"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 26 de junho de 2012

COERÊNCIA É ISSO AÍ...

O clube dos bolivarianos decidiu que o Paraguai deveria ser punido porque o companheiro Fernando Lugo não teve tempo suficiente para defender-se das acusações que resultaram na decretação do impeachment. E puniu o novo governo paraguaio sem permitir que o acusado exercesse o direito de defesa.
“O advogado do presidente Lugo só teve duas horas para expor seus argumentos”, indignou-se em nome da turma a viúva profissional Cristina Kirchner. O presidente Federico Franco não teve sequer um segundo.

26 de junho de 2012
Augusto Nunes

LEITURA OBRIGATÓRIA!

‘A Guarânia do Engano’, do jornalista paraguaio Chiqui Avalos

O texto do jornalista paraguaio Chiqui Avalos publicado na seção Feira Livre é leitura obrigatória para os interessados em compreender a saga desta região da América do Sul. Aparentemente longa, “A Guarânia do Engano” é uma radiografia dolorosamente nítida de quase dois séculos de história.

                         ‘A Guarânia do Engano’


“A história do Brasil, vista desde o Paraguai, é outra”
(Millôr Fernandes)
Como num verso célebre de meu inesquecível amigo Vinicius de Moraes, “de repente, não mais que de repente”, alguns governos latino-americanos redescobrem o velho e sofrido Paraguay e resolvem salvar uma democracia que teria sido ferida de morte com a queda de seu presidente. Começa aí um engano, uma sucessão de enganos, mentiras e desilusões, em proporção e intensidade que bem serve a que se componha uma melodiosa guarânia, mas de gosto extremamente duvidoso.

Sucedem-se fatos bizarros na vida das nações em pleno século XXI. Uma leva de chanceleres, saídos da espetaculosa e improdutiva Rio+20, desembarca de outra leva de imponentes jatos oficiais no início da madrugada de um incomum inverno, e ─ quem sabe estimulados pela baixa temperatura ─ se comportam com a mesma frieza com que a “Tríplice Aliança” dizimou centenas de milhares de guaranis numa guerra que arrasou a mais desenvolvida potência industrial da América Latina.

Surpresos? Pois, sim, não é para menos. Éramos ricos, muito ricos, industrializados, avançados, educados, cultos, europeizados, amantes das artes, dos livros, das óperas, do desenvolvimento.

Nossos antepassados brilharam na Sorbonne e assinaram tratados acadêmicos, descobertas científicas ou apurados ensaios literários. A menção de nossa origem não provocava o deboche ou ironia tão costumeiros nos dias tristes de hoje, mas profundas admiração e curiosidade dos que acompanhavam nossa trajetória como Nação vencedora. Não ficamos célebres como contrabandistas ou traficantes, mas como povo empreendedor e progressista. A organização de nossa sociedade, a intensa vida cultura, o progresso econômico irrefreável, a bela arquitetura de nossas cidades, nossos museus e livrarias, a invulgar formação cultural de nossa elite, a dignidade com que viviam nossos irmãos mais pobres (sem miséria ou fome) impressionavam e merecem o registro histórico.

A rainha Vitória, que não destinou ao resto do mundo a mesma sabedoria com que governou e marcaria para sempre a história do Reino Unido, armou três mercenários e eles dizimaram a potência que, com sua farta e boa produção e espírito desbravador, tomava o mercado da antiga potência colonial aqui, do lado de baixo do Equador. Brasil, Argentina e Uruguay, como soldados da Confederação, nos arrasaram. Nossos campos foram adubados pelos corpos de nossos irmãos em decomposição, decapitados à ponta de sabre e com requintes de sadismo. O Conde D’Eu, marido de quem libertaria os negros da escravidão e entraria para a história do Brasil, comandava pessoal e airosamente o massacre. Os historiadores, essa gente bisbilhoteira e necessária, registraram seu apurado esmero e indisfarçável prazer. O nefasto delegado Sérgio Fleury teve um precursor com quase um século de antecedência…

Nossas cidades terminaram por ser habitadas por populações majoritariamente compostas de mulheres e crianças. Poucos homens restaram do genocídio perpetrado. Pedro II, que marcaria a história do Brasil por sua honradez, comportou-se de forma impressionante nessa obscura página da história do Brasil, mas inversamente conhecidíssima na história de meu país: não moveu uma palha ou disse palavra acerca do sadismo de seu genro criminoso.
Documentos por mim revirados no Arquivo Nacional, no Rio de Janeiro, mostram a assinatura do velho Imperador autorizando a compra de barcos, chatas, cavalos e tudo o que fosse necessário para uma caçada de vida ou morte (mais de morte, certamente) a Lopez. Não bastava derrotar o déspota esclarecido, o republicano que os humilhava, o que havia desafiado todos os impérios, o da Inglaterra, o do Brasil, o da Espanha… Era preciso assinar seu epitáfio e esculpir sua lápide. E assim foi feito.

Derrotados, nunca mais fomos os mesmos. Passamos a ser conhecidos por uma República já bicentenária, mas atrasada em comparação aos vizinhos. Enfrentamos uma guerra cruel com a Bolívia na primeira metade do século passado. Roubaram-nos importante faixa territorial do Chaco, região paradoxalmente inóspita e riquíssima. Ganhamos a guerra. Nossos soldados mostraram a valentia e patriotismo que brasileiros, uruguaios e argentinos bem conheceram mais de meio século antes.

Nossa incipiente aviação militar e seus jovens pilotos assombraram os experts norte-americanos pela refinada técnica e o sucesso de suas ações contra o agressor. Mas numa história prenhe de ironias, vencemos a guerra e… jamais recuperamos as terras! Os bolivianos, que jamais olham nos olhos nem das pessoas nem da história, certamente se rejubilam em sua “andina soledad”, e como os argentinos depois da inexplicável Guerra das Malvinas, sabem-se “vice-campeones”…

Mal saímos da Guerra do Chaco e experimentamos a mesma e usual crônica tão comum a rigorosamente todos os outros países latino-americanos. Golpes e contra-golpes, instantes de democracia e hibernações em ditaduras ferrenhas. Presidentes se sucederam despachando no belíssimo Palácio de Lopez e vivendo na vetusta mansão de Mburuvicha Roga (“A casa do grande chefe”, em guarani). Uns razoáveis, outros deploráveis.
Nenhum deles, entretanto, recuperou a glória perdida dos anos de riqueza, opulência e fartura. Um herói da Guerra do Chaco tornou-se ditador e nos oprimiu por mais de três décadas. Homem duro, mas de hábitos espartanos e por demais interessante, o multifacético Alfredo Stroessner não recusou o papel menor de tirano, mas construiu com o Brasil a estupenda hidrelétrica de Itaipu, a maior obra de engenharia de seu tempo, salvando o Brasil de previsível hecatombe energética.
Foi parceiro e amigo de todos os presidentes do Brasil de JK a Sarney. Com os militares pós-64 deu-se às mil maravilhas, mas foi de suas mãos que o exilado João Goulart recebeu o passaporte com que viajaria para tratar sua saúde com cardiologistas franceses. Deposto, o velho ditador morreu no exílio, no Brasil. Nós que o combatíamos (nasci em Buenos Aires, onde meu pai, empresário de sucesso mas adversário da ditadura, curtia seu exílio) jamais soubemos de ação qualquer, uma que fosse, do Brasil em seus governos democráticos contra a ditadura do general que lhes deu Itaipu.

A vez de Fernando Lugo

Depois de duas décadas da derrubada de Stroessner, nos aparece Fernando Lugo. Sua história é peculiar. Era bispo de San Pedro, simpaticão e esquerdista, pregava aos sem-terra e parecia não incomodar ninguém, nem aos fazendeiros da área. Pelos idos de 2007 o então presidente Nicanor Duarte Frutos, um jovem jornalista eleito pelos colorados, resolve seguir o péssimo exemplo de Menem, Fujimori e Fernando Henrique, e deixa clara sua vontade de mudar a Constituição e permanecer no presidência, através do instituto inexistente da reeleição. Seu governo era mais que sofrível e ─ descupem-nos a imodéstia lastreada em nossa história ─ nós, os paraguaios, não somos dados ao desfrute de mudar nossa Carta Magna ao sabor da vontade de presidente algum.

O país se levantou contra a aventura e ele, o bispo bonachão, justamente por não ser político e garantir que não alimentava qualquer ambição de poder, é escolhido para ser o orador de um grande ato público, com dezenas de milhares de pessoas no centro de Assunção. Pastoral, envolvente, preciso, o Bispo de San Pedro cativou a multidão, deu conta do recado e catalisou a imensa indignação da cidadania. A aventura continuísta de Nicanor não foi bem-sucedida, mas, com a sutileza de um príncipe da Igreja nos intricados concílios que antecedem a fumacinha branca no Vaticano, nos aparece um candidato forte à presidência da República: ‘habemus candidatum’! A batina vestia mais que um pastor, escondia um homem frio, ambicioso, ingrato e profundamente amoral.

