"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 5 de maio de 2013

LA CONSTITUTION, SOMMES NOUS!

De repente, não mais que de repente, os senhores ministros descobriram que andam rasgando a Constituição.
Declarou ontem (25/4) Gilmar Mendes, sobre a PEC que submete decisões do STF ao Congresso Nacional:
- A PEC é inconstitucional do começo ao fim, de Deus ao último constituinte que assinou a Constituição. Eles rasgaram a Constituição - afirmou o magistrado. - Se um dia essa emenda vier a ser aprovada, é melhor que se feche o Supremo Tribunal Federal.
Quem diria? Logo um ministro do STF – tribunal que tem rasgado a Constituição a seu bel prazer para agradar a mídia e tendências da época – acusando o Congresso dos mesmos desmandos que o tribunal já cometeu. Parafraseando Pessoa: constituições são papéis pintados com tinta. Que podem ser rasgados ao sabor das ideologias. O arbítrio se repete? Vou repetir-me. Não tenho disposição – nem há por quê – buscar argumentos novos.
Aos 26 de abril de 2012, a suprema corte judiciária do país rasgou o papelucho com gosto, instituindo de inhapa e por unanimidade o racismo no país. Naquela data, o STF revogou, com a tranqüilidade dos justos, o art 5º da Constituição Federal, segundo o qual todos são iguais perante a lei sem distinção de qualquer natureza. A partir de então, oficializou-se a prática perversa instituída por várias universidades, de considerar que negros valem mais do que um branco na hora do vestibular. A prática nefanda já está sendo transferida para o mercado de trabalho.
Os considerandos a favor do racismo foram vários. Segundo o ministro Cezar Peluso, “há graves e conhecidas barreiras institucionais do acesso aos negros às fontes da educação”. Como se não houvesse barreiras institucionais também para os brancos. Se o vestibular barra negros, barra também brancos, amarelos, verdes ou azuis. “É preciso desfazer a injustiça histórica de que os negros são vítimas no Brasil”, continuou o ministro. Como se os milhões de brancos que vivem na miséria não fossem vítimas de injustiças históricas.
Segundo o ministro Joaquim Barbosa, as ações afirmativas tentam neutralizar o que chamou de “efeitos perversos” da discriminação racial: “As medidas visam a combater a discriminação de fato, de fundo cultural, como é a brasileira. Arraigada, estrutural, absolutamente enraizada na sociedade. De tão enraizada as pessoas nem a percebem, ela se normaliza e torna-se uma coisa natural”.
Barbosa é aquele ministro negro, que chegou a mais alta corte do país sem ter sido juiz e ainda continua se queixando de racismo. Como Lula, que continua denunciando as elites depois de virar elite, esqueceu de virar o disco. Barbosa empunha as ações afirmativas, recurso racista dos negros americanos para ganhar no tapetão na hora de entrar na universidade.
Em maio do mesmo ano, o STF revogou de uma penada o § 3º do art. 226 da Carta Magna: “Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento”. Ao reconhecer a união estável para casais do mesmo sexo, o excelso pretório jogou no lixo a carta aprovada por uma Constituinte.
Onde se lia homem e mulher, leia-se homem e homem, ou mulher e mulher e estamos conversados. A partir de hoje, onde se lia “todos são iguais perante a lei sem distinção de qualquer natureza”, leia-se: todos são iguais perante a lei, exceto os negros, que valem mais. Simples assim.
A Constituição foi rasgada com um neologismo mal construído – homoafetividade – típico de pavão de toga que desconhece os rudimentos do grego. Homo, no caso, nada tem a ver com homossexual. Homo, em grego, quer dizer mesmo. O neologismo escroto significaria mesma afetividade. O que não significa nada.
O ministro Ayres Brito, leitor de Osho e adepto da teoria quântica do Direito – seja lá o que isso quer dizer – lançou mãos de seus pendores poéticos para revogar a Carta Magna. É sua a frase lapidar proferida durante o julgamento das uniões ditas homoafetivas: “o órgão sexual é um plus, um bônus, um regalo da natureza. Não é um ônus, um peso, um estorvo, menos ainda uma reprimenda dos deuses”.
O voto inaugural do ministro Ayres Britto está eivado de uma poesia extraordinária: “Em suma, estamos a lidar com um tipo de dissenso judicial que reflete o fato histórico de que nada incomoda mais as pessoas do que a preferência sexual alheia, quando tal preferência já não corresponde ao padrão social da heterossexualidade. É a perene postura de reação conservadora aos que, nos insondáveis domínios do afeto, soltam por inteiro as amarras desse navio chamado coração”.
O brilhante argumento, que de jurídico ou lógico nada tem, foi suficiente para justificar o injustificável. De minha época, não era bem esse navio chamado coração que levava ao homossexualismo. Mas sim outras naves menos nobres. É a mais recente jabuticaba nacional. Constituição se rasga com estro poético.
A “tal preferência” pode já não corresponder ao padrão social da heterossexualidade. Mas existe uma lei – e lei magna – que não contempla o navio chamado coração. Se alguém quer fazer as coisas corretamente, revogue-se primeiro a tal de lei. Ou a letra da lei passará a não valer um vintém neste país.
O espantoso, escrevia eu ontem, é que somente agora a imprensa e os ministros tenham notado que a Comissão de Justiça da Câmara dos Deputados aprovou um projeto de emenda à Constituição que, se levado adiante, representará nada menos do que um golpe de Estado. Ora, a CCJ já havia aprovado a PEC por unanimidade, em abril do ano passado, e a havia encaminhado a uma comissão especial.
Que deputados não tenham a menor idéia do que seja lei maior ou lei menor ou divisão de poderes, até que se entende. Deputado no Brasil não é quem detém maior ou menor cultura jurídica, mas sim quem mente mais. Já o Judiciário rasgando constituição, isto é bem mais grave e preocupante.
Isso sem falar na anulação do direito adquirido, ocorrido durante a votação da reforma previdenciária, com votos comprados pelo governo. O hoje tão louvado ministro Joaquim Barbosa, tido como o herói que quer mandar os mensaleiros para a cadeia já avalizou, no julgamento de uma ADIN em 2007, a compra de votos.
Ainda há pouco, o ministro Marco Aurélio Mello afirmava: “No nosso sistema, o Supremo tem a última palavra. A Constituição é o que o Supremo diz que é”.
Existe ou não existe uma carta chamada constituição? Ou essa carta não passa de um papel pintado com tinta, interpretado ao bel talante de seus donos, os ministros? Pelo jeito, parece que é, pois os ministros não tiveram escrúpulo algum ao aprovar dispositivos flagrantemente inconstitucionais, como a anulação do direito adquirido, na votação da reforma previdenciária, a lei das cotas e o casamento homossexual. A Constituição é o que o Supremo quer que a Constituição seja.
Alguém ainda lembra de Luís XIV? A ele atribuiu-se a frase “l’État c’est moi”. Não bastasse termos um ministro quântico influenciado por um vigarista indiano, um outro recomendado para a suprema magistratura por bandoleiros, temos agora um outro imbuído da idiossincrasia da realeza da França. É como se dissesse: “la Constitution, somme nous”. Nós, os do STF.
Do arbítrio destes senhores depende a vida, a liberdade e o futuro dos brasileiros.
05 de maio de 2013
janer cristaldo

QUEM É CLASSE MÉDIA?

A classe média não para de crescer. Pelo menos é o que apontam estudos de âmbito nacional. No entanto, a delimitação dessa parcela da população está cada dia mais abrangente. No DF, há situações que colocam essa divisão de classes em xeque. Sob o conceito do Governo Federal, por exemplo, 51,8% dos moradores da Estrutural são de classes média e alta.
Estudos da Companhia de Planejamento do DF (CODEPLAN), baseados em parâmetros referentes à renda, demonstram que os critérios adotados pela presidente Dilma Rousseff não refletem a realidade do DF, como no caso da Estrutural.
 
A Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE/PR) delimita que, no Brasil, pertencem à classe média (C) os que apresentam renda familiar per capita (por pessoa) entre R$ 291 e R$ 1.019. Acima disso está a classe alta (A e B). Contudo, técnicos da CODEPLAN questionam a leitura de que a classe trabalhadora está se transformando em classe média. Isto para eles seria superestimar as reais condições de vida da população.
 
Morador da Estrutural, Jeremias José dos Santos, 74 anos, não sabia, mas é considerado uma pessoa de classe média. O aposentado, surpreso com o dado, rebate: “Por quê? Eu mal tenho uma casinha para morar”, relata. Ele sobrevive com renda de R$ 668 mensais. “Sou viúvo, não tenho carro nem plano de saúde, meus móveis são todos de segunda mão. Não acredito que seja assim que vivem as pessoas da classe média!”, dispara.
 
Segundo os dados da Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios (PDAD/2011) esta mesma população de classes média e alta da Estrutural sequer cursou o Ensino Fundamental. Apenas 32,3% dos domicílios têm carro na garagem.
 
Provavelmente, estes veículos são de marcas populares, com mais de dez anos de uso e que, em sua maioria, ficam um bom tempo na residência por falta de recursos para abastecê-los com frequência. Como proceder diante desta realidade? Não dá para dizer que essas pessoas vivem um padrão classe média”, considera Júlio Miragaya, presidente da CODEPLAN.
 
A professora Vanda Ribeiro, 35 anos, sonha em trocar o carro da garagem por um modelo mais novo. “Há cinco anos, compramos um, e até hoje não tivemos condições de trocar. Ás vezes até o combustível é difícil”, explica. A renda familiar de R$ 2,8 mil para o marido e dois filhos não dá nem para colocar as crianças em escola particular. “Nós dependemos totalmente dos serviços públicos. Estamos construindo nossa vida aos poucos”, destaca.
 
Quanto à posse de outros bens, também definidores da condição de classe média, as diferenças são grandes ao se comparar dados entre as regiões. Na Estrutural, por exemplo, 41,5% possuem máquina de lavar; 36,2% têm linha telefônica fixa; e 33,7% possuem forno de micro-ondas. Já em Brasília, Águas Claras, Cruzeiro e Guará oscilam entre 80% e 95%.
 
Na casa do garçom Osiel Lucindo Ferreira, 35 anos, a renda per capita é de R$ 300. Ele é casado e tem um filho. “Nunca fui da classe média. Se eu fosse, realmente, eu moraria em um lugar onde os serviços públicos eram melhores. Até o meu carro que está batido, eu não tenho dinheiro para arrumar, ainda por cima é um ágio. Que classe média é essa que não tem dinheiro mal para sobreviver?”, brinca.
 
Ele conta que a realidade é outra. “Não temos móveis bons, nem computador com internet, muito menos um bom emprego”, diz.
 
O estudo da CODEPLAN busca chamar a atenção para o risco de superestimar o tamanho da classe média. O resultado, segundo a companhia, poderia ser uma pressão para a redução do atendimento pelo Estado das demandas por bens públicos ofertados à população mais pobre.
 
"Esta é uma discussão interessante, pois busca contribuir com as políticas públicas. Queremos demonstrar que os serviços públicos não devem ser diminuídos e sim melhorados”, explica Júlio Miragaya, da CODEPLAN.
 
De acordo com a companhia, aplicando-se os parâmetros federais ao Guará, que o senso comum aponta como um região tipicamente de classe média, os resultados também são surpreendentes. “Nada menos que 63,6% dos moradores são classificados como classe alta. Este percentual é mais de duas vezes superior ao dos classificados como classe média, 31,4%”, diz.
 
O economista e professor pela Universidade de Brasília (UnB) Dércio Munhoz analisa a questão da distribuição de renda como algo preocupante. “Se 40 milhões de brasileiros saíram da extrema pobreza, como estão vivendo estas pessoas? Que transformação foi essa? É adequado este enquadramento de renda para se definir a qual classe pertenço?”, questiona.
 
O aposentado Jaime Luis da Costa, 73 anos, considera que a pobreza não diminuiu. “Até agora eu não saí dela. Mal conseguimos pagar as contas de água e luz, quanto mais serviços privados. Eu não sinto que nada tenha melhorado em termos de renda. O único bem que tenho é a minha casa e uma bicicleta velha. Isto não é um bom padrão de vida”, classifica. A renda familiar é de R$ 678 para ele e a esposa.
 
Na Estrutural, em relação ao acesso a bens e serviços da atualidade, apenas 6,1% dos domicílios têm televisão de plasma/LCD; 3,7% notebook; 1,4% TV por assinatura; e 0,4% empregada doméstica. Em localidades como Brasília ou no Jardim Botânico, esses percentuais chegam a 85%.
 
Fonte: Jornal de Brasília
COMENTO: para quem não conhece o Distrito Federal, a "grosso modo" podemos dizer que a Cidade Estrutural, ou simplesmente Estrutural é uma favela com cerca de 40 mil habitantes localizada às margens da rodovia que liga o Plano Piloto à Ceilândia, via Taguatinga.
 
Sua origem, nos anos 70, é descrita como: "... reservada para o estabelecimento de um aterro sanitário que comportasse todos os dejetos e materiais dispensados por Brasília, porém, as atividades de coleta e despejo do lixo de Brasília na região, atraíram imigrantes que buscavam no lixo uma fonte de renda. Estes se estabeleceram no aterro sanitário, que ficou conhecido como “Lixão da Estrutural.
Na década de 90, incentivada por políticos inescrupulosos, a invasão cresceu e se consolidou, sendo hoje já considerada como parte de uma das Regiões Administrativas do DF.

Pois é nesse local que, de acordo com a reportagem, temos mais de 30% dos domicílios possuidores de automóveis, 41,5% possuem máquina de lavar; 36,2% têm linha telefônica fixa; 33,7% possuem forno de micro-ondas; 6,1% dos domicílios têm televisão de plasma/LCD; 3,7% notebook; 1,4% TV por assinatura; e 0,4% empregada doméstica.

E os "técnicos" preocupados, não com a mentira oficial que elevou os miseráveis a "crasse média" por decreto, nem com o possível repasse de recursos oficiais - leia-se grana dos impostos pagos pelos "contribários" (contribuintes otários) - a possuidores de bens nem sempre disponíveis a esses pagantes.
 
A preocupação dos "técnicos" é com a "redução do atendimento pelo Estado das demandas por bens públicos ofertados à população mais pobre", isto significa que você, da antiga classe média, deve se preparar pois a extorsão deve continuar e se possível - e sempre é possível - aumentar.
 
05 de maio de 2013
Redação do clicabrasilia.com.br

A CENA É CRUEL, MAS A REALIDADE É MAIS CRUEL AINDA!

Foi preso o quarto assassino da dentista Cinthya, queimada viva dentro de seu consultório em SP. A imagem dele veio com a tarja porque é "menor" e o Estado protege e defende seus monstros.



Essa senhora sorridente, podia adotar esse demônio, fruto dos 10 anos de PT.


