A função principal do Presidente de um país é pacificar a sua nação.
No nosso país a própria bandeira nacional conclama, imperiosamente, pela Ordem, para se conseguir o Progresso.
O Duque de Caxias notabilizou-se e ficou para a história, como o pacificador, muito mais pela habilidade e decência de evitar confrontos desnecessários que pelos seus feitos militares.
No atual governo da Presidente Dilma Rousseff assistimos a estimulações provocativas que preocupam a todos os brasileiros.
No exemplo mais recente, o Ministério Público Federal, que tem como finalidade precípua ser o órgão fiscalizador das leis, ignora a Lei da Anistia, reconhecida pelo Supremo Tribunal Federal. Reabre processos contra os militares e agentes públicos que, durante o regime de exceção, participaram do triste episódio que ceifou vidas de ambos os lados.
Causa-nos preocupação, não pelos processos em si, mas pelo cenário que se reabre em questão, extremamente, intrincada, complexa, que no nosso entendimento deveria estar enterrada, até porque é ilegal: por contrariar a Lei da Anistia, a decisão do STF, a prescrição dos fatos ocorridos entre 1961 a1979, atenta contra o princípio da segurança jurídica, bem como colide frontalmente com a Lei 9.140/95 que criou a Comissão de Mortos e Desaparecidos, a qual reconheceu para todos efeitos legais a morte dos desaparecidos, necessário para que os respectivos parentes pudessem ser investidos nos direitos sucessórios. Oportuno registrar que dita Comissão foi sugerida pelos próprios banidos da época, como recurso de pacificação nacional, permitindo a volta de todos os exilados
29 de março de 2012
Um painel político do momento histórico em que vivem o país e o mundo. Pretende ser um observatório dos principais acontecimentos que dominam o cenário político nacional e internacional, e um canal de denúncias da corrupção e da violência, que afrontam a cidadania. Este não é um blog partidário, visto que partidos não representam idéias, mas interesses de grupos, e servem apenas para encobrir o oportunismo político de bandidos. Não obstante, seguimos o caminho da direita. Semitam rectam.
"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)
"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
quinta-feira, 29 de março de 2012
OS FASCISTÓIDES ESTÃO NAS RUAS.
Ou: Dilma saiu da VAR-Palmares; precisa agora deixar claro que a VAR-Palmares saiu de Dilma
Ontem, o PC do B, que tem um ministério no governo Dilma Rousseff — e sou justo: Aldo Rebello (Esportes) fez um excelente trabalho quando relator do Código Florestal na Câmara —, levou ao ar trechos do seu programa no horário político gratuito.
É uma peça patética, que não resistiria a uma abordagem minimamente objetiva. O programa inteiro vai ao ar hoje. Segundo a versão tornada pública, o partido está, desde sempre, comprometido com a democracia. Explorou-se até a figura de Luiz Carlos Prestes.
Não sei se houve algum entendimento com a família do líder comunista. O fato é que o PC do B que está aí hoje deriva justamente da linha que havia rompido com Prestes! Assistiu-se a uma soma formidável de mentiras, de retórica oca, de vigarices intelectuais.
O pior momento, certamente, é aquele em que o PC do B tenta afetar sua pureza e rigidez ideológicas. Se estivesse agarrado a seu credo original, seria péssimo. Mas isso também é mentira. É hoje um partido fisiológico de esquerda, como qualquer outro, que vai se alimentando de carguinhos e de dinheiro público.
O escândalo das ONGs, no ano passado, ilustra bem o que quero dizer. Mas não vou me me perder nesse particular porque o objeto deste texto é outro.
Lembrei o caso do PC do B porque foi o partido que protagonizou a guerrilha do Araguaia. Jamais teve compromisso com a democracia. É de tal sorte admirador da ditadura comunista que, atenção!, até hoje não reconhece o processo de desestalinização da União Soviética. Krushev segue sendo, para eles, um algoz do socialismo. Gostam mesmo é de Stálin e seus métodos. Nota: a URSS acabou, como vocês sabem, mas o amor do PC do B pela tirania permanece. Não obstante, O PARTIDO É LIVRE PARA RECONSTITUIR A HISTÓRIA COMO QUISER. Como o comunismo perdeu a batalha no país, temos democracia e liberdade.
A própria presidente Dilma Rousseff é beneficiária desses valores. Ex-membro de dois grupos terroristas, o Colina (Comando de Libertação Nacional) e a VAR-Palmares (Vanguarda Armada Revolucionária Palmares), também ela, aqui e ali, em seus discursos, reconta o passado como lhe dá na telha e exalta aquela juventude — qual mesmo??? — que teria lutado por democracia. Falso! Tão falso quanto afirmar que ela cumpriu a promessa de construir 1.700 creches em 2011.
No livro “Combate nas Trevas”, o historiador comunista Jacob Gorender cita justamente o Colina como um grupo que assumia claramente uma perspectiva terrorista. E o mesmo se diga da VAR-Palmares, que surgiu justamente da fusão daquela primeira organização a que pertenceu Dilma com a VPR (Vanguarda Popular Revolucionária), de Carlos Lamarca.
Juntos e em associação com outros, os três grupos mataram dezenas de pessoas que nem sequer tinham ligação com a luta política. Consta que Dilma, pessoalmente, não matou ninguém. Mas pertencia ao comando — inclusive cuidando de parte da grana — de grupos que mataram. Isso é inequívoco. Como é inequívoco que Colina, VPR ou VAR-Palmares jamais quiseram democracia.
Não obstante, Dilma tem a liberdade, que ela não ajudou a construir, de contar a história como lhe dá na telha. Mais: deu força à criação de uma tal Comissão da Verdade que, vejam vocês!, para escândalo de qualquer acadêmico honesto da área (ainda que crítico ferrenho do regime militar), vai definir uma “verdade histórica oficial”, uma verdade de estado.
Isso é autoritário em sua própria natureza. Dilma não só mistifica o próprio passado como nomeia pessoas que seguem a sua trilha, a exemplo de Eleonora Menicucci, ministra das Mulheres. Ex-membro do POC (Partido Operário Comunista), também ela — assaltante confessa, no passado, para financiar “a revolução” — afirmou no discurso de posse ter sido uma jovem empenhada na construção da democracia.
A democracia, no Brasil, virou a água benta do pecador compulsivo que entra numa igreja. Todo mundo pode meter a mão lá e se persignar, o que não quer dizer que esteja com a alma e com o passado limpos. Não mesmo! Mas a democracia permite a Dilma, a Eleonora e ao PC do B contar a sua própria versão da história. Não deveria permitir, mas está sendo feito, que essa história distorcida virasse história oficial. Então vamos ao ponto.
Por que o Clube Militar não pode fazer um seminário sobre 1964? O objetivo não era exatamente “comemorar” o golpe, como se está dizendo por aí, mas abordar o período segundo uma ótica, estou certo, que não é exatamente a da esquerda. O Clube Militar é, como o nome diz, um clube, uma entidade associativa. Mais ainda: já vimos que a lei garante aos militares da reserva o direito de se posicionar sobre temas políticos. Não há qualquer restrição. Ademais, ninguém estava lá incentivando o golpismo.
Mas quê… Desde o governo Lula, MAS DE FORMA MAIS ACENTUADA SOB A GESTÃO DILMA, os revanchistas estão tentando criar confusão e trazer o passado a valor presente, mas com uma particularidade: UM DOS LADOS, A ESQUERDA, PODE DIZER DE SEUS ADVERSÁRIOS O QUE BEM ENTENDER, MAS SEUS ADVERSÁRIOS ESTARIAM PROIBIDOS DE DAR A SUA VERSÃO ATÉ SOBRE SI MESMOS. Entenderam qual é o busílis? Não só a “verdade” se tornou monopólio de um dos lados como o próprio direito de se manifestar.
“Ah, mas onde já se viu falar sobre 1964???” Ora… Onde já se viu Dilma e o PC do B afirmarem que queriam democracia? O tema debatido lá nesta quinta, de todo modo, é irrelevante. Sei do que falo. Esse mesmo Clube Militar promoveu, em setembro de 2010, um debate sobre, pasmem!, “Liberdade de expressão”. Os convidados a falar éramos eu, Merval Pereira, Paulo Uebel (Instituto Millenium) e Rodolgo Machado Moura, representante da Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão). Ninguém nem sequer tocou em 1964 ou coisa parecida.
Atenção! Ao mesmo tempo em que debatíamos ali liberdade de expressão, o Sindicato dos Jornalistas de São Paulo abria suas portas para uma manifestação das centrais sindicais, que pediam “controle da mídia”. Isto mesmo: no Clube Militar, falávamos de liberdade de expressão; no Sindicato dos Jornalistas, defendiam a censura. Pois bem: também naquele caso, adivinhem quem apareceu para protestar… A Juventude Socialista! Contei a história aqui.
Há três dias, hordas sob o comando do MST — evidência omitida pelos jornais — saíram perseguindo pessoas por aí e pichando suas casas e local de trabalho sob o pretexto de pedir a instalação da Comissão da Verdade. Isso é “justiça de rua”, é fascismo. Agora, um bando decide agredir e xingar os militares da reserva, que têm o direito legal de debater o que lhes der na telha.
Ninguém estava lá conspirando contra a ordem e pregando golpe de estado. Tais ações estão sendo claramente incentivadas, instigadas e, na prática, apoiadas pelo governo federal. Consta que havia 350 baderneiros por lá. Não será difícil, a persistir esse estado de coisas, encontrar outras 350 dispostas a defender os que estão sendo caçados e cassados ao arrepio da lei.
O que quer Maria do Rosário?
O que quer Dilma Rousseff?
O confronto de rua?
Dilma já tem problemas demais para resolver e está, lentamente, dando comida para alguns monstrinhos que estavam guardados na gaveta. Uma intervenção militar hoje em dia seria, felizmente, impensável! Nem por isso as forças que odeiam a democracia hoje, como a odiavam no passado, estão livres para promover seus “justiçamentos” ao arrepio da lei. Se a instituições estiverem tão corroídas a ponto de não poderem reagir, não tenham dúvida de que a sociedade, um pedaço dela ao menos, reage.
A presidente tem de fazer a escolha entre a democracia e a guerra de todos contra todos. Ela já saiu da VAR-Palmares faz tempo — por isso não permito que seja chamada de “terrorista” aqui. Falta agora demonstrar que a VAR-Palmares também saiu de Dilma. Há hoje um claro incentivo à baderna que emana do Palácio do Planalto. E isso tem de acabar. Em nome da lei e da Constituição!
É com elas que Dilma governa, não com seu passado supostamente glorioso. Até porque ele é controverso. Os familiares das vítimas do Colina e da VAR-Palmares sabem disso muito bem.
Por Reinaldo Azevedo
Ontem, o PC do B, que tem um ministério no governo Dilma Rousseff — e sou justo: Aldo Rebello (Esportes) fez um excelente trabalho quando relator do Código Florestal na Câmara —, levou ao ar trechos do seu programa no horário político gratuito.
É uma peça patética, que não resistiria a uma abordagem minimamente objetiva. O programa inteiro vai ao ar hoje. Segundo a versão tornada pública, o partido está, desde sempre, comprometido com a democracia. Explorou-se até a figura de Luiz Carlos Prestes.
Não sei se houve algum entendimento com a família do líder comunista. O fato é que o PC do B que está aí hoje deriva justamente da linha que havia rompido com Prestes! Assistiu-se a uma soma formidável de mentiras, de retórica oca, de vigarices intelectuais.
O pior momento, certamente, é aquele em que o PC do B tenta afetar sua pureza e rigidez ideológicas. Se estivesse agarrado a seu credo original, seria péssimo. Mas isso também é mentira. É hoje um partido fisiológico de esquerda, como qualquer outro, que vai se alimentando de carguinhos e de dinheiro público.
O escândalo das ONGs, no ano passado, ilustra bem o que quero dizer. Mas não vou me me perder nesse particular porque o objeto deste texto é outro.
Lembrei o caso do PC do B porque foi o partido que protagonizou a guerrilha do Araguaia. Jamais teve compromisso com a democracia. É de tal sorte admirador da ditadura comunista que, atenção!, até hoje não reconhece o processo de desestalinização da União Soviética. Krushev segue sendo, para eles, um algoz do socialismo. Gostam mesmo é de Stálin e seus métodos. Nota: a URSS acabou, como vocês sabem, mas o amor do PC do B pela tirania permanece. Não obstante, O PARTIDO É LIVRE PARA RECONSTITUIR A HISTÓRIA COMO QUISER. Como o comunismo perdeu a batalha no país, temos democracia e liberdade.
A própria presidente Dilma Rousseff é beneficiária desses valores. Ex-membro de dois grupos terroristas, o Colina (Comando de Libertação Nacional) e a VAR-Palmares (Vanguarda Armada Revolucionária Palmares), também ela, aqui e ali, em seus discursos, reconta o passado como lhe dá na telha e exalta aquela juventude — qual mesmo??? — que teria lutado por democracia. Falso! Tão falso quanto afirmar que ela cumpriu a promessa de construir 1.700 creches em 2011.
No livro “Combate nas Trevas”, o historiador comunista Jacob Gorender cita justamente o Colina como um grupo que assumia claramente uma perspectiva terrorista. E o mesmo se diga da VAR-Palmares, que surgiu justamente da fusão daquela primeira organização a que pertenceu Dilma com a VPR (Vanguarda Popular Revolucionária), de Carlos Lamarca.
Juntos e em associação com outros, os três grupos mataram dezenas de pessoas que nem sequer tinham ligação com a luta política. Consta que Dilma, pessoalmente, não matou ninguém. Mas pertencia ao comando — inclusive cuidando de parte da grana — de grupos que mataram. Isso é inequívoco. Como é inequívoco que Colina, VPR ou VAR-Palmares jamais quiseram democracia.
Não obstante, Dilma tem a liberdade, que ela não ajudou a construir, de contar a história como lhe dá na telha. Mais: deu força à criação de uma tal Comissão da Verdade que, vejam vocês!, para escândalo de qualquer acadêmico honesto da área (ainda que crítico ferrenho do regime militar), vai definir uma “verdade histórica oficial”, uma verdade de estado.
Isso é autoritário em sua própria natureza. Dilma não só mistifica o próprio passado como nomeia pessoas que seguem a sua trilha, a exemplo de Eleonora Menicucci, ministra das Mulheres. Ex-membro do POC (Partido Operário Comunista), também ela — assaltante confessa, no passado, para financiar “a revolução” — afirmou no discurso de posse ter sido uma jovem empenhada na construção da democracia.
A democracia, no Brasil, virou a água benta do pecador compulsivo que entra numa igreja. Todo mundo pode meter a mão lá e se persignar, o que não quer dizer que esteja com a alma e com o passado limpos. Não mesmo! Mas a democracia permite a Dilma, a Eleonora e ao PC do B contar a sua própria versão da história. Não deveria permitir, mas está sendo feito, que essa história distorcida virasse história oficial. Então vamos ao ponto.
Por que o Clube Militar não pode fazer um seminário sobre 1964? O objetivo não era exatamente “comemorar” o golpe, como se está dizendo por aí, mas abordar o período segundo uma ótica, estou certo, que não é exatamente a da esquerda. O Clube Militar é, como o nome diz, um clube, uma entidade associativa. Mais ainda: já vimos que a lei garante aos militares da reserva o direito de se posicionar sobre temas políticos. Não há qualquer restrição. Ademais, ninguém estava lá incentivando o golpismo.
Mas quê… Desde o governo Lula, MAS DE FORMA MAIS ACENTUADA SOB A GESTÃO DILMA, os revanchistas estão tentando criar confusão e trazer o passado a valor presente, mas com uma particularidade: UM DOS LADOS, A ESQUERDA, PODE DIZER DE SEUS ADVERSÁRIOS O QUE BEM ENTENDER, MAS SEUS ADVERSÁRIOS ESTARIAM PROIBIDOS DE DAR A SUA VERSÃO ATÉ SOBRE SI MESMOS. Entenderam qual é o busílis? Não só a “verdade” se tornou monopólio de um dos lados como o próprio direito de se manifestar.
“Ah, mas onde já se viu falar sobre 1964???” Ora… Onde já se viu Dilma e o PC do B afirmarem que queriam democracia? O tema debatido lá nesta quinta, de todo modo, é irrelevante. Sei do que falo. Esse mesmo Clube Militar promoveu, em setembro de 2010, um debate sobre, pasmem!, “Liberdade de expressão”. Os convidados a falar éramos eu, Merval Pereira, Paulo Uebel (Instituto Millenium) e Rodolgo Machado Moura, representante da Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão). Ninguém nem sequer tocou em 1964 ou coisa parecida.
Atenção! Ao mesmo tempo em que debatíamos ali liberdade de expressão, o Sindicato dos Jornalistas de São Paulo abria suas portas para uma manifestação das centrais sindicais, que pediam “controle da mídia”. Isto mesmo: no Clube Militar, falávamos de liberdade de expressão; no Sindicato dos Jornalistas, defendiam a censura. Pois bem: também naquele caso, adivinhem quem apareceu para protestar… A Juventude Socialista! Contei a história aqui.
Há três dias, hordas sob o comando do MST — evidência omitida pelos jornais — saíram perseguindo pessoas por aí e pichando suas casas e local de trabalho sob o pretexto de pedir a instalação da Comissão da Verdade. Isso é “justiça de rua”, é fascismo. Agora, um bando decide agredir e xingar os militares da reserva, que têm o direito legal de debater o que lhes der na telha.
Ninguém estava lá conspirando contra a ordem e pregando golpe de estado. Tais ações estão sendo claramente incentivadas, instigadas e, na prática, apoiadas pelo governo federal. Consta que havia 350 baderneiros por lá. Não será difícil, a persistir esse estado de coisas, encontrar outras 350 dispostas a defender os que estão sendo caçados e cassados ao arrepio da lei.
O que quer Maria do Rosário?
O que quer Dilma Rousseff?
O confronto de rua?
Dilma já tem problemas demais para resolver e está, lentamente, dando comida para alguns monstrinhos que estavam guardados na gaveta. Uma intervenção militar hoje em dia seria, felizmente, impensável! Nem por isso as forças que odeiam a democracia hoje, como a odiavam no passado, estão livres para promover seus “justiçamentos” ao arrepio da lei. Se a instituições estiverem tão corroídas a ponto de não poderem reagir, não tenham dúvida de que a sociedade, um pedaço dela ao menos, reage.
A presidente tem de fazer a escolha entre a democracia e a guerra de todos contra todos. Ela já saiu da VAR-Palmares faz tempo — por isso não permito que seja chamada de “terrorista” aqui. Falta agora demonstrar que a VAR-Palmares também saiu de Dilma. Há hoje um claro incentivo à baderna que emana do Palácio do Planalto. E isso tem de acabar. Em nome da lei e da Constituição!
É com elas que Dilma governa, não com seu passado supostamente glorioso. Até porque ele é controverso. Os familiares das vítimas do Colina e da VAR-Palmares sabem disso muito bem.
Por Reinaldo Azevedo
OIQUI, JENTI! OCEIS PÁRI DE FICAR INVENTANU CRISI!
Sei não…
Acho que a presidente Dilma Rousseff está seguindo maus conselhos. Mas também não espero que siga os meus, não é?
Como diria a revista Serafina, sou “opositor”… Então que prossiga.
Eu perdi alguma coisa dos bons ensinamentos da política nos últimos, deixem-me ver, 35 anos, ou a Índia não é exatamente um bom lugar para a presidente do Brasil anunciar a disposição de baixar um pacote para beneficiar o setor privado, com digressões sobre a reforma tributária?
Na entrevista à VEJA, já estava claro que o tema frequenta as preocupações do governo e tal. Mas esse negócio de “vou fazer isso ou aquilo quando voltar ao Brasil” é absolutamente heterodoxo.
“Nós pretendemos divulgar um conjunto de medidas logo depois que eu voltar pro Brasil. Elas têm por objetivo justamente assegurar, através de questões tributárias e financeiras, maior capacidade de investimento para o setor privado. (…) Dentro do meu período governamental, eu farei o possível para reduzir [a carga tributária]. Eu sei perfeitamente que, devido ao fato de que tem vários interesses envolvidos na questão de uma reforma tributária, eu até julgo que pode ter um momento no futuro que seja possível encaminhar uma reforma global. Agora, o que é que eu tenho feito é tomado medidas pontuais que permitam que, no conjunto, se crie uma desoneração maior dos tributos no país”.
Entendi. Quer dizer, mais ou menos.
Os jornalistas também lhe fizeram perguntas sobre a crise com o Congresso.
Leiam a resposta:
“Eu não venci guerra nenhuma! Posso falar por quê? Porque uma parte disso ocês ["ocês" quer dizer "vocês" em português] criam, né, gente? Ocês criam! O que é que eu posso fazer? Vocês chegam à conclusão que tem uma crise; depois que tem a crise, vocês têm de resolver como ela desapareceu”.