Seu primeiro problema foi com a Santa Madre Igreja. A Santa Sé, certamente por saber algo que nós não sabíamos, vetou sua disposição política. Não, de jeito algum, ele jamais poderia ser candidato. A igreja católica combateu a ditadura do general Stroessner com imensa coragem e ação firme, mas não queria ocupar a presidência do país. “Roma coluta, causa finita” (“Roma falou, questão decidida”).

Mas não para Lugo, que deixou seu bispado, despiu a batina e virou às costas a quem lhe educou e lhe acolheu no seu seio. Poucos e corajosos colegas Bispos e padres o apoiaram abertamente.
Na última sexta-feira, depois de três anos sem vê-lo ou serem por ele procurados, esses mesmos amigos e apoiadores foram até a residência presidencial pedir ─ em vão ─ que Lugo renunciasse à presidência do Paraguay para que se evitasse derramamento de sangue. O homem seduzido pelo poder disse não com frieza, levantando-se e despachando aqueles inoportunos portadores da palavra divina.

Candidato sem partido, entretanto com as simpatias da clara maioria do eleitorado. Filiou-se, pois, a um partido e o escolhido foi o centenário e respeitável PLRA, dos liberais, há mais de 60 anos fora do poder e com a respeitável bagagem de uma corajosa oposição à ditadura stroessnista. Como um Jânio Quadros, Lugo filiou-se ao Partido Liberal Radical Autêntico e usou sua bandeira, sua história e sua estrutura capilarizada em toda a sociedade paraguaia. E depois deu-lhe um adeus de mão fechada, frio e indiferente.

Eleito, desfez-se de todos os companheiros de jornada. Um a um. Stalin não apagou tantos nas fotos oficiais do Kremlin como o ex-bispo o fez. Mas demitiu os mais qualificados, por sinal. Restaram-lhe os cupinchas, os facilitadores de negócios e de festinhas íntimas, os “operadores” e alguns incautos esquerdistas para colorir com as tintas de um risível ‘socialismo guarani’ o governo de um homem que chegou como o Messias e terminaria como um Judas Escariotes.

Lugo poderia emprestar seu nome e sua trajetória de vida política (e pessoal, também) ao mestre Borges e tornar-se uma das impressionantes personagens da “História Universal da Infâmia”. Um infame, não mais que isso! Mal foi eleito e empossado, sucedem-se escândalos e se revela seu procedimento moral. Filhos impensados para um supostamente casto Bispo. Vários. Todos jamais reconhecidos ou amparados, gerados com mulheres as mais pobres e sem instrução alguma, do meio rural, humilhadas depois de usadas, uma delas com apenas 16 anos quando da gravidez. Se traíra a sua Igreja, por qual razão não nos trairia? E traiu.

Não passou um mês sequer durante seus três anos de governo sem que viajasse a um país qualquer. Com razão ou sem nenhuma, tanto fazia, e lá se ia ele, o alegre viajante para conferências esvaziadas ou cerimônias de posse de mandatários sem importância ou relevo para o Paraguay. As pompas do poder o abduziram como a nenhum déspota de república bananeira do Caribe.
Os comboios de limusines com batedores estridentes, as festas e beija-mãos, os eternos e maviosos cortesãos do poder, as belas mulheres, as mesas fartas, os hotéis cinco estrelas, a riqueza, a opulência, os “negócios”. O despojado ex-bispo tornou-se grande estancieiro, senhor de terras, plantações e gado.

O presidente que tomou posse calçando prosaicas sandálias como símbolo de humildade, revelou-se um homem vaidoso e fetichista. Como que a vestir a mentira em que ele próprio se tornou, passou a envergar elegantes e bem-cortadas túnicas encomendadas à alfaiates da celebérrima e caríssima Savile Row, templo londrino da moda masculina. No detalhe, o estelionato (mais um): colarinhos eclesiásticos. Afeiçoou-se a lindas e jovens, digamos, “modelos”, que floriram sua vida e a imensa banheira Jacuzzi que mandou instalar na austera e velha residência presidencial. Muitas delas o precediam mundo afora, esperando-o em hotéis fantásticos e palácios, nas vilegiaturas internacionais. Viajavam com documentos oficiais. Kaddafi auspiciava passaportes diplomáticos a terroristas, Lugo, a prostitutas.

O veto de Itaipu

Sua afeição pelos jatinhos e jatões chegou às raias do fetiche: passou boa parte de seu peculiar mandato a bordo deles. Fretados a empresas de táxi aéreo de outros países, mandados pelos amigões Hugo Chávez e Lula, outros emprestados sabe-se lá por uns tais e misteriosos amigos. Chocou-se com o brasileiro Jorge Samek, fundador do PT e competente gestor, que na presidência brasileira da Itaipu resolveu vetar capricho juvenil do ex-bispo e delirante presidente: a poderosa binacional compraria um jato para seu uso. Um Gulfstream estaria de bom tamanho, quem sabe um Falcon, ou até um brasileiríssimo Legacy, mas ele precisava ardentemente de um jato para chamar de seu.

Depois mandou que o comandante da Força Aérea negociasse um Fokker 100, adaptado com suíte e ducha. Nada feito, o raio de ação seria pequeno e ele precisava ganhar o mundo. Por fim, nos estertores de seu governo, entabulava a compra de um Challenger, usado mas chique, de um cartola do futebol paraguaio. O preço, como sempre, mais um escândalo da Era Lugo: pelo menos o dobro de um modelo novo, saído de fábrica…

Obras viárias? Imagine. De infraestrutura? Nenhuma. Modernização do país? Nem pensou nisso. Crescimento econômico? Sim, mas por obra de uma agricultura forte, de empresários jovens e ambiciosos, de uma indústria florescente e de um ministro da economia, Dionísio Borda, que destoou da regra geral do governo Lugo: competente e austero, imune às vontades do presidente e distante da escória que o cercava. A cada novo dia, no parlamento, nas redações, nos sindicatos, nos foros empresariais, nos encontros de amigos, um novo comentário, uma nova história de mais uma negociata dos assessores e companheiros de Lugo. Proporcionalmente, nem na ditadura de Stroessner (mais de três décadas), se roubou tanto quanto no governo pseudo-esquerdista de Fernando Lugo (menos de três anos). Já com Lugo deposto, seu secretário mais forte, Miguel Lopez Perito, telefonou à diretoria da Itaipu solicitando a bagatela de US$ 300 mil para organizar uma manifestação em defesa do governo. Queria ao vivo e em cores, “na mala”, por fora, não contabilizado, no “caixa 2″. Que tal? Fato tornado público por um diretor da binacional e revelador do modus-operandi da verdadeira quadrilha que comandava o país.

O impeachment

Seu processo de “Juízo Político” ─ algo como um processo de impeachment ─ está previsto na Constituição do Paraguay, e não foi uma travessura histórica de meia dúzia de líderes políticos ou parlamentares revidando as descortesias de Lugo para com os partidos, os empresários, os paraguayos todos. Que tipo de presidente era esse que teve 73 deputados votando por sua queda contra apenas 1 solitário voto? Que espécie de chefe da Nação era esse que teve 39 votos contrários no Senado contra apenas 4 de senadores fiéis ao seu desgoverno? Não teve tempo, apenas duas horas para defender-se, dizem. Ora, a Constituição não determina tempo, apenas assegura-lhe o direito de defesa, exercido através de competentíssimos advogados, que fizeram exposições brilhantes na defesa do indefensável. Um deles, Dr. Adolfo Ferreiro, admitiu claramente que o processo era legal.
De outro, Dr. Emilio Camacho, em imponente ironia da história, os magistrados da Suprema Corte extraíram em um de seus celebrados livros aqueles ensinamentos necessários e a devida jurisprudência para rechaçar chicana jurídica do já ex-presidente contra o processo legal, constitucional e moral que o defenestrou. C’est la vie, Monsieur Lugo!

Em Curuguaty, num despejo de terras ocupadas pelos “carperos” (os sem-terra daquí), dezenas de mortes de ambos os lados. Lugo e seu ministro do interior, o belicoso senador Carlos Filizzola, foram avisados de que havia uma emboscada pronta para as forças militares. Com a empáfia e a absoluta irresponsabilidade que os caracterizaram do primeiro ao último dia, e fiéis aos amigos que manejam o MST daqui e infernizam a vida de nossos produtores rurais (entre os quais os 350 mil brasileiros que aqui plantam, colhem e vivem, nossos irmãos “brasiguayos”), ambos ordenaram a ação que se tornou uma tragédia na história de nosso país. Poderia citar, também, o EPP (Exército do Povo Paraguaio), guerrilha formada por terroristas intimamente ligados a Lugo em seus tempos no bispado de San Pedro. Jamais as forças de segurança puderam fazer nada contra eles. Mapeados, identificados, monitorados e livres! Lugo se manteve fiel aos bandidos pelos quais mostra clara e pública afeição. Como o respeitado Belaúnde Terry, no Peru, que permitiu com seu “democratismo” o crescimento do terror representado pelo Sendero Luminoso de Abimael Guzmán, o nada respeitável Lugo é o pai e a mãe do EPP.

