Nesse outro mundo possível, ninguém se aborrecerá com a velha mania capitalista de pagar dívidas
A esquerda está eufórica com a crise da Europa. Os mais animados acreditam que o capitalismo finalmente está ruindo. Foi o que se viu no Fórum Social Mundial, a tradicional festa do oprimido em Porto Alegre. Entre os discursos exaltando o triunfo da ruína, destacou-se o da presidente Dilma Rousseff: “A América Latina provou que um outro mundo é possível!”, declamou, citando o tema do evento. Delírio geral. Só faltou um intérprete para explicar que outro mundo é esse.
Uma boa pista é examinar quem são os aliados latino-americanos do governo Dilma. Entre os principais estão a Venezuela de Hugo Chávez, a Argentina de Cristina Kirchner e Cuba de Raúl e Fidel Castro. De fato, são todos personagens do outro mundo. E como seria essa grande alternativa ao capitalismo do mundo que está acabando?
Se o modelo for o próprio Brasil, algumas dúvidas se colocam. O novo sistema se financiaria só com a ditadura chinesa? Substituiria o investimento direto do capital ocidental (que morrerá) por negócios com parceiros do outro mundo, como Irã e Síria? Quais seriam as garantias fundadoras dessa nova civilização, além do populismo, da bomba atômica e do trabalho escravo?
Quem prestou atenção aos mensageiros do Fórum Social não ficará sem respostas. O assessor para assuntos internacionais de Dilma, Marco Aurélio Garcia, foi didático. Explicou que os países da Zona do Euro só sairão da encruzilhada se adotarem “a solução argentina” – conhecida cientificamente como “calote”. Nesse outro mundo possível, ninguém se aborrecerá demais com a velha mania capitalista de pagar dívidas.
Ao que tudo indica, vem aí uma espécie de Bolsa-Estado, o almoço grátis dos governantes populistas e perdulários. É o que se depreende de outra voz marcante do Fórum de Porto Alegre, o jornalista francês Bernard Cassen. Fundador do Le Monde Diplomatique, o melhor jornal de clichês antiburgueses, Cassen disse que os países europeus em crise podem gastar à vontade. “O problema é de receita”, disse. Ele também poderia ter chamado isso de “solução brasileira” – o esfolamento do contribuinte para bancar a farra estatal.
Como a Europa não tem Dnit nem Dnocs, daria até sobra de caixa.
Mas não seria arriscado para países quase quebrados continuar gastando sem cortes? De jeito nenhum. Segundo Marco Aurélio Garcia, os números do perigo são forjados – uma nova forma de “golpe de Estado” aplicado “através das agências de classificação de risco”. Só mesmo o Fórum Social Mundial para denunciar essa grande conspiração contra a bondade estatal sem limites.
Depois de saudada em Porto Alegre por essa gente do outro mundo, Dilma Rousseff, coerente, foi para Cuba. O único contratempo na doce sinfonia bolivariana é que, na ilha de Fidel, a bondade estatal prende e arrebenta (como diria o general Figueiredo). Mas, se a ditadura cubana não respeita os direitos humanos, e se não fica bem para uma líder de esquerda compactuar com isso, Dilma encontrou uma saída do outro mundo: denunciou os direitos humanos de direita.
“Não é possível fazer da política de direitos humanos só uma arma de combate político ideológico”, afirmou a presidente em Cuba. Tradução para o português: falar de direitos humanos em Cuba é servir ao imperialismo ianque. Assim, Dilma inaugurou os direitos humanos relativos.
E saiu relativizando, sem perdão: por que falar da barbárie de Fidel, se existe a barbárie de Guantánamo (o cárcere americano na ilha)? Uma lógica impecável, que inclusive limpa a barra de sanguinários como Joseph Stálin. Por que falar do genocídio stalinista, se Hitler também barbarizou do outro lado?
Impossível não notar quem Dilma levou a Cuba para assessorá-la sobre direitos humanos: ele mesmo, o consultor Fernando Pimentel, ministro do Desenvolvimento nas horas vagas. Foi convocado porque a ministra de Direitos Humanos, Maria do Rosário, está no Detran aprendendo a não estacionar em local proibido. Mas o contribuinte não precisa se preocupar: Pimentel é caro, mas para Dilma a consultoria sai de graça.
E para quem ainda tem dúvidas se esse outro mundo é possível, basta olhar no YouTube a filha de Hugo Chávez exibindo um leque de dólares, moeda rara na Venezuela. Com a esquerda S.A. no poder, nada é impossível.
6 de fevereiro de 2012
Guilherme Fiuza
Fonte: revista Época, 06/02/2012
Um painel político do momento histórico em que vivem o país e o mundo. Pretende ser um observatório dos principais acontecimentos que dominam o cenário político nacional e internacional, e um canal de denúncias da corrupção e da violência, que afrontam a cidadania. Este não é um blog partidário, visto que partidos não representam idéias, mas interesses de grupos, e servem apenas para encobrir o oportunismo político de bandidos. Não obstante, seguimos o caminho da direita. Semitam rectam.
"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)
"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012
DIA 10 O PT FAZ 32 ANOS.
O que será que os petistas têm a comemorar, a impunidade ou a roubalheira?
“Conclamamos toda a militância a realizar atos pelo país inteiro.” Rui Falcão, presidente da quadrilha.
Que atos seriam esses, presidente?
Atirar para cima – como fazem os islâmicos para comemorar o sucesso de algum homem-bomba – para festejar dez anos do assassinato de Celso Daniel? Rasgar dinheiro em praça pública para mostrar que tem muito mais de onde eles tiram – do bolso do povo? Desfilar nas ruas empunhando bandeiras de Cuba a simbolizar a preferência pelo regime cubano em detrimento das “demais porcarias”, como a Democracia? Fazer juras de amor eterno a aliados como Sarney et caterva? Comemorar Pinheirinho como o episódio que caiu do céu para alavancar a candidatura de um parvo que desconstruiu de vez a Educação no Brasil? Celebrar a impunidade de sete anos dos 40 ladrões do mensalão? Protestar contra a “herança maldita” de Fernando Henrique, que, nove anos depois, por incrível que pareça, continua a impedir que postes como Dilma consigam governar? Festejar o recorde de sete ministros corruptos demitidos em um ano? Ou ainda, dar vivas à única faxineira sem vassoura a governar um país?
Eu tenho vergonha de ser cidadão neste Brasil do PT. Quando nasci, em 1952, a maioria dos homens públicos ainda tinha caráter e dignidade e, em nome destas, comportavam-se de maneira a honrá-las. Hoje não há mais isso, graças ao PT.
6 de fevereiro de 2012
Por Ricardo Froes
“Conclamamos toda a militância a realizar atos pelo país inteiro.” Rui Falcão, presidente da quadrilha.
Que atos seriam esses, presidente?
Atirar para cima – como fazem os islâmicos para comemorar o sucesso de algum homem-bomba – para festejar dez anos do assassinato de Celso Daniel? Rasgar dinheiro em praça pública para mostrar que tem muito mais de onde eles tiram – do bolso do povo? Desfilar nas ruas empunhando bandeiras de Cuba a simbolizar a preferência pelo regime cubano em detrimento das “demais porcarias”, como a Democracia? Fazer juras de amor eterno a aliados como Sarney et caterva? Comemorar Pinheirinho como o episódio que caiu do céu para alavancar a candidatura de um parvo que desconstruiu de vez a Educação no Brasil? Celebrar a impunidade de sete anos dos 40 ladrões do mensalão? Protestar contra a “herança maldita” de Fernando Henrique, que, nove anos depois, por incrível que pareça, continua a impedir que postes como Dilma consigam governar? Festejar o recorde de sete ministros corruptos demitidos em um ano? Ou ainda, dar vivas à única faxineira sem vassoura a governar um país?
Eu tenho vergonha de ser cidadão neste Brasil do PT. Quando nasci, em 1952, a maioria dos homens públicos ainda tinha caráter e dignidade e, em nome destas, comportavam-se de maneira a honrá-las. Hoje não há mais isso, graças ao PT.
6 de fevereiro de 2012
Por Ricardo Froes
O NOVO CONFLITO EUROPEU
Quando fui morar na Suécia, em 71, aqui no Brasil não havia ainda o atual culto aos cães. Pela primeira vez em minha vida vi uma petshop. Como também produtos especiais para a alimentação canina e mesmo livros de culinária. Para quem saía da Porto Alegre dos anos 70, aquilo tudo parecia bizarrice de Primeiro Mundo.
Vivi em Paris de 77 a 81. Se houve algo que me chocou na França, foi o status do qual gozavam os cães. Cheguei até a mesmo a fazer um dossiê sobre o assunto, que deveria ter uns bons quatro ou cinco quilos. Uma ínfima parte desse dossiê está transcrita em Ponche Verde.
Do Le Monde, por exemplo, reproduzi uma reportagem sobre uma psicanalista de cães. A moça tinha seis anos de especialização na Inglaterra - onde a psicanálise canina está um século à frente em relação à França, dizia o jornal - e falava dos traumas que poderiam acometer os animaizinhos. Um dos graves problemas do cão parisiense era a crise de identidade, de tanto andar entre humanos o cão acabava esquecendo que era um cão, assim era bom que de vez em quando ele saísse com seus semelhantes. Um outro problema, e este dos mais graves, era o fato de que, sendo o cão muito sensível, seus problemas psíquicos muitas vezes não decorriam de seu próprio psiquismo, mas dos problemas vividos pelos proprietários. Se havia atritos no casal, estes eram imediatamente intuídos pelo cão, de modo que a psicanalista se via forçada a sugerir ao casal uma boa análise, pelo menos em nome da saúde psíquica do cão.
Mas o recorte que mais me impressionou na época foi sobre o direito de visita a cães. Um marido, em instância de divórcio em Cretéil, Val-de-Marne, obteve de um juiz de paz um direito de visita a seu cãozinho, já que a mulher havia ficado com a guarda do animal. O casal só se entendia em dois pontos: a ruptura e a vontade de ver regularmente o bichinho. O juiz, após ter oficialmente constatado que havia convergência de pontos de vista por parte do marido e da mulher a respeito do animal, deu ao marido o direito de visitar seu cachorro dois fins-de-semana por mês e de guardá-lo durante boa parte das férias.
Para mim, latino, era como se estivesse lendo alguma ficção de Swift ou Kafka. Nunca entendi - e até hoje não entendo - como pode um casal mobilizar a máquina judiciária para chegar a um acordo tão banal.
Entre os livros que trouxe da França, está um Guide du Chien en Vacances, que mapeia a rede hoteleira destinada aos cães, com hotéis divididos em um, dois e três ossos, sendo que nesta última categoria os cuscos eram postos à mesa com guardanapos e servidos, na sobremesa, com crêpes au Grand Marnier. Trouxe também o Recettes pour Chiens et Chats, best-seller que em seu prefácio oferece às donas-de-casa a alternativa de, em vez de utilizar enlatados, cozinhar para o prazer de seus fiéis companheiros. O livro dá uma série de receitas à base de carnes e peixes, mais manteigas caninas, para animais carnívoros ou vegetarianos, mais bebidas e molhos, tudo aquilo como entrada para depois sugerir pratos de resistência, onde se prevê também um regime sem ossos, mais bolos e doces, mais cosméticos e remédios, onde se especifica desde pastas dentifrícias com mel e óleos de massagem pós-banho.
Visitei também Asnières, um dos dois cemitérios para cães de Paris. Visitei-o, propositadamente, num dia de Finados. Pequenas tumbas e mausoléus solenes, com toda a árvore genealógica do animal ali sepultada, de bisavô e avô a neto. Epitáfios ora ternos, ora céticos: “Traído pelos humanos, sim. Pelos cães, jamais”. Todas as tumbas floridas, madames limpando o chão em volta ao túmulo.
O melhor da visita ocorreu antes da chegada. Como não sabia bem o caminho do cemitério, me informei com duas velhotas que caminhavam à minha frente. C’est juste en face, Monsieur, pequena que não podemos acompanhá-lo, Monsieur é jovem. Vai daí que, ao sair do cemitério, reencontrei as duas velhotas. Limpando a grama na tumba do Pipo. Que havia morrido, se bem me lembro, em 1927. Haja fidelidade.
Vi piores, na França. Em meu dossiê veio também um outro livrinho, intitulado L’Animal, l’homme et Dieu, de Michel Damien (Paris, Editions du Cerf, 216p., 45 F na época). Ocorre, diz o autor, que se escreva sobre o animal para situá-lo em relação ao homem, mas é muito raro que os cristãos ultrapassem a etapa da poesia franciscana para chegar a uma espécie de teologia da natureza animal.
LE CHRIST EST MORT AUSSI POUR LES CHIENS
Assim titulou o Le Monde sua reportagem sobre o livro de Damien. "A solidariedade do homem com o animal não é somente biológica, natural, ela é ontológica, transcendental, evangélica. O Cristo morreu também pelos cães. A Igreja Católica infelizmente está ausente deste debate. Os animais não receberam nenhum status de sua parte. No entanto, se o animal não tem a noção de Deus, ele tem por outro lado aquela do homem, que foi feito à imagem de Deus. (...) Os cães nos esperam no caminho de Cristo. Eles são nossos próximos. Seu sofrimento misterioso é uma participação das Beatitudes. Há um Evangelho do animal, que também morreu nos braços de Deus. O animal tem algo de comum com o Cristo: ele morre pelo mundo e seu sacrifício é indispensável ao equilíbrio deste mundo".
De minha parte, confesso que não entendo muito esses mimos dos cães contemporâneos. Tive cinco cães em minha infância e gostava muito deles. Vivia no campo. Alimentação era problema deles. Por um lado a buscavam na caça e em casa recebiam os restos de comida. Isso de dieta canina era algo inconcebível naqueles pagos. Se estava para morrer, morria. Não tínhamos médico nem para gente. Para cachorro, nem sonhar. Às vezes, algum deles tinha de ser sacrificado. Havia degustado a carne dos cordeiros e não largava o vício. O único remédio era levá-lo para o mato e dar-lhe um tiro na cabeça. Tenho amigas que adoram cães e não entendo muito este amor. Um cão escraviza uma pessoa. Diria que muito mais que uma criança, pois cachorro não tem creche nem escola. Meu bairro é pródigo em cães. Mal saio nas ruas, os vejo comandando, altaneiros, madames e meninas e mesmo varões. O Brasil importou definitivamente este comportamento europeu e a indústria direcionada aos cães só tende a aumentar.
Mas o mundo confortável dos cães europeus parece estar em vias de transformação. Na crônica de ontem, comentei a jihad promovida pelos muçulmanos contra a cachorrada européia. Cães sendo envenenados na Espanha, proprietários de cães hostilizados nas ruas de outros países e mesmo sendo impedidos de entrar em táxi ou ônibus se andam com cães, mesmo que seja um cão-guia de cego. Os árabes, que já introduziram no velho continente a excisão do clitóris e a infibulação da vagina, que fecham ruas em Paris e Marselha para orar com o traseiro virado para a lua e o focinho para Meca, estão até mesmo pretendendo expulsar os cães de algumas cidades. É o que dá dar passaporte a brutos. Sentindo-se cidadãos, sentem-se no direito de moldar a vida das cidades a seu modo.
Como Maomé mandou um dia matar os cães, consideram-no um animal imundo. Os árabes, que só conhecem regimes teocráticos em seus países, não dissociam religião de leis. Para os europeus, é bicho de estimação. O conflito está armado. E tende a transformar-se em guerra.
janer cristaldo
6 de fevereiro de 2012
Vivi em Paris de 77 a 81. Se houve algo que me chocou na França, foi o status do qual gozavam os cães. Cheguei até a mesmo a fazer um dossiê sobre o assunto, que deveria ter uns bons quatro ou cinco quilos. Uma ínfima parte desse dossiê está transcrita em Ponche Verde.
Do Le Monde, por exemplo, reproduzi uma reportagem sobre uma psicanalista de cães. A moça tinha seis anos de especialização na Inglaterra - onde a psicanálise canina está um século à frente em relação à França, dizia o jornal - e falava dos traumas que poderiam acometer os animaizinhos. Um dos graves problemas do cão parisiense era a crise de identidade, de tanto andar entre humanos o cão acabava esquecendo que era um cão, assim era bom que de vez em quando ele saísse com seus semelhantes. Um outro problema, e este dos mais graves, era o fato de que, sendo o cão muito sensível, seus problemas psíquicos muitas vezes não decorriam de seu próprio psiquismo, mas dos problemas vividos pelos proprietários. Se havia atritos no casal, estes eram imediatamente intuídos pelo cão, de modo que a psicanalista se via forçada a sugerir ao casal uma boa análise, pelo menos em nome da saúde psíquica do cão.
Mas o recorte que mais me impressionou na época foi sobre o direito de visita a cães. Um marido, em instância de divórcio em Cretéil, Val-de-Marne, obteve de um juiz de paz um direito de visita a seu cãozinho, já que a mulher havia ficado com a guarda do animal. O casal só se entendia em dois pontos: a ruptura e a vontade de ver regularmente o bichinho. O juiz, após ter oficialmente constatado que havia convergência de pontos de vista por parte do marido e da mulher a respeito do animal, deu ao marido o direito de visitar seu cachorro dois fins-de-semana por mês e de guardá-lo durante boa parte das férias.
Para mim, latino, era como se estivesse lendo alguma ficção de Swift ou Kafka. Nunca entendi - e até hoje não entendo - como pode um casal mobilizar a máquina judiciária para chegar a um acordo tão banal.
Entre os livros que trouxe da França, está um Guide du Chien en Vacances, que mapeia a rede hoteleira destinada aos cães, com hotéis divididos em um, dois e três ossos, sendo que nesta última categoria os cuscos eram postos à mesa com guardanapos e servidos, na sobremesa, com crêpes au Grand Marnier. Trouxe também o Recettes pour Chiens et Chats, best-seller que em seu prefácio oferece às donas-de-casa a alternativa de, em vez de utilizar enlatados, cozinhar para o prazer de seus fiéis companheiros. O livro dá uma série de receitas à base de carnes e peixes, mais manteigas caninas, para animais carnívoros ou vegetarianos, mais bebidas e molhos, tudo aquilo como entrada para depois sugerir pratos de resistência, onde se prevê também um regime sem ossos, mais bolos e doces, mais cosméticos e remédios, onde se especifica desde pastas dentifrícias com mel e óleos de massagem pós-banho.