Então tá!
Ocês parem de inventar crise, viu, gente?
29 de março de 2012
Reinaldo Azevedo
Acho que a presidente Dilma Rousseff está seguindo maus conselhos. Mas também não espero que siga os meus, não é?
Como diria a revista Serafina, sou “opositor”… Então que prossiga.
Eu perdi alguma coisa dos bons ensinamentos da política nos últimos, deixem-me ver, 35 anos, ou a Índia não é exatamente um bom lugar para a presidente do Brasil anunciar a disposição de baixar um pacote para beneficiar o setor privado, com digressões sobre a reforma tributária?
Na entrevista à VEJA, já estava claro que o tema frequenta as preocupações do governo e tal. Mas esse negócio de “vou fazer isso ou aquilo quando voltar ao Brasil” é absolutamente heterodoxo.
“Nós pretendemos divulgar um conjunto de medidas logo depois que eu voltar pro Brasil. Elas têm por objetivo justamente assegurar, através de questões tributárias e financeiras, maior capacidade de investimento para o setor privado. (…) Dentro do meu período governamental, eu farei o possível para reduzir [a carga tributária]. Eu sei perfeitamente que, devido ao fato de que tem vários interesses envolvidos na questão de uma reforma tributária, eu até julgo que pode ter um momento no futuro que seja possível encaminhar uma reforma global. Agora, o que é que eu tenho feito é tomado medidas pontuais que permitam que, no conjunto, se crie uma desoneração maior dos tributos no país”.
Entendi. Quer dizer, mais ou menos.
Os jornalistas também lhe fizeram perguntas sobre a crise com o Congresso.
Leiam a resposta:
“Eu não venci guerra nenhuma! Posso falar por quê? Porque uma parte disso ocês ["ocês" quer dizer "vocês" em português] criam, né, gente? Ocês criam! O que é que eu posso fazer? Vocês chegam à conclusão que tem uma crise; depois que tem a crise, vocês têm de resolver como ela desapareceu”.
Então tá!
Ocês parem de inventar crise, viu, gente?
29 de março de 2012
Reinaldo Azevedo
VAGABUNDOS CERCAM MILITARES
MILITARES DA RESERVA SÃO CERCADOS POR MANIFESTANTES NA CINELÂNDIA, NO RIO.
PM usou gás de pimenta e bombas de efeito moral; evento marca o aniversário do golpe de 64.
29 de março de 2012
MILITARES DA RESERVA SÃO CERCADOS POR MANIFESTANTES NA CINELÂNDA, NO RIO
PM usou gás de pimenta e bombas de efeito moral; evento marca o aniversário do golpe de 64
RIO - Dezenas de militares da reserva que assistiram ao debate "1964 - A Verdade" ficaram sitiados no prédio do Clube Militar, na Cinelândia, no centro do Rio, na tarde desta quinta-feira, 29. O prédio foi cercado por manifestantes que impediram o trânsito pelas duas entradas do imóvel.
O evento marcou o aniversário do golpe militar de 1964 e reuniu militares contrários à Comissão da Verdade. Ao fim do evento, eles tentaram sair, mas foram impedidos por militantes do PC do B, do PT, do PDT e de outros movimentos organizados que protestavam contra o evento.
"Tortura, assassinato, não esquecemos 64", gritavam os manifestantes. "Milico, covarde, queremos a verdade", diziam outros.
Velas foram acesas na frente da entrada lateral do centenário do Clube Militar, na Avenida Rio Branco, representando mortos e desaparecidos durante a ditadura militar.
Homens que saíam do prédio foram hostilizados com gritos de "assassino". Tinta vermelha e ovos foram jogados na calçada e nos militares.
Homens do Batalhão de Choque foram ao local e lançaram spray de pimenta e bombas de efeito moral contra o grupo, que revidou com ovos. Um dos manifestantes foi imobilizado por policiais e liberado em seguida após ser atingido supostamente por uma pistola de choque, e outro foi detido e algemado.
Os militares foram inicialmente orientados a sair em pequenos grupos por uma porta lateral, na rua Santa Luzia, mas tiveram que recuar por conta do forte cheiro de gás de pimenta que tomou o térreo do clube. A Polícia Militar tentou conter os manifestantes e chegou a liberar a saída de algumas pessoas pela porta principal, mas por medida de segurança voltou a impedir a saída.
Um grupo que saiu sob proteção do Batalhão de Choque da Polícia Militar foi alvo de xingamentos. Os manifestantes chamaram os militares de "assassinos" e "porcos". Mais tarde, a saída dos militares da reserva foi liberada por meio de um corredor aberto por PMs entre o prédio e a entrada da estação Cinelândia do metrô, a poucos metros do Clube Militar.
Por volta das 18 horas, saiu do prédio o general Nilton Cerqueira, ex-secretário de Segurança do Rio, que comandou a operação que culminou na morte do ex-capitão Carlos Lamarca, que aderiu à luta armada e foi morto no interior da Bahia em 1971.
Às 18h20, o ambiente continuava tenso, com manifestantes cercando as duas saídas, e um dos militares foi empurrado. O trânsito na Rua Santa Luzia entre a México e a Avenida Rio Branco foi interrompido e há engarrafamento na Rio Branco.
* * *
Reparem a cara desses vagabundos baderneiros, nem nascidos eram, doutrinados e iludidos pela propaganda comunista. Se o estado não garante a segurança desses senhores , o exército não pode ficar omisso deixando as coisas acontecerem.
29 de março de 2012
Wilson Tosta e Heloísa Aruth Sturm, de O Estado de S. Paulo
RIO - Dezenas de militares da reserva que assistiram ao debate "1964 - A Verdade" ficaram sitiados no prédio do Clube Militar, na Cinelândia, no centro do Rio, na tarde desta quinta-feira, 29. O prédio foi cercado por manifestantes que impediram o trânsito pelas duas entradas do imóvel.
O evento marcou o aniversário do golpe militar de 1964 e reuniu militares contrários à Comissão da Verdade. Ao fim do evento, eles tentaram sair, mas foram impedidos por militantes do PC do B, do PT, do PDT e de outros movimentos organizados que protestavam contra o evento.
"Tortura, assassinato, não esquecemos 64", gritavam os manifestantes. "Milico, covarde, queremos a verdade", diziam outros.
Velas foram acesas na frente da entrada lateral do centenário do Clube Militar, na Avenida Rio Branco, representando mortos e desaparecidos durante a ditadura militar.
Homens que saíam do prédio foram hostilizados com gritos de "assassino". Tinta vermelha e ovos foram jogados na calçada e nos militares.
Homens do Batalhão de Choque foram ao local e lançaram spray de pimenta e bombas de efeito moral contra o grupo, que revidou com ovos. Um dos manifestantes foi imobilizado por policiais e liberado em seguida após ser atingido supostamente por uma pistola de choque, e outro foi detido e algemado.
Os militares foram inicialmente orientados a sair em pequenos grupos por uma porta lateral, na rua Santa Luzia, mas tiveram que recuar por conta do forte cheiro de gás de pimenta que tomou o térreo do clube. A Polícia Militar tentou conter os manifestantes e chegou a liberar a saída de algumas pessoas pela porta principal, mas por medida de segurança voltou a impedir a saída.
Um grupo que saiu sob proteção do Batalhão de Choque da Polícia Militar foi alvo de xingamentos. Os manifestantes chamaram os militares de "assassinos" e "porcos". Mais tarde, a saída dos militares da reserva foi liberada por meio de um corredor aberto por PMs entre o prédio e a entrada da estação Cinelândia do metrô, a poucos metros do Clube Militar.
Por volta das 18 horas, saiu do prédio o general Nilton Cerqueira, ex-secretário de Segurança do Rio, que comandou a operação que culminou na morte do ex-capitão Carlos Lamarca, que aderiu à luta armada e foi morto no interior da Bahia em 1971.
Às 18h20, o ambiente continuava tenso, com manifestantes cercando as duas saídas, e um dos militares foi empurrado. O trânsito na Rua Santa Luzia entre a México e a Avenida Rio Branco foi interrompido e há engarrafamento na Rio Branco.
* * *
Reparem a cara desses vagabundos baderneiros, nem nascidos eram, doutrinados e iludidos pela propaganda comunista. Se o estado não garante a segurança desses senhores , o exército não pode ficar omisso deixando as coisas acontecerem.
29 de março de 2012
Wilson Tosta e Heloísa Aruth Sturm, de O Estado de S. Paulo
PATIFES E PATIFARIAS
Por que a Comissão da Verdade não sai do papel
Enviado por Ricardo Noblat
A ministra Maria do Rosário, dos Direitos Humanos, tem uma explicação para o fato de a Comissão da Verdade, aprovada pelo Congresso em novembro último, ainda não ter saído do papel: o salário dos seus futuros integrantes está sendo considerado baixo.
Pelo menos essa é a desculpa oferecida por várias pessoas sondadas para fazer parte da Comissão. O salário é de R$ 12 mil. Os sete membros da Comissão serão indicados por Dilma. Eles deverão investigar casos de desaparecimentos, mortes e torturas ocorridos antes e durante o regime militar de 64.
29 de março de 2102
Pedro Bougleux
Enviado por Ricardo Noblat
A ministra Maria do Rosário, dos Direitos Humanos, tem uma explicação para o fato de a Comissão da Verdade, aprovada pelo Congresso em novembro último, ainda não ter saído do papel: o salário dos seus futuros integrantes está sendo considerado baixo.
Pelo menos essa é a desculpa oferecida por várias pessoas sondadas para fazer parte da Comissão. O salário é de R$ 12 mil. Os sete membros da Comissão serão indicados por Dilma. Eles deverão investigar casos de desaparecimentos, mortes e torturas ocorridos antes e durante o regime militar de 64.
29 de março de 2102
Pedro Bougleux
A BITOLA DA ARROGÂNCIA
Artigos - Movimento Revolucionário
Quando surge um ou outro pequeno site conservador, este imediatamente é alvo das atenções não só daqueles que abominam o conservadorismo, mas daqueles que se consideram especialistas e superiores a ele.
A hegemonia da esquerda nos meios de comunicação, entre outros efeitos nefandos, provoca um fenômeno peculiar: quando surge um ou outro pequeno site conservador, este imediatamente é alvo das atenções não só daqueles que abominam o conservadorismo, mas daqueles que se consideram especialistas e superiores a ele.
Encontrando nesse meio uma brecha para submeter suas opiniões ao crivo de um público mais sério e honesto do que os esquerdistas – notórios por seus ideais ilógicos e meramente propagandísticos – aterrissam nesse solo com a avidez do ditado “quem nunca comeu melado, quando come se lambuza”.
Os campos de comentários do Mídia Sem Máscara têm sido constantemente inundados com postagens prepotentes que acusam cristãos e apontam as “contradições” da Bíblia. Não obstante as providências dos administradores, os comentaristas exibem uma insistência absolutamente obsessiva em posar como denunciadores da ignorância dos crentes.
Essas acusações estão presentes em qualquer site neoateu, disponíveis às pencas, e, embora os comentaristas se sintam portadores da boa-nova, são apenas repetidores de uma vergonhosa confusão: a de fazer análise lógico-formal rasa de verdades teológicas cujas implicações e premissas requerem conhecimento adequado de temas concernentes a áreas como metafísica, filosofia da ciência, axiologia, historia da igreja, hermenêutica, arqueologia bíblica, entre outros, para que não só sua validade epistemológica fique mais evidente, como também sua harmonia com o relato de milhões de pessoas que, hoje e ao longo da história, tiveram suas vidas transformadas por crerem, com fé simples, nas verdades das Sagradas Escrituras.
As Escrituras Sagradas não têm compromisso de manter uma coerência analítica meramente exterior, porque não se trata de um livro apenas histórico, nem de simplesmente um tratado de doutrina. Trata-se de um conjunto de livros que, lidos com a devida disposição de espírito, levam a uma abertura formidável ao transcendente. Há ali também os mistérios, inacessíveis ao conhecimento humano imediato, mas, nem por isso, contrários à razão e à lógica.
Veja-se, a título de uma analogia reduzida, que nos diálogos platônicos, quando o contendor de Sócrates, esmagado em sua soberba pelos argumentos do filósofo, finalmente dava-se por vencido e pedia explicação sobre a verdade que estava sendo debatida, o ateniense não expunha um conceito, mas um mito. Observe-se que ele recorria a esse expediente para explicar uma só ideia – justiça, temperança, verdade. Certamente, extrair do mito o conteúdo que permeia aquele conto e que, em um só momento afasta todas as objeções que demonstravam as falsidades dos conceitos anteriores, exige muito mais esforço cognitivo do que a simples leitura de uma fórmula. O debatedor poderia, ao invés de se empenhar em compreender, acusar Sócrates de ser ingênuo, de acreditar naqueles mitos, naquela história cheia de contradições. Mas os povos de então não eram tão desonestos.
Se uma das mentes mais poderosas que já andaram sobre a face da terra não se aventurava a expor analiticamente um só conceito, é uma boçalidade fazer uma leitura analítica e conceitual – e diga-se, superficial – de um livro que descreve a própria atuação do transcendente no imanente. Os que fazem mera análise de texto e comparação de descrições históricas estão se expondo a um vexame semelhante ao de um tipógrafo que, abrindo um livro de matemática, se pusesse a criticá-lo afirmando: a fórmula desta página está obviamente errada, pois estas linhas foram impressas em fonte “courier new”, e aquelas em “arial”. Incapaz de decifrar a profundidade dos cálculos, é natural que se limite em suas críticas ao seu alcance cognitivo.
Não se pode exigir de qualquer pessoa mais do que suas capacidades permitam. Porém, é dever de qualquer cristão, ao observar uma pessoa fazer um orgulhoso e patético espetáculo de sua própria estupidez, esclarecer o erro e dar fim ao escarcéu.
29 de março de 2012
Tiago Venson é advogado e marceneiro.
Quando surge um ou outro pequeno site conservador, este imediatamente é alvo das atenções não só daqueles que abominam o conservadorismo, mas daqueles que se consideram especialistas e superiores a ele.
A hegemonia da esquerda nos meios de comunicação, entre outros efeitos nefandos, provoca um fenômeno peculiar: quando surge um ou outro pequeno site conservador, este imediatamente é alvo das atenções não só daqueles que abominam o conservadorismo, mas daqueles que se consideram especialistas e superiores a ele.
Encontrando nesse meio uma brecha para submeter suas opiniões ao crivo de um público mais sério e honesto do que os esquerdistas – notórios por seus ideais ilógicos e meramente propagandísticos – aterrissam nesse solo com a avidez do ditado “quem nunca comeu melado, quando come se lambuza”.
Os campos de comentários do Mídia Sem Máscara têm sido constantemente inundados com postagens prepotentes que acusam cristãos e apontam as “contradições” da Bíblia. Não obstante as providências dos administradores, os comentaristas exibem uma insistência absolutamente obsessiva em posar como denunciadores da ignorância dos crentes.
Essas acusações estão presentes em qualquer site neoateu, disponíveis às pencas, e, embora os comentaristas se sintam portadores da boa-nova, são apenas repetidores de uma vergonhosa confusão: a de fazer análise lógico-formal rasa de verdades teológicas cujas implicações e premissas requerem conhecimento adequado de temas concernentes a áreas como metafísica, filosofia da ciência, axiologia, historia da igreja, hermenêutica, arqueologia bíblica, entre outros, para que não só sua validade epistemológica fique mais evidente, como também sua harmonia com o relato de milhões de pessoas que, hoje e ao longo da história, tiveram suas vidas transformadas por crerem, com fé simples, nas verdades das Sagradas Escrituras.
As Escrituras Sagradas não têm compromisso de manter uma coerência analítica meramente exterior, porque não se trata de um livro apenas histórico, nem de simplesmente um tratado de doutrina. Trata-se de um conjunto de livros que, lidos com a devida disposição de espírito, levam a uma abertura formidável ao transcendente. Há ali também os mistérios, inacessíveis ao conhecimento humano imediato, mas, nem por isso, contrários à razão e à lógica.
Veja-se, a título de uma analogia reduzida, que nos diálogos platônicos, quando o contendor de Sócrates, esmagado em sua soberba pelos argumentos do filósofo, finalmente dava-se por vencido e pedia explicação sobre a verdade que estava sendo debatida, o ateniense não expunha um conceito, mas um mito. Observe-se que ele recorria a esse expediente para explicar uma só ideia – justiça, temperança, verdade. Certamente, extrair do mito o conteúdo que permeia aquele conto e que, em um só momento afasta todas as objeções que demonstravam as falsidades dos conceitos anteriores, exige muito mais esforço cognitivo do que a simples leitura de uma fórmula. O debatedor poderia, ao invés de se empenhar em compreender, acusar Sócrates de ser ingênuo, de acreditar naqueles mitos, naquela história cheia de contradições. Mas os povos de então não eram tão desonestos.
Se uma das mentes mais poderosas que já andaram sobre a face da terra não se aventurava a expor analiticamente um só conceito, é uma boçalidade fazer uma leitura analítica e conceitual – e diga-se, superficial – de um livro que descreve a própria atuação do transcendente no imanente. Os que fazem mera análise de texto e comparação de descrições históricas estão se expondo a um vexame semelhante ao de um tipógrafo que, abrindo um livro de matemática, se pusesse a criticá-lo afirmando: a fórmula desta página está obviamente errada, pois estas linhas foram impressas em fonte “courier new”, e aquelas em “arial”. Incapaz de decifrar a profundidade dos cálculos, é natural que se limite em suas críticas ao seu alcance cognitivo.
Não se pode exigir de qualquer pessoa mais do que suas capacidades permitam. Porém, é dever de qualquer cristão, ao observar uma pessoa fazer um orgulhoso e patético espetáculo de sua própria estupidez, esclarecer o erro e dar fim ao escarcéu.
29 de março de 2012
Tiago Venson é advogado e marceneiro.
A UnB E A REVOLUÇÃO CAMPESINA
Artigos - Educação
A Universidade de Brasília é um dos baluartes da deliberada instrumentalização do ensino superior em prol da ampliação e do aprofundamento das ideologias de fundo marxista no Brasil. Na atualidade, é difícil encontrar uma instituição federal de ensino superior que assuma tal protagonismo como o faz a UnB – algo que, salvas as devidas proporções, pode-se comparar com a USP e a Unicamp nos anos 1960 e 1970. Uma das atividades que compõe esse protagonismo foi divulgada recentemente: a abertura de mais um vestibular para Licenciatura em Educação do Campo.
Mas, afinal, do que se trata Educação do Campo?
Entre os dias 2 e 6 de agosto de 2004, foi realizada na cidade de Luziânia/GO a II Conferência Nacional Por Uma Educação do Campo. O documento gerado ao término dessa conferência, a Declaração Final Por Uma Política Pública de Educação do Campo, define algumas coisas interessantes (grifos meus):
Reafirmamos a luta social por um campo visto como espaço de vida e por políticas públicas específicas para sua população.
Em julho de 1998, nesse mesmo lugar, foi realizada a I Conferência Nacional Por Uma Educação Básica do Campo, promovida pelo MST, UNICEF, pela UNESCO, CNBB e UnB. Foi uma ação que teve papel significativo no processo de rearticulação da questão da educação da população do campo para a agenda da sociedade e dos governos, e inaugurou uma nova referência para o debate e a mobilização popular: a Educação do Campo que é contraponto tanto ao silêncio do Estado como também às propostas da chamada educação rural ou educação para o meio rural no Brasil. Um projeto que se enraíza na trajetória da Educação Popular e nas lutas sociais da classe trabalhadora do campo.
Mais adiante, diz o documento (grifos meus):
O QUE DEFENDEMOS
Lutamos por um projeto de sociedade que seja justo, democrático e igualitário; que contemple um projeto de desenvolvimento sustentável do campo, que se contraponha ao latifúndio e ao agronegócio e que garanta:
• a realização de uma ampla e massiva reforma agrária;
• a demarcação, homologação e desintrusão [sic] das terras indígenas;
• o reconhecimento e a titulação coletiva de terras quilombolas;
• a regularização dos territórios remanescentes de quilombos;
• a demarcação e regularização das terras de ribeirinhos e pescadores;
• o fortalecimento e expansão da agricultura familiar/camponesa;
• as relações/condições de trabalho, que respeitem os direitos trabalhistas e previdenciários das trabalhadoras e dos trabalhadores rurais;
• a erradicação do trabalho escravo e da exploração do trabalho infantil;
• o estímulo à construção de novas relações sociais e humanas, e o combate de todas as formas de discriminação e desigualdade fundadas no gênero, geração, raça e etnia;
• a articulação campo-cidade, o local-global.
Lutamos por um projeto de desenvolvimento do campo onde a educação desempenhe um papel estratégico no processo de sua construção e implementação.