Enquanto a “burguesia” da morte dos filhos alheios pedia a liberação das drogas em Brasília, com o apoio do governo Dilma, num ônibus do Rio, uma mulher era estuprada aos olhos de todos

http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/enquanto-a-burguesia-da-morte-dos-filhos-alheios-pedia-a-liberacao-das-drogas-em-brasilia-com-o-apoio-do-governo-dilma-num-onibus-do-rio-uma-mulher-era-estuprada-aos-olhos-de-todo/

05 de maio de 2013
movcc

SILAS MALAFAIA. AUDIÊNCIA HOMOSSEXUALISMO



05 de maio de 2013
movcc

A INVESTIGAÇÃO PARALELA PARA SALVAR ROSEMARY NORONHA

 
 
Há duas semanas, VEJA revelou as conclusões de uma sindicância do governo que investigou as traficâncias de Rosemary Noronha no período em que ela chefiava o escritório da Presidência da República em São Paulo.
Coordenada pela Casa Civil, a apuração desvendou como a ex-funcionária usava a influência e a intimidade que desfrutava com o ex-presidente Lula para se locupletar do poder.
Ao fim de dois meses de trabalho, os técnicos reuniram provas que resultaram na abertura de um processo disciplinar contra ela por enriquecimento ilícito.
A investigação chamou atenção pela celeridade, profundidade e contundência com que se esmiuçaram os malfeitos da ex-chefe de gabinete – um ponto fora da curva na tradição petista de poupar os companheiros pilhados em falcatruas. O desfecho, porém, não deveria ter sido esse.
Desde o primeiro dia de investigações, forças poderosas dentro do próprio governo atuaram para impedir a sindicância de chegar ao fim. Essas forças tentaram, felizmente em vão, evitar que a sindicância terminasse da maneira como terminou.
VEJA teve acesso a um documento que mostra como a Secretaria-Geral da Presidência da República montou um processo paralelo com a falsa intenção de “acompanhar e orientar” a apuração da Casa Civil – mas que não passava de um ardiloso instrumento de sabotagem do trabalho de investigação.

*Para ler a continuação dessa reportagem compre a edição desta semana de VEJA no IBA, no tablet ou nas bancas.
Por Robson Bonin
05 de maio de 2013
Reinaldo Azevedo

LADEIRA ABAIXA!


 
 

Chega um momento em que a indignação se transforma em asco pela repulsiva figura do Lula e sua quadrilha, travestida de partido politico.
Dona Dilma não se envergonha de subir em palanques como uma vulgar
militante, e não, como deveria ser, a presidente de todos os brasileiros!
Além de ex-poste, incompetente.
Mudaram a politica herdada de Fernando Henrique Cardoso, e os resultados já começam a aparecer: Pib minúsculo, a volta da inflação, cambio descontrolado, BNDS, salvando o superávit primário, a produção do etanol abandonada, e a Petrobras tendo que importar combustíveis; sem falar na divida interna crescendo em ritmo assustador, etc...
Querem, agora, censurar os meios de comunicação que apenas transmitem os fatos- ou seja: mate-se o mensageiro, mesmo ele sendo somente o portador da mensagem!
 
O Capo, até agora, nem uma palavra sobre sua namorada, Rosemari Noronha...
 
05 de maio de 2013
Carlos Vereza

PEDAGOGIA DO CRIME


          Artigos - Governo do PT 
Ela já nos mostrou que não adianta reclamar: continuaremos sem policiais, sem presídios, sem uma legislação penal que sirva à sociedade e não ao bandido.
 

A primeira e principal lição foi sendo ministrada aos poucos. Era difícil, mas não impossível. Tratava-se de fazer com que a sociedade ingerisse enrolada, como rocambole, a ideia de que a criminalidade deriva das injustiças do modelo social e econômico.
Aceita essa tese, era imperioso importar alguns de seus desdobramentos para o campo do Direito. Claro. Seria perverso tratar com rigor ditas vítimas da exclusão social. Aliás, a palavra "exclusão" e seu derivado "excluído", substituindo "pobre" e "pobreza", foram vitais para aceitação da tese e sua absorção pelo Direito Penal.

Espero ter ficado claro aos leitores que a situação exposta acima representa uma versão rasteira da velha luta de classes marxista. Uma luta de classes por outros meios, travada fora da lei, mas, paradoxalmente, sob sua especial proteção. Por isso, a impunidade é a aposta de menor risco desses beligerantes.
Por isso, no Brasil, o crime compensa. Por isso, também, só os muito ingênuos acreditarão que um partido que pensa assim pretenda, seriamente, combater a criminalidade.
Afine os ouvidos e perceberá o escandaloso silêncio, silêncio aliás de todos os poderes de Estado sobre esse tema que é o Número Um entre nós. Ou não?
Portanto, olhando-se o tecido social, chega-se à conclusão de que o grande excluído é o brasileiro honesto, quer seja pobre ou não. O outro, o que enveredou para as muitas ramificações do mundo do crime, leva vida de facilidades sabendo que tem a parceria implícita dos que hegemonizam a política nacional. Nada disso estaria acontecendo sem tal nexo.
Viveríamos uma realidade superior se o governo construísse presídios, ampliasse os contingentes policiais e equipasse adequadamente os agentes da lei, em vez de gastar a bolsos rotos com Copa disto e daquilo, trem bala, mordomias, comitivas a Roma e por aí vai.
 
Viveríamos uma realidade superior se o Congresso produzisse um Código Penal e um Código de Processo Penal não benevolentes, não orientados para o descumprimento da pena, mas ordenados à sua rigorosa execução.
 
Viveríamos uma realidade superior se os poderes de Estado incluíssem entre os princípios norteadores de suas ações a segurança da sociedade e os direitos humanos das vítimas da bandidagem.
 
Viveríamos uma realidade superior se o Direito "achado nas ruas", que inspira ideologicamente a atuação de tantos magistrados, fizesse essa coleta nas esquinas, mas ouvindo os cidadãos, os trabalhadores, os pais de família, em vez de sintonizar a voz dos becos onde a criminalidade entra em sintonia com a ideologia.
O leitor sabe do que estou tratando aqui. Ele reconhece que, como escrevi recentemente, já ocorreu a Tomada do Brasil pelos maus brasileiros. Perdemos a guerra. O crime já venceu. Estamos na fase de requisição dos despojos que devem ser entregues aos vencedores.
 
Estamos pagando, em vidas, sangue e haveres, a dívida dos conquistados. Saiba, leitor, que a parcela da esquerda que nos governa há mais de duas décadas, mudando de nome e de pêlo, mas afinada, em tons pouco variáveis pelo mesmo diapasão ideológico, está convencida de que se trata disso mesmo. É a luta de classe por outros meios e com outros soldados. Queixemo-nos ao bispo, se o bispo não cantar na mesma toada.
É a pedagogia do crime. Ela já nos ensinou a não reagir. Ela já nos disse que a posse de armas é privilégio do bandido. Ela já advertiu os policiais sobre os riscos a que se expõem ao usar as suas. Ela já nos mostrou que não adianta reclamar: continuaremos sem policiais, sem presídios, sem uma legislação penal que sirva à sociedade e não ao bandido. Isso tudo já nos foi evidenciado. Trata-se, agora, de entender outras ordens do poder fora da lei.
 
Devemos saber, por exemplo, que esse poder se enfurece quando encontra suas vítimas com tostões no bolso. O suposto direito nosso de carregarmos na carteira o dinheiro que bem entendermos confronta como o direito dos bandidos aos nossos haveres. Por isso, cada vez mais, agridem, maltratam e executam, friamente, quem deixa de cumprir seu dever de derrotado.
Tornamo-nos súditos, sim, não do Estado brasileiro, mas daqueles que tomaram a Nação para si. Seja um bom discípulo da pedagogia que a esquerda nos proporcionou. Não desatenda as demandas dos bandidos. O leão da Receita é muito mais manso.
 
05 de maio de 2013
Percival Puggina

JUÍZES QUEREM CENSURAR HISTÓRIA


Essa agora! Recomendação aprovada em encontro do Judiciário Federal defende o “direito ao esquecimento” na rede. É o que diz a Folha de São Paulo de hoje. Uma opinião aprovada num recente encontro de juízes federais, promotores e especialistas abre caminho para que informações sejam apagadas da internet, por ordem judicial, com o objetivo de preservar a imagem de pessoas que se sentirem atingidas.

Trata-se do "direito ao esquecimento", sugestão apresentada na "6ª Jornada de Direito Civil", do Conselho da Justiça Federal, em março passado. O Judiciário parece querer, nada mais nada menos, que fazer tabula rasa da História.

