"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quinta-feira, 1 de março de 2012

CRIVELLA DIZ QUE SERÁ CANAL ENTRE GOVERNO E EVANGÉLICOS

Senador do PRB tomará posse como ministro da Pesca na próxima sexta-feira. Ele diz que sua chegada à Esplanada dos Ministérios não está condicionada à retirada da candidatura de Celso Russomano em São Paulo.
Luciana Marques

O novo ministro da Pesca, Marcelo Crivella: "Tenho muito o que aprender" (Sérgio Lima/Folhapress)

No mesmo mês em que o Planalto enfrentou uma crise com a bancada evangélica do Congresso Nacional, a presidente Dilma Rousseff decidiu indicar o senador Marcelo Crivella (PRB) para o comando do Ministério da Pesca. Em entrevista ao site de VEJA, o senador disse que estreitará a relação entre o governo e a igreja evangélica – à qual se converteu aos 7 anos.

Discreto e governista de carteirinha, Crivella não entrou na briga entre parlamentares evangélicos e o governo. A bancada evangélica reagiu negativamente diante da nomeação de Eleonora Menicucci na Secretaria de Políticas para as Mulheres por causa de seu posicionamento a favor do aborto. Eleonora tomou posse no último dia 10. Cinco dias depois, o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, pediu desculpas à bancada evangélica, mas por outro motivo: suas declarações no Fórum Social Mundial, em que pregou o confronto com evangélicos. O episódio causou tanto desconforto que Carvalho se retratou depois.

É exatamente esse tipo de discussão pública que Crivella, liga à Igreja Universal, tentará evitar. À parte dos debates religiosos, o futuro ministro promete organizar a indústria da pesca. Mas admite que terá de estudar bastante, já que não entende do assunto.

Sobre as eleições de 2012, Crivella garante: apesar de ter sido contemplado com um ministério, o PRB não vai retirar candidaturas da legenda em municípios. Celso Russomano, por exemplo, continuará pré-candidato da legenda rumo à prefeitura de São Paulo.
Leia abaixo a entrevista que o novo ministro concedeu ao site de VEJA:

De que forma o senhor pode colaborar para estreitar os laços entre governo e evangélicos?

Sempre contribuí, independentemente de estar no governo eu nunca regateei o meu apoio à presidente, porque acredito nas suas intenções, na sua capacidade. E participei de sua campanha ativamente. De tal maneira que estarei disposto a conversar com todos os pastores que conheço há anos e todos movimentos evangélicos. Me converti com 7 anos de idade e tenho 54, portanto, conheço praticamente todas as igrejas do Brasil e todos os líderes. E o que puder fazer para dirimir as controvérsias, farei. A presidente pode contar com o apoio dos evangélicos na implementação das boas políticas públicas. Sendo integrante da bancada evangélica e fazendo parte do grupo dos assessores diretos da Presidência, acho que poderei ser, sim, um canal para estreitar os laços.

Inclusive em temas controversos, como o aborto?

A presidente já conhece a posição dos evangélicos sobre essas questões, somos pró-vida. Mas a minha missão é a pesca, melhorar o setor pesqueiro no Brasil, organizar o setor, a área industrial e cuidar dos pescadores.

Agora que o PRB foi contemplado com um ministério, como ficam as alianças nas eleições municipais de 2012?

Nós temos caminhado com o PT em vários locais, mas quero afirmar categoricamente que em nenhum momento nós do partido recebemos qualquer proposta política, de apoio ou de contrapartida para assumir o ministério.

Nem em São Paulo, onde Celso Russomano (PRB) deverá disputar contra o petista Fernando Haddad?

Em São Paulo temos um excelente candidato, é o primeiro nas pesquisas. Jamais assumiria esse ministério se fosse condicionado a retirar a candidatura de um companheiro por quem tenho o maior apreço e respeito.

Quando recebeu o convite para assumir o cargo?

Hoje foi a confirmação, mas recebi o convite no final de semana. Tratamos exatamente da entrada do PRB no governo e da pesca. Passei a ler sobre o assunto e conversar com amigos, tenho muito o que aprender.

A presidente fez alguma recomendação para o senhor?

Tivemos uma conversa muito amena, muito agradável. Ela me pediu que tivesse um cuidado todo especial com os pescadores do Brasil. Ela acha que devemos organizar o setor da pesca. O Brasil está produzindo muito pouco, em torno de 1 milhão de toneladas e isso é menos do que o Peru produz. A presidente tem uma preocupação social muito grande, a mesma preocupação que me levou a passar dez anos na África. Espero estar à altura do que recebi.

ESPECIALISTA MARCOS TROYJO ACREDITA QUE O MODELO CHINÊS PASSA POR UM PROCESSO DE AMADURECIMENTO E NÃO DE ESGOTAMENTO

“Como os líderes chineses sabem, o atual modelo de crescimento é insustentável.” Essa é a opinião do presidente do Banco Mundial (Bird), Robert Zoellick, a respeito da política econômica da China. Marcos Troyjo, especialista do Instituto Millenium e diretor BRICLab, pensa diferente.

Troyjo acredita que o modelo chinês passa por um processo de amadurecimento e não de esgotamento. “A China está passando por uma mudança de DNA. Desde 1978, ela tem um modelo baseado em quatro pilares: o acesso privilegiado aos principais mercados compradores, a baixa remuneração da mão-de-obra chinesa, o exitoso modelo de parcerias público-privada, sobretudo, no desenho da infraestrutura e a agressiva diplomacia empresarial. Esse modelo evolui.”

O especialista explica que apesar de ainda ter uma grande vantagem competitiva na mão-de-obra e no acesso a mercados, é verdade, também, que “com o arrefecimento da economia nos EUA e, sobretudo na Europa, o ímpeto exportador chinês vai perder um pouco do seu fôlego.”

Troyjo afirma que os chineses têm o fortalecimento do mercado interno com importante aliado contra a crise mundial. “Para esse fim, os chineses estão usando o gigantesco poder de compras governamentais”, esclarece.

Um estudo do Banco Mundial prevê a estagnação da economia chinesa caso o país não passe por reformas profundas e se transforme numa verdadeira economia de mercado.

