"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 11 de agosto de 2013

"DESSA VEZ DAWKINS ESTÁ CERTO"


Com apenas um reparo - o ateísmo militante de Dawkins não se assemelha a uma seita religiosa: ele é uma seita religiosa - esse artigo do Constantino é muito bom.

*** *** ***
 
O ateísmo militante de Richard Dawkins é um tanto cansativo, assemelhando-se a um tipo quase dogmático de uma seita religiosa também. Mas é preciso reconhecer que ele sabe criar uma boa polêmica. Na verdade, não é grande mérito, se pensarmos como o mundo moderno anda “sensível” demais sob a ditadura velada do politicamente correto.

Dawkins escreveu no Twitter (http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2013/08/1324550-tuite-de-ativista-ateu-causa-revolta-entre-muculmanos.shtml) um comentário que despertou a fúria do mundo islâmico. Ele afirmou que há menos prêmios Nobel entre muçulmanos do que no Trinity College, de Cambridge. Há 32 prêmios Nobel no Trinity College, em comparação com os 10 recebidos por muçulmanos (e vamos lembrar que o Brasil não tem premiados).

O cientista foi acusado, naturalmente, de “racista” e “islamofóbico” (qualquer crítica ao mundo islâmico hoje é “islamofobia”). Mas qual o sentido disso? Como o próprio Dawkins rebateu: “Muçulmanos não são uma raça”; ele ainda provocou mais um pouco: “O que eles têm em comum é a religião. Vocês preferem que eu compare com os judeus?”

Seria, de fato, covardia. Como lembra o colunista Helio Schwartsman na Folha (http://www1.folha.uol.com.br/colunas/helioschwartsman/2013/08/1324396-demografia-do-nobel.shtml) :

Os números impressionam: os muçulmanos receberam 10 láureas (1,2% do total); o Trinity College, 32 (3,8%); e judeus, nas contas da “Encyclopaedia Judaica”, 187 (22%). A comparação fica mais gritante quando se considera que os muçulmanos representam 23% da população mundial e os judeus, apenas 0,2%.

Não sabemos exatamente o motivo disso, mas sem dúvida não é ignorando os fatos que vamos descobrir. O próprio colunista ataca a mentalidade de “tabula rasa”:

O problema aqui é o mito da “tabula rasa”, segundo o qual os homens nascem como uma folha em branco e as diferenças que acabam por desenvolver são fruto de condições externas. A ideia fez carreira entre pensadores de esquerda. Em vez de defender que todos devem ter os mesmos direitos, resolveram que a igualdade precisaria ser um dado da natureza. Só que não é. Se não existissem diferenças biológicas entre indivíduos e grupos de indivíduos, não haveria espécies nem evolução e não estaríamos aqui para discutir essas coisas.

Não sou biólogo, mas não acredito muito em uma profunda diferença inata, atrelada ao genótipo. Em minha opinião, os fatores culturais são bem mais relevantes. Como o próprio Dawkins disse, o Islã deu sua contribuição científica… na Idade Média! Mas ficou preso no tempo, a religião impediu o avanço do questionamento científico, e os países islâmicos ficaram estagnados.

Fingir que isso não aconteceu, em nome do multiculturalismo, é condenar esses povos ao atraso, só para alimentar a covarde necessidade de se sentir “legal” do lado ocidental. Os muçulmanos não conseguem produzir conhecimento científico atualmente, esse é o fato.

E isso, para mim, deve-se aos entraves criados por uma sociedade teocrática e coletivista, que enfia goela abaixo de todos, dogmas extraídos da “revelação” do Profeta, lá no século VII, em meio ao deserto.

Está na hora do Islã passar por seu Iluminismo, de preferência da vertente escocesa, mais cética, e não da francesa, que substituiu a fé religiosa pela fé na Razão arrogante. O Islã precisa de um David Hume, um Adam Smith, urgentemente!
 
11 de agosto de 2013
Rodrigo Constantino

LÁ DAS BANDAS DO SANATÓRIO...

"FALAM DE MIM"

O cara é pra lá de engraçado. Tristemente engraçado. Melhor, debochado.

Sai do Palácio, mas não vai pra casa; monta um governo genérico em São Paulo; tem mulher, mas cutuca outra, pois que la vie en Rose... E depois vitupera contra a mídia queixando-se que "eles falam de mim".

Como assim, "eles falam de mim"? Eles, quem cara pálida? E como assim, "falam"? Eles contam, cara. Contam o que acontece. Contam falcatruas, traições, arapucas. Noticiam.

A diferença entre a mídia independente e a domesticada é que a primeira não omite, a outra emite. Sorte do cara que a domesticada é maioria esmagadora.
 

O QUE HÁ DE PIOR

O que há de pior para o Brasil nesse governo Dilma Vana é a ameaça da volta de Lula em 2014.

Não que ela governe melhor do que ele; não que ele tenha governado bem pior do que ela; nem mesmo até que ele seja igual a ela e ela igualzinha a ele para fazer saber e não saber fazer nesse País. Nada disso, ou tudo isso mesmo.

O que há de pior na verdade é que ela hoje é refém de todos os desejos, de todas as ordens, de todas as chantagens, de todos os comandos em forma de sugestões que redundam em onerosas consultorias para o Estado e maléficos lobbies que fortalecem o Band-Aid Ambulante e ferem a nação inerte.

Ele e ela juntos, formam uma multidão de alta periculosidade para a democracia, para a liberdade de credo, de pensamento e de expressão.

Ainda bem que um quer o fígado do outro. Esse transplante é que pode salvar o Brasil.
 
11 de agosto de 2013
sanatório da notícia

QUANDO O HUMOR DESENHA A REALIDADE

 
11 de agosto de 2013

 

ENTIDADES MÉDICAS REAFIRMAM POSICIONAMENTO CONTRÁRIO AO PROGRAMA "MAIS MÉDICOS"


Em Brasília, após encerrarem  os dois dias de discussões do Encontro Nacional de Entidades Médicas , os profissionais divulgaram uma carta reafirmando o posicionamento contra o Programa Mais Médicos e pela derrubada dos vetos à  lei que regulamenta a atividade no país e que ficou conhecida como Lei do Ato Médico.
No texto, as entidades da área médica defendem a atuação de profissionais formados no exterior apenas após terem passado pelo Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos Expedidos por Instituições de Educação Superior Estrangeiras (Revalida)

As entidades defendem ainda a contratação de médicos por meio de concurso público nacional e com garantia dos direitos trabalhistas. No próximo dia 20, quando os deputados e senadores devem decidir se aprovam ou rejeitam os vetos presidenciais à Lei do Ato Médico, os profissionais planejam atos de mobilização no Congresso Nacional.

“Propomos a defesa da criação da carreira de Estado para o médico, ponto essencial à interiorização permanente da assistência em saúde, com a fixação do profissional e a melhoria das infraestruturas de atendimento em áreas remotas”, diz a carta.

