado político de José Sarney, o senador Gilvam Borges (PMDB-AP), destinou a verba indenizatória, de R$ 15 mil mensais, para pagar o "escritório político", uma fábrica de toldos na periferia de Macapá. O dono da empresa era filiado ao PMDB. Em 18 meses, entre 2008 e 2009, toda a verba indenizatória de Gilvam Borges, de R$ 270 mil, nutriu o correligionário.

O senador Fernando Collor (PTB-AL) teria usado verba indenizatória para custear gastos particulares. Apesar de morar em apartamento funcional do Senado, lançou mão de R$ 10.616, em maio de 2009, para quitar serviços de conservação, limpeza e segurança prestados pela Cintel Service, empresa contratada para guardar sua residência privada, a Casa da Dinda.

Em ofício de setembro de 2009, o presidente do Senado, José Sarney, encaminhou parecer ao STF (Supremo Tribunal Federal) para negar a possibilidade de divulgação das notas fiscais apresentadas pelos senadores, referentes a gastos de 2008 ressarcidos por verbas indenizatórias. A divulgação poderia "abalar gravemente as instituições da República". Trecho do documento, assinado pela Advocacia-Geral do Senado:
"Mesmo sendo dinheiro público, por vezes a verba indenizatória também custeia despesas relacionadas à segurança nacional ou que revelam aspectos da intimidade e da vida privada de cada parlamentar."

A Folha de S.Paulo obteve, por via judicial, dados sobre 70 mil notas fiscais apresentadas por deputados nos últimos quatro meses de 2008. Elas justificariam o uso de verbas indenizatórias. O festival de supostas empresas de fachada, com os respectivos endereços-fantasmas, envolveria os senhores Marcio Junqueira (DEM-RR), Severiano Alves (PMDB-BA), Uldurico Pinto (PHS-BA), Zezéu Ribeiro (PT-BA), Tonha Magalhães (PR-BA), Mário de Oliveira (PSC-MG), Eugênio Rabelo (PP-CE) e Airton Cirilo (PT-CE).

O levantamento apontou, entre outras irregularidades, suspeitas de uso indevido de verbas indenizatórias para custear gastos nas eleições de 2008. Teriam feito emprego inadequado do dinheiro os deputados Giovanni Queiroz (PDT-PA), Jader Barbalho (PMDB-PA), Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG), Fernando Gabeira (PV-RJ), Paulo Rocha (PT-PA), Narcio Rodrigues (PSDB-MG) e Fábio Ramalho (PV-MG).

Outros deputados teriam usado as verbas para contratar as próprias empresas. São os seguintes, segundo o jornal: Osório Adriano (DEM-DF), Dilceu Sperafico (PP-PR), Antônio Andrade (PMDB-MG), Marcelo Teixeira (PR-CE), Nice Lobão (DEM-MA) e Edmar Moreira (PR-MG).
Por fim, outra dose de auxílio-moradia. O senador José Nery (PSOL-PA) recebia R$ 3.800 mensais, apesar de morar no apartamento de uma assessora em Brasília. O senador Gerson Camata (PMDB-ES) e a mulher dele, deputada Rita Camata (do PMDB se transferiu para o PSDB-ES), recebiam, ambos, os respectivos benefícios, no total de R$ 6.800. Mas o casal morava em apartamento próprio em Brasília. O senador chorou ao dar explicações.

Outros três senadores receberam auxílio-moradia, mesmo ocupando apartamentos funcionais do Senado. João Pedro (PT-AM), Cícero Lucena (PSDB-PB) e Gilberto Gollner (DEM-MT) prometeram solicitar o cancelamento do benefício, depois que a situação deles se tornou pública. Eles engordaram suas contas bancárias com, respectivamente, R$ 45.600, R$ 79.800 e R$ 41.800. Nenhum dos três senadores falou em devolver o dinheiro.

A Câmara autorizou o deputado licenciado Gastão Vieira (PMDB-MA) a manter um apartamento funcional da Casa em Brasília, mesmo morando em São Luís. Ele era secretário de Planejamento e Orçamento da governadora Roseana Sarney (PMDB-MA) e suas duas filhas ocupavam o imóvel na capital federal. Roseana Sarney, aliás, usou R$ 11.970 da verba indenizatória do Senado, antes de virar governadora, para contratar a Pads Assessoria de Desenvolvimento Social. A empresa, de São Luís, pertencia a Conceição Andrade, nomeada depois secretária de Desenvolvimento Agrário do Maranhão. Explicação de Conceição Andrade:
- Era um serviço mais de acompanhamento, de elaboração de projeto, alguma coisa assim nesse sentido.

Falta José Sarney. O presidente do Senado morava em imóvel próprio, além de dispor de residência oficial. Mesmo assim, pôs no bolso o auxílio-moradia. Em 26 de maio de 2009, Sarney negou. "Nunca", exclamou. A Folha de S.Paulo informou que o nome dele estava na relação dos beneficiários. Sarney negou novamente. De acordo com assessores, a lista era falsa. No dia seguinte, Sarney teve de admitir. Recebera R$ 3.800 por mês, durante dois anos. Total: R$ 91.200. Explicação, a cargo da assessoria: Sarney desconhecia o pagamento mensal em sua conta bancária e pediu a suspensão do benefício. Não mencionou eventual devolução da quantia.

15 de maio de 2012

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