Segundo Troyjo, há motivos para acreditar que o crescimento chinês continuará “impressionante” ainda por muito tempo. “O setor corporativo representa 35% do Produto Interno chinês, então, a capacidade de reinvestimento das empresas é muito grande. Alia-se a isso o fato de a China ter cerca de 3,3 trilhões de dólares em reservas cambiais, que permite a ela incentivar determinados setores da economia e manter o seu crescimento.”

O relatório do Bird recomenda a consolidação dos princípios da economia de mercado como a principal forma de manter a estabilidade econômica na potência asiática. Troyjo não acredita que esse modelo será implementado na China. “Se por economia de mercado nós entendemos uma pequena participação do governo na economia, as forças de oferta e demanda operando como principal sistema para alocação de preços e de recursos, o papel do Estado como definidor das regras gerais e como uma instância que participa menos do dia-a-dia da economia, seguramente nós não vamos ter isso na China.”

O especialista diz que os chineses têm um interesse nacional bem definido. “Eles sabem que para manter uma taxa media de crescimento na linha de 7,5 e 8%, terão que fazer investimentos brutais em ciência e tecnologia e uma agregação de educação ainda maior da sua população. Tudo isso vai alterar o perfil da China como ator da globalização econômica.”


28 de fevereiro de 2012
Comunicação Millenium

TODO CUIDADO É POUCO: MILIARES DA RESERVA PEITAM DILMA E REPUDIAM O MINISTRO AMORIM

29 de fevereiro de 2012 | 17:17

A Folha de S. Paulo informa que, em nota divulgada ontem, 98 militares da reserva reafirmaram recentes ataques feitos por clubes militares à presidente Dilma Rousseff e disseram não reconhecer autoridade no ministro da Defesa, Celso Amorim, para proibi-los de expressar opiniões.

A nota, intitulada “Eles que Venham. Por Aqui Não Passarão”, também ataca a Comissão da Verdade, que apontará, sem poder de punir, responsáveis por mortes, torturas e desaparecimentos na ditadura. Aprovada no ano passado, a comissão espera só a indicação dos membros para começar a funcionar.

“[A comissão é um] ato inconsequente de revanchismo explícito e de afronta à Lei da Anistia com o beneplácito, inaceitável, do atual governo”, diz o texto, endossado por, entre outros, 13 generais.

A reportagem de Lucas Ferraz assinala que, apesar de fora da ativa, todos ainda devem, por lei, seguir a hierarquia das Forças, das quais Dilma e Amorim são os chefes máximos.

O novo texto foi divulgado no site “A Verdade Sufocada”, mantido pela mulher de Carlos Alberto Brilhante Ustra, coronel reformado do Exército e um dos que assinam o documento.

Ustra, ex-chefe do DOI-Codi (aparelho da repressão do Exército) em São Paulo, é acusado de torturar presos políticos na ditadura, motivo pelo qual é processado na Justiça. Ele nega os crimes.

A atual nota reafirma o teor de outra, do último dia 16, na qual os clubes Militar, Naval e de Aeronáutica fizeram críticas a Dilma, dizendo que ela se afastava de seu papel de estadista ao não “expressar desacordo” sobre declarações recentes de auxiliares e do PT contra a ditadura.

Após mal-estar e intervenção do Planalto, de Amorim e dos comandantes das Forças, os clubes tiveram de retirar o texto da internet.

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CRÍTICA A AMORIM

“Em uníssono, reafirmamos a validade do conteúdo do manifesto do dia 16″, afirma a nota de ontem, que lembra que o texto anterior foi tirado da internet “por ordem do ministro da Defesa, a quem não reconhecemos qualquer tipo de autoridade ou legitimidade para fazê-lo”.

Agora, os militares dizem que o “Clube Militar [da qual a maioria faz parte] não se intimida e continuará atento e vigilante”.

A primeira das três declarações que geraram a nota foi da ministra Maria do Rosário (Direitos Humanos), para quem a Comissão da Verdade pode levar a punições, apesar da Lei da Anistia.

Depois, Eleonora Menicucci (Mulheres) fez em discurso “críticas exacerbadas aos governos militares”, segundo o texto. Já o PT, em uma resolução, disse que deveria priorizar o resgate de seu papel para o fim da ditadura.

29 de fevereiro de 2012
tribuna da internet

TUCANO PERNAMBUCANO QUER ENFIAR LITERATURA PERNAMBUCANA GOELA ABAIXO

TUCANO PERNAMBUCANO QUER ENFIAR
LITERATURA PERNAMBUCANA GOELA ABAIXO


Leitor me envia esta pérola, publicada hoje no Jornal do Commercio, de Recife.
Lei defende autor pernambucano - Aprovada no começo da semana, a lei estadual 53/2011, de autoria do deputado Daniel Coelho (PSDB) foi bem-recebida, mas não é unânime. O texto prevê que as livrarias pernambucana passem a contar com 5% de livros nordestinos em suas prateleiras, sendo metade desse percentual (2,5% do total) reservado a autores do Estado. Quem descumprir, pode ser advertido e até pagar uma multa entre R$ 1 mil e R$ 10 mil.

O deputado tucano foi ao encontro dos sonhos de todo escrevinhador medíocre de província: ter sua “obra” exposta numa livraria. Há uma mania muito brasileira – e certamente não só brasileira – de classificar a literatura por Estado. Assim, temos a literatura gaúcha, catarinense, paranaense, pernambucana e daí por diante. Verdade que não ouço muito falar em literatura paulista. A confluência de gentes no Estado e na Paulicéia é tamanha que fica difícil falar em uma literatura específica. Em suma, quanto menos importante o Estado, quanto mais medíocre sua literatura, mais seus escritores querem ostentar suas plumas.

Ainda há pouco, comentei uma descoberta de meus dias de Florianópolis. Emi uma ementa do curso de Filosofia da UFSC, li: História da Filosofia Catarinense. Sou um desinformado. Em nem sabia que existiam filósofos em Santa Catarina, quando na verdade já existia, pujante e fecunda, uma história da filosofia catarinense.