Bonito, não é? Estou certo de que Paulo Freire, onde quer que esteja (por mais quente e barulhento que seja), deve ter ficado sinceramente tocado com essas palavras. É nesse espírito que a Universidade de Brasília tem promovido vestibulares para Licenciatura em Educação do Campo.
Mas, como nem tudo são flores, não é qualquer pessoa que pode participar desse vestibular. Como uma iniciativa legítima que faz parte de “um projeto de sociedade que seja justo, democrático e igualitário”, assim reza o edital de abertura do vestibular:
3 DAS CONDIÇÕES DE PARTICIPAÇÃO
3.1 O processo seletivo será destinado a pessoas que tenham concluído o ensino médio, ou estejam em fase final de conclusão, e não tenham formação em nível superior e que estejam enquadradas em pelo menos uma das seguintes situações:
a) professores em exercício nas escolas do campo da rede pública na região do Distrito Federal, entorno (DF) e Goiás (GO); ou
b) outros profissionais da educação com atuação na rede pública da região do Distrito Federal, entorno (DF) e Goiás (GO); ou
c) professores e outros profissionais da educação que atuem nos centros de alternância ou em experiências educacionais alternativas de Educação do Campo, ou
d) professores e outros profissionais da educação com atuação em programas governamentais que visem à ampliação do acesso à educação básica da população do campo, ou
e) jovens e adultos de comunidades do campo que tenham o ensino médio concluído ou em fase de conclusão e ainda não tenham formação em nível superior.
3.1.1 São consideradas escolas do campo aquelas que têm sua sede em espaço geográfico classificado pelo IBGE como rural e, mais amplamente, aquelas escolas que, mesmo tendo sua sede em áreas consideradas urbanas, atendem à população de municípios cuja reprodução social e cultural está majoritariamente vinculada ao trabalho no campo (Decreto nº 7.352, artigo 1º, § 1º, Inciso II, de 4 de novembro de 2010).
O que isso quer dizer? Bom, quer dizer que, caso você corrobore das idéias propostas e tenha vontade de atuar em alguma “experiência educacional alternativa”, mas teve o azar de nascer na cidade e ter uma vida tipicamente urbana, você não pode fazer esse vestibular. Algo bem “justo, democrático e igualitário”, não?
Mas o melhor ainda está por vir. Ao analisarmos melhor o edital de abertura do vestibular, encontramos os objetos de avaliação desse vestibular. Abaixo, alguns exemplos para vossa apreciação.
Conhecimentos de geografia exigidos na prova.
Conhecimentos de história exigidos na prova.
Conhecimentos de história exigidos na prova.
Conhecimentos de história exigidos na prova.
Se antes, por prudência ou ingenuidade, poderia pairar qualquer tipo de dúvida sobre o apoio entusiástico que a Universidade de Brasília dá a organizações de "movimentos sociais" – ainda que, a rigor, grupos que promovem a invasão de propriedades, a depredação de patrimônio público e privado, bem como atos de violência (espancamentos, assassinatos e que tais) possam ser mais bem qualificados como organizações criminosas –, não resta mais dúvida alguma. A falta de pudor na declaração desses vínculos não pode deixar de escandalizar aqueles que ainda acreditam que o objetivo da universidade é educar de maneira verdadeiramente livre, não aparelhar e instrumentalizar o ensino em prol de bandeiras políticas profundamente anti-humanas.
29 de março de 2012
Felipe Melo
A Universidade de Brasília é um dos baluartes da deliberada instrumentalização do ensino superior em prol da ampliação e do aprofundamento das ideologias de fundo marxista no Brasil. Na atualidade, é difícil encontrar uma instituição federal de ensino superior que assuma tal protagonismo como o faz a UnB – algo que, salvas as devidas proporções, pode-se comparar com a USP e a Unicamp nos anos 1960 e 1970. Uma das atividades que compõe esse protagonismo foi divulgada recentemente: a abertura de mais um vestibular para Licenciatura em Educação do Campo.
Mas, afinal, do que se trata Educação do Campo?
Entre os dias 2 e 6 de agosto de 2004, foi realizada na cidade de Luziânia/GO a II Conferência Nacional Por Uma Educação do Campo. O documento gerado ao término dessa conferência, a Declaração Final Por Uma Política Pública de Educação do Campo, define algumas coisas interessantes (grifos meus):
Reafirmamos a luta social por um campo visto como espaço de vida e por políticas públicas específicas para sua população.
Em julho de 1998, nesse mesmo lugar, foi realizada a I Conferência Nacional Por Uma Educação Básica do Campo, promovida pelo MST, UNICEF, pela UNESCO, CNBB e UnB. Foi uma ação que teve papel significativo no processo de rearticulação da questão da educação da população do campo para a agenda da sociedade e dos governos, e inaugurou uma nova referência para o debate e a mobilização popular: a Educação do Campo que é contraponto tanto ao silêncio do Estado como também às propostas da chamada educação rural ou educação para o meio rural no Brasil. Um projeto que se enraíza na trajetória da Educação Popular e nas lutas sociais da classe trabalhadora do campo.
Mais adiante, diz o documento (grifos meus):
O QUE DEFENDEMOS
Lutamos por um projeto de sociedade que seja justo, democrático e igualitário; que contemple um projeto de desenvolvimento sustentável do campo, que se contraponha ao latifúndio e ao agronegócio e que garanta:
• a realização de uma ampla e massiva reforma agrária;
• a demarcação, homologação e desintrusão [sic] das terras indígenas;
• o reconhecimento e a titulação coletiva de terras quilombolas;
• a regularização dos territórios remanescentes de quilombos;
• a demarcação e regularização das terras de ribeirinhos e pescadores;
• o fortalecimento e expansão da agricultura familiar/camponesa;
• as relações/condições de trabalho, que respeitem os direitos trabalhistas e previdenciários das trabalhadoras e dos trabalhadores rurais;
• a erradicação do trabalho escravo e da exploração do trabalho infantil;
• o estímulo à construção de novas relações sociais e humanas, e o combate de todas as formas de discriminação e desigualdade fundadas no gênero, geração, raça e etnia;
• a articulação campo-cidade, o local-global.
Lutamos por um projeto de desenvolvimento do campo onde a educação desempenhe um papel estratégico no processo de sua construção e implementação.
Bonito, não é? Estou certo de que Paulo Freire, onde quer que esteja (por mais quente e barulhento que seja), deve ter ficado sinceramente tocado com essas palavras. É nesse espírito que a Universidade de Brasília tem promovido vestibulares para Licenciatura em Educação do Campo.
Mas, como nem tudo são flores, não é qualquer pessoa que pode participar desse vestibular. Como uma iniciativa legítima que faz parte de “um projeto de sociedade que seja justo, democrático e igualitário”, assim reza o edital de abertura do vestibular:
3 DAS CONDIÇÕES DE PARTICIPAÇÃO
3.1 O processo seletivo será destinado a pessoas que tenham concluído o ensino médio, ou estejam em fase final de conclusão, e não tenham formação em nível superior e que estejam enquadradas em pelo menos uma das seguintes situações:
a) professores em exercício nas escolas do campo da rede pública na região do Distrito Federal, entorno (DF) e Goiás (GO); ou
b) outros profissionais da educação com atuação na rede pública da região do Distrito Federal, entorno (DF) e Goiás (GO); ou
c) professores e outros profissionais da educação que atuem nos centros de alternância ou em experiências educacionais alternativas de Educação do Campo, ou
d) professores e outros profissionais da educação com atuação em programas governamentais que visem à ampliação do acesso à educação básica da população do campo, ou
e) jovens e adultos de comunidades do campo que tenham o ensino médio concluído ou em fase de conclusão e ainda não tenham formação em nível superior.
3.1.1 São consideradas escolas do campo aquelas que têm sua sede em espaço geográfico classificado pelo IBGE como rural e, mais amplamente, aquelas escolas que, mesmo tendo sua sede em áreas consideradas urbanas, atendem à população de municípios cuja reprodução social e cultural está majoritariamente vinculada ao trabalho no campo (Decreto nº 7.352, artigo 1º, § 1º, Inciso II, de 4 de novembro de 2010).
O que isso quer dizer? Bom, quer dizer que, caso você corrobore das idéias propostas e tenha vontade de atuar em alguma “experiência educacional alternativa”, mas teve o azar de nascer na cidade e ter uma vida tipicamente urbana, você não pode fazer esse vestibular. Algo bem “justo, democrático e igualitário”, não?
Mas o melhor ainda está por vir. Ao analisarmos melhor o edital de abertura do vestibular, encontramos os objetos de avaliação desse vestibular. Abaixo, alguns exemplos para vossa apreciação.
Conhecimentos de geografia exigidos na prova.
Conhecimentos de história exigidos na prova.
Conhecimentos de história exigidos na prova.
Conhecimentos de história exigidos na prova.
Se antes, por prudência ou ingenuidade, poderia pairar qualquer tipo de dúvida sobre o apoio entusiástico que a Universidade de Brasília dá a organizações de "movimentos sociais" – ainda que, a rigor, grupos que promovem a invasão de propriedades, a depredação de patrimônio público e privado, bem como atos de violência (espancamentos, assassinatos e que tais) possam ser mais bem qualificados como organizações criminosas –, não resta mais dúvida alguma. A falta de pudor na declaração desses vínculos não pode deixar de escandalizar aqueles que ainda acreditam que o objetivo da universidade é educar de maneira verdadeiramente livre, não aparelhar e instrumentalizar o ensino em prol de bandeiras políticas profundamente anti-humanas.
29 de março de 2012
Felipe Melo
O DESCENSO DA NOVA REPÚBLICA
Artigos - Movimento Revolucionário
É preciso responsabilizar os reais autores pela oclocracia instalada. A imprensa, infiltrada de agentes gramscianos, a classe letrada como um todo, o acovardamento das lideranças empresariais, e os partidos políticos, todos eles socialistas em diferentes graus.
O artigo de Marco Antônio Villa publicado hoje na Folha de São Paulo (“O assunto é democracia brasileira”) está muito bom, por recordar os fatos políticos da nossa história recente, embora eu tenha severas objeções a alguns pontos de vista nele contido. O prólogo do artigo não poderia ser mais sombrio: “Fracassamos. Há despolitização, corrupção nos três Poderes e oligarcas como Sarney. A Nova República fez aniversário, ninguém lembrou. Havia motivo?”
Recordemos que a chamada Nova República levou ao poder “tudo isso que está aí”, Fernando Henrique Cardoso, Lula e tutti quanti. Ela representou um mergulho em uma forma degenerada de democracia, movida a ódios e a maus instintos, com propósitos nitidamente revolucionários. Estamos vendo que décadas depois ainda temos comissões da verdade sendo formadas para a vingança dos vencidos pelas armas. Vemos também que os tentáculos externos dos guerrilheiros na OEA fazem reboliço com fatos antigos, como foi noticiado hoje o caso do Herzog, como se esses colegiados tivessem jurisdição sobre o Brasil.
Mas tem coisas piores, quando comparamos a Nova República com o regime militar. A corrupção é fato maiúsculo hoje em dia, que degenerou em todos os órgãos públicos. A propina sofreu franco processo de metástase e se “democratizou”. Qualquer barnabé agora se sente à vontade para achacar o distinto público. Desafio aqui quem possa proclamar que não pagou algum tipo de propina, que não paga. E não venham me falar de corruptores, porque não é o caso. É puro e simples achaque o que acontece e quem se recusa a pagar simplesmente tem a sua vida prática prejudicada.
No regime militar havia um elemento aristocrático, típico da hierarquia castrense, que dava à autoridade pública um senso de honra, que foi perdido. Um ministro daqueles tempos jamais diria que “fomos além do limite da irresponsabilidade”. Havia pudor e senso se dever.
Marco Antonio Villa pecou por malhar os oligarcas como Sarney, como se estes fossem os responsáveis maiores pela oclocracia instalada. É claro que eles também são responsáveis, na medida em que se tornaram sócios minoritários dos novos governantes e não serviram de anteparo em defesa da Nação. Mas é preciso dizer que os responsáveis maiores foram os agentes gramscianos, como Fernando Henrique Cardoso, que laboraram noite e dia para elevar a tributação e o arbítrio do Estado sobre a vida privada dos cidadãos. E para puxar para si o monopólio do poder de Estado.
Em defesa dos oligarcas é bom que se diga que são a única força que tem segurado o assalto final dos revolucionários ao poder total. Lembremos que foram eles que derrotaram a CPMF e impediram o terceiro mandato de Lula, que seria o ensaio no rumo do totalitarismo. Basta ver o que tem havido no Senado Federal: nas coisas capitais o PT ter perdido todas, fato que tem levado aquele partido a cogitar até na descuntinuidade do Senado.
É preciso responsabilizar os reais autores pela oclocracia instalada. A imprensa, infiltrada de agentes gramscianos, a classe letrada como um todo, especialmente as que compõem as universidades, e o acovardamento das lideranças empresariais, que mais e mais se tornaram clientes do poder de Estado. E os partidos políticos, todos eles socialistas em diferentes graus. Só por um milagre o totalitarismo aberto não tomou conta do país. E também é preciso responsabilizar as novas gerações de comandantes militares, que fecharam os olhos às malfeitorias dos novos governantes. Omitiram-se.
O articulista esqueceu-se de ver que a grande tragédia do Brasil foi a vitória esmagadora da revolução gramsciana, que destruiu todas as forças da direita. A oligarquia que persistiu faz “oposição de resultados”, sempre na defensiva e sem respaldo na opinião pública qualificada. Reconstruir uma verdadeira força de oposição, fundada nas universidades e nas Igrejas, com presença marcante nos órgãos de imprensa, é o passo a ser feito imediatamente, sob pena de não haver mais tempo para resistir ao totalitarismo da democracia degenerada.
Marco Antonio Villa tem o mérito grande de levantar a questão e não deixar que o silêncio imperasse nessa ação insidiosa da forças deletérias. Infelizmente, sua crítica está incompleta, por não responsabilizar os autores da degeneração moral de política do Brasil.
Nivaldo Cordeiro
29 Março 2012
É preciso responsabilizar os reais autores pela oclocracia instalada. A imprensa, infiltrada de agentes gramscianos, a classe letrada como um todo, o acovardamento das lideranças empresariais, e os partidos políticos, todos eles socialistas em diferentes graus.
O artigo de Marco Antônio Villa publicado hoje na Folha de São Paulo (“O assunto é democracia brasileira”) está muito bom, por recordar os fatos políticos da nossa história recente, embora eu tenha severas objeções a alguns pontos de vista nele contido. O prólogo do artigo não poderia ser mais sombrio: “Fracassamos. Há despolitização, corrupção nos três Poderes e oligarcas como Sarney. A Nova República fez aniversário, ninguém lembrou. Havia motivo?”
Recordemos que a chamada Nova República levou ao poder “tudo isso que está aí”, Fernando Henrique Cardoso, Lula e tutti quanti. Ela representou um mergulho em uma forma degenerada de democracia, movida a ódios e a maus instintos, com propósitos nitidamente revolucionários. Estamos vendo que décadas depois ainda temos comissões da verdade sendo formadas para a vingança dos vencidos pelas armas. Vemos também que os tentáculos externos dos guerrilheiros na OEA fazem reboliço com fatos antigos, como foi noticiado hoje o caso do Herzog, como se esses colegiados tivessem jurisdição sobre o Brasil.
Mas tem coisas piores, quando comparamos a Nova República com o regime militar. A corrupção é fato maiúsculo hoje em dia, que degenerou em todos os órgãos públicos. A propina sofreu franco processo de metástase e se “democratizou”. Qualquer barnabé agora se sente à vontade para achacar o distinto público. Desafio aqui quem possa proclamar que não pagou algum tipo de propina, que não paga. E não venham me falar de corruptores, porque não é o caso. É puro e simples achaque o que acontece e quem se recusa a pagar simplesmente tem a sua vida prática prejudicada.
No regime militar havia um elemento aristocrático, típico da hierarquia castrense, que dava à autoridade pública um senso de honra, que foi perdido. Um ministro daqueles tempos jamais diria que “fomos além do limite da irresponsabilidade”. Havia pudor e senso se dever.
Marco Antonio Villa pecou por malhar os oligarcas como Sarney, como se estes fossem os responsáveis maiores pela oclocracia instalada. É claro que eles também são responsáveis, na medida em que se tornaram sócios minoritários dos novos governantes e não serviram de anteparo em defesa da Nação. Mas é preciso dizer que os responsáveis maiores foram os agentes gramscianos, como Fernando Henrique Cardoso, que laboraram noite e dia para elevar a tributação e o arbítrio do Estado sobre a vida privada dos cidadãos. E para puxar para si o monopólio do poder de Estado.
Em defesa dos oligarcas é bom que se diga que são a única força que tem segurado o assalto final dos revolucionários ao poder total. Lembremos que foram eles que derrotaram a CPMF e impediram o terceiro mandato de Lula, que seria o ensaio no rumo do totalitarismo. Basta ver o que tem havido no Senado Federal: nas coisas capitais o PT ter perdido todas, fato que tem levado aquele partido a cogitar até na descuntinuidade do Senado.
É preciso responsabilizar os reais autores pela oclocracia instalada. A imprensa, infiltrada de agentes gramscianos, a classe letrada como um todo, especialmente as que compõem as universidades, e o acovardamento das lideranças empresariais, que mais e mais se tornaram clientes do poder de Estado. E os partidos políticos, todos eles socialistas em diferentes graus. Só por um milagre o totalitarismo aberto não tomou conta do país. E também é preciso responsabilizar as novas gerações de comandantes militares, que fecharam os olhos às malfeitorias dos novos governantes. Omitiram-se.
O articulista esqueceu-se de ver que a grande tragédia do Brasil foi a vitória esmagadora da revolução gramsciana, que destruiu todas as forças da direita. A oligarquia que persistiu faz “oposição de resultados”, sempre na defensiva e sem respaldo na opinião pública qualificada. Reconstruir uma verdadeira força de oposição, fundada nas universidades e nas Igrejas, com presença marcante nos órgãos de imprensa, é o passo a ser feito imediatamente, sob pena de não haver mais tempo para resistir ao totalitarismo da democracia degenerada.
Marco Antonio Villa tem o mérito grande de levantar a questão e não deixar que o silêncio imperasse nessa ação insidiosa da forças deletérias. Infelizmente, sua crítica está incompleta, por não responsabilizar os autores da degeneração moral de política do Brasil.
Nivaldo Cordeiro
29 Março 2012
STF DEVE REFERENDAR A LEI DA ANISTIA, MANDANDO OS PROCURADORES DE FAMA DE VOLTA AO TRABALHO
O Supremo Tribunal Federal (STF) colocou novamente na pauta de julgamentos desta quinta-feira, 29, o pedido de revisão da Lei da Anistia. Na semana passada, os ministros adiaram a discussão por entenderem que seria necessário uma sessão ordinária para tratar o tema.
Na semana passada, a expectativa era de que o STF rejeitasse o recurso da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e reafirmar que a Lei de Anistia, de 1979, beneficiou militantes de esquerda e agentes do Estado que cometeram crimes durante a ditadura militar.
A polêmica foi reaberta na semana passada com a decisão do Ministério Público de denunciar o major da reserva Sebastião Curió Rodrigues de Moura pelo desaparecimento de cinco guerrilheiros do Araguaia, em 1974. A OAB argumenta que o Supremo foi omisso ao não se pronunciar, de acordo com a Ordem, sobre os crimes de desaparecimento forçado.
29 de março de 2012
(Do Estadão)
Na semana passada, a expectativa era de que o STF rejeitasse o recurso da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e reafirmar que a Lei de Anistia, de 1979, beneficiou militantes de esquerda e agentes do Estado que cometeram crimes durante a ditadura militar.
A polêmica foi reaberta na semana passada com a decisão do Ministério Público de denunciar o major da reserva Sebastião Curió Rodrigues de Moura pelo desaparecimento de cinco guerrilheiros do Araguaia, em 1974. A OAB argumenta que o Supremo foi omisso ao não se pronunciar, de acordo com a Ordem, sobre os crimes de desaparecimento forçado.
29 de março de 2012
(Do Estadão)
QUEM TEM PENA, MORRE DEPENADO
Cyro Miranda disse: "Senador ganhar líquido R$ 19 mil é alguma coisa não condizente com a sua atividade. Tenho pena daquele que é obrigado a viver com R$ 19 mil reais, com a estrutura que nós temos aqui.”
Motivo de Ciro Miranda ficar tão penalizado: Em 28/03/2012, ano eleital, a Comissão de Assuntos Econômicos do Senado aprovou um relatório de projeto que acaba com os 14º e 15º salários para parlamentares. Num país em que o trabalhador que trabalha 7 dias por semana, no minimo, ganha apenas o 13º e leva anos para conseguir o sofrido SUBSÍDIO que um parlamentar ganha em único mês para ir ao Parlamento apenas 3 vezes por semana (quando vai).
