"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

REGISTRE-SE A REBELIÃO DOS INTOCÁVEIS


Reduzir o Conselho Nacional de Justiça a um mero órgão recursal é fazê-lo caricato, diz Agassiz Almeida para o ministro Cézar Peluso

Mensagem do escritor Agassiz Almeida ao ministro Cézar Peluso, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF)

Ao assistirmos incrédulos e ao mesmo tempo indignados, aos acontecimentos que irromperam nas altas esferas do Poder Judiciário, fatos me chegam à mente e despertam para a elaboração desta mensagem dirigida a Vossa Excelência.

Remonto aos trabalhos na Assembléia Nacional Constituinte (1986-1988), dos quais participei na condição de membro da Comissão de Organização dos Poderes, através da qual pude alcançar o acendrado corporativismo das instituições judiciárias do país.

Àquela época, a proposta da criação de um conselho de justiça foi derrotada. Décadas se passaram; e hoje, no descortinar de 2012, não podemos compreender as reações desenfreadas de um grupo de associações judicantes em contestar o trabalho, altamente dignificante, da corregedora do Conselho Nacional de Justiça, Eliana Calmon.

A este respeito, salta à minha memória o livro “A rebelião das elites”, de Christopher Lasch, no qual o autor analisa como certas elites corporativistas reagem quando ameaçadas nos seus privilégios.

Até poucos anos passados, mergulhadas numa redoma sob couraça de barreiras intransponíveis, as instituições judiciárias inadmitiam qualquer controle externo. Atualmente, em face do processo de democratização e fiscalização de suas ações, através dos seus dirigentes classistas, rebelam-se quando alguns dos seus integrantes são chamados à responsabilidade funcional, como agentes do Estado.

Sob uma visão histórica da nossa formação, desde o império, fomos encontrar as raízes desta desencontrada rebelião das associações judicantes.

O que testemunhamos? Poucos anos atrás, uma cortina ameaçadora e silenciosa, encobria qualquer procedimento investigatório acerca dos agentes judicantes. Hoje, dirigentes de associações classistas procuram inverter o pólo das acusações apontando a ministra corregedora como passível de ação administrativa e até penal.

Desloca-se o foco acusatório. Neste cenário, os indigitados poderão receber o passaporte da impunidade.

Neste momento, a consciência da nação procura encontrar a razão pela qual as entidades associativas do judiciário tentam revestir certos agentes indigitados na prática de ilícitos sob a aura da intocabilidade, vedando uma análise investigativa.

Tudo parece imergir para decisões comprometedoras. Pressente-se algo incompatível com as aspirações do país. Forças encasteladas nos altos poderes ameaçam enfraquecer as funções do Conselho Nacional de Justiça.

O corporativismo no Brasil sempre se colocou bem diante das mais diversas conjunturas e delas soube extrair imediatas vantagens.

Por lei, todo agente do Estado, como parlamentar, magistrado, promotor de justiça etc, deve entregar cópia da sua declaração de imposto de renda aos órgãos onde exercem as suas funções.

Há algo maior por trás deste joguetear.

Qual o escopo principal de tudo isto? Golpear os poderes do Conselho Nacional de Justiça, já tão limitados.

Cria-se o clima do sobressalto. Bradam: “Quebraram sigilos fiscais e bancários”. Mera encenação. E quem violentou os princípios da moralidade e se apropriou dos recursos públicos, o que deve responder?

Senhor ministro, a nação assiste impactada à rebelião dos intocáveis.

Reduzir o Conselho Nacional de Justiça a um mero órgão recursal é fazê-lo caricato.

*Agassiz Almeida, escritor, promotor de Justiça aposentado, ex-deputado constituinte de 1988, membro da Comissão da Organização dos Poderes na Assembléia Nacional Constituinte e autor dos livros “A república das elites” e “A ditadura dos generais”, participou de congressos mundiais em defesa dos direitos humanos

COMPETÊNCIA DE ALOIZIO MERCADANTE ASSOMBRA O MUNDO!!!

Ah, sim! Este blog havia cometido uma falha e deixado de registrar mais um sucesso formidável na carreira de Aloizio Mercadante, que está pronto para levar sua estupenda competência para o Ministério da Educação. Faça-se justiça a Lula num particular: em oito anos de governo, jamais deu um ministério ao homem. Acabou convencendo Dilma a fazê-lo… Leiam texto da Folha:

Brasil é acusado de atrasar construção de megatelescópio

A construção do maior e mais avançado telescópio espacial do mundo, em solo chileno, está atrasada por causa do Brasil. A afirmação é de Tim de Zeeuw, diretor-geral do ESO (Observatório Europeu do Sul), o conjunto de instrumentos de observação em solo que mais produz publicações científicas no planeta.

“Fizemos várias tentativas de falar com o ministro da Ciência e Tecnologia [Aloizio Mercadante], mas nunca obtivemos qualquer resposta. Só silêncio”, disse de Zeeuw em um encontro com jornalistas brasileiros no Chile. Em dezembro de 2010, o Brasil assinou um compromisso de adesão ao ESO. O país seria o 15º membro do observatório, o único não europeu.

Para formalizar o acordo, porém, o texto precisa passar pelo Congresso e pelo Ministério das Relações Exteriores. O responsável por enviar esse material para a votação é o titular da pasta de Ciência e de Tecnologia, mas isso não aconteceu. Ao tornar-se membro do ESO, o Brasil tem amplo acesso às avançadas instalações do grupo. A contrapartida é o pagamento de uma anuidade.

Os cientistas brasileiros, porém, já receberam o direito de usar o observatório, como se o país fosse membro pleno. A bandeira do Brasil figura no site e em todo o material oficial do ESO. Pelas negociações iniciais, o acordo deveria ter sido enviado para o Congresso até dezembro do ano passado. As contribuições financeiras deveriam ter começado em 2012.

A indefinição já começa a ameaçar os projetos que dependem da participação brasileira, sobretudo a construção do E-ELT (European Extremaly Large Telescope), um gigante de 40 metros no deserto do Atacama, no Chile. “Sem a definição do Brasil, o ESO não tem como começar os contratos de construção. Essa demora é algo que me surpreende muito, especialmente com as condições que foram oferecidas ao país”, disse de Zeew. Essa não é a primeira vez que o país atrasa seus compromissos na área espacial.

O Brasil prometeu à Nasa e a outras agências, em 1997, que daria US$ 100 milhões para a construção da ISS (Estação Espacial Internacional), além de fabricar peças. O país nunca entregou os componentes e pagou só US$ 10 milhões do prometido. Acabou afastado do projeto. O diretor do ESO afirma que, se até o meio do ano a questão não for resolvida, o país pode ser substituído por Rússia, Israel ou Austrália, que têm interesse no projeto.
Por Reinaldo Azevedo

ARMAS E DROGAS, QUAL A ORIGEM?

Nas operações policiais realizadas em favelas do Rio de Janeiro têm sido apreendidas grandes quantidades de armas e munições, segundo as autoridades. Parte desse aparato bélico foi identificado como originário de corrupção policial ou militar, pelo tipo de armas, mas grande parte não tem essa origem.

Logo, resta-nos uma pergunta: sabendo-se que as favelas não produzem armas nem munições e que a quase totalidade desse equipamento não é fabricado no Rio de Janeiro, como se explica que grande quantidade de armas e munições tenha chegado às favelas?

O jurista Dalmo de Abreu Dallari explica que, “este material bélico não é coisa que se possa transportar nos bolsos ou em pequenas embalagens, fugindo facilmente à vigilância dos controladores. Não é por qualquer caminho que se pode transportar uma carga pesada e volumosa como são as armas e munições. Como se explica que os caminhos do crime não sejam conhecidos dos organismos policiais responsáveis pela vigilância e que não sejam eficientemente bloqueados?”

Segundo o jurista, isso é muito grave e está exigindo estudos e providências urgentes e efetivas das autoridades responsáveis, porque se aplica também à entrada de armas e de drogas no Brasil por regiões de fronteira, terrestre e marítima. Nestas existe um aparato de vigilância especializado, inclusive bem aparelhado e bem armado, para coibir o contrabando desses produtos.

Maliciosamente, tentou-se aproveitar essa falha de vigilância em proveito de grileiros de terras indígenas, alegando-se que por elas é que passava esse contrabando. “Todavia”, para Dalmo Dallari, “essa tentativa de justificar a invasão de áreas indígenas não se sustentou, pois, além de serem poucas as áreas ocupadas por índios em regiões de fronteira, qualquer pessoa familiarizada com a questão indígena, inclusive as autoridades que atuam nessa área, sabe que os índios seriam os primeiros a denunciar qualquer utilização de suas terras que perturbasse sua ocupação pacífica e coerente com suas tradições.

Aqui também fica aberta a dúvida: como se justifica que as autoridades responsáveis não conheçam e não bloqueiem os caminhos usados pelos criminosos?”

Outro ponto de dúvida, nessa mesma linha, salienta o jurista Dalmo de Abreu Dallari, “é o caminho percorrido pelos traficantes de drogas para que elas cheguem, em grande quantidade, às cracolândias situadas em pontos centrais de cidades como Rio de Janeiro e São Paulo, por exemplo.

Aqui também cabe a mesma dúvida: como explicar o transporte, para aquelas e outras regiões da cidade, de grande quantidade de drogas, sem que os caminhos do crime sejam conhecidos e bloqueados? A mesma pergunta cabe também em relação a outras partes do Brasil, incluindo-se aí a passagem pelas fronteiras e o transporte interno para distribuição.

Quais os caminhos do crime para a consumação bem sucedida de seus objetivos, sem encontrar obstáculos eficientes que tornem, pelo menos, muito difícil a consecução de seus objetivos ilegais? Esse é um ponto fundamental que vem sendo objeto de indagações e preocupações em muitos lugares do Brasil.

“Existe algo a ser aperfeiçoado na legislação que prevê e determina a vigilância rigorosa e a coibição dessa caminhada criminosa?”, questiona Dalmo Dallari, “visto que os órgãos responsáveis pela defesa da sociedade nessas áreas são suficientes, estão bem aparelhados e contam com agentes bem treinados e conscientes de sua alta responsabilidade jurídica e social?”

O fechamento dos caminhos do crime é uma das prioridades do povo brasileiro e deve ser também prioridade das autoridades responsáveis, pois isso está diretamente ligado à garantia dos direitos fundamentais consagrados na Constituição, como o direito à vida, à saúde e à convivência pacífica voltada para o bem comum, fundamenta o jurista Dalmo de Abreu Dallari.

Contudo, a mídia não divulga como deveria, que os verdadeiros chefões do tráfico no Rio de Janeiro, que conseguem armas e drogas para para os seus súditos nas favela, não moram nelas, e o corrupto governador Sérgio Cabral sabe disso. Na Barra da Tijuca, por exemplo, moram muitos criminosos da elite: juízes, desembargadores, políticos, policiais, etc. E nunca ninguém pensou em enviar uma força policial é enviada para revistar os condomínios suspeitos

Na verdade, o pé de chinelo da favela é uma vítima do narcotráfico, porque as armas e as drogas, vale repetir, não nascem nessas comunidades. O que falta ser revelado são os países de suas origens, e isso parece ser segredo de estado para a mídia e para algumas autoridades, mancomunadas com essas atividades ilegais. A impunidade reina.

18 de janeiro de 2012
Paulo Peres

A VELHA FARSA DA LIBERDADE DE COMUNICAÇÃO

As defesas da liberdade de expressão e de comunicação pela grande mídia, tão apregoada nas democracias capitalistas, nunca existiu plenamente, em lugar algum. É mais outra grande mentira do Sistema. Antes da liberdade de comunicação, muito antes, vêm os interesses das elites dominantes. Tudo que se publica e divulga na grande mídia, de um modo ou de outro, sempre passou pelo crivo da censura e/ou da autocensura, salvo exceções.