Um hiato na história

Fernando Lugo foi um acidente em nossa história. Necessário, mas sofrido. Seus defeitos superaram suas virtudes. Aqueles eram muitos, essas muito poucas. Nós que nele votamos, sequiosos de um Estadista, nos deparamos com um sibarita. Seu legado é de decepção e fracasso. Não choraram por ele dentro de nossas fronteiras, e os que o defendem fora delas o fazem muito mais pensando no que lhes pode ocorrer do que por solidariedade ao desfrutável governante e desprezível homúnculo que cai.

O fim de seu governo dói mais a um já dolorido Chávez do que a nós. A Senhora Kirchner, radical na condenação que nos impõe, se esquece de nossa parceria na importante e gigantesca usina hidrelétrica de Yaciretá, e amplia sua lucrativa viuvez acolhendo em seu seio choroso o decaído amigo. Solidária? Nem tanto, apenas oportunista e sabendo que se abriu o precedente para que os parlamentos expulsem os incapazes. Na Bolívia o sentimento popular em relação ao sectário e também bolivariano Evo Morales não é diferente do sentimento dos paraguayos por Lugo no outono de sua aventura presidencial. É pior. O relógio da história irá tocar as badaladas do fim de uma aventura mais que improdutiva: raivosa, racista e liberticida.

A posição brasileira

Não compreendemos a posição do Brasil. Ou não queremos compreender, tanto é o bem que lhe queremos. Nos arrasou como sicário da Rainha Vitória e nós lhe perdoamos e juntos construímos o colosso de Itaipu. O tratamos bem e ele defende a continuidade de uma das piores fases de nossa história, em nome do quê? Nega-nos o direito à autodeterminação, mas se esquece do papelão ridículo que fez em defesa de um cretino como Zelaya, um corrupto ligado a grupos somozistas de extermínio e que era tão esquerdista como Stroessner e democrático quanto Pinochet.

Foi deplorável o papel do inexpressivo chanceler Patriota (que não se perca pelo nome), saracoteando pelas ruas de Assunção em desabalada carreira, indo aos partidos Liberal e Colorado pressionar em favor de um presidente que caía. Adentrando o Parlamento ao lado do chanceler de Hugo Chávez, o Sr. Maduro, para ameaçar em benefício de um presidente que o país rejeitava. Indo ao vice-presidente Federico Franco ameaçar-lhe, com imensa desfaçatez, desconhecendo seu papel constitucional e o fato de que ninguém renunciaria a nada apenas por uma ameaça calhorda da Unasul (que não é nada) e outra ameaça não menos calhorda do Mercosul (que não é nada mais que uma ficção). O Barão do Rio Branco arrancou seus bigodes cofiados no túmulo profanado pelo Itamaraty de hoje.

O que quer o governo Dilma? Passar pelo mesmo vexame de Lula na paupérrima Honduras? Se afirmativo, já fica sabendo que passará. Nós temos imensa disposição de continuar uma parceria que se revelou positiva e decente para ambos os países. Mas não sentimos ou temos pela austera presidente o mesmo terror-medo-pânico que lhe devotam seus auxiliares e ministros. Cara feia não faz história, apenas corrói biografias. Dilma chamou seu embaixador em Assunção e Cristina fez o mesmo. As radicais matronas só não sabiam que o embaixador brasileiro é um ausente total, vivendo mais tempo em Pindorama do que por aqui.
O Embaixador Eduardo Santos é tido no Paraguay como alguém que acredita que as melhores coisas em nosso país são ar condicionado e passagem de volta. Recorda o ex-embaixador Orlando Carbonar, que foi pego de surpresa em fevereiro de 1989 pelo movimento que derrubou o general Stroessner.

Até meus filhos, crianças na época, sabiam que o golpe se avizinhava e que estouraria a qualquer momento, menos o embaixador brasileiro, que descansava no carnaval de Curitiba, sua cidade natal. Voltou às pressas, num jatinho da FAB, para embarcar Stroessner rumo ao Brasil. E a Argentina… Bem, a Argentina nã
o tem embaixador no Paraguay faz alguns meses… Ocupadíssima, Dona Cristina não nomeou seu substituto. País de necrófilos (amam Gardel, Che, Evita e Maradona, dentre outros defuntos), chamou um embaixador que não existe, um diplomata fantasma, até a Casa Rosada para consultas.

O Paraguay fez o que tinha que fazer. Seguirá adiante, como seguem adiante as Nações, testadas e curtidas pelas crises que retemperam a cidadania e reforçam a nacionalidade. O religioso que não honrou seus votos de castidade e pobreza e traiu sua igreja, foi por ela rejeitado. O presidente que não honrou nossos votos e nos traiu foi por nós deposto. Deposto por incapaz, por mentiroso, por ineficiente, por desonesto. Mas principalmente porque traiu as esperanças de um país e um povo que precisaram dele e nele confiaram. E, por isso, Lugo não voltará.

26 de junho de 2012
(*) Chiqui Avalos é conhecido escritor e jornalista paraguaio. Combateu a ditadura de Stroessner e apoiou a candidatura de Fernando Lugo. É o editor de “Prensa Confidencial”, influente boletim digital editado no Paraguai.

GIGOLÔS DAS ANGÚSTIAS HUMANAS AMPLIAM MERCADO DE TRABALHO


Leio na Zero Hora: “Encilhar o cavalo, preparar a sela e seguir um circuito pelo picadeiro no ritmo ditado pelo instrutor. Terminada a seqüência, conduzir o cavalo para a baia, ajudar a limpar e alimentar o animal. Luciano Batista Nascimento, 12 anos, cumpre esse ritual uma vez por semana. Não é treino nem brincadeira. É terapia”.

Mais precisamente, equoterapia, uma das últimas modas criadas pelos ditos terapeutas. Acabo de descobrir que fiz terapia desde criança e não sabia. Nasci quase em lombo de cavalo, desde pequeno os encilhei e não os conduzi à baia porque isso é coisa que não existia em meus pagos. Após a cavalgada, largávamos o animal no campo. Vai ver que é por isso que sou hoje um ser mentalmente tão saudável. Claro que há quem me tome por insano e julgue que necessito urgentemente de terapia. Que se vai fazer? Impossível agradar a todo mundo.

Que cavalgar é bom, quem vai negar? Pequeno, tive um petiço, bichueco por sinal, mas foi nele que aprendi a montar. Mais tarde, tive cavalo de gente grande, e sempre gostei de lidar com eles. Nunca imaginei que isto constituísse terapia. Para mim, era meio de transporte, trabalho e lazer. Transporte para ir à escola ou visitar meus tios, trabalho na hora de ligar com o gado, lazer quando simplesmente saía a cavalgar ou caçar. É óbvio que uma criança urbana se sentirá muito bem, longe da cidade, montando um cavalo. Daí a ser terapia, me parece embuste dos psis. A menos que se considere que fazer algo agradável é sempre terapêutico.

Segundo a reportagem, na quarta série do ensino fundamental, Luciano já repetiu de ano duas vezes e dava trabalho à mãe, Rejane Nascimento, e aos professores da Escola Jardim Vila Nova, Porto Alegre, por causa da falta de disciplina e das notas baixas. Em acompanhamento psicológico e neurológico para investigar as causas da dificuldade de aprendizado, chegou à equoterapia por sugestão da diretora da escola, Tânia Araújo, que percebeu que ele gostava muito de cavalos. Segundo ela, o desempenho na escola tem melhorado com a continuidade do tratamento. A mãe de Luciano também nota que as sessões semanais que ele frequenta desde março fizeram diferença.

Essa agora! Andar a cavalo ajuda no rendimento escolar. Mais um pouco e os terapeutas descobrem que nadar, andar de bicicleta ou praticar qualquer esporte prazeroso estimula uma criança a aprender.

Equoterapia está na moda. Para quem pode pagar, é claro. Há anos venho denunciando estas vigarices, que só servem para enganar a classe média urbana. Digo classe média urbana, pois jamais enganarão um camponês, cujo filho precisa de um cavalo para ir à escola. Cavalo, no caso, não é luxo, mas meio de transporte.

Há horas venho denunciando estes gigolôs das angústias humanas, que transformam em doença circunstâncias banais da existência, para delas tirarem seus rendimentos. Ano passado, eu comentava uma nova vigarice que surgiu no mercado, a terapia do luto. No UOL, li entrevista com Cissa Guimarães, atriz que optara pela terapia do luto após perder o filho.