Cyro Miranda não deveria ficar tão preocupado com seus ""pobres"" colegas. Logo depois das eleições arranjarão um jeito de arrancar mais dinheiro dos otários que trabalham para sustentar sua vagabundagem. Sem contar que, como todos sabem, eles não recebem INJUSTAMENTE apenas a quantidade citada pelo 'comovido' senador.
FAÇA SUAS 'APOSTAS'
Ao dizer tamando absurdo Cyro Miranda:
1- É um ignorante que desconhece a realidade brasileira
2- Foi um tremendo cara-de-pau
3- Ridicularizou o brasileiro que trabalha de verdade e recebe um parco salário
4 - Foi um tremendo sacana sem nenhuma vergonha na cara.
Dados do senador
http://www.senado.gov.br/senadores/dinamico/paginst/senador4877a.asp
nome civil: Cyro Miranda Gifford Júnior
data de nascimento: 04/02/1946
partido / UF: PSDB / GO
naturalidade: São José do Rio Preto (SP)
endereço parlamentar: Ala Trancredo Neves gabinete nº 51
telefones: (61) 3303-1962
FAX: (61) 3303-1877
correio eletrônico: cyro.miranda@senador.gov.br
NOTA AO PÉ DO TEXTO
É patético! Como exemplo, basta citar o caso da família Lobão:
A mulher e o filho do ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, foram os parlamentares que mais estiveram ausentes das sessões de 2011. Mesmo tendo comparecido a apenas 20 dos 121 dias de votação, a deputada Nice recebeu R$ 470 mil.
O que você acha de um empreguinho como esse? Nada mal, é ou não é?
E quais são os requisitos básicos para conseguir a 'boquinha'? Simples como água!
Primeiro você se filia a um partido. Requer coragem, olhos fechados, e se atirar de cabeça no poço. Não tem que se preocupar com a sujeira. Vá em frente!
Segundo, todos os 'cumpanhero' são seus cúmplices para o que der e vier. Certo?
Superada essa fase, você deve alterar alguns traços do seu caráter. Se a sua vocação for autêntica, isso não será um problema.
E preste atenção aos movimentos Dextra e Sinistra.
ATRIBUTOS FUNDAMENTAIS
Nada de caráter. Seja sempre o momento, concorde com tudo, mas não se esqueça do seu preço! Não há almoço grátis! Minta! Só concorde com o que possa trazer-lhe benefícios futuros. Seja um candidato de visão! Sempre esteja na fila dos que estão 'mandando'. Não puxe apenas o saco, puxe tudo!
Principalmente a carteira do bolso alheio, se possível do erário!
Seja um autêntico "puxador", e um verdadeiro babador de ovos!
Se eleito, saiba que você acaba de entrar para a "famiglia". Siga os exemplos mais notáveis da prática da corrupção, que continuam impunes. Aprenda com eles as artimanhas básicas de como continuar sem condenação.
Tenha um repertório de frases feitas à mão, dos melhores pensadores, das personalidades mais sérias (cuidado com os 'falsos honestos'), e repita-as em todas as ocasiões. Discursos sem citações do Rui Barbosa por exemplo, não é recomendado. José Bonifácio, Rio Branco etc.
A cara é importante. Não distribua sorrisos à torto e a direita. Ela deve ser séria, passando sempre a imagem de probidade. Use óculos, mesmo que não precise. Rir, só a socapa! Rir, só do eleitor e dos que acreditam em você! Ou acreditaram... Isso realmente é engraçado!
Você pode não enganar todo mundo, todo o tempo, mas isso também não é tão importante! Basta você enganar todo mundo algum tempo, depois o dinheiro resolve o resto.
Mandamento fundamental: seja cínico! Muito cínico! É o que o povo chama de cara-de-pau. Mas acaba sempre ficando por isso mesmo. E você continuará rindo, feliz e rico.
m.americo
Motivo de Ciro Miranda ficar tão penalizado: Em 28/03/2012, ano eleital, a Comissão de Assuntos Econômicos do Senado aprovou um relatório de projeto que acaba com os 14º e 15º salários para parlamentares. Num país em que o trabalhador que trabalha 7 dias por semana, no minimo, ganha apenas o 13º e leva anos para conseguir o sofrido SUBSÍDIO que um parlamentar ganha em único mês para ir ao Parlamento apenas 3 vezes por semana (quando vai).
Cyro Miranda não deveria ficar tão preocupado com seus ""pobres"" colegas. Logo depois das eleições arranjarão um jeito de arrancar mais dinheiro dos otários que trabalham para sustentar sua vagabundagem. Sem contar que, como todos sabem, eles não recebem INJUSTAMENTE apenas a quantidade citada pelo 'comovido' senador.
FAÇA SUAS 'APOSTAS'
Ao dizer tamando absurdo Cyro Miranda:
1- É um ignorante que desconhece a realidade brasileira
2- Foi um tremendo cara-de-pau
3- Ridicularizou o brasileiro que trabalha de verdade e recebe um parco salário
4 - Foi um tremendo sacana sem nenhuma vergonha na cara.
Dados do senador
http://www.senado.gov.br/senadores/dinamico/paginst/senador4877a.asp
nome civil: Cyro Miranda Gifford Júnior
data de nascimento: 04/02/1946
partido / UF: PSDB / GO
naturalidade: São José do Rio Preto (SP)
endereço parlamentar: Ala Trancredo Neves gabinete nº 51
telefones: (61) 3303-1962
FAX: (61) 3303-1877
correio eletrônico: cyro.miranda@senador.gov.br
NOTA AO PÉ DO TEXTO
É patético! Como exemplo, basta citar o caso da família Lobão:
A mulher e o filho do ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, foram os parlamentares que mais estiveram ausentes das sessões de 2011. Mesmo tendo comparecido a apenas 20 dos 121 dias de votação, a deputada Nice recebeu R$ 470 mil.
O que você acha de um empreguinho como esse? Nada mal, é ou não é?
E quais são os requisitos básicos para conseguir a 'boquinha'? Simples como água!
Primeiro você se filia a um partido. Requer coragem, olhos fechados, e se atirar de cabeça no poço. Não tem que se preocupar com a sujeira. Vá em frente!
Segundo, todos os 'cumpanhero' são seus cúmplices para o que der e vier. Certo?
Superada essa fase, você deve alterar alguns traços do seu caráter. Se a sua vocação for autêntica, isso não será um problema.
E preste atenção aos movimentos Dextra e Sinistra.
ATRIBUTOS FUNDAMENTAIS
Nada de caráter. Seja sempre o momento, concorde com tudo, mas não se esqueça do seu preço! Não há almoço grátis! Minta! Só concorde com o que possa trazer-lhe benefícios futuros. Seja um candidato de visão! Sempre esteja na fila dos que estão 'mandando'. Não puxe apenas o saco, puxe tudo!
Principalmente a carteira do bolso alheio, se possível do erário!
Seja um autêntico "puxador", e um verdadeiro babador de ovos!
Se eleito, saiba que você acaba de entrar para a "famiglia". Siga os exemplos mais notáveis da prática da corrupção, que continuam impunes. Aprenda com eles as artimanhas básicas de como continuar sem condenação.
Tenha um repertório de frases feitas à mão, dos melhores pensadores, das personalidades mais sérias (cuidado com os 'falsos honestos'), e repita-as em todas as ocasiões. Discursos sem citações do Rui Barbosa por exemplo, não é recomendado. José Bonifácio, Rio Branco etc.
A cara é importante. Não distribua sorrisos à torto e a direita. Ela deve ser séria, passando sempre a imagem de probidade. Use óculos, mesmo que não precise. Rir, só a socapa! Rir, só do eleitor e dos que acreditam em você! Ou acreditaram... Isso realmente é engraçado!
Você pode não enganar todo mundo, todo o tempo, mas isso também não é tão importante! Basta você enganar todo mundo algum tempo, depois o dinheiro resolve o resto.
Mandamento fundamental: seja cínico! Muito cínico! É o que o povo chama de cara-de-pau. Mas acaba sempre ficando por isso mesmo. E você continuará rindo, feliz e rico.
m.americo
MINISTÉRIO BRITÂNICO NEGA AMEAÇA MILITAR POR PARTE DA ARGENTINA
O ministro britânico da Defesa, Philip Hammond, negou hoje que haja uma ameaça militar por parte da Argentina pelas Ilhas Malvinas e disse que o país sul-americano não compra um avião desde 1982.
O ministro declarou ao jornal inglês The Times que os velhos aviões argentinos não apresentam ameaça alguma às Malvinas. "As pessoas devem lembrar que a Argentina não comprou nenhum avião novo desde a Guerra das Malvinas, o que significa que possui velhos Mirages de 40 anos", declarou.
"Nós contamos com Typhoons, que são sem nenhuma dúvida os aviões mais avançados do mundo e com maior superioridade aérea e que contam com sua base nas Malvinas", acrescentou o ministro.
Hammond fez as declarações apenas quatro dias antes das comemorações do 30º aniversário da Guerra das Malvinas. Ele ainda afirmou que o governo britânico "está confiante" nas defesas das Malvinas e reiterou que não existe uma "ameaça militar nova na região".
Hoje, o jornal britânico The Sun afirmou que o arquipélago no Atlântico Sul estava em "alerta vermelho" por temor que veteranos de guerra argentinos tratem de "reivindicar" as Malvinas durante as celebrações.
A matéria afirma que a polícia está "monitorando a situação" e que os habitantes das Malvinas espalharam cartazes com os dizeres "British to the core" (Britânicos até a raiz, em tradução livre do inglês).
Ontem, a Chancelaria argentina reiterou suas denúncias sobre a negativa da Grã-Bretanha para responder publicamente se levou armamento nuclear para as Ilhas Malvinas e advertiu sobre "a militarização no Atlântico Sul".
O Ministério das Relações Exteriores afirmou em um comunicado que o delegado da Grã-Bretanha na Cúpula de Segurança Nuclear, que aconteceu em Seul, "manteve o silêncio diante do requerimento" do chanceler Héctor Timerman.
29 de março de 2012
Pedro Bougleux
O ministro declarou ao jornal inglês The Times que os velhos aviões argentinos não apresentam ameaça alguma às Malvinas. "As pessoas devem lembrar que a Argentina não comprou nenhum avião novo desde a Guerra das Malvinas, o que significa que possui velhos Mirages de 40 anos", declarou.
"Nós contamos com Typhoons, que são sem nenhuma dúvida os aviões mais avançados do mundo e com maior superioridade aérea e que contam com sua base nas Malvinas", acrescentou o ministro.
Hammond fez as declarações apenas quatro dias antes das comemorações do 30º aniversário da Guerra das Malvinas. Ele ainda afirmou que o governo britânico "está confiante" nas defesas das Malvinas e reiterou que não existe uma "ameaça militar nova na região".
Hoje, o jornal britânico The Sun afirmou que o arquipélago no Atlântico Sul estava em "alerta vermelho" por temor que veteranos de guerra argentinos tratem de "reivindicar" as Malvinas durante as celebrações.
A matéria afirma que a polícia está "monitorando a situação" e que os habitantes das Malvinas espalharam cartazes com os dizeres "British to the core" (Britânicos até a raiz, em tradução livre do inglês).
Ontem, a Chancelaria argentina reiterou suas denúncias sobre a negativa da Grã-Bretanha para responder publicamente se levou armamento nuclear para as Ilhas Malvinas e advertiu sobre "a militarização no Atlântico Sul".
O Ministério das Relações Exteriores afirmou em um comunicado que o delegado da Grã-Bretanha na Cúpula de Segurança Nuclear, que aconteceu em Seul, "manteve o silêncio diante do requerimento" do chanceler Héctor Timerman.
29 de março de 2012
Pedro Bougleux
A REVOLUÇÃO DOS BICHOS - CAP. 9
CAPÍTULO IX
A rachadura do casco de Sansão levou muito tempo para cicatrizar. Haviam iniciado a reconstrução do moinho de vento no dia seguinte ao final das celebrações. Sansão recusou-se a aceitar um só dia de dispensa e fez questão de honra em não dar mostras da dor que sofria. À noite, admitia em particular para Quitéria que o casco realmente ø incomodava muito. Quitéria tratava-o com infusões de ervas, que preparava mastigando, e tanto ela como Benjamim diziam a Sansão que não trabalhasse tanto. Os pulmões de um cavalo não são de ferro, alertava ela. Sansão, porém, não atendia. Explicava só tinha uma ambição - ver o moinho de vento Concluído antes de aposentar-se.
De início, quando as leis da Granja dos Bichos foram elaboradas, fixara-se a idade de aposentadoria em doze anos para os cavalos e os porcos, catorze para as vacas, nove para os cachorros, sete para as ovelhas e cinco para as galinhas e os gansos. Pensões liberais se estabeleceram para os animais idosos.
Até então, nenhum bicho se aposentara, mas ultimamente o assunto vinha sendo objeto de freqüentes conversas. Como o potreiro atrás do pomar fora semeado com cevada, dizia-se agora que um canto da pastagem grande seria cercado e reservado para os velhos. Para os cavalos, ao que se falava, a pensão seria de dois quilos e meio de milho por dia e, no inverno, oito quilos de feno, mais uma cenoura, ou talvez uma maçã, nos feriados. O décimo segundo aniversário de Sansão seria no fim do verão do ano seguinte.
A vida ia dura. O inverno foi tão frio quanto o anterior, e a quantidade de alimento ainda menor. Novamente foram reduzidas todas as rações, exceto as dos porcos e dos cachorros. Uma igualdade por demais rígida em matéria de rações, explicou Garganta, seria contrária ao espírito do Animalismo.
De qualquer maneira, não teve dificuldade em provar aos outros bichos que na realidade eles não sentiam falta de comida, a despeito das aparências. Naquele momento, de fato, fora necessário realizar um reajustamento das rações (Garganta sempre se referia a "reajustamentos", nunca a "reduções"), mas, em comparação com o tempo de Jones, a diferença para melhor era enorme.
Lendo os dados estatísticos em voz aguda e rápida, provou-lhes, com riqueza de detalhes, que eles recebiam mais aveia, mais feno e mais do que na época de Jones; que trabalhavam muito menos, que a água potável era de melhor qualidade, que viviam mais tempo, que havia mais palha nas baias e que as pulgas já não incomodavam tanto. Os animais acreditavam em cada palavra.
Para falar a verdade, tanto Jones como tudo quanto ele representava já estavam quase apagados de suas memórias. Sabiam que a vida estava difícil e cheia de privações, que andavam constantemente com frio e com fome, e trabalhando sempre que não estavam dormindo. Mas, sem dúvida, antigamente fora muito pior. Gostavam de acreditar nisso.
Além do mais, naqueles dias eram escravos, ao passo que, agora, eram livres; e tudo isso, afinal, fazia diferença, conforme Garganta sempre dizia.
Havia agora muito mais bocas a alimentar. No outono as quatro porcas haviam dado cria quase simultaneamente - trinta e um leitõezinhos ao todo. Os leitões eram malhados, e, sendo Napoleão o único cachaço da fazenda, era fácil adivinhar sua linguagem. Foi proclamado que, mais tarde, quando comprassem tábuas e tijolos, seria construída uma escola no jardim da casa. Por enquanto, os leitões seriam instruídos pelo próprio Napoleão, na cozinha. Faziam seus exercícios no jardim e eram aconselhados a não brincar com os filhotes dos outros animais. Mais ou menos por essa época, estabeleceu-se que, quando um porco e outro animal se encontrassem numa trilha, o outro animal cederia a passagem; e também que os porcos, qualquer que fosse seu grau hierárquico teriam o direito de usar fitas vermelhas no rabicho aos domingos.
A granja tivera um ano bem sucedido, mas faltava dinheiro. Era necessário comprar tijolos, areia e cal para a escola, e economizar outra vez para a maquinaria do moinho de vento. Além disso, havia ainda necessidade de querosene para os lampiões e velas para a casa, açúcar para a mesa de Napoleão (ele o proibira para os outros porcos, dizendo que engordava), todo o suprimento normal de ferramentas, pregos, carvão, arame, ferro velho, e biscoitos para cachorros. Venderam uma meda de feno e parte da colheita de batatas, e o contrato de fornecimento de ovos foi aumentado para seiscentos por semana, de forma que as galinhas naquele ano mal puderam chocar um número de ovos, que as mantivesse no mesmo nível. As rações, já reduzidas em dezembro, sofreram nova redução em fevereiro, e foram proibidos os lampiões nos estábulos, a fim de economizar querosene. Os porcos, entretanto, pareciam bastante bem, pelo menos ganhavam sempre alguns quilinhos.
Uma tarde, em fins de fevereiro, correu pelo pátio, proveniente da cozinha, um cheiro gostoso, suculento, quentinho, como nunca os animais haviam sentido antes.
Alguém disse que era cheiro de cevada cozida. Os bichos farejaram avidamente o ar e ficaram a pensar se não seria algum fervido para o jantar. Mas não apareceu fervido nenhum no jantar e no domingo seguinte foi comunicado que toda a cevada passaria a ser reservada para os porcos. O campinho junto ao pomar já fora semeado com cevada e logo transpirou a notícia de que cada porco estava recebendo diariamente, a ração de meia garrafa de cerveja, sendo que Napoleão recebia meio galão e era servido na terrina da baixela de porcelana.
Mas se havia grandes agruras a arrostar, estas eram compensadas pelo fato de a vida agora ter muito mais dignidade. Havia mais canções, mais discursos, mais desfiles. Napoleão determinara que uma vez por semana houvesse uma coisa chamada Manifestação Espontânea, cuja finalidade era comemorar as lutas e triunfos da Granja dos Bichos. À hora marcada os animais deviam abandonar o trabalho e desfilar pelo terreno da granja, em formação militar, os porcos à frente, depois os cavalos, depois as vacas, depois as ovelhas e, por último, as aves.
Os cachorros enquadravam a formatura e à testa marchava o garnisé preto de Napoleão. Sansão e Quitéria conduziam sempre a bandeira verde com o desenho do chifre e da ferradura e a legenda "Viva o Camarada Napoleão". A seguir havia recitação de poemas compostos em honra de Napoleão, um discurso de Garganta dando detalhes dos últimos aumentos na produção de gêneros, e no momento exato a espingarda dava um tiro.
Quem mais gostava das Manifestações Espontâneas eram as ovelhas, e se alguém se queixava (havia quem o fizesse, quando os porcos ou os cachorros não andavam por perto) de que aquele negócio era uma perda de tempo e obrigava a ficar bom pedaço no frio, as ovelhas invariavelmente calavam o insatisfeito com um ensurdecedor balido de "Quatro pernas bom, duas pernas ruim!" De modo geral, porém, os bichos gostavam daquelas celebrações. Achavam confortador serem relembrados de que, afinal, não tinham patrões e todo trabalho que enfrentavam era em seu próprio benefício.
E assim, à custa das cantorias, dos desfiles, das estatísticas de Garganta, do estrondo da espingarda, do cocoricó do garnisé e do drapejar da bandeira, conseguiam esquecer que estavam de barriga vazia, pelo menos a maior parte do tempo.
Em abril, a Granja dos Bichos foi proclamada República e houve necessidade de eleger um Presidente. Apareceu um só candidato, Napoleão, que foi eleito por unanimidade.
No mesmo dia notificou-se a descoberta de novos documentos, que revelavam mais detalhes sobre a cumplicidade de Bola-de-Neve com Jones. Soube-se que Bola-de-Neve não apenas tentara perder a Batalha do Estábulo, por meio de um estratagema, conforme os animais já tinham tomado conhecimento, mas lutara abertamente ao lado de Jones. Na realidade, fora ele o verdadeiro líder das forças humanas e jogara-se à batalha com as palavras "Viva a Humanidade!" nos lábios. Os ferimentos em suas costas, que alguns poucos bichos lembravam-se de ter visto, haviam sido causados pelos dentes de Napoleão.
Em meio ao verão, Moisés, o corvo, reapareceu inesperadamente na granja, após uma ausência de vários anos. Continuava o mesmo, não trabalhava e contava as histórias de sempre a respeito da Montanha de Açúcar. Encarapitava-se num toco de árvore e arengava durante horas para quem quisesse ouvir:
- Lá em cima, camaradas - dizia ele, solenemente, apontando o céu com a bicanca - lá em cima, pouco além daquela nuvem preta, ali está ela, a Montanha de Açúcar, o lugar feliz onde nós, pobres animais, descansaremos para sempre desta nossa vida de trabalho. Chegava a afirmar haver estado lá, num dos vôos mais altos, e ter visto os infindos campos de trevo e os bolos de linhaça e o açúcar crescendo nas sebes.