É bem verdade que sempre existiu gente de muita competência e de coragem incomum, que ousaram peitar as elites dominantes, publicando coisas desagradáveis aos seus inescrupulosos interesses e objetivos. Mas pagaram e continuam pagando, muito caro por ousar desafiar as instruções do Sistema.

Um dos muitos exemplos do alto preço pago ao desafiar as elites dominantes pode ser visto no brilhante jornalista Helio Fernandes e sua indomável Tribuna da Imprensa, que não bastassem as miseráveis perseguições e censuras exercidas pela ditadura militar, até hoje, em plena democracia, continua sem receber as devidas indenizações obtidas, após mais de 32 anos lutando na Justiça.

Por tudo que já presenciamos e tomamos conhecimento, é muita ingenuidade acreditar que poderia existir liberdade de comunicação e de livre expressão, exclusivamente nos diversos veículos da internet, controlada e monitorada por grandes corporações estrangeiras, compromissadas com os maiores interesses, estratégias e políticas dos EUA.

De há muito que já escutamos e constatamos da impossibilidade de enviar certos artigos via internet, exclusivamente por conta de seu teor político, nada condenável aos olhos de um homem maior. Portanto, a menos que o sistema capitalista venha encontrar, urgentes recursos para poder sair do grande atoleiro, econômico e financeiro em que se encontra, atolado até o pescoço, a censura em todos os meios de comunicação, principalmente na internet, será cada dia maior, mais feroz e intolerável. Faz parte da democracia capitalista, só não vê, quem não quer.

18 de janeiro de 2012
Welinton Naveira e Silva

PRELÚDIO Nº 1 - HEITOR VILLA-LOBOS

UMA AULA DE HISTÓRIA - E QUE AULA!

15 de janeiro de 2012
Subject: Datas dos eventos históricos.
À Presidência da República

Palácio do Planalto
Praça dos 3 Poderes
CEP: 70150-900 - Brasília - DF
Tel: (61) 3411-1200 / 3411-1201
http://www.planalto.gov.br
Prezados da Presidência da República,

Observo que na relação das datas dos eventos históricos no Site do Ministério da Defesa não consta a data de 31 de março de 1964, uma das mais significativas para todos nós brasileiros, pois os militares de forma honrada e gloriosa souberam evitar a instauração de conflitos internos que invariavelmente nos levariam à divisão do país e muito derramamento de sangue, sem contar a diáspora que se seguiria. Conseguiram evitar que terroristas, marginais, assassinos e déspotas viessem a subjugar o nosso país a uma ideologia que nos era e é exótica, pois esta era afastada da liberdade, principalmente a econômica. De igual forma souberam cassar os direitos dos políticos que pretendiam fazer uso das forças públicas estaduais para fomentar a defesa de seus interesses, e não do povo brasileiro, como foi o caso dos governadores Adhemar de Barros e Carlos Lacerda.

Saber interpretar a data de 31 de março de 1964 é e deve ser um resgate histórico, principalmente o de se entender um período conturbado da história da humanidade, de um mundo dividido, com nações sendo divididas, passando por conflitos internos, com a redução significativa de suas populações.

Retirar o 31 de março de 1964 como uma de nossas principais datas histórica é desconsiderar a história brasileira, é não entender a nossa história, pois nos primeiros anos da década de 1960 o Brasil passou a viver período de crescente instabilidade política, militar e institucional. Após o governo Juscelino Kubitschek, as eleições presidenciais de 1960 haviam consagrado o nome do Sr. Jânio Quadros.

Jânio Quadros, vestido, ao longo da campanha, com a capa da moralização das práticas políticas e do combate à corrupção, desde logo o novo presidente revelou seu temperamento instável e autoritário e passou a assumir atitudes que pouca dúvida deixavam quanto a suas reais intenções de investir-se de poderes discricionários.

Cerca de seis meses após assumir o governo, simulou renunciar à presidência, alegando não poder enfrentar as “forças ocultas” que o impediam de cumprir os compromissos assumidos com o povo brasileiro.

Sabedor das sérias objeções e restrições que se faziam ao vice-presidente —o João Goulart (o “Jango”) — contava Jânio que a simulada renúncia não seria aceita e que o clamor público o faria retornar ao Palácio do Planalto com plenos poderes, livre e desimpedido das amarras constitucionais.

O estratagema não funcionou! O Congresso aceitou a renúncia e preparou-se para empossar o vice-presidente, então em viagem pela China Comunista. Visto pela oposição e pelas Forças Armadas como herdeiro da política varguista e simpático ao comunismo, a posse de Goulart enfrentou sérias resistências, dividiu o Exército e colocou o país à beira da guerra civil. Diante do impasse, adotou-se o parlamentarismo, e Goulart, finalmente, assumiu a presidência em 7 Set 1961, como chefe de estado, mas não de governo.

Infelizmente, de duração efêmera, o regime parlamentarista foi rejeitado pela esmagadora maioria da população, em plebiscito realizado em janeiro de 1963. Tal rejeição não se deu pelo fato de conhecerem ou não as vantagens do parlamentarismo, ou de observarem o princípio da subsidiariedade, mas motivados pelo calor dos debates.

Investido dos plenos poderes presidenciais, João Goulart rapidamente passou a conduzir ações no sentido de implementar projeto reconhecidamente golpista que desaguaria em um regime totalitário de esquerda. Insuflado e orientado por seu cunhado, Leonel Brizola, pregava a necessidade de “reformas de base” e a implantação de uma “república sindicalista”. Controlando o aparelho sindical, o governo promovia o grevismo, a anarquia e o caos, e o país passou a viver dias de intranquilidade, estagnação econômica e inflação descontrolada. Enfrentar e debelar tão graves problemas, afirmavam Jango e seus aliados, impunha a necessidade urgente de “reformas de base”, “com ou sem o Congresso, na lei ou na marra!” A mensagem não poderia ser mais clara!

Aliado ao esquema governista, porém com seus próprios objetivos, identificava-se ainda um projeto revolucionário marxista-leninista, conduzido pelo Partido Comunista Brasileiro e seu líder, Luiz Carlos Prestes. A manobra revolucionária buscava uma “frente única” e a concretização de uma “Revolução Democrática Burguesa”, ao aliar-se à insurreição “burguesa” de Goulart e Brizola. Ao adotar esse processo, o PCB revelava fiel e rígida observância às diretrizes de Moscou, que recomendavam o “assalto ao poder pela via pacífica”, em contraposição a linhas de ação mais açodadas e radicais (foquistas, trotskistas e maoístas), defensoras da luta armada.

Curiosamente, ambas as correntes — a janguista-brizolista e a comunista — viam na adesão e participação das Forças Armadas e, em especial do Exército, condição imprescindível para a conquista de seus objetivos.

Para isso, fazia-se mister neutralizar, enfraquecer e solapar as lideranças contrárias aos seus desígnios e montar um “dispositivo militar” confiável, capaz de permitir e apoiar a ensandecida marcha no rumo do totalitarismo. Os chefes militares foram classificados em dois grandes grupos: havia os “generais do povo” e os entreguistas”; as divisões internas foram fomentadas; e criou-se artificial e perigosa cisão entre oficiais e graduados. Os sagrados princípios da hierarquia e da disciplina passaram a sofrer permanente ataque.

Em janeiro de 1964, em viagem a Moscou, Prestes deixou claro o papel e a importância dos militares brasileiros no processo revolucionário vermelho: ... Oficiais nacionalistas e comunistas assegurarão, pela força, um governo nacionalista e anti-imperialista... As reformas de base acelerarão a conquista dos objetivos revolucionários ... O grande trunfo será o dispositivo militar.

Em março de 1964, a desordem e a intranquilidade atingiram novos patamares. Sucediam-se as greves, e aumentavam as arruaças e ameaças de intervenção de grupos armados ligados a Brizola. A população sofria com o desabastecimento, os frequentes e inopinados cortes de energia elétrica e a quase diária paralisação do transporte público. Arregimentada pela grande imprensa, pela Igreja católica e por líderes políticos, a opinião pública começara a protestar e a participar, maciçamente, de manifestações contra aquele estado de coisas.

Em tão conturbado ambiente, três eram os cenários mais prováveis para a evolução do quadro nacional:

1. a implantação de um regime ditatorial de esquerda;

2. o agravamento do anarquismo sindical;

3. a eclosão de uma guerra civil com conotações ideológicas.

Claramente, a sucessão democrática normal, prevista para ocorrer no ano seguinte (1965) tornava-se a cada dia mais distante e implausível.

Confiantes nas “forças populares” e no apoio do “dispositivo militar”, Jango, Brizola e Prestes buscaram escalar a crise, na certeza de alcançar, em curto prazo, desfecho favorável a seus propósitos.

Três episódios caracterizariam essa decisão: o comício realizado em frente ao prédio da Central do Brasil, em 13 de março, marcado pela agressividade e
radicalização das posições; o motim de marinheiros e fuzileiros navais, em 25 de março; e o discurso pronunciado por João Goulart no Clube dos Subtenentes e Sargentos do Exército, em 30 de março.

Dos três acontecimentos, os dois últimos influenciariam decisivamente a evolução dos acontecimentos, ainda que de maneira diametralmente oposta à imaginada por Goulart e seus companheiros de viagem. A incitação ao motim; o estímulo à quebra da hierarquia e da disciplina; a virulência de Jango; e a clara intenção de aprofundar a anarquia e a desordem despertaram nas forças vivas da nação a necessidade de pronta e enérgica reação, ainda que à custa da quebra da ordem constitucional. A destemida e intrépida decisão dos Generais Mourão e Guedes de iniciar, em Minas Gerais, com absoluta inferioridade de meios, o deslocamento em direção ao Rio de Janeiro e a Brasília, aglutinou e catalisou a resposta da sociedade brasileira aos desmandos e à subversão. A rapidez com que o movimento se fez vitorioso, sem encontrar a menor resistência de nenhum setor da sociedade, constitui a melhor prova do repúdio popular ao esquema golpista engendrado por Goulart e seus aliados.

A momentânea quebra da ordem institucional, respaldada e legitimada pelo Congresso e pelo imenso apoio popular, salvou a democracia, ameaçada pela intimidação do parlamento, pela pressão das massas sindicalizadas e pela anarquia das Forças Armadas.

Desse modo, o 31 de Março de 1964... é, primordialmente, um fato político e não uma quartelada, como insinuam seus adversários e detratores...*

Não pode, pois, ser rotulado como golpe militar, como, aliás, atestou o jornalista Roberto Marinho, em editorial do jornal O Globo de 7 de outubro de 1984:

Participamos da Revolução de 1964, identificados com os anseios nacionais de preservação das instituições democráticas, ameaçadas pela radicalização ideológica, greves, desordem social e corrupção generalizada... Sem o povo, não haveria revolução, mas apenas um “pronunciamento” ou “golpe” com o qual não estaríamos solidários. (Gen José S. Fábrega Loureiro e Cel Pedro Schirmer, em “A Revolução de 1964” - Correio Brasiliense, 29 Mar 04). Desencadeada para impedir a implantação do totalitarismo de esquerda, a Revolução demoraria muito mais do que o inicialmente previsto e desejado por seus líderes para devolver o poder a um civil eleito democraticamente.

