"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sábado, 4 de fevereiro de 2012

UM BOM CONSELHO...

PROCURA-SE UM "FICHA LIMPA"


Alvo de denúncias de corrupção, o governador de Brasília procura um delegado ‘limpo’ para assumir a Polícia Civil do DF.


Crivado por denúncias de irregularidades desde sua gestão na diretoria da Anvisa (Vigilância Sanitária), passando depois pelo Ministério do Esporte, o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, está agora encontrando dificuldades para nomear o próximo diretor-geral da Polícia Civil, em substituição ao delegado Onofre de Moraes.

Como se sabe, Moraes teve de se demitir depois que foi revelada uma gravação antiga, em que ele dizia que Agnelo Queiroz tinha de sair “de camburão”. Agora, o governador diz que procura um delegado com experiência em investigações, respeito dos colegas, passado limpo, leal com a cúpula do Executivo, diplomático e sem vinculações políticas.

Ou seja, não basta um técnico, qualificado para comandar a classe e tomar decisões estratégicas sobre a área de segurança pública. O número um da corporação do FG precisa ter também um atributo essencial: a habilidade para impedir novas crises que prejudiquem os trabalhos nas delegacias, diretorias e departamentos especializados e no funcionamento do governo.

A dificuldade de encontrar alguém com essas características adiou o anúncio do sucessor de Onofre de Moraes. O governador não quer ninguém com potencial para produzir novos escândalos ou que se torne alvo de ataques de colegas ou de deputados da bancada da segurança pública na Câmara Legislativa. Muito menos um delegado que possa se tornar refém de seu passado.

Desse jeito, é provável que o governador nunca encontre um nome que reúna todas essas características. Porém, se encontrar um delegado realmente “com experiência em investigações, respeito dos colegas, passado limpo, leal com a cúpula do Executivo, diplomático e sem vinculações políticas”, o governador se arrisca a sair mesmo de camburão.

04 de fevereiro de 2012
Carlos Newton

REFLEXÕES SOBRE AS DÍVIDAS DOS PAÍSES, CONTRAÍDAS JUNTO AOS BANQUEIROS INTERNACIONAIS

Por paradoxal que possa parecer, os dois lados, credores e devedores, estão certos e os dois lados estão errados. Os banqueiros estão certos em cobrar porque emprestaram. Desde o início da dinastia Rothschild, eles sabem que os melhores clientes são os Estados, que não podem quebrar. Então emprestam.

Lendo em Gustavo Barroso quando da renegociação da dívida de Portugal com seu credor da época, Banco Rothschild, e que em troca da independência do Brasil assumimos a dívida deles, o banqueiro corrompeu os negociadores brasileiros e praticamente dobrou o que Portugal devia e que passamos a dever.

Se os negociadores brasileiros, autorizados pelo governo de então, aceitaram o valor e assumiram o compromisso, então o banqueiro está certo em cobrar. Por outro lado, nós estamos no direito de espernear. O que se passa na atualidade, não é muito diferente que naquela época. Veja o caso da Islândia. Quem assinou pelo país foi colocado contra a parede para assinar ? Não! Assinou porque tinha poderes para assinar e quebrou o país. Culpa só dos banqueiros ?

É isso que dá viver no cheque especial. Sabedores que são dos métodos dos banqueiros, por que os governantes vão lá e aceitam essas empulhações? Para depois vir a público e culpá-los pelas desgraças dos trabalhadores? A culpa pela desgraça dos trabalhadores também é dos governantes. Por isso disse acima que os dois lados estão certos e ao mesmo tempo errados.

Vejam, comecei com o ano de 1822. Mudou alguma coisa ? Nada. É sempre a mesma história. Pegam dinheiro fácil, depois não podem pagar, pois aceitaram o impagável. Aí jogam com o desconhecimento dos trabalhadores, que insuflados, partem para o quebra-quebra. Estão errados os trabalhadores? Também não, apenas usados e enganados pelos seus “governantes”.

A era Lula assumiu o Poder devendo 700 bilhões. Já está em 2,3 trilhões. Sem nenhuma dúvida, esta conta vai explodir, e facilmente vão jogar os trabalhadores contra os bancos. Mas estão financiando Bolívia, Venezuela (precisa, por quê?), Gabão, Cuba etc, sem nenhuma garantia de retorno, sem contar os empréstimos milionários para grandes “empresários” brasileiros, surgidos do nada, e que viraram capa de revista da noite para o dia.

É tudo dinheiro oriundo da emissão de títulos de dívida pública, vendidos aos bancos, repassados para os citados via BNDES e que um dia terão que ser pagos. Sentiu ? Vão tergiversar e apelar para os trouxas de sempre, nós, na hora de pagar o cheque especial que os manteve no fausto e neste crescimento via empréstimos.

O que venho defendendo e continuarei, é a mudança de modelo. Este está esgotado, falido, apodreceu. Chega. Só um novo contrato social, que nos tire deste liberalismo pela metade, bom só para um lado, e deste trabalhismo cafofo, que mantém os trabalhadores longe das decisões, enterrados na ignorância por falsos líderes, evitará no futuro a repetição do que acontece desde os primórdios desta dicotomia.

04 de fevereiro de 2012
Martim Berto Fuchs

A DIFÍCIL TAREFA DE DISTINGUIR...

LUIZA PARA PRESIDENTE

Luíza foi ao Canadá para provar que a opinião pública brasileira virou geleia.
A frase de um comercial imobiliário na Paraíba que se espalhou pelo Brasil inteiro é um divisor de águas na cultura de massa. Até então, uma mensagem insignificante podia ganhar dimensão pública por contágio. A grande novidade é que, depois de Luíza, o contágio não precisa mais de mensagem. Nem insignificante. Em questão de horas, um país inteiro passou a repetir essas seis palavras: "Menos Luíza, que está no Canadá".

Qual era a charada? Nenhuma. Que código, que sentido subliminar, ou pelo menos que estranheza justificava tão irresistível propagação? Ninguém saberia responder. Mas nem seria preciso resposta, porque ninguém perguntava. O que explicava a repetição era a repetição. O espetáculo da inércia mental nunca tinha sido tão exuberante. Quase meio século atrás, outras seis palavras aparentemente sem sentido se espalharam pelo mundo: "Lucy in the sky with diamonds." A diferença é que John Lennon não estava tentando vender apartamento para emergentes que podem mandar a filha estudar no Canadá. Estava escrevendo um capítulo da contracultura — e Lucy teria despencado do céu em dois minutos se o seu único atrativo fosse uma virose no Twitter.

Na época de Lucy, Luíza não seria nada. No Brasil de hoje, ela poderia ser presidente da República. O furacão Luíza veio expor, de forma quase cruel, a precariedade dos símbolos que o senso comum consagra. A menina real, Luíza Rabello, não tem nada com isso — ou melhor, não tinha. Agora terá, pela importância que o público passou a lhe atribuir a partir de... Nada. Circularam rumores de que Luíza estará na próxima edição do Big Brother. Se ela pensar grande, poderá ir direto para Brasília. E nem precisará de um padrinho popular, que repita seu nome exaustivamente aos quatro ventos. A internet já fez isso por ela, sem precisar de palanque, voz rouca, suor e lágrimas providenciais.

Fora isso, no Brasil de 2012, os requisitos para se estar no BBB ou na Presidência da República são até parecidos. Na Presidência convém falar menos. E, se não tiver nada de relevante a dizer, não tem problema. Basta espalhar no Twitter que Luíza do Canadá é uma grande gestora, que o povo acredita. Mesmo se ela tiver sido apenas uma militante política com passagem opaca por cargos públicos, todos graças a indicações partidárias? Perfeitamente. Os fatos, hoje, são um detalhe. O que o senso comum respeita mesmo é a repetição.

E não se preocupe, Luíza, se você gastar todo o seu primeiro ano de governo enxugando gelo do seu próprio caos administrativo. Mesmo se você bater o recorde de ministros demitidos por acusação de fraude. Aquela imagem da supergerente que sabia o que se passava em todos os ministérios serviu só para te eleger. Agora você é uma paraquedista, recém- chegada do Canadá, pronta para passar o país a limpo com o detergente da ética.

Se a faxina bombar no Twitter, você pode até terminar o seu primeiro ano de mandato com aprovação recorde. Aí você poderá continuar amiga de todos esses ministros que você nomeou e tentou proteger, mesmo depois de acusados de garfar o país. Quando eles caírem de podres, elogie- os publicamente e mantenha as boquinhas com os grupos deles. Ninguém vai notar. "Fisiologismo" não tem a menor chance no Twitter.
Enquanto Luíza prepara sua candidatura, poderá aprender um pouco observando o governo atual. Trata-se de um governo detalhista. Se a opinião pública acredita nas mensagens que se repetem — e isso já é uma mão na roda — por que não ir além, escolhendo as mensagens que ela deve repetir?

Isso é muito importante, porque a imprensa livre, além de bisbilhoteira, se mete em assuntos demais, o que pode confundir a mensagem que o povo precisa ouvir. As manchetes dos últimos seis meses, totalmente descontroladas, quase puseram o governo popular no banco dos réus — com histórias soturnas de uso sistemático da máquina pública para engordar esquemas políticos. Mas os ideólogos do governo não descansarão enquanto não protegerem o país dessas linhas cruzadas da mídia livre. E Luíza está com sorte, porque acaba de ser lançada uma grande ideia, para ela anotar em seu caderno de campanha.

Em discurso no Fórum Social Mundial, o ministro da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, defendeu a criação de uma mídia para a classe C. "Toda essa gente que emerge ficará à mercê da ideologia disseminada pelos veículos de comunicação existentes?", questionou o ministro, conclamando o governo a "radicalizar a democracia" parindo uma mídia nova. A plateia exultou com a proposta governamental de organizar melhor o que a opinião pública deve assimilar, ou melhor, repetir. Os dias que se seguiram foram de grande excitação entre os companheiros. Todo mundo festejou a ideia. Menos Dilma, que estava em Cuba.

Saturday, February 04, 2012
Guilherme Fiúza, O Globo

OS ANTIBRASILEIROS (PARTE 4)

“ Venezuela e Brasil avaliam postos militares conjuntos na fronteira”
(Jornal do Brasil online, 25/1/2012)

Pensar que as esquerdas brasileiras, no poder, tornar-se-iam um exemplário de virtudes, aplacando o instinto de vindita e tornando condescendente a sua ótica em relação às Forças Armadas, é ser demasiado romântico para não reconhecer a grande célula vermelha, em que se transformou Brasília.

Imutável, porque monolítico, permanece o propósito das esquerdas de manter a ignara sociedade brasileira como força motriz na concretização do plano obstinado de permanência, ad aeternum, no governo desta já enxovalhada república.

Ambos se completam, povo e governo; eleitores e eleitos; ambos predadores do país; ambos se deleitam na indisciplina, na deseducação, no jeito sem-vergonha de ser, em todos os momentos de suas míseras vidas.

Portanto, é ilusão pensar que o miniministro da defesa tenha algum planejamento para consolidar a soberania do país. Que esteja imbuído de interesse em proteger as fronteiras das duas Amazônias, a Verde e a Azul. Que venha a se manifestar em favor da proteção das riquezas minerais que se esvaem pelas ações piratas, por acordos lesivos, tudo admitido pelos dirigentes apátridas.

A indiferença com que são tratados os assuntos respeitantes ao Estado Brasileiro dá a justa medida da pobreza cultural, da negação de civismo, do impatriótico comportamento dos congressistas, dos governantes e do ignóbil povo que os elege. A afinidade moral entre votantes e votados responde pela permanência, no poder, quase uma vitaliciedade, de arqueológicas figuras políticas, eméritas na arte da troca de favores e especialistas no fatiamento do tesouro público.

O que impressiona na vida política nacional é a ausência total de notícias favoráveis ao país e às Forças Armadas e, quando falo nelas, refiro-me, particularmente, ao Exército, alvo contínuo da saraivada de estúpidas medidas com as quais o embaixador, arremedo de ministro, tenta encobrir a desfaçatez de não estar em marcha um real plano de defesa nacional. É notória a displicência, a lerdeza, a irresponsabilidade com que o MD trata a questão da proteção dos territórios continental e marítimo. A razão desse descaso ficou clara, agora.

