"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

GAMBÁ, O REI DO PASSINHO E O RITMO DA NEGLIGÊNCIA CRIMINOSA


A morte de Gualter Rocha – o “Rei do Passinho” – lança a polícia carioca na lama da incompetência ou da negligência criminosa. Pois, mesmo sabendo que reina uma cultura de ineficiência no serviço público em geral e da impunidade estimulada por leis brandas demais e procedimentos burocráticos retrógrados (ou intencionalmente criados para inviabilizar a investigação policial ou condenações); é de se estranhar as circunstâncias que envolvem o comportamento da polícia na investigação da morte do “Rei do Passinho”.


Morto durante a passagem de ano, Gualter, foi enterrado como indigente e esquecido na vala comum dos crimes insolúveis que jamais chegarão a ser investigados pela polícia. Franzino, de aparência humilde e abandonado nas imediações de uma favela carioca; o corpo de Gualter não suscitou na polícia a vontade de investigar a sua morte. Não fosse a tenacidade de sua família, que o procurou insistentemente pelas repartições de praxe, seu corpo jamais teria sido identificado e sua morte seria esquecida. Além disso, seus assassinos se uniriam ao enorme número de matadores impunes que vagueiam livremente por todo território nacional.


Estranhamente, após ser identificado como um profissional da dança e amigo de várias celebridades, a Polícia resolveu investigar as circunstâncias de sua morte. Em poucos dias elucidou o crime, mostrando a eficiência costumeira ao desvendar as mortes de ricos empresários, políticos ou personalidades de influência.

Todo o triste episódio deixou bem claro que, se o corpo abandonado nas imediações de uma favela carioca não pertencesse a uma pessoa ligada a celebridades da música e da dança, nada seria apurado e seu destino seria apodrecer em uma cova anônima enquanto seus assassinos estariam impunes.

Aliás, o caso de Gualter não é uma exceção. Ele é a regra. De todos os crimes de morte cometidos no Brasil, apenas 5% (ou menos) são elucidados e chegam a uma condenação final de seus autores. Desse número, cerca da metade é elucidada porque tem a sua autoria conhecida. São homicídios em que os assassinos confessam, matam diante de várias testemunhas ou se entregam depois de cometer o crime.
Mesmo assim, muitos desses crimes não chegam a gerar uma punição efetiva aos assassinos por erros grotescos e primários nos inquéritos, vícios legais ou ineficiência nas investigações.

O caso da morte do “Rei do Passinho” ilustrou muito bem como a polícia simplesmente se recusa a investigar determinados crimes devido a julgamentos equivocados de seus integrantes. A forma rápida como foi elucidado o crime, após a descoberta da identidade da vítima e de seu trânsito na alta roda das celebridades, mostra que a mesma rapidez e eficiência investigativa poderia ter sido aplicada ao indigente anônimo, encontrado morto nas proximidades de uma favela carioca.

Fica provado a estarrecedora indiferença ou o ritmo acelerado da negligência criminosa no cumprimento do dever que alguns policiais manifestam quando a vítima se trata de um “popular” (como são chamadas as “pessoas comuns” no jargão policial).

Pois, mesmo diante de uma cidade com elevados índices de criminalidade, todo crime deve ser investigado. Ainda mais quando se trata de um homicídio. Essa cultura da preguiça, da ineficiência ou da negligência é a verdadeira responsável pelos altos índices de violência e de assassinatos que experimentamos em nossas cidades. Afinal, é da impunidade que nasce a criminalidade. Fica fácil cometer um crime quando você compreende que tem de 95% de chances de ficar impune.

Enquanto em países europeus, nos EUA ou mesmo aqui na América do Sul se investiga um homicídio mesmo vinte, trinta ou mais anos após ele ter sido cometido – visando sempre à punição do culpado e a minimização da impunidade – aqui a polícia escolhe o que investigar e concentra suas energias nos casos em que, visivelmente, poderá obter algum tipo de benefício pela repercussão do “bom trabalho”. Sejam eles políticos, de encarreiramento ou meramente um afago da imprensa, de uma autoridade ou de uma celebridade qualquer.

Se o “Rei do Passinho” fosse apenas o jovem alegre e talentoso chamado Gualter, seu crime estaria relegado a um inquérito arquivado numa pasta empoeirada, seu corpo estaria descansando – anônimo – numa cova rasa numerada e seus assassinos estariam impunes para sempre.

E você leitor, o que pensa disso?

12 de fevereiro de 2012
visão panorâmica

3 comentários:

  1. Os assasinos pracisam ser julgados e presos pos 50 anos sem nenhuma regalia pois não são humanos são feras e as feras precisam ficar enjauladas.

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  2. as feras precisam ser emjauladas, para sempre.

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  3. fiquei estarrecida ao ver a reportaguem no programa fantastico, estes homens não são humanos são feras e precisam ficar presos por longos anos sem nenhuma regalia.

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