"A terapia do luto foi fundamental para que eu conseguisse sobreviver à maior dor de um ser humano", diz a atriz. "Consegui isso com a ajuda terapêutica de Adriana Thomaz. Com ela, entendi melhor a morte, como fazer a conexão com o amor do meu filho e como reaprender a viver."

Pelo jeito, o homem contemporâneo, apesar de milênios de evolução, ainda não aprendeu a lidar como o mais corriqueiro dos fatos humanos. Se a moda pega, os terapeutas do luto vão brotar como cogumelos após a chuva. Se cada vez que morre uma pessoa querida, temos de pagar um analista para enfrentar sua morte, o leitor pode ter uma idéia do baita mercadão que se abre aos gigolôs das angústias humanas.

Os psis continuam ampliando seu mercado. Na Folha de São Paulo de ontem, li que o Conselho Federal de Psicologia (CFP) vai permitir mais sessões de terapia, num máximo de 20, por e-mail, MSN ou Skype. Até aí nada de mais, vivemos dias de Internet. O que me deixou perplexo foi ler que a orientação psicológica na web atende problemas pontuais do paciente, como dificuldades de adaptação em uma nova cidade, problemas escolares do filho ou questões afetivas.

Se entendi bem, a cada vez que se muda de cidade, devemos consultar um psicólogo. Nossa! Já vivi em nove cidades e nunca consultei nenhum. Devo ser um desajustado. Para começar, inicialmente não precisei adaptar-me a uma cidade. Mas à cidade, pois vinha do campo, de alpargatas e bombachas. Lá, não existia mais campo aberto, horizontes, vacas e cavalos. Mas ruas acanhadas, pátios exíguos, nem sombra de horizonte, nem de vacas e cavalos. Mas gente, muita gente. Apesar de a cidade ser pequena.

Fui depois para as cidades grandes. Em Porto Alegre, não sabia nem como descer de bonde andando. (Era ainda na época dos bondes). Precisei adaptar-me à nova e complexa geografia, a horários mais rígidos, aos transportes urbanos. Mais adiante, troquei de país. Novas necessidades. Precisei aprender como usar o metrô, como comunicar-me em línguas que não as minhas, como enfrentar hábitos e culinárias que desconhecia. Jamais me ocorreu pedir socorro a psicólogo algum. Sempre enfrentei tais mudanças como um desafio. Mudar bruscamente de cidade – e mais ainda de país – é sempre um teste para nossa capacidade de sobrevivência. Só o que faltava buscar um terapeuta para adaptar-me a Estocolmo, Paris ou Madri.

Vejo ainda que psicólogos se tornaram necessários para resolver problemas escolares e questões afetivas. Ora, problemas escolares existem desde que existem escolas. E questões afetivas sempre acompanharam quem nutriu por alguém algum afeto. Fazem parte do dia-a-dia de cada um. Pelo que se depreende da decisão do CPF, cada cidadão deve andar com um psicólogo a tiracolo.

O que nos leva a um mistério. Como faziam os homens d’antanho - daqueles tempos em que a psicologia não se instalara ainda como ciência – para resolver esses tremendos dramas humanos, como a morte de um próximo, uma mudança de cidade, o rendimento escolar ou as crises afetivas? Mistério, profundo mistério.

Não bastassem os gigolôs das angústias humanas transformarem em doença os problemas banais do dia-a-dia, os psicólogos já estão cozinhando no forno novas enfermidades da era internética. Segundo o psicólogo Larry Rose, que estuda problemas mentais ligados à tecnologia, o smartphone acentua males psiquiátricos. Para o autor de iDisorder, redes sociais também afetam comportamento e narcisismo, depressão e obsessão são os problemas mais comuns em estudos com usuários.

Hoje, com smartphones e redes sociais pedindo atenção permanente das pessoas, a lista de problemas cresceu para uma dezena de sintomas de males psiquiátricos, disse Rosen à Folha de São Paulo.

"Mais gente está se tornando mais narcisista, ou está se apresentando para o mundo como se só se importasse consigo própria. Mais gente está ficando obcecada e compelida a checar constantemente o telefone. E há uma pesquisa que mostra que mais pessoas estão ficando deprimidas quando não têm coisas maravilhosas para mostrar aos outros no Facebook."

Para Rosen, que divide a autoria de iDisorder com Nancy Cheever e Mark Carrier, os problemas descritos por eles são fonte de atrito nas relações interpessoais e pioram nossa qualidade de vida. Para organizar essa tese, o livro apresenta um capítulo para cada tipo de transtorno tecnopsicológico. Ao final de cada um, há um trecho de autoajuda, que mostra dicas de como evitar o problema. Os autores defendem que, cada vez mais, psicólogos não podem ignorar a tecnologia. Não há como cuidar de um adolescente sem entender qual personalidade ele exibe no Facebook, por exemplo. E isso também é verdade para muitos adultos.

Não vai demorar muito, os computadores, smartphones e tablets serão vendidos em pacotes com assistência técnica e psicológica acopladas. Preserve sua saúde mental. Nos dias que correm, só um anormal – como este que vos escreve – pode viver sem apoio psicológico.

26 de junho de 2012
janer cristaldo

ARGHHH!!!

Ahhhh, Vá prapotaquepareu!!!!
O EX presidete Defuntus Sebentus, disse hoje que a democracia foi ferida no "golpe" que destituiu do poder o padre reprodutor paraguaio.
 
O que me causa estranheza é ver um cidadão que apoia todas a ditaduras do planeta dizer que a defenestração do padreco feriu justamente algo tão desconhecido pela camarilha vermelha da qual ele faz parte.
 
E por falar em democracias e vontades das maiorias. A imensa maioria da população brasileira era, e ainda é, contra a permanência de Cesare Battisti no país.
 
E ditatorialmente e não acatando a democrática vontade da maioria. O Sebentão tão democratico manteve o terrorista no país e quem não gostou que se phoda.

Agora as viúvinhas de Lenin estão em polvorosa, não por causa do Paraguai ter colocado uma Ratazana Vermelha para correr, o medo dessa cambada é que essa moda pegue e comecem a pipocar chutes em bundas vermelhas Amérdica do Sul afora.
 
26 de junho de 2012
omascate

MENSALÃO! JULGAMENTO EM 1o. DE AGOSTO

MENSALÃO! JULGAMENTO DO MAIOR ESCÂNDALO JÁ OCORRIDO NO BRASIL PODERÁ COMEÇAR DIA 1º DE AGOSTO!
Ministro Ricardo Lewandowski
A entrega pelo ministro revisor do processo do mensalão no Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, do seu trabalho sobre o relatório do ministro Joaquim Barbosa vai permitir que o julgamento do caso seja iniciado no dia 1º de agosto, como previa o cronograma aprovado pelos ministros do STF.
 
Para que isso seja possível, duas possibilidades estão em estudo pelo presidente do Supremo, ministro Carlos Ayres Britto: ele pode determinar a elaboração de uma edição extra do Diário da Justiça, ainda nesta terça-feira, ou recorrer ao Diário da Justiça Eletrônico, onde a publicação pode ser imediata.
Ayres Britto chegou a enviar um ofício, na última quinta, lembrando Lewandowski que o prazo se encerraria nesta segunda-feira - a tempo de que a decisão fosse publicada no Diário da Justiça nesta terça. Dessa forma, a contagem de prazo para a notificação dos réus seria iniciada para permitir que o julgamento começasse no primeiro dia de agosto.
 
Se Lewandowski decidisse concluir o trabalho apenas na sexta-feira, último dia do prazo definido pela corte, o início do julgamento seria postergado para o dia 6.
 
Ontem, Lewandowski reagiu ao ofício de Ayres Britto com outro documento em que se queixava da pressão sofrida para concluir o trabalho. No texto, dava a entender que só entregaria a sua revisão na sexta-feira. Apesar disso, apresentou nesta terça o seu relatório, conforme antecipou o colunista Reinaldo Azevedo. Do site da revista Veja
 
26 de junho de 2012
in aluizio amorim

A BOÇALIDADE CONSPIRATÓRIA CHAMADA JULIAN ASSANGE

O WikiLeaks, o Paraguai e a boçalidade conspiratória estimulada por um delinquente chamado Julian Assange, o homem que quer curtir a liberdade imprensa do… Equador!!!

Julian Assange, que é um delinquente, não poderia fazer outra coisa que não incentivar a cultura da delinquência, inclusive a intelectual. Já escrevi o que penso sobre os métodos do WikiLeaks, que seriam condenáveis ainda que fosse verdade o que o site diz de si mesmo: publica tudo o que sabe. Mas isso é falso como o amor de Assange pela verdade.
Além de dar curso a informações colhidas de forma criminosa, existe uma seleção do que “interessa” e do que não interessa divulgar. Não por acaso, quem costuma se dar mal nas mãos de Assange e seus esbirros são as democracias. Hoje ele está refugiado na embaixada do Equador em Londres. Como se sabe, Rafael Correa é um notório apreciador da imprensa livre, não é mesmo? A independência em seu governo costuma ser recompensada com prisão, multa e exílio… Adiante.