Visitei também Asnières, um dos dois cemitérios para cães de Paris. Visitei-o, propositadamente, num dia de Finados. Pequenas tumbas e mausoléus solenes, com toda a árvore genealógica do animal ali sepultada, de bisavô e avô a neto. Epitáfios ora ternos, ora céticos: “Traído pelos humanos, sim. Pelos cães, jamais”. Todas as tumbas floridas, madames limpando o chão em volta ao túmulo.
O melhor da visita ocorreu antes da chegada. Como não sabia bem o caminho do cemitério, me informei com duas velhotas que caminhavam à minha frente. C’est juste en face, Monsieur, pequena que não podemos acompanhá-lo, Monsieur é jovem. Vai daí que, ao sair do cemitério, reencontrei as duas velhotas. Limpando a grama na tumba do Pipo. Que havia morrido, se bem me lembro, em 1927. Haja fidelidade.
Vi piores, na França. Em meu dossiê veio também um outro livrinho, intitulado L’Animal, l’homme et Dieu, de Michel Damien (Paris, Editions du Cerf, 216p., 45 F na época). Ocorre, diz o autor, que se escreva sobre o animal para situá-lo em relação ao homem, mas é muito raro que os cristãos ultrapassem a etapa da poesia franciscana para chegar a uma espécie de teologia da natureza animal.
LE CHRIST EST MORT AUSSI POUR LES CHIENS
Assim titulou o Le Monde sua reportagem sobre o livro de Damien. "A solidariedade do homem com o animal não é somente biológica, natural, ela é ontológica, transcendental, evangélica. O Cristo morreu também pelos cães. A Igreja Católica infelizmente está ausente deste debate. Os animais não receberam nenhum status de sua parte. No entanto, se o animal não tem a noção de Deus, ele tem por outro lado aquela do homem, que foi feito à imagem de Deus. (...) Os cães nos esperam no caminho de Cristo. Eles são nossos próximos. Seu sofrimento misterioso é uma participação das Beatitudes. Há um Evangelho do animal, que também morreu nos braços de Deus. O animal tem algo de comum com o Cristo: ele morre pelo mundo e seu sacrifício é indispensável ao equilíbrio deste mundo".
De minha parte, confesso que não entendo muito esses mimos dos cães contemporâneos. Tive cinco cães em minha infância e gostava muito deles. Vivia no campo. Alimentação era problema deles. Por um lado a buscavam na caça e em casa recebiam os restos de comida. Isso de dieta canina era algo inconcebível naqueles pagos. Se estava para morrer, morria. Não tínhamos médico nem para gente. Para cachorro, nem sonhar. Às vezes, algum deles tinha de ser sacrificado. Havia degustado a carne dos cordeiros e não largava o vício. O único remédio era levá-lo para o mato e dar-lhe um tiro na cabeça. Tenho amigas que adoram cães e não entendo muito este amor. Um cão escraviza uma pessoa. Diria que muito mais que uma criança, pois cachorro não tem creche nem escola. Meu bairro é pródigo em cães. Mal saio nas ruas, os vejo comandando, altaneiros, madames e meninas e mesmo varões. O Brasil importou definitivamente este comportamento europeu e a indústria direcionada aos cães só tende a aumentar.
Mas o mundo confortável dos cães europeus parece estar em vias de transformação. Na crônica de ontem, comentei a jihad promovida pelos muçulmanos contra a cachorrada européia. Cães sendo envenenados na Espanha, proprietários de cães hostilizados nas ruas de outros países e mesmo sendo impedidos de entrar em táxi ou ônibus se andam com cães, mesmo que seja um cão-guia de cego. Os árabes, que já introduziram no velho continente a excisão do clitóris e a infibulação da vagina, que fecham ruas em Paris e Marselha para orar com o traseiro virado para a lua e o focinho para Meca, estão até mesmo pretendendo expulsar os cães de algumas cidades. É o que dá dar passaporte a brutos. Sentindo-se cidadãos, sentem-se no direito de moldar a vida das cidades a seu modo.
Como Maomé mandou um dia matar os cães, consideram-no um animal imundo. Os árabes, que só conhecem regimes teocráticos em seus países, não dissociam religião de leis. Para os europeus, é bicho de estimação. O conflito está armado. E tende a transformar-se em guerra.
janer cristaldo
6 de fevereiro de 2012
PASSEM AÉCIO NO BAFÔMETRO.
Vejam o que ele escreveu hoje na Folha de São Paulo.
Coluna de Aécio Neves, nesta segunda, na Folha de São Paulo, intitulada "O silêncio do PT". Nunca antes na história deste país o senador mineiro escreveu algo assim. Um "uhú" pra ele.
Já passa da hora de vermos a questão cubana além do limite da ótica ideológica. É visível o incômodo de setores, que se dizem democráticos, de reconhecer o autoritarismo do regime cubano, como se existissem duas Cubas: a real, que muitos preferem não enxergar, e a outra, da fantasia, que cada um constrói no seu imaginário como quer. Não podemos mais ver o país e o regime dinástico dos irmãos Castro como se a ilha fosse o último enclave da Guerra Fria. Precisamos, isso sim, mobilizar as melhores energias da nossa diplomacia e da comunidade internacional na direção da única realidade que, de fato, interessa: o povo cubano.
São 11,2 milhões de pessoas submetidas ao cotidiano cruelmente caricato das cotas de alimentos, esse malfadado regime das cadernetas, a uma carência crônica, ao desabastecimento histórico, que desmentem, há muito, a fantasia do socialismo igualitário. Ao mal-estar econômico agrega-se o pior que uma sociedade pode vivenciar: a falta de horizonte para as novas gerações. A imensa maioria da população nasceu pós-Fidel e, portanto, desconhece o usufruto da palavra liberdade, o direito de ir e vir, de discutir, de recusar, de dissentir. "Me sinto como um refém sequestrado por alguém que não escuta nem dá explicações", diz a blogueira Yoani Sánchez, proibida pela 19ª vez de viajar a outros países.
No entanto nem mesmo o isolamento forçado tem conseguido impedir que, pelas frestas da fortaleza do castrismo, infiltre-se a brisa que dá notícia aos cubanos da mais simples equação da vida política de uma nação: não há dignidade possível numa ditadura. Recordo o ainda nebuloso episódio do asilo-não-asilo aos boxeadores cubanos durante os Jogos Panamericanos do Rio, em 2007. Guillermo Rigondeaux e Erislandy Lara abandonaram a delegação, mas foram recambiados a Cuba pelo governo do PT. Lá os atletas sofreram retaliações. E pensar que o Brasil é tão pródigo em acolher até mesmo criminosos comuns
Os silêncios e os temas evitados na viagem da presidente Dilma a Cuba agridem as consciências democráticas. O mal disfarçado flerte com regimes fechados e totalitários, como o de Cuba e o do Irã, entre outros, expõe publicamente a tentação autoritária que o PT tenta dissimular e que, no entanto, parece estar inscrito no DNA do partido. A ambiguidade explode em episódios como este. Quem no passado foi perseguida por defender ideias, deveria identificar-se com os perseguidos de hoje, e não sentir-se tão confortavelmente à vontade ao lado de dirigentes de um país onde não há resíduo de democracia há mais de meio século. Volto a Yoani: "Dilma foi a Cuba com a carteira aberta e os olhos fechados". Foi pouco.
6 de fevereiro de 2012
coroneLeaks
Coluna de Aécio Neves, nesta segunda, na Folha de São Paulo, intitulada "O silêncio do PT". Nunca antes na história deste país o senador mineiro escreveu algo assim. Um "uhú" pra ele.
Já passa da hora de vermos a questão cubana além do limite da ótica ideológica. É visível o incômodo de setores, que se dizem democráticos, de reconhecer o autoritarismo do regime cubano, como se existissem duas Cubas: a real, que muitos preferem não enxergar, e a outra, da fantasia, que cada um constrói no seu imaginário como quer. Não podemos mais ver o país e o regime dinástico dos irmãos Castro como se a ilha fosse o último enclave da Guerra Fria. Precisamos, isso sim, mobilizar as melhores energias da nossa diplomacia e da comunidade internacional na direção da única realidade que, de fato, interessa: o povo cubano.
São 11,2 milhões de pessoas submetidas ao cotidiano cruelmente caricato das cotas de alimentos, esse malfadado regime das cadernetas, a uma carência crônica, ao desabastecimento histórico, que desmentem, há muito, a fantasia do socialismo igualitário. Ao mal-estar econômico agrega-se o pior que uma sociedade pode vivenciar: a falta de horizonte para as novas gerações. A imensa maioria da população nasceu pós-Fidel e, portanto, desconhece o usufruto da palavra liberdade, o direito de ir e vir, de discutir, de recusar, de dissentir. "Me sinto como um refém sequestrado por alguém que não escuta nem dá explicações", diz a blogueira Yoani Sánchez, proibida pela 19ª vez de viajar a outros países.
No entanto nem mesmo o isolamento forçado tem conseguido impedir que, pelas frestas da fortaleza do castrismo, infiltre-se a brisa que dá notícia aos cubanos da mais simples equação da vida política de uma nação: não há dignidade possível numa ditadura. Recordo o ainda nebuloso episódio do asilo-não-asilo aos boxeadores cubanos durante os Jogos Panamericanos do Rio, em 2007. Guillermo Rigondeaux e Erislandy Lara abandonaram a delegação, mas foram recambiados a Cuba pelo governo do PT. Lá os atletas sofreram retaliações. E pensar que o Brasil é tão pródigo em acolher até mesmo criminosos comuns
Os silêncios e os temas evitados na viagem da presidente Dilma a Cuba agridem as consciências democráticas. O mal disfarçado flerte com regimes fechados e totalitários, como o de Cuba e o do Irã, entre outros, expõe publicamente a tentação autoritária que o PT tenta dissimular e que, no entanto, parece estar inscrito no DNA do partido. A ambiguidade explode em episódios como este. Quem no passado foi perseguida por defender ideias, deveria identificar-se com os perseguidos de hoje, e não sentir-se tão confortavelmente à vontade ao lado de dirigentes de um país onde não há resíduo de democracia há mais de meio século. Volto a Yoani: "Dilma foi a Cuba com a carteira aberta e os olhos fechados". Foi pouco.
6 de fevereiro de 2012
coroneLeaks
DECLARE-SE!
Com o passar dos dias, muitos brasileiros já começam a pensar no Imposto de Renda Pessoa Física. Suas declarações devem ser apresentadas entre o começo de março e o final de abril, listando salários, bens e rendimentos ao longo de 2011. E, se você acha que é o único a se programar para o Imposto de Renda, saiba que está muito enganado.
A Receita Federal já trabalha para receber mais de 25 milhões de declarações, já que devem apresentar seus rendimentos todos os brasileiros que ganham R$ 23.499,15 ou mais por ano. Isso não dá nem a merreca de R$ 2 mil por mês, uma gargalhada das mais debochadas para os salários que os sanguessugas chupam do Brasil a cada mês, dizendo que trabalham para o governo.
Para o equivalente a cada dependente, o titular poderá deduzir um limite de R$ 1.189,64 e a contribuição previdenciária complementar, valor gasto com médicos e encargos sociais de empregados domésticos.
Declare, por favor, o que você gasta com cebola, eletrodomésticos, o estudo das crianças, o remédio pra coluna, o dentista que lhe fez o implante, com o cafezinho, o iogurte, patinete, feijão, arroz, com ingressos de futebol...
Um dia essa canalha toda ainda vai ter que nos devolver tudo que nos prometeu e não cumpre. Se ainda assim, você ficar devendo ao Imposto de Renda, mande-os à planfa que os lamblanfa. E é pouco!
06 de fevereiro de 2012
sanatório da notícia
A Receita Federal já trabalha para receber mais de 25 milhões de declarações, já que devem apresentar seus rendimentos todos os brasileiros que ganham R$ 23.499,15 ou mais por ano. Isso não dá nem a merreca de R$ 2 mil por mês, uma gargalhada das mais debochadas para os salários que os sanguessugas chupam do Brasil a cada mês, dizendo que trabalham para o governo.
Para o equivalente a cada dependente, o titular poderá deduzir um limite de R$ 1.189,64 e a contribuição previdenciária complementar, valor gasto com médicos e encargos sociais de empregados domésticos.
Declare, por favor, o que você gasta com cebola, eletrodomésticos, o estudo das crianças, o remédio pra coluna, o dentista que lhe fez o implante, com o cafezinho, o iogurte, patinete, feijão, arroz, com ingressos de futebol...
Um dia essa canalha toda ainda vai ter que nos devolver tudo que nos prometeu e não cumpre. Se ainda assim, você ficar devendo ao Imposto de Renda, mande-os à planfa que os lamblanfa. E é pouco!
06 de fevereiro de 2012
sanatório da notícia
AS ILHAS DA FANTASIA
O governo brasileiro existe em duas dimensões, duas frequências diferentes.
Em uma delas, corre a retórica; na outra, os fatos.
As duas programações pouco ou nada têm em comum, mas cada uma serve a um propósito específico.
Por José Serra
O Globo
Tomem-se os direitos humanos, que, a presidente anunciou, seriam uma prioridade nas relações internacionais. O discurso continua ali, chiando como um disco velho, mas, na prática, nada mudou em relação ao período pré-Dilma.
Na recente visita presidencial a Cuba, não houve um só gesto, uma só manifestação, que revelasse alguma preocupação do governo brasileiro com relação às violações dos direitos humanos na ilha. Violação simbolizada pela morte recente de um prisioneiro político em greve de fome.
Nosso governo diz que a cooperação econômica é o melhor caminho para promover mudanças democráticas naquele país. Cooperação que, na prática, tem por objetivo dar sobrevida à ditadura que o PT reverencia e que muitos dos seus integrantes lamentam não poder implantar por aqui.
Dizia-se que a ditadura em Cuba era apenas um instrumento necessário para evitar a volta do capitalismo. Curiosamente, hoje, é a volta do capitalismo que entra na equação para ajudar a manter a ditadura do partido único, que os amigos cubanos do PT defendem e justificam.
Além da alegação sobre as mudanças democráticas e da intenção de dar sobrevida à ditadura, outro fator que explicaria a “cooperação” seriam os bons negócios para as empresas brasileiras que venderão bens e serviços para Cuba.
Tudo coberto, obviamente, pelos empréstimos do BNDES ao governo cubano, que não costuma ser bom pagador em razão da pobreza fiscal e cambial da ilha.
Ou seja, tais empréstimos são candidatos a virar doação dos contribuintes brasileiros, que, se fossem indagados a respeito, provavelmente prefeririam destinar esses recursos a fundo meio perdido para alavancar o desenvolvimento das regiões mais pobres do nosso país, criando também demanda para nossas empresas. Não é demais lembrar que temos o 84º IDH e a 77ª renda per capita do mundo.
Na Síria, o Brasil é cúmplice da barbárie praticada contra o povo pelo ditador Bashar Al Assad, que, anos atrás, assinou um acordo de cooperação com o PT.
Não se sabe no que exatamente Assad está cooperando com o partido (seus dirigentes deveriam explicar), mas os petistas vêm honrando o compromisso, pois cooperam com Assad para tentar aliviar a pressão internacional contra o tirano.
O governo do PT coopera também com o Irã para que o regime dos aiatolás ganhe tempo e se aproxime do objetivo de construir uma bomba atômica.
A presidente da República corteja a comunidade judaica com discursos, mas, na diplomacia, ajuda quem sonha promover um novo Holocausto do povo judeu.
O PT é muito sensível nos direitos humanos quando lhe convém.
Sempre que pode, promove um circo, com a ajuda do governo federal, contra adversários políticos que procuram cumprir a lei.
Mas a violência policial nos governos do PT e de aliados do PT é como se não existisse.
Quando um governador é aliado do PT, pode mandar a polícia bater à vontade, ferir, lesar, quem sabe matar…
Mas, se é de um partido adversário e tem responsabilidades na segurança pública e na defesa da ordem, saiba que os aparatos petistas irão persegui-lo implacavelmente, ainda que faça tudo certo.
As duas dimensões e duas frequências diferentes do governo brasileiro não se restringem aos direitos humanos. Em relação à economia, por exemplo, no chiado do disco velho, o PT continua pregando contra o “neoliberalismo”.
Mas, diante da própria incapacidade de resolver o problema aeroportuário, vai privatizar os aeroportos e oferecer o dinheiro subsidiado do BNDES para as concessionárias fazerem os investimentos. Financia calúnias contra o processo de privatização dos anos 90, mas inaugura outra modalidade: a privatização do dinheiro público, como nunca antes na história deste país… Talvez seja esse o tal socialismo para o século 21.
Ainda na economia, o governo continua falando em “PAC”, o programa que, na teoria, se destinava a coordenar e acelerar o crescimento. Mas o Brasil tem crescido menos que todos os principais emergentes.
O que deveria ser coordenado ficou cada vez mais enrolado, e o que deveria ser acelerado parou ou andou em marcha lenta. Acelerada mesmo, só a propaganda da suposta aceleração.
São dois mundos distintos, o da retórica e o dos fatos, mas que caminham paralelamente, cada um com sua função.
6 de fevereiro dde 2012
Em uma delas, corre a retórica; na outra, os fatos.
As duas programações pouco ou nada têm em comum, mas cada uma serve a um propósito específico.
Por José Serra
O Globo
Tomem-se os direitos humanos, que, a presidente anunciou, seriam uma prioridade nas relações internacionais. O discurso continua ali, chiando como um disco velho, mas, na prática, nada mudou em relação ao período pré-Dilma.
Na recente visita presidencial a Cuba, não houve um só gesto, uma só manifestação, que revelasse alguma preocupação do governo brasileiro com relação às violações dos direitos humanos na ilha. Violação simbolizada pela morte recente de um prisioneiro político em greve de fome.
Nosso governo diz que a cooperação econômica é o melhor caminho para promover mudanças democráticas naquele país. Cooperação que, na prática, tem por objetivo dar sobrevida à ditadura que o PT reverencia e que muitos dos seus integrantes lamentam não poder implantar por aqui.