Muitos bichos acreditavam. Suas vidas atualmente eram de fome e de trabalho, raciocinavam; era justo que lhes estivesse reservado um mundo melhor, mais além? Coisa difícil de determinar era a atitude dos porcos, com relação a Moisés. Eles afirmavam peremptoriamente que as histórias sobre a Montanha de Açúcar não passavam de pura mentira; no entanto, deixavam-no permanecer na granja, sem trabalhar, e ainda por cima com direito a um copo de cerveja por dia.
Depois que o casco ficou bom, Sansão trabalhou mais violentamente do que nunca. Aliás, naquele ano todos os bichos trabalharam feito escravos. Além da faina normal na fazenda e da reconstrução do moinho de vento, ainda houve a escola dos porquinhos, iniciada em março. Às vezes tornava-se difícil agüentar as longas horas sem comer, mas Sansão nunca fraquejou. Em nada do que dizia ou fazia era possível perceber qualquer sinal de que sua energia já não era a mesma de antigamente. Apenas sua aparência estava um pouco modificada; o pêlo já não era tão brilhante e as ancas pareciam haver murchado. Sansão vai-se recuperar quando crescer o capim da primavera, diziam os outros - porém a primavera chegou e Sansão não mudou de aspecto. Por vezes, na rampa da pedreira, quando enrijecia a musculatura contra o peso de um enorme pedregulho, tinha-se a impressão de que apenas a vontade omantinha de pé.
Nesses momentos seus lábios formavam claramente as palavras "Trabalharei mais ainda"; não emitia qualquer som. Novamente Quitéria e Benjamim o aconselharam, porém ele não deu atenção. Seu décimo segundo aniversário se aproximava.
Não se importava com o que sucedesse, desde que pudesse acumular uma boa quantidade de pedras antes de aposentar-se.
Certa noite, no verão, correu a súbita notícia de que algo acontecera a Sansão, que havia saído sozinho para puxar uns montes de pedra até o moinho. E era verdade. Poucos minutos depois chegaram dois pombos afobados:
- Sansão está caído! - Não consegue levantar-se!
Metade dos animais da granja correu para a colina do moinho de vento. Lá estava Sansão, deitado entre os paus da carroça, com o pescoço esticado e sem poder sequer levantar a cabeça. Corria-lhe da boca um filete de sangue.
Quitéria ajoelhou-se a seu lado.
- Sansão - chamou ela -, você está bem?
- É o meu pulmão - disse ele quase sem voz. - Não tem importância. Vocês terminarão o moinho sem mim. Já deixei bastante pedra aí, De qualquer maneira só me restava um mês de atividade. Para falar a verdade, tenho estado à espera desta hora. E, como Benjamim também está ficando velho talvez o deixem aposentar-se para me fazer companhia.
- Precisamos de socorro imediatamente - gritou Quitéria. - Alguém vá correndo Contar a Garganta o que aconteceu.
Os animais todos correram à casa-grande para dar a notícia a Garganta. Só ficaram Quitéria e Benjamim, que se deitou ao lado de Sansão e, sem dizer uma palavra, ficou a espantar-lhes as moscas com o rabo comprido. Mais ou menos um quarto de hora depois, Garganta apareceu, cheio de simpatia e preocupação. Disse que o Camarada Napoleão tomara conhecimento, abaladíssimo, do mal que sucedera a um dos trabalhadores mais leais da granja, e já estava tratando de enviar Sansão para tratar-se no hospital em Willingdon. Os animais sentiram certa inquietação (com exceção de Mimosa e Bola-de-Neve, nenhum deles jamais saíra da granja) e não gostaram da idéia de seu camarada ir parar nas mãos dos humanos.
Entretanto Garganta os convenceu, facilmente, de que o cirurgião veterinário de Willingdon poderia tratar do caso de Sansão muito melhor do que eles, na granja.
Cerca de meia hora mais tarde, quando Sansão já se recuperara um pouco, conseguiram pô-lo de pé e ele cambaleou de volta até a baia, onde Quitéria e Benjamim lhe haviam preparado uma boa cama de palha.
Durante os dois dias seguintes Sansão permaneceu na baia. Os porcos enviaram uma garrafa contendo um remédio cor-de-rosa, encontrado no armarinho do banheiro, e Quitéria servia-o a Sansão duas vezes ao dia, após as refeições. À noite, Quitéria permanecia a seu lado, conversando com ele, enquanto Benjamim afastava as moscas. Sansão afirmava não estar triste com o acontecido. Caso se recuperasse bem, poderia viver mais três anos, e já imaginava os dias tranqüilos que passaria no rincão da pastagem.
Seria a primeira vez que lhe sobraria tempo de folga para estudar e melhorar seus conhecimentos. Pretendia dedicar o resto de sua existência ao aprendizado das vinte e duas letras restantes do alfabeto.
Contudo, Benjamim e Quitéria só podiam estar a seu lado após as horas de trabalho, e foi durante o dia que o carroção veio buscá-lo. Os animais estavam na lavoura semeando nabos, sob a supervisão de um porco, e ficaram admirados ao verem Benjamim a galope, vindo da direção das casas da granja ao encontro deles, zurrando feito louco. Era a primeira vez na vida que viam Benjamim excitado - para falar a verdade era a primeira vez que alguém o via galopar.
- Depressa, depressa! - gritou. - Venham depressa! Estão levando Sansão!
Sem esperar ordens do porco, largaram o trabalho e correram de volta para as casas. Realmente, lá estava um carroção fechado, puxado por dois cavalos, com um letreiro no lado e um homem de chapéu-coco sentado na boléia. A baia de Sansão estava vazia.
Os bichos se apinharam ao redor do carroção.
- Até breve, Sansão! gritaram. - Até breve!
- Idiotas! Idiotas! - exclamou Benjamim corcoveando em volta deles e ferindo o chão com os cascos pequeninos. - Imbecis! Não vêem o que está escrito ali ao lado?
Isso fez calar os animais e ouviu-se um psss. Maricota começou a soletrar as palavras, mas Benjamim empurrou-a para um lado e leu em meio a grande silêncio:
- "Alfred Simmonds, Matadouro de Cavalos, Fabricante de Cola, Willingdon. Peles e Farinha de Ossos. Fornece para Canis." Será que vocês não percebem? Vão levar Sansão para o carniceiro!
Houve um grito de horror dos bichos. Nesse momento o homem da boléia estalou o chicote e os cavalos saíram a trote vivo, abandonando o pátio. Os bichos correram atrás, gritando com todas as forças. Quitéria abriu caminho até a frente. O carroção tomou velocidade. Quitéria tentou fazer que suas pernas grossas galopassem e conseguiu um trotezinho.
- Sansão! - gritou ela. - Sansão! Sansão! Sansão! - Nesse exato momento, como se tivesse ouvido a barulheira de fora, apareceu na janelinha de trás da carroça a cara de Sansão, com sua mancha branca no focinho.
- Sansão! - berrou Quitéria desesperadamente. - Sansão! Saia daí! Saia depressa! Estão levando-o para a morte!
Os bichos gritavam a um tempo:
- Saia daí, Sansão, saia daí! - Todavia o carroção tomava velocidade e começava a distanciar-se. Não podiam saber se Sansão havia entendido Quitéria. Logo depois, entretanto, sua cara desapareceu da janela e ouviu-se o barulho da tremenda pancadaria de seus cascos no interior do carroção. Ele tentava livrar-se de qualquer maneira. Tempo houve em que com alguns coices Sansão transformaria aquela carroça num monte de lenha. Mas, ai! sua força o abandonara; em poucos instantes, o som das batidas diminuiu e morreu. Desesperados, os animais suplicaram aos dois cavalos que puxavam o carroção para que se detivessem.
- Camaradas! Camaradas! - gritavam eles. Não levem um irmão de vocês para essa morte! - Porém os brutos estúpidos, ignorantes demais para entenderem o que acontecia, limitaram-se a murchar as orelhas e apertar o passo. A cara de Sansão não reapareceu mais na janela.
Alguém pensou em correr à frente e fechar a porteira das cinco barras, mas era tarde demais, pois logo o carroção atravessava a porteira e desaparecia rapidamente na estrada. Sansão nunca mais foi visto.
Três dias mais tarde, chegou a notícia de que havia falecido no hospital veterinário de Willingdon, a despeito de ter recebido todos os cuidados que um cavalo merece.
Garganta veio dar a notícia. Presenciara, disse, os últimos momentos de Sansão.
- Foi a cena mais comovente de minha vida! - disse Garganta, erguendo a pata e deixando rolar uma lágrima. - Eu estava à sua cabeceira no instante final. Quase sem poder falar, ele sussurrou ao meu ouvido que seu único pesar era morrer antes de ver terminado o moinho de vento. "Para a frente, camaradas! Viva a Granja dos Bichos! Viva o Camarada Napoleão! Avante em nome da Revolução! Napoleão tem sempre razão." Estas foram suas últimas palavras, camaradas.
- A seguir, os modos de Garganta se transformaram. Caiu em silêncio por um momento e seus olhinhos deram miradas suspeitosas para os lados antes de prosseguir.
Chegara a seu conhecimento, disse ele, que um boato idiota e perverso circulara por ocasião da baixa de Sansão. Alguns animais haviam notado que na carroça que transportou Sansão estava escrito "Matadouro de Cavalos", chegando à conclusão de que Sansão estava sendo mandado para o carniceiro. Era quase inacreditável que um bicho pudesse ser tão estúpido. Com certeza, gritou ele indignado, sacudindo o rabicho e dando pulinhos, com certeza todos conheciam seu amado Líder, o Camarada Napoleão não? A explicação era muito simples. A carroça pertencera, antes, ao carniceiro, depois fora comprado pelo cirurgião veterinário, que ainda não apagara letreiro. Eis como se dera o engano.
Os bichos ficaram imensamente aliviados com isso. E quando Garganta continuou dando detalhes sobre a câmara mortuária de Sansão, o extraordinário cuidado que recebeu e os caríssimos remédios que Napoleão mandara comprar sem olhar o preço, desapareceram suas últimas dúvidas e a tristeza pelo camarada morto foi mitigada pela certeza de que, pelo menos, morrera feliz.
O próprio Napoleão apareceu no encontro do domingo seguinte e pronunciou uma singela oração em memória de Sansão. Não fora possível, explicou, trazer de volta os despojos do lamentado camarada para o enterro, porém dera ordem para que se confeccionasse uma grande coroa com louros do jardim e a enviara para ser colocada no túmulo de Sansão. E anunciou que, alguns dias depois, os porcos pretendiam realizar um banquete em memória de Sansão.
Napoleão finalizou seu discurso relembrando as duas máximas prediletas de Sansão. "Trabalharei mais ainda e "O Camarada Napoleão tem sempre razão", máximas, disse, que cada animal deveria adotar para si próprio.
No dia marcado para o banquete, chegou de Willingdon a carroça de um armazém e desembarcou na casa-grande um engradado de madeira. Naquela noite ouviu-se uma alta cantoria seguida de algo que parecia uma discussão violenta e que terminou cerca das onze horas com uma tremenda barulheira de vidros quebrados. No dia seguinte ninguém se levantou na casa-grande, até o meio-dia, e correu uma conversa de que os porcos haviam conseguido, não se sabia de que maneira, dinheiro para adquirir outra caixa de uísque.
29 de março de 2012
CAPÍTULO ANTERIOR, ARQUIVO DE 24 DE MARÇO DE 2012
A rachadura do casco de Sansão levou muito tempo para cicatrizar. Haviam iniciado a reconstrução do moinho de vento no dia seguinte ao final das celebrações. Sansão recusou-se a aceitar um só dia de dispensa e fez questão de honra em não dar mostras da dor que sofria. À noite, admitia em particular para Quitéria que o casco realmente ø incomodava muito. Quitéria tratava-o com infusões de ervas, que preparava mastigando, e tanto ela como Benjamim diziam a Sansão que não trabalhasse tanto. Os pulmões de um cavalo não são de ferro, alertava ela. Sansão, porém, não atendia. Explicava só tinha uma ambição - ver o moinho de vento Concluído antes de aposentar-se.
De início, quando as leis da Granja dos Bichos foram elaboradas, fixara-se a idade de aposentadoria em doze anos para os cavalos e os porcos, catorze para as vacas, nove para os cachorros, sete para as ovelhas e cinco para as galinhas e os gansos. Pensões liberais se estabeleceram para os animais idosos.
Até então, nenhum bicho se aposentara, mas ultimamente o assunto vinha sendo objeto de freqüentes conversas. Como o potreiro atrás do pomar fora semeado com cevada, dizia-se agora que um canto da pastagem grande seria cercado e reservado para os velhos. Para os cavalos, ao que se falava, a pensão seria de dois quilos e meio de milho por dia e, no inverno, oito quilos de feno, mais uma cenoura, ou talvez uma maçã, nos feriados. O décimo segundo aniversário de Sansão seria no fim do verão do ano seguinte.
A vida ia dura. O inverno foi tão frio quanto o anterior, e a quantidade de alimento ainda menor. Novamente foram reduzidas todas as rações, exceto as dos porcos e dos cachorros. Uma igualdade por demais rígida em matéria de rações, explicou Garganta, seria contrária ao espírito do Animalismo.
De qualquer maneira, não teve dificuldade em provar aos outros bichos que na realidade eles não sentiam falta de comida, a despeito das aparências. Naquele momento, de fato, fora necessário realizar um reajustamento das rações (Garganta sempre se referia a "reajustamentos", nunca a "reduções"), mas, em comparação com o tempo de Jones, a diferença para melhor era enorme.
Lendo os dados estatísticos em voz aguda e rápida, provou-lhes, com riqueza de detalhes, que eles recebiam mais aveia, mais feno e mais do que na época de Jones; que trabalhavam muito menos, que a água potável era de melhor qualidade, que viviam mais tempo, que havia mais palha nas baias e que as pulgas já não incomodavam tanto. Os animais acreditavam em cada palavra.
Para falar a verdade, tanto Jones como tudo quanto ele representava já estavam quase apagados de suas memórias. Sabiam que a vida estava difícil e cheia de privações, que andavam constantemente com frio e com fome, e trabalhando sempre que não estavam dormindo. Mas, sem dúvida, antigamente fora muito pior. Gostavam de acreditar nisso.
Além do mais, naqueles dias eram escravos, ao passo que, agora, eram livres; e tudo isso, afinal, fazia diferença, conforme Garganta sempre dizia.
Havia agora muito mais bocas a alimentar. No outono as quatro porcas haviam dado cria quase simultaneamente - trinta e um leitõezinhos ao todo. Os leitões eram malhados, e, sendo Napoleão o único cachaço da fazenda, era fácil adivinhar sua linguagem. Foi proclamado que, mais tarde, quando comprassem tábuas e tijolos, seria construída uma escola no jardim da casa. Por enquanto, os leitões seriam instruídos pelo próprio Napoleão, na cozinha. Faziam seus exercícios no jardim e eram aconselhados a não brincar com os filhotes dos outros animais. Mais ou menos por essa época, estabeleceu-se que, quando um porco e outro animal se encontrassem numa trilha, o outro animal cederia a passagem; e também que os porcos, qualquer que fosse seu grau hierárquico teriam o direito de usar fitas vermelhas no rabicho aos domingos.
A granja tivera um ano bem sucedido, mas faltava dinheiro. Era necessário comprar tijolos, areia e cal para a escola, e economizar outra vez para a maquinaria do moinho de vento. Além disso, havia ainda necessidade de querosene para os lampiões e velas para a casa, açúcar para a mesa de Napoleão (ele o proibira para os outros porcos, dizendo que engordava), todo o suprimento normal de ferramentas, pregos, carvão, arame, ferro velho, e biscoitos para cachorros. Venderam uma meda de feno e parte da colheita de batatas, e o contrato de fornecimento de ovos foi aumentado para seiscentos por semana, de forma que as galinhas naquele ano mal puderam chocar um número de ovos, que as mantivesse no mesmo nível. As rações, já reduzidas em dezembro, sofreram nova redução em fevereiro, e foram proibidos os lampiões nos estábulos, a fim de economizar querosene. Os porcos, entretanto, pareciam bastante bem, pelo menos ganhavam sempre alguns quilinhos.
Uma tarde, em fins de fevereiro, correu pelo pátio, proveniente da cozinha, um cheiro gostoso, suculento, quentinho, como nunca os animais haviam sentido antes.
Alguém disse que era cheiro de cevada cozida. Os bichos farejaram avidamente o ar e ficaram a pensar se não seria algum fervido para o jantar. Mas não apareceu fervido nenhum no jantar e no domingo seguinte foi comunicado que toda a cevada passaria a ser reservada para os porcos. O campinho junto ao pomar já fora semeado com cevada e logo transpirou a notícia de que cada porco estava recebendo diariamente, a ração de meia garrafa de cerveja, sendo que Napoleão recebia meio galão e era servido na terrina da baixela de porcelana.
Mas se havia grandes agruras a arrostar, estas eram compensadas pelo fato de a vida agora ter muito mais dignidade. Havia mais canções, mais discursos, mais desfiles. Napoleão determinara que uma vez por semana houvesse uma coisa chamada Manifestação Espontânea, cuja finalidade era comemorar as lutas e triunfos da Granja dos Bichos. À hora marcada os animais deviam abandonar o trabalho e desfilar pelo terreno da granja, em formação militar, os porcos à frente, depois os cavalos, depois as vacas, depois as ovelhas e, por último, as aves.
Os cachorros enquadravam a formatura e à testa marchava o garnisé preto de Napoleão. Sansão e Quitéria conduziam sempre a bandeira verde com o desenho do chifre e da ferradura e a legenda "Viva o Camarada Napoleão". A seguir havia recitação de poemas compostos em honra de Napoleão, um discurso de Garganta dando detalhes dos últimos aumentos na produção de gêneros, e no momento exato a espingarda dava um tiro.
Quem mais gostava das Manifestações Espontâneas eram as ovelhas, e se alguém se queixava (havia quem o fizesse, quando os porcos ou os cachorros não andavam por perto) de que aquele negócio era uma perda de tempo e obrigava a ficar bom pedaço no frio, as ovelhas invariavelmente calavam o insatisfeito com um ensurdecedor balido de "Quatro pernas bom, duas pernas ruim!" De modo geral, porém, os bichos gostavam daquelas celebrações. Achavam confortador serem relembrados de que, afinal, não tinham patrões e todo trabalho que enfrentavam era em seu próprio benefício.
E assim, à custa das cantorias, dos desfiles, das estatísticas de Garganta, do estrondo da espingarda, do cocoricó do garnisé e do drapejar da bandeira, conseguiam esquecer que estavam de barriga vazia, pelo menos a maior parte do tempo.
Em abril, a Granja dos Bichos foi proclamada República e houve necessidade de eleger um Presidente. Apareceu um só candidato, Napoleão, que foi eleito por unanimidade.
No mesmo dia notificou-se a descoberta de novos documentos, que revelavam mais detalhes sobre a cumplicidade de Bola-de-Neve com Jones. Soube-se que Bola-de-Neve não apenas tentara perder a Batalha do Estábulo, por meio de um estratagema, conforme os animais já tinham tomado conhecimento, mas lutara abertamente ao lado de Jones. Na realidade, fora ele o verdadeiro líder das forças humanas e jogara-se à batalha com as palavras "Viva a Humanidade!" nos lábios. Os ferimentos em suas costas, que alguns poucos bichos lembravam-se de ter visto, haviam sido causados pelos dentes de Napoleão.
Em meio ao verão, Moisés, o corvo, reapareceu inesperadamente na granja, após uma ausência de vários anos. Continuava o mesmo, não trabalhava e contava as histórias de sempre a respeito da Montanha de Açúcar. Encarapitava-se num toco de árvore e arengava durante horas para quem quisesse ouvir:
- Lá em cima, camaradas - dizia ele, solenemente, apontando o céu com a bicanca - lá em cima, pouco além daquela nuvem preta, ali está ela, a Montanha de Açúcar, o lugar feliz onde nós, pobres animais, descansaremos para sempre desta nossa vida de trabalho. Chegava a afirmar haver estado lá, num dos vôos mais altos, e ter visto os infindos campos de trevo e os bolos de linhaça e o açúcar crescendo nas sebes.
Muitos bichos acreditavam. Suas vidas atualmente eram de fome e de trabalho, raciocinavam; era justo que lhes estivesse reservado um mundo melhor, mais além? Coisa difícil de determinar era a atitude dos porcos, com relação a Moisés. Eles afirmavam peremptoriamente que as histórias sobre a Montanha de Açúcar não passavam de pura mentira; no entanto, deixavam-no permanecer na granja, sem trabalhar, e ainda por cima com direito a um copo de cerveja por dia.