A notícia vem de chofre e informa que, em março, será realizada uma “reunião dos Estados-Maiores conjuntos de ambos os países”, a fim de ‘discutirem’ a proteção das fronteiras, agregando militares brasileiros e venezuelanos.

Celso Amorim, ministro, age como Celso Amorim, embaixador. Não há, na notícia, alusão à presença, em Caracas, de algum militar brasileiro em sua companhia, para participar da discussão deste plano descabido de defesa, porém, há referência a “outros altos oficiais militares” que, deduz-se, sejam venezuelanos. Neste caso, pode-se admitir uma segunda dedução, a de que o acordo já esteja praticamente selado. As perguntas instigantes têm que ser feitas: se os postos serão conjuntos, por que não seguiram com o ministro “altos oficiais militares” brasileiros? Ou prevalecerão nos postos os bolivarianos? Por que o homem tem horror ao verde-oliva e admira o cáqui?

Essa armação castelhanada leva a crer que os militares brasileiros, designados pelo ministrículo (ministro incapaz, inepto, insignificante) para irem a Caracas, em março, apenas, balançarão a cabeça em sinal de assentimento.

Não desiste a malta petista de tentar, a todo o custo, a integral contaminação dos militares brasileiros com a insidiosa doutrina bolivariana, como forma de levá-los à frouxidão disciplinar pela promiscuidade ideológica. Só com o aliciamento total dos militares do Exército, só com a submissão servil desta Força, é que as esquerdas, sinistras hordas de vândalos da moralidade, poderão submeter toda a nação aos seus mais sórdidos caprichos. Somente com a queda do Exército, o Brasil será inteiramente dominado. Eles sabem disso. Por isso, criam planos de infectar a Força com o que há de pior na América ibérica e mantêm um contínuo ataque por vias periféricas aos três postulados que a Força Terrestre tem de mais caros: a disciplina, a hierarquia, e o ensino militar de seus Colégios e de suas Academias.

Indisciplina, adoção de cacoetes e chavões vermelhos, estas são a verdadeira essência, das futuras ações conjuntas entre venezuelanos e brasileiros, com vistas à formação de unidades militares sem identidade, sem nacionalidade.

É uma nova maneira de eliminar as fronteiras brasileiras, criando mais uma terra contínua, não de falsos ianomâmis, porém, uma extensão da Venezuela no Brasil, quando se permitirá a entrada em território nacional de qualquer meliante travestido de militar venezuelano-cubano, perdendo o país mais uma parcela de sua soberania.

Outra ameaça paira sobre o ensino autóctone das sérias Escolas Militares brasileiras com a inclusão no pacote de más intenções do ministro, de um intercâmbio entre elas e as outras escolas militares do seu amigo Chávez e, incluso, como promoção de venda do país, o de aperfeiçoamento de oficiais. Aperfeiçoar oficiais brasileiros com ensinamentos bolivarianos?

Como veem este acordo o Comandante do Exército e o CMA? Vão permitir mais esta ação de lesa-pátria, disfarçada de ‘cooperação’ para que se concretizem as palavras do ministro venezuelano, Henry Rangel Silva, de que “vamos conseguir que as nossas Forças Armadas se complementem”? Ministro este, cuja vida pregressa levantada pelos americanos, não surpreende, por satisfazer as exigências do conceito de mérito das esquerdas: quanto pior, mais satisfaz a causa.

O Brasil não pode ser usado como patrimônio particular de governantes afinados com regimes opressores, mesmo sendo usuários da mesma carteirinha vermelha de identificação. O Brasil não pode ficar submetido a alianças com a indigência latino-americana. O Brasil paira acima das idiossincrasias, do egocentrismo de revoltados agentes de bastardas ideologias, as quais desejaram impor pelas armas e, agora, pelos acordos que, certamente, trarão mais prejuízos aos combalidos cofres da Nação.

E por falar em “cofres da Nação”, a Rousseff, em Cuba, reproduzindo a prodigalidade do seu mentor, já prometeu escancarar o erário brasileiro, como se fosse particular seu, para ajudar Fidel na reforma do porto de Mariel, nas imediações de Havana. Além dessa infâmia com o dinheiro do contribuinte, médicos cubanos virão ocupar postos nos hospitais públicos brasileiros, segundo notícia radiofônica, naturalmente pagos com o dinheiro da parte contribuinte da sociedade. Como se não bastasse, “o Brasil vai financiar fábricas de remédios em Cuba”, (Estadão online, 31/1/20120), enquanto a saúde pública no Brasil, por redução de verbas no setor, permanece ao rés do chão.

Pelo caminhar da carruagem, não será surpresa se surgir a notícia de militares cubanos (já existem na Venezuela) nos postos de fronteira, juntos com seus congêneres venezuelanos, tomando posições-chave de comando em detrimento dos militares brasileiros que, isto acontecendo, terão de ficar de boca fechada, numa cativa obediência à Amorim, aos guerrilheiros Genoíno e Dilma, para não perderem as suas ‘grandes’ funções de comando.

Quem pensou que era piada a velha história sobre o imenso território brasileiro e a resposta de Deus: “Vocês vão ver o povinho que vou pôr lá”, já compreendeu a razão do mau humor divino. Irreverente, desrespeitoso, incivil, primário, este povo serve, pelo menos, como exemplo do que deu errado no momento em que do caos fez-se a luz.

4 de fevereiro de 2012
Aileda de Mattos Oliveira é Prof.ª Dr.ª em Língua Portuguesa. Articulista do Jornal Inconfidência. Membro da Academia Brasileira de Defesa.

OS ANTIBRASILEIROS (PARTE 3)

O vocativo usual nos discursos de Getúlio Vargas, “Trabalhadores do Brasil!”, representava uma fórmula positiva de contato político, por tornar emblemático um atributo que expressava a corresponsabilidade do povo com o desenvolvimento do País. Fazia o ditador uma cooptação da sociedade, a fim de manter com ela um ‘diálogo produtivo’, pois, em contrapartida, o povo reconhecia-se um ‘interlocutor’, mesmo que só se restringisse à síntese de suas emoções:”Pai dos Pobres!”, “O Bom Velhinho!” O vocativo getulista incorporava todas as categorias, sem a exclusão discriminatória desta ou daquela profissão, deste ou daquele ofício.

Opostamente, João Goulart, nos seus pronunciamentos, dividia o povo em subclasses de trabalhadores, somente reconhecendo como tais, os sindicalistas, os operários, os metalúrgicos e, da parte hierárquica das Forças Armadas, soldados, sargentos e marinheiros. Era norma, nos seus discursos, exortar esses setores, não para acentuar-lhes a sua importância no desenvolvimento da Nação, mas para desestruturá-la, principalmente por meio da indisciplina na caserna, visando à anarquia e, por conseguinte, à instituição de um regime de força. Pretendia arrebanhar para as suas hostes o proletariado e os militares que considerava suscetíveis de qualquer ato indisciplinar.

Para Jango, essas eram as classes populares. Quanto aos demais trabalhadores contribuintes e empresários que sustentavam economicamente o seu governo, não preenchiam os inflamados discursos, a não ser como alvo de sua ira, insuflado pelo arruaceiro cunhado Brizola. Para ele, agricultores não eram trabalhadores, mas as ligas camponesas, sim.

Eis que se encontra na END um rastro do discurso janguista, discriminador, dissimulado e, como tantos outros trechos, malredigidos (assim mesmo). Numa das passagens referentes a O serviço militar obrigatório; nivelamento republicano e mobilização nacional, diz: “É importante para a defesa nacional que o oficialato seja representado de todos os setores da sociedade brasileira. É bom que os filhos de trabalhadores ingressem nas academias militares. Entretanto, a ampla representação de todas as classes sociais nas academias militares é imperativo de segurança nacional”.

O que mais realça no trecho citado é o “nivelamento republicano”, característica
das esquerdas brasileiras de manter fidelidade a pensamentos próprios dos
antiquários ideológicos, quando insinua (“É bom, etc..”) que não são filhos de
trabalhadores os jovens cadetes em preparo ao oficialato, em outros tempos, e
atualmente. Isso já ocorre, senhores redatores, o fato é que desconhecem a origem
de considerável parcela de cadetes, provindos de todos os estados do Brasil, mas que
lhes fazem pensar, pelos conhecimentos adquiridos nas Academias Militares, pela
educação recebida, característica da caserna, serem oriundos da “elite”, da
“burguesia”, permanentes chavões da insidiosa esquerda, de cuja agremiação sinistra,
muitos, sim, são oriundos das camadas mais bafejadas da sociedade.

O que desejavam imprimir neste falacioso documento, mas evitaram pô-lo às
claras, é o ingresso facilitado de filhos de sindicalistas, de sem-terra, de seminstrução,
sem a devida observância de concurso e de outros pré-requisitos
indispensáveis à manutenção da hierarquia e da competência do comando. Hierarquia
e disciplina são palavras ofensivas aos revolucionários, infelizmente, de posse do
governo, de posse do MD. São ávidos pelo “nivelamento republicano”, por baixo.

Pôs-se em negrito, a conjunção adversativa, cuja função, na estrutura da língua,
é a de introduzir um pensamento que se opõe ao anterior. Desta maneira,
“Entretanto” desmonta todo o palavrório do período antecedente, por ignorarem um
dado gramatical elementar de que um pois ou um porque, antecedido de vírgula,
resolveria a questão da lógica semântica. Mesmo assim, permaneceria a acusação de
que, com o presente esquema de ingresso nas Academias, não está sendo
“imperativo” a segurança nacional, quando, na realidade, esta segurança está sendo
postergada pelo governo, único responsável pela impatriótica inércia.

Em continuação ao item citado, e que se refere à “Segurança Nacional”, diz o
texto: “Duas condições são indispensáveis para que se alcance esse objetivo
[Segurança Nacional]. A primeira é que a carreira militar seja remunerada com
vencimentos competitivos com outras valorizadas carreiras do Estado”, o que torna
premente o pagamento dessa maravilhosa remuneração, a fim de que ponham em
prática, de imediato, a segurança deste território, já que ”vencimentos competitivos”
e “segurança”, segundo faz parecer, no documento, são, respectivamente, causa e
consequência. Talvez, habituados que estão os componentes deste governo de
trabalharem (?) à custa de generosos contracheques, considerem os militares à sua
semelhança. Felizmente, ainda se pode dizer que não chegaram a tal deformidade
moral.

Pela manutenção dos irrisórios vencimentos dos militares, o que se evidencia, em contraponto a esta veemente afirmação de bons estipêndios, é que tudo ali, naquele ministério, é uma grande mentira, inclusive, a defesa do país. Ou, pode-se entender, por outro lado, que tais vencimentos robustos só sejam pagos quando as Academias Militares forem apenas compostas de sindicalistas, operários, etc., sem concurso ou por cotas, para a segurança do próprio governo petista. Aliás, em várias partes da END essa relação entre “remuneração” e “classe trabalhadora” é enfatizada, na formação das Forças, como neste trecho: “Essa é uma das razões [provir da classe trabalhadora] pelas quais a valorização da carreira, inclusive em termos remuneratórios, representa exigência de segurança nacional.”

Continua o documento mais hipócrita da “história deste país”: “A segunda condição é que a Nação abrace a causa da defesa e nela identifique requisito para o engrandecimento do povo brasileiro”, assertiva que alterou a disposição dos termos, devendo, ao contrário, ser a “Nação” o foco de engrandecimento pela ação de o povo abraçar a ideia de defesa: [“A segunda condição é que o povo brasileiro abrace a causa da defesa e nela identifique requisito para o engrandecimento da Nação.”]

O hábito de encher as bochechas com a palavra “povo” e o desábito de falar em “Nação” levaram os malabaristas da pobre retórica marxista a inverter, no papel, o valor político dos termos, como é de praxe a inversão de valores na escolha de ministros, assessores, nesta doente república.

Até o presente momento não se fez divulgar publicidade institucional do MD nos meios de comunicação, para que o povo “abrace a causa da defesa”, conscientizando-se da necessidade de o Brasil proteger-se. Essa lerdeza de ação governamental resulta da paralítica ideia de que “somos pacíficos”, outra repetição enfadonha, aqui e ali, preenchendo o vazio da escritura mal-alinhavada da END.

Essa ‘conversa’ com a sociedade, também ocorrerá (usa-se, aqui, o tempo verbal preferencial dos redatores), quando os logísticos, os mobilizadores, os estrategistas, enfim, os teóricos do ministério entravado, acordarem do sono irresponsável, próprio dos sem-planejamento. Aí, SERÁ tarde demais!