Não são apenas os métodos criminosos que Assange estimula ou de que é beneficiário que me incomodam, não! Também a mentalidade que ele estimula, especialmente em jovens jornalistas, é uma das coisas mais perniciosas da imprensa moderna. A apuração rigorosa dos fatos, o pensamento, a análise, a reflexão, tudo isso é substituído por teorias conspiratórias as mais tresloucadas e exóticas. É a morte da inteligência!

Não só isso: também o pensamento lógico vai para o brejo. Porque um “Fato B” se deu depois de um “Fato A”, então B passa a ser, necessariamente, consequência de A. Trata-se de um erro lógico de que já tratei aqui algumas vezes, que tem uma expressão latina que o define: “Post hoc, ergo propter hoc“: ou “Depois disso, logo, por causa disso”. O latinório se deve ao fato de que essa era uma das falácias (pesquise sobre o termo quando houver tempo) estudadas pela escolástica (idem).

A caricatura, já brinquei aqui, de tal raciocínio é esta: o dia amanhece sempre depois que o galo canta. Há correlação entre esses dois eventos? É evidente. Os galos cantam ali pelo fim da madrugada (alguns tontos, geralmente os mais roucos, começam um pouco antes, como sabe quem é do mato, como eu), e isso quer dizer que não demora para o dia nascer. Mas não há, por óbvio, relação de causa e efeito entre os fatos.
Se matarmos todos os galos do mundo (como já ambicionei…), o dia continuará a nascer mesmo sem o canto anunciador. Menino meio insone de sítio, míope, lutando com a luz da lamparina para entender as letrinhas impressas, os galos “tecendo a manhã” (a imagem é de João Cabral de Melo Neto) me punham irritado porque lembravam a chegada do dia e seus ofícios, tirando-me do alheamento.
A queima do combustível deixava na pele do rosto uma oleosidade escura, de cheiro meio inebriante. Talvez colaborasse para o entorpecimento da razão a que se chama sono, sei lá. Foi tudo embora, consumiu-se como o querosene.
Mas volto a Assange, WikiLeaks e as tolices conspiratórias.

A imprensa de vários países, a nossa também, traz hoje a informação de que telegramas vazados pelo site dão conta de que os EUA trabalhavam com a hipótese de um “golpe” contra Fernando Lugo desde 2009. Mensagens enviadas pela embaixada americana em Assunção ao Departamento de Estado alertam que os adversários de Fernando Lugo, ATENÇÃO PARA ISTO!!!, só contavam com um “erro” dele para tentar depô-lo. É mesmo, é? Assim, como veio o impeachment, então tudo se encaixa na cabeça dos cretinos ou dos inocentes: se o impeachment chegou depois daqueles telegramas, então eles eram o anúncio e a evidência de uma tramoia.

Vamos ver. Que houvesse no Paraguai forças políticas interessadas na queda de Lugo, disso estou certo como dois e dois são quatro. Aliás, leitor amigo, se você ocupa um cargo de prestígio na sua empresa ou se, empresário, é líder no seu setor ou conseguiu um contrato apreciável, fique certo: há gente de olho no seu cargo ou concorrente tentando tomar o seu lugar. Sabem como é o ser humano, né? Ainda bem! Ou a vida seria um imenso cartório sem segredos. Haver quem estivesse interessado na queda de “Follando Lugo” (como muitos paraguaios chamam o bispo pegador; não traduzo porque é de baixo calão…) não implica que essa queda tenha sido tramada, compreendem? Como consta lá dos telegramas, seus adversários apostam que um “erro” poderia derrubá-lo. É o que os adversários costumam fazer.

E “Follando Lugo” não cometeu um, mas uma penca deles. O confronto entre supostos sem-terra que aderiram a táticas terroristas e policiais foi manifestação concreta do erro principal: manter relações especiais com um bando de lunáticos que, sob o pretexto de exigir e praticar justiça social com as próprias mãos, transformou o setor rural paraguaio num campo de guerra — e os brasileiros, diga-se, estão entre as vítimas principais.

“Ah, o general Lino Oviedo queria o impeachment…” É? Foi o general que matou seis policiais desarmados que cumpriam uma ordem da Justiça de reintegração de posse? Foi o general a manter relações especiais com um grupo de celerados, que jamais distinguiu propriedade regular e produtiva de terras griladas, mantendo, mesmo assim, interlocução privilegiada no governo? Foi o general que passou a mensagem de que um título de propriedade rural no Paraguai passou a valer menos do que uma bala? “Ah, mas eu li que a concentração de terras no país é terrível!” E daí? Vai se resolver com política ou com pistolagem?

A esta altura, deve haver mensagens de diplomatas americanos e europeus, enviadas a seus países de origem, dando conta de que Cristina Kirchner, a “Loca de Buenos Aires”, está num processo de contínuo desgaste, adotando medidas que deixam, no limite, sem saída a economia argentina e que isso pode levar o país, cedo ou tarde, para uma convulsão social. Um dos papéis da diplomacia é este mesmo: desenhar cenários possíveis — aliás, no Paraguai, tudo indica, os americanos estavam mais bem informados do que os brasileiros, que foram pegos com as calças na mão… Muito bem! Se e quando “La Loca” vier a enfrentar uma crise séria (e isso vai acontecer), as eventuais mensagens poderão ser evocadas como prenúncio ou evidência de uma tramoia?

O que o “WikiLeakismo” faz de mais perverso à inteligência e ao jornalismo é transformar uma mera correlação em causa e conferir ao óbvio ares de conspiração. Afirmar que um grupo tentará se aproveitar dos erros do adversário, como se houvesse nisso algo de especioso, é uma boçalidade. É o que se faz até em jogo de botão.

26 de junho de 2012
Por Reinaldo Azevedo

O QUE FAZER EM RELAÇÃO A SÍRIA


          Notícias Faltantes - Perseguição Anticristã 
Se o governo de Assad cair, a população cristã na Síria sofrerá um genocídio. Aliás, a rebelião que está se agravando já está custando caro para os cristãos sírios.

Há uma coerência assustadora na política externa do governo de Obama.
Está sempre do lado errado.
Exemplo triste é o apoio dos EUA aos rebeldes da Síria.
Ora, não me entenda mal. Sempre fui um crítico firme de Bashar al-Assad e seu pai tirano antes dele. Mas, no Oriente Médio, a escolha é muitas vezes entre o ruim e o pior. E, o que é previsível, Barack Obama escolheu o pior ao ficar do lado dos rebeldes islâmicos radicais contra o ditador autoritário com abundantes erros pessoais.

Para os americanos, a principal preocupação deveria ser humanitária num conflito como esse. Embora a Síria seja um estado policial antissemítico e anti-Israel, o que inevitavelmente virá depois da queda de Assad fará com que o atual governo pareça um benevolente quadro de estabilidade em comparação.

A Síria abriga uma das maiores populações cristãs do Oriente Médio.
Em grande parte isso se deve à crise de refugiados cristãos que foi provocada principalmente devido às turbulências no Iraque desde que os EUA interviram ali. Embora Assad seja um governante ruim, ele tem demonstrado tolerância para com as minorias religiosas, inclusive cristãs. Aliás, o próprio Assad, um alawita, é parte de uma minoria religiosa.
Mas se o governo de Assad cair, a população cristã na Síria sofrerá um genocídio. Aliás, a rebelião que está se agravando já está custando caro para os cristãos sírios.

Isso me faz sofrer, pois sou descendente de cristãos que fugiram da Síria e do Líbano há muito tempo, quando radicais islâmicos ganharam mais e mais influência.
Os radicais islâmicos que formam a vanguarda dessa rebelião estão forçando os cristãos a fugir de seus lares enquanto avançam e intensificam sua luta para derrubar Assad.
Pelo menos 9 mil cristãos da cidade síria ocidental de Qusayr foram forçados a buscar refúgio depois do ultimato de um chefe militar local da oposição armada, Abdel Salam Harba, de acordo com reportagem da agência noticiosa Fides.

Na mais recente explosão de violência, um homem cristão foi morto a tiros por um franco-atirador em Qusayr, que é vizinha da cidade de Homs, que está em turbulências.

Há relatos de que algumas mesquitas da cidade anunciaram dos minaretes: “Os cristãos devem abandonar Qusayr dentro de seis dias”.
Dois padres católicos que fugiram de Qusayr confirmaram para a agência noticiosa que ouviram o ultimato “com os próprios ouvidos” repetido dos minaretes.