O Mais Médicos prevê a contratação de profissionais formados no exterior para ocupar as vagas que não forem preenchidas pelos brasileiros em periferias de grandes centros e no interior do país. As entidades médicas, no entanto, criticam essa ação e argumentam que os médicos brasileiros não se fixam em cidades do interior devido à falta de estrutura da rede de saúde.

O manifesto final do Enem é assinado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), pela Associação Nacional de Médicos Residentes (ANMR), Associação Médica Brasileira (AMB), Federação Nacional dos Médicos (Fenam) e Federação Brasileira de Academias de Medicina (Fbam).

11 de agosto de 2013
Yara Aquino
Agência Brasil

ESTÁ BOM PARA VOCÊ?

Crise no PDT: Brizola Neto denuncia quadrilha que usurpou o poder no PDT
Volta a ser grave a crise no PDT, que nos últimos meses parecia ter amainado. O vereador carioca Leonel Brizola Neto, indignado, gravou um vídeo de 8 minutos, que está sendo muito assistido no Youtube. Ele denuncia a direção do partido e diz que uma  quadrilha que tomou conta do poder no PDT, partido fundado por seu avô, o ex-governador Leonel Brizola.
Brizola Neto explica que está ameaçado pelo atual presidente do partido, Carlos Lupi, que está respondendo ações na justiça, acusado de ter fraudado atas de assembleias da legenda.
Brizola Neto, à sua maneira, relata como o partido estaria traindo os ideais de Brizola, Darcy e Jango Goulart.
 
http://www.youtube.com/watch?v=-07fnERbHs0
                

A liberalidade para com a formação de novos partidos políticos no país está fazendo com que eles se reproduzam como coelhos. Já temos 30 dessas peças ao todo e isso é uma demasia.
Por que tantos? Porque se tornou dominante a ideia de que é preciso garantir a representação das minorias de modo indeterminado e ilimitado.

Não raro, essa é a objeção que se levanta contra o sistema de voto distrital que, na prática, leva a uma redução do número de partidos.
No entanto, quanto mais partidos, mais complicada, mais onerosa e menos consistente a política.
São mais bancadas, mais servidores, maior despesa pública, maior a multidão de candidatos em cada pleito, menos discernível as diferenças entre as legendas, e mais complexa e onerosa a composição de maiorias parlamentares.

Não preciso provar que, como resultado da atual liberalidade, concebida com o razoável intuito de proteger as minorias, elas acabaram sendo o único produto das nossas eleições parlamentares. A mais numerosa bancada na Câmara dos Deputados tem apenas 17% das cadeiras!
É como se fizéssemos eleições para contabilizar eleitores e eleitos segundo suas respectivas minorias, sem que jamais se configure no mundo do poder qualquer maioria natural, consistente e coesa. Convenhamos, isso é um problemão.
Viabilizar a formação de maiorias é mais importante do que esquartejar a sociedade, através de sua representação parlamentar, em dezenas de pedaços com pouca ou nenhuma vitalidade.

MINORIAS 

De onde saem tantas “minorias”? Quais são esses muitos pequenos grupos que teriam resolvido fundar partidos para os representar? Quem pensar que sabe faça aquele exercício de compreensão aplicado antigamente nos colégios – “alinhe a segunda coluna em conformidade com a primeira”. Una, então, cada partido à minoria que ele representa. Verá que não funciona.
O eleitorado não se divide em infinitos pequenos grupos como para justificar a existência de um número infinito de partidos.
As pequenas legendas brasileiras, em quase totalidade, nasceram para atender interesses e estratégias locais e pessoais, sem que sobre sua criação e atuação incidam convicções filosóficas ou doutrinárias. Algumas têm sócio-proprietário, outras são artigos de aluguel.

Ademais, praticamente todas as minorias efetivamente existentes na comunidade já encontraram nos partidos de maior expressão nichos adequados às suas representações. Essa é a função desempenhada, entre outros, pelos movimentos, facções e núcleos, disto ou daquilo, existentes em todos os partidos maiores. E faz muito sentido que seja assim.
É preferível para um grupo social de menor peso ligar-se a um partido com maior vitalidade e expressão do que enfrentar a sacrificada experiência de disputar sucessivos pleitos sem alcançar sequer o quociente eleitoral (essa é a real situação dos corpos políticos minoritários ensimesmados).

VOTO DISTRITAL

O voto distrital, reduz, de fato, o número de partidos e de candidatos (o parlamentar do distrito é eleito do mesmo modo como hoje se escolhe o prefeito). Permite o recall (ou seja, que o distrito, mediante votação, retome o mandato de quem perde a confiança da sua comunidade).
Reduz os custos das campanhas. Facilita enormemente a fiscalização da Justiça Eleitoral, e por aí vai. Um número menor de partidos obriga os existentes a se distinguirem uns dos outros no discurso e na ação.
Por fim, se você, eleitor, gostaria de assistir a uma importante renovação dos quadros dirigentes nacionais, lembre-se de que, diferentemente dos demais jogos, nos quais a regra só determina o modo de jogar, no jogo político, ela também determina quem joga.
O atual modelo privilegia candidatos com o perfil dos que atualmente servem à República. Está bom para você?

11 de agosto de 2013
Percival Puggina

O HUMOR DO DUKE


Charge O Tempo 11/08


11 de agosto de 2013

DE PLATÃO A GELOL, TODO DIA É DIA DOS PAIS

 

Na Grécia Antiga, nos idos antes de Cristo, o craque Platão disse certa vez que “não deve gerar filhos quem não quer dar-se ao trabalho de criá-los e educá-los”.

Se de fato Platão disse isso não sei, mas de boca em boca a frase atravessou a história e cá está.
O tempo – bons séculos – passou até que algum publicitário brasileiro reinventou a profecia do filósofo grego, que por sua obviedade sempre foi e ainda é repetida à exaustão.
Foi que surgiu, como assinatura da campanha publicitária da mais popular “água benta” das pancadas e tropeções, a frase “não basta ser pai, tem que participar”.

Platão e o tal publicitário jamais se conheceram, mas pelo menos duas coisas eles têm em comum: acreditam que é preciso ser pai Gelol e desconhecem como é difícil essa tarefa nos dias atuais. A situação é tão complexa, que se pudesse trocaria de papel com o meu próprio pai. Só não faço isso porque alguém chamou-o antes da hora, apesar de muitos dizerem que toda hora é a hora certa.

Quantos de nós já não sonhamos, pelo menos uma vez, em dar aos próprios filhos muito mais do que recebemos de nossos pais? Com certeza não estou só na empreitada do pensamento que ficou para trás, parada na história. A vida muda a cada instante e com ela mudam os desejos. Na verdade, os sonhos alinham-se automaticamente com essas mudanças, pois sem eles nada somos. Até porque, o sonho é o preâmbulo da realização.

No dia em que meu pai despediu-se de mim antes de sua partida, algo estranho pairou no ar. Quando, horas depois daquele encontro inusitado, atendi ao telefone e ouvi alguém falando o que não queria ouvir, a sensação de antes transformou-se em realidade inexplicável. Esse viés da inexplicabilidade tornou-se ainda maior porque coube a mim dar-lhe a senha para uma viagem sem volta. Paciência, a vida tem dessas coisas desagradáveis, tristes e difíceis.