Quanto à literatura, nem se fala. Em 1986, quando coordenei um encontro de escritores brasileiros em Porto Alegre, pensei em fazer um aceno aos escritores catarinenses. Eu conhecia três ou quatro nomes e enviei convite a eles, pedindo que o transmitisse aos demais colegas. Resumo da ópera: chegaram dois ônibus de escritores. A delegação catarinense foi maior que a do Brasil todo.

Há algumas décadas, li notícia sobre um encontro de poesia gaúcha nalguma cidade da serra, creio que Gramado. Li mais ainda: que um ônibus de poetas se dirigia à cidade. Ora, eu imaginava, naqueles dias, que no Rio Grande do Sul havia um só poeta. Estava desinformado.

A universidade é a primeira trincheira em que se aboletam os medíocres. Criam-se cadeiras de literaturas estaduais. Assim, temos as disciplinas de literatura gaúcha, catarinense, pernambucana, etc. Mais um pouco e a literatura será municipalizada: teremos quem sabe literatura porto-alegrense, pelotense, santanense, pedritense, não-me-quense. Academias já existem. Só falta a universidade tornar-se sensível a esta aspiração dos pavões.

Isso sem falar na tal de literatura brasileira, em que autores tipo Oswald ou Mário de Andrade, Clarice Lispector ou Guimarães Rosa são empurrados goela abaixo dos estudantes, via vestibular ou currículos universitários. Surge então a pergunta: que distingue um autor brasileiro de um autor gaúcho ou pernambucano? Ah, escritor nacional é aquele publicado no eixo Rio/São Paulo, que preferentemente goze do apreço dos PhDeuses da USP.

Ainda ontem, me escrevia um indignado leitor:

“Sou um vestibulando e há mais de quatro anos presto concurso em universidades públicas para o curso de medicina aqui em São Paulo, e concordo plenamente com você sobre o fato de nós alunos sermos obrigados a ler obras nacionais, o que na sua imensa maioria são insuportáveis de serem lidas , como o Machadinho, Eça , Jorge Amado ( a grande prostituta como você mesmo diz), Mário De Andrade, Vinícius De Moraes entre outros. Ora, em minha vida escolar e no cursinho foi raríssimo encontrar algum aluno que suportasse ler algumas dessas "obras" que são enfiadas goela abaixo pelos acadêmicos, então porque temos que ler esses livros horrosos? A minha ojeriza maior , entre outras, é pelo "Papa do Modernismo"(Mário De Andrade) e sua obra maior: Macunaíma, que é uma história sem pé nem cabeça e que não fez sucesso nenhum, tanto é verdade que a mãe do próprio autor disse que não havia entendido o enredo do livro e mesmo assim hoje em dia é considerado um clássico(??!!). Ou seja, um livro que até hoje ninguém lê a não ser professores de literatura e os alunos, estes últimos porque são obrigados, e não fez sucesso algum é considerado um clássico? Se não é basta transformar em um, lembremos que estamos no Brasil onde tudo é possivel, já que a sobrinha de Mário De Andrade foi casada com o catedrático-uspiniano-decrépito-comunista Antonio Candido, segundo alguns o maior crítico literário do Brasil, o que cá para nós facilitou a vida de Andrade, pois transformar aquele livro insuportável em um "clássico" foi fácil visto que a USP e o MEC são o que determinam o que temos que aprender nas escolas”.

Bom, eu retiraria Eça desta lista. É um dos grandes momentos da língua portuguesa. Eu faria uma outra pergunta: por que raios um candidato ao curso de Medicina tem de conhecer literatura nacional? A verdade é que a literatura brasileira, como o cinema e o teatro, só sobrevivem se entubados ao Estado. Um leitor russo ou espanhol, inglês ou francês, tem opções bastantes para buscar autores profundos na própria língua. O leitor brasileiro as tem em termos, terá de refugiar-se em Portugal, em Guerra Junqueiro, Eça de Queirós ou Fernando Pessoa. O endeusamento de mediocridades na literatura brasileira se deve, a meu ver, a essa mania que têm os países com complexo de inferioridade cultural a desenvolver uma literatura nacional. Se existe Brasil, deve existir um cânone brasileiro com seus mitos e gênios.

Ocorre que literatura é tão universal quanto a física ou matemática. Pelo menos até agora os acadêmicos brasileiros não ousaram falar de uma física ou matemática brasileiras. (Na França, foram mais longe: houve época em que se falava em uma geografia burguesa e outra proletária). Quando alguém me pergunta quais autores recomendo na literatura brasileira, não me faço de rogado: Platão, Cervantes, Dostoievski, Swift, Nietzsche, Orwell, Pessoa e por aí afora.

Ora, direis, estes não são autores nacionais. Pois a meu ver, são. Estão traduzidos, fazem parte do imaginário nacional, logo são tão brasileiros quanto Machado ou Rosa. Mesmo que não fossem, pertencem ao acervo universal e não temos o direito de ignorá-los. Por que não considerar Cervantes ou Balzac como escritores brasileiros? Tratam do ser humano e seus personagens invadem nosso dia-a-dia. Dom Quixote é mais conhecido no Brasil do que Braz Cubas, gerou inclusive um adjetivo, quixotesco, aliás presente em outras línguas de cultura. Balzac também. O português é a única língua que define a mulher de trinta anos como balzaquiana. Deu até samba: "Balzac acertou na pinta, mulher só depois dos trinta".

Mas desviei do assunto. Volto a Pernambuco. Para a presidente da Academia Pernambucana de Letras, Fátima Quintas, trata-se de uma lei extraordinária e necessária. De fato, o grande problema do escritor local é a distribuição. Mas é preciso que se cumpra a lei, é preciso fiscalizar, opina a ficcionista e antropóloga.

Para Alexandre Santos, presidente da União Brasileira de Escritores - Secção Pernambuco, a aprovação é uma excelente notícia. O que é preciso, no entanto, é que exista a vontade política do Governo Estadual de cobrar o seu cumprimento. Existe uma lei municipal semelhante, mas a prefeitura pouco faz em relação a isso, declara.