Dizia-se que a ditadura em Cuba era apenas um instrumento necessário para evitar a volta do capitalismo. Curiosamente, hoje, é a volta do capitalismo que entra na equação para ajudar a manter a ditadura do partido único, que os amigos cubanos do PT defendem e justificam.
Além da alegação sobre as mudanças democráticas e da intenção de dar sobrevida à ditadura, outro fator que explicaria a “cooperação” seriam os bons negócios para as empresas brasileiras que venderão bens e serviços para Cuba.
Tudo coberto, obviamente, pelos empréstimos do BNDES ao governo cubano, que não costuma ser bom pagador em razão da pobreza fiscal e cambial da ilha.
Ou seja, tais empréstimos são candidatos a virar doação dos contribuintes brasileiros, que, se fossem indagados a respeito, provavelmente prefeririam destinar esses recursos a fundo meio perdido para alavancar o desenvolvimento das regiões mais pobres do nosso país, criando também demanda para nossas empresas. Não é demais lembrar que temos o 84º IDH e a 77ª renda per capita do mundo.
Na Síria, o Brasil é cúmplice da barbárie praticada contra o povo pelo ditador Bashar Al Assad, que, anos atrás, assinou um acordo de cooperação com o PT.
Não se sabe no que exatamente Assad está cooperando com o partido (seus dirigentes deveriam explicar), mas os petistas vêm honrando o compromisso, pois cooperam com Assad para tentar aliviar a pressão internacional contra o tirano.
O governo do PT coopera também com o Irã para que o regime dos aiatolás ganhe tempo e se aproxime do objetivo de construir uma bomba atômica.
A presidente da República corteja a comunidade judaica com discursos, mas, na diplomacia, ajuda quem sonha promover um novo Holocausto do povo judeu.
O PT é muito sensível nos direitos humanos quando lhe convém.
Sempre que pode, promove um circo, com a ajuda do governo federal, contra adversários políticos que procuram cumprir a lei.
Mas a violência policial nos governos do PT e de aliados do PT é como se não existisse.
Quando um governador é aliado do PT, pode mandar a polícia bater à vontade, ferir, lesar, quem sabe matar…
Mas, se é de um partido adversário e tem responsabilidades na segurança pública e na defesa da ordem, saiba que os aparatos petistas irão persegui-lo implacavelmente, ainda que faça tudo certo.
As duas dimensões e duas frequências diferentes do governo brasileiro não se restringem aos direitos humanos. Em relação à economia, por exemplo, no chiado do disco velho, o PT continua pregando contra o “neoliberalismo”.
Mas, diante da própria incapacidade de resolver o problema aeroportuário, vai privatizar os aeroportos e oferecer o dinheiro subsidiado do BNDES para as concessionárias fazerem os investimentos. Financia calúnias contra o processo de privatização dos anos 90, mas inaugura outra modalidade: a privatização do dinheiro público, como nunca antes na história deste país… Talvez seja esse o tal socialismo para o século 21.
Ainda na economia, o governo continua falando em “PAC”, o programa que, na teoria, se destinava a coordenar e acelerar o crescimento. Mas o Brasil tem crescido menos que todos os principais emergentes.
O que deveria ser coordenado ficou cada vez mais enrolado, e o que deveria ser acelerado parou ou andou em marcha lenta. Acelerada mesmo, só a propaganda da suposta aceleração.
São dois mundos distintos, o da retórica e o dos fatos, mas que caminham paralelamente, cada um com sua função.
6 de fevereiro dde 2012
BRASIL LIDERA RANKING DE IMPOSTOS NA AMÉRICA LATINA
Apesar de aparecer 80 posições atrás dos EUA no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), em 84º, o Brasil ostenta uma carga tributária semelhante a dos países desenvolvidos.
Um estudo da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) revela que a carga tributária do país está próxima de 34% do Produto Interno Bruto (PIB). A Argentina também lidera a lista dos impostos. Nossos vizinhos têm uma carga tributária de 31,4 % do PIB.
Ao contrário do que acontece nos países ricos, aqui o aumento dos impostos não reflete em melhorias na infraestrutura.
O ranking da infraestrutura, organizado pelo Fórum Econômico Mundial, mostra que o setor de infraestrutura não evoluiu na mesma velocidade que a tributação.
Outro dado negativo é que o Brasil tributa mais o consumo. Aqui 40% dos impostos incidem sobre os consumidores. Isso prejudica a parcela mais pobre da população, que gasta maior parte de sua renda em itens de consumos.
O diretor do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT), Fernando Steinbruch, criticou a tributação brasileira. “O países desenvolvidos são mais justos na cobrança de impostos.”, disse.
Fonte: Época, 06/02/2012
Comunicação Millenium
Um estudo da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) revela que a carga tributária do país está próxima de 34% do Produto Interno Bruto (PIB). A Argentina também lidera a lista dos impostos. Nossos vizinhos têm uma carga tributária de 31,4 % do PIB.
Ao contrário do que acontece nos países ricos, aqui o aumento dos impostos não reflete em melhorias na infraestrutura.
O ranking da infraestrutura, organizado pelo Fórum Econômico Mundial, mostra que o setor de infraestrutura não evoluiu na mesma velocidade que a tributação.
Outro dado negativo é que o Brasil tributa mais o consumo. Aqui 40% dos impostos incidem sobre os consumidores. Isso prejudica a parcela mais pobre da população, que gasta maior parte de sua renda em itens de consumos.
O diretor do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT), Fernando Steinbruch, criticou a tributação brasileira. “O países desenvolvidos são mais justos na cobrança de impostos.”, disse.
Fonte: Época, 06/02/2012
Comunicação Millenium
EUTANASIA: HOLANDA ABRE EM MARÇO PRIMEIRA CLÍNICA PARTICULAR
A Associação para a Morte Voluntária, da Holanda, abrirá em 1º de março a primeira clínica particular que praticará a eutanásia fora de casa, a qual atenderá os casos que forem recusados por médicos, indicou nesta segunda-feira essa organização.
A associação calcula que receberá em torno de mil solicitações por ano, segundo indicaram seus porta-vozes em entrevista coletiva. Os pedidos de eutanásia tratados serão os que forem negados pelos médicos que alegarem motivos éticos ou morais.
Apesar de no início a iniciativa ser financiada com recursos dos membros da fundação, espera-se que no futuro o serviço seja coberto pelo sistema de saúde comum. Os criadores da clínica esclareceram nesta segunda que as seis equipes com as quais trabalharão "se ajustarão à lei da eutanásia", vigente na Holanda desde 2002.
A legislação requer que os doentes que solicitem a eutanásia sofram uma doença incurável, tenham um dor insuportável e que os solicitantes estejam em pleno uso da razão ao pedirem a aplicação do procedimento. Além disso, as solicitações devem ser analisadas por uma comissão de especialistas independentes.
A lei holandesa condena com até 12 anos de prisão os casos de eutanásia nos quais estes requisitos não sejam cumpridos. A Federação de Médicos holandeses criticou a abertura de uma clínica com estas características, já que considerou que não contará com informações como o histórico médico do paciente, entre outras questões.
06 de fevereiro de 2012
A associação calcula que receberá em torno de mil solicitações por ano, segundo indicaram seus porta-vozes em entrevista coletiva. Os pedidos de eutanásia tratados serão os que forem negados pelos médicos que alegarem motivos éticos ou morais.
Apesar de no início a iniciativa ser financiada com recursos dos membros da fundação, espera-se que no futuro o serviço seja coberto pelo sistema de saúde comum. Os criadores da clínica esclareceram nesta segunda que as seis equipes com as quais trabalharão "se ajustarão à lei da eutanásia", vigente na Holanda desde 2002.
A legislação requer que os doentes que solicitem a eutanásia sofram uma doença incurável, tenham um dor insuportável e que os solicitantes estejam em pleno uso da razão ao pedirem a aplicação do procedimento. Além disso, as solicitações devem ser analisadas por uma comissão de especialistas independentes.
A lei holandesa condena com até 12 anos de prisão os casos de eutanásia nos quais estes requisitos não sejam cumpridos. A Federação de Médicos holandeses criticou a abertura de uma clínica com estas características, já que considerou que não contará com informações como o histórico médico do paciente, entre outras questões.
06 de fevereiro de 2012
HISTÓRIAS DO SEBASTIÃO NERY
QUARTO DE DESPEJO
Na véspera da posse, depois do golpe de 64, Castelo Branco pediu ao governador Ademar de Barros que indicasse o ministro da Agricultura. Ademar indicou um amigo. Castelo telefonou e convidou.
– Presidente, agradeço, mas antes tenho que consultar o governador.
– Não precisa consultar não, que agora já decidi convidar outro.
E bateu o telefone. Ademar indicou seu secretário da Agricultura, o agrônomo Oscar Thompson, Castelo nomeou e dois meses depois demitiu “por falta de unidade de pensamento”. E nomeou o paulista Hugo Leme. Em 65, Hugo Leme caiu e foi substituído pelo coronel paranaense Ney Braga.
Feito presidente, Costa e Silva convidou o prefeito de Curitiba Ivo Arzua para o BNH. Foi para Brasília tomar posse, mas foi vetado pelos construtores. O jeito foi Costa e Silva “rebaixá-lo” para o ministério da Agricultura. Arzua não entendia nada. Trancou-se uma semana na Copamar (Cooperativa Agrícola de Maringá), fez um curso intensivo e assumiu.
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STEPHANES
O ministério da Agricultura sempre foi quarto de despejo dos governos no Brasil. O único ministro de que se tem notícia durando um governo inteiro foi o mineiro Alysson Paulinelli, que entrou e saiu com Geisel, cinco anos depois, e também por isso, foi o melhor ministro da Agricultura que o País teve.
Lula deu sorte na Agricultura. No primeiro governo, Roberto Rodrigues, excelente ministro. Agora, depois de vários agropicaretas, convidou um veterano e exemplar servidor público, Reinhold Stephanes (PMDB-PR).
Não é fácil, no Brasil, passar por quatro governos (diretor do Incra com Médici, do INPS com Geisel, ministro da Previdência com Collor e Fernando Henrique) e nunca ser acusado, sequer insinuado, de nada. Antes, professor, secretário da prefeitura de Curitiba e do governo do Paraná, deputado.
O primeiro ministro da Agricultura de Dilma, Wagner Rossi, nao durou um ano.
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ROYALTIES
Desde que a Petrobrás nasceu, em 3 de outubro de 1953, começou a discussão: os donos das terras onde fossem descobertos petróleo ou gás teriam direito a royalty? O primeiro jurista importante a defender a tese foi Aliomar Baleeiro, professor, deputado da UDN pela Bahia e Guanabara, e ministro do Supremo Tribunal. Mas nunca conseguiu ver sua tese virar lei.
A Petrobrás alegava ser um patrimônio nacional, empresa publica com o monopólio da exploração do petróleo, e não podia ser sangrada distribuindo royalties por aí. E a tese não andava. Ninguém queria tocar na jóia da coroa.
Até que no começo dos anos 80, ainda no governo Figueiredo, a Petrobrás descobriu gás em terras do jovem empresário de Alagoas e militante do PMDB, Mauricio Moreira, que começou uma batalha pela imprensa e junto aos governos e políticos para transformar em lei o direito aos royalties.
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PETROBRÁS
Ele tem DNA de ações publicas. O avô, o pai e ele, segundo Lula, são “heróis nacionais e mundiais”, vulgo usineiros, donos da Usina João de Deus. O avô, coronel José Otavio, amigo de Juscelino, foi candidato a senador em 1962 pelo PSD, contra Arnon de Mello, e perdeu. O pai, Napoleão Moreira, conheci em Moscou em 1957, heroi-usineiro e comunista.
Em 94, afinal, o deputado Betinho Rosado, do PFL do Rio Grande do Norte, apresentou projeto na Câmara, que não passou. Quando Fernando Henrique acabou com o monopólio da Petrobrás na exploração do petróleo, não havia mais a defesa da sacralidade. Depois de 98, o royalty foi aprovado. E o alagoano Renan Calheiros, ministro da Justiça, regulamentou a lei.
Agora, os royalties do pré-sal se mantêm como uma nova polêmica nacional. É uma discussão que não acaba nunca.
06 de fevereiro de 2012
sebastião nery
Na véspera da posse, depois do golpe de 64, Castelo Branco pediu ao governador Ademar de Barros que indicasse o ministro da Agricultura. Ademar indicou um amigo. Castelo telefonou e convidou.
– Presidente, agradeço, mas antes tenho que consultar o governador.
– Não precisa consultar não, que agora já decidi convidar outro.
E bateu o telefone. Ademar indicou seu secretário da Agricultura, o agrônomo Oscar Thompson, Castelo nomeou e dois meses depois demitiu “por falta de unidade de pensamento”. E nomeou o paulista Hugo Leme. Em 65, Hugo Leme caiu e foi substituído pelo coronel paranaense Ney Braga.
Feito presidente, Costa e Silva convidou o prefeito de Curitiba Ivo Arzua para o BNH. Foi para Brasília tomar posse, mas foi vetado pelos construtores. O jeito foi Costa e Silva “rebaixá-lo” para o ministério da Agricultura. Arzua não entendia nada. Trancou-se uma semana na Copamar (Cooperativa Agrícola de Maringá), fez um curso intensivo e assumiu.
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STEPHANES
O ministério da Agricultura sempre foi quarto de despejo dos governos no Brasil. O único ministro de que se tem notícia durando um governo inteiro foi o mineiro Alysson Paulinelli, que entrou e saiu com Geisel, cinco anos depois, e também por isso, foi o melhor ministro da Agricultura que o País teve.
Lula deu sorte na Agricultura. No primeiro governo, Roberto Rodrigues, excelente ministro. Agora, depois de vários agropicaretas, convidou um veterano e exemplar servidor público, Reinhold Stephanes (PMDB-PR).
Não é fácil, no Brasil, passar por quatro governos (diretor do Incra com Médici, do INPS com Geisel, ministro da Previdência com Collor e Fernando Henrique) e nunca ser acusado, sequer insinuado, de nada. Antes, professor, secretário da prefeitura de Curitiba e do governo do Paraná, deputado.
O primeiro ministro da Agricultura de Dilma, Wagner Rossi, nao durou um ano.
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ROYALTIES
Desde que a Petrobrás nasceu, em 3 de outubro de 1953, começou a discussão: os donos das terras onde fossem descobertos petróleo ou gás teriam direito a royalty? O primeiro jurista importante a defender a tese foi Aliomar Baleeiro, professor, deputado da UDN pela Bahia e Guanabara, e ministro do Supremo Tribunal. Mas nunca conseguiu ver sua tese virar lei.
A Petrobrás alegava ser um patrimônio nacional, empresa publica com o monopólio da exploração do petróleo, e não podia ser sangrada distribuindo royalties por aí. E a tese não andava. Ninguém queria tocar na jóia da coroa.
Até que no começo dos anos 80, ainda no governo Figueiredo, a Petrobrás descobriu gás em terras do jovem empresário de Alagoas e militante do PMDB, Mauricio Moreira, que começou uma batalha pela imprensa e junto aos governos e políticos para transformar em lei o direito aos royalties.
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PETROBRÁS
Ele tem DNA de ações publicas. O avô, o pai e ele, segundo Lula, são “heróis nacionais e mundiais”, vulgo usineiros, donos da Usina João de Deus. O avô, coronel José Otavio, amigo de Juscelino, foi candidato a senador em 1962 pelo PSD, contra Arnon de Mello, e perdeu. O pai, Napoleão Moreira, conheci em Moscou em 1957, heroi-usineiro e comunista.
Em 94, afinal, o deputado Betinho Rosado, do PFL do Rio Grande do Norte, apresentou projeto na Câmara, que não passou. Quando Fernando Henrique acabou com o monopólio da Petrobrás na exploração do petróleo, não havia mais a defesa da sacralidade. Depois de 98, o royalty foi aprovado. E o alagoano Renan Calheiros, ministro da Justiça, regulamentou a lei.
Agora, os royalties do pré-sal se mantêm como uma nova polêmica nacional. É uma discussão que não acaba nunca.
06 de fevereiro de 2012
sebastião nery
DO FUNDO DA MEMÓRIA (PARTE 3): DOS JURISTAS AOS JURILAS
06 de fevereiro de 2012
Carlos Chagas
Quase 50 anos depois, sobrou o quê, do movimento militar de 1964? Para começo de conversa, cobranças, mesmo com o tempo fazendo a poeira assentar. Cobranças de parte a parte. De um lado, existem os que continuam criticando, protestando e apresentando a conta. São os que, de uma forma ou de outra, viram-se atingidos pela truculência do regime. Não apenas os torturados, exilados, censurados, demitidos e marginalizados. Ou seus familiares, se eles não estão mais entre nós.
Muitas instituições também tem o que cobrar. A imprensa, por exemplo, obrigada a omitir tudo o que prejudicava os donos do poder. Sem esquecer que a maior parte dos veículos de comunicação da época esmerava-se em divulgar aquilo que agradava os poderosos. Temendo represálias ou programando benesses, acomodaram-se quase todos os barões da mídia e muitos de seus acólitos.
Seria menos ridículo que, hoje, certos falsos heróis de uma resistência inexistente ficassem calados ao invés de tentarem faturar aquilo que não praticaram. De um modo geral, porém, a imprensa sofreu e involuiu. Jamais as tiragens dos jornais ficaram tão reduzidas, proporcionalmente ao número de leitores. “Comprar jornal para quê?” – insurgia-se o cidadão comum, se era para ler elogios ao falso milagre brasileiro ou, em contrapartida, versos de Camões ou receitas culinárias.
Com a televisão e o rádio, perseguidos até no roteiro de suas novelas, pior ainda. Transmitiam a impressão de vivermos num outro mundo. Massacrados da mesma forma foram os advogados. O regime confundia o sagrado dever de defender o semelhante com a integração obrigatória do defensor nas práticas do réu. Um monumento deveria ser erigido ao Advogado Desconhecido, mesmo a gente conhecendo o nome da maioria desses abnegados bacharéis que honraram a profissão. E sofreram por isso.
Sofreu também o Poder Judiciário, atingido em seus tradicionais predicamentos constitucionais de vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade de vencimentos. Ministros dos tribunais superiores e simples juizes de primeira instância, intimidados, acomodados ou dispostos à resistência, assistiram desmanchar-se a estrutura fundamental da democracia, erodida por absurdos como o de que os atos revolucionários seriam insusceptíveis de apreciação judiciária.