Passado o impacto, percebi que dura seria a minha missão se quisesse dar aos meus filhos o mesmo que recebi. Não me refiro ao material, mas às muitas lições que me foram disponibilizadas ao longo dos anos. Duro e intransigente, meu pai foi muito mais ausente, em termos físicos, do que presente.

Ora por conta do trabalho, ora por causa das consequências nefastas da ditadura militar, que em algumas ocasiões o perseguiu de forma implacável e covarde. Mesmo assim, sua presença se materializava no rastro das muitas lições que deixou. Homem de poucas palavras, falava apenas e tão somente quando necessário. Seu olhar era revelador, seu silêncio quase persistente era resposta. Dono de raciocínio brilhante e lógico, senhor de coerência inquietante.

A última frase que ouvi do meu pai foi “volto para o seu aniversário”. Algo surpreendente de alguém que em mais de uma ocasião não se lembrou do próprio aniversário. E aquela foi a primeira vez que ouvira tal frase. Naquele ano, 1984, o meu aniversário chegou, mas João Francisco, meu pai, não. Apesar de tudo, sua ausência serviu para me mostrar a importância do maior presente que ele poderia ter me dado. Existir sem atrapalhar a existência alheia. Absolutamente justo, fez da sua humildade um monumento destacado por muitos. Quase sempre recluso, emprestou sua genialidade, testada e confirmada, aos poucos que dele se aproximaram.

Nossa incrível semelhança física, que fez os saudosistas se aproximarem com a pergunta de sempre (Você é filho do João?), obrigou-me a tentar ser melhor, pois não nasci para ser filho de alguém. Inspirado no meu próprio pai, a perfeição passou a frequentar a minha mira, como se alcançá-la fosse possível.
Sabendo que perfeitos não somos, acreditei nisso, mesmo que em consciente autoenganação, porque precisava eliminar o estigma que existia no bordão vociferado por aqueles que o conheceram. Não porque tivesse qualquer rejeição ao meu pai, muito pelo contrário, mas porque precisava ser reconhecido isolada e individualmente, sem qualquer vínculo com o “velho”, que de tão jovem sua ida sem volta até hoje é uma judiação.
 
A ideia inicial era superá-lo. A batalha para ao menos emparelhar foi extenuante, mas jamais pensei em desistir. Afinal, acreditando na teoria matemática de que a ordem dos fatores não altera o produto, queria chegar a um dia em que o João seria reconhecido como pai do Ucho. Por questões óbvias não consegui, o que é bom, porque só assim, inspirado nele, continuarei buscando aquela sua perfeição, mesmo ele tendo sido um imperfeito como qualquer outro.
 
A melhor de todas as suas lições, que não esqueço e sempre a escrevo e repito, é que “muitas vezes o sucesso de alguém está no brilho do sapato alheio”. Disse-me aquele caipira de São José do Rio Preto que, ainda muito jovem, começou a vida como engraxate, entregador de armazém e responsável por dobrar a lona do circo. Coisa de gente comum e humilde, mas que com o avanço dos anos tornou-se um pai, diria eu, padrão FIFA, consideradas as quase intransponíveis exigências feitas pela central do futebol planetário.
 
Não conheci Platão e nunca usei Gelol, mas tenho me valido da frase do filósofo grego e da assinatura da campanha publicitária para, como pai, tentar deixar aos meus filhos pelo menos as lições que recebi do avô deles. Ser humilde o tempo todo e buscar a excelência sem parar, sempre lembrando que alcançá-la é a mais impossível das possibilidades.
 
João, meu velho, não vou dizer que foi bom enquanto durou, porque o exemplo que você deixou é sem fim e ainda dura. E há de durar, como se fosse uma herança inesgotável. Ou seja, continua sendo bom como sempre foi.
 
Para mim você foi “o cara”, mas lembre-se que estarei eternamente no seu encalço, até porque o João sempre será o pai do Ucho. E por isso preciso tentar ser melhor a cada instante, mesmo que continue sendo o de sempre. Afinal, lendo Platão ou não, sendo Gelol ou não, todo dia é dia dos pais e é preciso participar.

11 de agosto de 2013


 
Ucho Haddad é jornalista político e investigativo, analista e comentarista político, cronista esportivo, escritor e poeta.

NOTA AO PÉ DO TEXTO

Eis uma reverência aos nossos "velhos" para ser guardada naquele canto luminoso do coração.
Um texto não apenas lindo, mas comovente em todos os sentidos...
Ouvi em certa ocasião uma frase dita na mesa de um bar - e os bares são os lugares mais democráticos do mundo - um cara dizer em alto e bom som, que para ele, quando era menino, achava que "seu pai era um verdadeiro herói", tipo um Batman, que escondia todos os seus artefatos para combater os nefastos bandidos da hora. Agora, já homem feito, ele completou a frase, afirmando que "hoje ele tinha certeza...".
m.americo

DIGA NÃO! A CORRUPÇÃO. CONTRA A PEC 01 - A PEC DA IMPUNIDADE

Change.org
A nova PEC da Impunidade será votada nesta quarta-feira. Assine agora para defender o Ministério Público:
Clique para assinar
MARIO -

O Brasil inteiro se levantou contra a PEC 37 e a pressão popular consegui derrubá-la. Agora, outra PEC, tão perigosa quanto, será votada em 2 dias na Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo (ALESP).
Se aprovada, a PEC 01 determinará que uma única pessoa, o Procurador-Geral de Justiça, poderá investigar os 94 Deputados Estaduais, mais de 600 prefeitos e inúmeros secretários de Estado, o que é humanamente impossível para uma única pessoa. 
Clique aqui para assinar agora a petição contra a PEC 01, a nova PEC da Impunidade!
Eles perderam no nível federal e agora a estratégia é tentar garantir a impunidade nos estados. Se for aprovada em São Paulo, esta PEC poderá abrir um precedente para outros estados criarem propostas similares.
O presidente da Associação Paulista do Ministério Público (APMP), Felipe Locke Cavalcanti, irá entregar o abaixo-assinado AMANHÃ, em mãos para o Presidente da ALESP, o deputado estadual, Samuel Moreira.
Assine agora e compartilhe para eles conseguirem 100 mil assinaturas antes da entrega.
Você pode ajudar São Paulo a derrotar a PEC 01, para que a próxima proposta pela impunidade não seja no seu Estado.  

Obrigada,
Graziela Tanaka, Change.org

DEVOLVER ABSOLVE OU CONDENA?


 
Não existe prova maior de corrupção do que um governante ou parlamentar devolver dinheiro que recebeu e gastou indevidamente. Eles usam recursos públicos e , se estão em compromisso particular, é óbvio que devem tirar a carteira do bolso para pagar as próprias despesas. É o que qualquer executivo faz, em qualquer empresa, sob pena de demissão por justa causa. Políticos não. Pegos em flagrante delito roubando os cofres públicos apenas informam: vou devolver. E o imperdoável fica por isso mesmo.
 