E aí do livreiro que não expuser os medíocres locais. Será multado, e suponho que de novo multado se reincidir. Este é o sonho de todo escritor medíocre de qualquer Estado. Ocorre que exposição na vitrine não significa venda. A meu ver, a lei do deputado tucano deve ser aperfeiçoada. Cada família com filho na escola – ou mesmo sem filho na escola – deve comprar um percentual xis de autores pernambucanos.

O que, de certa forma, já ocorre em âmbito nacional. Quando se fala em vinho ou uísque, a preferência recai sobre vinho ou uísque importados. O mesmo vale para carros ou aparelhos eletrônicos. Mas quando se trata da bendita literatura, ela tem de ser nacional. E agora, como pretende o Legislativo pernambucano, estadual.

29 de fevereiro de 2012
janer cristaldo
19 de janeiro de 2010, 18h14
Confissões de Sebastião Nery
Claudio Leal




"A tristeza de não ter sido santo" - a frase lamuriosa do escritor católico Léon Bloy se assemelha a chicotadas morais contra a consciência de ex-seminaristas. Mas certamente não retirou de Sebastião Nery a avidez com que se agarrou à vida além-claustro. "A nuvem - O que ficou do que passou" (Geração Editorial), as memórias de Nery lançadas em dezembro de 2009 e já em segunda edição neste janeiro, revela que os tumultos de amor e o aceso da literatura anteciparam sua renúncia ao sacerdócio, sob as arcadas dos templos baianos. E se houver um Deus pletórico, esse retribuiu ao abandono: levou três das quatro irmãs de Sebastião para o convento.



Na despedida do Seminário de Santa Tereza, em 1951, Nery carregava uma mala e o livro "O galo branco", de Augusto Frederico Schmidt. Obra moldada para aquele momento de transição. Com o estilo de quem anuncia o fim do mundo em ritmo de salmodia, Schimdt encarnava o intelectual nostálgico da santidade, da pureza - e sempre devedor da cultura cristã, a começar por seu emprego na Livraria Católica. Percorreu, entretanto, o mesmo caminho secular do garoto que abandonava o monastério.



"A nuvem", espécie de leitmotiv literário, conduz as ordenações espirituais e vocacionais de Sebastião Nery, a sua recusa aos dogmatismos, a descoberta do poder emancipatório das palavras. O jornalismo como que o redimiu da perda da fé na Igreja e no Partido Comunista. Ele dedicará mais de cinco décadas aos púlpitos da imprensa: O Diário, Jornal da Bahia, A Tarde, Jornal da Semana, Tribuna da Imprensa, Politika, Última Hora, Folha de S. Paulo, entre outros jornais.



Essa experiência individual ganha ainda mais musculatura se a encararmos como um exemplar da formação católica brasileira pré-Concílio Vaticano II. Penso também em "Informação ao crucificado", de Carlos Heitor Cony, e "O nariz do morto", de Antonio Carlos Villaça. Para sairmos da órbita do Brasil, a escritora americana Mary McCarthy se debruçou, em "Memórias de uma menina católica", sobre esse universo religioso de incensos, pecados e ameaças de inferno.



Pela clareza horaciana, a linguagem jornalística de Sebastião Nery é devedora dos estudos diuturnos do latim e da literatura clássica. "Sepulcro caiado" (1962), o primeiro livro de polemista, trazia libelos de voltagem bíblica contra o ex-governador baiano Juracy Magalhães. Outro aparte: em 1991, na Folha de S. Paulo, numa pequena divergência sobre a posse de Juscelino Kubitschek na presidência, o escritor Otto Lara Resende justificou ao lado ex-seminarista de Nery que não havia golpismo no emprego do termo "restrição mental" (reservatio mentalis) na estrepitosa entrevista com o marechal Henrique Lott, em novembro de 1955. Era um conceito da moral católica habilmente posto por Lara Resende na boca de Lott, para equilibrar uma meia mentira.



Nos primeiros nove capítulos de "A nuvem" ressurgem personalidades enternecedoras. Padre Correia, um asceta antibritânico, cultor de francesismos. "Os russos e os americanos estão disputando para ver quem chega primeiro à Lua. Vão ter uma grande decepção. Quando chegarem lá, encontrarão uma gramática e um dicionário francês", pregou Correia aos alunos. Ele mais parecia um ex-combatente francês da guerra dos Cem Anos em seu horror à Grã-Bretanha. Recitou um poema de Guerra Junqueiro contra a colonização inglesa na África e praguejou: "Inglaterra, Inglaterra, loba faminta, bêbada infame!". Por que não se ensinava inglês no seminário? "Língua de bárbaros. Escreve maxixe e pronuncia quiabo".



Mas, gradualmente, impõe-se o homem político nos relatos, a partir da estreia no jornalismo em Belo Horizonte. A militância comunista impulsiona as primeiras viagens internacionais. O bicho geográfico coça os pés do repórter. Sebastião Nery diz que veio ao mundo a trabalho, mas a condição de viajante se petrificou de tal forma em seu espírito que nos obriga a emendar: a trabalho, e em movimento. "Devo minha vida profissional à Igreja, ao PCB e a Santos Dumont", costuma brincar com os amigos. Joel Silveira se admirava: "Como é possível a uma pessoa tal poder de mobilidade, um tal domínio sobre as horas?".



No capítulo "O comunismo", o jornalista faz um retrato melancólico de Ilya Ehrenburg, "o Jorge Amado da União Soviética", autor de O degelo. Residente em Moscou desde a ocupação de Paris pelos nazistas, o escritor ucraniano recebeu em sua casa um grupo de jovens bolchevistas. Coube ao jornalista brasileiro a impertinência: "E Stalin?". "O intérprete ouviu, não traduziu. Ele entendeu bem. Olhou para mim com uns olhos infinitamente tristes, tive a impressão de que ia chorar. Mal mexeu a boca: - Stalin? Hummm... E fez um gesto leve com a mão, como quem espanta um pássaro. Estava esperando um pesadelo. Já vi muitos olhos tristes. Nunca vi olhos tão tristes quanto os de Ilya Ehrenburg", conta.