Aileda de Mattos Oliveira é Prof.ª Dr.ª em Língua Portuguesa. Articulista do Jornal Inconfidência. Membro da Academia Brasileira de Defesa.

OS ANTIBRASILEIROS (PARTE 2)

Difícil – e necessário – é para um País que pouco trato teve com guerras convencer-se da necessidade de defender-se para poder constituir-se. Não bastam, ainda que sejam proveitosos e até mesmo indispensáveis, os argumentos que invocam as utilidades das tecnologias e dos conhecimentos da defesa para o desenvolvimento do País. Os recursos demandados pela defesa exigem uma transformação de consciências para que se constitua uma estratégia de defesa para o Brasil. ( Trecho 1. In: Estratégia Nacional de Defesa.) O grifo é da autora.

Disposição para mudar o que a Nação está a exigir agora de seus marinheiros, soldados e aviadores. Não se trata apenas de financiar e de equipar as Forças Armadas. Trata-se de transformá-las, para melhor defenderem o Brasil. (Trecho 2. In: Estratégia Nacional de Defesa.) O grifo é da autora.

Há dois fragmentos da END nos quais se fala em “transformação” e em “transformar”. Isto não significa que não haja outras partes do documento dando ênfase às mesmas palavras, pois a sua leitura investigativa leva tempo.

Certamente, é urgente “uma transformação de consciências” quando se trata de esclarecer a sociedade da necessidade de defesa do Brasil, considerando que não se coaduna com os tempos atuais essa reiterada mitificação de povo pacífico, não habituado a guerras. O brasileiro precisa, imediatamente, incorporar-se no trabalho de mobilização em prol da soberania nacional e conscientizar-se, sim, de que a terra que o acolhe e onde nasceu, exige outros cuidados para a manutenção de sua soberania, eliminando a perniciosa ideia de que o País se basta com carnaval e futebol.

Se o brasileiro carrega nos ombros esta pecha de pacifista e repete a cantilena dissonante das sereias rouquenhas da esquerda, neste blefe de um nacionalismo pífio, as demais nações, por natureza, beligerantes, são as mesmas que acamparam no Brasil Colônia com os mesmos olhos gordos e que hipnotizam, hoje, as reservas minerais brasileiras e o rico campo genético amazônico.

Quando a presidente, em cadeia nacional, começará a conscientizar a sociedade dessa indispensável cumplicidade, transformando a alienação dominante em participação efetiva do povo e levá-lo a reconhecer a necessidade do incremento da indústria nacional de defesa? Quando? Cabe a presidente esse trabalho de esclarecimento e de “transformação de consciências”. É imprescindível que ela e o povo saibam que a Nação é o conjunto de todas as suas instituições com a participação ativa da parte civil da sociedade. Não se fala aqui de “sociedade civil”, como se os militares não fizessem parte dela e com os civis formassem um todo social.

Quanto ao segundo trecho citado, esse “transformá-las para melhor defender o Brasil” refere-se, explicitamente, às Corporações Militares, por isso é, por demais, preocupante. Mais preocupação causa ao se ouvir, pela voz de alguns militares, em seminários, a mesma fastidiosa falação, sem nenhum esclarecimento, com o claro intuito de agradar a comandante em chefe.

As Forças Armadas são as únicas Instituições sérias do Brasil e as únicas conscientes de seus deveres constitucionais. Portanto, transformar a consciência das Forças é incuti-las de que são guardiães do governo, isto é, do partido dominante, e não do Estado, que está acima de quaisquer diretrizes ideológicas, de quaisquer interesses partidários.

Às Forças cabe a defesa da Nação, impedindo que predadores nacionais ou estrangeiros minem os seus alicerces, construídos ao longo da Verdadeira História do Brasil, a fim de mantê-la étnica e territorialmente íntegra. Quem sabe se, justamente, são essas dedicação e lealdade exclusivas das Forças ao Brasil que incomodam aqueles que sempre detestaram o significado da palavra ‘pátria’?

“Transformar” as Forças Armadas para “financiá-las” e “equipá-las” deixa evidente a intenção dos governos petistas de que as desejam reaparelhadas para defender o Brasil deles, e não o Brasil de todos os brasileiros, liberto das coerções doutrinárias e de doentias ideologias.

As palavras desses esquerdistas não escondem a sua má índole.

21 de janeiro de 2012
Aileda de Mattos Oliveira é Prof.ª Dr.ª em Língua Portuguesa. Articulista do Jornal Inconfidência. Membro da Academia Brasileira de Defesa.

OS ANTIBRASILEIROS (PARTE 1)

O Brasil não está feito, como pátria completa. E a culpa é nossa, como foi dos nossos antepassados, porque a nossa cegueira ou o nosso egoísmo, a nossa vaidade, a nossa pequenina política de rasteiras paixões deixaram a massa do povo privada de fartura, de instrução, de higiene, de “humanidade”.

Estas palavras não saltaram de algum artigo veiculado na mídia virtual, como desabafo de um dos muitos articulistas preocupados com a deriva do país, fruto do trabalho criminoso de desvalorização do mérito e do caráter, em benefício do nepotismo e da riqueza sem trabalho. Nem tampouco representam uma visão analítica de algum cientista político.

Foram pronunciadas há noventa e cinco anos por Olavo Bilac, em 15 de novembro de 1917, num emocionado discurso na Liga da Defesa Nacional, Diretório de Niterói, quando analisava a falta de percepção do povo brasileiro diante da gravidade dos fatos, ocorrentes na época, com os quais se preocupavam as pessoas com mais discernimento. Neste ponto, nada mudou. Discernimento e consciência são conceitos que a gente brasileira acredita pairarem no plano das abstrações, demasiado distante, para dedicar a elas alguns momentos de reflexão. Reflexão? Outra abstração.

Daí, as palavras-epígrafe que traduzem a inquietação de Bilac por ver uma pátria incompleta pela ausência da defesa nacional.

Para pôr em prática a defesa do país, é indispensável ter uma laboriosa atividade agropecuária, indústria e comércio desenvolvidos e, o mais difícil, um povo esclarecido. Era assim o olhar de Bilac ante o seu Brasil, ainda nos claudicantes vinte e oito anos de vida republicana.

Quase um século depois, a terra muito produz, a pecuária é excelente, as atividades industrial e comercial são de primeira linha, mas o povo permanece na lassidão intelectual, entregue à troca de votos por benefícios que lhe facilitem a vida, enchendo-se de direitos, mas desinteressado de quais sejam os seus deveres.

As preocupações do conferencista estavam voltadas para a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), temendo respingos na soberania do país. Satisfeito estava por ter o presidente Venceslau Brás aumentado o efetivo do Exército, mas reconhecendo, por outro lado, as dificuldades orçamentárias que teria em equipar a tropa para a sua função precípua: a da defesa do país.

Hoje, apesar de os cofres do Estado estarem abarrotados com o dinheiro dos impostos, a negação das verbas para reequipamento das Forças Armadas, principalmente o Exército, evidencia que os inimigos internos, os antibrasileiros, têm um planejamento em marcha, não o da defesa do país, mas o da descaracterização da Força Terrestre, a Corporação à qual cabe a responsabilidade constitucional de salvaguardar cada palmo do extenso território brasileiro.

Bilac, se ainda vivesse, não resistiria à tanta desfaçatez dos impunes políticos que carnavalizam o dinheiro do contribuinte em detrimento do reaparelhamento das Forças, únicas Instituições permanentes do Estado, às quais estes mesmos ímprobos, um dia, irão solicitar ajuda.

É necessário que se pense em Bilac, não somente como poeta parnasiano, restrito às normas literárias da época, mas como um dos primeiros lutadores, no Brasil República, em favor da defesa nacional, da defesa territorial, da defesa da língua. O criador do Serviço Militar não poetava quando tornou a defesa do Brasil uma prioridade na luta interna contra a negligência dos próprios governantes, contra o desinteresse do próprio povo, tão alheio às coisas sérias do país.

Que as palavras deste civil em favor dos militares e em favor da defesa nacional sejam reavivadas para que sirvam de antídoto ao veneno insidioso da falácia de que o Brasil não tem inimigos. Engano. Eles estão dentro e fora, porém unidos por interesses desintegradores da unidade territorial, da unidade étnica, da unidade familiar e pelo desmoronamento da ética política. Esta já estatelou-se.

Prof.ª Dr.ª em Língua Portuguesa. Articulista do Jornal Inconfidência. Membro da Academia Brasileira de Defesa.

OLAVO DE CARVALHO: CAUSAS SAGRADAS

25 de janeiro de 2012
É um impulso natural do ser humano evadir-se da estreiteza da rotina pessoal e familiar para aventurar-se no universo mais amplo da História, onde sente que sua vida se transcende e adquire um “sentido” superior. A maneira mais banal e tosca de fazer isso, acessível até aos medíocres, incapazes e pilantras, é a militância num partido ou numa “causa”, isto é, em algum egoísmo grupal embelezado de palavras pomposas como “liberdade”, “igualdade”, “justiça”, “patriotismo”, “moralidade” ou “direitos humanos”. Essas palavras podem representar algum valor substantivo, mas não quando o indivíduo adquire delas todo o valor que possa ter, em vez de preenchê-las com sua própria substância pessoal. A mais criminosa ilusão da modernidade foi persuadir os homens de que podem enobrecer-se mediante a identificação com uma “causa”, quando na verdade todas as causas, enquanto nomes de valores abstratos, só adquirem valor concreto pela nobreza dos homens que a representam. O fundo da degradação se atinge quando algumas “causas” são tão valorizadas que parecem infundir virtudes, automaticamente, em qualquer vagabundo, farsante ou bandido que consinta em representá-las. A palavra mesma “virtude” provém do latim vir, viri, que significa “varão”, designando que é qualidade própria do ser humano individual e não de idéias gerais abstratas, por mais lindos e atraentes que soem os seus nomes.


Não há maior evidência disso do que o próprio cristianismo, o qual, antes de ser um “movimento”, uma “causa”, uma instituição ou mesmo uma doutrina, foi uma pessoa de carne e osso, a pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo, da qual, e unicamente da qual, tudo o que veio depois na história da Igreja adquire qualquer validação a que possa aspirar.


Quando tomada como medida máxima ou única de aferição do bem e do mal, a “causa” adquire o prestígio das coisas sagradas e se torna objeto de alienação idolátrica. Ora, em maior ou menor medida isso acontece com todas, absolutamente todas as causas políticas, sociais e econômicas do mundo moderno, sem exceção. O comunismo, o fascismo, o feminismo, a negritude, o movimento gay, às vezes o próprio o liberalismo ou, em escala menor e local, o petismo, não admitem virtude maior que a de aderir à sua causa, nem pecado mais hediondo que o de combatê-la. Para os militantes, “bom” é quem está do seu lado, “mau” quem está contra. É um julgamento de última instância, contra o qual não se pode alegar, nem como atenuante, qualquer valor mais universal encarnado numa pessoa concreta. Embora todos esses movimentos sejam historicamente localizados, não fazendo sentido fora de um estrito limite cronológico, os julgamentos morais baseados neles vêm com uma pretensão de universalidade atemporal, abolindo até mesmo o senso da relatividade cultural: para as feministas enragées, a autoridade do macho é odiosa em qualquer época, mesmo naquelas em que a dureza das condições econômicas, os perigos naturais e a ameaça das guerras constantes tornavam impensável qualquer veleidade de igualitarismo sexual.


Mais ainda: o esforço desenvolvido em público a favor da “causa” é um critério tão absoluto e definitivo de julgamento, que, uma vez atendido, dispensa o indivíduo de praticar na sua vida pessoal as próprias virtudes que o movimento diz representar. Alegar, por exemplo, que Karl Marx instaurou em casa a mais rígida discriminação de classe, excluindo da mesa da família o filho ilegítimo que tivera com a empregada, é considerado um “mero” argumentum ad hominem que nada prova contra o valor excelso da “causa” marxista. Do mesmo modo, o sr. Luiz Mott é louvado por seu combate em favor do casamento gay, embora se gabe de ter ido para a cama com mais de quinhentos homens, isto é, de não ter o mínimo respeito pela instituição do casamento, seja hetero, seja homo. Mutatis mutandis, as mais óbvias virtudes pessoais do adversário tornam-se irrelevantes ou desprezíveis em comparação com o fato de que ele está “do lado errado”. Moralmente falando, Francisco Franco, Charles de Gaule ou Humberto Castelo Branco, homens de uma idoneidade pessoal exemplar, foram infinitamente superiores a Fidel Castro ou Che Guevara, assassinos em série de seus próprios amigos, isto para não falar de Mao Dzedong, estuprador compulsivo. Mas qual comunista admitiria enxergar nesse detalhe um sinal, mesmo longínquo, de que a nobreza da causa que defende talvez não seja tão absoluta quanto lhe parece? Mesmo as virtudes dos mártires e dos santos nada significam, em comparação com um alto cargo no Partido.