Não é à toa que Sérgio Cabral, governador do Rio pelo PMDB, está sitiado na própria casa por manifestantes que exigem a sua renúncia. Ele é um dos piores e reincidentes exemplos de malversação de dinheiro público em beneficio pessoal.
 
Novamente os jornais informam que o Estado do Rio bancou quatro dias livres do governador Sérgio Cabral (PMDB) em Bruxelas e Londres, em 2008. Sem qualquer compromisso oficial, ele recebeu verbas públicas a título de diárias para visitar as cidades. Lá festejou nos melhores hotéis, tomando os melhores vinhos, com os seus melhores amigos, via de regra beneficiários de vultosos negócios com o estado fluminense.
 
Não é a primeira vez que Cabral devolve recursos de diárias. A Folha revelou no ano passado que ele recebeu R$ 2.000 para missão oficial em Paris, em 2011, apesar de ter os custos pagos por cartão corporativo do governo. Cabral simplesmente cobrou duas vezes a mesma despesa. Cabral afirmou, por meio de nota, que devolverá os recursos recebidos pelos dias de passeio em Bruxelas, em maio de 2008. Não deveria devolver. Deveria não ter recebido. Deveria ser processado e cassado, pois devolver é confissão do crime.

A RAPOSA CUIDANDO DO GALINHEIRO



VAQUINHA Criado por Jorge Gerdau, o MBC custeará estudo para melhor gestão pública (Foto: Renata Jubran/Estadão Conteúdo)
Movimento Brasil Competitivo (MBC) está fazendo uma rifa entre seus associados, as 100 maiores empresas do país. Pede a cada um R$ 500 mil, para pagar um estudo destinado a melhorar a gestão dos portos nacionais, sobretudo de São Paulo, Rio de Janeiro e Pará.
 
Uma vez pronto, o documento será presenteado ao ministro da área, Leônidas Cristino. Em tese, ele deveria contar com esse tipo de estudo feito pelos técnicos do governo.
 
O MBC está ligado de forma indelével a seu idealizador, Jorge Gerdau Johannpeter, atuante nas negociações da última lei dos portos e um dos principais interessados e usuários destas instalações, tendo em vista o quase monopólio que possui na siderurgia brasileira. Imaginem o quanto os interesses dos pequenos e médios exportadores serão respeitados...
 
11 de agosto de 2013
in coroneLeaks

SEM SURPRESA!

 Crescimento econômico do Brasil: fomos enganados

Hoje li a nova carta do IBRE (Não será mais possível crescer sem melhorar a produtividade – clique aqui) e terminei muito assustado. O IBRE-FGV nos últimos anos, nas suas carta, sempre destacava que, apesar dos nossos tradicionais problemas, parte deles era passível de solução no curto-prazo.

Por exemplo, se fala muito, eu inclusive, que a baixa poupança seria um problema ao crescimento do Brasil. Meus amigos do IBRE sempre me alertavam para duas coisas: 
(i) o problema era muito mais a baixa taxa de investimento; 
e (ii) o resto do mundo poderia nos financiar – poderíamos nos aproximar um pouco do modelo australiano.

Há pouco mais de dois anos nós economistas achávamos que crescer 4% ao ano ao longo dos próximos dez anos com taxa de investimento de 22% do PIB e déficit em conta corrente na casa de 3-4% do PIB era um cenário possível. Há dois anos atrás esse era o cenário do Banco Itaú e, quem esteve na ANPEC, em dezembro de 2011, escutou muito economista bom falar desse cenário.
Em dezembro de 2011, escrevi aqui neste blog que fiquei para lá de espantado com otimismo que vi de alguns dos meus colegas mais liberais na ANPEC 2011 e até fiz um post com o título “parabéns aos heterodoxos” que se mostravam muito mais preocupados e pessimistas (clique aqui).
Bom, tudo isso mudou para PIOR. A nova carta do IBRE mostra que o crescimento potencial do Brasil despencou. Se olharmos apenas para o efeito demográfico, ele nos garantiu um crescimento mínimo (sem ganhos de produtividade) de 2% ao ano de 1992-2012. De 2002 a 2012 crescemos mais rápido (3,5% ao ano) porque, além do efeito demográfico, tivemos crescimento da produtividade.

Esse mundo que ainda era róseo para nós economistas na ANPEC de 2011 (já não era tão róseo para mim) mudou completamente e a carta do IBRE parece nos deixar em um beco sem saída para os próximos anos.
Do lado demográfico, acabou o bônus demográfico (forca de trabalho cresce a uma taxa acima do crescimento da população) e, assim, a nossa possibilidade de crescer sem produtividade foi reduzida de 2% de 1992-2012 para 1% aa entre 2012 e 2022. Para agravar essa situação, a carta do IBRE fala em “limite para a taxa de investimento subir acima de 20% ao ano dada a nossa baixa taxa de poupança”. Assim, a nossa única tábua de salvação seria o crescimento da Produtividade Total dos Fatores (PTF). Mas para a PTF crescer é preciso uma série de reformas (simplificação tributária, racionalização do processo produtivo, absorção de tecnologia, etc.) e melhoria na qualidade do capital humano (melhoria educação) cujos efeitos não são imediatos.

Assim, o cenário que sai da carta do IBRE (a mais pessimista que já li desde 2004) é que teremos a década de 2012-2022 de baixo crescimento – chuto que nesse cenário 2% ao ano já seria um “grande sucesso”- sem muita coisa que um próximo governo possa fazer a não ser reformas (cujo impacto não é imediato) para “setting the stage” para um crescimento mais vigoroso para o final da década em diante.

Não será uma década literalmente perdida como foi a década de 1980, mas será um década de crescimento medíocre com o PIB per capita crescendo perto de 1% ao ano. O que vou apostar aqui é que meus amigos do IBRE estão excessivamente pessimistas e olhando meio de lado para o cenário externo. Quem sabe se a China crescer um pouco mais e a Índia fizer lá as reformas que não conseguimos fazer aqui cresceremos um pouquinho mais?

O que pode nos deixar um pouco mais otimista é que economistas (eu inclusive) erramos muito – por isso que a grande maioria de nós não é rico. Repito, o fim do bônus demográfico não é um fator novo, mas há dois anos a grande maioria dos economistas apostavam em crescimento de 3,5% a 4% ao ano até 2020 – maldita ANPEC, 2011!
Em resumo, muitos economista parecem agora convergir para “tempestade perfeita” que vai trazer o crescimento do Brasil para os próximos dez anos para baixo e só nos resta atuar sobre os fatores que afetam a PTF – que não traz impacto imediato. Eu confesso que ainda não estou tão pessimista, mas vou passar um final de semana preocupado com o que li na carta do IBRE e hoje vou tomar um bom whisky.
 