Seguindo a nuvem do memorialista, o leitor sobrevoará Sibéria, França, Grécia, Itália, Portugal, Espanha e países da América Latina. As antenas do repórter se voltam para os homens emaranhados em crises políticas. No Brasil, recorda o convívio com leopardos da vida nacional: JK, José Maria Alckmin, Jânio Quadros, José Aparecido de Oliveira, Vitorino Freire, Abelardo Jurema, Magalhães Pinto, Seixas Dória, Ulysses Guimarães, Leonel Brizola, Tancredo Neves, Darcy Ribeiro, Fernando Henrique Cardoso e Lula. Nery não contorna temas polêmicos como a briga com Brizola e a campanha de Fernando Collor.



Ninguém descreve com a agilidade de Sebastião Nery os prestidigitadores da vida pública, genialmente retratados na série Folclore Político; às vezes bastava uma pincelada de veneno ou ternura para fazê-lo um mestre do jornalismo e da língua. À época, Millôr Fernandes decifrou: Nery havia entendido que "parar de enfrentar o tigre frente a frente e puxar-lhe o rabo inesperadamente é mais útil à causa e muito mais eficiente." Durante a vigência da censura, o Folclore Político desanuviou os rancores nacionais e resgatou os proscritos. Puxando o rabo do tigre, trouxe Juscelino Kubitschek de volta às colunas políticas da "Tribuna da Imprensa", jornal dirigido por Helio Fernandes.

Em "A nuvem", uma história de JK, talvez o político tratado com maior ternura pelo autor, serve para definir, a um só tempo, as dores do ostracismo e a cordialidade sem herdeiros:



"Em fevereiro, março, Paris é muito fria, Juscelino botava o capote, o chapéu, e saía rondando de carro, amargurado, inconsolado com as acusações sem provas de Jânio Quadros. Uma noite, com Olavo (Drummond), subia de carro, dirigindo, pela avenida Champs-Élysées, parou no sinal. Um grupo ia passando, falando alto em português. Um rapaz o vê, olha, aproxima-se, volta:

- Vá parecer assim com Juscelino na puta que o pariu.

Juscelino tremeu a voz:

- Seu Olavo, me deu vontade de descer e bater um papo."



De Brizola, um perfil espinhoso, com minúcias sobre os demaios autoritário do gaúcho. Eleito deputado federal em 1982 pelo PDT, com 111 mil votos no Rio de Janeiro, Nery partiu da admiração por Brizola à amargura com o veio autocrático do líder trabalhista. Trecho de um duro depoimento sobre os momentos finais da briga: "Um ano e meio depois da eleição, quinze meses depois da posse, em 1984, já com tanto desgaste, Brizola afinal convocou uma reunião com toda a bancada no Palácio das Laranjeiras. Tensa, difícil, dramática. Eu já não era mais presidente da Executiva Regional, mas continuava primeiro secretário Nacional. Falei em primeiro lugar. Repeti o que conversávamos em Brasília. Brizola não respeitava o partido, a bancada, ninguém. O PDT era uma garçonière, com uma chave só, na mão dele. Brizola, surpreso, irado, aguentou, enfiando um lápis no bloco".



Noutro salto geográfico, Sebastião Nery e Ulysses Guimarães andam por Roma, em abril de 1991. Ulysses regurgita a tristeza de ter perdido a presidência nacional do PMDB, depois de ter enfrentado uma derrota avassaladora na campanha presidencial de 1989. "Não sei por que o Waldir deixou o governo da Bahia para ser vice, se durante toda a campanha em nenhum instante acreditou nela", reprovou, prosseguindo no lamento contra outros companheiros de partido. Apesar dos diálogos secos, Ulysses se mostra exuberante nessa crônica do talento sufocado, do animal político diante do olvido, do desespero inconsciente com a velhice. "A Nuvem" ultrapassa o caráter de testamento pessoal. Nery construiu um arquivo implacável do Brasil.
01 de março de 2012
Terra Magazine

DO YOU REMEMBER? NÃO FAZ TANTO TEMPO ASSIM...

LEMBRAM?

Membros resgatados da base Comandante Ferraz chegam em Punta Arenas após incêndio

Lembram de quando a febre aftosa estava sob controle do Brasil, bastando gastar anualmente 30 milhões de dólares para manutenção da fiscalização e prevenção?

Lembram que este dinheiro estava no orçamento, mas acabou não sendo aplicado por alguns anos para reduzir o déficit do governo? Lembram como a aftosa acabou surgindo de novo comprometendo exportações de carne de mais de um bilhão de dólares?

Lembram de quando o governo decidiu que a China era uma economia de mercado? Lembram de como em função disto a China teve acesso irrestrito aos mercados brasileiros com seus produtos manufaturados em que sua mão de obra é remunerada a algo como um salário mínimo brasileiro ao ano?

Lembram que existem muitos empregos brasileiros que foram parar na China?
Lembram de todas as coisas que deram erradas neste país apesar de nominalmente haver estruturas para que isto não ocorresse?

Lembram da defesa civil da serra no Rio de Janeiro que não funcionou?

Lembram do dinheiro das enchentes de Santa Catarina em que o governo prometeu ajuda aos atingidos e nunca desembolsou nada?

Lembram das agências reguladoras que funcionavam a contento e hoje não funcionam mais?

Lembram dos controladores de vôo que operam com pouco treinamento e muito mais horas do que é aceitável em países de primeiro mundo?

Lembram que grande parte do equipamento de controle aéreo foi comprado como sendo de última geração quando Geisel ainda era presidente?

Lembrem-se. Tudo no Brasil começa numa boa. Bons projetos, bom equipamento, pessoal de primeira. E com o passar do tempo vai havendo um descaso aqui. Uma economia ali. Um apadrinhado, depois dois, depois três. De repente todos que mandam na bagunça estão aí devido a favor. E então acontecem as coisas ruins.

Posso estar enganado, espero estar enganado, mas a minha observação de como tudo está se passando no país me indica que a Estação Antártica Comandante Ferraz pode ter sido destruída por uma seqüência de pequenas economias, pequenos descasos.
O alarme não funcionou. O fogo não foi debelado. Heróicos suboficiais morreram. Os equipamentos geradores estavam todos concentrados no mesmo lugar, o fogo se alastrou a outras instalações.