A causa principal do alongamento do regime reside, sem dúvida, na necessidade de enfrentar a subversão e a luta armada, intensificadas a partir de 1968 por organizações comuno-terroristas. Pela mesma razão, viu-se obrigado a lançar mão, em momentos extremos, de recursos amargos para impedir o país de mergulhar em prolongada guerrilha urbana e rural, deflagrada com o claro objetivo de implantar no país a “ditadura do proletariado”. Não obstante o necessário e eventual uso de medidas de força, a Revolução sempre teve como meta o restabelecimento pleno da democracia.

Aliás, é bom lembrar que seu último presidente, o General Figueiredo, governou durante seis anos sem nenhum dos poderes discricionários outorgados por atos revolucionários.

Não parece justo, portanto, acoimar de ditatorial um regime que exigiu o rodízio de lideranças, não praticou o culto da personalidade, não adotou o modelo do partido único, manteve os instrumentos de legalidade formais e, por fim, autolimitou-se. Mais uma vez, a palavra do jornalista Roberto Marinho ilustra e esclarece:

“Não há memória de que haja ocorrido aqui, ou em qualquer outro país, um regime de força, consolidado há mais de vinte anos, que tenha utilizado seu próprio arbítrio para se auto-limitar, extinguindo os poderes de exceção, anistiando adversários, ensejando novos quadros partidários, em plena liberdade de imprensa. É esse, indubitavelmente, o maior feito da revolução de 1964.” (Julgamento da Revolução - O Globo - 7 de outubro de 1984)

Ao restabelecer o clima de ordem e paz e o princípio da autoridade, o período revolucionário propiciou profundas, benéficas e duradouras transformações. Nunca antes, na história deste país (e nem depois), viveu-se tempo de tão acelerado progresso e concretas realizações.

Apresentando taxas de crescimento não mais atingidas, o Brasil passou do 49º para o 8º lugar, lugar que ocupa atualmente não fosse o artificialismo de um dólar subavaliado, entre as economias do mundo.

Dentre outros feitos, a infraestrutura do país foi modernizada e ampliada; todas as capitais estaduais passaram a ser interligadas fisicamente, por estradas de muito boa qualidade; incorporou-se efetivamente a Amazônia ao patrimônio nacional; desenvolveram-se as indústrias naval e aeronáutica; criaram-se a Empresa Brasileira de Pesquisa Agrária e a Empresa Brasileira de Telecomunicações; multiplicou-se por 9 a potência elétrica instalada, por 6 as reservas de petróleo e por 15 as receitas com exportações; e as fronteiras econômicas expandiram-se, com a adoção do Mar de 200 Milhas.

Iguais êxitos foram alcançados na área social, por intermédio de medidas como, por exemplo, a incorporação à Previdência Social de 20 milhões de trabalhadores rurais; a promulgação do Estatuto da Terra; a criação de órgãos e instrumentos de ação social como o FGTS e o PIS/PASEP; e a instituição do MOBRAL e do Projeto Rondon.

Diante de tão expressivas e incontestáveis realizações, não é exagero afirmar-se que a Revolução modernizou o Brasil e plantou as bases físicas que, ainda hoje, alicerçam a caminhada do país no rumo do pleno desenvolvimento, como sociedade livre e democrática.

Certamente, equívocos foram cometidos. O balanço, todavia, é inquestionavelmente positivo, e a análise isenta do período, “descompromissada com o emocionalismo" próprio dos perdedores”, certamente revela resultados extremamente favoráveis, muito diferentes da “versão construída pelas esquerdas, com bases em referências ideológicas inconsistentes e ultrapassadas”.

Comemorar a Revolução Democrática de 31 de Março de 1964 é também exaltar! Exaltar e homenagear as lideranças civis e militares que há quarenta e quatro anos demonstraram a visão, o arrojo e o destemor para arrostar os perigos da hora presente e arrastar a nação pelos caminhos que haveriam de possibilitar a preservação da democracia e a preservá-la do comuno-socialismo.

Exaltar e homenagear os chefes militares que exerceram a presidência da república com os olhos postos, somente, na grandeza e nos interesses da pátria. Que pautaram suas atitudes pelo comedimento e pelo decoro; que levaram uma vida austera, sem jactâncias ou demonstrações de arrogância; que não se entregaram a conchavos, buscando reeleger-se ou perpetuar-se no cargo; que não permitiram o culto a suas personalidades; que não vacilaram em adotar medidas duras e impopulares, em vez de ceder às práticas do assistencialismo e do populismo voltados para a manutenção de vantagens eleitorais; que selecionaram equipes administrativas com base no mérito, e não para atender interesses subalternos; que se portaram com altivez e independência, sem se preocupar em agradar grupelhos e corriolas ideológicas; que procuraram servir, e não servir-se do cargo para enriquecer ou enriquecer seus familiares; e que, ao término dos mandatos, saíram de cena com a serenidade própria de quem soube cumprir a missão.

Exaltar e homenagear, principalmente, os incontáveis brasileiros, militares e civis, heróis anônimos que travaram e venceram o “Combate nas Trevas” contra a luta armada desencadeada em nossas cidades e no campo por ensandecidos brasileiros cooptados por facções do comunismo internacional. A expressiva frase cunhada pelo General Walter Pires de Carvalho e Albuquerque, antigo Ministro do Exército, hoje gravada nas paredes de várias de nossas organizações militares, sintetiza a exaltação e a homenagem devidas a esses compatriotas: “Estaremos sempre solidários com aqueles que, na hora de agressão e da adversidade, cumpriram o duro dever de se opor a agitadores e terroristas, de armas na mão, para que a Nação não fosse levada à anarquia”

Sim, estaremos sempre solidários, enquanto proclamarmos, com a força e o vigor possíveis, a “Grande Mentira” contida na afirmação de que a luta armada originou-se da opressão exercida pelos governos revolucionários, sobretudo a partir da edição do Ato Institucional Nr 5. Pois, como revela o corajoso e franco depoimento de ex-integrante de um grupo guerrilheiro (sublinhados acrescentados), Não compartilho a lenda de que no fim de 1960 e no início de 1970 nós(inclusive eu) fomos o braço armado de uma resistência democrática. Acho isso um mito surgido durante a campanha da anistia. Ao longo do processo de radicalização iniciado em 1961, o projeto das organizações de esquerda que defendiam a luta armada era revolucionário, ofensivo e ditatorial.

Pretendia-se implantar uma ditadura revolucionária. Não existe um só documento dessas organizações em que elas se apresentem como instrumento da resistência democrática.*

Estaremos sempre solidários, enquanto lembrarmos que o sacrifício supremo feito por tantos brasileiros tombados na defesa da democracia e da legalidade não recebe ou recebeu as vultosas e obscenas indenizações pagas com dinheiro público aos que roubaram, assaltaram, sequestram e mataram.

Estaremos sempre solidários enquanto repudiarmos as tentativas de opor o “Exército de hoje, democrático e profissional”, ao “Exército de ontem, golpista e torturador”.

Estaremos sempre solidários, enquanto não permanecermos em acovardado silêncio diante da farsa de meliantes que, em vez de se envergonharem de seus crimes ganham redobrada ousadia e organizam-se para difamar e até levar às barras dos tribunais honrados militares que cumpriram o duro dever de combatê-los.

Estaremos sempre solidários, enquanto compreendermos que a democracia impõe a convivência harmoniosa e respeitável entre contrários, mas não exige a bajulação, a subserviência, as homenagens e as condecorações a antigos agitadores e terroristas que, de armas na mão, procuraram levar a Nação à anarquia e ao comunismo.

Comemorar o 31 de Março, finalmente, convida-nos a ouvir vozes de alerta!

Alerta, porque (para usar as palavras de respeitado Chefe militar) “No momento em que carece o país de exemplos de lealdade, de prática da verdade, de honestidade, de probidade e de seriedade; no momento em que ventos antidemocráticos sopram na América do Sul; no momento em que se reescreve e distorce a História, com vil visão marxista”, é preciso relembrar e meditar sobre os ideais de 1964.

Alerta, porque, apesar de todas as demonstrações de tolerância, respeito à ordem democrática e perdão aos criminosos de ontem, as Forças Armadas continuam marginalizadas e tratadas com descaso e mal disfarçada hostilidade. Alijadas das esferas decisórias da República, em nome da concórdia tudo têm aceito, até o inaceitável, como o pagamento de régias recompensas a traidores e desertores que se levantaram para implantar, em nosso país, ditadura de modelo castrista, maoísta e soviética, ditaduras que se mostraram de fato ser o fracasso da humanidade.

Alerta, porque, na revolução cultural gramcista, “Heróis não são mais os que morreram pela liberdade, mas os que mataram pela escravidão, e as homenagens não são mais para os homens da lei, mas para os homens sem lei”. Alerta, porque enquanto o banditismo alimentado pelo tráfico de drogas aterroriza cidades, ceifa vidas e enluta milhares de famílias; o país integra foro de países que trata como aliada organização narco-guerrilheira de país vizinho, com claras e evidentes ramificações em nosso território.

Alerta, porque, tolerados e apoiados pelo Estado e pelo estrangeiro, grupos revolucionários atuam livremente em todo o país e com invulgar capacidade de
mobilização, invadem terras produtivas, destroem propriedades, incendeiam instalações e depredam preciosos laboratórios, na certeza de que estão acima e além da lei.

Alerta, porque a pretexto de defender etnias indígenas, organizações não-governamentais e entidades com sede no estrangeiro controlam, na prática, ponderáveis porções do território nacional; e, recentemente, conseguiram, até mesmo, proibir um oficial-general do Exército de acompanhar, em área sob sua jurisdição, visita de autoridade ministerial.

Alerta, porque a sociedade, anestesiada por décadas de intoxicante doutrinação, assiste, impassível, a omissão e a cumplicidade criarem, no país, clima de desapreço à verdade e à ética, de desrespeito à justiça, de desmoralização de instituições, de negociatas e escândalos.

Que “o Brasil de todos” (de todos os brasileiros de bem), o Brasil verde e amarelo azul e branco, o Brasil que soube dizer “Não!” à cor vermelha em 1964, ao ouvir essas vozes de alerta, possa responder como as sentinelas das velhas fortalezas portuguesas, que em suas rondas rompiam o silêncio da noite com o brado: “Alerta estou!”.

Como qualquer data histórica, comemorar a Revolução de 31 de Março de 1964 requer serena reflexão, para que possamos efetivamente entendê-la, avaliá-la, exaltá-la e dela retirar ensinamentos.

Comemorar o 31 de março nos dias atuais é de fato compreender a realidade de uma época. Felizmente dela o Brasil não saiu dividido, nem os brasileiros
tombados mortos em defesa da liberdade. Felizmente com o 31 de março de 1964 o Brasil não se deixou subjugar a ideologias exóticas que hoje estão registradas na história da humanidade nos quatro cantos do mundo.

A queda do Muro de Berlin, onde vieram a falecer dois de meus primos, um deles oficialmente, é uma evidência clara de que os militares acertaram, seguramente erraram muito. O legado da excessiva centralização em Brasília é um de seus piores legados. Mas este é o desafio que cabe aos políticos que hoje comandam os desígnios desta nossa nação, o de dignificarem o nome de nosso país, República Federativa do Brasil, onde o federativa ainda é, infelizmente, motivo de piada, ou distante de uma realidade desejada pelos brasileiros, assim observando um dos princípios mais importantes para se edificar uma nação e leva-la ao desenvolvimento e garantir a paz e a justiça: o princípio da subsidiariedade.

Atenciosamante,
Gerhard Erich Boehme

DOIS SARGENTOS QUEREM O AMARGO CAVIAR DO EXÍLIO

A imprensa vem, desde há muito, dando novos significados a palavras antigas. Por exemplo, genocídio. Houve quem falasse em genocídio por ocasião do assassinato de comunistas no Chile. Assassinato tudo bem. Mas entendo genocídio como extermínio de uma etnia. Não sabia que os comunistas constituíam uma raça.