Quando digo que esse fenômeno traduz a sacralização do contingente e do provisório, não estou fazendo figura de linguagem. Mircea Eliade, e na esteira dele praticamente todos os historiadores da religião, definem o “sagrado” como tudo aquilo a que se atribui um valor último, uma autoridade julgadora soberana e insuperável, imune, por sua vez, a todo julgamento. Na medida em que tomam a adesão ou rejeição à sua causa como critério derradeiro e irrecorrível de julgamento das condutas humanas, os movimentos a que me referi acima se tornam caricaturas grotescas da religião e da moralidade, e por sua simples existência já produzem a degradação moral da espécie humana ao nível da simples criminalidade politicamente oportuna.

25 de janeiro de 2012
Postado por Ricardo Froes

DEPUTADO REGULAMENTA FILOSOFIA, HOLÍSTICA, CHURRASCO CHIMARRÃO

Comentei há pouco o propósito do deputado Giovani Cherini (PDT-RS), que pretende regulamentar o irregulamentável, no caso o exercício da profissão de filósofo em todo o País. Pois não é que o homem é um regulamentador contumaz? Longe dos pagos, eu desconhecia os feitos do nobre deputado. Leitores me alertam que este senhor, além de pretender regulamentar a filosofia, já instituiu – ou pretendeu instituir, não sei se o projeto foi aprovado – o dia do terapeuta holístico, seja lá o que isso quis dizer. Além disso, regulamentou o churrasco e o chimarrão. O homem é eclético. Da filosofia e holística ao churrasco e chimarrão.

Em 21 de março de 2003, Cherini apresentou projeto de lei 11.999, instituindo o Dia Estadual do Terapeuta Holístico, que seria celebrado no dia 31 de março. Na justificava, o deputado alega:

“Através da Terapia Holística a vida das pessoas pode tornar-se mais saudável, pois utiliza-se uma somatória de técnicas milenares e modernas, sempre suaves e naturais, proporcionando harmonia, autoconhecimento e incrementando a capacidade da pessoa tratada. Dentre estas técnicas podemos citar Yoga, Reiky, Tai Chi Chuan, Acupuntura, Aromaterapia, Homeopatia, Fitoterapia, Cromoterapia, Cristaloterapia, xamamismo, e outras terapias alternativas que ajudam a combater doenças de maneira eficaz e barata.

“As popularmente chamadas de "terapias alternativas" são aplicadas pelo Terapeuta Holístico, que procede ao estudo e à análise do cliente, realizados sempre sob o paradigma holístico, cuja abordagem leva em consideração os aspectos sócio-somato-psíquicos. Cada caso é considerado único e deve-se dispor dos mais variados métodos, para possibilitar a opção por aqueles com os quais o cliente tenha maior afinidade, promovendo a otimização da qualidade de vida, estabelecendo um processo interativo com seu cliente, levando este ao autoconhecimento e a mudanças em várias áreas, sendo as mais comuns: comportamento, elaboração da realidade e/ou preocupações com a mesma, incremento na capacidade de ser bem-sucedido nas situações da vida (aumento máximo das oportunidades e minimização das condições adversas), além de conhecimento e habilidade para tomada de decisão. Avalia os desequilíbrios energéticos, suas predisposições e possíveis conseqüências, além de promover a catalização da tendência natural ao auto-equilíbrio, facilitando-a pela aplicação de uma somatória de terapêuticas de abordagem holística, com o objetivo de transmutar a desarmonia em autoconhecimento”.

Ou seja, não disse nada. Se trocar terapeuta holístico por psicanalista ou pai-de-santo, astrólogo ou curandeiro, tanto faz como tanto fez. O deputado reconhece que a “profissão” não é regulamentada, sendo portanto de livre exercício. Mas ao criar uma data para homenagear os vigaristas, está dando o primeiro passo para uma futura regulamentação.

Não bastasse se preocupar com os destinos da terapia holística, o deputado apresentou o projeto de lei nº 70/2003, no qual institui o churrasco como o prato típico do RS:

Art. 1º – O churrasco a gaúcha fica instituído como “a comida típica do Rio Grande do Sul”.

Como se só no Rio Grande se comesse churrasco. Ora, churrasco é universal está disseminado de sul a norte no país. Constitui o plat de résistance de países como Uruguai e Argentina e diria inclusive da Espanha, famosa por seus asados. Onde há carne e fogo há churrasco. A fórmula é imemorial.

Mas o deputado pretende que exista um churrasco que é tipicamente gaúcho:

Parágrafo único – para os efeitos desta lei, entende-se por churrasco à gaúcha a carne temperada com sal grosso, levada a assar ao calor produzido por brasas de madeira carbonizada ou in natura, em espetos ou disposta em grelha e sob controle exclusivamente manual.

E se a carne for assada em um forno a 300º, deixa de ser churrasco? Por que há de ser assada em espetos ou disposta em grelha e sob controle manual? Churrasco, eu o faço como bem entendo, ora bolas! A definição proposta pelo deputado é bizantinice de cetegistas. Mas o deputado vai adiante:

Art. 2º – É conferido ao churrasco a gaúcha a distinção de símbolo do Estado do Rio Grande do Sul, de sua gente e de sua cultura.

Eh Brasil! Todos os países do mundo têm seus pratos típicos e nunca algum deles pretendeu instituí-lo como símbolo nacional. Os suecos têm o smörgåsbord, a Hungria o goulasch, a França o cassoulet, a Itália suas massas e pizzas, Portugal seus bacalhaus, a Inglaterra tem o abominável fish and ships, e nunca nenhum desses países pretendeu dar-lhes o status de símbolo. Só o provincianismo atroz dos cetegistas é capaz de inspirar tal ridículo. Optasse eu por um símbolo do Rio Grande, eu pensaria em duas aves cheias de significado, encontradiças na pampa gaúcha, o joão-de-barro ou o quero-quero.

Falar em churrasco, não foi no Rio Grande do Sul que eu comi os mais dignos de lembrança. E sim em São Paulo ou Buenos Aires. E as melhores churrascarias de São Paulo são, a meu ver, as uruguaias e argentinas. Isso sem querer fazer injustiça ao Vento Haragano, tocada por churrasqueiros de Nova Bréscia, que concorre firme com a de nuestros hermanos.

Não bastasse este besteirol todo, o deputado quer instituir o Dia do Churrasco. Agora só falta o do chimarrão, pensei. Faltava. O deputado criou também o Dia do Chimarrão. Ambos comemorados em 24 de abril de cada ano e incorporados ao calendário oficial de eventos do Estado do Rio Grande do Sul.

Falta do que fazer! E ainda há quem eleja tal palhaço. Este povinho bem merece seus representantes.

04 de fevereiro de 2012
janer cristaldo

GUIDO MANTEGA VIRA ALVO DA OPOSIÇÃO E PREOCUPA GOVERNO

Guido Mantega vira alvo da oposição e preocupa governo

Ministro é cobrado por omissão diante de irregularidades praticadas pelo presidente da Casa da Moeda. Planalto teme reflexos na economia
Gabriel Castro

O ministro da Fazenda, Guido Mantega (Ueslei Marcelino/Reuters)

Por enquanto, o mercado parece indicar que só haverá algum sobressalto se Mantega passar a correr risco de perder o cargo. Nesse caso, haverá especulações sobre os possíveis substitutos do ministro e Dilma será forçada a tomar uma decisão rápida e certeira, sob risco de minar a credibilidade da economia brasileira

As denúncias de corrupção envolvendo o ex-presidente da Casa da Moeda, Luiz Felipe Denucci, transformam Guido Mantega no alvo da vez da oposição. Mesmo informado sobre as irregularidades em 2010, o ministro da Fazenda só tomou uma atitude quando soube que o caso havia chegado à imprensa. Ou melhor, foi a presidente Dilma Rousseff quem ordenou a demissão às pressas ao saber dos feitos de Denucci. Mantega admitiu nesta sexta-feira que sabia dos problemas. PSDB, DEM e PPS brigarão para que Mantega se explique ao Congresso.

A situação deixa o Planalto em uma situação delicada. De um lado, o governo teme que a exposição de Mantega possa abalar a credibilidade da economia brasileira. Por outro, uma blindagem total, a exemplo do que ocorreu com Antonio Palocci, pode ter um efeito ainda mais perverso: o de acirrar os ânimos no Congresso e irritar a base aliada.

A oposição está decidida: vai apresentar um pedido de convocação para que Mantega se explique no Congresso. Para os opositores, o ministro da Fazenda deve ser tratado da mesma forma que os titulares de outras áreas. A possibilidade de a crise política ter reflexos econômicos não é suficiente para poupá-lo. "Isso não pode ser fator impeditivo de uma convocação. Pelo contrário. Essas coisas exigem cada vez mais transparência", diz Ronaldo Caiado (GO), vice-líder do DEM na Câmara.

Em conflito com o PT por mais espaço no governo, o PMDB acompanha de perto a variação de temperatura do caso. Por enquanto, os peemedebistas não usarão de seu poder de fogo. A ferida pela demissão, no ano passado, de dois ministros filiados ao partido, Wagner Rossi, da Agricultura, e Pedro Novais, do Turismo, ainda está aberta. "A gente espera uma explicação", diz o deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR). "Mas eu preferiria não desestabilizar Mantega neste momento."

Já o líder do PT na Câmara, Paulo Teixeira (SP), em defesa do governo, prega que o momento econômico pesa, sim, na avaliação sobre a ida ao Congresso: "Mantega tem agido com a maior correção. Também pelo momento que nós estamos vivendo no Brasil, acho que não é o caso de convocá-lo."

E o calendário deve ajudar Mantega. As comissões da Câmara só começam a funcionar após o carnaval. Ou seja: daqui a quase um mês. "Ele tinha a obrigação de mandar investigar e não o fez. Se as explicações não forem dadas, vamos manter o pedido de convocação", explica Bruno Araújo (PE), líder tucano na Câmara. O PTB, que indicou Denucci, mas depois retirou o apoio ao presidente da Casa da Moeda, também pretende cobrar esclarecimentos do ministro.

Tentando se defender, o ministro Mantega disse que não tomou providências ao ser avisado das irregularidades porque não recebeu informações concretas sobre o caso. Por enquanto, o mercado parece indicar que só haverá algum sobressalto se Mantega passar a correr risco de perder o cargo. Nesse caso, haverá especulações sobre os possíveis substitutos do ministro e Dilma será forçada a tomar uma decisão rápida e certeira, sob risco de minar a credibilidade da economia brasileira.

Irregularidades – Exonerado no início da semana, Denucci é investigado pela Polícia Federal e pelo Ministério Público por suspeita de lavagem de dinheiro. O ex-presidente foi indiciado numa ação de evasão de divisas. A Polícia Federal investigava o recebimento de 1,8 milhão de reais vindos do exterior em junho de 2000 e que foram parar em sua conta corrente.

Uma reportagem do jornal Folha de S.Paulo acusa Denucci de receber propina de fornecedores da Casa da Moeda, por meio de duas offshores nas Ilhas Virgens Britânicas, local conhecido como paraíso fiscal.
04 de fevereiro de 2012

SAQUES, ARRASTÕES, DEZENAS DE MORTES E O CAOS TOMA CONTA DA BAHIA DO PT

JACA FILOSÓFICA: MEUS CAROS CRÍTICOS (PARTE 3)

Artigos - Cultura

O sr. Lemos ainda atira na cara do seu interlocutor, com ares de quem enunciasse um definitivo cala-a-boca, a frase inscrita no pórtico da Academia Platônica: “Não entre quem não for geômetra.” É puro jogo de cena. Ele não tem a menor idéia da função da geometria no platonismo.