Do blog :

LEWANDOWSKI, COMO PRESIDENTE DO TSE, INTERFERIU EM PROCESSO PARA AJUDAR O PT E A PRESIDENTE PREPOSTA

O HOMEM QUE SE VENDE VALE MUITO MENOS DO QUE PAGARAM POR ELE .

Em outubro do ano passado, o Supremo Tribunal Federal monopolizava as atenções do país quando alinhavava as últimas sentenças aos responsáveis pelo escândalo do mensalão.

Naquele mesmo mês, só que em outra corte de Justiça e bem longe dos holofotes, um auditor prestava um surpreendente depoimento, que jogava luz sobre episódios ainda nebulosos que envolvem o maior caso de corrupção da história.

O depoente contou que, em 2010, às vésperas da eleição presidencial, foi destacado para analisar as contas do PT relativas a 2003 – o ano em que se acionou a superengrenagem de corrupção.

Foi nessa época que Delúbio Soares, Marcos Valério, José Genoino e o restante da quadrilha comandada pelo ex-ministro José Dirceu passaram a subornar com dinheiro público parlamentares e partidos aliados.
Havia farto material que demonstrava que a contabilidade do partido era similar à de uma organização criminosa.

Munido de documentos que atestavam as fraudes, o auditor elaborou seu parecer recomendando ao tribunal a rejeição das contas.
O parecer, porém, sumiu – e as contas do mensalão foram aprovadas.

Menos de dois meses depois, ocorreu um caso semelhante, tão estranho quanto o dos mensaleiros, mas dessa vez envolvendo as contas da última campanha presidencial do PT.
O mesmo auditor foi encarregado de analisar o processo.
Ao conferir as planilhas de gastos, descobriu diversas irregularidades, algumas formais, outras nem tanto.
Faltavam comprovantes para justificar despesas da campanha.


A recomendação do técnico:
rejeitar as contas eleitorais, o que, na prática, significava impedir a diplomação da presidente Dilma Rousseff, como determina a lei.
Ocorre que, de novo, o parecer nem sequer foi incluído no processo – e as contas de campanha foram aprovadas.

As duas histórias foram narradas em detalhes pelo auditor do Tribunal Superior Eleitoral, Rodrigo Aranha Lacombe, em depoimento ao qual VEJA teve acesso. Ambas cristalizam a suspeita de que a Justiça Eleitoral manipula pareceres técnicos para atender a interesses políticos – o que já seria um escândalo.
Mas há uma acusação ainda mais grave.A manipulação que permitiu a aprovação das contas do mensalão e da campanha de Dilma Rousseff teria sido conduzida pessoalmente pelo então presidente do TSE, o ministro Ricardo Lewandowski.


VEJA teve acesso a outros documentos ainda mais contundentes, incluindo mensagens eletrônicas despachadas pelo próprio Lewandowski, que revelam o empenho dele na aprovação das contas de campanha da presidente Dilma Rousseff.
Faltavam dez dias para a cerimônia de diplomação da presidente eleita. Nas mensagens trocadas com assessores. o ministro, que nada tinha a ver com o processo, cujo relator era o juiz Hamilton Carvalhido. demonstra irritação com o teor do parecer que pedia a rejeição das contas — um “problemão”, nas palavras dele.
“Não estamos lidando com as contas de um “boteco” de esquina. mas de um comitê financeiro de uma presidente eleita com mais de 50 milhões de votos. Se fosse assim, contrataríamos um técnico de contabilidade de bairro”, escreveu o ministro a Patrícia Landi, sua funcionária de confiança e então diretora-geral do TSE.
Em outra mensagem, em resposta a uma minuta que acabara de receber apontando justamente as irregularidades nos documentos apresentados pelo PT, o ministro estrila: 
“Não entendi!
Qual a diferença entre faturas e notas fiscais para o efeito de prestação de contas? É uma irregularidade insanável?
As despesas no têm origem?
Foram fraudadas?”.

Ele segue indagando:
“Quais as consequências práticas dessa desaprovação?
Não seria possível a aprovação com ressalvas ou essa era a única alternativa?
De quem foi a decisão?
Qual a repercussão desse parecer sobre a diplomação dos candidatos eleitos?”.
“Quero receber explicações detalhadas por ocasião do meu retorno na quarta-feira”, arremata o ministro, em tom imperial.
Diligente, Ricardo Lewandowski estava em viagem ao exterior.

“Assim que voltou a Brasília, ele reuniu os chefes do setor e ordenou as alterações nos pareceres”, disse a VEJA um graduado funcionário da área técnica.

Trecho do depoimento do auditor: pareceres apontando irregularidades foram ignorados
Nesta semana, o Supremo Tribunal Federal retoma a parte final do julgamento dos mensaleiros. Analisará os últimos recursos dos 25 réus condenados a cadeia. Provavelmente serão reeditados os acalorados debates entre o relator do processo, o ministro Joaquim Barbosa, e o revisor Ricardo Lewandowski que sempre defendeu a absolvição dos principais acusados.
Um e-mail de Lewandowski:
interferência indevida em tom pra lá de imperia
l 

Por Rodrigo Rangel, na VEJA desta semana:
Via Original/Íntegra :
Reinaldo Azevedo

"PIOR PARA OS ATORES, MELHOR PARA A PLATÉIA"

A indagação é oportuna: quais perspectivas se apresentam ao País no curto e médio prazos, tendo como pano de fundo as renitentes mobilizações populares?
 
Perguntinha complexa, à qual Luís Pereira, fosse vivo, poderia responder. Pintor de paredes, 200 votos, assumiu o lugar de Francisco Julião, líder das Ligas Camponesas em Pernambuco, cassado pela ditadura.
 
De roupa nova, vibrando de emoção, como conta Sebastião Nery, tomou um susto com a pergunta feita por Murilo Melo Filho no desembarque em Brasília: "Excelência, como vai a situação?". Sem saber o que dizer, olhou para um lado, para o outro, para o alto, fixou os olhos no jornalista e tascou: "As perspectivas são piores que as características".
 
Pois é, as características do ciclo que se abre no País sinalizam perspectivas nada animadoras para os atores individuais, eis que enfrentarão um eleitor mais crítico e, nesse caso, a resposta do pintor de paredes até esbarra na lógica para prever os horizontes dos próximos tempos, mesmo que fique patente o uso dos termos como tinta para colorir a mais embrulhada abstração.
Quem sabe, a fonética das duas palavras não soaria ao interlocutor como algo elevado?
 
Já na esfera dos costumes e das práticas políticas, as perspectivas contrariam o pessimismo do nosso personagem. São promissoras. Estacas morais foram e continuam sendo cravadas no solo esburacado da política pelos braços dos movimentos que tomam as ruas das cidades em todos os quadrantes nacionais. A nova ordem que se esboça passa a abrigar um alentado acervo de princípios e valores que, mais ou cedo ou mais tarde, balizarão as imprescindíveis reformas no edifício político, a começar pelo alargamento dos tijolos da racionalidade.
 