A luta do homem contra o poder é a luta da memória contra o esquecimento – escreveu Milan Kundera. Enquanto no mundo todo estudiosos pesquisam para lembrar, neste país incrível se advoga o direito ao esquecimento. A idéia foi divulgada como orientação doutrinária, o "Enunciado 531". O texto tem redação genérica, não obriga juízes a seguir a recomendação, mas pode fundamentar decisões judiciais e estimular pedidos para apagar reportagens e dados históricos.

Apagar reportagens? Da Internet, é claro. É de supor-se que os senhores juízes não pretendam emitir ordens para recortar jornais antigos nos arquivos. A Internet, desde seu surgimento, revelou-se um recurso excelente para divulgar aquilo que os jornais, por interesses – ou temores - políticos ou econômicos, preferem não divulgar. Hoje, qualquer cidadão, inconformado com o silêncio da imprensa, pode botar a boca no mundo. Não por acaso, os jornais estão reduzindo o número de páginas – o poderoso Estadão emagreceu sensivelmente nas últimas semanas – e todos os editores de papel estão preocupados com o que lhes espera amanhã. Todos afirmam que a Internet não matará o jornal impresso. Mas o medo é generalizado.

A Internet surgiu tímida, sem dizer muito ao que vinha. Blog era brincadeira de adolescentes. À medida em que se descobriu as possibilidades da rede, blog passou a ser coisa de adulto – e preocupante. Surgiram as primeiras decisões judiciais censurando sites, decisões que só tendem a aumentar e superar as que censuravam o jornalismo impresso.

O autor da proposta é o promotor de Justiça Guilherme Magalhães Martins, do Rio de Janeiro. Ele é professor de direito civil e autor de livros sobre a internet. "A função é pedagógica, para estabelecer limite aos meios de comunicação na internet, onde a liberdade de expressão não é absoluta", diz. Ele cita os casos de condenados criminalmente que, anos depois do cumprimento da pena, buscam se reintegrar à sociedade. "Como a internet não esquece', ela gera um juízo de reprovação eterno".

Neste sentido, o direito ao esquecimento já existe. Um “dimenor” pode matar à vontade e isto não será registrado em sua folha corrida. Mais ainda, os jornais são proibidos de divulgar seu nome. Nestes dias, você pode contratar um funcionário que matou pai, mãe e irmãos e não terá acesso nenhum a esta informação. O promotor Martins parece querer ampliar este direito, hoje só gozado por adolescentes.

Para o presidente da comissão que tratou do tema, o juiz federal Rogério Fialho Moreira, "bem medido e aplicado, o direito ao esquecimento não constitui censura". "Os danos causados por informações falsas na Internet, ou mesmo verdadeiras, mas da esfera da vida privada, são potencialmente muito mais nefastos do que a divulgação pelos meios tradicionais na época dos fatos."

O Meritíssimo, ao afirmar que o direito ao esquecimento não constitui censura, está querendo demonstrar a quadratura do círculo. Como não constitui censura? Se sou proibido de divulgar que Lula abraçou Maluf, não estou sendo censurado? Se Maluf tem direito ao esquecimento de suas falcatruas, isto não é censura? Last but not least, quando alguém mata alguém, isto faz parte de sua privada?

Quando personagens públicas enchem a boca com liberdade de expressão, obviamente contam com a auto-censura dos jornais. Mas na Internet não há mecanismos de censura, a menos que a Justiça os imponha. É o que os juízes pretendem, pois isso de sair por aí divulgando fatos passados é muito constrangedor. Todo político, penhorado, agradece. “Esqueçam o que eu disse” – teria dito Fernando Henrique. Tenha ou não dito, a frase parece ter se tornado um imperativo categórico para quem não gosta do próprio passado.

Devem estar vibrando com a brilhante idéia as personalidades erigidas em mitos pela mídia, que só aceitam biografias se forem hagiológios. Todos terão direito ao esquecimento, tanto de crimes ou besteiras que cometeram, como também de frases idiotas, o que é mais usual. A idéia não precisa ser seguida por juízes, mas pode estimular ações para a retirada de dados históricos e reportagens – diz a Folha. Pode não precisar ser seguida por juízes, mas será evocada o tempo todo. A propósito, se não precisa ser seguida, para que existe?

Vivemos dias no continente em que a instituição de anistia vem sendo deturpada pelas esquerdas. Anistia nunca foi perdão judicial, mas esquecimento. Para chegar à paz social, em risco após conflitos ideológicos graves, as partes decidem: eu esqueço teus crimes, tu esqueces os meus. Borramos tudo e partimos de zero. As esquerdas assim não entendem. Que sejam esquecidos apenas seus crimes, não os do adversário. Pretenderá a nova – como direi? – recomendação, que os militares que mataram e torturaram em passado recente tenham direito ao esquecimento?

Ah, certamente não. Esquecimento é direito só das esquerdas. A notícia da insólita decisão recém surgiu nos jornais. Muita tinta ainda há de rolar. Aliás, o próprio juiz Fialho Moreira já adverte que os provedores de pesquisa na internet, por exemplo, não poderiam bloquear a menção ao coronel Ubiratan Guimarães em pesquisas sobre o massacre do Carandiru, em São Paulo. Já sobre bloquear a menção a mensaleiros, o juiz prefere se manter silente.

O primeiro a descobrir no Brasil que o publicado na Internet pode ser apagado foi o astrólogo Olavo de Carvalho, que vive denunciando a censura da imprensa. Quando viu que não podia controlar o pensamento de alguns dos colaboradores do Midia sem Máscara, tomou uma atitude de uma simplicidade exemplar: deletou de seu jornal as crônicas de seus colaboradores, entre outros este que vos escreve.

É sério candidato a ficar na história do jornalismo. Torquemada contemporâneo, Aiatolavo foi o primeiro censor a promover uma fogueira digital no país. Mais ainda, ocupa a posição insólita de editor que censura o que um dia editou. Não é de espantar que seu gesto tenha inspirado os novos censores desta época digital.

Os senhores juízes que querem borrar a história parecem não entender os tempos que vivem. Ignoram a natureza da Internet: não se impede o amanhecer. Nem se põe de volta a um tubo a pasta de dente derramada.


05 de maio de 2013
janer cristaldo

POR QUE AS ABELHAS ESTÃO MORRENDO

 



Desde 2006, uma doença está dizimando abelhas nos Estados Unidos e Europa. As abelhas saem das colmeias para a polinização e simplesmente não retornam, morrendo longe de casa. Em pouco tempo, a colmeia entra em colapso.
Esse fenômeno, batizado de Desordem do Colapso das Colmeias, preocupa produtores de mel. Estima-se que a população de abelhas caiu 40% nos Estados Unidos e 50% na Europa nos últimos 25 anos.

As causas desse colapso ainda não estão completamente explicadas pela ciência. Várias teorias foram formuladas, e ambientalistas culpam o uso indiscriminado de agrotóxicos.
A situação é tão complicada que a União Europeia baniu, nesta semana, o uso de um tipo de pesticida pelos próximos dois anos.

Na última quinta-feira (2), o Departamento de Agricultura dos EUA publicou um relatório com os resultados de uma pesquisa conjunta envolvendo 175 pessoas, entre cientistas, apicultores, conservacionistas e representantes do governo e das empresas de agrotóxico.
O estudo concluiu que pesticidas fazem parte do problema, mas que a morte das abelhas é resultado de uma mistura de vários fatores.

Segundo o relatório americano, as principais causas da morte das abelhas são:

Ácaros parasitas: o ácaro Varroa destructor é considerado pelo relatório americano como o “a principal praga que afeta as abelhas”. Esse ácaro ataca as colmeias, onde se reproduz, e abre as portas para a infecção de vírus nas abelhas. O ácaro foi responsável pelo colapso de colmeias no Havaí e no Canadá.