Até prova em contrário eu diria que faltou acompanhamento, treinamento e atualização e “backup” de sistemas. Em certo momento passou a se acreditar que o que servia em 2000 serviria também em 2012.

Uma pena. Era um dos programas de ciência mais fascinantes que o Brasil tinha. E até o desastre funcionava.

Ralph J. Hofmann
01 de março de 2012
Prosa e Politica

NOVO COFRE: VÍTIMAS DA PREDAÇÃO

A aprovação do Funpresp (Fundação de Previdência Complementar do Servidor Público Federal) mostra como uma medida correta pode ser desvirtuada pela sanha com que o PT e seus aliados se lançam sobre o patrimônio público.

Antes mesmo de o novo órgão sair do papel, os comensais já estão se matando pelo bilionário montante de dinheiro que pode vir a ser movimentado.

O Funpresp destina-se a equacionar o déficit da Previdência gerado pelos cerca de 950 mil aposentados e pensionistas da União. Este diminuto grupo responde por rombo que chegou a R$ 60 bilhões em 2011.

Apenas para comparar:
no regime geral do INSS, que banca aposentadorias de 29 milhões de pessoas do setor privado, o déficit foi de R$ 36,5 bilhões no ano passado.

Pela proposta aprovada ontem na Câmara, o valor máximo do benefício pago pela União será de R$ 3,9 mil, igual ao atual teto do INSS.

Os servidores terão desconto de 11% do salário e quem quiser benefício maior terá que pagar mais ao Funpresp. O governo federal também participará, aportando até 8,5% do salário do funcionário.

A criação de um fundo complementar era prevista desde que a Previdência passou por reforma, em 1998, na gestão Fernando Henrique. No governo Lula, o governo tentou, ainda que timidamente, levar a proposta adiante, mas fracassou.

O Funpresp permite reverter uma situação que, de outra forma, poderia ser explosiva. É importante que os direitos de quem já é funcionário público serão preservados: as novas regras só valem para quem ingressar após a mudança na lei.

"A expectativa é de que, num prazo de apenas cinco anos, cerca de 40% dos servidores estarão em condições de se retirar e provocar uma onda de aposentadorias e, em consequência, um boom de novas contratações.

É preciso corrigir a rota antes da entrada desse novo contingente de servidores", comentou o Valor Econômico em editorial na semana passada.

A boa iniciativa, porém, já começou a ser desvirtuada.
Ao contrário do que previa a proposta original, o próprio Funpresp poderá gerir os recursos aportados pelos servidores.

Com isso, uma montanha de dinheiro será posta à disposição dos dirigentes do órgão - que, desde já, desponta como uma das mais cobiçadas joias da coroa do serviço público federal.

"A estimativa é que o fundo, que começou a ser votado ontem na Câmara, alcance um patrimônio de R$ 150 bilhões em até 20 anos, tornando-se, na prática, um poderoso ministério. A exemplo do que ocorre no Banco do Brasil, o PT e o PMDB iniciaram uma guerra surda pelo comando dos fundos que irão cuidar das aposentadorias dos servidores públicos", destaca O Estado de S.Paulo.

O PSDB apresentou emenda que restringia a instituições financeiras (carteiras administradas ou fundos de investimentos) a administração dos recursos aportados pelos funcionários públicos. Era uma maneira de resguardar o patrimônio e o futuro dos servidores.

Mas o PT insistiu para que o Funpresp dispusesse de uma carteira própria; quer ver o dinheiro livre nas mãos de quem o partido indicar. Não é preciso ir longe para imaginar o que poderá ocorrer com esta verba.

Basta olhar para a guerra sangrenta que se desenrola entre a direção do Banco do Brasil e a da Previ. Pelos padrões petistas, em alguns anos o Funpresp será tão ou mais cobiçado que o poderoso fundo de pensão dos bancários do BB.

Trata-se da reprodução de um modelo predatório que se disseminou e se multiplica desde a gestão Lula, e que continua sem combate no governo Dilma Rousseff.

Note-se que a briga no BB teve início na disputa pelo comando da Vale, uma companhia privada cujo conselho de administração é presidido pelo indicado da Previ. Como se vê, onde pode o petismo tenta se infiltrar.

Predação similar ocorre na Antaq, como mostra hoje o Valor, e na Petrobras, que ontem oficializou a criação de uma diretoria exclusivamente destinada a acolher um ex-presidente do PT:
José Eduardo Dutra assumirá o cargo com salário de R$ 70 mil, dos quais 30% irão mensalmente para a legenda.

Para o partido de Lula, Dilma e José Dirceu, o importante é manter os dutos permanentemente irrigados. O Funpresp é a nova vítima.

Fonte: Instituto Teotônio Vilela
Vítimas da predação

O CONTROLE DO ESTADO

27 de fevereiro de 2012

Várias obras literárias no mercado editorial abordam com propriedade o imenso esforço de governos, empresas e outras instituições destinadas a controlar a sociedade através da moderna tecnologia da informação. O que antes só era facultado a governos totalitários, hoje está aberto até mesmo a pessoas. Os sistemas de computadores, em geral, e a internet ,em particular, colocam com facilidade um poder sem precedentes nas mãos daqueles que desejam controlar instituições e pessoas. O sistema de computação e a internet não foram imaginados e criados para essa finalidade. Mas o inventor não domina o desenvolvimento do seu invento nem tampouco o futuro de seu processo de criação.

A internet foi o veículo principal das revoluções que se observam principalmente no Oriente Médio. Graças à interconexão em rede e ao aparato tecnológico portátil disponível para multidões, o mundo se transforma do dia para noite sem precedentes na história. Quando antes eram necessárias décadas, séculos para mudanças de comportamento, principalmente político, hoje se faz em meses, em dias até. As mensagens indicando mudanças viajam em bytes, por segundos, nas ondas dos celulares e dos computadores. Nem sempre essas mudanças são para melhor. E, muitas vezes, elas implicam mortes, muito derramamento de sangue e ou guerrilhas fratricidas como no caso da Líbia, da Tunísia, do Bahrein, do Iêmen e da Síria. Essas mudanças não significam que estes povos encontrarão a democracia em seus caminhos. Mas o amanhã não será o mesmo, jamais.

