"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 16 de dezembro de 2012

OS APOSENTADOS E A HERANÇA MALDITA DE FHC E DO PT


Acompanhei, como aposentado-assaltado, o que ocorreu no governo de Fernando Henrique Cardoso.

Mas também lembro das "promessas" do PT e, principalmente, do senador gaúcho Paulo Paim. Aliás, por onde andará o senador e a sua permanente(?) defesa dos aposentados? Durante anos, ele e seu partido (PT) fizeram suas campanhas e suas promessas. Acusavam Fernando Henrique Cardoso de ter "condenado" os aposentados a receberem um salário mínimo.

Dez anos no poder, o que fizeram? Mantiveram a mesma coisa. E, ainda a aprofundarão!
Esta é a verdadeira herança maldita.
E foi produzida a quantas mãos?


16 dezembro de 2012
Antonio Carlos Fallavena

NOTA AO PÉ DO TEXTO

Alô... Alô... Aposentados, Associações de Aposentados e Confederação... Anotem esse nome! Chega de enganação e de falsas promessas! Não votem em falsos "defensores" dos direitos dos aposentados. É dever das Associações e da Confederação pesquisar políticos eleitos com plataformas de promessas enganosas e divulgar seus nomes entre seus associados.
Respeite seu voto e não eleja quem desrespeita os seus direitos, servindo a conchavos perversos que o prejudicam.
m.americo

DILMA TRANSFORMA A DEFESA DE LULA EM ASSUNTO DE GOVERNO, MANDANDO GILBERTO CARVALHO GRAVAR MENSAGEM AGRESSIVA CONTRA A JUSTIÇA E A IMPRENSA


 
Assistam ao vídeo onde Gilberto Carvalho, o Gilbertinho do caso Celso Daniel e de tantos outros episódios deste PT sujo de lama, conclamando a militância a ir para as ruas defender Lula. É bom que a sociedade acorde para a gravidade deste momento. É o governo brasileiro assumindo, oficialmente, a defesa de Lula, o que pressupõe que não aceitará decisão judicial a respeito, golpeando a democracia
 
16 de dezembro de 2012
in coroneLeaks

NOTAS POLÍTICAS DO JORNALISTA JORGE SERRÃO

 
Exclusivo – O Ministério Público Federal vai cobrar do governo por que motivo José Dirceu de Oliveira e Silva se aproveita de benesses oficiais, mesmo não sendo servidor público.
Uma das cinco divisões dentro da Polícia Federal flagrou Dirceu sendo transportado, constantemente, em um luxuoso Chevrolet Ômega blindado, com placa não oficial, cedido à Presidência da República em regime de comodato pela General Motors.

Tão grave quanto a mordomia ao ilustre condenado no Mensalão é o fato de ele se comportar, em orgãos públicos, como se ainda fosse membro do governo.
 
O MPF já tem detalhes de um episódio abafado, ocorrido uns sete meses atrás, no setor reservado ao embarque de autoridades do Aeroporto Internacional Franco Montoro, em Guarulhos.
Dirceu cometeu o equívoco de tentar viajar levando, sem declarar oficialmente, 35 mil Euros. Acabou barrado por um servidor da Receita Federal – que apreendeu o dinheiro. Como Dirceu ainda tem poder, o funcionário que o prejudicou foi “promovido” com a transferência de Cumbica para o Aeroporto dos Guararapes, em Recife.

O cerco a Dirceu só não está pior que os ataques fatais a Luiz Inácio Lula da Silva. Agora o Procurador-Geral da República tem todos os motivos do mundo para convocar o ex-Presidente para um amplo depoimento sobre vários assuntos relacionados aos crimes de corrupção, formação de quadrilha e tráfico de influência nos escândalos do Mensalão e no Rosegate.
 
Vazou para o Estadão o bombástico depoimento de 3h 30min, com cabalísticas 13 páginas, dado por Marcos Valério Fernandes de Souza ao Ministério Público Federal, em 24 de setembro.

Valério confirmou que Lula era mesmo o chefe do Mensalão. Revelou que Lula deu o ok pessoal para os empréstimos que o PT pegou nos bancos BMG e Rural, com a finalidade de repassar grana aos corruptos da base aliada.
Valério garantiu que o encontro com Lula aconteceu no Palácio do Planalto, na presença de José Dirceu e do tesoureiro Delúbio Soares.
Valério também colocou o então ministro da Fazenda no meio, confidenciando que Lula e Antonio Palocci negociaram com a Portugal Telecom (por ironia, tem a sigla PT) o repasse de recursos para o PT (Partido dos Trabalhadores).