O sr. Júlio Lemos, realmente, já me encheu as medidas. Após ter dado mostras de uma sofisticada inépcia naquilo que escreveu sobre Michael Dummet, bem como de uma mentalidade de fofoqueira de cortiço nas alusões que fez à minha pessoa, ainda exibiu, na discussão que teve com o sr. Rafael C. Melo no site da Dicta, uma pronunciada capacidade de cometer erros pueris naquele tom de superioridade olímpica fingida, tão característico dos antigos Wunderblogs.

O argumento que o sr. Melo opôs à sua idolatria boboca dos estudos lógicos era não só razoável como partilhado com praticamente todos os grandes filósofos do passado, de Aristóteles a Sto. Tomás, de Hegel a Husserl, de Schelling aos dois Erics, Weil e Voegelin. O argumento é o seguinte: o problema maior do filósofo não é raciocinar com lógica, mas encontrar as premissas fundamentais sobre as quais o raciocínio possa operar com proveito.

A isso o sr. Lemos respondeu com um ridículo argumento de autoridade, bom somente para assustar criancinhas: “Eu lhe sugiro que diga isso ao Alvin Plantinga e ao Saul Kripke, que estão vivos e fazendo filosofia. E por que não reclamar com Aristóteles e seu Organon? Por que não fechar o departamento de Filosofia do MIT, de Harvard, de Cambridge e da Universidade de Munique?... Sem lógica, toda a filosofia cai por terra. Isso que você falou devia dar cadeia, hein?”

O sr. Lemos, com toda a evidência, confunde a capacidade de raciocinar logicamente com o estudo especializado da ciência lógica, da tekhne logike fundada por Aristóteles e desenvolvida mais recentemente na forma da lógica matemática. A primeira é um dom natural do ser humano, mais desenvolvido em uns, menos em outros, e não depende em nada de conhecimentos especializados da segunda. O que se usa em filosofia é em geral nada mais que uma lógica prática, ou “arte de pensar”, um instinto lógico, se quiserem, e só de vez em quando a lógica teórica que os lógicos estudam especializadamente. O motivo disso é simples. Assim como um escritor escreve sobre algo da sua experiência real ou imaginativa, e não sobre a correção gramatical daquilo que está escrevendo – tarefa que ele deixa aos gramáticos profissionais --, assim também o foco de atenção do filósofo é algum tema da realidade – ontológico, moral, cosmológico, político etc. – e não a própria estrutura formal do seu discurso, objeto da lógica. Um filósofo pode, é claro, ser também um lógico, mas são atividades distintas. Pode ainda fazer uma terceira coisa, uma filosofia da lógica, mas neste caso ele estará interessado na natureza do pensamento lógico, no seu valor relativo, no seu estatuto epistemológico, na sua função cultural e científica, etc., e não em desenvolver a técnica lógica enquanto tal. Não se pode escrever uma filosofia da lógica sob a forma de um tratado de lógica. No mínimo, essa presunção supõe a incapacidade de distinguir entre linguagem e metalinguagem.

Essa confusão, sim, é que, por ser primária demais, deveria ser punida - não digo com cadeia, mas com o uso obrigatório de orelhas de burro, em público, por três semanas.

A lógica está para o bom pensamento filosófico como a gramática está para a arte de bem escrever. A boa escrita deve possuir, certamente, alguma virtude gramatical, mas não depende, de maneira alguma, de profundos estudos de gramática, nem muito menos do recurso consciente aos cânones dessa ciência no ato de escrever. Nenhum escritor, quando escreve, faz análise sintática ou catalogação morfológica ao mesmo tempo. Isso paralisaria por completo o fluxo da escrita. Não por coincidência, nenhum dos grandes escritores da humanidade – nem Homero, nem Dante, nem Shakespeare, nem Cervantes, nem Goethe, nem Balzac, nem Dostoiévski, nem Tolstói, nem qualquer outro do meu conhecimento – foi jamais gramático profissional, nem sequer estudioso notável de gramática. Em compensação, também não há nenhum gramático que tenha se notabilizado como gênio da literatura. Ao contrário, de muitos deles se pode dizer aquilo que Millôr Fernandes disse do Antônio Houaiss: “Ele conhece todas as palavras da língua. Só não sabe juntá-las.”

Dos grandes filósofos anteriores ao século XX, houve só dois que foram também grandes pioneiros da ciência lógica: Aristóteles e Leibniz. Mas o primeiro, como já assinalei, raramente usava da demonstração lógica nas suas investigações, preferindo a confrontação dialética – a logica inventionis, “lógica da descoberta”, mais frutífera que a mera arte da prova, e origem, aliás, do que viria a ser o método científico. Coisa não muito diversa pode-se dizer de Leibniz, cujo espírito só se punha em ação, nos seus melhores momentos, quando levado a isso por alguma provocação externa à qual pudesse responder dialeticamente. Um dos príncipes da filosofia analítica, Bertrand Russell, disse que toda a filosofia de Leibniz derivava da sua lógica, mas essa tese é historicamente errada: praticamente tudo o que Leibniz fez na vida emergiu da sua fé cristã e da vocação apologética que transparece com brilho incomum desde seus primeiros escritos (o que é verdade também de outro grande matemático filósofo, Blaise Pascal).

No que diz respeito aos escolásticos, não é mera coincidência que o maior deles, Sto. Tomás, tenha sido o que menos atenção deu ao campo específico da técnica lógica. Sua habilidade nas demonstrações emerge de um talento natural, ou sobrenatural, e não de estudos lógicos especializados.

Quanto às matemáticas, ninguém pensaria em negar sua importância para a física, mas seria tolice imaginar que os progressos da matemática aí exerçam autoridade soberana. A mais avançada ciência física do mundo contenta-se ainda com técnicas matemáticas do século XIX, porque desde então as descobertas matemáticas alcançaram tal nível de sofisticação que nem mesmo se concebe que raio de aplicação científica possam vir a ter um dia.

Para complicar mais sua situação, o sr. Lemos ainda atira na cara do seu interlocutor, com ares de quem enunciasse um definitivo cala-a-boca, a frase inscrita no pórtico da Academia Platônica: “Não entre quem não for geômetra.” É puro jogo de cena. Ele não tem a menor idéia da função da geometria no platonismo. Imagina que ela fosse uma técnica formal para a estruturação do discurso coerente, como a lógica matemática moderna. Esse uso da geometria, como modelo de argumentação, não apareceu antes de Descartes e Spinoza. Platão não só não tinha a menor idéia disso, como jamais se vê nas suas obras um único exemplo, nem mesmo acidental, de tese filosófica demonstrada more geometrico. Ele não conhecia sequer a lógica analítica, que só apareceria com Aristóteles (donde se vê que o sr. Lemos, ao proclamar que Platão “respeitava a lógica acima de tudo” só mostra que nunca leu Platão). Seus procedimentos argumentativos resumem-se à dialética, à retórica e ao discurso mitopoético. As figuras geométricas não eram para ele modelos de argumentação e prova, mas símbolos que facilitavam a ascensão imaginativa ao mundo das Formas eternas. Sua função era antes estética e hermenêutica do que lógica. Apelar à apologia platônica da geometria como argumento em favor da autoridade absoluta da lógica matemática em filosofia é um erro tão bobo, tão subginasiano, que orelhas de burro só serviriam para dignificar indevidamente o culpado de semelhante cretinice. A única punição adequada seria mandá-lo desfilar pela cidade fantasiado de jaca, com um cartaz nas costas: “Pisei em mim mesmo.”

Olavo de Carvalho, 04 Fevereiro 2012

ELES SÃO COMO A BOS...

QUANTO MAIS MEXE MAIS FEDE : LITERALMENTE VIVEMOS SOB O REINADO DOS CANALHAS.

As denúncias de corrupção envolvendo o ex-presidente da Casa da Moeda, Luiz Felipe Denucci, transformam Guido Mantega no alvo da vez da oposição.

Mesmo informado sobre as irregularidades em 2010, o ministro da Fazenda só tomou uma atitude quando soube que o caso havia chegado à imprensa.

Ou melhor, foi a presidente Dilma Rousseff quem ordenou a demissão às pressas ao saber dos feitos de Denucci. Mantega admitiu nesta sexta-feira que sabia dos problemas. PSDB, DEM e PPS brigarão para que Mantega se explique ao Congresso.

A situação deixa o Planalto em uma situação delicada. De um lado, o governo teme que a exposição de Mantega possa abalar a credibilidade da economia brasileira.

Por outro, uma blindagem total, a exemplo do que ocorreu com Antonio Palocci, pode ter um efeito ainda mais perverso: o de acirrar os ânimos no Congresso e irritar a base aliada.

A oposição está decidida: vai apresentar um pedido de convocação para que Mantega se explique no Congresso. Para os opositores, o ministro da Fazenda deve ser tratado da mesma forma que os titulares de outras áreas.

A possibilidade de a crise política ter reflexos econômicos não é suficiente para poupá-lo. "Isso não pode ser fator impeditivo de uma convocação. Pelo contrário. Essas coisas exigem cada vez mais transparência", diz Ronaldo Caiado (GO), vice-líder do DEM na Câmara.

Em conflito com o PT por mais espaço no governo, o PMDB acompanha de perto a variação de temperatura do caso. Por enquanto, os peemedebistas não usarão de seu poder de fogo.

A ferida pela demissão, no ano passado, de dois ministros filiados ao partido, Wagner Rossi, da Agricultura, e Pedro Novais, do Turismo, ainda está aberta. "A gente espera uma explicação", diz o deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR). "Mas eu preferiria não desestabilizar Mantega neste momento."

Já o líder do PT na Câmara, Paulo Teixeira (SP), em defesa do governo, prega que o momento econômico pesa, sim, na avaliação sobre a ida ao Congresso: "Mantega tem agido com a maior correção. Também pelo momento que nós estamos vivendo no Brasil, acho que não é o caso de convocá-lo."

E o calendário deve ajudar Mantega. As comissões da Câmara só começam a funcionar após o carnaval. Ou seja: daqui a quase um mês. "Ele tinha a obrigação de mandar investigar e não o fez.

Se as explicações não forem dadas, vamos manter o pedido de convocação", explica Bruno Araújo (PE), líder tucano na Câmara.

O PTB, que indicou Denucci, mas depois retirou o apoio ao presidente da Casa da Moeda, também pretende cobrar esclarecimentos do ministro.

Tentando se defender, o ministro Mantega disse que não tomou providências ao ser avisado das irregularidades porque não recebeu informações concretas sobre o caso. Por enquanto, o mercado parece indicar que só haverá algum sobressalto se Mantega passar a correr risco de perder o cargo.

Nesse caso, haverá especulações sobre os possíveis substitutos do ministro e Dilma será forçada a tomar uma decisão rápida e certeira, sob risco de minar a credibilidade da economia brasileira.

Irregularidades

Exonerado no início da semana, Denucci é investigado pela Polícia Federal e pelo Ministério Público por suspeita de lavagem de dinheiro. O ex-presidente foi indiciado numa ação de evasão de divisas.

A Polícia Federal investigava o recebimento de 1,8 milhão de reais vindos do exterior em junho de 2000 e que foram parar em sua conta corrente.

Uma reportagem do jornal Folha de S.Paulo acusa Denucci de receber propina de fornecedores da Casa da Moeda, por meio de duas offshores nas Ilhas Virgens Britânicas, local conhecido como paraíso fiscal.

Veja

A "BARBÁRIE" DA DILMA E O "TERRORISMO" DO GILBERTO CARVALHO ACONTECIAM NA BAHIA DO PT, ENQUANTO OS DOIS, COM JACQUES WAGNER, CURTIAM CUBA

Dezenas de mortos, dezenas de desaparecidos, arrastões, sequestros, violência generalizada, devido a uma greve justa de uma PM que ganha muito mal naquele estado governado pelo PT, tornaram a Salvador uma cidade sem lei No Pinheirinho não morreu ninguém. Na Cracolândia não morreu ninguém. Onde está a Maria do Rosário? Onde está o José Eduardo Cardozo? Onde está aquela lambisgóia petista que trabalha na ONU?


Salvador viveu ontem um dia de saques, mortes, medo e insegurança com a greve de PMs por aumento salarial. A madrugada foi violenta com a falta de policiamento. Da 0h às 6h45, o governo da Bahia confirmou 18 homicídios na região metropolitana, cinco a mais que os registrados nas 24 horas da sexta-feira da semana passada. Entre os mortos está o músico da banda Olodum Denilton Souza Cerqueira, 34, assassinado a tiros quando voltava para casa de moto.