As pessoas, especialmente por aqui, no Brasil, desconhecem completamente o poder dessas transformações. Abstraindo o desejo e o esforço do Partido dos Trabalhadores, o PT, em seus vários escalões de governo, na tentativa de criação de conselhos comunitários com o objetivo de controlar a mídia de uma forma geral, o governo federal avança com desenvoltura no aparelhamento da máquina administrativa do Estado brasileiro destinada a controlar a vida do cidadão. O primeiro passo faz tempo que foi dado: a informatização do sistema de arrecadação de impostos.

Começou pela Secretaria da Receita Federal com o Imposto de Renda que vem se aprimorando com métodos modernos e abrangentes de acompanhamento dos gastos, investimentos e aplicações financeiras dos contribuintes. A cada ano, sistemas e computadores, modernos e poderosos, são instalados e ativados no devido acompanhamento dos setores econômicos e financeiros de nossas vidas. Hoje já é possível, a partir do seu número de CPF, um completo cruzamento de dados numa radiografia precisa de nossa movimentação financeira. Esse sistema ainda não está completo, pois falta a interação com os governos estaduais e municipais. Mas quanto ao controle, o Estado brasileiro mostra eficiência na arrecadação. É exemplar o sistema implantado. É cada vez mais difícil ludibriar o Estado no que diz respeito à arrecadação, isso para não dizer impossível mesmo. Desde uma simples compra de material escolar às compras imobiliárias e gastos com serviços, tudo, imediatamente, será computado e acompanhado pelo Sistema Central.

Dois problemas se interpõem nessa escalada para um controle online da vida financeira de todos os contribuintes: daqueles que pagam impostos. Primeiro é a falta de investimentos financeiros e tecnológicos por parte de alguns governos estaduais e muitos dos municipais. Para que o controle total e absoluto seja exercido, faz-se necessário que todas as esferas de governo: federais, estaduais e municipais, estejam aparelhadas com tecnologia de ponta para uma perfeita integração dos diversos sistemas. O outro problema crucial é a questão da banda larga. Para que o sistema de arrecadação funcione a contento online é necessário uma banda larga boa, eficiente. Isso quer dizer tráfego de dados rápido para emissão de notas fiscais e transmissão de informações. Como nossa banda larga ainda é ineficiente, ruim e cara, isso dificulta muito o controle total. Mas será uma questão de tempo.

Como exemplo, cito o caso de um pequeno empresário carioca com empresa instalada no bairro de São Cristóvão, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Em sua região, o sinal da banda larga de seu provedor de serviços não funciona. Ele realiza as vendas e, à noite, em casa, num bairro da Zona Sul do Rio de Janeiro, através de um laptop, computador portátil, complementa seu trabalho,emitindo as notas eletrônicas que não conseguiu expedir durante o dia. Logo algum tipo de investimento ou reparo será realizado por sua operadora e ele estará integrado ao sistema de acompanhamento de controle, online, do governo. Problema maior está nos municípios pelo interior do Brasil. Por lei, a emissão de notas fiscais, todas, em qualquer lugar, deve ser feita por meio eletrônico, online. Os governos são rápidos na exigência da adaptação eletrônica. Isso proporciona controle e aumento de arrecadação imediata. Mas a banda larga é lenta. Fica difícil de entender e prever como essa equação será fechada até que os sistemas estejam, em sua totalidade, operando a contento.

O governo do Brasil não tem nada a dever aos melhores sistemas de arrecadação do primeiro mundo. É invejável o modelo desenvolvido pela Casa da Moeda e implementado pela Receita Federal no controle da produção de cigarros e bebidas através de selos e aplicados ao produto ainda na linha de produção das fábrica. É possível falsificar, mas sonegar jamais. Faz sucesso no mundo trazendo uma grande receita para a Casa da Moeda do Brasil que vende o sistema para inúmeros países e é conhecido internacionalmente como The Brazilian Mint. O mesmo sistema logo será aplicado nos produtos farmacêuticos. Negociações estão sendo conduzidas junto à ANVISA, a agencia de regulação para o setor de remédios.

O que sobra em eficiência de gestão e modernidade no modelo de arrecadação, falta no que obrigatoriamente deveria ser fornecido aos mesmos contribuintes em matéria de serviços e conforto. Nem é necessário considerar a qualidade da infraestrutura, da saúde, dos transportes públicos e da educação que nos é ofertada. Com relação a isso, estamos no quinto mundo. Nem tampouco no que diz respeito à organização e padronização do sistema. É incompreensível e inexplicável que ainda hoje, em plena era cibernética, nós, brasileiros, tenhamos uma infinidade de números de documentos necessários para o desempenho de nossas atividades.

O brasileiro tem um número de CPF, o Cadastro de Pessoa Física do Imposto de Renda, um número de CNPJ, o Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas, um número para o sistema de emissão de carteira de identidade, outro para a carteira profissional, mais outro para a carteira de motorista, outro para o sistema de Previdência Social, mais outro para a emissão de um passaporte e muitos outros para diversas outras atividades. Mas esta história nós já sabemos como funciona. O mesmo Estado que se aparelha e se aprimora para arrecadar é o mesmo que não demonstra nenhum interesse na eficiência de seus gastos e nem tampouco em tornar mais fácil a vida dos seus cidadãos.

Em cada emissão de um documento, o Estado brasileiro aumenta seus números de arrecadação financeira e conseqüentemente o chamado custo Brasil. Atualmente o governo do Brasil atribui ao bom momento econômico sua gorda arrecadação. Em parte é verdade, mas em outra grande parte deve-se ao aumento da carga tributária onde se enquadram as observações abordadas aqui neste artigo.

Coitados de nós.
27 de fevereiro de 2012

Aleluia Hildeberto

DEPUTADO QUER QUE GAYS TENHAM DIREITO A TERAPIA PARA MUDAR ORIENTAÇÃO SEXUAL

O deputado João Campos (PSDB-GO), autor do projeto de Decreto Legislativo que propõe tornar sem efeito a resolução que estabelece normas de atuação dos psicólogos em relação à orientação sexual dos pacientes, nega que a iniciativa tenha a intenção de abrir caminho para a legalização da cura de homossexuais.