Depois que o casco ficou bom, Sansão trabalhou mais violentamente do que nunca. Aliás, naquele ano todos os bichos trabalharam feito escravos. Além da faina normal na fazenda e da reconstrução do moinho de vento, ainda houve a escola dos porquinhos, iniciada em março. Às vezes tornava-se difícil agüentar as longas horas sem comer, mas Sansão nunca fraquejou. Em nada do que dizia ou fazia era possível perceber qualquer sinal de que sua energia já não era a mesma de antigamente. Apenas sua aparência estava um pouco modificada; o pêlo já não era tão brilhante e as ancas pareciam haver murchado. Sansão vai-se recuperar quando crescer o capim da primavera, diziam os outros - porém a primavera chegou e Sansão não mudou de aspecto. Por vezes, na rampa da pedreira, quando enrijecia a musculatura contra o peso de um enorme pedregulho, tinha-se a impressão de que apenas a vontade omantinha de pé.
Nesses momentos seus lábios formavam claramente as palavras "Trabalharei mais ainda"; não emitia qualquer som. Novamente Quitéria e Benjamim o aconselharam, porém ele não deu atenção. Seu décimo segundo aniversário se aproximava.
Não se importava com o que sucedesse, desde que pudesse acumular uma boa quantidade de pedras antes de aposentar-se.
Certa noite, no verão, correu a súbita notícia de que algo acontecera a Sansão, que havia saído sozinho para puxar uns montes de pedra até o moinho. E era verdade. Poucos minutos depois chegaram dois pombos afobados:
- Sansão está caído! - Não consegue levantar-se!
Metade dos animais da granja correu para a colina do moinho de vento. Lá estava Sansão, deitado entre os paus da carroça, com o pescoço esticado e sem poder sequer levantar a cabeça. Corria-lhe da boca um filete de sangue.
Quitéria ajoelhou-se a seu lado.
- Sansão - chamou ela -, você está bem?
- É o meu pulmão - disse ele quase sem voz. - Não tem importância. Vocês terminarão o moinho sem mim. Já deixei bastante pedra aí, De qualquer maneira só me restava um mês de atividade. Para falar a verdade, tenho estado à espera desta hora. E, como Benjamim também está ficando velho talvez o deixem aposentar-se para me fazer companhia.
- Precisamos de socorro imediatamente - gritou Quitéria. - Alguém vá correndo Contar a Garganta o que aconteceu.
Os animais todos correram à casa-grande para dar a notícia a Garganta. Só ficaram Quitéria e Benjamim, que se deitou ao lado de Sansão e, sem dizer uma palavra, ficou a espantar-lhes as moscas com o rabo comprido. Mais ou menos um quarto de hora depois, Garganta apareceu, cheio de simpatia e preocupação. Disse que o Camarada Napoleão tomara conhecimento, abaladíssimo, do mal que sucedera a um dos trabalhadores mais leais da granja, e já estava tratando de enviar Sansão para tratar-se no hospital em Willingdon. Os animais sentiram certa inquietação (com exceção de Mimosa e Bola-de-Neve, nenhum deles jamais saíra da granja) e não gostaram da idéia de seu camarada ir parar nas mãos dos humanos.
Entretanto Garganta os convenceu, facilmente, de que o cirurgião veterinário de Willingdon poderia tratar do caso de Sansão muito melhor do que eles, na granja.
Cerca de meia hora mais tarde, quando Sansão já se recuperara um pouco, conseguiram pô-lo de pé e ele cambaleou de volta até a baia, onde Quitéria e Benjamim lhe haviam preparado uma boa cama de palha.
Durante os dois dias seguintes Sansão permaneceu na baia. Os porcos enviaram uma garrafa contendo um remédio cor-de-rosa, encontrado no armarinho do banheiro, e Quitéria servia-o a Sansão duas vezes ao dia, após as refeições. À noite, Quitéria permanecia a seu lado, conversando com ele, enquanto Benjamim afastava as moscas. Sansão afirmava não estar triste com o acontecido. Caso se recuperasse bem, poderia viver mais três anos, e já imaginava os dias tranqüilos que passaria no rincão da pastagem.
Seria a primeira vez que lhe sobraria tempo de folga para estudar e melhorar seus conhecimentos. Pretendia dedicar o resto de sua existência ao aprendizado das vinte e duas letras restantes do alfabeto.
Contudo, Benjamim e Quitéria só podiam estar a seu lado após as horas de trabalho, e foi durante o dia que o carroção veio buscá-lo. Os animais estavam na lavoura semeando nabos, sob a supervisão de um porco, e ficaram admirados ao verem Benjamim a galope, vindo da direção das casas da granja ao encontro deles, zurrando feito louco. Era a primeira vez na vida que viam Benjamim excitado - para falar a verdade era a primeira vez que alguém o via galopar.
- Depressa, depressa! - gritou. - Venham depressa! Estão levando Sansão!
Sem esperar ordens do porco, largaram o trabalho e correram de volta para as casas. Realmente, lá estava um carroção fechado, puxado por dois cavalos, com um letreiro no lado e um homem de chapéu-coco sentado na boléia. A baia de Sansão estava vazia.
Os bichos se apinharam ao redor do carroção.
- Até breve, Sansão! gritaram. - Até breve!
- Idiotas! Idiotas! - exclamou Benjamim corcoveando em volta deles e ferindo o chão com os cascos pequeninos. - Imbecis! Não vêem o que está escrito ali ao lado?
Isso fez calar os animais e ouviu-se um psss. Maricota começou a soletrar as palavras, mas Benjamim empurrou-a para um lado e leu em meio a grande silêncio:
- "Alfred Simmonds, Matadouro de Cavalos, Fabricante de Cola, Willingdon. Peles e Farinha de Ossos. Fornece para Canis." Será que vocês não percebem? Vão levar Sansão para o carniceiro!
Houve um grito de horror dos bichos. Nesse momento o homem da boléia estalou o chicote e os cavalos saíram a trote vivo, abandonando o pátio. Os bichos correram atrás, gritando com todas as forças. Quitéria abriu caminho até a frente. O carroção tomou velocidade. Quitéria tentou fazer que suas pernas grossas galopassem e conseguiu um trotezinho.
- Sansão! - gritou ela. - Sansão! Sansão! Sansão! - Nesse exato momento, como se tivesse ouvido a barulheira de fora, apareceu na janelinha de trás da carroça a cara de Sansão, com sua mancha branca no focinho.
- Sansão! - berrou Quitéria desesperadamente. - Sansão! Saia daí! Saia depressa! Estão levando-o para a morte!
Os bichos gritavam a um tempo:
- Saia daí, Sansão, saia daí! - Todavia o carroção tomava velocidade e começava a distanciar-se. Não podiam saber se Sansão havia entendido Quitéria. Logo depois, entretanto, sua cara desapareceu da janela e ouviu-se o barulho da tremenda pancadaria de seus cascos no interior do carroção. Ele tentava livrar-se de qualquer maneira. Tempo houve em que com alguns coices Sansão transformaria aquela carroça num monte de lenha. Mas, ai! sua força o abandonara; em poucos instantes, o som das batidas diminuiu e morreu. Desesperados, os animais suplicaram aos dois cavalos que puxavam o carroção para que se detivessem.
- Camaradas! Camaradas! - gritavam eles. Não levem um irmão de vocês para essa morte! - Porém os brutos estúpidos, ignorantes demais para entenderem o que acontecia, limitaram-se a murchar as orelhas e apertar o passo. A cara de Sansão não reapareceu mais na janela.
Alguém pensou em correr à frente e fechar a porteira das cinco barras, mas era tarde demais, pois logo o carroção atravessava a porteira e desaparecia rapidamente na estrada. Sansão nunca mais foi visto.
Três dias mais tarde, chegou a notícia de que havia falecido no hospital veterinário de Willingdon, a despeito de ter recebido todos os cuidados que um cavalo merece.
Garganta veio dar a notícia. Presenciara, disse, os últimos momentos de Sansão.
- Foi a cena mais comovente de minha vida! - disse Garganta, erguendo a pata e deixando rolar uma lágrima. - Eu estava à sua cabeceira no instante final. Quase sem poder falar, ele sussurrou ao meu ouvido que seu único pesar era morrer antes de ver terminado o moinho de vento. "Para a frente, camaradas! Viva a Granja dos Bichos! Viva o Camarada Napoleão! Avante em nome da Revolução! Napoleão tem sempre razão." Estas foram suas últimas palavras, camaradas.
- A seguir, os modos de Garganta se transformaram. Caiu em silêncio por um momento e seus olhinhos deram miradas suspeitosas para os lados antes de prosseguir.
Chegara a seu conhecimento, disse ele, que um boato idiota e perverso circulara por ocasião da baixa de Sansão. Alguns animais haviam notado que na carroça que transportou Sansão estava escrito "Matadouro de Cavalos", chegando à conclusão de que Sansão estava sendo mandado para o carniceiro. Era quase inacreditável que um bicho pudesse ser tão estúpido. Com certeza, gritou ele indignado, sacudindo o rabicho e dando pulinhos, com certeza todos conheciam seu amado Líder, o Camarada Napoleão não? A explicação era muito simples. A carroça pertencera, antes, ao carniceiro, depois fora comprado pelo cirurgião veterinário, que ainda não apagara letreiro. Eis como se dera o engano.
Os bichos ficaram imensamente aliviados com isso. E quando Garganta continuou dando detalhes sobre a câmara mortuária de Sansão, o extraordinário cuidado que recebeu e os caríssimos remédios que Napoleão mandara comprar sem olhar o preço, desapareceram suas últimas dúvidas e a tristeza pelo camarada morto foi mitigada pela certeza de que, pelo menos, morrera feliz.
O próprio Napoleão apareceu no encontro do domingo seguinte e pronunciou uma singela oração em memória de Sansão. Não fora possível, explicou, trazer de volta os despojos do lamentado camarada para o enterro, porém dera ordem para que se confeccionasse uma grande coroa com louros do jardim e a enviara para ser colocada no túmulo de Sansão. E anunciou que, alguns dias depois, os porcos pretendiam realizar um banquete em memória de Sansão.
Napoleão finalizou seu discurso relembrando as duas máximas prediletas de Sansão. "Trabalharei mais ainda e "O Camarada Napoleão tem sempre razão", máximas, disse, que cada animal deveria adotar para si próprio.
No dia marcado para o banquete, chegou de Willingdon a carroça de um armazém e desembarcou na casa-grande um engradado de madeira. Naquela noite ouviu-se uma alta cantoria seguida de algo que parecia uma discussão violenta e que terminou cerca das onze horas com uma tremenda barulheira de vidros quebrados. No dia seguinte ninguém se levantou na casa-grande, até o meio-dia, e correu uma conversa de que os porcos haviam conseguido, não se sabia de que maneira, dinheiro para adquirir outra caixa de uísque.
29 de março de 2012
CAPÍTULO ANTERIOR, ARQUIVO DE 24 DE MARÇO DE 2012
FAMÍLIA LOBÃO É CAMPEÃ DE FALTAS NO CONGRESSO
A mulher e o filho do ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, foram os parlamentares que mais estiveram ausentes das sessões de 2011. Mesmo tendo comparecido a apenas 20 dos 121 dias de votação, a deputada Nice recebeu R$ 470 mil.
Desde que tomou posse, Nice Lobão participou apenas uma vez de uma votação na Câmara - Foto: Agência Câmara
Quem pensa que o senador licenciado Edison Lobão (PMDB-MA) anda distante do Congresso, ainda não viu a mulher nem o filho dele. Ninguém faltou mais às sessões destinadas a votação na Câmara e no Senado em 2011 do que a deputada Nice Lobão (PSD-MA) e o senador Lobão Filho (PMDB-MA), suplente que ocupa a vaga do pai. É o que revela levantamento exclusivo feito pelo Congresso em Foco sobre a assiduidade dos parlamentares na Câmara e no Senado.
A deputada, de 75 anos, compareceu a apenas 19 dos 107 dias com sessões deliberativas da Câmara e apresentou justificativa para 87 de suas 88 ausências ano passado. O roteiro continua o mesmo em 2012: até o dia 20 de março, ela havia aparecido uma única vez na Casa. Desde que assumiu seu quarto mandato, Nice não apresentou nem relatou qualquer proposta, tampouco se pronunciou em plenário. Registrou presença em somente duas das 84 reuniões da Comissão de Educação e Cultura, da qual é titular.
Um único voto
Reeleita em 2010, ela deu um único voto até agora: foi na terceira semana de trabalho, em 15 de fevereiro de 2011, a favor do requerimento de urgência para a votação do novo salário mínimo, de R$ 622. Nesse período de absoluta discrição, Nice recebeu R$ 470 mil apenas em subsídios. Além do salário, a deputada teve à disposição para gastar no exercício do mandato quase R$ 100 mil por mês, entre cotas parlamentares, verba de gabinete e auxílio-moradia.
Mesmo padecendo de dores crônicas na coluna e nos joelhos, motivo de suas 82 licenças médicas em 2011, ela resiste a se afastar do mandato e ceder a vaga a um suplente. Desde 2006, Nice se submeteu a três cirurgias na coluna, segundo o gabinete dela. A suplência na Câmara é definida nas urnas – ao contrário do Senado, onde muitas vezes os substitutos são escolhidos dentro de casa, como Lobão Filho.
“Ela sofre pressão de outros parlamentares e até de pessoas da família, que já a aconselharam a se licenciar. Mas ela tem apego ao trabalho e a esperança de voltar”, explica a assessoria.
Tal mãe, tal filho
Pelo segundo ano consecutivo, Lobão Filho foi o senador mais ausente
Sempre a postos para substituir o pai no Senado, Lobão Filho atribuiu a problemas de saúde, como a mãe, a maioria de suas ausências nas sessões deliberativas. O senador, de 47 anos, não esteve presente em 59 das 126 sessões a que deveria ter comparecido no ano passado.
Foram oito faltas ainda não justificadas, 26 licenças médicas e 25 por interesse particular, único tipo que não implica ônus para os cofres públicos.
Depois de sofrer um grave acidente automobilístico em maio do ano passado, o peemedebista passou cerca de três semanas internado em uma unidade de terapia intensiva (UTI).
“Foi um ano complicado, quase morri. Não me recuperei 100% até agora”, alega Lobão Filho, que diz precisar de mais 30 dias para ficar plenamente recuperado.
O senador também alega que boa parte de suas ausências foi usada para recuperação, embora não tivesse atestado médico. Diferentemente da mãe,Lobão Filho não passou 2011 em branco: vice-presidente da Comissão de Assuntos Econômicos, também integrou as comissões de Serviços de Infraestrutura, e de Ciência e Tecnologia, além do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar. Ele apresentou três propostas de emenda à Constituição, cinco projetos de lei e um projeto de lei complementar. Fez um discurso em plenário.
Edson Sardinha e Fábio Góis
29/03/2012
congresso em foco
Desde que tomou posse, Nice Lobão participou apenas uma vez de uma votação na Câmara - Foto: Agência Câmara
Quem pensa que o senador licenciado Edison Lobão (PMDB-MA) anda distante do Congresso, ainda não viu a mulher nem o filho dele. Ninguém faltou mais às sessões destinadas a votação na Câmara e no Senado em 2011 do que a deputada Nice Lobão (PSD-MA) e o senador Lobão Filho (PMDB-MA), suplente que ocupa a vaga do pai. É o que revela levantamento exclusivo feito pelo Congresso em Foco sobre a assiduidade dos parlamentares na Câmara e no Senado.
A deputada, de 75 anos, compareceu a apenas 19 dos 107 dias com sessões deliberativas da Câmara e apresentou justificativa para 87 de suas 88 ausências ano passado. O roteiro continua o mesmo em 2012: até o dia 20 de março, ela havia aparecido uma única vez na Casa. Desde que assumiu seu quarto mandato, Nice não apresentou nem relatou qualquer proposta, tampouco se pronunciou em plenário. Registrou presença em somente duas das 84 reuniões da Comissão de Educação e Cultura, da qual é titular.
Um único voto
Reeleita em 2010, ela deu um único voto até agora: foi na terceira semana de trabalho, em 15 de fevereiro de 2011, a favor do requerimento de urgência para a votação do novo salário mínimo, de R$ 622. Nesse período de absoluta discrição, Nice recebeu R$ 470 mil apenas em subsídios. Além do salário, a deputada teve à disposição para gastar no exercício do mandato quase R$ 100 mil por mês, entre cotas parlamentares, verba de gabinete e auxílio-moradia.
Mesmo padecendo de dores crônicas na coluna e nos joelhos, motivo de suas 82 licenças médicas em 2011, ela resiste a se afastar do mandato e ceder a vaga a um suplente. Desde 2006, Nice se submeteu a três cirurgias na coluna, segundo o gabinete dela. A suplência na Câmara é definida nas urnas – ao contrário do Senado, onde muitas vezes os substitutos são escolhidos dentro de casa, como Lobão Filho.
“Ela sofre pressão de outros parlamentares e até de pessoas da família, que já a aconselharam a se licenciar. Mas ela tem apego ao trabalho e a esperança de voltar”, explica a assessoria.
Tal mãe, tal filho
Pelo segundo ano consecutivo, Lobão Filho foi o senador mais ausente
Sempre a postos para substituir o pai no Senado, Lobão Filho atribuiu a problemas de saúde, como a mãe, a maioria de suas ausências nas sessões deliberativas. O senador, de 47 anos, não esteve presente em 59 das 126 sessões a que deveria ter comparecido no ano passado.
Foram oito faltas ainda não justificadas, 26 licenças médicas e 25 por interesse particular, único tipo que não implica ônus para os cofres públicos.
Depois de sofrer um grave acidente automobilístico em maio do ano passado, o peemedebista passou cerca de três semanas internado em uma unidade de terapia intensiva (UTI).
“Foi um ano complicado, quase morri. Não me recuperei 100% até agora”, alega Lobão Filho, que diz precisar de mais 30 dias para ficar plenamente recuperado.
O senador também alega que boa parte de suas ausências foi usada para recuperação, embora não tivesse atestado médico. Diferentemente da mãe,Lobão Filho não passou 2011 em branco: vice-presidente da Comissão de Assuntos Econômicos, também integrou as comissões de Serviços de Infraestrutura, e de Ciência e Tecnologia, além do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar. Ele apresentou três propostas de emenda à Constituição, cinco projetos de lei e um projeto de lei complementar. Fez um discurso em plenário.
Edson Sardinha e Fábio Góis
29/03/2012
congresso em foco
PODENDO PEGAR 111 ANOS DE PRISÃO, JOSÉ DIRCEU REPELE RECORRER À OEA
NO PALCO DO MUNDO
O ex-ministro José Dirceu (PT-SP) pode recorrer a organismos internacionais, como a OEA (Organização dos Estados Americanos), caso seja condenado pelo STF (Supremo Tribunal Federal) no caso do mensalão.
ENCONTROS
Ele falou sobre a possibilidade em mais de um encontro que tem tido com personalidades para conversar sobre o processo. Dois interlocutores recentes de Dirceu relataram a ideia à coluna, ressalvando que o petista sempre diz ter certeza de que será absolvido.
EU INSISTO
Dirceu nega com veemência. "Isso são advogados que propõem. Tenho convicção de que vou ser absolvido. Como vou falar uma coisa dessas?", afirma. "Sempre falei que sou inocente e confio no Supremo. E agora vou recorrer a órgãos internacionais?"
O ex-ministro diz ainda que gostaria que o caso fosse logo apreciado. "Nunca atrasei o processo, abri mão de testemunhas no exterior, não quero prescrição do caso. Insisto em ser julgado."
29 de março de 2012
Da coluna de Mônica Bergamo, na Folha
coroneLeaks
O ex-ministro José Dirceu (PT-SP) pode recorrer a organismos internacionais, como a OEA (Organização dos Estados Americanos), caso seja condenado pelo STF (Supremo Tribunal Federal) no caso do mensalão.
ENCONTROS
Ele falou sobre a possibilidade em mais de um encontro que tem tido com personalidades para conversar sobre o processo. Dois interlocutores recentes de Dirceu relataram a ideia à coluna, ressalvando que o petista sempre diz ter certeza de que será absolvido.
EU INSISTO
Dirceu nega com veemência. "Isso são advogados que propõem. Tenho convicção de que vou ser absolvido. Como vou falar uma coisa dessas?", afirma. "Sempre falei que sou inocente e confio no Supremo. E agora vou recorrer a órgãos internacionais?"
O ex-ministro diz ainda que gostaria que o caso fosse logo apreciado. "Nunca atrasei o processo, abri mão de testemunhas no exterior, não quero prescrição do caso. Insisto em ser julgado."
29 de março de 2012
Da coluna de Mônica Bergamo, na Folha
coroneLeaks
A CORRUPÇÃO E ENGANAÇÃO DAS SEITAS RELIGIOSAS
É terrível a questão das organizações religiosas, que deveriam ser verdadeiras associações, com direitos e deveres recíprocos, de cunho religioso, mas estão sendo usurpadas, não pela fé, mas pela ingenuidade de muitos de seus membros e pelo caráter corrupto e exploratório de alguns maus “políticos” e charmosos “carismáticos”. Autênticos lobos que misturam tudo o que há de ruim na história ocidental.
