"O
corrupto vai para a cadeia. Mas e o empreiteiro, o corruptor? Nunca se
conseguiu." (Senador Pedro Simon, PMDB-RS) n n l
Intrigante! Ou
não é? O deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), membro da CPI do Cachoeira, usou o
celular para mandar uma mensagem ao governador Sérgio Cabral (PMDB-RJ) onde
dizia: "A relação com o PMDB vai azedar na CPI. Mas não se preocupe, você é
nosso e nós somos teu (sic)". Ora, com o que mesmo Cabral deveria se preocupar?
E por quê? Cabral não é personagem relevante nem sequer marginal do objeto que a
CPI se oferece para investigar: eventuais práticas criminosas desvendadas pelas
operações Vegas e Monte Carlo, da Polícia Federal, com o envolvimento do
bicheiro Carlinhos Cachoeira e de agentes públicos ou privados.
Políticos a mancheias, entre eles os governadores de Goiás e do Tocantins e auxiliares do governador do Distrito Federal, são citados nos milhares de telefonemas trocados por Cachoeira com integrantes de sua quadrilha, e grampeados pela Polícia Federal.
E Cabral? Não. Cabral não é citado.
Resta farto material apreendido pela polícia na casa de Cachoeira e de outros, que ainda está sendo periciado antes de ir ou não parar no Supremo Tribunal Federal — e dali na CPI. A respeito de tal material ainda não se pode dizer nada.
Mas naquele de posse da CPI não há uma única referência direta nem indireta ao governador do Rio.
De volta, pois, à intrigante pergunta que suplica por uma resposta: com o que mesmo Cabral não deveria se preocupar se ele "é nosso" (ou seja: do PT de Vacarezza) e se "nós" (o PT de Vaccarezza) é dele? O uso do "nosso" e originalmente do "teu" denuncia uma relação de cumplicidade e de proteção mútua entre o PT e Cabral.
Pode até azedar, como antecipa Vaccarezza, a relação do PT com o PMDB, o partido de Cabral. Mas Cabral não deve se preocupar. A frase construída pelo ex-líder do PT na Câmara é de deixar a máfia siciliana com inveja. Por que ela não a imaginou antes? E por que não a incorporou aos ritos secretos de admissão de novos mafiosos? Provocado a decifrar a mensagem enviada a Cabral, Vaccarezza não o fez. Escapou: "Sou amigo do PMDB.
Nossas relações nunca serão azedadas". A mensagem teria sido escrita "num momento de irritação" de Vaccarezza com o PMDB. Irritação por quê? Vaccarezza não diz. Só garante que ninguém será blindado pela CPI. Você acredita? Bem, anote aí por que Vaccarezza estava irritado com o PMDB quando se correspondeu com Cabral: o partido resistiu a apelos de Lula para forçar a mão e comprometer a VEJA com os crimes de Cachoeira.
Por anos, Cachoeira foi informante da VEJA. Lula acusa a revista de ter deflagrado escândalos que atingiram seu governo.
Anote aí o que de fato preocupa Cabral e o leva a pedir proteção: uma investigação ampla dos negócios da empreiteira Delta do seu compadre e parceiro de luxuosas viagens ao exterior, Fernando Cavendish.
Cabral é padrinho das filhas gêmeas dele. Cavendish anda ameaçando entregar podres de políticos e de partidos que financiou.
O mineiro Marcos Valério, um dos cérebros do mensalão, ameaçou contar o que sabia se fosse depor na CPI dos Correios. Depôs e não contou. Retomou a ameaça ao notar que começara a ficar sem dinheiro. Cabeças estreladas do PT pediram a Lula que o socorresse. Desconheço o que aconteceu, mas Marcos Valério não ficou sem dinheiro.
Cavendish não corre o risco de passar aperto. No ano passado, apesar da receita da Delta ter caído apenas 10%, de R$ 3 bilhões para R$ 2,7 bilhões, o lucro despencou 85,5%, de R$ 220,3 milhões para R$ 32 milhões.
Um dos motivos foi o aumento do pagamento de dividendos a acionistas, que subiu de R$ 13 milhões para R$ 64 milhões.