Como é sabido, a maioria do eleitorado habitou por décadas as bases da pirâmide social, constituindo, em razão de precárias condições de vida, massa de manobra dos quadros políticos. Seu processo decisório se ancora na emoção, que transparece em votos de agradecimento por benesses e bolsas recebidas, no adjutório esporádico que os políticos pulverizam a torto e a direito, usando migalhas do poder como forma de cooptação.
 
Essa obsoleta modelagem está com os dias contados. O meio da pirâmide já soma 53%, cerca de 104 milhões de pessoas, quando há dez anos somente 38% habitavam esse espaço. É evidente que a absorção de valores não se dá de maneira abrupta, mas é fato que critérios racionais começam a substituir os emotivos no processo de escolha de representantes e monitoramento de governantes.
 
A crítica social, que atinge o mais alto grau da contemporaneidade, é fruto da consciência crescente sobre o papel do Estado, a missão dos homens públicos e os direitos da cidadania. Hoje nada parece escapar aos olhos de grupos e multidões, que não faz muito tempo agiam como massas amorfas, sem capacidade de reagir e interagir com os atores do palco institucional. Nesse sentido, faz-se aqui distinção da clássica estrutura da massa, descrita de forma densa por Elias Canetti em seu famoso Massa e Poder. Para ele, a massa quer sempre crescer; em seu interior reina a igualdade.
 
Hoje as ruas são ocupadas por grupos e categorias profissionais, contidas em seus limites, defendendo interesses corporativos, diferenciando-se pela especialização. Bem diferentes das massas abertas do passado. A racionalidade, por sua vez, implica compromisso com a verdade, descortinando uma geração de perfis políticos desprovidos de lantejoulas e brilhos. A autoglorificação, que fundamenta o marketing das performances pessoais e ocupa praticamente todos os espaços das mídias eleitorais, deverá ser doravante recebida com apupos por ouvintes de todas as classes. Em contraponto, ganharão destaque debates no campo das ideias, proporcionando condições de enxergar as diferenças de estilo entre atuais representantes e futuros competidores.
 
O plano da semântica suplantará o terreno da estética, no fluxo das correntes de opinião que despejam torrentes de informação pela gigantesca rede social. Aduz-se ainda, na onda da efervescência social, o adensamento de uma locução com origem nos mais diferentes estratos, a atestar a multiplicação de novos polos de poder e irradiação de influência.
 
Sendo assim, os Poderes da República - Executivo, Legislativo e Judiciário - terão de conviver com as forças centrípetas, sendo razoável imaginar que o movimento das margens em direção ao centro acabará reforçando o instrumental a serviço da democracia direta: consulta popular, plebiscito e referendo. Sob essa perspectiva, também é razoável prever mais agilidade nos processos de adesão a projetos de iniciativa popular, tendo como correia de transmissão a bateria de meios da internet.
 
Dito isto, cabe perguntar: como reagirão governantes e representantes a esse ordenamento? Primeiro, com precaução. O conglomerado público está pasmo. Os atores contemplam a plateia sem saber se receberão aplausos ou vaias ao fim da peça. Treinam atitudes recatadas, temem enfrentar auditórios lotados, eliminam desfiles exuberantes.
 
Os governantes, a começar da presidente da República, tentam voltar aos braços do povo. E produzir uma agenda positiva, recheada de ações capazes de reconquistar contingentes indignados. A foto do governador do Ceará, Cid Gomes, sentado no meio-fio, alta noite, com um megafone falando para um grupo acampado numa rua retrata a estética do novo cenário.
 
Nem sempre, porém, reconhecer erros ou adotar atitude humilde dá resultado. É o caso do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, que continua ouvindo o eco das ruas.
 
O fato é que o dique de contenção das pressões sociais foi rompido. Que os habitantes,  das Casas dos Poderes possam divisar perspectivas mais animadoras que as enxergadas pelo pintor Luís Pereira. Sob pena de caírem nas linhas do canto de Manuel Bandeira: "Que importa a paisagem, a Glória, a baía, a linha do horizonte? O que eu vejo é o beco".

11 de agosto de 2013
Gaudêncio Torquato, O Estado de São Paulo

NOTA AO PÉ DO TEXTO

Ainda que mal pergunte, e não querendo ser do contra nem a favor, muito pelo contrário - como diria Millôr Fernandes -  como explicar que esse eleitor carregue 51% dos votos em Lula da Silva? Hein? Hein? Hein? Seriam apenas os 'bolsistas' do voto obrigatório? Fica muito simples a resposta...
E esse Congresso de faz de conta, que fica zombando e enrolando com fogos de artificio medidas que não levam a nada, senão a manutenção dos velhos e conhecidos privilégios, à custa de altíssimos impostos, hein? E o STF que inova com o parlamentar-presidiário, que terá seu gabinete na Papuda? Ou melhor, estaria eu sendo otimista, ao imaginar que eles serão mesmo condenados? Ou continuarão rindo à socapa dos ingênuos que creem na condenação?
Que as ruas continuem gritando, caso contrário, cairá o silêncio sobre as manifestações de junho e tudo voltará a ser como dantes no quartel de Abrantes...
Que a geração que chega e começa a ter consciência de que nada lhe sobrará no futuro, se a carroça continuar no rumo que está, continue com seus cartazes e revolta... Nessa 'inédita' manifestação sem donos, movida apenas pela decência da mais justa das cobranças, salve o Brasil da doença que o corrompe.
m.americo
 

EX-DIRETOR DA ANA FEZ DE GABINETE CENTRAL DE LOBBY JUNTO A POLÍTICOS

Material revela extensão dos contatos de Paulo Vieira com parlamentares
 
A intensa proximidade entre o ex-diretor da Agência Nacional de Águas (ANA) Paulo Vieira e o deputado federal Valdemar Costa Neto (PR-SP) levou o Supremo Tribunal Federal a abrir inquérito, semana passada, para investigar o parlamentar. Uma pilha de papéis apreendidos pela Polícia Federal no gabinete de Vieira na ANA, ainda inéditos, revela a extensão dos contatos do ex-diretor de Hidrologia no mundo da política e do lobby, bem além da parceria com Valdemar.
 
O GLOBO teve acesso aos papéis com o registro do controle das ligações feitas e recebidas pelas secretárias de Vieira na ANA em 2012. Estão na lista dez deputados federais, três senadores, ministros, dirigentes partidários e lobistas como a ex-chefe da Casa Civil Erenice Guerra.
 
Vieira, apontado como o chefe da quadrilha de venda de pareceres jurídicos da União, desbaratada na Operação Porto Seguro, transformou seu gabinete numa central de despachos para interesses particulares. Além dos corriqueiros contatos feitos com outros supostos integrantes da quadrilha, como a ex-chefe de gabinete da Presidência em São Paulo Rosemary Noronha, o então diretor de Hidrologia mantinha conversas com políticos pouco interessados nos assuntos da ANA.
 
Os papéis apreendidos pela PF foram anexados ao processo em curso na Justiça Federal em São Paulo. A Justiça pode pedir novas diligências ou encaminhar pedidos de investigação a instâncias superiores.
 