É claro que também pontificaram os “jurilas” de todas as ditaduras, misto de juristas e de gorilas tão a gosto do regime. Reconheça-se o papel altivo do Superior Tribunal Militar, que num sem-número de ocasiões desfazia aquilo que nas instâncias inferiores a voracidade da exceção buscava transformar em regra.
Os políticos, da mesma forma, perderam o que lhes restava de credibilidade junto à opinião pública. A sombra das cassações de mandatos e das suspensões de direitos políticos só não agredia tanto a prática parlamentar quanto os ucasses que transformaram o Congresso em apêndice desimportante do
Executivo. Atos institucionais, atos complementares, decretos-leis, casuísmos, fechamentos e recessos parlamentares fizeram com que a atividade política e eleitoral se transformasse em objeto de chacota nacional.
Num determinado momento, para sepultar laivos de independência, os militares dissolveram os partidos, criando o bipartidarismo obrigatório. Para continuar na política seria pertencer ao partido do “sim”, a Arena, ou ao partido do “sim senhor”, o MDB, mais tarde inflado pela indignação, transformando-se num dos principais aríetes responsáveis pelo fim da ditadura.
Para cada dr. Ulysses ou para cada “autentico” que se insurgia, centenas de desfigurados marionetes candidatavam-se a se ajoelhar no altar da exceção.
O movimento sindical implodiu nos primeiros dias do novo regime. Perseguidos como inimigos públicos, os tradicionais líderes trabalhistas desapareceram nas masmorras, no exílio ou no esquecimento. Terá sido este um dos erros fundamentais da ditadura, porque, conforme a natureza das coisas, em política não existem espaços vazios.
Foram-se os dirigentes em grande parte viciados pelo sabujismo ao ministério do Trabalho, mas emergiram líderes operários autênticos. Vem daí as origens do Lula e de muitos outros. O mesmo aconteceu no movimento estudantil. Perseguidos, eclipsaram-se os estudantes profissionais que dominavam as organizações de classe, boa parte atrelada ao ministério da Educação. Ganharam o exílio aqueles que tentavam renovar as estruturas viciadas vindas do Estado Novo, como José Serra, o último presidente da União Nacional dos Estudantes, obrigado a refugiar-se no Chile.
O fenômeno foi o mesmo dos sindicalistas: surgiram dirigentes de verdade, oriundos dos bancos escolares. José Dirceu, Wladimir Palmeira, Jean Marc, Alfredo Sirkis, Honestino Guimarães, Franklin Martins e quantos mais? Identificados após ações de toda espécie, até tresloucadas e radicais, acabaram detidos, alguns desaparecidos até hoje, mas plantaram a semente.
Ainda agora o movimento estudantil pertence aos estudantes. A cultura vergou mas não quebrou. Das músicas de protesto ao teatro de arena e de vanguarda, das entrelinhas do “Pasquim” à poesia de combate e ao cinema novo, os intelectuais resistiram. Tornaram-se figuras de expressão nas passeatas, nos manifestos e na arte de estrilar. Apanharam, foram presos e muitos se exilaram. Imagina-se o que teriam produzido em regime de liberdade plena. Talvez bem menos do que produziram sob pressão.
Esse tipo de cobrança estende-se até nossos dias, ainda que cada vez mais esmaecido pelo tempo, com as exceções de sempre. Intelectuais, estudantes, operários, políticos, magistrados, advogados e jornalistas, em maioria, não esqueceram. Talvez nem tenham perdoado, ainda que lentamente varridos pelos ventos da renovação.
(continua amanhã)
06 de fevereiro de 2012
Carlos Chagas
Carlos Chagas
Quase 50 anos depois, sobrou o quê, do movimento militar de 1964? Para começo de conversa, cobranças, mesmo com o tempo fazendo a poeira assentar. Cobranças de parte a parte. De um lado, existem os que continuam criticando, protestando e apresentando a conta. São os que, de uma forma ou de outra, viram-se atingidos pela truculência do regime. Não apenas os torturados, exilados, censurados, demitidos e marginalizados. Ou seus familiares, se eles não estão mais entre nós.
Muitas instituições também tem o que cobrar. A imprensa, por exemplo, obrigada a omitir tudo o que prejudicava os donos do poder. Sem esquecer que a maior parte dos veículos de comunicação da época esmerava-se em divulgar aquilo que agradava os poderosos. Temendo represálias ou programando benesses, acomodaram-se quase todos os barões da mídia e muitos de seus acólitos.
Seria menos ridículo que, hoje, certos falsos heróis de uma resistência inexistente ficassem calados ao invés de tentarem faturar aquilo que não praticaram. De um modo geral, porém, a imprensa sofreu e involuiu. Jamais as tiragens dos jornais ficaram tão reduzidas, proporcionalmente ao número de leitores. “Comprar jornal para quê?” – insurgia-se o cidadão comum, se era para ler elogios ao falso milagre brasileiro ou, em contrapartida, versos de Camões ou receitas culinárias.
Com a televisão e o rádio, perseguidos até no roteiro de suas novelas, pior ainda. Transmitiam a impressão de vivermos num outro mundo. Massacrados da mesma forma foram os advogados. O regime confundia o sagrado dever de defender o semelhante com a integração obrigatória do defensor nas práticas do réu. Um monumento deveria ser erigido ao Advogado Desconhecido, mesmo a gente conhecendo o nome da maioria desses abnegados bacharéis que honraram a profissão. E sofreram por isso.
Sofreu também o Poder Judiciário, atingido em seus tradicionais predicamentos constitucionais de vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade de vencimentos. Ministros dos tribunais superiores e simples juizes de primeira instância, intimidados, acomodados ou dispostos à resistência, assistiram desmanchar-se a estrutura fundamental da democracia, erodida por absurdos como o de que os atos revolucionários seriam insusceptíveis de apreciação judiciária.
É claro que também pontificaram os “jurilas” de todas as ditaduras, misto de juristas e de gorilas tão a gosto do regime. Reconheça-se o papel altivo do Superior Tribunal Militar, que num sem-número de ocasiões desfazia aquilo que nas instâncias inferiores a voracidade da exceção buscava transformar em regra.
Os políticos, da mesma forma, perderam o que lhes restava de credibilidade junto à opinião pública. A sombra das cassações de mandatos e das suspensões de direitos políticos só não agredia tanto a prática parlamentar quanto os ucasses que transformaram o Congresso em apêndice desimportante do
Executivo. Atos institucionais, atos complementares, decretos-leis, casuísmos, fechamentos e recessos parlamentares fizeram com que a atividade política e eleitoral se transformasse em objeto de chacota nacional.
Num determinado momento, para sepultar laivos de independência, os militares dissolveram os partidos, criando o bipartidarismo obrigatório. Para continuar na política seria pertencer ao partido do “sim”, a Arena, ou ao partido do “sim senhor”, o MDB, mais tarde inflado pela indignação, transformando-se num dos principais aríetes responsáveis pelo fim da ditadura.
Para cada dr. Ulysses ou para cada “autentico” que se insurgia, centenas de desfigurados marionetes candidatavam-se a se ajoelhar no altar da exceção.
O movimento sindical implodiu nos primeiros dias do novo regime. Perseguidos como inimigos públicos, os tradicionais líderes trabalhistas desapareceram nas masmorras, no exílio ou no esquecimento. Terá sido este um dos erros fundamentais da ditadura, porque, conforme a natureza das coisas, em política não existem espaços vazios.
Foram-se os dirigentes em grande parte viciados pelo sabujismo ao ministério do Trabalho, mas emergiram líderes operários autênticos. Vem daí as origens do Lula e de muitos outros. O mesmo aconteceu no movimento estudantil. Perseguidos, eclipsaram-se os estudantes profissionais que dominavam as organizações de classe, boa parte atrelada ao ministério da Educação. Ganharam o exílio aqueles que tentavam renovar as estruturas viciadas vindas do Estado Novo, como José Serra, o último presidente da União Nacional dos Estudantes, obrigado a refugiar-se no Chile.
O fenômeno foi o mesmo dos sindicalistas: surgiram dirigentes de verdade, oriundos dos bancos escolares. José Dirceu, Wladimir Palmeira, Jean Marc, Alfredo Sirkis, Honestino Guimarães, Franklin Martins e quantos mais? Identificados após ações de toda espécie, até tresloucadas e radicais, acabaram detidos, alguns desaparecidos até hoje, mas plantaram a semente.
Ainda agora o movimento estudantil pertence aos estudantes. A cultura vergou mas não quebrou. Das músicas de protesto ao teatro de arena e de vanguarda, das entrelinhas do “Pasquim” à poesia de combate e ao cinema novo, os intelectuais resistiram. Tornaram-se figuras de expressão nas passeatas, nos manifestos e na arte de estrilar. Apanharam, foram presos e muitos se exilaram. Imagina-se o que teriam produzido em regime de liberdade plena. Talvez bem menos do que produziram sob pressão.
Esse tipo de cobrança estende-se até nossos dias, ainda que cada vez mais esmaecido pelo tempo, com as exceções de sempre. Intelectuais, estudantes, operários, políticos, magistrados, advogados e jornalistas, em maioria, não esqueceram. Talvez nem tenham perdoado, ainda que lentamente varridos pelos ventos da renovação.
(continua amanhã)
06 de fevereiro de 2012
Carlos Chagas
RÚSSIA VETARÁ QUALQUER AGRESSÃO À SIRIA
Rússia não quer repetir o erro cometido contra a Líbia e vetará qualquer agressão à Síria.
O comentarista Sérgio Caldieri nos envia interessante reportagem sobre a posição da Rússia no Conselho de Segurança da ONU. Depois da manipulação da proposta aprovada pelo Conselho de Segurança sobre a Líbia, agora a Rússia vai cortar o mal pela raiz, vetando qualquer iniciativa que pode configurar uma ameaça à Síria.
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Olga Denisova(The Voice of Russia, Moscou)
A Rússia alertou que votará contra qualquer resolução do Conselho de Segurança da ONU sobre a Síria, se a considerar errônea ou se entender que aprofundará o atual conflito. Segundo o embaixador russo na ONU, Vitaly Churkin, o conflito doméstico na Síria tem de ser superado por acordo entre os dois lados, que devem reunir-se para discutir suas diferenças.
Depois da reunião do Conselho de Segurança sobre a Síria, Vitaly Churkin comentou as duas diferentes abordagens que estão em confronto naquele Conselho.
“Os representantes ocidentais evitaram cuidadosamente qualquer crítica à posição russa. Por isso, minha fala não precisou ser mais agressiva, e a reunião transcorreu em ambiente muito mais calmo do que se poderia prever, se as circunstâncias fossem diferentes. Assim se criou clima favorável para trabalharmos num texto de resolução que efetivamente contribua para que se encontre saída para a crise.”
O impasse diplomático já se arrasta há várias sessões do Conselho de Segurança. Existem agora em discussão dois projetos de resolução para a crise síria: um apresentado pelo Marrocos, outro apresentado pela Rússia.
O projeto levado ao Conselho pelo Marrocos foi redigido pela França e alguns países árabes que não são membros do Conselho de Segurança. O Marrocos é o único país árabe que está representado no Conselho de Segurança. O projeto encaminhado pelo Marrocos não descarta a intervenção militar na Síria – e a Rússia já anunciou que em nenhum caso o aprovará. O projeto também inclui um plano, sugerido pela Liga Árabe, que exige que o presidente Bashar al-Assad renuncie e entregue a presidência ao vice-presidente.
Para o embaixador russo Vitaly Churkin, “o projeto de resolução encaminhado pela Liga Árabe é extremamente detalhado. Não apenas ‘cria’ um governo de unidade nacional na Síria, mas também ‘determina’ que esse governo deve cooperar com o vice-presidente; diz como deve ser essa cooperação; e lista as questões às quais o ‘novo governo’ deve-se dedicar prioritariamente.
Damasco já rejeitou esse tipo de texto e, portanto, não faz sentido algum discuti-lo, se já se sabe o que resultará de Damasco não acatar a resolução que se aprove aqui. A Liga Árabe, evidentemente, tem pleno direito de manifestar sua opinião. Mas temos de não esquecer que o Conselho de Segurança não ter competência nem poder para impor decisões políticas, ou para forçar os países a acatar decisões políticas do Conselho, sequer em países em crise. O Conselho não está autorizado a adotar resolução que implique ‘ordenar’ a um presidente que renuncie. Evidentemente, há muito o que discutir.”
Segundo Vitaly Churkin, diplomatas e políticos devem buscar contato e diálogo com os oponentes, sobretudo em tempos de crise. A Síria é perfeitamente capaz de construir saídas para a crise atual, e as forças da oposição síria devem procurar condições de segurança para conduzir conversações com o governo.
A Rússia está disposta a convidar os dois lados que se enfrentam na Síria, para reuniões de discussão a serem organizadas em Moscou. As autoridades sírias já se declararam interessadas nessas conversações.
O problema é que o presidente do Conselho Nacional de Transição, Burhan Ghalioun, impôs inúmeras condições. Disse que aceitaria ir a Moscou, se a Rússia aceitasse a cláusula que ordena que o presidente Bashar al-Assad renuncie. Moscou respondeu que as conversações só acontecerão se os dois lados em conflito aceitarem sem precondições o convite para negociar.
Em nenhum caso a Rússia apoiará qualquer embargo de armas contra a Síria, assim como não aprovará resolução que implique uso da força, intervenção militar ou sanções contra Damasco. Essa é a posição russa já conhecida, da qual Moscou não abrirá mão.
06 de fevereiro de 2012
O comentarista Sérgio Caldieri nos envia interessante reportagem sobre a posição da Rússia no Conselho de Segurança da ONU. Depois da manipulação da proposta aprovada pelo Conselho de Segurança sobre a Líbia, agora a Rússia vai cortar o mal pela raiz, vetando qualquer iniciativa que pode configurar uma ameaça à Síria.
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Olga Denisova(The Voice of Russia, Moscou)
A Rússia alertou que votará contra qualquer resolução do Conselho de Segurança da ONU sobre a Síria, se a considerar errônea ou se entender que aprofundará o atual conflito. Segundo o embaixador russo na ONU, Vitaly Churkin, o conflito doméstico na Síria tem de ser superado por acordo entre os dois lados, que devem reunir-se para discutir suas diferenças.
Depois da reunião do Conselho de Segurança sobre a Síria, Vitaly Churkin comentou as duas diferentes abordagens que estão em confronto naquele Conselho.
“Os representantes ocidentais evitaram cuidadosamente qualquer crítica à posição russa. Por isso, minha fala não precisou ser mais agressiva, e a reunião transcorreu em ambiente muito mais calmo do que se poderia prever, se as circunstâncias fossem diferentes. Assim se criou clima favorável para trabalharmos num texto de resolução que efetivamente contribua para que se encontre saída para a crise.”
O impasse diplomático já se arrasta há várias sessões do Conselho de Segurança. Existem agora em discussão dois projetos de resolução para a crise síria: um apresentado pelo Marrocos, outro apresentado pela Rússia.
O projeto levado ao Conselho pelo Marrocos foi redigido pela França e alguns países árabes que não são membros do Conselho de Segurança. O Marrocos é o único país árabe que está representado no Conselho de Segurança. O projeto encaminhado pelo Marrocos não descarta a intervenção militar na Síria – e a Rússia já anunciou que em nenhum caso o aprovará. O projeto também inclui um plano, sugerido pela Liga Árabe, que exige que o presidente Bashar al-Assad renuncie e entregue a presidência ao vice-presidente.
Para o embaixador russo Vitaly Churkin, “o projeto de resolução encaminhado pela Liga Árabe é extremamente detalhado. Não apenas ‘cria’ um governo de unidade nacional na Síria, mas também ‘determina’ que esse governo deve cooperar com o vice-presidente; diz como deve ser essa cooperação; e lista as questões às quais o ‘novo governo’ deve-se dedicar prioritariamente.
Damasco já rejeitou esse tipo de texto e, portanto, não faz sentido algum discuti-lo, se já se sabe o que resultará de Damasco não acatar a resolução que se aprove aqui. A Liga Árabe, evidentemente, tem pleno direito de manifestar sua opinião. Mas temos de não esquecer que o Conselho de Segurança não ter competência nem poder para impor decisões políticas, ou para forçar os países a acatar decisões políticas do Conselho, sequer em países em crise. O Conselho não está autorizado a adotar resolução que implique ‘ordenar’ a um presidente que renuncie. Evidentemente, há muito o que discutir.”
Segundo Vitaly Churkin, diplomatas e políticos devem buscar contato e diálogo com os oponentes, sobretudo em tempos de crise. A Síria é perfeitamente capaz de construir saídas para a crise atual, e as forças da oposição síria devem procurar condições de segurança para conduzir conversações com o governo.
A Rússia está disposta a convidar os dois lados que se enfrentam na Síria, para reuniões de discussão a serem organizadas em Moscou. As autoridades sírias já se declararam interessadas nessas conversações.
O problema é que o presidente do Conselho Nacional de Transição, Burhan Ghalioun, impôs inúmeras condições. Disse que aceitaria ir a Moscou, se a Rússia aceitasse a cláusula que ordena que o presidente Bashar al-Assad renuncie. Moscou respondeu que as conversações só acontecerão se os dois lados em conflito aceitarem sem precondições o convite para negociar.
Em nenhum caso a Rússia apoiará qualquer embargo de armas contra a Síria, assim como não aprovará resolução que implique uso da força, intervenção militar ou sanções contra Damasco. Essa é a posição russa já conhecida, da qual Moscou não abrirá mão.
06 de fevereiro de 2012
APERTEM OS CINTOS... DECOLA A PRIVATIZAÇÃO DO PT
A data de hoje tende a entrar para a história do país.
Um importante setor da nossa economia passará a ser explorado por empresas privadas.
Não fosse a resistência oportunista do PT, a decolagem dos aeroportos nacionais já poderia ter ocorrido há muito mais tempo.
Três dos principais terminais do país serão levados a leilão nesta manhã:
Cumbica (Guarulhos),
Viracopos (Campinas) e Brasília.
Juntos, eles movimentam 30% dos passageiros, 57% das cargas e 19% das aeronaves do sistema brasileiro.