De acordo com o presidente da Frente Parlamentar Evangélica (FPE), o projeto pretende discutir a "injuridicidade da resolução do Conselho Federal de Psicologia".

Essa resolução determina que os psicólogos não podem exercer "qualquer ação que favoreça a patologização de comportamentos ou práticas homoeróticas", nem adotar "ação coercitiva tendente a orientar homossexuais para tratamentos não solicitados", vetando qualquer manifestação pública de profissionais da área no sentido de "reforçar preconceitos sociais existentes em relação aos homossexuais como portadores de qualquer desordem psíquica".

"Não estou discutindo se homossexualismo é doença, comportamental ou genético. No meu projeto, discuto a injuridicidade da resolução do CFP. Acho que a matéria que está posta na resolução é objeto de lei. Sendo objeto de lei, o Conselho Federal de Psicologia não poderia ter editado. Resolução é para regulamentar algo que já consta numa determinada lei. Então, o Conselho Federal de Psicologia editou resolução que não regulamenta lei nenhuma. O conselho usurpa a competência do Parlamento, coisa que está virando rotina no Brasil", declarou.

Jornal Bandeirantes News, Fevereiro 29, 2012

DILMA DETERMINA A MANTEGA MUDANÇAS NO COMANDO DA PREVI, MAS A CRISE CONTINUA

29 de fevereiro de 2012
Carlos Newton

Reportagem de Vicente Nunes e Vânia Cristino no Correio Braziliense mostra que a presidente Dilma Rousseff mandou o ministro da Fazenda, Guido Mantega, demitir Ricardo Flores da presidência da Previ, o fundo de pensão dos empregados do Banco do Brasil.

O Palácio do Planalto identificou que o executivo, responsável pela administração de um patrimônio superior a R$ 150 bilhões, é o principal responsável pela guerra por poder que engolfou o Banco do Brasil e está contaminando a Fazenda e parte da base aliada do governo.

Entre Flores, que é ligado ao ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, e o presidente da instituição financeira, Aldemir Bendine, que é da cota de Mantega, Dilma optou por substituir o primeiro. “A irritação com Flores chegou ao limite”, disse ao Correio um importante assessor do Planalto.

Flores e Bendine não se falam há quase um ano, vejam a que ponto a situação chegou. Depois de uma longa convivência — foi Bendine quem apoiou a nomeação de seu desafeto para a vice-presidência de Crédito do BB antes de ele ir para a Previ —, os dois resolveram disputar quem é mais influente dentro do governo.

A reportagem revela que o problema é que eles se juntaram a grupos de parlamentares do PT descontentes com a gestão de Dilma, espalhando boatos e minando votações no Congresso importantes para o Planalto, como o projeto que cria o fundo de previdência dos servidores públicos.

O auge do descontentamento se deu em janeiro, após o presidente do BB demitir 13 diretores de uma só vez. Até o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), reclamou.
Traduzindo: Bendine, o presidente do BB, está por um fio e deve ser a próxima vítima.
Na verdade, a crise entre BB e Previ ainda não está debelada. É uma novela com muitos capítulos, que continuarão se desenrolando.

29 de fevereiro de 2012
Carlos Newton

REGULAMENTAÇÃO EXCESSIVA E COMPETITIVIDADE

É chegada a hora de colocarmos um freio neste ímpeto de criar regras para governar cada eventualidade e micro-gerenciar a vida em sociedade.

Recentemente, deparei-me com uma placa num edifício que afirmava que a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) havia estabelecido a temperatura ideal do ar condicionado em 24º C. Ao ler a placa, minha primeira reação foi pensar que tal temperatura era característica do verão europeu e, de fato, uma afronta à própria razão da existência e propósito do aparelho de ar condicionado.

Quais foram os estudos realizados pela ABNT e por que um órgão burocrático decidiu até mesmo determinar a temperatura ideal de um local? Em que momento passamos a ter o Estado enfronhado absolutamente em todas as coisas do cotidiano?

Recordei-me, então, de que, nos últimos anos, em razão do telhado de vidro dos Três Poderes – Executivo, Legislativo eJudiciário -, em seus múltiplos escândalos, os ocupantes de posições nestes têm tentado justificar sua razão de ser pretendendo regulamentar absolutamente tudo o que se encontra debaixo do sol. Este excesso de regulamentação não é um fenômeno exclusivo do Brasil, mas, infelizmente, presente em todo o mundo. Trata-se de uma tendência que deveríamos evitar a todo e qualquer custo.

É chegada a hora de colocarmos um freio neste ímpeto de criar regras para governar cada eventualidade e o micro-gerenciar a vida em sociedade. Tal complexidade tem um custo elevadíssimo, além de incentivar favorecimentos a grupos de interesse.

Estes excessos, de natureza ambiental, trabalhista, fitossanitária, dentre outros, desestimulam a competitividade do Brasil, aumentando o peso do Estado na economia e na vida dos cidadãos, além de reduzir a dinamicidade e eficiência do setor privado. Além disso, enfraquecem, ainda mais, o capitalismo nacional, que historicamente tem um excesso de dependência do setor estatal. Isto, sim, pode levar a uma desindustrialização da economia brasileira muito pior do que a mera existência de produtos chineses mais baratos no mercado. O Brasil precisa de um choque de capitalismo.

As crises grega e norte-americana têm muito a ensinar neste sentido. O excesso de regulamentação que se seguiu à crise domercado subprime nos Estados Unidos tem sido o maior impedimento à recuperação rápida da economia do país. No caso grego, o desincentivo à competitividade levou a uma acomodação perigosa, cuja reversão é de importância crucial à recuperação econômica do país.

Eis aí duas lições que o Brasil precisa aprender. Enquanto estamos numa maré positiva, vamos reduzir o peso do Estado, sob pena de sacrificarmos todo e qualquer ganho resultante desta maré. O laissez-faire ainda é a melhor estratégia para o nosso crescimento.

*Marcus Vinícius de Freitas é professor de Direito e Relações Internacionais, FAAP
27/02/2012