Pesticidas: uma série de estudos europeus liga diretamente o uso de uma toxina, chamada neonicotinoide, com a morte de rainhas e zangões. Essa toxina é encontrada em pesticidas considerados de pouco impacto ambiental, porque exigem menor quantidade de aplicações na produção, reduzindo o risco de contaminação. Os pesquisadores descobriram que essa neurotoxina estava se concentrando no néctar das plantas, contaminando as abelhas e matando as rainhas. No entanto, os estudos foram feitos em laboratórios, e ainda precisam ser replicados em condições naturais.

Má nutrição: as abelhas também gostam de variar o cardápio, buscando pólen e néctar em diferentes plantas e flores. Mas a expansão de monoculturas, que se espalham por grandes áreas com um único tipo de produção, reduz a variação e compromete a nutrição das abelhas, deixando-as mais fracas e vulneráveis a doenças.

Baixa diversidade genética: as técnicas de produção e apicultura diminuíram a diversidade nos genes das abelhas de uma colmeia. Quando essa variedade de genes é pequena, aumenta a incidência de doenças, as abelhas são menos produtivas e mais vulneráveis ao ácaro Varroa destructor.
O colapso das colmeias coloca em risco não só as abelhas, mas toda a produção de alimentos, já que as lavouras de grãos e frutas dependem da polinização. No Brasil, alguns apicultores enfrentaram problemas, mas não na mesma intensidade da morte das abelhas nos EUA e Europa.

05 de maio de 2013
Redação Época
Foto: Dan Kitwood/Getty Images
Bruno Calixto

OLIVER SACKS: "TODA NOITE, ANTES DE DORMIR, EU VEJO COISAS".

O autor de livros populares sobre o cérebro diz que 100% das pessoas sofrem algum tipo de alucinação e garante que ouvir vozes não é sinônimo de doença

 
ESTRANHO E NORMAL O neurologista britânico Oliver Sacks posa em  Nova York.  Ele diz que as alucinações são explicáveis pela superativação  do cérebro (Foto: Jurgen Frank/Corbis Outline)
 

O neurologista britânico Oliver Sacks, de 79 anos, é um colecionador incomum. Guarda histórias fantásticas sobre a mente humana, recontadas com primor em livros que se tornam campeões de venda.
Em sua obra mais recente, A mente assombrada (Companhia das Letras, R$ 45), lançada há duas semanas no Brasil, Sacks narra situações criadas apenas pelo cérebro de seus pacientes. Cegos enxergam cenas se desdobrar no cinema de suas pálpebras. Pessoas ouvem, alto e bom som, músicas criadas por suas mentes.

Outras advogam o direito de ouvir vozes que não existem sem ser tachadas de doentes. Sacks diz que não há nada de errado com eles. “Alucinações são comuns e não significam loucura”, diz Sacks. “Fazem parte de nossa natureza e influenciam a arte, a literatura e até a religião.”

>> Leia outras entrevistas

ÉPOCA – O senhor diz que as alucinações são comuns. Quão comuns?

 Oliver Sacks –
Estudos estatísticos mostram que algo como 10% da população afirma já ter tido alucinações ocasionais. Um tipo comum é escutar seu próprio nome ou o toque do celular. As percentagens vão ficando maiores, chegam perto dos 100%, se olharmos os estágios intermediários entre a vigília e o sono.
Você está na cama, seus olhos estão fechados, mas você não está nem acordado nem dormindo. Nessa fase, podem ocorrer alucinações muito vívidas. Em geral, as pessoas são relutantes em admitir suas alucinações por causa da ideia de que são evidência de loucura, de demência. Na maior parte dos casos, não são.

>> Novos estudos mostram que o poder do inconsciente é muito maior do que imaginávamos

ÉPOCA – Como explicar essas alucinações corriqueiras?

 Sacks –
Elas são causadas pela superativação de circuitos cerebrais responsáveis pela percepção dos sentidos. Só que essa ativação acontece num momento em que não há nada para perceber: aquela música não está tocando ou aquelas pessoas não estão desfilando na sua frente.
Se alguém alucina com rostos, haverá uma superativação localizada, apenas na parte do cérebro chamada área fusiforme da face, usada no reconhecimento de rostos. Provavelmente, a minha não funciona muito bem porque sou péssimo para reconhecer pessoas.
Quando estamos de fato vivenciando uma situação ou imaginando uma cena, várias partes do cérebro trabalham juntas. Na alucinação, não há esse funcionamento integrado.
Se a alucinação é causada por uma doença psiquiátrica, além de uma superativação das partes sensoriais do cérebro, parece haver inibição ou dano de áreas responsáveis pelo monitoramento da realidade, como o lobo frontal.

>> Leonard Mlodinow: "A neurociência está apenas arranhando a superfície do cérebro"

ÉPOCA – Como saber se sua alucinação é sinal de doença psiquiátrica?

Sacks Normalmente, pessoas que escutam o próprio nome têm a perfeita noção de que aquela voz não é real. Há até quem diga ouvir vozes que parecem vir de uma conversa entre outras pessoas ou de um programa de rádio. Alguns pesquisadores supõem que esse tipo de alucinação auditiva acontece porque a pessoa não reconhece que aquela fala é dela ou porque há uma ativação cruzada com as áreas auditivas. É como se o pensamento se tornasse falado.
Estudos recentes confirmam que esse tipo de alucinação não é tão raro e que a maioria dessas pessoas não tem esquizofrenia, um distúrbio psiquiátrico em que os pacientes podem se dizer comandados por vozes imaginárias.
Quando não são causadas por doenças da mente, as vozes não são ameaçadoras ou condenatórias. Não competem com os pensamentos e é possível ignorá-las.
Conto no livro o exemplo de uma mulher que estava prestes a cometer suicídio. Ela tinha terminado um relacionamento amoroso longo e estava com o coração partido. Numa das mãos, tinha comprimidos; na outra, bebida. Escutou uma voz dizer: “Não faça isso”. A voz a impediu de cometer suicídio.
Quando emoções extremas estão envolvidas, qualquer um pode ter uma alucinação.
"Na maior parte dos casos, as alucinações não são evidência de loucura. Quando emoções extremas estão envolvidas, qualquer um pode alucinar"
 
ÉPOCA – É por isso que o senhor diz que as alucinações têm o poder de influenciar a arte e a cultura?

 Sacks –
O italiano Giovanni Battista Piranesi, um artista do século XVIII, é um exemplo. Ele teve malária e ficou delirante por causa da febre alta. Conseguiu relembrar com clareza suas alucinações – algo nem sempre acontece com os sonhos – e as usou como base para sua arte. Viu prisões enormes, cheias de labirintos aterradores, e reproduziu essas visões em suas pinturas e desenhos.
O romancista russo Fiódor Dostoiévski, do século XIX, transferiu para alguns de seus personagens, como o príncipe Myshkin, de O idiota, suas experiências alucinatórias. Dostoiévski tinha um tipo especial de crise epiléptica.
Ela causa uma sensação de êxtase, de estar no céu, rodeado por anjos. Provavelmente, Joana d’Arc, a santa francesa que virou heroína da Guerra dos Cem Anos, no século XV, tinha esse tipo de alucinação.
Ela adquiriu um sentimento missionário fervoroso, que levou milhares de pessoas a segui-la. Alucinações desse tipo podem abalar as estruturas de quem as sofre e podem ter um papel em convertê-la. O filósofo americano William James descreveu uma infinidade de experiências religiosas e distinguiu as desse tipo, que chamava de agudas, do hábito social de ir à igreja todos os domingos. Esse sentimento religioso agudo parece estar associado à alucinação.

>> Kevin Dutton: "A psicopatia pode trazer benefícios"

ÉPOCA – Isso quer dizer que a religião pode ser resultado de uma alucinação?