Para piorar – se é que dá -, Valério garantiu que o esquema do Mensalão pagou despesas pessoais de Lula, em 2003, quando o mito já era Presidente.
Valério relatou que a grana era depositada na conta da empresa de um “laranja” da maior confiança de Lula: Freud Godoy. Conhecido como o “faz-tudo de Lula”, Godoy foi assessor presidencial e sempre cuidou da coordenação da segurança das campanhas de Lula.
Valério relatou pelo menos dois depósitos em favor de Lula, via Godoy.

Tão ou mais grave que a revelação de que Lula não só comandava o Mensalão, como também se beneficiava da grana que rolava no esquema de corrupção, foi a séria denúncia contra um dos maiores amigos e principais homens de confiança de Lula.
 
Valério contou ao MPF que sofreu uma ameaça de morte feita por Paulo Okamotto, hoje diretor do Instituto Lula e ex-presidente nacional do Sebrae.
Valério relatou que Okamotto o procurou por ordem de Lula, fazendo a grave advertência, caso o publicitário contasse o que sabia: “Tem gente no PT que acha que a gente devia matar você”. Só faltou Valério completar a frase: a exemplo do que aconteceu com Celso Daniel e outros menos votados...

Hoje Lula e a Presidenta Dilma Rousseff terão uma reunião de extrema tensão em Paris, na França. Lula já sabe que, no retorno ao Brasil, pode ter surpresas desagradáveis.
Roberto Gurgel, cuja compleição física lembra o Jô Soares e o Papai Noel, tem tudo para dar o presente mais amargo que Lula nunca antes recebeu em toda a história deste País de Tolos e Corruptos.
Gurgel vai botar Lula para falar sobre o Mensalão e sobre o batom na cueca do Rosegate. Provavelmente, por causa do depoimento de Marcos Valério e das safadezas reveladas sobre a atuação de Rosemary Nóvoa Noronha na chefia do gabinete presidencial paralelo de São Paulo, Lula, familiares e amigos mais próximos podem ter seus sigilos bancário, telefônico e fiscal quebrados.
Já detonado no Mensalão, Dirceu também deve entrar no mesmo rolo.

Se Gurgel agir como tem o dever de fazê-lo, o presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, fica em plenas condições de fazer andar o Processo Investigatório 2.474 que expõe as relações de negócios entre o PT, o Banco BMG, e o mito Lula.
 
Diante de tantos fatos novos e graves, Barbosa tem mais que nunca a obrigação de tirar do segredo tal processo, com 77 volumes, que hoje é a maior preocupação de Lula. O caso dormita desde 2007 no Supremo. A decisão de Barbosa deve ficar para o ano que vem.

O mito Lula vive seu momento mais infernal. Até hoje nunca foi seriamente investigado por nada e, milagrosamente e por conveniências polític, econômicas e conjunturais, foi poupado de envolvimento no Mensalão. agora, como Lula nada mais é que um ex-Presidente, sem foro privilegiado ou imunidade parlamentar, terá de se acertar com a Justiça – aquela que, infelizmente, tarda e falha no Brasil. Pelo menos para Lula e a cúpula do PT, parece que a famosa Profecia Maia sobre o “fim do mundo” já é uma realidade mais que concreta.

Rumo à ruptura institucional

A programada guerra entre o Legislativo e o Judiciário, com o Executivo apanhando no meio, já é uma triste realidade no Brasil.

O presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia (PT-RS), advertiu ontem que o Brasil pode mergulhar em uma crise institucional caso o Supremo Tribunal Federal (STF) decida cassar os três deputados condenados no processo do mensalão (João Paulo Cunha, Valdemar Costa Neto e Pedro Henry).

A tendência é que o STF decida pela cassação dos parlamentares e ainda impeça José Genoíno de tomar posse como suplente do PT.

Profecia Maia?

Maia já anunciou até sua profecia de que a Câmara não seguirá a ordem do STF:

"Não estamos numa ditadura onde a Constituição não é respeitada. Se o STF cassar os parlamentares, isso será inconstitucional. Quem cassa mandato de deputado é o parlamento. Pode não se cumprir a medida tomada pelo STF. E fazendo com que o processo (de cassação) tramite na Câmara dos Deputados, normalmente, como prevê a Constituição. Isso não é desobedecer ao STF. É obedecer à Constituição”.