Em pronunciamento na TV à noite, o governador Jaques Wagner (PT) disse ter mandado prender 12 pessoas ligadas à greve -não havia informações sobre a identidade delas até a conclusão desta edição.Forças federais foram mobilizadas para patrulhar as ruas, mas o medo levou o comércio a fechar suas portas em vários pontos da cidade. Na rua Lima e Silva, uma das principais vias do comércio popular de Salvador, houve saques até durante o dia. Pelo menos quatro lojas foram arrombadas na madrugada. Às 11h, uma loja de eletrodomésticos foi invadida por cerca de 50 pessoas.

"Foi uma coisa de cinema", disse o dono de lanchonete Sérgio Luis dos Santos, 33, que viu a ação. "Invadiram a loja e saíram carregando LCDs nas costas", disse. Numa loja da Laser Eletro, arrombada com uma viga de madeira durante a madrugada, só restaram geladeiras e máquinas de lavar roupas. "Só reabriremos quando a greve acabar", afirmou o gerente Paulo Alves, 45.


Ainda não há acordo entre governo e grevistas para os policiais voltarem ao trabalho, apesar de a Justiça ter decretado a paralisação ilegal. Segundo o governo estadual, a adesão à greve é de 33% dos 32 mil PMs baianos -o restante do efetivo, afirma, está trabalhando. Já o movimento fala em 100% de adesão. O clima no Centro Administrativo, que reúne os edifícios-sede dos Três Poderes no Estado e onde os grevistas estão concentrados, voltou a ficar tenso após o anúncio das prisões pelo governador.

Anteontem, motoristas de ônibus foram rendidos por grevistas armados e obrigados a entregar os veículos para fazer barricadas no acesso. A pedido do governador, a presidente Dilma Rousseff mandou a Força Nacional e o Exército para reforçar a segurança. De acordo com o governo, o efetivo extra soma 2.350 homens. Outros 600 deverão desembarcar na capital hoje. Dilma despachou o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, para acompanhar a crise. Ele chega hoje à Bahia.(Folha de São Paulo)
coroneLeaks
04 de fevereiro de 2012

TODA ATENÇÃO

A repercussão política da troca de comando na Casa da Moeda, a partir da demissão de Luiz Felipe Denucci – acusado de receber propina de fornecedores e envio de U$ 25 milhões para contas em paraísos fiscais – acendeu o sinal de alerta no Palácio do Planalto. A presidente Dilma Rousseff decidiu conversar hoje com o vice-presidente Michel Temer para pedir que ele desestimulasse o PMDB a participar de qualquer movimento no Congresso que tenha o objetivo de convocar o ministro Guido Mantega a dar esclarecimentos ao Legislativo sobre o assunto.

A preocupação surgiu a partir do comportamento de parlamentares do PMDB de não sair em defesa do ministro Mantega que é apontado pelo PTB como o “padrinho” da indicação de Luiz Felipe Denucci- informação divulgada pelo presidente do PTB. Roberto Jefferson. O temor do governo é que os descontentes da base aliada, como o grupo de Henrique Eduardo Alves que, recentemente, perdeu o comando do DNOCS, se unam para convocar Mantega a falar no Congresso.

– Ele não é um ministro qualquer; é o ministro da Economia, de uma área muito sensível – disse um assessor.

A preocupação surtiu efeito. O líder da bancada do PMDB, Henrique Eduardo Alves, disse há pouco ao blog que não vê razão para convocação do ministro Mantega ao Congresso.

– Ele já deu todas as explicações, pediu uma sindicância… Além disso, ele é um ministro muito transparente, até didático em suas explicações – afirmou Henrique Alves, acrescentando que, se depender do PMDB, Mantega não irá ao Congresso para falar sobre a troca no comando da Casa da Moeda como quer a oposição.

– Convocação é uma coisa muito radical – completou Henrique Alves.

03/02/12
Cristiana Lôbo

PROVETINHA NA BRASA


-Garçom, um filet mignon ao ponto com molho madeira e batatas-fritas, por favor.
-Carne natural ou artificial, senhor?
-Artificial, claro! Não sabia que este restaurante ainda comercializava cortes naturais…
-Por mais que a gente explique que a carne desenvolvida em laboratório é saudável, sem diferença hormonal, nutricional ou molecular, tem gente que morre de medo da manipulação científica e prefere a boa e velha vaca!
-Quer dizer que em pleno ano de 2025, ainda existem seres humanos que preferem ignorar o horror do matadouro, do sofrimento causado pela produção industrial de carnes? Como podem compactuar com o enorme impacto ambiental provocado pela agropecuária no esgotamento dos recursos naturais? Como podem consentir com o famigerado desmatamento?
-Pois é, doutor, 80% dos nossos cortes são artificiais, mas ainda temos uma clientela assídua que é fiel aos pastos.

Este diálogo ainda é uma elucubração. Mas não por muito tempo. Consumir carne de proveta num futuro próximo, aposentando seu suculento bife advindo dos campos amazônicos, vai se tornar prática comum mundo afora.
Fiquei surpresa quando li um artigo de Marcelo Gleiser, professor de física teórica no Dartmouth College, em Hanover, EUA. Ele informa que dezenas de laboratórios estão tentando cultivar carne, partindo de amostras de células musculares alimentadas em soluções que induzem a sua proliferação. Diz ele que, em 1999, o holandês Willem van Eelen registrou patentes internacionais da produção industrial de carnes, usando as tais culturas celulares, e convenceu o governo de seu país a financiar projetos de pesquisa em três universidades. Uma só célula produziria carne suficiente para toda a população do mundo”, diz Jason Matheny, diretor do instituto de biotecnologia New Harvest, especializado em carne de proveta.


Fiquei surpresa com essa história e bem contente. Explico. É que no ano passado, retomei o jejum de carne vermelha, iniciado em 2009 e interrompido durante os 9 meses de gravidez. Faz quase um ano que voltei a resistir às tentações do aroma e do gosto de um bife de picanha. O desejo existe, mas as convicções ideológicas se sobrepõem ao prazer da degustação. A ideia de saborear carne de proveta veio como sopa no mel! Comer sem culpa, sem medos. Já é assim com inúmeros vegetais. Por que não com a carne? Por enquanto, a carne de laboratório só serve para fazer aglomerados (hambúrguer, salsicha ou nuggets de frango). E o preço é proibitivo. Com os métodos atuais, ela custa pelo menos US$ 2 mil o quilo. “É bem possível que o preço caia para US$ 50”, diz o especialista Bob Dennis, da Universidade Estadual da Carolina do Norte.
Ao fazer o balanço de 2011 no que concerne a hábitos sustentáveis, senti-me orgulhosa por ter mantido a coleta seletiva do lixo e levado os materiais recicláveis para um posto especializado; ter conseguido carregar minhas eco bags, reduzindo, assim, o uso de sacolas plásticas em supermercados; ter feito um horta com mais de 15 itens; ter economizado nas contas de água e luz; melhorado a eficiência energética de eletrodomésticos; e ter deixado o carro na garagem, utilizando a bicicleta pra ir à academia, ao mercadinho da esquina e ao parque. Como resolução para 2012, pretendo trocar o carro beberrão por um híbrido e avançar no cardápio vegetariano. Jantares verdes! Pelo menos até as prateleiras dos supermercados exibirem a grande solução para os paladares mais exigentes: carne in vitro!


17/01/12
rosana.jatobá

OS CANALHAS NOS ENSINAM MAIS

Nunca vimos uma coisa assim. Ao menos, eu nunca vi. A herança maldita da política de sujas alianças que Lula nos deixou criou uma maré vermelha de horrores. Qualquer gaveta que se abra, qualquer tampa de lata de lixo levantada faz saltar um novo escândalo da pesada. Parece não haver mais inocentes em Brasília e nos currais do País todo. As roubalheiras não são mais segredos de gabinetes ou de cafezinhos. As chantagens são abertas, na cara, na marra, chegando ao insulto machista contra a presidente, desafiada em público. Um diz que é forte como uma pirâmide, outro que só sai a tiro, outro diz que ela não tem coragem de demiti-lo, outro que a ama, outro que a odeia.

Canalhas se escandalizam se um técnico for indicado para um cargo técnico. Chego a ver nos corruptos um leve sorriso de prazer, a volúpia do mal assumido, uma ponta de orgulho por seus crimes seculares, como se zelassem por uma tradição brasileira. Temos a impressão de que está em marcha uma clara "revolução dentro da corrupção", um deslavado processo com o fito explícito de nos acostumar ao horror, como um fato inevitável. Parece que querem nos convencer de que nosso destino histórico é a maçaroca informe de um grande maranhão eterno. A mentira virou verdade? Diante dos vídeos e telefonemas gravados, os acusados batem no peito e berram: "É mentira!" Mas, o que é a mentira? A verdade são os crimes evidentes que a PF e a mídia descobrem ou os desmentidos dos que os cometeram? Não há mais respeito, não digo pela verdade; não há respeito nem mesmo pela mentira.
Mas, pensando bem, pode ser que esta grande onda de assaltos à Republica seja o primeiro sinal de saúde, pode ser que esta pletora de vícios seja o início de uma maior consciência critica. E isso é bom. Estamos descobrindo que temos de pensar a partir da insânia brasileira e não de um sonho de razão, de um desejo de harmonia que nunca chega.
Avante, racionalistas em pânico, honestos humilhados, esperançosos ofendidos! Esta depressão pode ser boa para nos despertar da letargia de 400 anos. O que há de bom nesta bosta toda?

Nunca nossos vícios ficaram tão explícitos! Aprendemos a dura verdade neste rio sem foz, onde as fezes se acumulam sem escoamento. Finalmente, nossa crise endêmica está em cima da mesa de dissecação, aberta ao meio como uma galinha. Vemos que o País progride de lado, como um caranguejo mole das praias nordestinas. Meu Deus, que prodigiosa fartura de novidades sórdidas estamos conhecendo, fecundas como um adubo sagrado, tão belas quanto nossas matas, cachoeiras e flores. É um esplendoroso universo de fatos, de gestos, de caras. Como mentem arrogantemente mal! Que ostentações de pureza, candor, para encobrir a impudicícia, o despudor, a mão grande nas cumbucas, os esgotos da alma.
Ai, Jesus, que emocionantes os súbitos aumentos de patrimônio, declarações de renda falsas, carrões, iates, piscinas em forma de vaginas, açougues fantasmas, cheques podres, recibos laranjas de analfabetos desdentados em fazendas imaginárias.

Que delícia, que doutorado sobre nós mesmos!... Assistimos em suspense ao dia a dia dos ladrões na caça. Como é emocionante a vida das quadrilhas políticas, seus altos e baixos - ou o triunfo da grana enfiada nas meias e cuecas ou o medo dos flagrantes que fazem o uísque cair mal no Piantella diante das evidências de crime, o medo que provoca barrigas murmurantes, diarreias secretas, flatulências fétidas no Senado, vômitos nos bigodes, galinhas mortas na encruzilhada, as brochadas em motéis, tudo compondo o panorama das obras públicas: pontes para o nada, viadutos banguelas, estradas leprosas, hospitais cancerosos, orgasmos entre empreiteiras e políticos.
Parece que existem dois Brasis: um Brasil roído por ratos políticos e um outro Brasil povoado de anjos e "puros". E o fascinante é que são os mesmos homens. O povo está diante de um milenar problema fisiológico (ups!) - isto é, filosófico: o que é a verdade?

Se a verdade aparecesse em sua plenitude, nossas instituições cairiam ao chão. Mas, tudo está ficando tão claro, tão insuportável que temos de correr esse risco, temos de contemplar a mecânica da escrotidão, na esperança de mudar o País.
Já sabemos que a corrupção não é um "desvio" da norma, não é um pecado ou crime - é a norma mesmo, entranhada nos códigos, nas línguas, nas almas. Vivemos nossa diplomação na cultura da sacanagem.