“A situação é insustentável na região e exposta à total desordem legal”, fontes da Fides no local dizem. Eles também temem que o destino dos cristãos em Qusayr possa afetar os 10 mil crentes que vivem em outras vilas na região.

As regiões controladas pela oposição estão testemunhando o surgimento de formas radicais do islamismo sunita com extremistas que não estão dispostos a viver em paz com os cristãos.

Muitas dessas gangues e grupos armados operam de forma independente do Exército Sírio Livre, que oficialmente rejeita tais tipos de discriminação contra as minorias.
Duas gerações do governo de Assad têm garantido um governo secular na Síria, protegendo os cristãos de discriminação e garantindo seus direitos.

Na semana passada, um grupo armado arrombou e profanou a igreja católica grega de Santo Elias em Qusayr.

“É a primeira vez no conflito em andamento que tal episódio ocorreu, em que símbolos sagrados foram deliberadamente atingidos”, uma fonte local disse para Fides.

Uns 2 milhões de cristãos compõem cerca de 10 por cento da população da Síria com a maioria pertencendo à denominação da Igreja Ortodoxa Grega de Antioquia.

O caos e a violência sectária na Síria pós-Assad “será confessional [religiosa], e guerra em nome de Deus é muito pior do que guerra política”, o patriarca José III Yonan avisou em outubro passado, apenas sete meses durante a rebelião. “E isso é o que tememos”.

Uma situação semelhante já se desenrolou no Iraque, onde a violência fez com que mais da metade do 1 milhão e meio de cristãos iraquianos fugisse desde o começo da invasão liderada pelos EUA em 2003.
Mais de 70 igrejas sofreram ataques a bomba no Iraque durante os oito anos passados, muitas desses ataques sendo feitos por insurgentes da Al-Qaeda. Um dos incidentes mais sérios ocorreu em outubro de 2010, o chamado Massacre do Domingo Negro, quando terroristas abriram fogo numa missa na Igreja Católica Caldeia de Nossa Senhora do Livramento, matando 53 cristãos assírios.

Depois da queda de Hosni Mubarak no Egito, cerca de 10 mil cristãos foram forçados a abandonar tudo. O problema é que os cristãos não têm nenhum lugar para ir no Oriente Médio.

Embora a Jordânia seja ainda hospitaleira, poderá logo ser o próximo dominó a cair para a revolução da Irmandade Muçulmana que está varrendo a região — com o apoio do governo de Obama.
É isso o que a América cristã quer ver?
O intervencionismo no Oriente Médio é muitas vezes uma ideia ruim. Mas é pior quando os EUA intervêm do lado errado.

 Escrito por Joseph Farah
Tradução: Julio Severo

OEA E DEMAIS ORGANIZAÇÕES EXORTA QUE SE RECONHEÇA O NOVO GOVERNO DO PARAGUAI

HUMAN RIGHTS FOUNDATION AFIRMA QUE NÃO HOUVE GOLPE NO PARAGUAI E EXORTA OEA E DEMAIS ORGANIZAÇÕES A RECONHECER NOVO GOVERNO
A organização defensa dos direitos humanos Human Rights Foundation considerou nesta terça-feira que a sucessão presidencial no Paraguai é constitucional e cumpre com as normas da Carta Democrática Interamericana da OEA.
A Organização indicou, mediante um comunicado de imprensa, que realizou uma investigação minuciosa sobre o processo de destituição de Fernando Lugo e sua substituição por Federico Franco.
"A sucessão presidencial no Paraguai foi constitucional e cumpre com as normas previstas na Carta Democrática Interameriana da OEA (2001) e o Protocolo de Ushuaia sobre Compromisso Democrático do Mercosul (1998)", assinalou.
Acrescentou também que se ajusta ao previsto no Protocolo Adicional ao Tratato Constitutivo da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) sobre Compromisso com a Democracia (2010) "e, em tal sentido, o novo Governo do Paraguai deve ser reconhecido pela comunidade internacional".
"Se bem que os ânimos estão exarcerbados como resultado da destituição, exortamos à OEA e às demais organizações que admitam os fatos e o direito do presente caso".
A Human Rights recordou que "se considera golpe de Estado" quando concorrem elementos tais como "a vitima é necessariamente o titular do poder Executivo e aqueles que perpetram o golpe fazem uso da violência e coerção para que a vítima "abandone seu cargo".
Também terá de concorrer "a ação ou ações que configuram o golpe" que são abruptas ou repentinas e essa ação ou ações claramente violam o procedimento constitucional para a destituição do presidente", afirmou o dirigente da Human Rights Foundation, Thor Halvorssen. Clique AQUI para ler a reportagem completa - en español
26 de junho de 2012
in aluizio amorim

SESSÃO DA OEA VIRA TROCA DE FARPAS ENTRE PARAGUAI E MERCOSUL


A parte final da sessão extraordinária da Organização dos Estados Americanos (OEA) virou uma troca de farpas entre o Paraguai e os demais sócios do Mercosul. Em sua intervenção final na fase de exposição, o embaixador paraguaio Hugo Saguier, atacou a proposta do Brasil e do Uruguai de que a instituição esperasse o encontro da Unasul, na próxima sexta-feira, para se posicionar sobre a situação do país. Saguier disse que o encontro Sul-americano será de cartas marcadas, com a expulsão do Paraguai, mas que o país não dá direito aos sócios de interferirem em seus assuntos internos, tampouco de “humilhar a nação paraguaia”.

“Esta é a OEA, e a OEA não está subordinada ao Mercosul e à Unasul. Posso garantir que, se houvesse um plebiscito hoje, 90% da população paraguaia votariam pela saída do bloco (Mercosul). O que vocês (Brasil, Argentina e Uruguai) querem é fazer uma operação conjunta para expulsar o Paraguai de todos os organismos internacionais. P
odem ir adiante, se querem fazer uma Tríplice Aliança reforçada, estamos preparados. O Paraguai não é um país de se deixar curvar à imposição de forças externas”, disse Saguier.

O embaixador reclamou que os sócios do Mercosul deixaram parte da delegação do Paraguai chegar a Mendoza, na Argentina, para os preparativos da cúpula de chefes de Estado, para negar-lhes credenciamento: “Por que não os informaram antes? Para humilhá-los (integrantes da comitiva paraguaia)?
Não aceitamos intervenção. Entendemos que haja preocupação, mas isso não dá direito a ninguém de humilhar a nação paraguaia”.

O ministro Breno Dias da Costa, representante brasileiro na sessão da OEA, reagiu dizendo que lamentava o pronunciamento do paraguaio e que o Brasil não considera intervenção o cumprimento de compromissos firmados no âmbito do Mercosul e da Unasual: “Lembrar da Tríplice Aliança e coisas afins me parecem desnecessárias e gratuitas (…) Lembramos ao embaixador que o novo governo do Paraguai não foi reconhecido por nenhum pais da OEA. O Paraguai está aqui hoje como reflexo do respeito e da generosidade de todos os países desta organização.”

Mais cedo, o ministro Breno Dias da Costa afirmou em sua exposição aos demais países membros que houve ruptura do processo democrático no impeachment do ex-presidente do Paraguai, Fernando Lugo, na ultima sexta-feira. Venezuela, Equador, Bolívia e Argentina foram além e se referiram ao impeachment como golpe de Estado e os três primeiros acompanharam a proposta da Nicarágua de que a OEA não reconheça o governo de Federico Franco e suspenda a participação do pais na organização.
O representante argentino disse que o caso deve ser discutido por instâncias superiores e propôs a convocação de uma assembleia extraordinária de chanceleres da OEA.
O Uruguai acompanhou o Brasil, que aconselhou os membros a aguardarem a reunião dos chefes de Estado do Mercosul e da União dos Países Sul-americanos (Unasul), na próxima sexta, antes de decidirem qual ação a OEA adotará.

Em sua segunda entrevista coletiva à imprensa internacional em dois dias de governo, o presidente do Paraguai, o presidente Federico Franco foi indagado sobre a possibilidade de o Paraguai ser suspenso do bloco comercial da região. Franco disse que sua preocupação neste momento é com os problemas internos. “Se eu disser que a prioridade é a comunidade internacional, estaria mentindo. Quero arrumar a casa e transmitir daqui tranquilidade e mostrar à comunidade internacional que este é um governo democrático”, disse Franco.

Apesar das declarações, um possível isolamento político foi rejeitado pelo embaixador Hugo Saguier, representante do Paraguai no organismo. Em recado ao Mercosul e à Unasul, o embaixador lembrou que o Paraguai é signatário de tratados internacionais que enfatizam a democracia e cumpriu todas as clausulas dos mesmos, tendo respeitado os processos políticos em todos os demais países. Por isso, disse, o Paraguai “espera das contrapartes o mesmo entendimento”.