A vice-presidente da Câmara, deputada Rose de Freitas (PMDB-ES) também deu uma cutucada no STF:

A Câmara dá a última palavra, é prerrogativa da Câmara. Quem cassa (mandato) é o Congresso. É, no mínimo, uma situação bastante incômoda. O (presidente do STF) Joaquim Barbosa tem declaração dizendo que espera que a Câmara não passe por cima (da decisão do STF) protegendo deputados julgados como inidôneos, como corruptos. Nós nunca dissemos: "espero que tribunal faça isso, faça aquilo”, até porque escrevemos as leis que eles têm que seguir”.

Desempate nesta quarta

O rolo se define ou se agrava amanhã, quando vota o ministro Celso de Mello.

O decano do STF já sinalizou que seguirá o entendimento de Joaquim Barbosa para cassar os mandatos dos condenados no Mensalão, sem o consentimento da Câmara.

Ninguém se surpreenda se, na redação final da decisão, para evitar um quebra-pau institucional, vier escrito que o STF recomenda à Câmara que proceda à cassação dos parlamentares...

Poseidon em ação?
Mensalão... Rosegate... Tudo isto são tumores malignos que fazem nada bem a um grave tratamento pós-câncer...

Vida que segue... Ave atque Vale! Fiquem com Deus.

16 de dezembro de 2012
Jorge Serrão é Jornalista, Radialista, Publicitário e Professor.
alerta total

DILMA COMANDA DEFESA DE LULA, O CORRUPTO MAIOR DO LULISMO






Dilma prepara discurso otimista e PT 'acalma' revoltados para preservar Lula. Planalto comanda defesa do ex-presidente, após avaliação de que oposição quer desconstruir sua imagem para enfraquecer campanha à reeleição; ao mesmo tempo, partido tenta conter insatisfeitos que podem trazer a público novas denúncias
 
Na tentativa de conter o desgaste na seara política, a presidente Dilma Rousseff usará o pronunciamento de fim de ano para fazer um balanço otimista da primeira metade de seu mandato, apesar do fiasco na economia, e destacar que o País criou alicerces para o crescimento. Dilma avalia que a oposição só está empenhada em desconstruir a imagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para enfraquecê-la na disputa pela reeleição, em 2014, e quer mostrar que o Brasil vive hoje uma “nova fase”.

O pronunciamento de Dilma,em rede nacional de rádio e TV, ocorrerá perto do Natal, como de praxe, e será gravado nesta semana. No momento em que a economia tem desempenho pífio, o PT é alvejado pelo julgamento do mensalão e Lula fica na berlinda, denunciado pelo empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, o marqueteiro João Santana alertou o governo sobre a necessidade de jogar os holofotes sobre as conquistas da gestão Dilma.


Ao mesmo tempo, emissários do PT tentam acalmar petistas revoltados, como Rosemary Noronha, ex-chefe de gabinete da Presidência, em São Paulo, Freud Godoy, ex-assessor de Lula, e Paulo Vieira, ex-diretor da Agência Nacional de Águas (ANA). Todos foram flagrados em escândalos, perderam os seus cargos e fazem ameaças veladas de envolver integrantes do governo nas operações irregulares.


A estratégia do Palácio do Planalto para conter o que o PT define como tentativa da oposição de “matar” Lula para atingir Dilma tem várias frentes. Uma delas é a defesa do legado lulista. A outra consiste em tirar projetos parados do papel e criar uma agenda para mostrar que o terceiro ano de governo é sempre melhor. A tática prevê, ainda, o apoio à criação de uma CPI para investigar a “privataria tucana”, em 2013.


O objetivo declarado da CPI,ainda não aprovada, é vasculhar o processo de privatização de estatais no governo Fernando Henrique (1995-2002). Na prática, porém, o PT está dando o troco à ofensiva liderada pelo PSDB, DEM e PPS, que pedem investigação contra Lula na Procuradoria-Geral da República. A representação foi feita depois que Marcos Valério, operador do mensalão, disse ao Ministério Público, em depoimento divulgado pelo Estado,que o esquema da compra de votos parlamentares ajudou a bancar despesas de Lula.


Bandejão.“Parece que ele (Marcos Valério) pegou uma série de fatos e fez um bandejão para ver se colava, mas não há prova de nada”, disse o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. “Trata-se de uma tentativa desesperada de alguém condenado a 40 anos de prisão, no julgamento do Supremo Tribunal Federal, para conseguir pena menor.”