Da mesma forma, os nordestinos. Mal você diz algo contra as práticas políticas dos coronéis lá do Agreste, não falta quem fale em racismo. Como se nordestino fosse raça. Ainda hoje, o líder do PT no Senado, Humberto Costa, de Pernambuco - ao defender seu conterrâneo Fernando Bezerra Coelho, ministro da Integração Nacional e atolado até o pescoço em denúncias de nepotismo e favorecimento político de seu Estado – vociferava:

- Vossa excelência está sendo vítima pelo fato de ser nordestino. Acho difícil que se tivesse havido liberação até maior para Estados como São Paulo tivesse essa celeuma. Isso só acontece quando se trata do Nordeste.

Como se políticos do Rio, São Paulo ou de qualquer outro Estado não tenham sido denunciados pela imprensa por suas mazelas. O mundo está cheio de gentes que se dizem discriminadas o vítimas de preconceitos para passar bem. Os coitadinhos dos negros se dizem discriminados por serem negros. Neste país, onde jamais tiveram restrições legais para entrar em um bar ou em uma universidade, exigem cotas no vestibular. Nota de negro vale mais que a de um branco.

Escrevia-me há pouco um leitor, o Sidnei Júnior:

- Apesar de, freqüentemente, as palavras discriminação e preconceito serem utilizadas como sinônimos, é preciso observar que, em essência, seus significados são distintos. O fato de uma pessoa discriminar algo não significa que ela seja necessariamente preconceituosa, e vice-versa.

De acordo, Sidnei. Costumo afirmar que preconceito é o que alimentamos pelo abominável homem das neves. Por que abominável, se jamais o vimos? Preconceitos, não os alimento. Tenho, isto sim, pós-conceitos. Exceto best-sellers, não desgosto de nada que não conheço. Mas best-seller, por definição, é obra concebida ao gosto do populacho. Então já sei do que se trata.

- Discriminar é, pura e simplesmente, o ato de escolher, discernir e, então, optar por aquilo que é conveniente no momento. A toda hora o ser humano é obrigado a fazer escolhas (econômicas, familiares, amorosas) e, ao fazê-lo, precisa discriminar tantas outras. Sendo assim, discriminar é, antes de tudo, um exercício democrático, um direito inalienável e todo cidadão.

Assino embaixo. Estamos discriminando o tempo todo. Eu discrimino, por exemplo, chatos. Chato não existe em meu entorno. Como dizia Goethe, em um século que não poupa nada nem ninguém, vou poupar pelo menos a mim mesmo.

- Em si – continua Sidnei - discriminação e preconceito não são, obrigatoriamente, faltas capitais; pelo contrário, são direitos próprios de qualquer cultura. Sendo assim, cabe a cada um de nós e às instituições responsáveis saber até onde é possível considerá-los como valores bons a sociedade. O problema começa quando a discriminação ou o preconceito perdem o senso das proporções e dos respeitos e descambam para os complexos, tanto de superioridade quanto de inferioridade. É aí, infelizmente, que começam as agressões, as ofensas morais, as violações do direito do cidadão, enfim, atitudes desproporcionais que servem apenas para alimentar o ódio, o rancor de um com o outro, ou, em sentido mais atual, de uma raça com a outra.

De minha parte, diria que, se discriminação é atitude normal – todos discriminamos – preconceito não é postura inteligente. Pode não ser crime, mas tampouco é direito. Quanto ao complexo de superioridade, é discutível. Não creio estar alimentando nenhum complexo quando me sinto superior a um bugre que enterra vivo seus filhos. Ou a um negro que prefere entrar na universidade pela porta dos fundos. Ou a um crente que entrega seus últimos centavos a um pastor vigarista. Ou mesmo a um catolicão que se ajoelha ante um deus que não existe.

Há culturas superiores e inferiores. Não se pode igualar uma Alemanha que deu um Nietzsche a uma África que produz um Idi Amin Dada. Há homens superiores e inferiores. Ninguém pretende comparar um Mozart a um Muamar Kadafi, ou mesmo afirmar que ambos merecem igual respeito. Há pessoas neste mundo que não merecem respeito algum.

Há muita gente querendo passar bem alegando discriminação, dizia. Já nem falo do astrólogo aquele que pretende ter-se refugiado na Virgínia por ameaças a sua vida, como se astrólogo no Brasil corresse algum risco de vida. Muito menos me refiro àquele outro maluco do Mídiasemmáscara, que não consegue escrever um artigo sem condenar o homossexualismo. Diz-se perseguido pelos homossexuais e estaria exilado em lugar incerto e não sabido. Mas o melhor vem agora.

Dois sargentos do Exército nacional, que se declaram homossexuais recorreram à Corte Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA) para obter segurança internacional. Dizem-se perseguidos pelos heteros. A intenção é sair do Brasil e garantir “uma vida normal”, de acordo com um deles. “Temos visto cada vez mais casos de agressões nas grandes cidades, e, querendo ou não, somos o casal gay mais visado do país, por sermos militares e termos assumido nossa relação. Não agüentamos conviver com tantas ameaças. Ficamos em casa, não podemos sair. Só queremos garantir uma vida tranquila, como qualquer pessoa tem direito”.

Sem falar que nenhuma ameaça é definida, com nome do autor e natureza da ameaça, só o que faltava um soldado sentir medo de ameaças. Exército é uma máquina de matar. Os recrutas não são treinados para passeatas em datas cívicas, mas para matar se necessário for. Como o inimigo não gosta de morrer, é natural que pretenda matar quem o quer matar. Imaginemos os dois sargentos em uma hipotética guerra. “Que horror, o inimigo quer matar-me. Quero asilo no exterior”.

O casal diz não ter preferência por nenhuma nação em especial para residir. É de supor-se que não tenham objeção alguma a Paris, Londres ou Berlim. Os dois procuram um lugar seguro, onde a sua relação afetiva seja aceita. Como se neste Brasil, onde milhões de gays desfilam festivamente em passeatas gigantescas nas capitais do país, alguém não aceitasse relações homossexuais.

No fundo, os dois sargentos querem vida mansa no exterior. O amargo caviar do exílio, tão ao gosto dos comunistas.
janer cristaldo

A MULHER NA IDADE MÉDIA

Artigos - Cultura
“Não há judeu nem grego; não há escravo nem livre; não há homem e mulher, porque sois todos um só em Jesus Cristo.”
S. Paulo, Carta aos Gálatas, 3, 28

A Idade Média tem sido muito maltratada pelos ideólogos e pela política contemporâneos. Vivemos em um tempo estranho, em uma cultura em que a mulher-objecto é considerada mais livre e feliz do que a mulher medieval. Obviamente que falamos aqui de Ética e do Direito — ou seja, de valores humanos —, e não propriamente da técnica ou da ciência; de resto, a ciência e a técnica não têm voz activa e determinante na definição da ética e da dignidade humana.

Primeiro, com o Renascimento (o surgimento da proto-burguesia mercantil), e depois a partir do fim do século XVI com os teóricos do Estado moderno, o Direito Romano voltou em força à estrutura do Direito europeu — a estrutura e os princípios do Direito Romano beneficiavam claramente a classe mercantil ou proto-burguesa.
Os estatutos do homem e da mulher afastaram-se, então, um do outro; existiu, de facto, um nexo causal claro entre a reentrada do Direito Romano na Europa e a perda de poder da mulher na sociedade.

Não significa isto que o Direito Romano tivesse desaparecido totalmente do edifício jurídico medieval, mas tinha sido obnubilado pelo Direito Canónico da Igreja Católica Apostólica Romana. E com o Renascimento, em primeiro lugar, e depois com os teóricos do Estado moderno, o estatuto da mulher na sociedade europeia foi penalizado; aconteceu, de facto, um retrocesso. E foi por isso que, com o surgimento do Direito Positivo a partir de fins do século XIX, passou a confundir-se o estatuto da mulher na Idade Média com o da Idade Moderna.

A partir de finais do século XIX e princípio do século XX, e com o advento da positividade do Direito (Neopositivismo, Círculo de Viena), a influência do Direito Romano na estrutura do Direito europeu passou paulatina e novamente, por assim dizer, para um plano secundário, e advém deste facto a sensação de maior liberdade e independência da mulher.
O Direito passou, em crescendo, a adequar a norma ao facto, devido à ausência de uma sólida fundamentação ética das normas, tal como tinha acontecido no passado.

O Direito Positivo afastou-se da infra-estrutura do Direito Romano, por um lado, e do suporte ético cristão e católico, por outro lado, e passou a reger-se pelas ideologias políticas predominantes em cada época.

Há mesmo medievalistas (por exemplo, Umberto Eco) que dizem que, na Idade Média, as mulheres, em termos gerais, (por exemplo, nos conventos) praticavam mais a leitura do que os homens. A influência da mulher na sociedade medieval era não só enorme, mas essencialmente era decisiva e positiva. Hoje, a mulher tem também uma enorme influência na sociedade mas nem sempre pelas melhores razões.

Quando, hoje, alguns “intelectuais” e “escritores” dizem, por exemplo, que o estatuto da mulher muçulmana actual é equivalente ou semelhante ao estatuto da mulher europeia medieval, estão a dizer uma barbaridade. Esta comparação não tem qualquer fundamentação na realidade.
E quando se diz que, do ponto de vista existencial (existência, vida, valores, ética), a mulher actual é mais livre e feliz do que a mulher medieval, comete-se um erro de falta de perspectiva histórica, porque de facto essa afirmação não corresponde à verdade.

Escrito por Orlando Braga, 18 Janeiro 2012

CASO CELSO DANIEL PODERÁ PRESCREVER

MP DE SP ALERTA QUE DENÚNCIAS SOBRE CASO CELSO DANIEL PODERÃO PRESCREVER. CRIME COMPLETA 10 ANOS SEM SOLUÇÃO!
O petista Celso Daniel foi assassinado em 2002
O Ministério Público de São Paulo alerta que os casos de corrupção ligados à morte do ex-prefeito de Santo André, Celso Daniel, correm risco de prescrição.
As informações são do repórter Pedro Campos, da Rádio Bandeirantes.

A lentidão da tramitação dos processos sobre um suposto esquema de desvios de recursos públicos pode resultar em impunidade.

Após uma década do assassinato do petista, a Justiça ainda não deu uma resposta sobre o possível prejuízo causado aos cofres de Santo André.

Ameaças
A família de Celso Daniel sofre até hoje com os mistérios que envolvem a morte do ex-prefeito. Um dos irmãos, Bruno Daniel, viveu por seis anos como refugiado político na França por causa das ameaças que recebeu. Há 2 meses ele voltou ao país com a família, mesmo sem ajuda de companheiros do PT.

Para ele, os nomes de outros envolvidos devem surgir durante o julgamento dos demais acusados pelo crime.

Outro irmão, João Francisco Daniel, vive na Bahia e não esconde a revolta com a morosidade da Justiça. O Partido dos Trabalhadores foi procurado, mas não respondeu o pedido de entrevista para falar sobre o caso.
18 de janeiro de 2012

O EDITORIAL É DO ESTADÃO OU DA CAROS AMIGOS?