 Sacks –
Há muitos casos em que uma convulsão ou lesão nos lobos temporais do cérebro, especialmente no direito, é associada ao sentimento religioso. Estudos de neurociência sugerem que, quando essas áreas são ativadas, há a expressão de um pensamento místico. Os humanos têm potencial para desenvolver esse tipo de pensamento. Em algumas pessoas, ele é mais forte, noutras mais fraco. Ou pode ser que alguns o usem, outros não. Mas não acho que podemos reduzir a natureza da fé a um processo cerebral.

ÉPOCA – No livro, o senhor dedica um capítulo a alucinações causadas por drogas e descreve sua própria experiência. Era impossível passar pelos anos 1960, como estudante de neurologia, e não provar substâncias tóxicas?

 Sacks –
Certamente estava tentado a experimentá-las. A neuroquímica estava na moda, assim como as próprias drogas. Eu as evitava durante a semana, mas em muitos fins de semana as experimentava. Tive sorte por sobreviver, porque me arrisquei muito. Usava drogas em doses altas, sozinho e sem conhecimento. As anfetaminas podem aumentar a pulsação e a pressão arterial, efeitos perigosos, similares ao da cocaína. A morfina pode rebaixar a consciência e a respiração, e isso pode levar à morte. Alguns pulam pela janela depois de tomar LSD, pensando que podem voar.
>> Os avanços da ciência da alma

ÉPOCA – Além das alucinações causadas pelas drogas, o senhor já experimentou algum outro tipo?

 Sacks –
Toda noite, antes de dormir e acordar, vejo coisas e ocasionalmente escuto sons, de maneira muito vívida. Perdi totalmente a visão num olho e enxergo parcialmente com o outro. Isso me faz especialmente sensível a certo tipo de alucinação. Se eu olhar para o teto, como estou fazendo agora, vejo formas, como letras e números. Eles se movem, sem formar palavras. Também vejo padrões geométricos e, algumas vezes, sou enganado. Estava num prédio nesta manhã, no elevador, e disse: “Que estampa bonita na parede!”. A pessoa que estava comigo disse que não havia estampa alguma. Essas alucinações geométricas muito simples me enganam.

05 de maio de 2013
 MARCELA BUSCATO

ALEMANHA BUSCA NAZISTAS NO BRASIL. PÔ! OS CARAS DEVEM ESTAR COM 100 ANOS...

Promotores da Alemanha buscam nazistas no Brasil. Investigação levantou suspeita sobre 50 guardas que atuavam em campos de concentração e teriam desembarcado no País após 1944
 
Na busca por guardas dos campos de concentração nazistas que teriam fugido da Alemanha após a derrota de Adolf Hitler na Segunda Guerra Mundial, promotores de justiça da Alemanha iniciaram um rastreamento entre milhares de nomes de imigrantes daquele país que teriam desembarcado no Brasil após o ano de 1944. O objetivo da investigação é identificar se algum dos criminosos de guerra se escondeu no País nas últimas décadas.
 
Para o promotor que conduz a investigação, Kurt Schrimm, a chance de ainda serem encontrados criminosos de guerra que nas últimas décadas se refugiaram no Brasil é "boa". Ao Estado ele disse que a Justiça da Alemanha tem dado especial atenção ao caso.

A ofensiva foi lançada pelo Escritório Central para a Investigação dos Crimes do Nazismo, com sede na cidade de Ludwigsburg. Apuração preliminar levantou suspeita sobre 50 guardas que atuavam nos campos de concentração de Auschwitz e Birkenau, onde 1 milhão de pessoas foram assassinadas entre 1942 e 1945. Todos são acusados pelo crime de assassinato, 70 anos após o massacre. O escritório de Ludwigsburg foi criado pelo governo alemão em 1958 e já conduziu investigações contra 7.485 pessoas.

Originalmente, apenas os comandantes dos campos foram presos e julgados. Mas, em 2011, a condenação do guarda John Demjanjuk abriu um precedente. Demjanjuk foi condenado pela morte de 20 mil pessoas durante cinco anos. Seus advogados apelaram e ele morreu em março de 2012. O caso terminou sem um julgamento final, mas bastou para que a Corte de Munique usasse o caso para revelar como o guarda fez "parte de uma máquina de destruição".

A suspeita da Justiça alemã é de que muitos desses soldados simplesmente fugiram para outros países e acabaram se integrando nas sociedades locais. Um deles foi Hans Lipschis, que viveu nos EUA por 26 anos até ser deportado de volta para a Alemanha. Há duas semanas, procuradores de Stuttgart decidiram abrir um processo contra ele, ainda que tenha declarado que foi apenas um cozinheiro.

No caso do Brasil, as fichas dos imigrantes estão sendo verificadas para ver se batem com os nomes dos nazistas procurados. "Por enquanto não encontramos ninguém, mas estamos no início e estimamos que teremos milhares fichas de alemães que chegaram ao Brasil nos anos pós-guerra", diz o promotor.

Cooperação. O acesso aos dados dos imigrantes foi autorizado pelo Itamaraty e pelo Ministério de Relações Exteriores da Alemanha. Segundo os alemães, as consultas se realizam nos arquivos diplomáticos do Brasil, em dados da Polícia Federal, do Ministério da Justiça e órgãos estaduais que nos anos 1940 e 1950 foram montados para receber imigrantes. "Cada vez que vemos um nome que possa ser parecido a um de nossa lista, temos o direito de pedir ao governo brasileiro a ficha completa sobre aquele cidadão", observou Schrimm.

A investigação abrange também outros países do Cone Sul, porém é no Brasil onde há a expectativa de melhores resultados.
No Uruguai, o governo abriu seus arquivos. "Mas o obstáculo é que os passaportes de estrangeiros foram destruídos e já não temos provas."
Na Argentina, os alemães encontraram resistência para realizar as investigações e os arquivos jamais foram concedidos.
No Chile, a mesma investigação começou em 2003 e quatro nomes foram identificados. Mas esses nazistas já estavam mortos quando suas identidades foram reveladas.

05 de maio de 2013
Jamil Chade, correspondente em Genebra - O Estado de São Paulo

UM PERFIL IMPERDÍVEL - ROBERTO CARLOS: QUEM É ESSE CARA?

O REI RI -- Roberto, em seu camarim, no navio Costa Favolosa, palco do cruzeiro "Emoções em Alto-Mar", de 2013 (Foto: Jorge Bispo)
O REI RI -- Roberto, em seu camarim, no navio Costa Favolosa, palco do cruzeiro "Emoções em Alto-Mar", de 2013 (Foto: Jorge Bispo)

QUEM É ESSE CARA?
Um cara reservado, generoso, que ri de si – e, após uma fase difícil, feliz. No embalo de Esse Cara
Sou Eu, Roberto Carlos enfrenta o TOC, curte a solteirice e persegue novos sucessos

Roberto Carlos adora seus carros: quando compra um, beija o capô. A última aquisição, de junho de 2012, é um Lamborghini Gallardo LP 570-4 Spyder Performante, branco e conversível. Vale 1,5 milhão de reais e chega a 324 km/h, mas é mais fácil vê-lo parado nos sinais no bairro da Urca, no Rio de Janeiro, no trajeto entre a cobertura e o estúdio do Rei.

A paixão automobilística, porém, não se resume a modelos de luxo. Em São Paulo, ele circula em um Escort Guarujá de 1993 - 6 792 reais na tabela Fipe. Sua frota, de tamanho não divulgado, inclui também dois Audi R8 (um azul e um vermelho), um Fusca 1965 (seu primeiro zero-quilômetro) e um calhambeque reformado por Emerson Fittipaldi.

Mas não se trata de uma coleção. Ele simplesmente não consegue se desfazer dos carros que compra: mantém, basicamente, todos os que adquiriu até hoje.