Vencerá a disputa quem se dispuser a pagar o maior valor de outorga; onze grupos estão na briga. O lance mínimo dos três aeroportos é de R$ 5,477 bilhões e cada grupo privado só poderá arrematar um deles. Prevê-se ágio.
Galeão (Rio) e Confins (Belo Horizonte) devem ser os próximos terminais a ser privatizados.
Segundo cronograma divulgado na sexta-feira pela Anac, os contratos devem ser assinados no início de maio, 45 dias após a homologação do resultado do leilão, prevista para 20 de março.
Ou seja, os concessionários privados terão pouco mais de dois anos para preparar minimamente os aeroportos brasileiros para a Copa do Mundo de 2014.
Para tanto, terão de acelerar os investimentos - R$ 2,87 bilhões terão de ser aplicados no período - e fazer o que a Infraero não fez desde que o país foi escolhido sede do torneio, em outubro de 2007.
Nos últimos nove anos, a empresa pública nunca conseguiu executar mais que a metade de seu orçamento - só em 2011 deixou de utilizar R$ 881 milhões previstos para construção e reforma de 23 aeroportos.
Uma das maiores incógnitas do novo modelo é justamente a pesada participação que a Infraero terá nos grupos vencedores. A empresa ficará com 49% do capital de cada concessionária.
É um sinal claro do ranço ideológico que o PT ainda impõe a setores estratégicos para o país.
O partido de Dilma Rousseff e José Dirceu resistiu o quanto pôde à privatização dos aeroportos. A ideia de conceder a exploração deles à iniciativa privada sempre foi defendida pelo PSDB e pelos demais partidos de oposição, como o DEM e o PPS.
No governo Lula, foi rechaçada pelo então presidente, ancorado na sua então ministra-chefe da Casa Civil.
Na campanha eleitoral de 2010, o saco de bravatas petista foi novamente escancarado. As privatizações foram demonizadas, numa estratégia oportunista da campanha de Dilma.
A candidata do PT prometia na TV fortalecer as estatais, numa espécie de "outro mundo possível" que vai se mostrando cada vez mais inviável.
Já no comando do país, Dilma, felizmente, preferiu optar pelo pragmatismo.
Viu que, se continuasse fiel a seu ultrapassado ideário, o Brasil certamente protagonizaria o maior vexame que se teria notícia em termos de organização de uma Copa do Mundo.
Não é novidade que, mais uma vez, o PT faça no governo o que sempre condenou quando estava fora dele.
Mas a demora em agir cobra seu preço. Enquanto a gestão petista perdia-se em discussões ideológicas estéreis, o fluxo de passageiros nos aeroportos brasileiros cresceu espantosos 153% desde 2003:
o total saltou de 71 milhões para 179 milhões no período.
Mesmo assim, o governo, por meio da Infraero, pouco fez.
Mostra hoje o Valor Econômico que, nos últimos anos, a empresa serviu mesmo foi para gerar receita para o caixa único do Tesouro.
Enquanto repassou R$ 10,3 bilhões ao governo central entre 2002 e 2010, a estatal aplicou somente R$ 4,6 bilhões em infraestrutura aeroportuária, como ampliações de terminais e reformas de pistas.
Manter o poder da Infraero no novo modelo privado vai continuar a nos custar caro. Para contrabalançar o peso morto da estatal nos consórcios, a mão amiga do BNDES foi estendida aos futuros concessionários.
O banco oficial de fomento irá financiar até 80% dos projetos, com juro máximo de 10,5% anuais e prazos de 15 a 20 anos.
Registre-se que analistas do setor aéreo consideram que as regras formuladas para a concessão dos três terminais que irão a leilão hoje são precárias.
Um dos aspectos criticados é a falta de metas bem definidas para poder aferir a qualidade dos serviços prestados no regime privado.
Não se descarta que o modelo também pode resultar em tarifas mais altas para os usuários.
Mas o que é mais importante salientar hoje é que deve-se à resistência petista ao investimento privado boa parte do colapso que atualmente assola nossa depauperada infraestrutura.
Quanto das bravatas antiprivatistas do PT, bradadas ao longo de anos, não estão subjacentes aos gargalos que atravancam o desenvolvimento do país, impedem uma maior geração de empregos e uma melhor distribuição de oportunidades e renda?
A privatização dos aeroportos, que decolam hoje para nunca mais regressar ao modelo estatal, contribui para atenuar um problema central para o desenvolvimento do país.
O governo tem o mérito de levar a iniciativa adiante, mas não ficará livre do ônus de ter retardado por tanto tempo uma solução que sempre pareceu tão óbvia.
06 de fevereiro de 2012
Fonte: Instituto Teotônio Vilela
Decola a privatização do PT
Um importante setor da nossa economia passará a ser explorado por empresas privadas.
Não fosse a resistência oportunista do PT, a decolagem dos aeroportos nacionais já poderia ter ocorrido há muito mais tempo.
Três dos principais terminais do país serão levados a leilão nesta manhã:
Cumbica (Guarulhos),
Viracopos (Campinas) e Brasília.
Juntos, eles movimentam 30% dos passageiros, 57% das cargas e 19% das aeronaves do sistema brasileiro.
Vencerá a disputa quem se dispuser a pagar o maior valor de outorga; onze grupos estão na briga. O lance mínimo dos três aeroportos é de R$ 5,477 bilhões e cada grupo privado só poderá arrematar um deles. Prevê-se ágio.
Galeão (Rio) e Confins (Belo Horizonte) devem ser os próximos terminais a ser privatizados.
Segundo cronograma divulgado na sexta-feira pela Anac, os contratos devem ser assinados no início de maio, 45 dias após a homologação do resultado do leilão, prevista para 20 de março.
Ou seja, os concessionários privados terão pouco mais de dois anos para preparar minimamente os aeroportos brasileiros para a Copa do Mundo de 2014.
Para tanto, terão de acelerar os investimentos - R$ 2,87 bilhões terão de ser aplicados no período - e fazer o que a Infraero não fez desde que o país foi escolhido sede do torneio, em outubro de 2007.
Nos últimos nove anos, a empresa pública nunca conseguiu executar mais que a metade de seu orçamento - só em 2011 deixou de utilizar R$ 881 milhões previstos para construção e reforma de 23 aeroportos.
Uma das maiores incógnitas do novo modelo é justamente a pesada participação que a Infraero terá nos grupos vencedores. A empresa ficará com 49% do capital de cada concessionária.
É um sinal claro do ranço ideológico que o PT ainda impõe a setores estratégicos para o país.
O partido de Dilma Rousseff e José Dirceu resistiu o quanto pôde à privatização dos aeroportos. A ideia de conceder a exploração deles à iniciativa privada sempre foi defendida pelo PSDB e pelos demais partidos de oposição, como o DEM e o PPS.
No governo Lula, foi rechaçada pelo então presidente, ancorado na sua então ministra-chefe da Casa Civil.
Na campanha eleitoral de 2010, o saco de bravatas petista foi novamente escancarado. As privatizações foram demonizadas, numa estratégia oportunista da campanha de Dilma.
A candidata do PT prometia na TV fortalecer as estatais, numa espécie de "outro mundo possível" que vai se mostrando cada vez mais inviável.
Já no comando do país, Dilma, felizmente, preferiu optar pelo pragmatismo.
Viu que, se continuasse fiel a seu ultrapassado ideário, o Brasil certamente protagonizaria o maior vexame que se teria notícia em termos de organização de uma Copa do Mundo.
Não é novidade que, mais uma vez, o PT faça no governo o que sempre condenou quando estava fora dele.
Mas a demora em agir cobra seu preço. Enquanto a gestão petista perdia-se em discussões ideológicas estéreis, o fluxo de passageiros nos aeroportos brasileiros cresceu espantosos 153% desde 2003:
o total saltou de 71 milhões para 179 milhões no período.
Mesmo assim, o governo, por meio da Infraero, pouco fez.
Mostra hoje o Valor Econômico que, nos últimos anos, a empresa serviu mesmo foi para gerar receita para o caixa único do Tesouro.
Enquanto repassou R$ 10,3 bilhões ao governo central entre 2002 e 2010, a estatal aplicou somente R$ 4,6 bilhões em infraestrutura aeroportuária, como ampliações de terminais e reformas de pistas.
Manter o poder da Infraero no novo modelo privado vai continuar a nos custar caro. Para contrabalançar o peso morto da estatal nos consórcios, a mão amiga do BNDES foi estendida aos futuros concessionários.
O banco oficial de fomento irá financiar até 80% dos projetos, com juro máximo de 10,5% anuais e prazos de 15 a 20 anos.
Registre-se que analistas do setor aéreo consideram que as regras formuladas para a concessão dos três terminais que irão a leilão hoje são precárias.
Um dos aspectos criticados é a falta de metas bem definidas para poder aferir a qualidade dos serviços prestados no regime privado.
Não se descarta que o modelo também pode resultar em tarifas mais altas para os usuários.
Mas o que é mais importante salientar hoje é que deve-se à resistência petista ao investimento privado boa parte do colapso que atualmente assola nossa depauperada infraestrutura.
Quanto das bravatas antiprivatistas do PT, bradadas ao longo de anos, não estão subjacentes aos gargalos que atravancam o desenvolvimento do país, impedem uma maior geração de empregos e uma melhor distribuição de oportunidades e renda?
A privatização dos aeroportos, que decolam hoje para nunca mais regressar ao modelo estatal, contribui para atenuar um problema central para o desenvolvimento do país.
O governo tem o mérito de levar a iniciativa adiante, mas não ficará livre do ônus de ter retardado por tanto tempo uma solução que sempre pareceu tão óbvia.
06 de fevereiro de 2012
Fonte: Instituto Teotônio Vilela
Decola a privatização do PT
A JUSTIÇA NÃO SE MANCA MESMO. É UM NUNCA-ACABAR DE FAVORECIMENTOS.
Apesar da saraivada de denúncias sobre favorecimentos a magistrados, o Tribunal de Justiça de São Paulo não fez por menos e criou em janeiro um auxílio para seus desembargadores e juízes no valor de R$ 2.500 para a compra de notebooks, netbooks ou tablets, segundo reportagem de Flávio Ferreira, publicada na Folha de sábado.
O mais incrível é que o benefício tem caráter permanente e pode ser usado a cada três anos. Se os mais de 2.500 magistrados do Estado pedirem o auxílio, que será dado na forma de reembolso, o custo para o tribunal será de cerca de R$ 6,2 milhões.
De acordo com a direção do tribunal paulista, a criação do auxílio “implica medida de economia de recursos financeiros e administrativos”.
Medida de economia? Esses desembargadores devem estar de porre. Lei Seca neles.
Carlos Newton
06 de fevereiro de 2012
O mais incrível é que o benefício tem caráter permanente e pode ser usado a cada três anos. Se os mais de 2.500 magistrados do Estado pedirem o auxílio, que será dado na forma de reembolso, o custo para o tribunal será de cerca de R$ 6,2 milhões.
De acordo com a direção do tribunal paulista, a criação do auxílio “implica medida de economia de recursos financeiros e administrativos”.
Medida de economia? Esses desembargadores devem estar de porre. Lei Seca neles.
Carlos Newton
06 de fevereiro de 2012
VUNERABILIDADES DA DEMOCRACIA
“Mentem, sobretudo, impune/mente. Não mentem tristes. Alegremente mentem. Mentem tão nacional/mente que acham que mentindo história afora, vão enganar a morte eterna/mente.”
(Do poema “A implosão da mentira”, de Affonso Romano de Sant’Anna, escrito em 1980)
Para a jornalista Ann Landers, a verdade é nua, ao passo que a mentira é sempre bem vestida. Com efeito, a mentira é vestida para seduzir e induzir ao erro. Há um problema grave na vida social, portanto, quando a mentira se vulgariza, ganha status de direito e passa a ser tolerada como conduta normal.
Na minha infância, a mentira determinava repreensões severas e era sancionada no catálogo das penas. Mas o sermão acabava sendo ainda mais contundente do que a punição. Hoje, a mentira pode ser pública, pode ser publicada, pode aparecer nas manchetes. Pouco importa. Ela é acolhida entre as artes e ofícios da vida social.
Poderia estar falando de futebol e das mãos do atleta, espalmadas e erguidas, significando “Nem toquei nele!” quando joga o adversário para fora do campo com um pontapé que todos viram. Essa é uma das mais correntes e curiosas expressões da mentira. Mentira gestual, silenciosa. Mas não é sobre futebol que escrevo, embora o retângulo gramado, que nos desperta tantas paixões, seja palco de algumas mentiras cabeludas contadas ao país.
É sobre política. A conheci como espaço onde, não raro, uma mesma verdade comportava diferentes interpretações, visões incompletas, em versões iluminadas pelas lanternas das distintas ideologias. Parte da tarefa dos agentes políticos consistia em tornar mais convincente sua peculiar perspectiva perante o juízo soberano do eleitorado. Tolerava-se, dentro de certos limites, uma certa diferença entre a conduta de quem chegava ao governo e o discurso que fizera na oposição.
Nesse caso, as fronteiras do juízo moral precisavam ser um pouco flexíveis em função do que houvesse dentro dos armários da realidade, como parte oculta da verdade não destapada durante a dialética da campanha eleitoral.
As coisas foram mudando. Mente-se industrial e impunemente, como descreve o poema acima. Mente-se com insistência, corroborando o dito popular de que é mais fácil crer numa mentira repetida muitas vezes do que numa verdade desconhecida ou pouco proferida. Julgo ser isso que o poeta chamou de mentir história afora.
Uma coisa é o que assumimos, individualmente, como verdadeiro; outra é a mentira. Uma coisa é o ajuste fino entre o discurso e a ação, imposto pela realidade; outra é a incoerência absoluta. E tem mais: uma coisa é estar no jogo democrático sendo democrata; outra é usar a democracia contra a democracia.
A mentira, a incoerência e os falsos democratas, que querem calar o contraditório, fraudam o processo dentro do qual se desenrola a soberania popular e alteram o resultado do jogo político assim como o atleta que simula pênalti não sofrido frauda o resultado da partida.
A política brasileira teria muito a ganhar se nos tornássemos moralmente mais exigentes em relação aos desdobramentos do debate político. O dinheiro na gaveta ou alhures não é a única forma de corrupção que precisa ser combatida. É bom que a avaliemos com a gravidade que tem. Mas sem perder de vista que há outras. A democracia também é corrompida pela mentira, pela incoerência e pelos não democratas que dela se valem para cobrar direitos que não franqueariam se deles pudessem dispor.
Percival Puggina
06 de fevereiro de 2012
(Do poema “A implosão da mentira”, de Affonso Romano de Sant’Anna, escrito em 1980)
Para a jornalista Ann Landers, a verdade é nua, ao passo que a mentira é sempre bem vestida. Com efeito, a mentira é vestida para seduzir e induzir ao erro. Há um problema grave na vida social, portanto, quando a mentira se vulgariza, ganha status de direito e passa a ser tolerada como conduta normal.
Na minha infância, a mentira determinava repreensões severas e era sancionada no catálogo das penas. Mas o sermão acabava sendo ainda mais contundente do que a punição. Hoje, a mentira pode ser pública, pode ser publicada, pode aparecer nas manchetes. Pouco importa. Ela é acolhida entre as artes e ofícios da vida social.
Poderia estar falando de futebol e das mãos do atleta, espalmadas e erguidas, significando “Nem toquei nele!” quando joga o adversário para fora do campo com um pontapé que todos viram. Essa é uma das mais correntes e curiosas expressões da mentira. Mentira gestual, silenciosa. Mas não é sobre futebol que escrevo, embora o retângulo gramado, que nos desperta tantas paixões, seja palco de algumas mentiras cabeludas contadas ao país.
É sobre política. A conheci como espaço onde, não raro, uma mesma verdade comportava diferentes interpretações, visões incompletas, em versões iluminadas pelas lanternas das distintas ideologias. Parte da tarefa dos agentes políticos consistia em tornar mais convincente sua peculiar perspectiva perante o juízo soberano do eleitorado. Tolerava-se, dentro de certos limites, uma certa diferença entre a conduta de quem chegava ao governo e o discurso que fizera na oposição.
Nesse caso, as fronteiras do juízo moral precisavam ser um pouco flexíveis em função do que houvesse dentro dos armários da realidade, como parte oculta da verdade não destapada durante a dialética da campanha eleitoral.
As coisas foram mudando. Mente-se industrial e impunemente, como descreve o poema acima. Mente-se com insistência, corroborando o dito popular de que é mais fácil crer numa mentira repetida muitas vezes do que numa verdade desconhecida ou pouco proferida. Julgo ser isso que o poeta chamou de mentir história afora.
Uma coisa é o que assumimos, individualmente, como verdadeiro; outra é a mentira. Uma coisa é o ajuste fino entre o discurso e a ação, imposto pela realidade; outra é a incoerência absoluta. E tem mais: uma coisa é estar no jogo democrático sendo democrata; outra é usar a democracia contra a democracia.
A mentira, a incoerência e os falsos democratas, que querem calar o contraditório, fraudam o processo dentro do qual se desenrola a soberania popular e alteram o resultado do jogo político assim como o atleta que simula pênalti não sofrido frauda o resultado da partida.
A política brasileira teria muito a ganhar se nos tornássemos moralmente mais exigentes em relação aos desdobramentos do debate político. O dinheiro na gaveta ou alhures não é a única forma de corrupção que precisa ser combatida. É bom que a avaliemos com a gravidade que tem. Mas sem perder de vista que há outras. A democracia também é corrompida pela mentira, pela incoerência e pelos não democratas que dela se valem para cobrar direitos que não franqueariam se deles pudessem dispor.
Percival Puggina
06 de fevereiro de 2012
OBVIEDADES ESTRATÉGICAS
Artigos - Cultura
Se vocês querem algum dia ter no Brasil um movimento conservador vigoroso, apto a conquistar e exercer o poder, comecem por meditar os seguintes pontos:
1) Os grupos que dominam a política, a mídia e o mercado livreiro provêm das universidades e especialmente do movimento estudantil. A elevação dos líderes estudantis às posições de poder leva aproximadamente trinta anos. Quem domina as universidades hoje dominará o país em trinta anos.