Em viagem internacional, Dilma enviou recado pedindo a ministros, parlamentares e governadores do PT que saíssem em apoio a Lula, como ela própria fez, ao considerar “lamentáveis” as tentativas de desgastar o ex-presidente. No Planalto, auxiliares da presidente afirmam que Lula “é como um gato, que tem sete vidas” e não será acuado por um réu “sem credibilidade”.


O ambiente hostil entre governo e oposição antecipa a briga pela Presidência, daqui a dois anos. “Vamos deixar que o Brasil julgue e avalie se Marcos Valério tem ou não credibilidade”, provocou o senador Aécio Neves (PSDB-MG), pré-candidato tucano à cadeira de Dilma. “O que eu vejo é que esse empresário assusta, e assusta muito, grande parte do PT, que manteve com ele relações muito íntima.”


Enquanto petistas passaram os últimos dias apontando o dedo para o “mensalão tucano”, com origem em Minas, o PSDB explorou os escândalos que chegaram até o escritório da Presidência, em São Paulo. Nomeada por Lula, Rosemary foi demitida por Dilma, mas a máfia dos pareceres fraudulentos desvendada pela Operação Porto Seguro, da Polícia Federal, pode ter ramificações que vão além das agências reguladoras e da Advocacia-Geral da União.


“É preciso um freio de arrumação na política do País e do governo”, afirmou o senador Jorge Viana (PT-AC). “Com tanta coisa que temos para fazer, consumir o tempo com esse enfrentamento estéril não leva a nada.”


Para Viana, Dilma deve aproveitar sua popularidade e andar mais pelo País, em 2013, assim como Lula, que pretende reeditar as “caravanas” feitas nas campanhas.“Ela precisa adotar uma posição firme e dizer a todos que virem essa página do confronto político, para a gente poder trabalhar”, insistiu o senador, que é ex-governador do Acre e tem bom relacionamento com o PSDB.


Nesta semana, porém, uma nova batalha entrará em campo no Congresso, quando a oposição tentará, mais uma vez, pôr o PT na defensiva e aprovar as convocações de Marcos Valério, de Rosemary e do advogado-geral da União, Luís Inácio Adams.


“Estamos numa guerra onde quem bate, leva”, admitiu o líder do PT na Câmara, Jilmar Tatto (SP). Futuro secretário de Transportes da Prefeitura de São Paulo,Tatto foi criticado até no PT pela iniciativa de propor a convocação de Fernando Henrique, que acabou aprovada. “Eu confesso que a capacidade do PT de produzir uma agenda negativa é maior do que nossa capacidade de enfrentá-la”, ironizou Aécio.

16 de dezembro de 2012
Vera Rosa - O Estado de S. Paulo
 

"NA BASE DO IMPROVISO"

 
Investimento segue travado porque empresários perdem confiança num governo que muda as regras sem parar e multiplica ações desconexas

É o capital privado que faz a roda da economia girar mais depressa ou mais devagar. O governo da presidente Dilma Rousseff chega muitas vezes a essa conclusão -mas nunca antes de esgotar e experimentar todas as outras opções.

A privatização de aeroportos, tal como cogitada em 2007, quando Dilma era ministra do governo Lula, acabou implantada parcialmente cinco anos depois, após idas e vindas. Mas a presidente não gostou do resultado, que entregou os terminais de Guarulhos, Brasília e Campinas a consórcios menores.

O processo para outros aeroportos foi adiado, a pretexto de buscar novo formato, com a estatal Infraero como sócia majoritária. Como ninguém no mercado quis pôr dinheiro na aventura, voltou-se atrás -todo um ano desperdiçado.

Eis apenas um exemplo na série de ações e reviravoltas da gestão Dilma, que se acumulam num mosaico incoerente de medidas para reanimar a economia. O que no início parecia disposição ao pragmatismo se reveste agora de falta de estratégia e baixa capacidade técnica da equipe econômica.

O governo federal acertou ao reduzir os juros e o custo do crédito no país. Caminhou também no sentido correto, embora tenha empregado meios estabanados, na intenção de baixar a conta de energia. Quando partiu para uma roleta-russa de incentivos setoriais e intervenções pontuais, Dilma também pareceu improvisar.

Além da cacofonia entre as medidas, o governo solapa a previsibilidade das regras do jogo, convencido de que do seu ativismo brotaria a retomada econômica. Qual será, nos próximos meses, o preço do combustível, o teor de etanol na gasolina, o imposto recolhido para trazer dólares ao país?