Durante a reunião da OEA, Saguier fez uma extensa descrição do processo de impeachment, começando com a comoção causada pela morte de 17 pessoas em confronto agrário poucos dias antes da votação no Congresso. Saguier justificou o que chamou de “prazos peremptórios” para julgamento como forma de restabelecer o mais rapidamente a normalidade diante da grave situação social e política no pais. “O Paraguai não condicionou sua participação em organismos regionais a posições ideológicas. Porque (a participação) não é patrimônio de nenhum partido político, é patrimônio do povo paraguaio”, afirmou Saguier.

E, em defesa do processo, lembrou que Lugo rejeitou ofertas de outros países para que cláusulas da Carta Democrática interamericana fossem acionadas antes da votação do impeachment e aceitou a decisão do Congresso. “O (novo) governo foi estabelecido no âmbito do Direito Constitucional e sob compromisso de honrar todos os tratados internacionais. A ordem está preservada, há liberdade de protesto, não há censura. Exortamos os países irmãos a terem o respeito sublime à autodeterminação e se abstenham da intervenção, direta e indireta”, afirmou o embaixador.
(…)

Flávia Barbosa, no Globo Online.
26 de junho de 2012
Por Reinaldo Azevedo

O CRESCENTE NÚMERO DE AÇÕES TRABALHISTAS

As lideranças que pensam o judiciário brasileiro, centradas nas questões trabalhistas, por razões diversas, ainda não chegaram ao consenso para formatar um modelo ágil de resolução de conflitos, e compartilham de sugestões produzidas pelo próprio Judiciário, justamente onde residem os principais focos da morosidade.

Em 2007, o ex-presidente do Tribunal Superior do Trabalho Almir Pazzianoto revelou em entrevista, que o país é o campeão mundial absoluto em número de processos trabalhistas. “São mais de 2 milhões de ações por ano”, que representam, (…) “um gasto do país em torno de R$ 1,3 mil para cada R$ 1 mil pagos em decorrência das demandas – revelou”.

Para ele este número indica defeitos no nosso sistema jurídico, em especial na legislação trabalhista, a qual acusa de anacrônica, detalhista e até mesmo culpada pelo atraso no crescimento do país.
Duas das sugestões indicadas por juristas, para a solução deste caos: “uma alteração legislativa que torne menos onerosa a despedida do trabalhador e a adoção de soluções extrajudiciais de conflitos, como a mediação e a arbitragem”. Soam como um choque de interesses.

Consultando a base de dados oficiais do TST, em 2001 tramitaram pela Justiça do Trabalho do Brasil, 2.527.671 ações. Para o ex-ministro, houve uma banalização da Justiça do Trabalho no Brasil. “Qualquer coisa é motivo para entrar com um processo trabalhista, cuja duração se passar por todas as instâncias, leva cerca de sete anos para ser julgada, podendo chegar a dez anos”, denuncia.
O economista José Alfonso Pastore levantou que “em 2005 foram pagos aos reclamantes R$ 7,19 bilhões e, em 2006, R$ 6,13 bilhões até setembro”.

Já na média mensal, o volume de 2006 ficou 13% superior ao do período anterior (dados do TST). Decorridos quatro anos, a demanda de ações aumentou para 2,4 milhões/ano (dados do CNJ), e o encalhe (processos sem solução) é de 78%.

Os juristas defendem a posição de que são necessárias mudanças no sistema, que não signifiquem retirar do trabalhador a possibilidade de reivindicar seus direitos. Segundo especialistas, o Brasil, a exemplo do que ocorre em vários países, deveria adotar mais os mecanismos de conciliação extrajudicial, como arbitragem e conciliação prévia.

Os dados do programa Justiça em Números — Indicadores Estatísticos do Poder Judiciário, levantamento do CNJ, divulgado em fevereiro de 2011, (números de 2006), registram que continuam chegando aos juízos e tribunais do Trabalho mais processos do que os magistrados conseguem julgar. Em 2006, ingressaram na JT 3.504.204, enquanto foram julgados 3.306.831.

No final de 2006 havia quase 200 mil processos a mais nas gavetas da JT, que se somaram ao estoque de anos anteriores de cerca de 3 milhões de causas

Afastada a possibilidade de se discutir a arbitragem, (Lei 9307/06) como meio alternativo de solução do conflito laboral, e que sofre blindagem dos juízes em explicita demonstração de reserva de mercado, vamos analisar o que ocorreu com a conciliação através das Comissões de Conciliação Prévia. (Lei 9.958/00).

Como se não bastasse a discussão doutrinária, o Tribunal Regional do Trabalho da Segunda Região (São Paulo) possui a Súmula. 02, editada em 2002, abaixo transcrita: O comparecimento perante a Comissão de Conciliação Prévia é uma faculdade assegurada ao obreiro, objetivando a obtenção de um título executivo extrajudicial, conforme previsto pelo artigo 625-E, parágrafo único da CLT, mas não constitui condição da ação, nem tampouco pressuposto processual na reclamatória trabalhista, diante do comando emergente do artigo 5º, XXXV, da Constituição Federal.

Temos aqui a prova flagrante de que jamais, em tempo algum, os juízes do trabalho vão aceitar qualquer outro mecanismo para solução dos conflitos, a não ser o tutelado pelo Estado.
É que através do judiciário trabalhistas, em que pese às “lambanças”, praticadas a todo instante, por conta da anomalia congênita que se instalou na JT, a demanda sugada no seio das relações trabalhistas, justifica a manutenção de seus empregos.

Roberto Monteiro Pinho
26 de junho de 2012

A ALEMANHA E O COMUNISMO, ONTEM E HOJE

Acabo do visitar Berlim. É minha quarta viagem a esta cidade cativante, que foi o coração da Europa cultural entre 1918 e 1933 (enquanto durou a República de Weimar) e que superou, na total miséria do pós-guerra, a capacidade, a arquitetura, a literatura, a música, e o design de Paris ou de Londres. Cheguei a ela como jornalista em oportunidades muito diferentes, no meio da Guerra Fria e depois da unificação e da derrubada do Muro.

Desta vez, para visitar o novo Museu Histórico do Povo Alemão, posicionei-me na parada de um bonde elétrico ultramoderno. Um sinal eletrônico nos avisava quanto tempo levaria para chegar.
O bonde chegou no horário previsto. No hall de entrada do museu fiquei com vergonha de meu país. Existem duas grandes estátuas. Uma delas é de Lênin, que não era alemão, mas um russo autêntico.

Porque ele estava ali, em um altar de bronze pesado? Simples: o líder bolchevique teve uma forte influência na vida política da Alemanha. É parte de sua história. É patrimônio nacional.

Em Berlim, o coração de uma Alemanha unificada e próspera, não há ressentimentos nem ninguém que queira vingança. Tem três belas avenidas, cercadas por árvores. Uma delas tem o nome de Karl Marx, a outra, Rosa Luxemburg e a terceira, Karl Liebknecht.
As autoridades respeitaram os nomes colocados pelos alemães orientais, alemães que agora são simplesmente alemães, sem distinções territoriais. Rosa Luxemburg e seu parceiro Karl Liebknecht tornaram-se líderes de um movimento revolucionário comunista no final da Primeira Guerra Mundial.

Há também, às margens do Rio Speer, um museu de vestimentas usadas na época da Alemanha comunista. Muito respeitoso, com panfletos explicativos didáticos, escritos sem rancor, mostrando detalhes muito preciosos das formas de vida, trabalho, realizações tecnológicas, habitação e transporte.

26 de junho de 2012
Artigo enviado por Mário Assis

O COMEÇO DO SEGUNDO ATO

A Primavera Árabe do Egito, essa sublevação da rua, essas massas em júbilo que fizeram da Praça Tahrir, em janeiro e fevereiro de 2011, um baluarte da liberdade, encerrou-se, no domingo, com a eleição para presidente de Mohamed Morsi, o candidato da Irmandade Muçulmana (islâmica) que venceu o candidato dos militares, o general da reserva Ahmed Shafiq (que foi primeiro-ministro de Hosni Mubarak).

Tudo isso parece uma ironia da história. No ano passado, as revoltas da Praça Tahrir tinham por objetivo, de um lado, acabar com o controle do Exército sobre o país, de outro, rejeitar o islamismo político. Um ano após o triunfo dos democratas da Praça Tahrir, eis a conclusão: os "democratas" sumiram. E as duas forças contra as quais eles lutavam, duas forças que, aliás, se odeiam, dividem o poder: os islâmicos (Irmandade Muçulmana)levaram a presidência enquanto o Exército, que perdeu a eleição presidencial, assegurou para si o controle sobre o Parlamento e a redação de uma futura Constituição.