É tentador, baseado em uma curiosidade como essa, traçar um perfil psicológico que amarre e explique todas as facetas de Roberto Carlos, que fracassou na bossa nova e triunfou no rock, compôs temas para motéis e criou hinos para missas, frustra velhos críticos e inspira novos músicos, estreou no rádio aos 9 anos e agora, com quase 72, é líder das paradas com um hit em que afirma: Esse cara sou eu. Foram 2 milhões de cópias vendidas e 700 mil downloads legais em plena era da pirataria.

À MODA ANTIGA -- mais convencional na Jovem Guarda, Roberto investiu em elementos hippies na virada dos anos 1960 para os 70. Desde os 80, só usa ternos azuis e brancos. Na foto em quatro momentos: 1966, 68, 69 e 73
À MODA ANTIGA -- mais convencional na Jovem Guarda, Roberto investiu em elementos hippies na virada dos anos 1960 para os 70. Desde os 80, só usa ternos azuis e brancos. Na foto em quatro momentos: 1966, 68, 69 e 73

Sua vida pessoal parece um contrapeso ao sucesso. A perna direita foi esmagada por um trem aos 6 anos, seu filho nasceu com deficiência visual, a primeira e a terceira esposa morreram de câncer e sua enteada, Ana Paula, que ele criou desde os 3, foi vítima de um ataque cardíaco em 2011.

Sem falar no obstáculo que enfrenta diariamente: o TOC (transtorno obsessivo-compulsivo), que faz com que só vista azul ou branco, saia sempre pela mesma porta por onde entrou e tenha excluído de seu repertório canções com palavras consideradas negativas.

Tudo isso faz com que ele desperte uma curiosidade sem paralelos na história da cultura pop brasileira. Uma curiosidade que ele não se preocupa em satisfazer. Você nunca vai ver Roberto Carlos abrindo sua casa para uma revista de celebridades, trocando beijos na balada, opinando sobre o mensalão ou reclamando da campanha do Vasco da Gama – time para o qual torce com moderação.
Mas, se você pretende saber quem é esse cara, há quem possa lhe dizer – ao menos, dar uma ideia.

Seus filhos, confidentes, novos e antigos parceiros traçam o retrato de um sujeito extremamente reservado, generoso e talentoso. Cheio de manias, mas capaz de rir delas. E que finalmente supera a fase mais difícil que já enfrentou.

PRECISO ACABAR LOGO COM ISSO

Só agora, 12 anos depois, Roberto está saindo do luto pela morte de sua terceira esposa, Maria Rita. Separado em 1989 da segunda, Miryan Rios, e viúvo em 1990 da primeira, Nice Rossi, ele viveu com Maria Rita entre 1991 e 1999. Roberto diz que nunca amou tanto alguém. Sua perda aprofundou as obsessões decorrentes do TOC, tendo impacto na sua vida pessoal e profissional. Ainda mais isolado do que o normal, não fazia mais shows e não conseguia compor.

Foi casado com Nice entre 1968-78 (Foto: Arquivo)
EMOÇÕES -- Foi casado com Nice entre 1968-78 (Foto: Arquivo)

Quem acompanhou esse período de perto foi seu filho, Dudu Braga. Batizado de Roberto Carlos Braga II (daí Segundinho, e daí Dudu), ele nasceu em 1969 com glaucoma congênito e ficou praticamente cego aos 22 anos – o que não o impediu de aprender a surfar e tentar ser cantor (“Eu era uma porcaria”, admite o herdeiro).

Hoje, é radialista. Em 2000, com seus 5% de visão do olho esquerdo, leu uma matéria sobre uma doença que transformava suas vítimas em reféns de pensamentos recorrentes e atitudes repetitivas.
Imaginou que fosse isso que atormentava seu pai e lhe entregou o recorte de jornal. “Ele se deu conta de que não tinha superstição: tinha TOC”, lembra. Além de Dudu, Roberto também é pai de Luciana, filha de Nice, que é jornalista de moda, e Rafael Carlos, fruto de um namoro em 1964, quando era solteiro.

EMOÇÕES -- foi casado com Myrian Rios entre 1979-89 (Foto: Dedoc)
EMOÇÕES -- foi casado com Myrian Rios entre 1979-89 (Foto: Dedoc)

Em 2004, Roberto Carlos procurou a terapia cognitivo-comportamental. Em uma das primeiras sessões, teria dito: “Tudo bem que eu vou mudar, mas vai ser difícil eu deixar de usar azul pra usar marrom”. Teve início um tratamento para controlar o TOC, que não tem cura. São longas sessões semanais em sua casa, com uma terapeuta cuja identidade é segredo de Estado.

E QUE TUDO MAIS…

O primeiro sinal de melhora foi voltar a receber amigos em casa. Roberto gosta de entrar noite adentro bebendo vinho e jogando conversa fora. “Ele sofreu calado, teve seus momentos. Mas agora eu ligo pra ele, a gente se encontra no estúdio, conta coisas”, diz Dedé, percussionista da sua banda. Trata-se de um dos maiores amigos do Rei: os dois se conheceram em 1962, quando Roberto tocava em circos de subúrbio.

Seis anos antes, Roberto Carlos havia chegado ao Rio de Janeiro, vindo de Cachoeiro do Itapemirim (ES), sonhando em ser um cantor famoso. Tentou o rock, a bossa nova e lançou um álbum que tinha também bolero e samba. Foi um fracasso.

EMOÇÕES -- foi casado com Maria Rita, seu grande amor, de 1991-99 (Foto: Arquivo)
EMOÇÕES -- foi casado com Maria Rita, seu grande amor, de 1991-99 (Foto: Arquivo)

Esnobado pela panelinha da Zona Sul – Ronaldo Bôscoli o chamava de “João Gilberto dos pobres” -, voltou a conviver com sua primeira turma carioca, da Tijuca. Mais especificamente com um rapaz alto e bonachão, fã de Elvis Presley e de Roberto – tanto que havia mudado seu nome de Erasmo Esteves para Erasmo Carlos.

Uma versão de Erasmo para um hit de Bobby Darin seria o primeiro sucesso de Roberto: Splish Splash, de 1962. A parceria logo rendeu composições originais: vieram Parei na Contramão, É Proibido Fumar e, em 1965, o convite para que eles e Wanderléa apresentassem o programa Jovem Guarda, na TV Record.

Em novembro daquele ano, lançaria a música revolucionária que incendiou o Brasil e o transformaria em Rei: Quero que Vá Tudo pro Inferno.

PARCERIAS -- com Erasmo, compôs dezenas de sucessos (Foto: Arquivo)
PARCERIAS -- com Erasmo, compôs dezenas de sucessos (Foto: Arquivo)

“Meu pai só estará curado no dia em que cantar de novo Quero que Vá Tudo pro Inferno“, diz Dudu Braga. A música está banida do repertório de seu pai desde o começo dos anos 1980. Muita gente acha que o motivo é a religião. Mas é TOC mesmo. Ele já prometeu retomar “aquela música” quando melhorar. Essa melhora ainda não veio. Mas outras sim.

TUDO VAI SER DIFERENTE

Graças ao tratamento, É Proibido Fumar está permitida, Negro Gato não dá mais azar, Imoral, Ilegal ou Engorda não é mais ameaça tripla e É Preciso Saber Viver perdeu o trecho absurdo “se o bem e o bem existem” (voltou “e o mal”). Todas estão de volta aos shows após anos banidas.

Suas manias agora são tratadas com leveza: ele ri de sua veneração por plantas (cumprimenta e conversa com elas) e animais (dedica um tempo precioso para evitar brigas entre as lagartixas da sua varanda). Até quem trabalha com ele já se permite tirar um sarro. “Eu brinco: olha, essa camisa tá meio marrom, tem que trocar”, conta o maestro Eduardo Lages, com Roberto desde 1977. “Eu não enxergo, mas me falaram que ele já vem usando um amarelinho, um verde”, diz Dudu.