O que pode explicar a vergonhosa atuação dos jornalistas brasileiros na cobertura das primárias republicanas nos EUA? Bruno Pontes analisa editorial do Estadão e a cobertura da Rede Globo.
Começou o processo de escolha do candidato republicano que enfrentará Barack Obama em novembro. As editorias internacionais da nossa imprensa já estão esculhambando o pessoal cafona dos Estados Unidos que não pensa igual ao pessoal bacana das redações aqui no Brasil, como fez o sujeito que escreveu o editorial do Estado de São Paulo de 10 de janeiro intitulado “Republicanos medievais”. Vejamos então como pensa o editorialista e sigamos o seu exemplo para não cometermos a gafe da defasagem intelectual:

“O equivalente político ao circo da Fórmula 1 - a prolongada sequência de eleições primárias em todos os Estados Unidos para a escolha dos candidatos à Casa Branca - prossegue hoje em New Hampshire. Será a segunda disputa entre a meia dúzia de aspirantes republicanos à cadeira do democrata Barack Obama, que buscará a reeleição em novembro deste ano. A corrida anterior, na semana passada em Iowa, teve um desfecho surpreendente: Mitt Romney, ex-governador de Massachusetts, tido como moderado em comparação com os rivais, bateu por 8 votos (em cerca de 130 mil depositados) o fundamentalista evangélico Rick Santorum. Este ex-senador da Pensilvânia era até então mais conhecido por sua homofobia do que pelas chances de se tornar o presidenciável da legenda que já teve entre os seus eleitos um político da estatura de Abraham Lincoln”.

O termo “homofobia”, aplicado cada vez mais arbitrariamente pelos grupos militantes e seus ajudantes na mídia, abarca qualquer opinião contrária às diretrizes da agenda gay, incluindo a destruição do casamento como a humanidade sempre o considerou: um homem e uma mulher se unem para formar uma família. Rick Santorum acredita que casamento é isso, fala e age politicamente em defesa disso, e também fala e age politicamente contra o gayzismo nas escolas e nas Forças Armadas, que a esquerda favorece e patrocina. Ele está em desacordo com a ética progressista, para o desgosto do editorialista, que certamente é moderno, tolerante e portanto intolerante a qualquer opinião que não tenha o selo de aprovação do lobby gay.

“A ascensão de Santorum, que dificilmente se confirmará no Estado de New Hampshire - conhecido por suas características seculares -, mas poderá ser ratificada na Carolina do Sul, evidencia ainda uma vez a captura do Partido Republicano pelo que há de mais extremado, intolerante e obscurantista na mentalidade americana. Na Baixa Idade Média em que o partido mergulhou, o conservadorismo fiscal, com a defesa do livre mercado e a limitação do papel do Estado - suas defensáveis bandeiras tradicionais - foram ultrapassados pelo conservadorismo moral, na área dos costumes. Numa visão brasileira, pode-se dizer que, em relação à esfera privada, um político como o deputado Severino Cavalcanti parece um liberal perto dos pré-candidatos republicanos”.

Esses republicanos são muito inconvenientes. Em vez de falar só de economia e administração, ficam contestando a esquerda no campo dos valores, numa lamentável demonstração de moralismo obscurantista. Diz algo sobre os esquerdistas o fato de eles não se sentirem confortáveis com o debate livre sobre suas bandeiras mais caras, que eles, habitantes do mundo da fantasia, imaginam ser consensuais.

“O partido não é apenas contra aumento de impostos e a favor de cortes cirúrgicos nos gastos sociais a pretexto da recuperação das contas públicas - embora tenha sido um dos seus, o então presidente George W. Bush, quem deixou um rombo estratosférico nas finanças nacionais. Os republicanos também se recusam a acreditar no aquecimento global, defendem o comércio irrestrito de armas de fogo, querem expulsar os 12 milhões de imigrantes ilegais que se acredita existir nos EUA e se mobilizaram para impedir, na Justiça, a vigência do sistema de saúde proposto por Obama, que obriga todo americano a ter um seguro - indiferentes ao fato de que esse projeto nasceu como alternativa conservadora àquele que a então primeira-dama Hillary Clinton tentou emplacar em meados dos anos 1990. Só não são indiferentes ao fato de que, como governador, o correligionário Mitt Romney precedeu Obama ao adotar um sistema de saúde - que Romney se viu obrigado a renegar”.

Agora a mentalidade atrasada desses republicanos ficou mais que evidente: eles se recusam a acreditar numa verdade cuja prova de veracidade nunca apareceu, mas que a mídia estabeleceu como verdade assim mesmo. Como é que pode haver gente que não se curva à autoridade de políticos, ongueiros, artistas de Hollywood e cientistas da ONU? E gente que ainda não entendeu que o direito de defender a própria vida e a propriedade deve ser submetido ao governo? Ponha a mão na consciência e responda: essa gente merece viver no século XXI?

Nosso amigo do Estadão também considera absurdo um país exigir dos imigrantes o cumprimento da lei local. Querer expulsar pessoas só porque elas estão fora da lei do país que as sustenta com o dinheiro dos impostos pagos pelos cidadãos e imigrantes legalizados, convenhamos, tem cheiro de intolerância.

Quanto ao Obamacare, dizer que ele “obriga” todo americano a ter seguro já explica a oposição dos conservadores: Obama quer forçar os americanos a entregar sua saúde a um gigantesco sistema centralizado no governo federal no qual decisões relativas ao bem-estar do cidadão serão tomadas não por médicos e pacientes, mas por uma rede infindável de burocratas, que não terão a mesma pressa que teriam se fossem eles próprios os doentes, a um custo de não sei quantos bilhões ou trilhões de dólares.

“Mas o que eles abominam acima de tudo é o direito ao aborto, sejam quais forem as circunstâncias, e o casamento entre pessoas do mesmo sexo. (...) A ironia é que, furiosos antiestatistas, os demais candidatos não se vexam de pregar o intervencionismo do Estado para proibir o aborto e banir o casamento homossexual. Para Rick Santorum, a estrela da prévia de Iowa, isso ainda é pouco. Ele gostaria de revogar o decreto de Obama que autorizou a presença de gays nas Forças Armadas, tornar crime as relações homossexuais - e proibir a venda da pílula e outros contraceptivos”.

Não há ironia em defender a ação do Estado contra o aborto quando os defensores da intervenção entendem que aborto é assassinato. A mesma coisa com o casamento gay: os conservadores o consideram uma ameaça não só ao futuro dos Estados Unidos mas ao de toda a humanidade, por submetê-la na base a uma transformação cujas conseqüências são no mínimo incertas.

Obama não “autorizou” a presença de gays nas Forças Armadas. O que ele fez foi revogar a política do “Don´t Ask Don´t Tell” (não pergunte, não conte), instituída pelo presidente Bill Clinton, que proibia a entrada nas Forças Armadas de indivíduos abertamente homossexuais e a punição a soldados homossexuais que não se expusessem como tais. Para Obama, essa exigência de decoro ainda é uma imposição cruel, e agora os homens que protegem os Estados Unidos no campo de batalha devem conviver com indivíduos que manifestamente sentem desejo sexual por eles. Num debate recente, Rick Santorum chamou a anulação do “Don´t Ask Don´t Tell” de “experimentação social trágica” com as Forças Armadas e disse que, eleito presidente, restauraria essa política.

Esses e outros são os fatos que movem a batalha entre progressistas e conservadores americanos em qualquer tempo e sobretudo durante uma eleição presidencial. Para o editorialista do Estadão, a coisa se resume a uma disputa entre os modernos, que podem fazer o que quiser, e os medievais, que poderiam dar um exemplo de tolerância e sair de cena.

N. do E.: Abaixo, Bruno Pontes comenta a cobertura da Rede Globo das primárias do Partido Republicano, em artigo publicado no jornal O Estado.

“Um tom radical, de direita mesmo.”
Começou o processo de escolha do candidato republicano que enfrentará Barack Obama em novembro. Significa que o Comitê do Partido Democrata para o Brasil (vulgo “escritório da Globo nos Estados Unidos”) tem pela frente grandes oportunidades para desinformar os seus telespectadores e fazê-los acreditar que os direitistas americanos são um bando de idiotas.

Não deixa de ser um avanço. Um ano atrás, os correspondentes da Globo, altamente capacitados no ofício de ler o esquerdista New York Times e repetir a coisa para o público brasileiro, estavam insinuando que certos direitistas lá, além de serem idiotas, incitam o assassinato de adversários políticos. Vocês devem se lembrar da deputada baleada na cabeça por um transtornado mental no estacionamento de um mercantil no Arizona.

Gabrielle Giffords é deputada pelo Partido Democrata. Com base nisso, seus correligionários na imprensa elucidaram o caso em menos de vinte minutos: ela foi vítima de um atentado tramado pela venenosa Sarah Palin, alçada ao posto de líder de um grupo de extremistas determinados a derrubar o governo do santo Obama, a quem se opõem por puro racismo.

O Jornal Nacional foi logo reproduzindo: “Muita gente está acusando o grupo extremamente conservador Tea Party, da ex-candidata a vice-presidente Sarah Palin, por incitar o confronto com os democratas”, comunicou o apresentador. Não foi informado quem era essa “muita gente”. Algumas horas depois, no Jornal da Globo, o correspondente Rodrigo Bocardi reiterou que “o Tea Party, liderado por Sarah Palin, é formado por conservadores extremos”.

É norma da redação: tudo que envolva a direita deve vir acompanhado de adjetivos como "extremista", "radical" e sobretudo "ultraconservador" (este último sempre enfatizado pelos locutores). Já a esquerda nunca leva adjetivo nenhum. Ela nem mesmo é identificada como tal. Na cabeça dos jornalistas, ser de esquerda é apenas ser normal.

Pois bem. Fui ouvir o que a Globo News está falando sobre as primárias republicanas. No Jornal das Dez, um dos apresentadores, ao chamar a correspondente, disse que os candidatos adotam “um tom radical, de direita mesmo” (portanto, não ser de esquerda já é radicalismo). A correspondente, Sandra Coutinho, concordou e ilustrou com uma informação apresentada em discreto tom de reprovação: Rick Perry, governador do Texas, “andou dizendo que a teoria da evolução é só uma teoria, e também disse que não acredita nessa história de aquecimento global”. Bem que me avisaram, esses conservadores são uns imbecis mesmo! Como ousam questionar duas verdades cujas provas de veracidade ainda não apareceram?

18 de janeiro de 2012
Bruno Pontes é jornalista.
O Estado de São Paulo

A OPERAÇÃO HADDAD E A MENTIRA COMO MÉTODO.

Ou: Cadê as 1.95 creches, soberana?
Outro dia recebi um comentário mais ou menos assim: “Reinaldo, você é o ultimo oposicionista do Brasil!” Numa reunião de jornalistas, contam-me, alguém se referiu à oposição, e um desses jornalistas isentos, engajados no governismo, ironizou: “Que oposição? O Reinaldo Azevedo?” e riu satisfeito. Os gracejos - um amistoso, outro hostil - são falsos de várias maneiras, mas refletem o espírito do tempo.

Não sou “de oposição” porque não faço política partidária. Já fui hostilizado por alguns tucanos, por alguns democratas e, obviamente e desde sempre, pelas esquerdas. E mantenho relações cordiais com pessoas de todas essas correntes. Mas, obviamente, não sou da turma do pudê. Meus valores não estão representados nesse governo - todo mundo que me lê sabe disso.

Tampouco sou o único, inclusive da imprensa, a ter um posicionamento crítico em relação ao petismo - na verdade, a governos. Há muito mais gente. “Sempre crítico, não importa o tema?” Não! Contra alguns parceiros liberais, com os quais costumo estar alinhado, defendi, por exemplo, a decisão de baixar os juros - e ainda os considero excessivamente elevados, a despeito de todos os motivos que explicam a taxa.
No caso daquela patuscada de Belo Monte, eu e os petistas de carteirinha estivemos do mesmo lado. Eu nunca me ocupo em saber antes o que os outros pensam para depois dizer o que eu penso. E nem tudo o que não é petismo me interessa. Como sempre digo tudo, lá vai mais uma vez: considero o marinismo mais obscurantista do que o petismo.