2) Dominar as universidades não é um processo espontâneo. É o resultado de um trabalho sistemático de ocupação de espaços, de remoção dos adversários, de interproteção mafiosa e de conquista progressiva dos altos postos, que não rende frutos em menos de uma geração: mais trinta anos, que podem se reduzir a dez porque a conquista da hegemonia universitária e a formação da nova geração de estudantes não são fases estanques, mas fundidas e superpostas.
O tempo necessário para a formação de um movimento político viável é, pois, de quarenta anos aproximadamente. O acerto desse cálculo é ilustrado por exemplos inumeráveis. Data dos anos 60 o início da conquista das universidades da Europa, dos EUA e da América Latina pela "nova esquerda" inspirada na Escola de Frankfurt e naquilo que seus críticos viriam a rotular, sem muita precisão, de "marxismo cultural".
Decorridas quatro décadas, a ideologia do "politicamente correto", do feminismo, do gayzismo, do abortismo, do racialismo e do ódio anti-ocidental e anticristão dominava, e domina até hoje, a política, a mídia e o mercado editorial em toda essa área – um terço da superfície terrestre.
3) O trabalho de conquista, primeiro das universidades, depois do poder em geral, depende de duas condições: (a) só pode ser empreendido por organizações estáveis e duradouras, capazes de esforço concentrado e sistemático ao longo de pelo menos duas gerações; (b) exige organizações que estejam firmemente decididas a realizá-lo e que vejam nele a sua obrigação mais essencial e incontornável, ao ponto de sacrificar a ele todos os seus demais interesses políticos, sociais, culturais, financeiros etc.
Em todo o planeta, há quase dois séculos, só se interessaram seriamente por esse objetivo as organizações ligadas ao movimento revolucionário mundial em todas as suas variantes internas (comunismo, nazifascismo, terceiromundismo, "nova esquerda" etc.). Nenhuma outra.
Não estranha que a mentalidade revolucionária, em suas várias versões, incluindo as mais inconscientes de si próprias, tenha se tornado a chave dominante do pensamento político – e até da moralidade pública – em todo o mundo ocidental.
Hoje em dia, uma nova versão do movimento revolucionário – o radicalismo islâmico – está fazendo um sério, bem organizado e bem financiado esforço para conquistar as universidades da Europa e dos Estados Unidos. Se esse esforço for bem sucedido, será impossível evitar a islamização forçada do Ocidente no prazo de uma ou duas gerações.
4) Os grupos conservadores, liberais (no sentido brasileiro), cristãos, judeus sionistas etc. têm-se limitado a opor à hegemonia revolucionária nas universidades o combate intelectual, a "guerra cultural" ou "luta de ideias". Apostam nisso o melhor das suas forças. Mas é estratégia absolutamente impotente, pois o que está em jogo não é realmente nenhuma "luta de ideias" e sim uma luta pela conquista dos meios materiais e sociais de difundir ideias – coisa totalmente diversa.
Você pode provar mil vezes que tem a ideia certa, mas, se o sujeito que tem a ideia errada é o dono das universidades, da mídia e do movimento editorial, o que vai continuar prevalecendo é a ideia errada. Basta ler revistas como New Criterion ou a Salisbury Review para notar que, em comparação com a "esquerda", os conservadores têm hoje uma superioridade intelectual monstruosa. Nem por isso eles mandam no que quer que seja.
Em política, a superioridade intelectual tem apenas um valor instrumental muito relativo. Se você não sabe usá-la para quebrar a autoridade do adversário, para tomar o cargo dele e colocar lá alguém da sua confiança, ela não serve para absolutamente nada.
O movimento revolucionário já entendeu há tempos que "ocupar espaços" não é vencer debates letrados. Concentrando-se na "luta de ideias", recusando-se nobremente a praticar a ocupação de espaços, a infiltração nos postos decisivos e o boicote aos adversários, os conservadores deixam a estes o exercício do poder e se contentam com a satisfação subjetiva de sentir que são mais inteligentes e moralmente melhores.
O senso de solidariedade mafiosa, então, escapa-lhes por completo. Dificilmente um conservador ou liberal chega a reitor, a ministro ou mesmo a diretor de departamento, sem imediatamente rodear-se de auxiliares esquerdistas, só para provar a si próprio (e para grande satisfação do adversário) que seu respeito pelas pessoas está "acima de divergências ideológicas".
Essa boniteza moral é fonte de tantos malefícios políticos que chega a ser criminosa.
5) A luta pela ocupação de espaços pode comportar uma parte de debate político-ideológico, mas tem de ser uma parte bem modesta. O essencial não é vencer as "ideias" do adversário, mas o próprio adversário, pouco importando que seja por meios sem qualquer conteúdo ideológico explícito.
Trata-se de ocupar o seu lugar, e não de provar que ele está do lado errado. Isso se obtém melhor pela desmoralização profissional, pela prova de incompetência ou de corrupção, pela humilhação pública, do que por um respeitoso "debate de ideias" que só faz conferir dignidade intelectual a quem, no mais das vezes, não tem nenhuma.
Olavo de Carvalho, 06 Fevereiro 2012
Se vocês querem algum dia ter no Brasil um movimento conservador vigoroso, apto a conquistar e exercer o poder, comecem por meditar os seguintes pontos:
1) Os grupos que dominam a política, a mídia e o mercado livreiro provêm das universidades e especialmente do movimento estudantil. A elevação dos líderes estudantis às posições de poder leva aproximadamente trinta anos. Quem domina as universidades hoje dominará o país em trinta anos.
2) Dominar as universidades não é um processo espontâneo. É o resultado de um trabalho sistemático de ocupação de espaços, de remoção dos adversários, de interproteção mafiosa e de conquista progressiva dos altos postos, que não rende frutos em menos de uma geração: mais trinta anos, que podem se reduzir a dez porque a conquista da hegemonia universitária e a formação da nova geração de estudantes não são fases estanques, mas fundidas e superpostas.
O tempo necessário para a formação de um movimento político viável é, pois, de quarenta anos aproximadamente. O acerto desse cálculo é ilustrado por exemplos inumeráveis. Data dos anos 60 o início da conquista das universidades da Europa, dos EUA e da América Latina pela "nova esquerda" inspirada na Escola de Frankfurt e naquilo que seus críticos viriam a rotular, sem muita precisão, de "marxismo cultural".
Decorridas quatro décadas, a ideologia do "politicamente correto", do feminismo, do gayzismo, do abortismo, do racialismo e do ódio anti-ocidental e anticristão dominava, e domina até hoje, a política, a mídia e o mercado editorial em toda essa área – um terço da superfície terrestre.
3) O trabalho de conquista, primeiro das universidades, depois do poder em geral, depende de duas condições: (a) só pode ser empreendido por organizações estáveis e duradouras, capazes de esforço concentrado e sistemático ao longo de pelo menos duas gerações; (b) exige organizações que estejam firmemente decididas a realizá-lo e que vejam nele a sua obrigação mais essencial e incontornável, ao ponto de sacrificar a ele todos os seus demais interesses políticos, sociais, culturais, financeiros etc.
Em todo o planeta, há quase dois séculos, só se interessaram seriamente por esse objetivo as organizações ligadas ao movimento revolucionário mundial em todas as suas variantes internas (comunismo, nazifascismo, terceiromundismo, "nova esquerda" etc.). Nenhuma outra.
Não estranha que a mentalidade revolucionária, em suas várias versões, incluindo as mais inconscientes de si próprias, tenha se tornado a chave dominante do pensamento político – e até da moralidade pública – em todo o mundo ocidental.
Hoje em dia, uma nova versão do movimento revolucionário – o radicalismo islâmico – está fazendo um sério, bem organizado e bem financiado esforço para conquistar as universidades da Europa e dos Estados Unidos. Se esse esforço for bem sucedido, será impossível evitar a islamização forçada do Ocidente no prazo de uma ou duas gerações.
4) Os grupos conservadores, liberais (no sentido brasileiro), cristãos, judeus sionistas etc. têm-se limitado a opor à hegemonia revolucionária nas universidades o combate intelectual, a "guerra cultural" ou "luta de ideias". Apostam nisso o melhor das suas forças. Mas é estratégia absolutamente impotente, pois o que está em jogo não é realmente nenhuma "luta de ideias" e sim uma luta pela conquista dos meios materiais e sociais de difundir ideias – coisa totalmente diversa.
Você pode provar mil vezes que tem a ideia certa, mas, se o sujeito que tem a ideia errada é o dono das universidades, da mídia e do movimento editorial, o que vai continuar prevalecendo é a ideia errada. Basta ler revistas como New Criterion ou a Salisbury Review para notar que, em comparação com a "esquerda", os conservadores têm hoje uma superioridade intelectual monstruosa. Nem por isso eles mandam no que quer que seja.
Em política, a superioridade intelectual tem apenas um valor instrumental muito relativo. Se você não sabe usá-la para quebrar a autoridade do adversário, para tomar o cargo dele e colocar lá alguém da sua confiança, ela não serve para absolutamente nada.
O movimento revolucionário já entendeu há tempos que "ocupar espaços" não é vencer debates letrados. Concentrando-se na "luta de ideias", recusando-se nobremente a praticar a ocupação de espaços, a infiltração nos postos decisivos e o boicote aos adversários, os conservadores deixam a estes o exercício do poder e se contentam com a satisfação subjetiva de sentir que são mais inteligentes e moralmente melhores.
O senso de solidariedade mafiosa, então, escapa-lhes por completo. Dificilmente um conservador ou liberal chega a reitor, a ministro ou mesmo a diretor de departamento, sem imediatamente rodear-se de auxiliares esquerdistas, só para provar a si próprio (e para grande satisfação do adversário) que seu respeito pelas pessoas está "acima de divergências ideológicas".
Essa boniteza moral é fonte de tantos malefícios políticos que chega a ser criminosa.
5) A luta pela ocupação de espaços pode comportar uma parte de debate político-ideológico, mas tem de ser uma parte bem modesta. O essencial não é vencer as "ideias" do adversário, mas o próprio adversário, pouco importando que seja por meios sem qualquer conteúdo ideológico explícito.
Trata-se de ocupar o seu lugar, e não de provar que ele está do lado errado. Isso se obtém melhor pela desmoralização profissional, pela prova de incompetência ou de corrupção, pela humilhação pública, do que por um respeitoso "debate de ideias" que só faz conferir dignidade intelectual a quem, no mais das vezes, não tem nenhuma.
Olavo de Carvalho, 06 Fevereiro 2012
OS EXTERMINADORES DO FUTURO IV - 4a. PARTE: DAS ORGANIZAÇÕES INFANTO-JUVENIS TOTALITÁRIAS
Artigos - Movimento Revolucionário
“A nova religião fascista demanda a necessidade da crença absoluta no Fascismo, no Duce, na Revolução. Assim como alguém acredita em Deus, nós aceitamos a Revolução com orgulho, assim como aceitamos estes princípios – mesmo se acharmos que estamos sendo enganados, ainda assim os aceitamos sem discussão!”
Augusto Turati, secretário do Partido Fascista e “apóstolo da religião da Mãe-Pátria”, dirigindo-se à Juventude Italiana.
A necessidade dos movimentos totalitários de doutrinar, mobilizar e organizar a juventude já foi abordada por mim em textos anteriores [i]. Esta necessidade parte de outra, que a antecede: a desilusão com o ser humano como ele é e a idéia delirante de que se pode construir um “Homem Novo”, segundo cânones que, por “coincidência”, correspondam exatamente ao próprio conteúdo delirante daqueles que o concebem. Esta construção é absolutamente impossível se o homem for deixado livre e, principalmente, se esta liberdade for concebida como um direito inalienável com que foi dotado pelo seu Criador, assim como a vida e a busca da felicidade.
Rousseau, ao discorrer sobre o bon sauvaje, criou um ser mitológico, uma idealização dos “homens que vivem em contato com a natureza” [ii], não como um ponto de partida de suas elucubrações filosóficas, mas antes o ponto de chegada: o “Novo Homem” que deveria ser formado através da modificação radical da sociedade humana. Anteriormente, este mito, na verdade milenar, havia sido abordado por Montaigne que se posicionou a favor dos povos autóctones que vivem tranquilamente na natureza e contra os europeus “que só se interessam em enriquecer e corromper os povos inocentes”. Montaigne sublinhava a importância da “voz do povo”, sendo o introdutor do princípio do relativismo cultural.
A influência de Rousseau sobre os ideólogos da Revolução Francesa jamais será enfatizada suficientemente. Foi assim que Robespierre em plenoTerror declarou: “estou convencido da necessidade de promover uma completa regeneração e, se assim me posso expressar, de criar um novo povo” e forçou a aprovação de uma lei exigindo que as crianças fossem tiradas dos pais e doutrinadas em internatos estatais [iii].
Como bem o disse Alexis de Tocqueville (L’Ancien Regime et la Revolution): “os Sacerdotes da Ação dedicados à Revolução tinham uma fé fanática em sua vocação de transformar o sistema social de ponta a ponta e regenerar toda a raça humana”. Robespierre foi o primeiro a mostrar (e agir de acordo com) a necessidade do terror: “o terror nada mais é que a justiça pontual, severa, inflexível. A virtude sem o terror é impotente”. Daí a necessidade de manter um permanente estado de crise, porque esta cria um curto circuito no debate e nas deliberações democráticas.
Neste ponto especificamente reside a diferença da Revolução Francesa com a Revolução Americana: os Founding Fathers aceitaram o homem como ele é, e não como gostariam que fosse, não fizeram uma Revolução para construir um homem novo, mas para criar os alicerces sobre os quais poderia ser construído um sistema baseado na liberdade e na lei (rule of Law), como o atesta Tocqueville (Democracy in America), onde diz:
“Não se deve esquecer que é especialmente perigoso escravizar os homens nos pequenos detalhes da vida. De minha parte, eu estaria inclinado a pensar que a liberdade é menos necessária nas grandes coisas do que nas pequenas”.
Georges Sorel, pai do sindicalismo francês, ao criticar o marxismo, percebeu que as profecias de Marx sobre o mundo novo que adviria com o comunismo não passavam de um mito, um conjunto de imagens capazes de ser evocada pela massa em bloco e somente pela intuição, antes de qualquer análise refletida, e não precisariam necessariamente se cumprir: “basta que o povo acredite que se cumprirão” [iv]. A influência de Sorel foi significativa na França e principalmente na Itália, onde penetrou no fascismo e também no comunismo através de Gramsci [v].
A mitologia revolucionária antes inventa um passado mítico – o comunismo primitivo sem propriedade privada e divisão em classes, ou a glória do passado ariano germânico, ou o passado glorioso da Roma anterior ao Império – para secundariamente apresentar o futuro prometido como restauração daquele passado perfeito, conseqüentemente regenerando o homem cuja perfeição foi destruída – pela propriedade privada, ou pela mistura racial, ou pela invasão do Império pelos bárbaros. Para que estes mitos tenham resultados políticos é necessário convencer as massas insatisfeitas e explorar as emoções, nunca a razão, embora se apresentem como científicos.
Mussolini dizia que “é a fé que remove montanhas, não a razão, pois esta não pode ser a força motriz da multidão”. Hitler anunciava o fim da era da razão e o império da vontade [vi]! Quem melhor do que as crianças e os jovens para acreditar e ter fé num chamamento à sua onipotência de pensamento? “O futuro pertence a vocês!” Dando a eles uma bandeira de luta, constrói-se uma juventude fanática que se sentirá dona do futuro. Tal como o hino do Partido Fascista, La Giovinezza (A Juventude) (letra aqui) ou a canção composta por Baldur von Schirach, para a Hitlerjugend por ele comandada, a Fahnenlied (Canção da Bandeira)[vii] (tradução livre do inglês):
Nossa bandeira tremula à nossa frente,
Nossa bandeira representa nossa era,
E a bandeira nos levará à eternidade!
Sim, a bandeira significa mais para nós do que a morte.
Explorando o conflito de gerações
O cenário ideal criado pela guerra desvaneceu-se quando ela terminou, e com seu desaparecimento, o modernismo, antes dela uma visão de síntese, tornou-se uma cultura de pesadelo e negação. (...) Os anos vinte, como resultado, testemunharam um hedonismo e narcisismo de proporções extraordinárias.
Modris Eksteins, na obra Rites of Spring.
Como estamos falando em partidos que surgiram simultaneamente num mesmo período de tempo, os anos pós-guerra, é preciso levar em consideração o que se convencionou chamar de “front generation” da I Guerra Mundial [viii]: os veteranos da maior e mais destrutiva guerra da história sentiam que compartilhavam o mesmo destino histórico coletivo. Foi exatamente em três países que participaram nesta guerra que matou milhões de jovens que os veteranos desiludidos e desempregados formaram as hostes dos partidos fascistas mais atuantes.
Os russos, traídos pela alta hierarquia czarista e descrentes de uma democracia que desde o início mostrou-se débil e decadente, se entregaram aos asseclas de Lênin e Trotsky, que lhes acenaram com o fim da guerra e um mundo de prosperidade. O brado “todo o poder aos soviets” foi aclamado pelo povo, acabando com o poder da Duma eleita democraticamente, e na qual os bolcheviques eram minoritários.
Os orgulhosos alemães, traídos pelas excessivas exigências das reparações de guerra dos aliados e sua aceitação plena pelos oficiais prussianos, e pelo novo governo social-democrata, a “punhalada pelas costas” exploradas pelos partidos nacionalistas, voltaram para suas casas famintos e nada encontraram para comer, nem postos de trabalho, e foram presa fácil da demagogia nacional-socialista e comunista.
A tentativa abortada de golpe comunista em 1918, comandada pela Spartakus Bund de Rosa Luxembourg e Karl Liebknecht, deu força aos nacionalistas que cedo se voltaram contra a incipiente e mal sucedida democracia de Weimar. Os italianos, embora vencedores, foram traídos pela anulação do secreto Tratado de Londres que atribuía à Itália um substancial aumento territorial, pela demagogia globalista de Woodrow Wilson e pelos interesses escusos dos outros aliados. A vittoria mutilata como a chamou Gabriele DAnnunzio, foi devidamente explorada pela retórica incendiária de fascistas e comunistas.
Os jovens, combatentes ou não, voltaram-se, nos três países, contra a geração anterior responsável pela guerra e pela humilhante derrota (no caso da vitoriosa Itália pela aceitação dos termos do Tratado de Versalhes), sendo este conflito uma parte importante, embora certamente não exclusiva, da formação dos partidos fascistas.