PARCERIAS -- em 2008 gravou com Caetano Veloso (Foto: Luciana Brasil)
PARCERIAS -- em 2008 gravou com Caetano Veloso (Foto: Luciana Brasil)

Não que a cor tenha deixado de importar: após fazer os retratos do Rei que estão nesta edição, o fotógrafo Jorge Bispo pediu um autógrafo em um LP. Quando viu que Bispo lhe alcançou um pincel atômico preto, sacou de uma gaveta outro, azul, e assinou o disco. “Não fica mais bonito assim, bicho?” Sim, boa notícia aos imitadores: ele fala “bicho” bastante.

Com a vaidade em alta, Roberto veste Ricardo Almeida, faz escova progressiva e anda malhando muito. “O cara tem um braço do tamanho da minha perna”, exagera seu novo amigo, o DJ Marcelo Memê Mansur.

Os passeios de conversível com direito a tchauzinho para os fãs são novidade. Antes, a regra eram deslocamentos discretos em sedãs com vidro fumê. A agenda lotada de shows mostra que a Urca ficou pequena.

PARCERIAS -- em 2013 lançará um disco de remixes - um deles do Dj Memê (Foto: Reprodução / Youtube)
PARCERIAS -- em 2013 lançará um disco de remixes - um deles do Dj Memê (Foto: Reprodução / Youtube)

“Ele está numa fase inspirada e feliz, o que nos estimula a pensar em grandes eventos, projetos internacionais”, diz Dody Sirena, seu empresário desde os anos 1990. Para 2013, estão engatilhados um disco de remixes e outro com versões em espanhol, além do disco do final de ano com inéditas. E há grandes chances de Roberto cantar na abertura da Copa de 2014, no Itaquerão: as negociações estão adiantadas.

Outra mudança importante – a religiosidade. “Eu fazia curso para santo. Era súper, superpraticante da Igreja Católica. Hoje não sou tanto”, disse ele no Programa do Jô em 2011, onde também apoiou o casamento gay.

Quando Maria Rita adoeceu, ele tinha a convicção de que a fé a salvaria. Sem mencionar diretamente a morte dela, Roberto diz: “Hoje me considero um cara realista. A fé não move montanhas. Não muda o curso das coisas, muda você. Não me iludo”.

Especula-se muito sobre sua vida amorosa. Desde que ficou solteiro, a imprensa de celebridades já ventilou nomes como a bailarina Ana Botafogo, a assessora política Maria de Fátima Barbosa, a atriz Luciana Vendramini, a socialite carioca Manoela Ferretti, a dermatologista Márcia Ramos e a cantora Paula Fernandes. Cavalheiro que é, Roberto sempre nega todos os boatos. Ao ser perguntado se estava namorando, disse: “Não dá pra viver sem beijo na boca e sem sorvete”.

DETALHES

Há coisas sobre Roberto que nunca vão mudar. Uma delas é o zelo por sua privacidade. Em 1979, ele conseguiu na Justiça o recolhimento do livro O Rei e Eu, memórias de seu ex-mordomo Nichollas Mariano. Em 1983, processou o jornalista Ruy Castro por uma reportagem na revista Status que detalhava seus namoros – “É a primeira vez que alguém é processado por chamar o outro de garanhão”, disse Ruy na época.

Em 1993, impediu uma série sobre a sua infância no jornal Notícias Populares. E, em 2007, selou um acordo com a Editora Planeta que tirou de circulação a biografia Roberto Carlos em Detalhes, de Paulo César Araújo. “Imagine você viver desde 1965 com o seu staff fazendo tudo como você deseja. E aí apareço eu contando histórias que você não quer que as pessoas saibam. Ele busca ter controle absoluto das coisas dele”, diz Paulo César, que em 15 anos de pesquisa para o livro não conseguiu entrevistar seu biografado.

A questão do controle se estende aos estúdios e ensaios, quando é perfeccionista ao extremo. “Com Esse Cara Sou Eu, foram três meses de ida e volta. Às vezes, é enlouquecedor. Mas são estresses profissionais, e não pessoais”, diz o maestro Eduardo Lages, que ressalta o conhecimento e a intuição musical do Rei.

Sobre namoro é discreto: "Não Dá pra viver sem beijo na boca e sem sorvete" (Foto: Arquivo)
Sobre namoro é discreto: "Não Dá pra viver sem beijo na boca e sem sorvete" (Foto: Arquivo)

Sua confiança é conquistada a conta-gotas. Tome-se como exemplo a relação de Roberto com o DJ Memê. Em 1994, ele fez um remix de Se Você Pensa e soube que o Rei havia gostado. Vários anos e remixes de Roberto Carlos depois, em 2012, ele foi chamado para participar do especial de TV de fim de ano, com uma versão dançante de Fera Ferida.
No dia da gravação, arriscou uma dancinha com o cantor e, mesmo trajando preto e cinza, foi correspondido. Em seguida, foi convocado para shows no Maracanãzinho e então convidado para o cruzeiro de Roberto, que teve sua nona edição em janeiro. “Quando me chamaram para conhecê-lo, eu travei”, conta Memê, que já trabalhou com Lulu Santos, Shakira e Yoko Ono. Agora, se considera parte da corte. “O Rei bateu no meu ombro com a espada. É a condecoração de sir Memê!”

QUANDO EU ESTOU AQUI

Uma vez admitido no círculo de confiança de Roberto Carlos, a fidelidade é eterna. Músico que entra pra banda dele nunca sai. Em sua primeira temporada no Canecão, em 1970, ele chegou a tocar com dois bateristas para não mandar embora o antigo – Dedé, que depois passou à percussão. “Considero Roberto um irmão. Se ele ganha, eu também ganho”, diz Dedé. Sobra para mais gente: o Rei não gosta de divulgar, mas já bancou o tratamento de vários doentes em situação grave.

Quando a Jovem Guarda acabou e Erasmo ficou sem eira nem beira, Roberto estava lá. Contra sua gravadora, que não queria abrir mão de um hit, fez o parceiro gravar Sentado à Beira do Caminho. A balada romântica ressuscitou a carreira do roqueiro. Aliás, não estranhe se Erasmo foi pouco citado: eles não são tão próximos. Ligam-se nos aniversários e na hora de compor. “É por isso que dá certo”, já disse Erasmo Carlos.

ALÉM DO HORIZONTE -- Roberto Carlos em seu calhambeque, tendo ao fundo o Pão de Açúcar e a Urca, onde mora (Foto: Antônio Milena)
ALÉM DO HORIZONTE -- Roberto Carlos em seu calhambeque, tendo ao fundo o Pão de Açúcar e a Urca, onde mora (Foto: Antônio Milena)

Um caso recente de generosidade envolve um nome menos conhecido da Jovem Guarda. Ed Carlos, do hit Edifício de Carinho, estava justamente com um problema imobiliário. Seu restaurante, o Ed Carnes, tradicional churrascaria do Cambuci, em São Paulo, teria que mudar de endereço: o imóvel onde se localiza seria vendido. Quando o Rei soube, pediu que Ed fizesse uma proposta em seu nome. Roberto Carlos agora é o dono do sobrado onde fica o Ed Carnes, e Ed Carlos pode continuar servindo o famoso Costelão do Edão.

O cara que usa a fortuna para ajudar os amigos se parece bastante com o que Alfa fotografou e encontrou em uma coletiva no fim de janeiro. Quem estava ali, a poucos metros dos jornalistas, não era o entrevistado inacessível, protegido pela corte. Era um sujeito tímido e carismático, falando como se estivesse na sala de casa – da nossa casa. Um cara de olhar triste e acolhedor, capaz de tocar algo dentro de todo mundo. É arriscado definir Roberto Carlos, mas não custa tentar: um rei com olhos de plebeu.

05 de maio de 2013
Reportagem de Emiliano Urbim, publicada na revista Alfa