Mas acabei me alongando demais nos considerandos introdutórios, hehe - “Diga-me um de seus defeitos, Reinaldo…” E eu diria: “Escrever demais!” Sigamos. Confrontar o que se diz com os fatos não é “fazer oposição”, mas expressar apreço pela verdade.
No post anterior, vemos um Haddad todo ancho, a afirmar: “O governo federal não tinha programa para a educação infantil. Incluímos a creche e pré-escola no Fundeb [Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação Básica] e repassamos recursos para investimentos.”

Huuummm… Como é que se conta a verdade inteira? O PT FOI CONTRA A CRIAÇÃO DO FUNDEF, que antecedeu o Fundeb - na verdade, o “b” substituindo o “f” foi mais uma das patranhas petistas.

Resolveram botar marca nova no que já havia. Quem criou o Fundef foi o ministro Paulo Renato, este, sim, um grande ministro da Educação, a despeito da história recontada pela ligeireza de Sérgio Cabral. Grande e perseguido pela escória sindical.

O petismo fez com o Fundef o mesmo que fez com o “Bolsa Família”. O partido era contra as bolsas, chamava-as de “esmola”. Lula o disse LITERALMENTE. Mais: afirmou que pobre que recebia dinheiro do governo deixava de plantar macaxeira, sugerindo que se tornava um vagabundo. Em lugar do programa, inventou um troço que nunca chegou a existir: o “Fome Zero”. Algum tempo depois, dados o insucesso e as trapalhadas da iniciativa, reuniu, por decreto, todas as bolsas criadas pelo governo FHC numa bolsa só: a “Família”. E passou a cacarejar. Como Haddad cacareja agora.

FHC chegou ao poder, em 1995, e a taxa de matrícula no ensino fundamental era de 89%. Quando Lula assumiu, estava perto de 98% - o mesmo índice em que está agora.
No início do governo tucano, havia 33% dos brasileiros de 15 a 17 anos fora da escola; no fim, eram 18% - redução de 15 pontos percentuais (ou 45%). No governo Lula, caiu para 14,8% (redução de apenas 20%).


Uma coisa é assumir a Presidência sem dispor de um instrumento para intervir na educação, ter de criá-lo (enfrentando a oposição de petistas e de seus aliados sindicais) e operá-lo com eficiência, como fez Paulo Renato. Outra, distinta, é chegar com tudo pronto, com o fundo disponível, e poder trabalhar sem ter de enfrentar sabotadores - porque, afinal, os sabotadores passaram a ser poder…

Paulo Renato criou ainda o Saeb (Sistema de Avaliação do Ensino Básico) - a portaria que o instituiu é de dezembro de 1994, mas só começou a existir, de verdade, no governo tucano - e o Exame Nacional de Cursos, depois rebatizado de Enade pelos petistas.

No post abaixo, a gente lê que Sérgio Cabral considera Haddad o melhor ministro da Educação da história do Brasil. Claro, claro… Quando se tem a determinação de puxar o saco de alguém, os fatos contam muito pouco. E eu trato de fatos.

Finalmente, no que diz respeito ao post abaixo, vemos Dilma e Haddad a fazer proselitismo na inauguração de uma creche. Não porque eu seja da oposição (não sou; até porque a oposição não parece ser de oposição, hehe); não porque eu esteja determinado a não reconhecer os méritos dos companheiros (a acusação é tola), mas porque, mais uma vez, estamos diante de fatos.

DILMA PROMETEU, NA CAMPANHA ELEITORAL, CONSTRUIR CINCO MIL CRECHES ATÉ 2014. As metas para 2011, aliás, eram estas:
- 3.288 quadras esportivas em escolas;
- 1.695 creches;
- 723 postos de policiamento comunitário;
- 2.174 Unidades Básicas de Saúde;
- 125 UPAs.


Quantas creches a soberana construiu até agora? Lembro, como arremate, que Lula prometeu erguer um milhão de casas, e Dilma, mais dois milhões. No ritmo de entrega, na conta que fiz em dezembro, a promessa será cumprida daqui a 22 anos…

Encerro
“Pô, Reinaldo, quem tem de dizer essas coisas é o Sérgio Guerra, é o Aécio, é a oposição…” Eu não tenho a menor pretensão de pautar que quer que seja.

Eu sei o que eu tenho a obrigação de dizer.

Por Reinaldo Azevedo

"A LUTA ACABOU, MAS A OLIGARQUIA DETÉM A FORÇA."

O cinismo está em alta na República.

A organização não governamental (ONG) Contas Abertas fez uma descoberta estarrecedora:
o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho, encaminhou para seu Estado de origem, Pernambuco, 90% das verbas disponíveis no orçamento para prevenir e socorrer catástrofes naturais.

Com destaque para Petrolina, seu curral eleitoral.
Diante da estupefação natural de qualquer brasileiro com massa encefálica disponível para uso no cérebro, o governador do Estado aquinhoado, Eduardo Campos, chefão nacional do Partido Socialista Brasileiro (PSB) por herança do avô, Miguel Arraes de Alencar, atribuiu o abuso a absurdo maior:
as verbas federais caíram no seu colo porque os técnicos pernambucanos tiveram competência para produzir projetos que justificaram o dispêndio.


Se assim fosse, 90% da competência técnica da administração pública brasileira atuaria sob suas ordens. Não é uma gracinha? Ei, não me refiro a Sua Excelência, apelidado de Dudu Beleza, mas a sua conclusão estapafúrdia.

A bazófia foi repetida por personalidades ilustres:
o presidente nacional do PT, Rui Falcão, e o líder no Senado, Humberto Costa, também pernambucano, entre outros, chamaram a atenção para o fato de não pesar contra Coelho nenhuma acusação de malversação de recursos públicos.

Faltou-lhes o mínimo de intimidade com o vernáculo, pois, na verdade, diariamente os meios de comunicação noticiam evidências de "má administração" e "má gerência" do erário praticadas pelo comparsa defendido.

E esta é a primeira definição para malversação, dada pelo linguista Antonio Houaiss no dicionário que anda fazendo falta na mesa dos maiorais deste País.

A segunda definição, aí, sim, refere-se à "apropriação indébita de fundos", a velha e malfadada corrupção. Então, pernambucanos amigos, na flor do Lácio cultivada pelo caolho Luís de Camões, má gestão e corrupção habitam o mesmo verbete nos melhores dicionários.

O senador petista foi além ao acusar a denúncia de discriminatória. Seu Estado não estaria sendo criticado por ter ficado com quase toda a verba do ministério do bom filho que ama tanto seu torrão, mas por ficar no Nordeste.

Nordestinos ao desabrigo de mamatas e mutretas foram usados para justificá-las.

Tão absurdo quanto um Estado entre 27 abocanhar quase toda a verba destinada a prevenir ou reparar desastres causados por intempéries naturais foi constatar que a Nação tomou conhecimento do despautério pelo trabalho independente de uma ONG do bem - enfim, uma ONG do bem no noticiário.

Mas, meu Deus, que presidente da República é a sra. Dilma Rousseff se não dispõe de instrumentos de informação capazes de dar-lhe conta em tempo real de como um ministro que nomeou para cuidar de integrar a Nação entrega quase toda a verba disponível para acudir a famílias que tiveram todo o seu patrimônio carregado pelas enxurradas de verão para cevar a própria capitania partidária, na perfeita definição do deputado Miro Teixeira (PDT-RJ), parentes e afins.

A desfaçatez da justificativa técnica para o privilégio e a desculpa sórdida da discriminação regional, acompanhada de comentários estúpidos do gênero "ninguém amaldiçoou um Estado do Sudeste por isso", como se já tivesse sido registrado "antes na História deste país" (como diria o chefão de todos, Lula) algo sequer similar a tais despropósitos, manifestam um velho vezo de arrogância.

Essa arrogância tem origem na mentalidade oligárquica que prevalece na condução política brasileira desde que ela começou a existir.

A Coroa portuguesa inventou as capitanias hereditárias e, depois, apelou à força da imposição da língua da metrópole pelo marquês de Pombal para garantir seu domínio sobre rincões distantes de um território imenso e hostil.

Também para conservar a integridade territorial, incomum no subcontinente sul-americano, o Império distribuiu patentes de coronel da Guarda Nacional a latifundiários do interior.

Os militares que erigiram a República remexendo no lixo de destroços de nosso trono nativo absorveram o sistema de domínio recorrendo ao semifeudalismo que deu certo e entregando baraço e cutelo nos ermos da Pátria a oligarquias locais.

O mando dos Coelhos em Petrolina, depois estendido a Pernambuco inteiro, data da Primeira República, assentada nas bases do pacto do café com leite, que instituiu o rodízio de presidentes paulistas e mineiros até a Revolução de 1930, deflagrada para pôr fim ao poder oligárquico.

Só que, ao bel-prazer do caudilho Getúlio Vargas, esta fortaleceu as oligarquias substituindo os oligarcas.

A historiadora americana Linda Lewin constatou num estudo a sobrevivência oligárquica no Brasil ao ilustrar na saga da família Pessoa, de Umbuzeiro, na Paraíba, a sobrevivência às mudanças de regimes na sucessão dos governadores daquele Estado:
até publicá-lo, em 1975, todos os governadores paraibanos vinham de famílias com membros na primeira Constituinte do Brasil independente.

Os Pessoas, protagonistas da Revolução de 1930 e de Politics and Parentela in Paraíba, de Lewin, não mandam mais no País nem no Estado como no tempo de Epitácio e João. Mas os Coelhos confirmam que a força oligárquica descrita pela professora de Berkeley continua.
O clã sobreviveu ao destronamento das oligarquias pela Revolução de 1964 e ao projeto socialista do Partido dos Trabalhadores (PT) hoje.

E os Coelhos não estão sós:
o chefão socialista Eduardo Campos descende da família Alencar, de José, não o vice de Lula, mas o romancista de Iracema.

O que Dilma Rousseff tem com isso?
Afinal, ela pegou em armas para pôr fim aos velhos vícios patrimonialistas que sequestram o Estado brasileiro desde sempre.
E entrou no PT para "acabar com tudo o que está aí".
Mas serve aos oligarcas de antanho a pretexto de empregá-los em seu projeto de poder.


A luta acabou, mas a oligarquia detém a força.

José Nêumanne O Estado de S. Paulo

O JEITINHO BRASILEIRO EM SUA PLENITUDE


"É incabível que metade do orçamento público seja executado sem licitação."
O procurador do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (TCU), Marinus Marsico, diz que o aumento das dispensas e inexigibilidades é "o jeitinho brasileiro empregado em sua plenitude".

Para ele, elaboram-se leis rigorosas, mas são deixadas brechas para que não sejam empregadas como deveriam.


"São os casos, por exemplo, da contratação de entidades teoricamente sem fins lucrativos, como ONGs, da contratação de profissionais por notória especialização, a maioria desconhecida, de gastos supostamente sigilosos e por aí afora", exemplifica.

Ele lamenta que as brechas na lei, colocadas "inocentemente" em dispositivos que tentam estabelecer padrões de moralidade aceitáveis na atividade administrativa, "corroem espírito das leis e só servem aos propósitos de gestores desonestos, nomeados sem critérios técnicos, e, infelizmente, cada vez mais numerosos".

Coordenador de cursos de Ciências Contábeis em São Paulo, Reginaldo Gonçalves explica que as exceções foram criadas para dar margem de manobra aos gestores públicos.