Já sabemos muito, já nos entrou na cabeça que o Estado patrimonialista, inchado, burocrático é que nos devora a vida. Durante quatro séculos, fomos carcomidos por capitanias, labirintos, autarquias. Já sabemos que enquanto não desatracarmos os corpos públicos e privados, que enquanto não acabarem as emendas ao orçamento, as regras eleitorais vigentes, nada vai se resolver. Enquanto houver 25 mil cargos de confiança, haverá canalhas, enquanto houver Estatais com caixa-preta, haverá canalhas, enquanto houver subsídios a fundo perdido, haverá canalhas. Com esse Código Penal, com essa estrutura judiciária, nunca haverá progresso.

Já sabemos que mais de R$ 5 bilhões por ano são pilhados das escolas, hospitais, estradas. Não adianta punir meia dúzia. A cada punição, outros nascerão mais fortes, como bactérias resistentes a antigas penicilinas. Temos de desinfetar seus ninhos, suas chocadeiras.

Descobrimos que os canalhas são mais didáticos que os honestos. O canalha ensina mais. Os canalhas são a base da nacionalidade! Eles nos ensinam que a esperança tem de ser extirpada como um furúnculo maligno e que, pelo escracho, entenderemos a beleza do que poderíamos ser!

Temos tido uma psicanálise para o povo, um show de verdades pelo chorrilho de negaças, de "nuncas", de "jamais", de cínicos sorrisos e lágrimas de crocodilo. Nunca aprendemos tanto de cabeça para baixo. Céus, por isso é que sou otimista! Ânimo, meu povo! O Brasil está evoluindo em marcha à ré!

4 de fevereiro de 2012
Arnaldo Jabor
Fonte: O Estado de S.Paulo - 31/01/2012

ATÉ AS PEDRAS SABEM

O voto do STF não basta para moralizar a Justiça, mas atende ao anseio da população por transparência

O bom-senso venceu. Apenas por um voto: 6 a 5. O Supremo Tribunal Federal correspondeu ao anseio geral pela transparência.

Temia-se uma decisão que pudesse favorecer juízes acusados de desvio de conduta. A questão parecia simples, mas era capciosa. Pode o Conselho Nacional de Justiça abrir investigação contra juízes suspeitos de corrupção, abuso de poder, fraude, mau uso de verba pública? Ou só as corregedorias estaduais podem iniciar o processo?

A estrela da votação foi o ministro Gilmar Mendes. A sociedade já divergiu dele em vários momentos. Mendes foi contra a aplicação da Ficha Limpa na última eleição. Mas seu argumento contra a impunidade na quinta-feira foi o mais pé no chão. “Até as pedras sabem que as corregedorias não funcionam quando se cuida de investigar os próprios pares. Jornalistas e jornaleiros dizem isso toda hora”, afirmou Mendes. É uma declaração sensata que reforça a independência do CNJ.

Essa é uma briga que vai deixar feridos. O presidente do STF, Cezar Peluso, tinha feito na véspera um brado retumbante. Peluso parecia um arauto do fim do mundo com seu alerta contra o suicídio da nação. Para ele, “o processo de degradação do Judiciário” seria “um caminho nefasto” que “aniquilaria a segurança jurídica” e “significaria um retorno à massa informe da barbárie”.

É muita palavra longa, pesada e barroca. Dá manchete de jornal, mas não convence milhões de brasileiros. Peluso negou qualquer crise no Judiciário e afirmou que o Poder é “transparente, controlado e tem o dever de enfrentar pressões do autoritarismo”.

Até as pedras sabem que era um discurso contra o poder do CNJ e da corregedora e ministra Eliana Calmon. Ela dissera algo explosivo, mas de senso tão comum que se ouve até em roda de samba: existem “bandidos escondidos atrás da toga” e há manobras para esvaziar investigações independentes e livrá-los de processo.
Não é um ataque pessoal nem suicida. Há bandidos vestidos de tudo que é jeito no Brasil. Piora quando eles se acham acima do bem e do mal. Por que não haveria os bandidos de capa preta e canudo universitário, com domínio das letras e das leis?

Pelo rebuliço que provocou, Eliana virou símbolo de moralização para a plebe. E persona non grata para associações de magistrados e juízes.
Abriu-se uma investigação contra ela. Foi acusada de quebra ilegal de sigilo de juízes e servidores.
Na última terça-feira, foi arquivado o pedido de investigação contra Eliana. E a OAB, com 300 na plateia, pediu a preservação dos poderes do CNJ.

O STF votou outra questão contra o corporativismo: todas as sessões do CNJ serão abertas. A Associação dos Magistrados (AMB) queria manter a portas fechadas os julgamentos de juízes. “Esse tipo de processo era das catacumbas. Isso é próprio de ditadura, não é próprio de democracia”, disse Carmen Lúcia, ministra do STF.

Até as pedras sabem quem correu para apoiar Peluso, em vão. Primeiro, sua turma no STF: Marco Aurélio Mello e Luiz Fux, que votam sempre em uníssono. E, fora do Judiciário, o vice-presidente, Michel Temer, o presidente da Câmara, Marco Maia, e o presidente do Senado, José Sarney. Todos eles sempre acharam que devem ser julgados por seus pares.

Há um pânico da “subversão” que cobra moralidade, legalidade e fim de mordomias nos Três Poderes.
Até as pedras sabem que o voto do STF não basta para moralizar o Judiciário.

O Tribunal de Justiça de São Paulo começa a julgar nesta semana 29 magistrados que receberam pagamentos polpudos, às vezes superiores até a R$ 1 milhão, sem registro nos contracheques.

Sarney disse que “ataques e contestações ao STF visam ao enfraquecimento da autoridade”. O presidente vitalício do Senado anda de mal com o Brasil. Sente-se injustiçado. Acha que o país não prestigia os velhos homens públicos como ele, que dedicaram a vida à política e sempre estiveram de bem com quem manda.

Até as pedras sabem que não é normal um governo perder em seu primeiro ano sete ministros acusados de irregularidades, favorecimentos, desvios de verba, incompetência e abuso de poder. Todos herdados do ex-presidente Lula.
O último, Mário Negromonte, das Cidades, se dizia “mais firme do que as pirâmides do Egito”, mas ele não devia estar acompanhando o noticiário nas ruas e nos estádios do Egito. Caiu, ruiu, desabou. Até as pedras sabem, hoje, que esses ministros só podiam estar blindados por Lula – até cair no colo menos maternal de Dilma.
Não é uma caça às bruxas, mas uma faxina ética. Eficiência e imparcialidade nos julgamentos de juízes, ministros e congressistas, todos servidores públicos, não têm como degradar o Poder. Servem para legitimar o Poder. Até as pedras sabem disso.
04 de fevereiro de 2012
RUTH DE AQUINO
REVISTA ÉPOCA

PARTIDO COMUNISTA CUBANO SE REUNIU EXTRAORDINARIAMENTE PELA PRIMEIRA VEZ NOS ÚLTIMOS 50 ANOS. É A CRISE DO SER OU NÃO SER CAPITALISTA.

A visita da presidente Dilma Rousseff a Havana quase coincidiu com a primeira conferência nacional realizada pelo Partido Comunista de Cuba (PCC) nos últimos 50 anos. As conferências têm caráter extraordinário e, segundo o estatuto do Partidão cubano, devem ser realizadas para estudar temas que não podem esperar até o Congresso Nacional, que acontece a cada cinco anos.

A urgência se deveu à encruzilhada em que se encontra a sonífera ilha, que não sabe até que ponto vai continuar comunista e até que ponto vai adotar práticas capitalistas, vejam só que dilema verdadeiramente shakespeareano.

Estiveram em pauta projetos de mudanças políticas sensíveis – como a redução no mandato de dirigentes – para não deixar a legenda atrasada em relação às reformas econômicas que, mesmo a passos curtos, aos poucos estão mudando a ilha caribenha.

Nos últimos anos, o presidente Raúl Castro, desde abril também primeiro-secretário do partido, fez duras críticas ao funcionamento do organismo, que para ele se envolve em tarefas que não lhe competem e interfere nas atividades do governo.

No último Congresso Nacional do PCC, em abril de 2011, Raúl advertiu que “a primeira coisa que temos que modificar no partido é a mentalidade, que, como barreira psicológica, nos dará mais trabalho por estar atada durante anos aos mesmos dogmas e critérios obsoletos”.

A conferência, portanto, teve como objetivo, segundo as autoridades cubanas, implantar essa mudança de mentalidade sugerida por Raúl, de modo a “preservar o socialismo” e acompanhar “a atualização” do modelo econômico cubano.

Na agenda, estiveram em discussão a limitação de mandatos dos dirigentes do partido, a adaptação às novas tecnologias e o combate à corrupção – uma das últimas bandeiras levantadas pelo presidente.

Foi o próprio Raúl Castro também que lançou a ideia de limitar a dois anos (em vez de cinco) os mandatos dos dirigentes do partido, incluindo os seus – presidente do Conselho de Estado, presidente do Conselho de Ministros e primeiro-secretário.

Muitos tratam a reunião extraordinária do fim de semana passado, que teve a participação de 800 delegados, como a última da geração histórica de dirigentes cubanos, hoje quase todos com mais de 80 anos.

Raúl Castro também já lamentou que a revolução não tenha conseguido preparar de forma adequada a sucessão da ala mais antiga do partido, o que explica muita coisa sobre a curiosíssima situação hamletiana que Cuba vive hoje.

Carlos Newton
04 de fevereiro de 2012

GREVE DE PM LEVA INSEGURANÇA A SALVADOR

Em plena temporada turística, greve da PM leva insegurança a Salvador, com 17 homicídios em apenas 5 horas

Não se fala em outra coisa na internet. A greve da PM em Salvador é da maior gravidade, porque foram registrados 17 homicídios em cerca de 5 horas. A Justiça já determinou o fim do movimento grevista, que o governador Jaques Wagner tentou minimizar e desconhecer, acirrando os ânimos da corporação policial.

O resultado é que, com a greve da Polícia Militar, Salvador registra forte aumento no número de homicídios e saques ao comércio. Na sexta-feira, Entre as 1h45 e as 6h41, 17 pessoas foram assassinadas em Salvador e região metropolitana, de acordo com a estatística divulgada pela Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP).

Os 17 casos confirmados nas cerca de cinco horas de sexta se equipararam a todos os casos registrados nas 24 horas de quinta-feira. Na quarta-feira, a SSP registrara sete homicídios.

De acordo com a secretaria, também há “uma série de casos de vandalismo, com assaltos e arrastões, em várias áreas de Salvador”, desde que “PMs ligados à Associação de Policiais e Bombeiros e de seus Familiares do Estado da Bahia (Aspra-BA) anunciaram greve por tempo indeterminado”.

Até o final do dia, o contingente das forças federais destacado para garantir a segurança na Bahia aumentou para 2,6 mil militares, segundo o Ministério da Defesa. As forças foram enviadas ao estado com o objetivo de manter a segurança e evitar que a população entre em pânico.

No Rio de Janeiro, seguem os preparativos para a greve dos PMs e do Corpo de Bombeiros, com a cidade repleta de turistas. o governador Sergio Cabral, como sempre, continua omisso, tentando desconhecer que o Estado do Rio de Janeiro paga os menores salários do Brasil à PM e aos bombeiros. Acredite se quiser.

Carlos Newton
04 de fevereiro de 2012

ALGO DE BOM NA CORTE DE BRASÍLIA

Repercute no país inteiro (repercussão positiva) a decisão do Supremo Tribunal Federal de manter os poderes do Conselho Nacional de Justiça para investigar e punir juízes e servidores do Judiciário. O julgamento do Supremo foi quinta-feira em Brasília com um placar apertado: seis votos contra cinco. A notícia está na capa de todos os grandes jornais do País e é mote de colunas, saites e blogues no infinito da internet. O presidente nacional da Ordem dos Advogados, Ophir Cavalcante, comemorou: “Quem sai ganhando é a sociedade brasileira que continuará contando com um Judiciário fortalecido. O Conselho Nacional de Justiça nasceu de novo, pois o Supremo fez valer a Constituição”.

Leio no blogue de Josias de Souza: “Esse entendimento luminoso passou por um triz. As sombras perderam por seis votos contra cinco. Com isso, o CNJ pode tomar a iniciativa de levantar as togas escondidas sob o corporativismo. Noutra decisão alvissareira a ministra Cármem Lucia recordou: O Brasil vive sob democracia. Foram-se os tempos das catacumbas”.