A irmã do senador Romero Jucá (PMDB-RR), Helga Jucá, aparece em 29 registros de ligações no gabinete de Vieira. O próprio senador manteve contato com o ex-diretor da ANA em pelo menos três ocasiões, como consta nas listas apreendidas pela PF.
 
Em uma das ligações de Helga, ela deixou o seguinte recado a Vieira, anotado por uma secretária: “A conta vai explodir hoje!” Em outra, avisou sobre o aniversário de Jucá. Ao GLOBO, Helga disse que o então diretor da ANA iria pô-la no cargo de assessora parlamentar da agência. A frase sobre a “conta”, segundo ela, diz respeito à falta de dinheiro em sua conta bancária por não ter conseguido o emprego até então
 
— Meu irmão, como líder de governo (até março de 2012) no Senado, ajudou na indicação dele, e ele queria me ajudar. Não só liguei, como fui lá umas dez vezes. Ele era meu amigo, propôs o emprego para agradar ao Romero e depois saiu. Não tenho nada contra esse rapaz — disse Helga.
 
O senador, por sua vez, afirmou ter conhecido Vieira na sabatina no Senado, necessária para a confirmação no cargo de diretor de agência. Segundo Jucá, eles podem ter conversado por telefone a respeito da sabatina de Rubens Vieira para a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). O irmão de Paulo Vieira também foi denunciado por participação no esquema.
 
— Minha irmã pode ter feito ligações do meu gabinete. Foi ela que o levou ao meu gabinete por ocasião da sabatina — afirmou o senador.
 
Registro inclui chamadas de Erenice, Mabel e Valdemar
 
Os interesses do deputado federal Maurício Trindade (PR-BA), que hoje ocupa o cargo de secretário de Promoção Social da prefeitura de Salvador, chegaram ao gabinete de Paulo Vieira de duas formas. Pelo menos duas ligações telefônicas foram registradas pelas secretárias do então diretor da ANA. Num dos registros, elas anotaram o “assunto” da conversa entre Trindade e Vieira: um encontro pela manhã com um ministro do Tribunal de Contas da União (TCU).
 
Além disso, a PF apreendeu no gabinete do diretor da ANA um envelope que deveria ser entregue “em mãos”, com um bilhete timbrado do gabinete do parlamentar. No papel, estavam registradas informações sobre dois processos abertos no STF.
 
O bilhete registrava o número de uma ação penal movida contra Trindade por suposto tráfico de influência, acusação iniciada no Tribunal de Justiça da Bahia. Outra anotação era o número de um inquérito em curso no STF com a suspeita de compra de votos pelo deputado. O GLOBO indagou Trindade sobre a remessa do envelope a Vieira.
 
— O Paulo Vieira era ligado ao PR, estive com ele uma vez na presidência do partido na Câmara. Não tenho conhecimento da remessa do envelope. Não houve pedido meu ou do gabinete. Os processos estão caminhando normalmente no STF — disse o deputado.As listas com as ligações incluem pelo menos sete registros de Erenice Guerra, demitida em 2010 do cargo de ministra da Casa Civil por suspeita de tráfico de influência e de envolvimento de parentes dela no escândalo. A reportagem ligou para o escritório de Erenice e deixou recado.
 
Ela não deu retorno.O diretor de Planejamento e Engenharia da Eletronorte, Adhemar Palocci, irmão do ex-ministro Antonio Palocci, fez três ligações para o gabinete de Vieira. Segundo a Eletronorte, os contatos ocorreram em razão de tentativas de prorrogação de um convênio com a ANA para geração de dados hidrometeorológicos.
 
Os registros das dezenas de ligações entre Vieira e o deputado Valdemar Costa Neto (PR-SP) dão mais evidências sobre os negócios tratados, com anotações sobre jantares, “processo na Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais“, assinatura de “ofícios e atas de reunião” e prestações de contas.
 
A assessoria de Valdemar diz que a relação era apenas de “natureza política”. Os outros parlamentares com maior quantidade de ligações a Vieira são os deputados Milton Monti (PR-SP), com 29 conversas anotadas; e Sandro Mabel (PMDB-GO), com oito; e o senador Magno Malta (PR-ES), com três ligações. Os deputados não deram retorno ao GLOBO. A assessoria de imprensa de Malta diz que o senador nunca atendeu Vieira.

11 de agosto de 2013
Vinicius Sassine - O Globo

NOTAS POLÍTICAS DO JORNALISTA ELIO GASPARI

"O PSDB e o PT minam a democracia"
 
Para o PT, o julgamento do mensalão é uma armação. Para o PSDB, na investigação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica em torno do propinoduto alimentado por grandes empresas de equipamentos em São Paulo, o órgão vem “se comportando como polícia política”. As duas condutas são radicalizações teatrais que tentam blindar hierarcas metidos em maracutaias. Comissários e tucanos precisam refletir sobre o ensinamento do presidente americano Richard Nixon, que foi obrigado a renunciar por causa do escândalo Watergate: “Não é o crime que te ferra, é a tentativa de encobri-lo”.
 
Todos os condenados do mensalão são réus confessos (segundo eles, de crimes leves e prescritos). No caso dos cartéis formados em SP e Brasília, a documentação reunida pelo Cade é devastadora. Para acreditar que os transportecas não soubessem de nada, seria necessário que fossem tão ineptos a ponto de provocar um descarrilamento por semana.
 
O Judiciário suíço já condenou a companhia francesa Alstom por ter aspergido propinas pelo mundo e sequestrou 7,5 milhões de euros de um transporteca da gestão do governador Luiz Antonio Fleury, levado a uma diretoria dos Correios no governo de FH. O tucanato reclama dizendo que não tem acesso ao processo do Cade. Afinal, ele corre em sigilo (um sigilo meio girafa, pois diversos advogados têm cópias), mas as denúncias vêm de 1995, e o Ministério Público paulista arquivou 15 inquéritos. Problema dele.
 
O caso adquiriu outra dimensão quando a empresa alemã Siemens passou a colaborar com as investigações. O que o Cade já ouviu expõe tramoias com duas camadas distintas, que se intercomunicam. Uma é a armação do cartel. Grosseiramente, pode-se imaginar que duas empresas possam fornecer determinados equipamentos licitados por um órgão público. Elas poderiam disputar a encomenda, mas a mão invisível sugere-lhes que se juntem, formando um consórcio. Essa parte já foi desvendada.
 
A segunda camada, para a qual a obtenção de provas depende da colaboração de um dos interessados (no caso paulista há seis), envolve a gratificação pedida pelo agente público que aceita, ou assessora, o cartel. Admita-se que num acerto houvesse só duas empresas, e cada uma foi informada de que deveria pingar 100. Num caso, o intermediário ficou com 50. Admita-se que na outra empresa ocorreu a mesma coisa. Assim, a mão visível do poder público pediu 200 e receberia 100.
 