Karl Mannheim formulou o clássico conceito de geração: “O fenômeno social de ‘geração’ representa nada mais do que uma forma particular de identificação, englobando ‘grupos etários’ participantes do processo histórico-social” [ix], grupos de pessoas da mesma idade marcados por um comportamento geracional específico e que partilham condições históricas comuns, profundamente diferentes de contemporâneos de outros grupos etários. Deste ponto de vista, os confrontos reais dentro de uma sociedade não são entre crenças religiosas, regionalismos ou conflitos de classes, mas entre velhos e jovens. As identificações e crenças geracionais tendem a se cristalizar, senão em todos, na maioria dos que comungaram comportamentos comuns, de tal modo que as atitudes de cada um destes indivíduos geralmente não mudam durante toda a vida.
De maneira geral, entre os jovens predomina a crença de que os problemas políticos são mais bem resolvidos através de métodos violentos do que por deliberações racionais. São, portanto, um caldo de cultura fértil para a doutrinação totalitária de partidos extremamente violentos como os comunistas, fascistas e nazistas.
Não podemos deixar de assinalar, porém, que embora este conflito inter-geracional exista, ele só terá expressão política apreciável se houver outro: o conflito intra-geracional da geração mais velha e a exploração dos jovens por parte de uma das facções deste último. Portanto, a doutrinação da juventude visa a acirrar a destrutividade natural dos jovens em proveito de imposições de facções revolucionárias dos mais velhos.
Por esta razão, não podemos supervalorizar o fator geracional. Este fator deve ser cotejado com outros, mas neste estudo preocupo-me principalmente com as organizações juvenis. A maioria das SS, incluindo os guardas dos campos de concentração SS-TV (SS-Totenkopfverbände) e das divisões armadas SS-VT (SS-Verfügungstruppe) virem da geração jovem, a maioria nascidos em torno de 1910, a maioria do grupo original das SS (Allgemeine-SS) era composta de indivíduos nascidos entre 1895 e 1900 [x]. Em 1938 a população com menos de 30 anos representava 34,6% do total da Alemanha, enquanto nas SS-TV eram 71%, nas SS-VT 57,6%, na Allgemeine-SS 19,6%; os membros do Partido Nazista perfaziam 37,6% (2.493.890) da população total [xi].
Como frisou Eksteins, o hedonismo e o narcisismo formaram a base para as mentiras revolucionárias que visavam exatamente estimulá-los com as visões apocalípticas que dotavam a juventude de um “destino manifesto” salvador da humanidade num futuro em que imperariam soberbos. Sequer tomavam conhecimento de que não passavam de teleguiados de interesses que não viriam a conhecer senão quando já fosse tarde demais. A imagem de Hitler em seu último aniversário saudando os garotos “combatentes” antes de descer para o Bunker para se suicidar, resume a tragédia desta juventude iludida:
Heitor De Paola, 06 Fevereiro 2012
Notas:
[i] No decorrer desta série de artigos veremos como este mito delirante renasceu fortemente nos dias atuais, embasando a concepção do ambientalismo, do indigenismo da maldade da civilização.
[ii] A lei só foi instituída parcialmente e por pouco tempo.
[iii] Georges Sorel, Réflexions sur la violence. Zeev Sternhell et. als., estudam profundamente a influência das idéias de Sorel e o sindicalismo revolucionário na França e na Itália, em The Birth of Fascist Ideology
[iv] Leandro de Oliveira Galastri, Revisionismo "Latino" e Marxismo: de Georges Sorel a Antonio Gramsci, tese de Mestrado apresentada no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UNICAMP.
[v] Leni Riefenstahl filmou O Triunfo da Vontade (Triumph des Willens), sobre o 6º Congresso do Partido Nazista em 1934 Nüremberg.
[vi] Unsere Fahne flattert uns voran, Unsere Fahne ist die neue Zeit, Und die Fahne führt uns in die Ewigkeit! Ja, die Fahne ist mehr als der Tod.
[vii] Edgar Jung, Die Tragik der Kriegsgeneration. Ver também Rites of Spring, de Modris Eksteins.
[] Essays on the Sociology of Knowledge, London, 1959
[x]viii Em 1938 a população com menos de 30 anos representava 34,6% do total da Alemanha, enquanto nas SS-TV eram 71%, nas SS-VT 57,6%, na Allgemeine-SS 196%, os membros do Partido Nazista (NSDAP) perfaziam 37,6% (2.493.890) da população total. Herbert F. Ziegler, Nazi Germany’s New Aristocracy: The SS Leadership, 1925-1939, Princeton, 1989. Este livro é uma fonte preciosa sobre a composição das SS e do partido nazista.
[ix] Note-se que Hitler nasceu em 1889, Himmler em 1900, Goering em 1893, Goebbels em 1897, Heydrich em 1904. Mussolini em 1893, Cesare Maria De Vecchi ,1884, Italo Balbo ,1896, Michele Bianchi, 1883, Emilio De Bono, 1883, Roberto Farinacci, 1892, Achille Starace ,1889 e Giuseppe Bottai em 1895.
“A nova religião fascista demanda a necessidade da crença absoluta no Fascismo, no Duce, na Revolução. Assim como alguém acredita em Deus, nós aceitamos a Revolução com orgulho, assim como aceitamos estes princípios – mesmo se acharmos que estamos sendo enganados, ainda assim os aceitamos sem discussão!”
Augusto Turati, secretário do Partido Fascista e “apóstolo da religião da Mãe-Pátria”, dirigindo-se à Juventude Italiana.
A necessidade dos movimentos totalitários de doutrinar, mobilizar e organizar a juventude já foi abordada por mim em textos anteriores [i]. Esta necessidade parte de outra, que a antecede: a desilusão com o ser humano como ele é e a idéia delirante de que se pode construir um “Homem Novo”, segundo cânones que, por “coincidência”, correspondam exatamente ao próprio conteúdo delirante daqueles que o concebem. Esta construção é absolutamente impossível se o homem for deixado livre e, principalmente, se esta liberdade for concebida como um direito inalienável com que foi dotado pelo seu Criador, assim como a vida e a busca da felicidade.
Rousseau, ao discorrer sobre o bon sauvaje, criou um ser mitológico, uma idealização dos “homens que vivem em contato com a natureza” [ii], não como um ponto de partida de suas elucubrações filosóficas, mas antes o ponto de chegada: o “Novo Homem” que deveria ser formado através da modificação radical da sociedade humana. Anteriormente, este mito, na verdade milenar, havia sido abordado por Montaigne que se posicionou a favor dos povos autóctones que vivem tranquilamente na natureza e contra os europeus “que só se interessam em enriquecer e corromper os povos inocentes”. Montaigne sublinhava a importância da “voz do povo”, sendo o introdutor do princípio do relativismo cultural.
A influência de Rousseau sobre os ideólogos da Revolução Francesa jamais será enfatizada suficientemente. Foi assim que Robespierre em plenoTerror declarou: “estou convencido da necessidade de promover uma completa regeneração e, se assim me posso expressar, de criar um novo povo” e forçou a aprovação de uma lei exigindo que as crianças fossem tiradas dos pais e doutrinadas em internatos estatais [iii].
Como bem o disse Alexis de Tocqueville (L’Ancien Regime et la Revolution): “os Sacerdotes da Ação dedicados à Revolução tinham uma fé fanática em sua vocação de transformar o sistema social de ponta a ponta e regenerar toda a raça humana”. Robespierre foi o primeiro a mostrar (e agir de acordo com) a necessidade do terror: “o terror nada mais é que a justiça pontual, severa, inflexível. A virtude sem o terror é impotente”. Daí a necessidade de manter um permanente estado de crise, porque esta cria um curto circuito no debate e nas deliberações democráticas.
Neste ponto especificamente reside a diferença da Revolução Francesa com a Revolução Americana: os Founding Fathers aceitaram o homem como ele é, e não como gostariam que fosse, não fizeram uma Revolução para construir um homem novo, mas para criar os alicerces sobre os quais poderia ser construído um sistema baseado na liberdade e na lei (rule of Law), como o atesta Tocqueville (Democracy in America), onde diz:
“Não se deve esquecer que é especialmente perigoso escravizar os homens nos pequenos detalhes da vida. De minha parte, eu estaria inclinado a pensar que a liberdade é menos necessária nas grandes coisas do que nas pequenas”.
Georges Sorel, pai do sindicalismo francês, ao criticar o marxismo, percebeu que as profecias de Marx sobre o mundo novo que adviria com o comunismo não passavam de um mito, um conjunto de imagens capazes de ser evocada pela massa em bloco e somente pela intuição, antes de qualquer análise refletida, e não precisariam necessariamente se cumprir: “basta que o povo acredite que se cumprirão” [iv]. A influência de Sorel foi significativa na França e principalmente na Itália, onde penetrou no fascismo e também no comunismo através de Gramsci [v].
A mitologia revolucionária antes inventa um passado mítico – o comunismo primitivo sem propriedade privada e divisão em classes, ou a glória do passado ariano germânico, ou o passado glorioso da Roma anterior ao Império – para secundariamente apresentar o futuro prometido como restauração daquele passado perfeito, conseqüentemente regenerando o homem cuja perfeição foi destruída – pela propriedade privada, ou pela mistura racial, ou pela invasão do Império pelos bárbaros. Para que estes mitos tenham resultados políticos é necessário convencer as massas insatisfeitas e explorar as emoções, nunca a razão, embora se apresentem como científicos.
Mussolini dizia que “é a fé que remove montanhas, não a razão, pois esta não pode ser a força motriz da multidão”. Hitler anunciava o fim da era da razão e o império da vontade [vi]! Quem melhor do que as crianças e os jovens para acreditar e ter fé num chamamento à sua onipotência de pensamento? “O futuro pertence a vocês!” Dando a eles uma bandeira de luta, constrói-se uma juventude fanática que se sentirá dona do futuro. Tal como o hino do Partido Fascista, La Giovinezza (A Juventude) (letra aqui) ou a canção composta por Baldur von Schirach, para a Hitlerjugend por ele comandada, a Fahnenlied (Canção da Bandeira)[vii] (tradução livre do inglês):
Nossa bandeira tremula à nossa frente,
Nossa bandeira representa nossa era,
E a bandeira nos levará à eternidade!
Sim, a bandeira significa mais para nós do que a morte.
Explorando o conflito de gerações
O cenário ideal criado pela guerra desvaneceu-se quando ela terminou, e com seu desaparecimento, o modernismo, antes dela uma visão de síntese, tornou-se uma cultura de pesadelo e negação. (...) Os anos vinte, como resultado, testemunharam um hedonismo e narcisismo de proporções extraordinárias.
Modris Eksteins, na obra Rites of Spring.
Como estamos falando em partidos que surgiram simultaneamente num mesmo período de tempo, os anos pós-guerra, é preciso levar em consideração o que se convencionou chamar de “front generation” da I Guerra Mundial [viii]: os veteranos da maior e mais destrutiva guerra da história sentiam que compartilhavam o mesmo destino histórico coletivo. Foi exatamente em três países que participaram nesta guerra que matou milhões de jovens que os veteranos desiludidos e desempregados formaram as hostes dos partidos fascistas mais atuantes.
Os russos, traídos pela alta hierarquia czarista e descrentes de uma democracia que desde o início mostrou-se débil e decadente, se entregaram aos asseclas de Lênin e Trotsky, que lhes acenaram com o fim da guerra e um mundo de prosperidade. O brado “todo o poder aos soviets” foi aclamado pelo povo, acabando com o poder da Duma eleita democraticamente, e na qual os bolcheviques eram minoritários.
Os orgulhosos alemães, traídos pelas excessivas exigências das reparações de guerra dos aliados e sua aceitação plena pelos oficiais prussianos, e pelo novo governo social-democrata, a “punhalada pelas costas” exploradas pelos partidos nacionalistas, voltaram para suas casas famintos e nada encontraram para comer, nem postos de trabalho, e foram presa fácil da demagogia nacional-socialista e comunista.
A tentativa abortada de golpe comunista em 1918, comandada pela Spartakus Bund de Rosa Luxembourg e Karl Liebknecht, deu força aos nacionalistas que cedo se voltaram contra a incipiente e mal sucedida democracia de Weimar. Os italianos, embora vencedores, foram traídos pela anulação do secreto Tratado de Londres que atribuía à Itália um substancial aumento territorial, pela demagogia globalista de Woodrow Wilson e pelos interesses escusos dos outros aliados. A vittoria mutilata como a chamou Gabriele DAnnunzio, foi devidamente explorada pela retórica incendiária de fascistas e comunistas.
Os jovens, combatentes ou não, voltaram-se, nos três países, contra a geração anterior responsável pela guerra e pela humilhante derrota (no caso da vitoriosa Itália pela aceitação dos termos do Tratado de Versalhes), sendo este conflito uma parte importante, embora certamente não exclusiva, da formação dos partidos fascistas.
Karl Mannheim formulou o clássico conceito de geração: “O fenômeno social de ‘geração’ representa nada mais do que uma forma particular de identificação, englobando ‘grupos etários’ participantes do processo histórico-social” [ix], grupos de pessoas da mesma idade marcados por um comportamento geracional específico e que partilham condições históricas comuns, profundamente diferentes de contemporâneos de outros grupos etários. Deste ponto de vista, os confrontos reais dentro de uma sociedade não são entre crenças religiosas, regionalismos ou conflitos de classes, mas entre velhos e jovens. As identificações e crenças geracionais tendem a se cristalizar, senão em todos, na maioria dos que comungaram comportamentos comuns, de tal modo que as atitudes de cada um destes indivíduos geralmente não mudam durante toda a vida.
De maneira geral, entre os jovens predomina a crença de que os problemas políticos são mais bem resolvidos através de métodos violentos do que por deliberações racionais. São, portanto, um caldo de cultura fértil para a doutrinação totalitária de partidos extremamente violentos como os comunistas, fascistas e nazistas.
Não podemos deixar de assinalar, porém, que embora este conflito inter-geracional exista, ele só terá expressão política apreciável se houver outro: o conflito intra-geracional da geração mais velha e a exploração dos jovens por parte de uma das facções deste último. Portanto, a doutrinação da juventude visa a acirrar a destrutividade natural dos jovens em proveito de imposições de facções revolucionárias dos mais velhos.
Por esta razão, não podemos supervalorizar o fator geracional. Este fator deve ser cotejado com outros, mas neste estudo preocupo-me principalmente com as organizações juvenis. A maioria das SS, incluindo os guardas dos campos de concentração SS-TV (SS-Totenkopfverbände) e das divisões armadas SS-VT (SS-Verfügungstruppe) virem da geração jovem, a maioria nascidos em torno de 1910, a maioria do grupo original das SS (Allgemeine-SS) era composta de indivíduos nascidos entre 1895 e 1900 [x]. Em 1938 a população com menos de 30 anos representava 34,6% do total da Alemanha, enquanto nas SS-TV eram 71%, nas SS-VT 57,6%, na Allgemeine-SS 19,6%; os membros do Partido Nazista perfaziam 37,6% (2.493.890) da população total [xi].
Como frisou Eksteins, o hedonismo e o narcisismo formaram a base para as mentiras revolucionárias que visavam exatamente estimulá-los com as visões apocalípticas que dotavam a juventude de um “destino manifesto” salvador da humanidade num futuro em que imperariam soberbos. Sequer tomavam conhecimento de que não passavam de teleguiados de interesses que não viriam a conhecer senão quando já fosse tarde demais. A imagem de Hitler em seu último aniversário saudando os garotos “combatentes” antes de descer para o Bunker para se suicidar, resume a tragédia desta juventude iludida:
Heitor De Paola, 06 Fevereiro 2012
Notas:
[i] No decorrer desta série de artigos veremos como este mito delirante renasceu fortemente nos dias atuais, embasando a concepção do ambientalismo, do indigenismo da maldade da civilização.
[ii] A lei só foi instituída parcialmente e por pouco tempo.
[iii] Georges Sorel, Réflexions sur la violence. Zeev Sternhell et. als., estudam profundamente a influência das idéias de Sorel e o sindicalismo revolucionário na França e na Itália, em The Birth of Fascist Ideology
[iv] Leandro de Oliveira Galastri, Revisionismo "Latino" e Marxismo: de Georges Sorel a Antonio Gramsci, tese de Mestrado apresentada no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UNICAMP.
[v] Leni Riefenstahl filmou O Triunfo da Vontade (Triumph des Willens), sobre o 6º Congresso do Partido Nazista em 1934 Nüremberg.
[vi] Unsere Fahne flattert uns voran, Unsere Fahne ist die neue Zeit, Und die Fahne führt uns in die Ewigkeit! Ja, die Fahne ist mehr als der Tod.
[vii] Edgar Jung, Die Tragik der Kriegsgeneration. Ver também Rites of Spring, de Modris Eksteins.
[] Essays on the Sociology of Knowledge, London, 1959
[x]viii Em 1938 a população com menos de 30 anos representava 34,6% do total da Alemanha, enquanto nas SS-TV eram 71%, nas SS-VT 57,6%, na Allgemeine-SS 196%, os membros do Partido Nazista (NSDAP) perfaziam 37,6% (2.493.890) da população total. Herbert F. Ziegler, Nazi Germany’s New Aristocracy: The SS Leadership, 1925-1939, Princeton, 1989. Este livro é uma fonte preciosa sobre a composição das SS e do partido nazista.
[ix] Note-se que Hitler nasceu em 1889, Himmler em 1900, Goering em 1893, Goebbels em 1897, Heydrich em 1904. Mussolini em 1893, Cesare Maria De Vecchi ,1884, Italo Balbo ,1896, Michele Bianchi, 1883, Emilio De Bono, 1883, Roberto Farinacci, 1892, Achille Starace ,1889 e Giuseppe Bottai em 1895.
UM EXEMPLO DE DEDICAÇÃO AO SERVIÇO PÚBLICO
Servidor do Tribunal que movimentou R$ 282 milhões, sem dúvida, é maior exemplo de dedicação ao serviço público em todos os tempos.
O serventuário da Justiça Rogério Figueiredo Vieira, lotado no Tribunal Regional do Trabalho (TRT) do Rio de Janeiro, é um personagem tão rico na vida real que merece ter sua vida transformada em filme ou minissérie de televisão.