Ninguém sabe. O governo pode, sem aviso, alterar esses e outros parâmetros que interferem diretamente na tomada de decisões de longo prazo dos agentes privados. Quem vai investir num ambiente em contínua metamorfose?

Tal é o preço a pagar por uma gestão que minou e cooptou as agências reguladoras, entregues ao aparelhamento e à corrupção. Perdeu-se a noção de que é o conjunto das instituições nacionais, reformadas e atualizadas, o maior fiador da agilidade e da estabilidade nos negócios, bem como da confiança dos empreendedores.

Por falta de investimentos do setor privado, derivada do lapso de confiança no país, o Brasil cresce menos e se distancia da meta de tornar-se uma nação de renda alta em prazo palpável. A soberba intervencionista do Planalto só tem feito ampliar essa desconfiança.

16 de dezembro de 2012
Editorial da Folha

INDEPENDÊNCIA DE GURGEL INCOMODA DILMA, QUE PENSA EM SUBSTITUTO

Desgaste antecipa disputa na Procuradoria-geral da República
 
A atuação da Procuradoria-Geral da República no julgamento do mensalão provocou incômodo no governo federal com o procurador-geral Roberto Gurgel e antecipou entre os seus colegas o debate sobre sua sucessão, seis meses antes da data prevista para o fim de seu mandato.

Conhecidos como os "tuiuiús" antes de chegar ao poder, numa referência à ave pantaneira que tem dificuldade para levantar voo, o grupo que apoiou a escolha de Gurgel em 2009 controla a cúpula do Ministério Público Federal há uma década.

Alan Marques/Folhapress
O procurador geral da República, Roberto Gurgel
O procurador-geral da República, Roberto Gurgel

Mas a independência exibida por Gurgel no processo do mensalão criou incômodo no governo e pôs em risco a continuidade do grupo. O novo procurador-geral será escolhido pela presidente Dilma Rousseff em julho de 2013.

Os "tuiuiús" conseguiram a nomeação dos ex-procuradores-gerais da República Cláudio Fonteles e Antônio Fernando de Souza, autor da denúncia do mensalão, além de Roberto Gurgel, que acompanha o caso atualmente.

Em conversas reservadas, lideranças do grupo manifestam preocupação com o desgaste criado pela posição mais combativa do órgão.

Existem rusgas entre os "tuiuiús". Eles combinaram inicialmente que haveria um rodízio no cargo a cada dois anos, mas Antônio Fernando descumpriu o combinado em 2006 e ficou mais dois anos.

Um integrante do grupo original dos "tuiuiús", o procurador Rodrigo Janot, é um dos cotados para substituir Gurgel. Os nomes de Débora Duprat, vice-procuradora geral, e Raquel Dodge, coordenadora da área criminal, também têm aparecido com força nas discussões internas.

Nunca uma mulher chefiou a Procuradoria. No processo de escolha do procurador-geral, a categoria organiza uma votação e submete ao presidente da República uma lista com os três candidatos mais votados. Dilma poderá escolher quem quiser, ou mesmo ignorar a lista e nomear outro procurador.

No governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva virou tradição respeitar a lista tríplice e sua ordem. Mas o desgaste de Gurgel com o mensalão gerou dúvidas sobre a manutenção da regra.

"Só me importa que o próximo procurador-geral venha da lista tríplice", afirmou o presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR), Alexandre Camanho. "Um procurador que aceitar ser o líder do órgão sem estar na lista seria visto como um traidor."

16 de dezembro de 2012
MATHEUS LEITÃO - Folha de São Paulo

EM ALTO PARAÍSO, NO ESTADO DE GOIÁS, O FIM DO MUNDO É O MÁXIMO

Cidade, que segundo místicos escapará da catástrofe prevista pelos maias, se prepara para receber multidões


Construção em forma de disco voador e um boneco ET na entrada da cidade de Alto Paraíso de Goiás
Foto: Givaldo Barbosa / Agência O Globo
Construção em forma de disco voador e um boneco ET na entrada da cidade de Alto Paraíso de GoiásGivaldo Barbosa / Agência O Globo

Alto Paraíso, GO - O fim do mundo virou conversa de bar em Alto Paraíso. Às vésperas do dia 21 de dezembro, data que, de acordo com o calendário maia, encerra um ciclo de 5.125 anos e marca o fim do planeta, a cidade do interior goiano, encravada na Chapada dos Veadeiros, só pensa nisso.
Não é à toa. Cético ou crédulo, difícil é encontrar algum morador alheio ao assunto.