A imprensa também destaca o voto do ministro Carlos Ayres Britto, favorável aos poderes do CNJ. Ao proferi-lo o magistrado, citando frase atribuída ao juiz norte-americano, “Louis Brandeis, quando se referiu à necessidade da transparência no sistema financeiro, lá de seu País, mas que serve para o mundo todo e para qualquer área da atividade humana: “A luz do sol é o melhor dos desinfetantes”. O ministro Ayres Britto, ainda completou:

- A cultura do biombo, graças a Deus, foi substituída pela cultura da transparência. Nas coisas públicas, o melhor detergente é a luz do sol.

Há outro detalhe importante na decisão tomada pelo Supremo: as sessões do Conselho Nacional de Justiça para julgamento de processos disciplinares contra juízes e servidores do Judiciário serão públicas. Transparência total e absoluta. No brilho do sol, mesmo que as sessões se estendam, como sempre acontecem, pelas sombras da noite.

Pelas sombras da noite continuarão acontecendo os conchavos políticos mesmo que a encenação aconteça debaixo da luminosidade solar das churrascarias de Brasília, a gordura da alcatra se derretendo no braseiro das intrigas e das jogadas lubrificadas na banha dos “grandes” interesses.

04 de fevereiro de 2012
ao bom combate

BRASÍLIA FEZ ESCOLA

Diz-nos a sabedoria popular, que 'casa de pai, escola de filho'.
Ja que o Planalto é o maior antro de aproveitadores de situações, onde imperam falcatruas e congêneres, o restante do país segue esse exemplo.
E o que estamos a assistir pela tv na Bahia, é justamente esse aprendizado. Ja que não há policiamento nas cidades, vândalos e marginais agem de todas as maneiras possíveis.
Ja que o Estado em todos os âmbitos(federal, estadual e municipal), não estão preocupados com a segurança do povo, sobra para o Exército atuar. Mas um exército tambem combalido e despreparado, começando pelos material bélico e demais equipamentos(ultrapassados).

O avião que sairia da capital do país, levando tropas para a capital dos baianos, deu 'chabú'. Por pane apresentada, continua no solo. A presença de Ministro e chefes na 'hospitaleira terra', è para fazer turismo e chamar a atenção da imprensa. Nada resolve chorar-se sob O LEITE DERRAMADO.

A classe política, tem sim, de tomar vergonha nas deslavadas caras e promover projetos e programs socias que evitem esse estado de coisas. Que belo cartão postal o Governo brasileirontes em estadios de futebol, afim de realizar a Copa do Mundo. Será q está oferencendo ao mundo!!!!!!! e ainda está a gastar milhões dos contribuiue, com tanta segurança que existe no Brasil, os turistas terão dúvidas em vir para cá?

4 de fevereiro de 2012
Postado por('O INDIGNADO')

NÃO É ANARQUISTA OU SUBVERSIVO!

REPASSANDO A PEDIDO e PEDINDO PARA REPASSAR
GRUPO GUARARAPES

O “menino” Rafael Alves, 29, e seus cinco processos!
Vocês se lembram dele?

É Rafael Alves, um “menino” (como diria José Roberto Burnier, da TV Globo) de 29 aninhos, uma criança mesmo! Ele é um dos líderes da invasão da Reitoria da USP. Foi o cara, aliás, que falou com a reportagem da Globo no dia em que a Polícia Militar restaurou o estado de direito no campus. No ano que vem, segundo o “Estatuto da Juventude” da Terceira Idade, da deputada Manuela D’Ávila (PCdoB-RS), ele perde o direito de fazer cocô na fralda e já pode ser considerado, ora vejam!, um adulto! Pode ganhar um peniquinho de presente!

Muito bem! Essa criança ficou sete anos na USP sem concluir o curso de Letras, morando de graça no Crusp e comendo no bandejão a R$ 1,90. A classe operária não tem essa regalia, como sabem. Ela subsidia a pança dos folgados. A Universidade oferece almoço, janta e café da manhã. Tudo pago pelo contribuinte. Esse infante acabou jubilado. O “menino” fez o quê? Prestou vestibular de novo e voltou ao primeiro ano e agora tenta recuperar o “seu” apartamento. Quem sabe para passar os próximos oito anos na USP, morando e comendo quase de graça.

Pois bem. Os links abaixo remetem a páginas do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Segue a lista de inquéritos em que este poeta libertário é réu. O primeiro deles diz respeito à invasão da USP. Há de tudo: dano ao patrimônio, lesão corporal, injúria, até crime contra o meio ambiente. Essa juventude rebelde é fogo!

0023563-10.2011.8.26.0011
Auto de Prisão em Flagrante / Dano Qualificado
Indiciado: Rafael Ferreira Alves
Recebido em: 09/11/2011 - 1ª Vara Crim.e do Juiz.Viol.Dom. e Fam.Cont.Mulher

0015002-94.2011.8.26.0011
Inquérito Policial / Dano Qualificado
Autor do Fato: Rafael Ferreira Alves
Recebido em: 11/07/2011 - 1ª Vara Crim.e do Juiz.Viol.Dom. e Fam.Cont.Mulher

0015006-34.2011.8.26.0011
Inquérito Policial / Injúria
Autor do Fato: Rafael Ferreira Alves
Recebido em: 11/07/2011 - 1ª Vara Crim.e do Juiz.Viol.Dom. e Fam.Cont.Mulher

0000173-11.2011.8.26.0011
Inquérito Policial / Lesão Corporal
Autor do Fato: Rafael Ferreira Alves
Recebido em: 06/01/2011 - 1ª Vara Crim.e do Juiz.Viol.Dom. e Fam.Cont.Mulher

0024637-36.2010.8.26.0011
Inquérito Policial / Crimes contra o Meio Ambiente e o Patrimônio Genético
Autor do Fato: Rafael Ferreira Alves
Recebido em: 12/11/2010 - 1ª Vara Crim.e do Juiz.Viol.Dom. e Fam.Cont.Mulher

Eu entendo Rafael. Como ele é contra o “estado burguês explorador”, decidiu, então, explorar o estado burguês — sustentado pelos trabalhadores, né?, como diriam os marxistas.

Por Reinaldo Azevedo
10/11/2011

Eles odeiam o povo. Eles odeiam os pobres. Eles precisam é de cadeia, não de escola gratuita! Ou: Uma pequena crônica da luta de classes
Felipe de Ramos Paiva, o estudante assassinado na USP, era filho de gente pobre, como se lê no post abaixo. Morava com os pais em Pirituba, um bairro da periferia de São Paulo. Se você é carioca, eu diria que é mais ou menos como se um garoto de Bento Ribeiro — não do Leblon ou de Ipanema — conseguisse entrar numa das universidades mais concorridas do país. Se você é de Belo Horizonte, é como se Felipe fosse do Taquaril, entendeu?, não do Sion ou do Carmo. Se você é de Curitiba, Felipe era de Cidade Industrial, não do Batel ou Champagnat. Se você é de Porto Alegre, Felipe era de Bom Jesus, não de Três Figueiras ou Bela Vista.

Esse era Felipe. Quando foi assassinado, um setor incrivelmente cruel e vigarista da imprensa paulistana tentou caracterizá-lo como um individualista, que só pensava em subir na vida, obcecado, vejam que crime!, pelo desempenho escolar e pela ascensão profissional. Os ricos de várias gerações acham que gente assim não merece muito respeito; vêem traços de arrivismo. A ele se atribuía uma frase: “O que é meu ninguém toma”. Tentaram usá-la para caracterizar um temperamento meio esquentado — no fundo, a canalha o responsabilizava pela própria morte. Pior ainda: ele havia comprado um carro usado blindado. Suprema ousadia! Foi morto antes que conseguisse entrar no veículo por marginais acoitados na USP.

Os maconheiros que invadiram a Reitoria, ao contrário de Felipe, não são de Pirituba, Bento Ribeiro, Taquaril, Cidade Industrial, Bom Jesus… Os maconheiros que invadiram a reitoria são filhos da classe média alta e da burguesia, que descobriram as glórias do socialismo e são contra a presença da PM, que estaria lá em nome da opressão do capital! É claro que seus pais não são necessariamente culpados, mas deu para perceber que muitos deles foram se solidarizar com suas crias. Aqueles delinqüentes são também filhos do laxismo, do vale-tudo, da falta de rigor.

A canalha não deixa de ter certa razão. Há, sim, traços de luta de classes no conflito da USP. Só que os autoritários, as elites perniciosas (porque existe a boa elite, é evidente!), os aproveitadores, os exploradores são exatamente estes que se vestem com andrajos de grife para falar em nome da liberdade.

No fundo, essa gente odeia pobre!
No fundo, essa gente odeia os Felipes Ramos de Paiva.

No fundo, essa gente acha que a universidade é uma questão privada, que pertence a seu grupo social, a seu estamento. Por isso não querem a PM por lá. Entre outras razões, PM também é povo. E eles odeiam o povo em nome do qual falam.

O invasor da Reitoria é a Tereza Cristina que fuma maconha!

Eles não precisam de escola, não! Eles precisam é de cadeia!

Fascistas!

Por Reinaldo Azevedo

DOC. Nº 9 - 2012

VAMOS REPASSAR, MESMO!

O BRASIL PRECISA SABER A VERDADE!

CNJ: A VITÓRIA DA DEMOCRACIA, DA TRANSPARÊNCIA E DA IGUALDADE PERANTE A LEI

O dia 2 de fevereiro de 2012 ficará marcado, na história-pátria, como o dia em que, após quase 123 anos de Brasil-República, foi definitivamente ratificado, no estado democrático brasileiro, o pressuposto constitucional de que todos são iguais perante a lei. Ou seja, todos podem ser investigados por seus atos, inclusive magistrados e também publicamente.

O Supremo Tribunal Federal, ainda que numa difícil votação entre seus ministros (6×5), devolveu ao Conselho Nacional de Justiça o direito de investigar magistrados por desvios de conduta, independentemente de ações nas corregedorias dos tribunais estaduais. E mais, para o bem da democracia, processos disciplinares contra juízes serão julgados em sessão pública. Ou seja: o controle externo e transparente do Poder Judiciário está consolidado, após mais de um século de república.

A grande verdade é que até o rumoroso caso do Juiz Nicolau ( apelidado de “Juiz Lalau”), hoje recolhido à prisão domiciliar, em razão da idade, pouco se sabia sobre crimes e condutas desviantes de juízes e desembargadores. No máximo tinha-se notícia de crimes passionais que envolviam magistrados.

Prevalecia até então a dura e realista afirmativa da insigne ministra corregedora do CNJ, Eliana Calmon, de que “ havia bandidos escondidos atrás da toga”. Mais do que ninguém ela sabe.

Em qualquer profissão, e magistrados como seres humanos estão também sujeitos aos atos falhos e à fraqueza moral, há bons e maus profissionais.Há bons e maus servidores públicos ou não. Desembargadores, juízes, políticos, autoridades governamentais, autoridades policiais, agentes da autoridade, médicos, militares de alta patente, dirigentes de empresas privadas, engenheiros, fiscais de renda, diretores de estatais e autarquias, conselheiros de tribunais de contas, etc.., etc.., na obtenção de vantagem indevida ( crime de concussão quanto se trata de servidores públicos), cometem gravíssimos desvios de conduta no exercício do cargo ou crimes diversos fora de suas atribuiçoes em sua vida privada, atentatórios ao decoro de classe.

Precisam, pois, sem exceções e privilégios, ser fiscalizados e prontamente investigados na existência de indícios de condutas indevidas e sobretudo de forma transparente.

A Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), que arguiu junto ao STF a cassação dos poderes do Conselho Nacional de Justiça, deve também comemorar a decisão histórica. A imensa maioria de desembargadores e juízes que cumprem com denodo e honradez a nobre missão – muitos até ameaçados de morte – nada tem a temer. Há agora, definitivamente, a real possibilidade de separar o joio o trigo. Todos, de uma vez por todas, são agora iguais perante a lei, inclusive magistrados.

O espírito da lei terá que prevalecer sempre sobre o corporativismo que é nefasto a qualquer classe de profissionais. A última possibilidade de perpetuação de uma indesejável ‘caixa-preta’chegou ao fim. Para o bem da democracia, o princípio da transparência dos atos públicos, a começar pelo Poder Judiciário, foi restabelecido.

Comemoremos, para sempre, o 2 de fevereiro de 2012. O Estado Democrático de Direito saiu vitorioso. Sem justiça transparente não há democracia.

Milton Corrêa da Costa
04 de fevereiro de 2012