Esperto Cavendish, não? Junto dele, Cabral é um bobo.
Tudo bem: extraiu vantagens da companhia generosa de Cavendish, o sedutor de nove entre dez políticos à cata de dinheiro para pagar dívidas de campanhas ou se eleger.
Agora, a popularidade de Cabral caiu. Menos do que ele calculou. Seu futuro político tornou-se opaco.
Políticos a mancheias, entre eles os governadores de Goiás e do Tocantins e auxiliares do governador do Distrito Federal, são citados nos milhares de telefonemas trocados por Cachoeira com integrantes de sua quadrilha, e grampeados pela Polícia Federal.
E Cabral? Não. Cabral não é citado.
Resta farto material apreendido pela polícia na casa de Cachoeira e de outros, que ainda está sendo periciado antes de ir ou não parar no Supremo Tribunal Federal — e dali na CPI. A respeito de tal material ainda não se pode dizer nada.
Mas naquele de posse da CPI não há uma única referência direta nem indireta ao governador do Rio.
De volta, pois, à intrigante pergunta que suplica por uma resposta: com o que mesmo Cabral não deveria se preocupar se ele "é nosso" (ou seja: do PT de Vacarezza) e se "nós" (o PT de Vaccarezza) é dele? O uso do "nosso" e originalmente do "teu" denuncia uma relação de cumplicidade e de proteção mútua entre o PT e Cabral.
Pode até azedar, como antecipa Vaccarezza, a relação do PT com o PMDB, o partido de Cabral. Mas Cabral não deve se preocupar. A frase construída pelo ex-líder do PT na Câmara é de deixar a máfia siciliana com inveja. Por que ela não a imaginou antes? E por que não a incorporou aos ritos secretos de admissão de novos mafiosos? Provocado a decifrar a mensagem enviada a Cabral, Vaccarezza não o fez. Escapou: "Sou amigo do PMDB.
Nossas relações nunca serão azedadas". A mensagem teria sido escrita "num momento de irritação" de Vaccarezza com o PMDB. Irritação por quê? Vaccarezza não diz. Só garante que ninguém será blindado pela CPI. Você acredita? Bem, anote aí por que Vaccarezza estava irritado com o PMDB quando se correspondeu com Cabral: o partido resistiu a apelos de Lula para forçar a mão e comprometer a VEJA com os crimes de Cachoeira.
Por anos, Cachoeira foi informante da VEJA. Lula acusa a revista de ter deflagrado escândalos que atingiram seu governo.
Anote aí o que de fato preocupa Cabral e o leva a pedir proteção: uma investigação ampla dos negócios da empreiteira Delta do seu compadre e parceiro de luxuosas viagens ao exterior, Fernando Cavendish.
Cabral é padrinho das filhas gêmeas dele. Cavendish anda ameaçando entregar podres de políticos e de partidos que financiou.
O mineiro Marcos Valério, um dos cérebros do mensalão, ameaçou contar o que sabia se fosse depor na CPI dos Correios. Depôs e não contou. Retomou a ameaça ao notar que começara a ficar sem dinheiro. Cabeças estreladas do PT pediram a Lula que o socorresse. Desconheço o que aconteceu, mas Marcos Valério não ficou sem dinheiro.
Cavendish não corre o risco de passar aperto. No ano passado, apesar da receita da Delta ter caído apenas 10%, de R$ 3 bilhões para R$ 2,7 bilhões, o lucro despencou 85,5%, de R$ 220,3 milhões para R$ 32 milhões.
Um dos motivos foi o aumento do pagamento de dividendos a acionistas, que subiu de R$ 13 milhões para R$ 64 milhões.
Esperto Cavendish, não? Junto dele, Cabral é um bobo.
Tudo bem: extraiu vantagens da companhia generosa de Cavendish, o sedutor de nove entre dez políticos à cata de dinheiro para pagar dívidas de campanhas ou se eleger.
Agora, a popularidade de Cabral caiu. Menos do que ele calculou. Seu futuro político tornou-se opaco.
22 de maio de 2012
Ricardo Noblat
O GLOBO - 21/05/2012
O GLOBO - 21/05/2012