Cabe aos membros das igrejas, organizações privadas, cobrarem a prestação de contas de todo o dinheiro que investem para o seu bem estar e para os seus objetivos como associados. Também devem se organizar e destituir os maus gestores. Mas o problema é que a gestão participativa somente funciona em igrejas pequenas e não nas gigantescas e centralizadas.
O Código Civil brasileira rege essas instituições e aplica-lhes as regras gerais das associações para as quais os membros contribuem, mas sobre as quais têm o direito de cobrar, fiscalizar, destituir administradores e participar ativamente da gestão, seja por meio do voto nas assembléias, seja pela participação direta nos conselhos.
Um conselho: fiscalize para onde está indo o dinheiro do seu dízimo. Se você apoia a difusão do evangelho, então certifique-se de que os valores estão financiando projetos missionários sérios e consistentes.
Em geral, a atividade missionária, de interesse dos membros, é abandonada e a gestão patrimonial, principalmente nas grandes igrejas, é obscura e os associados tornam-se animais irracionais e conduzidos por homens e vulneráveis a todo vento de doutrina distorcida.
29 de março de 2012
Genilson Albuquerque Percinotto
Cabe aos membros das igrejas, organizações privadas, cobrarem a prestação de contas de todo o dinheiro que investem para o seu bem estar e para os seus objetivos como associados. Também devem se organizar e destituir os maus gestores. Mas o problema é que a gestão participativa somente funciona em igrejas pequenas e não nas gigantescas e centralizadas.
O Código Civil brasileira rege essas instituições e aplica-lhes as regras gerais das associações para as quais os membros contribuem, mas sobre as quais têm o direito de cobrar, fiscalizar, destituir administradores e participar ativamente da gestão, seja por meio do voto nas assembléias, seja pela participação direta nos conselhos.
Um conselho: fiscalize para onde está indo o dinheiro do seu dízimo. Se você apoia a difusão do evangelho, então certifique-se de que os valores estão financiando projetos missionários sérios e consistentes.
Em geral, a atividade missionária, de interesse dos membros, é abandonada e a gestão patrimonial, principalmente nas grandes igrejas, é obscura e os associados tornam-se animais irracionais e conduzidos por homens e vulneráveis a todo vento de doutrina distorcida.
29 de março de 2012
Genilson Albuquerque Percinotto
MINISTÉRIO DA PESCA COMPRA LANCHAS QUE NÃO USA
TCU apurou que a pasta, que não tem competência para fiscalizar pesca irregular, gastou R$ 31,1 milhões em 28 embarcações
Sem competência para fiscalizar a pesca irregular, o Ministério da Pesca comprou 28 lanchas-patrulha por mais de R$ 1 milhão cada, das quais ao menos 23 nunca entraram em operação ou estão avariadas, segundo auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU). Parte da fatura de R$ 31,1 milhões foi paga na gestão de Ideli Salvatti, responsável hoje pela coordenação política do governo Dilma Rousseff.
Dados do Tesouro mostram que parcela de R$ 5,2 milhões da compra foi paga em abril e maio de 2011, sob ordem da então ministra da Pesca, no programa de "apoio e implantação de infraestrutura aquícola e pesqueira". Ontem à noite, a assessoria de Ideli Salvatti informou que a auditoria do TCU investigou não o pagamento, mas a compra das lanchas, negócio autorizado na administração de Altemir Gregolin, que deixou a pasta em dezembro de 2010.
No último dia no cargo, em 31 de dezembro, ele determinou a construção de mais 5 lanchas, quando apenas 4 das 23 encomendadas haviam entrado na água. Quem recebeu o dinheiro foi a empresa Intech Boating Comércio de Embarcações Ltda., sediada em Santa Catarina e inaugurada pouco antes da primeira compra de cinco lanchas autorizada por Gregolin.
Desde a criação da Secretaria até a saída de Ideli Salvatti, o posto criado no governo Lula coube ao PT de Santa Catarina.
"O negócio foi lançado para a Intech Boating ganhar", afirma o relatório do ministro Aroldo Cedraz, aprovado na sessão de ontem do Tribunal.
O edital reproduzia os requisitos técnicos do modelo de estreia da empresa no mercado. "As medidas e padrões de desempenho atendem perfeitamente aos requisitos excessivamente detalhados nos editais dos pregões", diz o relatório.
E mais: o aviso de licitação foi publicado em jornal que circula só no Distrito Federal, onde não há estaleiros. A licitação exigia que as lanchas deveriam ser entregues em São Luís (MA) e Belém (PA).
Processo. Mesmo sem saber o tamanho do prejuízo, o TCU determinou a abertura de processo para recuperação do dinheiro desviado.
O ex-ministro Altemir Gregolin é tido como responsável, ao lado de outros cinco funcionários da pasta. Gregolin não foi localizado ontem à noite.
"A baixa utilização das lanchas revela a antieconomicidade das aquisições e comprova que os gestores do ministério falharam gravemente, uma vez que, mesmo diante das dificuldades encontradas em dar utilidade aos bens licitados, continuaram a ordenar a fabricação de novas unidades", diz o relatório. A compra das lanchas foi patrocinada por emendas parlamentares ao Orçamento da União.
29 de março de 2012
MARTA SALOMON / BRASÍLIA
O Estado de S.Paulo
Sem competência para fiscalizar a pesca irregular, o Ministério da Pesca comprou 28 lanchas-patrulha por mais de R$ 1 milhão cada, das quais ao menos 23 nunca entraram em operação ou estão avariadas, segundo auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU). Parte da fatura de R$ 31,1 milhões foi paga na gestão de Ideli Salvatti, responsável hoje pela coordenação política do governo Dilma Rousseff.
Dados do Tesouro mostram que parcela de R$ 5,2 milhões da compra foi paga em abril e maio de 2011, sob ordem da então ministra da Pesca, no programa de "apoio e implantação de infraestrutura aquícola e pesqueira". Ontem à noite, a assessoria de Ideli Salvatti informou que a auditoria do TCU investigou não o pagamento, mas a compra das lanchas, negócio autorizado na administração de Altemir Gregolin, que deixou a pasta em dezembro de 2010.
No último dia no cargo, em 31 de dezembro, ele determinou a construção de mais 5 lanchas, quando apenas 4 das 23 encomendadas haviam entrado na água. Quem recebeu o dinheiro foi a empresa Intech Boating Comércio de Embarcações Ltda., sediada em Santa Catarina e inaugurada pouco antes da primeira compra de cinco lanchas autorizada por Gregolin.
Desde a criação da Secretaria até a saída de Ideli Salvatti, o posto criado no governo Lula coube ao PT de Santa Catarina.
"O negócio foi lançado para a Intech Boating ganhar", afirma o relatório do ministro Aroldo Cedraz, aprovado na sessão de ontem do Tribunal.
O edital reproduzia os requisitos técnicos do modelo de estreia da empresa no mercado. "As medidas e padrões de desempenho atendem perfeitamente aos requisitos excessivamente detalhados nos editais dos pregões", diz o relatório.
E mais: o aviso de licitação foi publicado em jornal que circula só no Distrito Federal, onde não há estaleiros. A licitação exigia que as lanchas deveriam ser entregues em São Luís (MA) e Belém (PA).
Processo. Mesmo sem saber o tamanho do prejuízo, o TCU determinou a abertura de processo para recuperação do dinheiro desviado.
O ex-ministro Altemir Gregolin é tido como responsável, ao lado de outros cinco funcionários da pasta. Gregolin não foi localizado ontem à noite.
"A baixa utilização das lanchas revela a antieconomicidade das aquisições e comprova que os gestores do ministério falharam gravemente, uma vez que, mesmo diante das dificuldades encontradas em dar utilidade aos bens licitados, continuaram a ordenar a fabricação de novas unidades", diz o relatório. A compra das lanchas foi patrocinada por emendas parlamentares ao Orçamento da União.
29 de março de 2012
MARTA SALOMON / BRASÍLIA
O Estado de S.Paulo
TCU VÊ SOBREPREÇO DE R$ 29 MILHÕES EM OBRA DO SÃO FRANCISCO
Irregularidade doi constatada em contrato do lote 5, no Ceará, da transposição do rio
BRASÍLIA - O Tribunal de Contas da União (TCU) encontrou indícios de sobrepreço de R$ 29 milhões em contrato do lote 5, no Ceará, da transposição do São Francisco, e determinou ao Ministério da Integração Nacional que revise o preço de itens do edital para impedir prejuízo aos cofres públicos.
Os auditores do tribunal ainda criticaram a demora para a execução das obras, o que ocasiona aumento do custo total do mega-empreendimento, agora orçado em R$ 8,2 bilhões, de acordo com o TCU.
Não houve liberação de recursos. Os técnicos do tribunal encontraram falhas no edital, como um valor superestimado de R$ 5,1 milhões, por exemplo, em "filtros e transições finas horizontais de areia natural", que representa 1,22% do orçamento total do empreendimento.
Ao todo, foram identificados preços acima daqueles praticados no mercado em 18 itens unitários da obra. Diante das impropriedades verificadas no edital, o Ministério da Integração Nacional foi obrigado a adiar a concorrência aberta para o trecho, que estava marcada para a última terça-feira.
O TCU ainda criticou a demora da obra, que além de ocasionar prejuízos materiais, infla o custo da obra, inicialmente orçada em R$ 5,2 bilhões. Segundo o TCU, existem falhas graves nos projetos básicos da Transposição do São Francisco:
"As deficiências apontadas no projeto básico das obras têm acarretado dificuldades no cumprimento do cronograma das obras, com o consequente atraso na data estimada para a conclusão do empreendimento, além de recorrentes demandas, por parte das empresas contratadas, de realinhamento de preços unitários e de celebração de termos aditivos para adequar os quantitativos de serviços à realidade da obra, revelada pela conclusão paulatina dos projetos executivos".
O Lote 5 prevê a construção de 7 reservatórios, em Jati (CE). O trecho tem 426 km de extensão. A previsão é que, em 2015, vai beneficiar cerca de R$ 7,1 milhões de pessoas em Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte.
Em fevereiro, a presidente Dilma Rousseff pediu agilidade a consórcios e empreiteiras que prestam serviços ao governo nas obras de transposição do Rio São Francisco.
Ao visitar os canteiros de obras em Floresta (Pernambuco), onde há lotes cujo o percentual de execução não passa de 13%, Dilma cobrou melhor desempenho.
Durante a vistoria, no mês passado, Dilma negou que a obra esteja praticamente parada por falta de pagamento do governo e anunciou que, a partir de agora, não só as obras hídricas, mas todas tocadas pelos ministérios, serão cuidadosamente acompanhadas.
29 de mar;o de 2012
O Globo
Roberto Maltchik
BRASÍLIA - O Tribunal de Contas da União (TCU) encontrou indícios de sobrepreço de R$ 29 milhões em contrato do lote 5, no Ceará, da transposição do São Francisco, e determinou ao Ministério da Integração Nacional que revise o preço de itens do edital para impedir prejuízo aos cofres públicos.
Os auditores do tribunal ainda criticaram a demora para a execução das obras, o que ocasiona aumento do custo total do mega-empreendimento, agora orçado em R$ 8,2 bilhões, de acordo com o TCU.
Não houve liberação de recursos. Os técnicos do tribunal encontraram falhas no edital, como um valor superestimado de R$ 5,1 milhões, por exemplo, em "filtros e transições finas horizontais de areia natural", que representa 1,22% do orçamento total do empreendimento.
Ao todo, foram identificados preços acima daqueles praticados no mercado em 18 itens unitários da obra. Diante das impropriedades verificadas no edital, o Ministério da Integração Nacional foi obrigado a adiar a concorrência aberta para o trecho, que estava marcada para a última terça-feira.
O TCU ainda criticou a demora da obra, que além de ocasionar prejuízos materiais, infla o custo da obra, inicialmente orçada em R$ 5,2 bilhões. Segundo o TCU, existem falhas graves nos projetos básicos da Transposição do São Francisco:
"As deficiências apontadas no projeto básico das obras têm acarretado dificuldades no cumprimento do cronograma das obras, com o consequente atraso na data estimada para a conclusão do empreendimento, além de recorrentes demandas, por parte das empresas contratadas, de realinhamento de preços unitários e de celebração de termos aditivos para adequar os quantitativos de serviços à realidade da obra, revelada pela conclusão paulatina dos projetos executivos".
O Lote 5 prevê a construção de 7 reservatórios, em Jati (CE). O trecho tem 426 km de extensão. A previsão é que, em 2015, vai beneficiar cerca de R$ 7,1 milhões de pessoas em Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte.
Em fevereiro, a presidente Dilma Rousseff pediu agilidade a consórcios e empreiteiras que prestam serviços ao governo nas obras de transposição do Rio São Francisco.
Ao visitar os canteiros de obras em Floresta (Pernambuco), onde há lotes cujo o percentual de execução não passa de 13%, Dilma cobrou melhor desempenho.
Durante a vistoria, no mês passado, Dilma negou que a obra esteja praticamente parada por falta de pagamento do governo e anunciou que, a partir de agora, não só as obras hídricas, mas todas tocadas pelos ministérios, serão cuidadosamente acompanhadas.
29 de mar;o de 2012
O Globo
Roberto Maltchik
DEMÓSTENES TORRES, O IRMÃO DO JÔ SOARES E OS DITOS POPULARES
Todo inferno astral vivido pelo senador Demóstenes Torres (DEM-GO) é fruto do jeito sujo de fazer política adotado pelos parlamentares brasileiros. Sim, sem tirar nem pôr, o desfecho óbvio de qualquer relação não ética é o escândalo. Afinal de contas, “a mentira tem perna curta”. Esse ditado, além de sábio, se traduz constantemente em realidade.
Poderíamos até dar um desconto (menos de 1%) para essa “amizade” apregoada por Demóstenes – em relação a Carlinhos Cachoeira – se ela viesse de sua tenra infância. Pois, ninguém é capaz de saber se um grande amigo de brincadeiras vai se transformar em gângster ou em herói. Mesmo assim, “como é de pequeno que se torce o pepino”, caberia a Demóstenes escolher entre manter ou não essa incômoda amizade de infância.
Contudo, o simples fato de utilizar um telefone habilitado nos EUA para tentar escapar de possíveis escutas, já demonstra perfeitamente que, mais do que um telhado de vidro, a relação entre os dois era conscientemente ilícita.
Ao mesmo tempo – exatamente como fazia o PT antes de assumir o governo – Demóstenes se arvorou em defensor da ética e da moralidade pública para o eleitorado e para a imprensa nacional. Assim, a descoberta de suas relações com um criminoso conhecido e de longa ficha, muito mais do que chocar, mostra como os políticos brasileiros desconhecem completamente conceitos como moral e ética política.
Por mais que alardeiem aos quatro ventos suas posturas “éticas” e sua indignação diante da descoberta dos deslizes de seus colegas, nossos políticos não conseguem se desligar de suas próprias ligações perigosas e de suas intermináveis relações com empresários corruptores, escroques de toda sorte e corruptos contumazes.
Muito mais do que viver um inferno astral, Demóstenes Torres “colhe o que plantou” e sofre os efeitos de sua conduta aética. Seja lá qual for o desenlace desse drama, a única certeza que fica é (além da já batida “confiar desconfiando”) a incapacidade de “nossos representantes” assumirem plenamente a dignidade e os deveres do cargo para o qual foram eleitos.
Outro fator que nos causa estranheza e perplexidade é o comportamento do Procurador Geral da República Roberto Gurgel. Sabedor das gravíssimas acusações que recaíam sobre Demóstenes Torres desde o ano de 2009, o ilustre “irmão gêmeo do Jô Soares” nada fez. Engavetou as investigações da polícia Federal por três anos e apenas agora – depois de pressão popular e política intensa – resolve abrir investigações sobre o caso.
Certamente “embaixo desse angu tem carne” e a bondade do procurador também deveria ser investigada. Pois, se o encarregado de fiscalizar os três poderes e de ser a “voz do povo” contra os desmandos praticados pelas autoridades republicanas se cala diante de fato tão grave; como compreender que isso seja um bom desempenho de suas atribuições?
Infelizmente, como tudo mais na política nacional, “nesse mato tem coelho” e há muito mais do que os sorrisos e desculpas esfarrapadas do procurador deixam transparecer. Resta saber quem “levantará essa bola” se nem a grande imprensa parece estar interessada nesse “pequeno detalhe”.
Ora, caro leitor, todos nós sabemos que Carlinhos Cachoeira tem em seu “círculo de amizades” muito mais “excelências” do que Demóstenes Torres e, se “cutucado com vara curta”, pode querer trazer à luz suas relações de amizade que ainda dormem obscurecidas pelo manto do anonimato e pelo silêncio providencial do Procurador da República. Com toda certeza, não é do interesse de nenhum deles que isso mude.
Pense nisso.
29 de março de 2012
Arthurius Maximus
Poderíamos até dar um desconto (menos de 1%) para essa “amizade” apregoada por Demóstenes – em relação a Carlinhos Cachoeira – se ela viesse de sua tenra infância. Pois, ninguém é capaz de saber se um grande amigo de brincadeiras vai se transformar em gângster ou em herói. Mesmo assim, “como é de pequeno que se torce o pepino”, caberia a Demóstenes escolher entre manter ou não essa incômoda amizade de infância.
Contudo, o simples fato de utilizar um telefone habilitado nos EUA para tentar escapar de possíveis escutas, já demonstra perfeitamente que, mais do que um telhado de vidro, a relação entre os dois era conscientemente ilícita.
Ao mesmo tempo – exatamente como fazia o PT antes de assumir o governo – Demóstenes se arvorou em defensor da ética e da moralidade pública para o eleitorado e para a imprensa nacional. Assim, a descoberta de suas relações com um criminoso conhecido e de longa ficha, muito mais do que chocar, mostra como os políticos brasileiros desconhecem completamente conceitos como moral e ética política.
Por mais que alardeiem aos quatro ventos suas posturas “éticas” e sua indignação diante da descoberta dos deslizes de seus colegas, nossos políticos não conseguem se desligar de suas próprias ligações perigosas e de suas intermináveis relações com empresários corruptores, escroques de toda sorte e corruptos contumazes.
Muito mais do que viver um inferno astral, Demóstenes Torres “colhe o que plantou” e sofre os efeitos de sua conduta aética. Seja lá qual for o desenlace desse drama, a única certeza que fica é (além da já batida “confiar desconfiando”) a incapacidade de “nossos representantes” assumirem plenamente a dignidade e os deveres do cargo para o qual foram eleitos.
Outro fator que nos causa estranheza e perplexidade é o comportamento do Procurador Geral da República Roberto Gurgel. Sabedor das gravíssimas acusações que recaíam sobre Demóstenes Torres desde o ano de 2009, o ilustre “irmão gêmeo do Jô Soares” nada fez. Engavetou as investigações da polícia Federal por três anos e apenas agora – depois de pressão popular e política intensa – resolve abrir investigações sobre o caso.
Certamente “embaixo desse angu tem carne” e a bondade do procurador também deveria ser investigada. Pois, se o encarregado de fiscalizar os três poderes e de ser a “voz do povo” contra os desmandos praticados pelas autoridades republicanas se cala diante de fato tão grave; como compreender que isso seja um bom desempenho de suas atribuições?
Infelizmente, como tudo mais na política nacional, “nesse mato tem coelho” e há muito mais do que os sorrisos e desculpas esfarrapadas do procurador deixam transparecer. Resta saber quem “levantará essa bola” se nem a grande imprensa parece estar interessada nesse “pequeno detalhe”.
Ora, caro leitor, todos nós sabemos que Carlinhos Cachoeira tem em seu “círculo de amizades” muito mais “excelências” do que Demóstenes Torres e, se “cutucado com vara curta”, pode querer trazer à luz suas relações de amizade que ainda dormem obscurecidas pelo manto do anonimato e pelo silêncio providencial do Procurador da República. Com toda certeza, não é do interesse de nenhum deles que isso mude.
Pense nisso.
29 de março de 2012
Arthurius Maximus
CAMINHOS DÍSPARES E PERIGOSOS
A prática jornalística migrou para um caminho perigoso quando viu no sensacionalismo um padrão para atingir grande parte da população. Empresas de comunicação têm na informação o seu principal produto, porém deve-se questionar até que ponto a sociedade é informada verdadeiramente quando temas como violência, prostituição, drogas e crimes hediondos são a prioridade da mídia, transformando notícias e reportagens em espetáculos.
O ideal iluminista do jornalismo, que busca cumprir seu papel promovendo a cidadania e dando voz à sociedade, acaba sendo suplantado pela ambição comercial que o sensacionalismo envolve. Certamente, o jornalismo tem um amplo destaque na vida das pessoas, pois é ele o grande mediador e difusor de informações no meio social. No entanto, a reflexão e a análise mais aprofundada dos fatos são deixadas de lado em prol de uma informação capitalista, com alto teor de venda.