Aos 49 anos, Rogério Vieira tem um currículo impressionante. Além de ter feito movimentações atípicas de R$ 282,9 milhões em apenas um ano (2002), é alvo de uma investigação da Polícia Federal por envolvimento em um esquema de contrabando.
Funcionário concursado do TRT desde 1991, nosso herói passou cinco anos (1998 a 2003) cedido ao gabinete do deputado bispo Carlos Rodrigues, na Câmara dos Deputados.
A movimentação que o Coaf entendeu como “atípica” aconteceu no período em que Vieira estava na Câmara, cabendo-nos então indagar o que o tal bispo teria a ver com isso.
O que se sabe é que a movimentação milionária em 2002, descoberta pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) e que consta de um relatório recente entregue à Corregedoria do Conselho Nacional de Justiça, é dos bons tempos em que o servidor público se desdobrava, também atuando com denodo na lavagem de dinheiro sujo do mercado negro do dólar.
Mas ele não parou por aí. Segundo investigação da PF, anterior ao relatório do Coaf, o diligente servidor público também integrou um esquema, entre 2008 e 2010, para a entrada ilegal de mercadorias no país, agindo junto de empresários, servidores da Receita e policiais federais, que integravam uma superquadrilha.
As investigações apontam que brasileiros residentes nos Estados Unidos traziam equipamentos eletrônicos e não eram fiscalizados por auditores da Receita no aeroporto internacional do Rio, esquema que não é nenhuma novidade, pois até as paredes do aeroporto sabem que isso funciona desde que começaram a ser popularizados o uso de computadores, na década de 90.
Em sua denúncia, o procurador Marcelo Freire diz que o grupo seria liderado pelo servidor do TRT, vejam que ele realmente merece ser o personagem principal do filme. E agora a PF investiga se os valores movimentados na conta do servidor são produto desses ganhos e se outros servidores do tribunal faziam compras com ele.
A PF já descobriu que Vieira tem participação em sete empresas. Algumas em nome de laranjas. Como servidor do TRT, ele é proibido de ter empresa. O tribunal enfim despertou e está abrindo sindicância.
Procurado pelos jornalistas, o advogado José Ricardo Lopes, que defende Vieira em processos na Justiça Federal do Rio, não foi encontrado. Rodrigues também não. Na sexta-feira, ele não foi ao tribunal, onde trabalha discretamente em função burocrática no setor de Protocolo.
O que mais intriga a todos nesse enredo hollywoodiano, que mostra a impressionante evolução da corrupção brasileira, é justamente a personalidade modesta de Rogério Vieira. Apesar de ser um verdadeiro super-herói da contravenção nacional e de ter-se tornado um homem riquíssimo, por que ele continuava trabalhando com tanto empenho no Tribunal Regional do Trabalho?
Sem dúvida, trata-se de um exemplo de dedicação ao serviço público, a ser por todos exaltado. Perto dele, o amanuense Belmiro, de Cyro do Anjos não chega nem aos pés.
Carlos Newton
06 de fevereiro de 2012
O serventuário da Justiça Rogério Figueiredo Vieira, lotado no Tribunal Regional do Trabalho (TRT) do Rio de Janeiro, é um personagem tão rico na vida real que merece ter sua vida transformada em filme ou minissérie de televisão.
Aos 49 anos, Rogério Vieira tem um currículo impressionante. Além de ter feito movimentações atípicas de R$ 282,9 milhões em apenas um ano (2002), é alvo de uma investigação da Polícia Federal por envolvimento em um esquema de contrabando.
Funcionário concursado do TRT desde 1991, nosso herói passou cinco anos (1998 a 2003) cedido ao gabinete do deputado bispo Carlos Rodrigues, na Câmara dos Deputados.
A movimentação que o Coaf entendeu como “atípica” aconteceu no período em que Vieira estava na Câmara, cabendo-nos então indagar o que o tal bispo teria a ver com isso.
O que se sabe é que a movimentação milionária em 2002, descoberta pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) e que consta de um relatório recente entregue à Corregedoria do Conselho Nacional de Justiça, é dos bons tempos em que o servidor público se desdobrava, também atuando com denodo na lavagem de dinheiro sujo do mercado negro do dólar.
Mas ele não parou por aí. Segundo investigação da PF, anterior ao relatório do Coaf, o diligente servidor público também integrou um esquema, entre 2008 e 2010, para a entrada ilegal de mercadorias no país, agindo junto de empresários, servidores da Receita e policiais federais, que integravam uma superquadrilha.
As investigações apontam que brasileiros residentes nos Estados Unidos traziam equipamentos eletrônicos e não eram fiscalizados por auditores da Receita no aeroporto internacional do Rio, esquema que não é nenhuma novidade, pois até as paredes do aeroporto sabem que isso funciona desde que começaram a ser popularizados o uso de computadores, na década de 90.
Em sua denúncia, o procurador Marcelo Freire diz que o grupo seria liderado pelo servidor do TRT, vejam que ele realmente merece ser o personagem principal do filme. E agora a PF investiga se os valores movimentados na conta do servidor são produto desses ganhos e se outros servidores do tribunal faziam compras com ele.
A PF já descobriu que Vieira tem participação em sete empresas. Algumas em nome de laranjas. Como servidor do TRT, ele é proibido de ter empresa. O tribunal enfim despertou e está abrindo sindicância.
Procurado pelos jornalistas, o advogado José Ricardo Lopes, que defende Vieira em processos na Justiça Federal do Rio, não foi encontrado. Rodrigues também não. Na sexta-feira, ele não foi ao tribunal, onde trabalha discretamente em função burocrática no setor de Protocolo.
O que mais intriga a todos nesse enredo hollywoodiano, que mostra a impressionante evolução da corrupção brasileira, é justamente a personalidade modesta de Rogério Vieira. Apesar de ser um verdadeiro super-herói da contravenção nacional e de ter-se tornado um homem riquíssimo, por que ele continuava trabalhando com tanto empenho no Tribunal Regional do Trabalho?
Sem dúvida, trata-se de um exemplo de dedicação ao serviço público, a ser por todos exaltado. Perto dele, o amanuense Belmiro, de Cyro do Anjos não chega nem aos pés.
Carlos Newton
06 de fevereiro de 2012
A IMPORTÂNCIA DA LIBERDADE DE IMPRENSA
A cada dia, a opinião pública pode constatar por que é tão importante a liberdade de imprensa.
No governo do PT, desde o primeiro mandato de Lula, jamais faltaram críticas à imprensa. Pelo contrário, a pressão para que o Congresso estabelecesse limites aos jornalistas foi num crescendo e até o finalzinho do segundo mandato de Lula o então ministro Franklin Martins, da Comunicação Social, tentou de todas as maneiras concretizar esse sonho, que mais parecia um pesadelo.
Agora, o que se vê, a cada dia, é a importância incomensurável de existir uma imprensa livre, que fique de olho nos três poderes da União, dos estados e municípios, para evitar uma dilapidação ainda maior dos recursos públicos. Para comprovar a importância dessa imprensa livre, basta conferir esta reportagem de Alana Rizzo, publicada pelo O Estado de S. Paulo.
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Corte mais cara do País, o TJ-DF gasta com pessoal 5 vezes mais que Supremo
Folha de pagamento será de R$ 1,4 bi este ano; contracheque
chega a superar R$ 400 mi, no caso de um desembargador
Alana Rizzo
A folha de pagamento do tribunal estadual mais caro do País vai custar R$ 1,4 bilhão aos cofres públicos este ano.
Custeado pela União, o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJ-DF) vai gastar cinco vezes mais que o Supremo Tribunal Federal (STF)com a folha de pagamento e o dobro das despesas do Superior Tribunal de Justiça (STJ) com pessoal.
Essas cortes também são custeados pelo Orçamento da União.
Assim como nos tribunais de Justiça de São Paulo e do Rio de Janeiro, a folha de subsídios da corte do DF (o mais caro entre todos os estaduais) é engordada com as chamadas “vantagens eventuais”. Em dezembro passado, os cofres federais pagaram salários milionários aos magistrados e servidores do tribunal na capital federal.
Naquele mês, um dos desembargadores recebeu de uma só vez R$ 370,3 mil em benefícios, que, incorporados ao salário de R$ 24,1 mil, garantiram ao magistrado um total de R$ 401,3 mil. No mesmo mês, um juiz substituto ganhou R$ 240,5 mil só em vantagens.
O relatório de pagamentos, publicado em cumprimento à Resolução 102 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), mostra que os benefícios não são exclusividade dos magistrados.
Um analista judiciário, cujo salário é de R$ 11 mil, recebeu R$ 205 mil em vantagens. Também em dezembro, um técnico ganhou R$ 145,9 mil, ou seja, 22 vezes mais do que o salário que recebe mensalmente pelo cargo que ocupa – R$ 6,5 mil.
Na soma de exemplos como esses, a folha atingiu R$ 205 milhões, sendo mais da metade – R$ 132 milhões – só com as vantagens.
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NOTA DE REDAÇÃO
Como se vê, além dos magistrados, também os funcionários entraram na festa. Alguém tem de explicar por que um analista judiciário, cujo salário é de R$ 11 mil, pode ter recebido R$ 205 mil em vantagens. E ninguém chama a Polícia, o Ministério Público, nada, nada.
06 de fevereiro de 2012
tribuna da internet
No governo do PT, desde o primeiro mandato de Lula, jamais faltaram críticas à imprensa. Pelo contrário, a pressão para que o Congresso estabelecesse limites aos jornalistas foi num crescendo e até o finalzinho do segundo mandato de Lula o então ministro Franklin Martins, da Comunicação Social, tentou de todas as maneiras concretizar esse sonho, que mais parecia um pesadelo.
Agora, o que se vê, a cada dia, é a importância incomensurável de existir uma imprensa livre, que fique de olho nos três poderes da União, dos estados e municípios, para evitar uma dilapidação ainda maior dos recursos públicos. Para comprovar a importância dessa imprensa livre, basta conferir esta reportagem de Alana Rizzo, publicada pelo O Estado de S. Paulo.
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Corte mais cara do País, o TJ-DF gasta com pessoal 5 vezes mais que Supremo
Folha de pagamento será de R$ 1,4 bi este ano; contracheque
chega a superar R$ 400 mi, no caso de um desembargador
Alana Rizzo
A folha de pagamento do tribunal estadual mais caro do País vai custar R$ 1,4 bilhão aos cofres públicos este ano.
Custeado pela União, o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJ-DF) vai gastar cinco vezes mais que o Supremo Tribunal Federal (STF)com a folha de pagamento e o dobro das despesas do Superior Tribunal de Justiça (STJ) com pessoal.
Essas cortes também são custeados pelo Orçamento da União.
Assim como nos tribunais de Justiça de São Paulo e do Rio de Janeiro, a folha de subsídios da corte do DF (o mais caro entre todos os estaduais) é engordada com as chamadas “vantagens eventuais”. Em dezembro passado, os cofres federais pagaram salários milionários aos magistrados e servidores do tribunal na capital federal.
Naquele mês, um dos desembargadores recebeu de uma só vez R$ 370,3 mil em benefícios, que, incorporados ao salário de R$ 24,1 mil, garantiram ao magistrado um total de R$ 401,3 mil. No mesmo mês, um juiz substituto ganhou R$ 240,5 mil só em vantagens.
O relatório de pagamentos, publicado em cumprimento à Resolução 102 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), mostra que os benefícios não são exclusividade dos magistrados.
Um analista judiciário, cujo salário é de R$ 11 mil, recebeu R$ 205 mil em vantagens. Também em dezembro, um técnico ganhou R$ 145,9 mil, ou seja, 22 vezes mais do que o salário que recebe mensalmente pelo cargo que ocupa – R$ 6,5 mil.
Na soma de exemplos como esses, a folha atingiu R$ 205 milhões, sendo mais da metade – R$ 132 milhões – só com as vantagens.
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NOTA DE REDAÇÃO
Como se vê, além dos magistrados, também os funcionários entraram na festa. Alguém tem de explicar por que um analista judiciário, cujo salário é de R$ 11 mil, pode ter recebido R$ 205 mil em vantagens. E ninguém chama a Polícia, o Ministério Público, nada, nada.
06 de fevereiro de 2012
tribuna da internet
UMA RAPOSA NO GALINHEIRO...
Aguinaldo Ribeiro, o novo ministro das Cidades, é um fenômeno em matéria de aumentar o patrimônio pessoal sem explicação.
Reportagem de Gabriel Mascarenhas e Guilherme Amado, no Correio Braziliense, mostra que o deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), escolhido pela presidente Dilma Rousseff para comandar o Ministério das Cidades, aumentou seu patrimônio em mais de duas vezes e meia entre 2006, quando era deputado estadual na Paraíba, e 2010, ano em que foi eleito para o primeiro mandato na Câmara dos Deputados.
No período, segundo as declarações de bens que ele entregou ao Tribunal Superior Eleitoral, o futuro ministro teve uma variação patrimonial de 164,6%: o total de seus bens saltou de R$ 1,35 milhão para R$ 3,57 milhões.
Para efeito de comparação, a reportagem mostra que a média de valorização do patrimônio dos deputados federais entre 2006 e 2010 foi de apenas 5,2%. Neste mesmo período, Aguinaldo recebia somente R$ 12,4 mil por mês como deputado estadual da Assembleia Legislativa de seu estado.
Ainda assim, ao longo de apenas quatro anos, o parlamentar comprou dois imóveis, entre eles uma casa de R$ 410 mil, além de dois terrenos e três carros de luxo, sendo um modelo Frontier, ano 2007, por R$ 127 mil. No mesmo período, o então deputado estadual investiu em cabeças de gado, ações, aplicações em renda fixa e até poupança, em que manteve singelos R$ 133,49.
Agora vem a Folha, em reportagem de Breno Costa e Silvio Navarro, anunciando que o novo ministro das Cidades ocultou da Justiça Eleitoral nas últimas eleições o fato de ser dono de quatro empresas. Duas delas têm atuação na área da construção civil e incorporação de imóveis, atividades ligadas ao ministério que ele comandará oficialmente a partir de hoje.
O Ministério das Cidades tem como um de seus carros-chefes as ações na área da habitação social. Nada mal, não é mesmo?
31.mai.11/Agência Câmara
Futuro ministro das Cidades, Aguinaldo Ribeiro (PP)
Depois de desmascarado pela imprensa, o ministro Aguinaldo Ribeiro afirmou, por meio de sua assessoria, que não declarou à Justiça Eleitoral, mas declarou à Receita Federal ser sócio das empresas e disse que irá se desligar delas para chefiar o Ministério das Cidades.
Ele não explicou, entretanto, o motivo de ter omitido as informações em sua declaração à Justiça Eleitoral quando se candidatou a deputado federal nas eleições de 2010. Mas o motivo é óbvio – as informações à Justiça Eleitoral são públicas, qualquer pessoa pode acessar, enquanto as informações à Receita Federal são sigilosas, só acessáveis mediante autorização judicial.
Com tamanho talento, Aguinaldo Ribeiro está indo para o ministério errado. A presidente Dilma Rousseff melhor faria se o nomeasse para o ministério da Fazenda, para que ajudasse o governo a multiplicar o desenvolvimento do país, com a mesma rapidez com que ele consegue aumentar seu patrimônio pessoal.
Carlos Newton
06 de fevereiro de 2012
Reportagem de Gabriel Mascarenhas e Guilherme Amado, no Correio Braziliense, mostra que o deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), escolhido pela presidente Dilma Rousseff para comandar o Ministério das Cidades, aumentou seu patrimônio em mais de duas vezes e meia entre 2006, quando era deputado estadual na Paraíba, e 2010, ano em que foi eleito para o primeiro mandato na Câmara dos Deputados.
No período, segundo as declarações de bens que ele entregou ao Tribunal Superior Eleitoral, o futuro ministro teve uma variação patrimonial de 164,6%: o total de seus bens saltou de R$ 1,35 milhão para R$ 3,57 milhões.
Para efeito de comparação, a reportagem mostra que a média de valorização do patrimônio dos deputados federais entre 2006 e 2010 foi de apenas 5,2%. Neste mesmo período, Aguinaldo recebia somente R$ 12,4 mil por mês como deputado estadual da Assembleia Legislativa de seu estado.
Ainda assim, ao longo de apenas quatro anos, o parlamentar comprou dois imóveis, entre eles uma casa de R$ 410 mil, além de dois terrenos e três carros de luxo, sendo um modelo Frontier, ano 2007, por R$ 127 mil. No mesmo período, o então deputado estadual investiu em cabeças de gado, ações, aplicações em renda fixa e até poupança, em que manteve singelos R$ 133,49.
Agora vem a Folha, em reportagem de Breno Costa e Silvio Navarro, anunciando que o novo ministro das Cidades ocultou da Justiça Eleitoral nas últimas eleições o fato de ser dono de quatro empresas. Duas delas têm atuação na área da construção civil e incorporação de imóveis, atividades ligadas ao ministério que ele comandará oficialmente a partir de hoje.
O Ministério das Cidades tem como um de seus carros-chefes as ações na área da habitação social. Nada mal, não é mesmo?
31.mai.11/Agência Câmara
Futuro ministro das Cidades, Aguinaldo Ribeiro (PP)
Depois de desmascarado pela imprensa, o ministro Aguinaldo Ribeiro afirmou, por meio de sua assessoria, que não declarou à Justiça Eleitoral, mas declarou à Receita Federal ser sócio das empresas e disse que irá se desligar delas para chefiar o Ministério das Cidades.
Ele não explicou, entretanto, o motivo de ter omitido as informações em sua declaração à Justiça Eleitoral quando se candidatou a deputado federal nas eleições de 2010. Mas o motivo é óbvio – as informações à Justiça Eleitoral são públicas, qualquer pessoa pode acessar, enquanto as informações à Receita Federal são sigilosas, só acessáveis mediante autorização judicial.
Com tamanho talento, Aguinaldo Ribeiro está indo para o ministério errado. A presidente Dilma Rousseff melhor faria se o nomeasse para o ministério da Fazenda, para que ajudasse o governo a multiplicar o desenvolvimento do país, com a mesma rapidez com que ele consegue aumentar seu patrimônio pessoal.
Carlos Newton
06 de fevereiro de 2012
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