Imaginar o futuro próximo nesse teatro de sombras seria uma piada. Mas podemos nos perguntar sobre a relação entre Egito e Israel caso a Irmandade Muçulmana exerça de fato o poder. É o que fazem os israelenses - sem alegria nem otimismo. Não esqueçamos de que o Egito havia assinado, em Camp David, um acordo de paz com Israel em 1979 que vale desde então para o Egito uma ajuda americana de US$ 2,1 bilhões por ano e estabilizou as relações entre o Egito e Israel. Mas, e agora? Com a partida de Mubarak e a Irmandade instalada no Cairo, será que o Egito retomará as hostilidades contra Israel? O presidente Mohamed Morsi foi tranquilizador. Ele respeitará os acordos com Israel. Ótimo. Mas quando ele fala do Estado judeu, refere-se a ele como "entidade sionista". Mau presságio.

Os israelenses viram suas lunetas para um ponto preciso do Oriente Médio: a Faixa de Gaza, que está ocupada pelos membros do Hamas, a ala extremista dos palestinos, ao contrário da Cisjordânia, que é controlada pelos palestinos moderados da Fatah. Não custa lembrar que o Hamas foi fundado em 1987 por membros dessa mesma confraria da Irmandade Muçulmana que hoje acaba de assumir a presidência no Cairo.

De imediato, uma outra nuvem. O Egito vai consagrar todas as suas forças para acalmar a situação interna. Com isso, vai afrouxar a vigilância que exerce sobre o Sinai, essa língua de deserto que lhe pertence, ao sul de Israel.

Desde a Primavera Árabe, esse Sinai já é pouco controlado pelo Exército egípcio. Virou uma terra de ninguém. Tribos beduínas praticam a extorsão e o terrorismo. Segundo Jerusalém, esse desregramento é respaldado justamente pelos grupos islâmicos de Gaza.

Compreende-se, portanto, que as autoridades de Israel tenham acolhido a vitória de um "irmão" no Cairo como uma calamidade. Com uma grande incógnita, de mais a mais: qual será o comportamento dos militares egípcios que não simpatizam com os islâmicos? Sobre esse ponto, nenhuma certeza. Tudo faz pensar que a eleição de um membro da Irmandade à presidência, longe de encerrar o processo democrático, nascido há um ano, ao confiscá-la para benefício dos islâmicos, não nada mais do que o começo do segundo ato de uma peça de teatro cujo desfecho ninguém saberia prever.

26 de junho de 2012
Gilles Lapouge - O Estado de S.Paulo

TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK.
É CORRESPONDENTE EM PARIS

O MAL DO MUNDO NÃO TEM MAIS ROSTO

Um dos dramas de hoje é que não há mais fatos - só expectativas. A história vai devagar e por linhas tortas. A última grande mudança foi a queda das torres em NY. Em dez minutos, nossa vida mudou. A obra de arte de Osama foi ter criado um fato. E o Ocidente acorreu para esmagar o herege, o psicopata que criou um acontecimento em um país que imaginava ter controle do seu destino.
Ele ousou "acontecer". Se ele abriu o precedente, tudo ficou possível. Só um maluco, um marginal, poderia furar o cordão sanitário da vida controlada. Mas Osama não era maluco. Ele criou a imagem das torres caindo por toda a eternidade, gravada no tempo, como a Queda da Bastilha, o Holocausto e a destruição de Hiroshima. Osama nos trouxe de volta à realidade, furou a barreira virtual do nosso Truman Show.

Havia no ar um desejo de destruição da "paz americana", mesmo entre os americanos. Em cada detalhe da vida, havia indícios: em filmes-catástrofe gozando o arrasamento de NY, nos livros sempre distópicos de "science fiction" e até na arquitetura, como sacou o arquiteto italiano Paolo Portoghesi, quando disse que a forma do museu de Frank Gehry em Bilbao é o desejo de um desabamento. Os americanos têm uma relação de amor/ódio com o implacável progresso que os acorrenta a uma escravização produtiva.

Eu mesmo, profetinha autoproclamado, já escrevi que aquelas agulhas góticas e infinitas pareciam pedir destruição. Que pode acontecer a uma lança herética arranhando os céus de Deus? A queda. Só a queda. Havia uma fome de fatos no ar; Osama veio satisfazê-la. Achavam que a técnica era invencível em sua marcha fria para um futuro sem 'sujeitos', previsível e programado. Osama nos fascinou porque assumiu o papel de 'sujeito da história', como os marxistas se proclamavam antigamente. Sozinho, destruiu a técnica com as armas da técnica, numa homeopatia apocalíptica.
E se o impossível acontece, a liberdade se restaura - nos ensina o ato gratuito do terror.
Até o 11 de setembro, tínhamos liberdade para desejar o quê? Bagatelas, mixarias. Uma liberdade vagabunda para nada, para o exercício de um narcisismo ilusório, o fetiche de uma liberdade transformada em produto de mercado.
A gente pode se drogar, se suicidar, sofrer, mas repensar o mundo na prática, essa 'macroliberdade' é impossível; ela é privilégio das grandes corporações, que podem planejar o Sistema, eliminando regras nacionais, podem se fundir em megaconglomerados, pois elas têm a desculpa de não terem rosto. Aliás, até o Mal ficou difuso. Onde está o mal, hoje? Entre os terroristas, no meio da miséria, entre fezes? O Mal ficou arcaico.
Por isso, o mal dos terroristas consiste em injetar o arcaico no moderno, esse inferno 'clean' que o capital inventou. E não adianta tentar a "beleza do Mal" como busca invertida do Bem. Já foi tentado: o culto à perversão, à violência ideológica, à crueldade por 'bons' motivos, tudo. Nada deu em nada.no mundo atual é o "incompreensível". Como disse Baudrillard: "Contra o Mal, só temos o fraco recurso dos direitos humanos."
 As coisas nos desapossaram do mundo. Desde que me entendo, nunca vi uma mutação tão intempestiva. Não é nas mentalidades, mas na matéria da vida, nas engrenagens que movem o mundo. Talvez, a Crise de 2008 tenha começado com a desmoralização das torres caídas. O 11 de setembro foi o início da Crise atual. 
Existe hoje no mundo um novo Mal, um Mal sem culpados visíveis. O Mal

Este fato que mudou o Ocidente está ali em NY, deflorado, negro buraco, e, por mais que tentemos, não conseguiremos desfazer a ligação entre os fios invisíveis que unem a loucura do fanatismo do Oriente até nossa vida pessoal.

Precisamos de uma forma nova de "transcendência", abolida pelo consenso tecnocientífico; precisamos de um novo "holismo". Uma nova liberdade se tornou urgente, a liberdade de não ser moderno, de não ser tão 'livre' assim como quer o mercado. Precisamos de um ideário que acrescente alguma inutilidade ao mundo, pois o futuro foi apossado pelo marketing dos novos produtos. Precisamos de fatos, e não de expectativas, precisamos de um conjunto orgânico de verdades (ou de crenças mesmo) que espiritualize nosso vazio. Osama, como um profeta de cabeça para baixo, nos lembrou que a vida real é um mistério.

Este artigo me ocorreu porque estava lendo ensaios de Paul Valéry, que nos anos 30 já previa com espantosa clareza o mundo que vivemos hoje. Paul Valéry foi um misto de pensador e de poeta. Inseriu-se na linhagem de escritores transgressivos que tinham como expoentes Edgar Allan Poe e Mallarmé. A partir de 1892, renunciou à poesia e consagrou-se ao culto exclusivo da razão e inteligência. Em 1894 se instalou em Paris e no ano seguinte publicou ensaios filosóficos: Introdução ao método de Leonardo da Vinci e Monsieur Teste, este último foi uma série de dez fragmentos em que expõe o poder da mente voltada à observação e dedução dos fenômenos.

Cito aqui trechos de um pensador visionário que pensava através da poesia, livre das camisas de força da história obrigatória das ideias. (Sem dúvida, ele dá um sentido melhor a este 'artigo-cabeça' de hoje.)

"A imagem do caos é um caos. A desordem do mundo atual (...) nos habitua intimamente a ela; nós a vivemos, nós a respiramos, nós a fomentamos e ela acaba por ser uma verdadeira necessidade nossa. Nós encontramos a desordem à nossa volta e dentro de nós mesmos, nos jornais, nos dias e noites, em nossas atitudes, nos prazeres, até em nosso saber. A desordem nos anima e o que nós criamos nos leva a lugares desconhecidos e mesmo onde não queremos ir." (A Política do Espírito).

Ou então: "A vida social exige a presença de coisas ausentes; a ordem resulta do equilíbrio dos instintos pelos ideais." (...) "Uma sociedade que elimine tudo que é vago ou irracional, para impor o mensurável e o verificável, poderá sobreviver?" (Prefácio das Cartas Persas)
Ou seja, como ele disse, o futuro não será mais o que era...

26 de junho de 2012
Arnaldo Jabor, O Estado de S.Paulo