Num contexto em que a lei que prevê como serão feitas as despesas é aprovada meses antes do início do ano fiscal, as dispensas e inexigibilidades existem para casos imprevistos.

Como as "emergências" têm sido usadas de forma recorrente para, por exemplo, contratação de pessoal terceirizado, muitas vezes para burlar os limites da Lei de Responsabilidade Fiscal, o professor criticou o aumento nos gastos sem procedimento licitatório.

"O porcentual (48%) é alto. Infelizmente, a exceção pode estar virando regra." Além de uma fiscalização mais efetiva, Gonçalves diz que cabem alterações da lei para incluir mais exigências em caso de dispensar licitações.

"É incabível que metade do orçamento público seja executado sem licitação."

Estadão/ I.D. e F.F.

O DEBATE SOBRE O LIVRO DA PRIVATARIA TUCANA.

Continua a turnê nacional do jornalista Amaury Ribeiro Jr. para divulgar seu livro A Privataria Tucana,

Terça-feira, Amaury Ribeiro Jr. esteve na Livraria da Travessa do Shopping Leblon, no Rio de Janeiro, num debate baseado no livro. O debate contou com a presença do sociólogo Emir Sader, do jornalista Fernando Brito (editor do Tijolaço de Brizola) e de Luiz Fernando Emediato, editor da Geração Editorial.

O debate foi aquela coisa positiva que se esperava. Ali se discutiu seriamente o processo de privataria da Era FHC, e tudo relacionado: pagamento de propina, enriquecimento ilícito, evasão de divisas, internação de dinheiro em paraísos fiscais, venda de empresas estratégicas com preços subfaturados e financiamento público, etc.

Não deixaram de ser citados nominalmente algumas das personalidades da privataria, destacando os dois principais personagens do livro: José Serra e seu tesoureiro de campanha Ricardo Sérgio. Também foram citados acusados pelo livro de lavagem de dinheiro, desde Paulo Maluf a Ricardo Teixeira.

Abriram espaço para seis pessoas fazerem perguntas para os quatro debatedores. Dentre eles, apareceu até um ex-funcionário de bancos estatais privatizados do Espírito Santo e do Distrito Federal, dizendo saber muita coisa podre sobre a privataria do banco capixaba.

Apareceu também uma servidora da saúde do estado de São Paulo, para perguntar ao Amaury se ele tinha algum dado sobre as OSs que estão participando do processo de privatização da rede do SUS no estado hoje governado por Geraldo Akckmin. Amaury prometeu averiguar.

Também apareceu um aposentado do BNDES afirmando que os concursados do banco na época da privataria trabalharam honestamente em seu dia a dia sem participar das privatarias, no que a plateia concordou. O problema é que o cara trouxe um calhamaço de papel para tentar provar que a cúpula também não participou da bandalheira tucana, e que o processo não teve propinas.

No que foi rechaçado por muita gente, inclusive pelo Amaury. O aposentado também disse que o livro era incompleto e mal escrito, e não tinha linguagem acadêmica. Teve um cara da plateia que sugeriu ao aposentado que publicasse o calhamaço em livro ou que mandasse para Merval Pereira, ironicamente, um acadêmico, ao contrário de Amaury, que disse explicitamente que não é acadêmico, e sim jornalista.

Fui lá, mas não pude fazer as perguntas que queria. Além da falta de espaço, aquele debate estava cheio de adoradores de Lula, daqueles que não admitem sequer uma semelhança entre os governos tucanos e o governo lulo-dilmista, e não admitem sequer um questionamento a respeito do presidente Lula, mesmo de seus eleitores.

Havia exceções, claro. Conversei a sós com o ex-funcionário de bancos estatais, que concordou comigo no raciocínio de que o governo Lula-Dilma não está interessado em levar adiante as investigações sobre a privataria tucana, para fazerem a deles.
Há parlamentares governistas interessados em participar da CPI sobre o assunto, mas pouca gente ou ninguém do governo propriamente dito quer apoiar.

Por fim, destaco algo dito por Amaury e seu editor. O problema não são as privatizações em geral, em todas as épocas e lugares do mundo. Pode-se ser a favor delas ou ser contrário, dependendo do caso.
A privataria tucana é que tem todos aqueles problemas específicos: pagamento de propina, enriquecimento ilícito, evasão de divisas, internação de dinheiro em paraísos fiscais, venda de empresas estratégicas com preços subfaturados e financiamento público, etc. Coisas que devem ser rechaçadas por qualquer pessoa decente, independente do pensamento político que tenha.

Marcelo Delfino
18 de janeiro de 2012

REFORMA MINISTERIAL?! QUE REFORMA? É SÓ UM AJUSTEZINHO...

DA NADA E COISA NENHUMA : EM EQUIPE QUE ESTÁ ROUB..., DIGO, 'GANHANDO', MUDAR PRA QUÊ?

A reforma ministerial que a presidente Dilma Rousseff fará a partir da semana que vem com a transferência de Aloizio Mercadante (Ciência e Tecnologia) para a Educação vai se resumir a cinco mudanças pontuais.

A configuração política da Esplanada dos Ministérios e a chave do cofre serão mantidos tais como estão para evitar desconfianças no mercado e desequilíbrio na aliança de sustentação ao governo.

Guido Mantega, da Fazenda, fica onde está. Além da saída de Fernando Haddad da Educação, para disputar a Prefeitura de São Paulo, a presidente vai trocar o comando do Ministério das Cidades, sem tirá-lo do PP, devolver o Trabalho ao PDT e substituir Iriny Lopes (Secretaria das Mulheres), que deixa a pasta para concorrer à Prefeitura de Vitória.

"Farei apenas um ajuste na equipe. Reforma só existe na cabeça da imprensa", afirmou Dilma, ontem, a interlocutores.

A primeira nomeação será a de Mercadante, já anunciada pelo próprio petista. Para o lugar dele, na Ciência e Tecnologia, a presidente quer um técnico. O favorito é o atual presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB), Marco Antonio Raupp, sem filiação partidária.

Ele já presidiu a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Dilma acha que o ministério está indo bem e que Raupp é o técnico que pode dar continuidade ao trabalho de Mercadante.

No Ministério das Cidades a presidente vai fazer uma troca mais por imposição do PP, do que por vontade própria. A rejeição ao ministro Mário Negromonte dentro do partido é tão grande que a presidente já foi avisada de que a bancada do PP na Câmara aceita até a volta do ex-ministro Márcio Fortes, nome da preferência de Dilma.

Os deputados gostariam mesmo é de ver o colega Márcio Reinaldo (MG) no lugar de Negromonte, que voltará à Câmara. Mas eles sabem que esse é um pleito mais difícil de ser atendido. Por isso, conformam-se com a escolha pessoal da presidente.

Ajustes

Depois da saída ruidosa do presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, do Trabalho, o ajuste na equipe é a oportunidade de reincorporar um indicado do partido no ministério, desde dezembro sob o comando do interino Paulo Roberto Pinto. Dilma decidiu que o novo ministro será pedetista. Os mais cotados são os dos deputados Vieira da Cunha (RS) e Brizola Neto (RJ).

A presença do nome do vice-presidente Michel Temer na agenda oficial de Dilma ontem pela manhã deu ao PMDB a certeza de que a conversa seria simbólica.

Uma deferência ao presidente licenciado do partido, para dizer que o PMDB sairá da minirreforma do mesmo tamanho que entrou.

No bastidor da cúpula peemedebista, a frase que resumiu o sentimento de todos é de autoria do Barão de Itararé:
"De onde menos se espera é que não sai nada mesmo".

18 de janeiro de 2012
O Estado de S. Paulo

VEM AÍ MAIS UMA GESTÃO ALOPRADA NA EDUCAÇÃO

Dilma Rousseff agora quer um técnico para substituir Aloizio Mercadante, o jubilado que virou doutor, no ministério da Ciência e Tecnologia. Se quer um técnico é porque o político fracassou.

Mas no PT, quando o companheiro fracassa, ganha promoção. Mercadante está sendo elevado para o Ministério da Educação, substituindo Fernando Haddad, que sai para ser candidato à prefeitura de São Paulo.
Outro fracassado, cuja última obra é a destruição do ENEM.

Não é à toa que o Brasil afunda cada vez mais nos rankings educacionais e de inovação. Que o número de analfabetos não diminui. Que estamos importando 400.000 jovens técnicos da Europa quebrada.

Mercadante ficou um ano na Ciência e Tecnologia, que poderia ter sido chamada, neste período, de Ciência e Pirotecnia. Vai ficar os próximos dois anos na Educação e sair para ser candidato ao governo de São Paulo.

Vai construir mais uma centena de IFETs para formar pedagogos, em vez de técnicos em mecânica de precisão.
Vai continuar contando as vagas do PROUNI de milhão em milhão, em vez de confessar que a evasão dos bolsistas e cotistas é mais de 50%. Vem aí mais uma gestão aloprada na Educação.
coroneLeaks
18 de janeiro de 2012

OPOSIÇÃO QUE NÃO ENCANTA NEM CONVENCE

Sem oposição
Coluna de Merval Pereira, em O Globo

A incapacidade de o PSDB se articular minimamente para exercer o papel que lhe cabe como maior partido oposicionista brasileiro, resulta em uma apatia política perigosa, que não faz nada bem à democracia.
A mais recente demonstração disso é o convite despropositado feito pelas regionais do Rio e do Distrito Federal para que o senador Álvaro Dias seja candidato a governador.
O governo Dilma Rousseff, mesmo sem grandes realizações em seu primeiro ano e cheio de problemas para resolver na sua base aliada, continua popularíssimo graças à sensação de bem-estar que a economia brasileira ainda é capaz de proporcionar, mesmo que os sinais de desgaste do modelo estejam evidentes, até mesmo pelo reflexo da crise internacional.

O aumento do salário mínimo em torno de 14% é um forte alavancador do consumo interno e impulsiona a popularidade do governo, mesmo que tenha chegado em uma hora em que as contas públicas andam precisando de uma forte contenção.
A oposição, minguada em números — representa cerca de 18% do Congresso, o menor índice desde a redemocratização —, não tem uma atuação qualitativa que compense a fraqueza numérica. Tudo indica que o principal partido, o PSDB, está preso em uma armadilha que já o apanhou uma vez, na disputa contra a presidente Dilma Rousseff em 2010.
Ali se avaliou erroneamente que a candidata de Lula não teria condições de disputar a campanha presidencial com o grão-tucano José Serra, e este optou por não atacar o ex-presidente (ao contrário, chegou a elogiá-lo), na vã esperança de que os eleitores lulistas veriam nele uma alternativa melhor do que Dilma.
Como se a disputa política-ideológica não fizesse parte do pensamento estratégico de uma parte do eleitorado, e a outra não estivesse ligada à continuidade das benesses oficiais.

O ex-governador paulista mudou radicalmente sua postura depois da derrota, e anda muito mais ativo na crítica ao governo do que seu próprio partido, ou mesmo que seu adversário interno, o senador Aécio Neves, que ainda não disse a que veio.

O problema de Serra é que essa atitude que vem assumindo agora chega quando já não tem as condições políticas necessárias para se colocar como candidato a presidente pelo PSDB, uma obsessão que não corresponde à realidade do momento.
Está tudo preparado — e de modo truculento, no ponto de vista dos serristas, cada vez em menor número — para que Aécio Neves seja o candidato da vez dos tucanos.
Aliás, essa “truculência” apontada por seus seguidores pode dar a Serra a explicação para deixar o partido e tentar se candidatar à Presidência pelo PPS ou pelo PSD, caso não se acerte no PSDB.