A promoção do direito à cidadania, à igualdade e à informação de qualidade são simplesmente descartadas. O fazer jornalístico passa a apropriar-se de vidas humanas ao se valer do argumento eficaz de ser o divulgador dos males da sociedade. No entanto, com isso, acaba destruindo a informação ao intensificar a dor de vítimas de uma realidade cruel.
“Circo dos horrores”
O sensacionalismo é inimigo do público, pois ele contempla o que há de mais frágil na alma humana: ao priorizar os sentimentos, utiliza um tom persuasivo, de forma que o sujeito passa a ser o objeto de venda da matéria. Uma pessoa doa sua tragédia e desgraça para o enriquecimento de grandes empresas jornalísticas e eles as vendem a valores extremos para o público em bancas de jornais e revistas ou programas televisivos ou radiofônicos, conquistando grandes audiências.
O alto custo cobrado no sensacionalismo está justamente nas vidas das vítimas desumanizadas e coisificadas como objetos de uma caçada selvagem ao lucro imediato. Vidas de pessoas humildes são midiatizadas de maneira errônea, sem a contextualização necessária para o público refletir, sendo tudo mostrado de maneira nua e crua para os espectadores que, como elo de uma cadeia, na maioria das vezes nem percebem em que estão envolvidos.
A reflexão, um dos grandes trunfos da sobrevivência do jornalismo impresso na era digital, não é compreendida por muitos donos de jornal, ao banalizarem a violência e a tragédia de forma irresponsável e pouco ética. Para o público, resta assistir ao “circo dos horrores” ou simplesmente fechar os olhos diante de uma maneira de corrupção que não vê fronteiras para explorar o aspecto mórbido, o bizarro de um acontecimento.
Ficção e realidade
O filme O quarto poder, de Costa Gavras, de 1997, reflete bem sobre esta prática da mídia. Nesta produção cinematográfica ocorre um sequestro e o sequestrador vira uma celebridade sob os flashes da mídia, que acompanha de forma massiva e incessante o desenrolar do crime. A imprensa explora o caso de maneira brutal, fazendo da história uma novela diária acompanhada por milhares de pessoas. Devido à demasiada exposição do sequestrador, ora tratado como um herói sofrido, ora como vilão, a história toma rumos inesperados.
Psicologicamente fragilizado, ele, então, comete suicídio. Surge a seguinte questão: quem o matou? Ele próprio ou a mídia, em sua cobertura exaustiva do acontecimento? Este simples caso fictício toma grandes proporções ante a simples lembrança do caso Eloá Pimentel, no qual a mídia abusou da transmissão do sequestro, atrapalhando as negociações da polícia e permitindo que a história tivesse o final que ninguém queria ver. Neste ponto está a real gravidade do sensacionalismo, ao utilizar o ser humano como se fosse uma mercadoria, não se importando com a vida dele.
***
29 de março de 2012
[Valério Cruz Brittos e Éderson Silva são, respectivamente, professor titular no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Unisinos e graduando em Comunicação Social – Jornalismo da mesma instituição]
O ideal iluminista do jornalismo, que busca cumprir seu papel promovendo a cidadania e dando voz à sociedade, acaba sendo suplantado pela ambição comercial que o sensacionalismo envolve. Certamente, o jornalismo tem um amplo destaque na vida das pessoas, pois é ele o grande mediador e difusor de informações no meio social. No entanto, a reflexão e a análise mais aprofundada dos fatos são deixadas de lado em prol de uma informação capitalista, com alto teor de venda.
A promoção do direito à cidadania, à igualdade e à informação de qualidade são simplesmente descartadas. O fazer jornalístico passa a apropriar-se de vidas humanas ao se valer do argumento eficaz de ser o divulgador dos males da sociedade. No entanto, com isso, acaba destruindo a informação ao intensificar a dor de vítimas de uma realidade cruel.
“Circo dos horrores”
O sensacionalismo é inimigo do público, pois ele contempla o que há de mais frágil na alma humana: ao priorizar os sentimentos, utiliza um tom persuasivo, de forma que o sujeito passa a ser o objeto de venda da matéria. Uma pessoa doa sua tragédia e desgraça para o enriquecimento de grandes empresas jornalísticas e eles as vendem a valores extremos para o público em bancas de jornais e revistas ou programas televisivos ou radiofônicos, conquistando grandes audiências.
O alto custo cobrado no sensacionalismo está justamente nas vidas das vítimas desumanizadas e coisificadas como objetos de uma caçada selvagem ao lucro imediato. Vidas de pessoas humildes são midiatizadas de maneira errônea, sem a contextualização necessária para o público refletir, sendo tudo mostrado de maneira nua e crua para os espectadores que, como elo de uma cadeia, na maioria das vezes nem percebem em que estão envolvidos.
A reflexão, um dos grandes trunfos da sobrevivência do jornalismo impresso na era digital, não é compreendida por muitos donos de jornal, ao banalizarem a violência e a tragédia de forma irresponsável e pouco ética. Para o público, resta assistir ao “circo dos horrores” ou simplesmente fechar os olhos diante de uma maneira de corrupção que não vê fronteiras para explorar o aspecto mórbido, o bizarro de um acontecimento.
Ficção e realidade
O filme O quarto poder, de Costa Gavras, de 1997, reflete bem sobre esta prática da mídia. Nesta produção cinematográfica ocorre um sequestro e o sequestrador vira uma celebridade sob os flashes da mídia, que acompanha de forma massiva e incessante o desenrolar do crime. A imprensa explora o caso de maneira brutal, fazendo da história uma novela diária acompanhada por milhares de pessoas. Devido à demasiada exposição do sequestrador, ora tratado como um herói sofrido, ora como vilão, a história toma rumos inesperados.
Psicologicamente fragilizado, ele, então, comete suicídio. Surge a seguinte questão: quem o matou? Ele próprio ou a mídia, em sua cobertura exaustiva do acontecimento? Este simples caso fictício toma grandes proporções ante a simples lembrança do caso Eloá Pimentel, no qual a mídia abusou da transmissão do sequestro, atrapalhando as negociações da polícia e permitindo que a história tivesse o final que ninguém queria ver. Neste ponto está a real gravidade do sensacionalismo, ao utilizar o ser humano como se fosse uma mercadoria, não se importando com a vida dele.
***
29 de março de 2012
[Valério Cruz Brittos e Éderson Silva são, respectivamente, professor titular no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Unisinos e graduando em Comunicação Social – Jornalismo da mesma instituição]
ARIOVALDO, DEMÓSTENES ET CATERVA
Em artigo oportuno (O Estado de S. Paulo, 26/3), José Roberto de Toledo diz que em maio – dentro de pouco mais de 30 dias, portanto – “nada que não for classificado oficialmente como segredo de Estado [e, acrescente-se, informações pessoais reservadas, como prontuários médicos] poderá ser ocultado da população”. Menciona a seguir os sites oficiais com “dados abertos”. Constata: “Nunca tanto foi tão público”. Indaga: “Chegamos à transparência absoluta?”. Responde: “Nem perto”.
Toledo menciona o episódio dos despachos diplomáticos americanos tornados públicos pelo Wikileaks em 2010. Eram menos de 10% da correspondência dos diplomatas dos EUA no período e não tinham sido considerados “top secret”. O jornalista compara: “É como ir a uma churrascaria rodízio e, sem experimentar a picanha, julgar a qualidade da carne pelos espetinhos de coração de frango servidos de entrada”.
Os documentos cabiam num pen drive de 2 gigabytes de memória. Os oito anos de George W. Bush, informa Toledo, deixaram 77 terabytes de documentos. A diretora do Gabinete de Serviços de Informação do governo americano, Miriam Nisbet, calculava em 2009 que a produção de e-mails na administração federal americana andava na casa dos 30 bilhões por ano, ou, adotando-se 20 kilobytes como tamanho médio das mensagens, algo como 600 terabytes.
Excesso ou falta de dados?
O Wikileaks, ainda assim, diz Toledo “não foi capaz de lidar sozinho com todos os documentos e formou um consórcio com alguns dos mais tradicionais jornais do planeta”. Houve aí dupla filtragem: a dos jornalistas e a dos departamentos jurídicos dos jornais. “Como se vê, nada de transparência radical ou revolucionária.”
Toledo conclui que “para descobrir o que é de interesse público serão essenciais a experiência e dedicação constantes da imprensa, de pesquisadores e de organizações não governamentais como Transparência Brasil e Contas Abertas – além de interfaces tecnológicas que ajudem a dar sentido à multidão de informações. Ou morreremos afogados em dados”.
Mas é possível morrer na praia antes de cair na água. A falta de informação prejudica a mídia mais do que o excesso.
Ariovaldo, acusado de tortura
Veja-se o caso do ex-policial federal Ariovaldo da Hora e Silva, denunciado em Belo Horizonte por manifestantes do movimento Levante Popular da Juventude, ligado ao MST. Movimento, por sinal, até aqui desconhecido dos leitores da Folha de S.Paulo e do Estado, apesar de existir desde 2006.
Informa o site do deputado estadual Adelmo Leão (PT-MG):
“Ariovaldo consta na obra Brasil Nunca Mais (Projeto A), acusado de envolvimento com a morte de João Lucas Alves e de ter praticado tortura contra presos políticos. Foram vítimas dele Jaime de Almeida, Afonso Celso Lana Leite e Nilo Sérgio Menezes Macedo, entre outros.”
Isso não obstante,
“Na primeira comissão constituída para tratar do recolhimento dos documentos do Dops ao Arquivo Público Mineiro (APM), em 1991, ele foi designado para representar a Secretaria da Segurança Pública do Estado de Minas Gerais (Sesp). Em 1998, foi Coordenador de Informações da Coordenação Geral de Segurança (Coseg).”
Isso significa que os governadores responsáveis em última instância por sua designação (no primeiro caso, Newton Cardoso, até 15 de março daquele ano, e Hélio Garcia em seguida; no segundo caso, Eduardo Azeredo) não se interessaram em conhecer o passado do policial, ou, conhecendo-o, não se sentiram incomodados com ele. Ou, ainda, que os serviços de inteligência do Palácio da Liberdade foram incompetentes. Ou coniventes.
Note-se que o livro em que ele é denunciado como responsável por assassinato e torturas foi publicado em 1995 pelo governo do Estado de Pernambuco (Miguel Arraes) e em 1996 pelo governo do Estado de São Paulo (Mario Covas). Covas era um dos líderes eminentes do partido de Eduardo Azeredo, o PSDB.
Demóstenes, acusado de corrupção
Outro caso notável de ignorância é relativo ao senador Demóstenes Torres, expoente do DEM. Ao estabelecer com os repórteres de política de Brasília, em particular os que cobrem o Congresso Nacional, uma relação de fonte, capaz de abastecê-los com material de boa qualidade jornalística, esse procurador licenciado entrou para a categoria dos que fazem parte da paisagem, se tornam tão naturais quanto as formas arquitetônicas de Niemeyer ou a miséria das cidades satélites da capital federal.
A verdade é que muito dificilmente um repórter de Brasília se interessa pela trajetória política do parlamentar no estado em que se elege. Quando se tratava de derrotar a ditadura, essa vista grossa era benfazeja. Quem estava interessado em fuçar a vida política dos governadores que se bandearam do PDS para o PFL e apoiaram Tancredo Neves em 1984, um Roberto Magalhães, um José Agripino Maia, um Gonzaga Mota?
Hoje, porém, isso não faz o menor sentido.
Virtuoso do Planalto Central
O que não se pode ignorar é que o senador Demóstenes Torres, este, sim, sabia quem eram seus amigos. Entre eles, o bicheiro Carlinhos Cachoeira, que lhe dava uma ajudinha. Demóstenes fazia o papel de virtuoso do Planalto Central.
Ainda em janeiro deste ano, o senador assinou artigo na página 3 da Folha de S.Paulo (ver aqui; para assinantes) criticando o projeto anticrack da presidente Dilma Rousseff. Recentissimamente, na quarta-feira (21/3), publicou artigo no Blog do Noblat sobre “O peso do Estado”. Em 14 de março, pontificava sobre educação numa reportagem do Estado de S. Paulo.
O que tornava mais perfeita a fachada de respeitabilidade de Torres era (talvez ainda seja) a deferência com que o tratavam colunistas de política de jornais de Goiânia.
No blogue do político encontram-se preciosidades.
** Coluna Política, assinada por Suely Arantes, jornal Hoje (19/2): “Crime sem perdão – Demóstenes Torres diz que, se depender de seu trabalho no Senado, toda corrupção será punida como crime hediondo. (...)”.
** Coluna Giro, assinada por Karla Jaime Morais, jornal O Popular (19/2): “Bons de Twitter – Em Los 30 Tuiteros, que faz ranking dos políticos mais influentes da América Latina, @marconiperillo aparece em 12º na lista nacional e @demostenes.go, em 16º.”
** Coluna “Café da Manhã”, assinada por Ulisses Aesse, jornal Diário da Manhã (20/2): “FGTS para ajudar a pagar educação”. É um blablabá vazio. Só para aparecer com texto e foto na coluna.
(24/2): “Frankenstein jurídico – (...) Segundo Demóstenes Torres, está na hora de o país produzir uma nova Constituição, que abrigue o essencial para o sistema federativo, os poderes da República, enfim, os poderes desta nação. (...)”.
** Coluna “Fio direto”, assinada por Hilton Lenine, jornal Diário da Manhã (sem data): “Cenário nacional – Demóstenes Torres só tem olhos voltados para a sucessão da presidenta Dilma Rousseff. É vontade do DEM lançar o senador goiano ao Palácio do Planalto em 2014.”
E assim segue a vida.
Como jornalistas alçados à titularidade de colunas em seus jornais, esses profissionais deveriam conhecer melhor a vida política de tão relevante personagem. Ou será que Demóstenes Torres é tão hábil que conseguiu enganar todo mundo por muito tempo?
29 de março de 2012
Mauro Malin
Toledo menciona o episódio dos despachos diplomáticos americanos tornados públicos pelo Wikileaks em 2010. Eram menos de 10% da correspondência dos diplomatas dos EUA no período e não tinham sido considerados “top secret”. O jornalista compara: “É como ir a uma churrascaria rodízio e, sem experimentar a picanha, julgar a qualidade da carne pelos espetinhos de coração de frango servidos de entrada”.
Os documentos cabiam num pen drive de 2 gigabytes de memória. Os oito anos de George W. Bush, informa Toledo, deixaram 77 terabytes de documentos. A diretora do Gabinete de Serviços de Informação do governo americano, Miriam Nisbet, calculava em 2009 que a produção de e-mails na administração federal americana andava na casa dos 30 bilhões por ano, ou, adotando-se 20 kilobytes como tamanho médio das mensagens, algo como 600 terabytes.
Excesso ou falta de dados?
O Wikileaks, ainda assim, diz Toledo “não foi capaz de lidar sozinho com todos os documentos e formou um consórcio com alguns dos mais tradicionais jornais do planeta”. Houve aí dupla filtragem: a dos jornalistas e a dos departamentos jurídicos dos jornais. “Como se vê, nada de transparência radical ou revolucionária.”
Toledo conclui que “para descobrir o que é de interesse público serão essenciais a experiência e dedicação constantes da imprensa, de pesquisadores e de organizações não governamentais como Transparência Brasil e Contas Abertas – além de interfaces tecnológicas que ajudem a dar sentido à multidão de informações. Ou morreremos afogados em dados”.
Mas é possível morrer na praia antes de cair na água. A falta de informação prejudica a mídia mais do que o excesso.
Ariovaldo, acusado de tortura
Veja-se o caso do ex-policial federal Ariovaldo da Hora e Silva, denunciado em Belo Horizonte por manifestantes do movimento Levante Popular da Juventude, ligado ao MST. Movimento, por sinal, até aqui desconhecido dos leitores da Folha de S.Paulo e do Estado, apesar de existir desde 2006.
Informa o site do deputado estadual Adelmo Leão (PT-MG):
“Ariovaldo consta na obra Brasil Nunca Mais (Projeto A), acusado de envolvimento com a morte de João Lucas Alves e de ter praticado tortura contra presos políticos. Foram vítimas dele Jaime de Almeida, Afonso Celso Lana Leite e Nilo Sérgio Menezes Macedo, entre outros.”
Isso não obstante,
“Na primeira comissão constituída para tratar do recolhimento dos documentos do Dops ao Arquivo Público Mineiro (APM), em 1991, ele foi designado para representar a Secretaria da Segurança Pública do Estado de Minas Gerais (Sesp). Em 1998, foi Coordenador de Informações da Coordenação Geral de Segurança (Coseg).”
Isso significa que os governadores responsáveis em última instância por sua designação (no primeiro caso, Newton Cardoso, até 15 de março daquele ano, e Hélio Garcia em seguida; no segundo caso, Eduardo Azeredo) não se interessaram em conhecer o passado do policial, ou, conhecendo-o, não se sentiram incomodados com ele. Ou, ainda, que os serviços de inteligência do Palácio da Liberdade foram incompetentes. Ou coniventes.
Note-se que o livro em que ele é denunciado como responsável por assassinato e torturas foi publicado em 1995 pelo governo do Estado de Pernambuco (Miguel Arraes) e em 1996 pelo governo do Estado de São Paulo (Mario Covas). Covas era um dos líderes eminentes do partido de Eduardo Azeredo, o PSDB.
Demóstenes, acusado de corrupção
Outro caso notável de ignorância é relativo ao senador Demóstenes Torres, expoente do DEM. Ao estabelecer com os repórteres de política de Brasília, em particular os que cobrem o Congresso Nacional, uma relação de fonte, capaz de abastecê-los com material de boa qualidade jornalística, esse procurador licenciado entrou para a categoria dos que fazem parte da paisagem, se tornam tão naturais quanto as formas arquitetônicas de Niemeyer ou a miséria das cidades satélites da capital federal.
A verdade é que muito dificilmente um repórter de Brasília se interessa pela trajetória política do parlamentar no estado em que se elege. Quando se tratava de derrotar a ditadura, essa vista grossa era benfazeja. Quem estava interessado em fuçar a vida política dos governadores que se bandearam do PDS para o PFL e apoiaram Tancredo Neves em 1984, um Roberto Magalhães, um José Agripino Maia, um Gonzaga Mota?
Hoje, porém, isso não faz o menor sentido.
Virtuoso do Planalto Central
O que não se pode ignorar é que o senador Demóstenes Torres, este, sim, sabia quem eram seus amigos. Entre eles, o bicheiro Carlinhos Cachoeira, que lhe dava uma ajudinha. Demóstenes fazia o papel de virtuoso do Planalto Central.
Ainda em janeiro deste ano, o senador assinou artigo na página 3 da Folha de S.Paulo (ver aqui; para assinantes) criticando o projeto anticrack da presidente Dilma Rousseff. Recentissimamente, na quarta-feira (21/3), publicou artigo no Blog do Noblat sobre “O peso do Estado”. Em 14 de março, pontificava sobre educação numa reportagem do Estado de S. Paulo.
O que tornava mais perfeita a fachada de respeitabilidade de Torres era (talvez ainda seja) a deferência com que o tratavam colunistas de política de jornais de Goiânia.
No blogue do político encontram-se preciosidades.
** Coluna Política, assinada por Suely Arantes, jornal Hoje (19/2): “Crime sem perdão – Demóstenes Torres diz que, se depender de seu trabalho no Senado, toda corrupção será punida como crime hediondo. (...)”.
** Coluna Giro, assinada por Karla Jaime Morais, jornal O Popular (19/2): “Bons de Twitter – Em Los 30 Tuiteros, que faz ranking dos políticos mais influentes da América Latina, @marconiperillo aparece em 12º na lista nacional e @demostenes.go, em 16º.”
** Coluna “Café da Manhã”, assinada por Ulisses Aesse, jornal Diário da Manhã (20/2): “FGTS para ajudar a pagar educação”. É um blablabá vazio. Só para aparecer com texto e foto na coluna.
(24/2): “Frankenstein jurídico – (...) Segundo Demóstenes Torres, está na hora de o país produzir uma nova Constituição, que abrigue o essencial para o sistema federativo, os poderes da República, enfim, os poderes desta nação. (...)”.
** Coluna “Fio direto”, assinada por Hilton Lenine, jornal Diário da Manhã (sem data): “Cenário nacional – Demóstenes Torres só tem olhos voltados para a sucessão da presidenta Dilma Rousseff. É vontade do DEM lançar o senador goiano ao Palácio do Planalto em 2014.”
E assim segue a vida.
Como jornalistas alçados à titularidade de colunas em seus jornais, esses profissionais deveriam conhecer melhor a vida política de tão relevante personagem. Ou será que Demóstenes Torres é tão hábil que conseguiu enganar todo mundo por muito tempo?
29 de março de 2012
Mauro Malin
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