Pela lei geral das comissões, os intermediários garfam 10%, portanto sobram apenas 90 ao destinatário final, que pode ser uma pessoa, grupos ou partidos. Resultado: dos 200 embutidos no preço, 110 sumiram no caminho. No mundo dos fatos, as conversas das transações paulistas ocorriam em finos restaurantes, e pelo menos um dos interessados fazia-se acompanhar por simpatias iniciadas na casa de alegrias Bahamas.
 
A essa altura da investigação, as duas camadas têm interesses diversos. A de cima quer denunciar o conjunto da investigação, negando tudo. A de baixo quer que a polêmica fique assim, rogando aos céus (sem chances de sucesso) que a circulação de propinas seja esquecida ou, pelo menos, vá para um segundo plano.
 
A blindagem do tucanato acabou. Até agora, ele replicou a estratégia do PT com o mensalão e de Nixon com o Watergate. O PSDB diz que o PT protege corruptos e o PT diz que o protetor de corruptos é o PSDB. E se os dois estiverem certos? Desacreditam e corroem tanto a política como a própria democracia. Ambos poderiam aceitar uma lição da História recente.
 
Em 1999, o ex-chanceler Helmut Kohl, unificador da Alemanha, era senhor de seu partido e foi envolvido num escândalo de caixa dois eleitoral. Durante alguns meses, negou tudo, até que reconheceu ter recebido as doações, por ser o líder de seu partido. Semanas depois, uma correligionária inexpressiva, que chegara ao ministério porque era sua protegida, publicou um artigo pedindo aos democratas cristãos que se afastassem de Kohl. Seis anos depois, eles voltaram ao poder, e Angela Merkel tornou-se primeira-ministra da Alemanha.
 
 
Eremildo, o idiota
 
Eremildo é idiota e hipocondríaco. Por isso, jamais brigou com médico. O cretino viu que muitas cabeças coroadas da Medicina nacional, bem como associações de classe, meteram-se numa luta feroz contra a vinda de médicos estrangeiros para o mercado brasileiro. Por hipocondríaco, apoia todos os doutores.
 
Por idiota, acha que, em pelo menos um caso, deve ser importado um médico estrangeiro, para a Maternidade Ester Gomes, de Itabuna (BA). Lá, o marido de Joelma Souza Rocha foi achacado pelo médico Luis Lei, que lhe cobrou R$ 1,2 mil para fazer o parto da jovem. Ele tinha duas horas para trazer o dinheiro, ou nada.
 
Denunciado o episódio, o doutor, que tem 20 anos de casa, devolveu o capilé, mas o hospital informou que nada lhe acontecerá além de uma advertência, pois faltam obstetras no estabelecimento. Há 12.
 
O idiota não viu manifestação de médicos ilustres ou associação de profissionais relacionada com esse caso.
 
 
Tropa de elite
 
Lembra da cena do filme “Tropa de Elite” na qual a PM põe um saco plástico na cabeça de um preso? Ela era aplaudida na plateia.
 
No dia 14 de julho, uma testemunha teria visto um homem exatamente nessa situação dentro dos limites da UPP da Rocinha. Ele vestia short e gritava por ajuda.
 
Cadê o Amarildo?
 
 
Calendário
 
A partir desta semana, começam no STF os debates em torno dos recursos dos réus do mensalão.
 
Se os ministros decidirem a parada antes do dia Sete de Setembro, tudo bem. Se o caso ainda estiver aberto, as ruas roncarão.
 
 
Milagre de Francisco
 
O Papa Francisco chegou ao Brasil no dia 23 de julho. O leilão do trem-bala estava marcado para 19 de setembro.
 
O consórcio espanhol que disputava o negócio pediu tempo e afastou-se do leilão. Ficaria só a empresa Alstom, destacada personagem do escândalo do propinoduto paulista, que se arrasta há mais de dez anos.
 
Pode-se atribuir a Francisco o milagre de ter poupado a doutora Dilma de confirmar um leilão com um só concorrente, logo a Alstom.
 
 
Madame Natasha
 
Madame Natasha aposentou-se depois de trabalhar 35 anos numa empreiteira. Ela torce para que a investigação do propinoduto dos transportes paulistas provoque o banimento da palavra “consórcio” na designação de empreitadas de obras públicas.
 
Ela sabe que nove em dez “consórcios” são montados para diluir a competição entre as empresas. Ela não tem esperança de que essa prática mude, apenas defende o idioma.
 
 
Alma lavada
 
O laudo do legista americano que contesta a tese da polícia paulista segundo a qual, em março de 2008, Anna Jatobá esganou a menina Isabella antes que seu marido a atirasse do sexto andar de um prédio lava a alma do repórter Antonio Carlos Prado.
 
Desde setembro de 2008, ele sustentava que a dinâmica do crime apresentada pela polícia não ficava em pé, pois a criança não havia sido esganada. O que houve, ele não sabe, mas hoje sabe-se que não aconteceu o que a polícia informou.
 
 
Alckmin come frio
 
Desde que a Tropa de Choque da PM paulista ajudou a expandir as manifestações de junho, o governador Geraldo Alckmin estava de olho no seu comandante.

11 de agosto de 2013
O Globo

FACÇÕES EM GUERRA: PMDB AMEAÇOU ROMPER A ALIANÇA COM O PT

O PMDB ameaçou romper a aliança com o PT.  Irritado com críticas de aliados, o vice-presidente Michel Temer chegou a redigir uma nota anunciando o rompimento da parceria entre o PMDB e o PT

 
FISSÃO NA BASE - Acusado pelos petistas de “sabotador”, Michel Temer, conhecido pelo temperamento afável, reagiu e exigiu uma retratação pública
Fissão na base - Acusado pelos petistas de 'sabotador', Michel Temer, conhecido pelo temperamento afável, reagiu e exigiu uma retratação pública (Pedro Ladeira/Folhapress)

Quando recebeu a faixa presidencial das mãos de Lula, em 2011, a presidente Dilma Rousseff herdou um governo com popularidade nas alturas e uma oposição praticamente dizimada no Parlamento. Sua posse foi também o início de um projeto de poder ainda mais ambicioso.
 
A aliança entre PT e PMDB, além de vitoriosa nas urnas, rendeu a ambos a soberania no papel de protagonistas políticos. Peemedebistas e petistas comandam o governo federal, o Congresso, administram dez estados e milhares de prefeituras país afora.
 
Essa simbiose, porém, esteve por um fio. Em uma crise que por pouco não atingiu o ponto de ebulição, os dois partidos estiveram muito perto de um rompimento definitivo, com direito a troca de xingamentos, ameaças e uma inédita explosão de ira do vice-presidente Michel Temer - que chegou a anunciar aos conselheiros mais próximos a intenção de romper definitivamente a parceria com o governo.
 
Foram oito horas de tensas negociações que envolveram a presidente Dilma Rousseff, dois ministros de estado e as lideranças dos partidos - e que atingiram o ápice com a redação de uma nota na qual os peemedebistas anunciavam a surpreendente decisão.

11 de agosto de 2013
Robson Bonin - Veja