A única maneira de clarear a situação interna dos tucanos seria Serra aceitar se candidatar à prefeitura paulistana e deixar o caminho aberto para Aécio Neves, o que significaria que desistiu de chegar à Presidência da República, o que parece improvável neste momento.

O problema de Aécio parece ser uma maneira antiquada de fazer política, que não o coloca perante a opinião pública como um líder oposicionista.
Ele tem se movimentado bastante pelos bastidores, tentando acertar acordos que podem levá-lo a quebrar a ampla coalizão partidária que dá apoio à presidente Dilma.

A questão é que esses acordos dependem do fracasso do governo, mais especificamente no enfraquecimento econômico do nosso crescimento.A perspectiva para os próximos anos não é nada boa, e é possível que o governo Dilma mantenha-se em um patamar medíocre justamente nos anos eleitorais. O crescimento do ano passado já deve ser abaixo de 3%, em parte porque o governo quis frear o crescimento para controlar a inflação, em parte porque a crise internacional não permitiu crescimento maior.

Segundo relatório da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad) divulgado ontem, a economia mundial beira uma nova recessão, e espera-se crescimento “anêmico” nos anos de 2012 e 2013.
O crescimento da América Latina e do Caribe será de 3,3% este ano, e o Brasil se manterá abaixo da média, como vem ocorrendo nos últimos anos: a previsão de crescimento do PIB brasileiro é de 2,7%. São dados preocupantes, que sinalizam menos arrecadação de impostos e exigirão do governo um corte nos gastos públicos que ele não tem conseguido concretizar a não ser cortando investimentos, o que leva a menos crescimento ainda. Dois anos seguidos de crescimento abaixo de 3% configurariam uma situação econômica difícil, mesmo que nosso PIB cresça mais que o dos países desenvolvidos.
Nesse ritmo, continuaremos nos aproximando das chamadas “economias maduras” do mundo, mas perdendo terreno para os emergentes como nós, que crescem a uma taxa mais acelerada, apesar da crise. E, sobretudo, perdendo as condições de manter a política social que garante a popularidade do governo, mesmo em um ano medíocre em realizações.

Pois o PSDB parece estar jogando na crise econômica como única arma de argumentação para o eleitorado mudar de governo em 2014, sobretudo porque, nesse caso, a desintegração da coalizão governamental poderia oferecer um caminho para a campanha de Aécio Neves à Presidência, com a adesão de alguns partidos, descontentes ou mais pragmáticos.

Há potenciais crises para todos os lados. O PSB do governador Eduardo Campos disputa a primazia de ser o segundo partido da aliança, com direito a indicar o vice, com o PMDB, que disputa com o PT espaços no governo e nas alianças estaduais. Qualquer dos dois partidos aderiria com prazer a uma candidatura tucana com Aécio Neves à frente, desde que a situação do governo comece a ficar difícil por causa da economia.
Se tudo continuar como está, com a presidente Dilma transformando-se em solução natural para o PT depois que Lula parece estar disposto a continuar sendo o grande eleitor, sem disputar novamente a Presidência como planejara antes de sua doença, os partidos aliados se conformarão dentro da coalizão, mesmo que insatisfeitos.
E o PSDB não parece ter uma proposta alternativa para oferecer ao eleitorado. O PT na oposição apresentava uma alternativa concreta ao governo de FHC, mesmo que fosse equivocada e tivesse que ser abandonada, por inviável. Mas durante algum tempo convenceu o eleitorado de que tinha a saída.

QUAL O PROBLEMA?

Se o Kassab não tem voto, pois quem o elegeu foi o PSDB; se para o Kassab o único tucano que vale é o Serra, para quem ele abre mão de tudo; se o Kassab é um péssimo prefeito, mal avaliado e mau gestor, tendo tornado São Paulo um caos; se o Kassab não tem tempo de TV para oferecer; se o Kassab é da base da Dilma, um fisiológico de marca maior; se o Kassab é um traidor das oposições; se daqui a pouco a chuva chega e acaba com o resto da imagem do Kassab; se o Kassab é só um prefeitinho em fim de carreira, sendo presidente de um partideco com míseros 55 deputados... por que tanta preocupação com as suas negociações políticas?

Por que o PSDB não emite uma nota oficial rompendo definitivamente com o Kassab? Deixem o Kassab apoiar o PT, pois afinal de contas ele é tão ruim que vai acabar de enterrar a candidatura do Haddad.

Cá entre nós, não espalhem, o Kassab é um tiro no pé, é o pior cabo eleitoral que o Haddad pode ter.
Nós, da oposição, temos que ser estratégicos, gente! Vamos apoiar a aliança do Kassab com o Haddad. Para que o Matarazzo, o Aníbal, o Trípoli e o Covinhas, todos bons de voto, precisariam do Kassab e da máquina municipal, se eles têm o Alckmin?
Deixem o Kassab pra lá. Ele sempre foi uma péssima companhia para os tucanos. Parceiro bom é o Maluf, esse sim. Covinhas, Maluf e Alckmin no palanque, sem aquele traste do Kassab. Agora vai!
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Ouvi de um tucano em Brasília: "o Kassab emparedou o Alckmin." Hoje Sérgio Guerra, presidente do partido e inimigo público de José Serra, está chegando em São Paulo para conversar com o governador da província. Quer manter a aliança. Parece que concorda com o inimigo. Mas voltando ao que ouvi em Brasília: o que será que significa "emparedar"? Alguém aí poderia responder?
coroneLeaks

MARATONAS DE HACKERS ESTIMULAM AS INOVAÇÕES NA INTERNET

O ser humano é provido de um rosário de sentimentos nobres e uma penca de outros nada nobres, para não dizer mesquinhos, ultrajantes e sórdidos. Indivíduos são movidos, às vezes, por opiniões e atos estúpidos associados a oportunismo, preconceito, intolerância, estupidez, ganância, inveja, insensatez e vilania. Nada disso impede ou limita a sua capacidade criativa e sua força realizadora. Há um tipo que produz, realiza e dota a humanidade de trunfos sem precedentes na história do homem.

E no que diz respeito a tecnologias os exemplos são infinitos e quase diários. Um exército de homens criadores, privilegiados por neurônios férteis, não param de surpreender o mundo e dotar nossas vidas de instrumentos modernos e ágeis na chamada tecnologia da informação. Enquanto navegamos nesse mar de conhecimentos e novidades que tornou o mundo uma pequena caixa de fósforos, e sem fios, desconhecemos que existe um outro exército criativo produzindo e disseminando o vírus do mal.

Dotados de uma inteligência superior, indivíduos jovens, em sua imensa maioria homens, dedicam-se a criar e produzir, e a disseminar na rede uma família de vírus, causando estragos de toda ordem, e sobretudo prejudicando, roubando, atrasando, destruindo e infectando o trabalho de milhões de pessoas e empresas nos quatro cantos do planeta.

São eles os hackers ou crackers. Muitas vezes, sem objetivo definido, outras com o declarado intuito de roubar, dedicam-se com maestria a criarem programas perfeitos. O grande esforço da indústria da tecnologia da informação, hoje, além de criar, é encontrar uma fórmula salvadora, se é que ela existe mesmo, destinada a incorporar os hackers ao mundo legal.

Dessa forma, nos Estados Unidos, um grupo de pessoas e empresas se reúne, anualmente, coordenados por um blog, o TechCrunch, numa maratona conhecida como “hackatona”, como se fora um encontro de bandas musicais em local pré-escolhido e ali quem apresentar ou compuser na hora a melhor música leva o prêmio. Só que o troféu pode significar algumas dezenas de milhões de dólares.

Em junho de 2010, durante a maratona de hackers, realizada em Nova York, a hackatona, os fundadores da empresa GroupMe, dois jovens, Martocci (Steve) e Hecht (Jared), criaram em apenas 24 horas um serviço para enviar mensagens de textos para grupos. Alguns meses depois, a empresa Skype comprou o projeto pela bagatela de 80 milhões de dólares. Desde então, a Yahoo.com criou o Dia do Hack que é celebrado na hackatona.

Essas maratonas vêm deixando de serem encontros onde jovens se reúnem para fumar e beber, sem censuras, para se tornarem uma competição aberta e criativa entre programadores de computador, os hackers. Nesses encontros, eles criam aplicativos na hora e repassam para empreendedores que irão usar como plataformas em suas empresas iniciantes.

As grandes empresas gostaram da ideia e lá plantam seus olheiros nessa forma divertida e barata de inovar. Segundo o editor do site TechCrunch, de cada 100 projetos exibidos no palco da hackatona cerca de 70 costuma evoluir para algo e apenas 30 por cento viram projeto de verdade, e cinco costumam virar empresas.

A ideia não é nova. O site Facebook costuma realizar sua hackatona entre seus próprios funcionários a cada oito semanas em um determinado lugar escolhido pelos jovens empregados. Uma média de 300 funcionários costuma se inscrever para os encontros que levam 8 horas de duração. Já houve encontro que rendeu 50 projetos. Nem todos são aproveitáveis, mas em pelo menos em um nasceu o aplicativo “CURTIR” do Facebook.

Os investidores já descobriram este celeiro de oportunidades, assim como os governos das cidades americanas. O primeiro foi o da cidade de Nova York que lançou o concurso ReiventeNY.gov atualizando seu site, coisa que não era feita há cinco anos.

Hildeberto Aleluia
18 de janeiro de 2012

REMEXENDO NO CASO CELSO DANIEL

Gilberto Carvalho levou R$ 1,2 milhão arrecadado por Celso Daniel para José Dirceu. Dinheiro vivo, prefeito morto.



Depois de se exilar em Paris, Bruno Daniel, um dos irmãos de Celso Daniel, ex-prefeito de Santo André (SP) que foi assassinado brutalmente no dia 18 de janeiro de 2002, está de volta ao Brasil. E deu uma entrevista exclusiva à TV Bandeirantes, que acaba de ser levada ao ar no jornal da Band. “Meu irmão deu a vida pelo PT”, disse Bruno Daniel. Ele afirmou que o ex-prefeito comandava um esquema de arrecadação de propinas em Santo André, para financiar campanhas do PT – inclusive a disputa de 2002, que levou Luiz Inácio Lula da Silva ao poder. Bruno conta que a revelação foi feita pelo ex-secretário de Santo André e atual secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho.


“Ele nos contou que levou R$ 1,2 milhão em espécie para o PT no seu corsinha preto”, disse Bruno Daniel. O valor teria sido entregue ao então presidente nacional do partido, José Dirceu. O assassinato de Celso Daniel completa dez anos nesta quarta-feira. O empresário e ex-assessor da prefeitura de Santo André, Sérgio Gomes da Silva, o “Sombra”, deve ser julgado neste ano como mandante do crime. De acordo com a reportagem exibida pela Band, Celso Daniel comandava o esquema de arrecadação de propinas, mas não concordava com a destinação de recursos para finalidades não partidárias. Por isso, teria sido assassinado, assim como várias pessoas que presenciaram o jantar entre Celso Daniel e Sérgio Gomes da Silva numa churrascaria de São Paulo, antes do sequestro do ex-prefeito.


Bruno Daniel conta que se exilou em Paris por medo de ser assassinado. Mas diz que decidiu voltar para resgatar a verdade e a memória do irmão. “Fatos como esse não podem se repetir”, disse ele. Em 2002, Celso Daniel coordenava a campanha de Lula à presidência da República. Depois do assassinato, foi substituído por Antonio Palocci. Caso a tragédia não tivesse ocorrido, ele poderia estar hoje sentado na cadeira de presidente da República. Teria sido ministro da Fazenda de Lula e provavelmente seu candidato em 2010. (Brasil 247)