A crença de que a localização da cidade pode protegê-la do apocalipse fez a venda de terrenos explodir este ano.
As reservas nas pousadas para a próxima sexta-feira estão esgotadas.

Com medo de desabastecimento, a prefeitura orientou a população a estocar comida. Até os que não dão bola para a previsão temem que, pelo menos em Alto Paraíso, o mundo acabe de verdade.

Cortada pelo paralelo 14, que também atravessa Machu Picchu, no Peru, Alto Paraíso fica sobre uma placa de quartzo de quatro mil metros quadrados cercada por rochas e paredões. Os místicos acreditam que a força dos cristais protege a cidade de qualquer Armagedom.
A dúvida é o quanto poderá protegê-la da horda de turistas. A prefeitura estima dez mil, numa cidade com sete mil habitantes.

O trauma da virada de 1999 para 2000 ainda está fresco na memória local. Naquele ano, uma conjunção inédita de astros também profetizava o fim dos tempos.
O resultado foi uma crise de abastecimento nos supermercados e um apagão pela sobrecarga elétrica devido aos três mil turistas.
— Algumas pousadas estão contratando gerador de energia — explica o corretor imobiliário Nilton Kalunga, que se prepara para o seu segundo fim do mundo.

Outra medida é o estoque de comida, incentivado pela prefeitura. O arquiteto alemão Alexander Potratz, que desde 1976 adota o nome Satya, tem um balde de feijão no porão:
— Se o mundo não acabar, eu revendo e ganho em cima. Só não quero ser pego desprevenido — brinca Potratz.
A secretária de Turismo de Alto Paraíso, Fernanda Inês Montes, de 23 anos e piercing no nariz, diz que ruas serão interditadas para impedir o grande fluxo de carros. Hospitais próximos foram avisados para reforçar o plantão.
O batalhão de polícia deverá aumentar o efetivo. Na dúvida, a secretária aconselha:
— Eu mesma tenho comprado velas para o caso de faltar energia elétrica. E, embora não acredite no fim do mundo, minha família, de Minas, vem passar aqui perto de mim.

Em parte devido à crença de que só Alto Paraíso vai se salvar, em parte devido à procura de europeus, o preço dos imóveis na cidade disparou: o metro quadrado de terreno dobrou, em média, de R$ 30 para R$ 60, diz o corretor Nilton Kalunga, dono da principal imobiliária da cidade:
— Nos últimos 40 dias, as vendas cessaram. Efeito do fim do mundo.

Entre as centenas de místicos e religiosos da cidade, poucos creem no fim do mundo no dia 21. Mas acham que não vai demorar.

Juiz aposentado e ufólogo, João Tadeu Severo de Almeida comprou o maior hotel da cidade, reformou os 26 quartos e decorou o espaço com bonecos de extraterrestres e luzes estroboscópicas verdes, pertinentes para quem diz ter avistado ETs em duas ocasiões só este ano.
Para sexta-feira, preparou uma programação especial: contratou o show de um cover de Raul Seixas para o baile “O dia em que a Terra parou” e comprou um estoque de uísque e cerveja.
— Não acredito no fim do mundo para agora, mas acho que está próximo — sentencia.

A cidade terá uma programação de shows. O convidado especial será Paulinho Moska, autor de “O último dia” (Meu amor/ O que você faria se só te restasse esse dia?/ Se o mundo fosse acabar...).

Artistas locais devem se apresentar. Cigarrilha de palha na mão, cabelos encaracolados compridos, o cantor Júnior Tana, estudioso das profecias maias há oito anos, diz que não será no dia 21 o tão temido momento. Tanto que marcou seu show para o dia 22.

Precavido com o primeiro apocalipse frustrado, o corretor Kalunga promete que, para além das grandes catástrofes ou pequenas confusões, uma ida a Alto Paraíso pode virar a cabeça de uma pessoa:

— Se você tiver tendência de ser doido, endoida. Se tiver tendência a virar a mão, vira baitola. Se chega macho, fica feroz. Solteiro, casa. Casado, separa. É tudo devido à energia do cristal.

16 de dezembro de 2012
Guilherme Amado

O STF DEVE SE LEMBRAR DE ADAUTO LÚCIO CARDOSO

 

Se não prevalecerem as almas de bom-senso, o Supremo Tribunal Federal irá para um conflito de poderes com o Congresso por causa dos mensaleiros condenados pela Corte. Por quatro votos contra quatro, está empatada a votação que poderá determinar a cassação dos mandatos de parlamentares delinquentes. O desempate virá do ministro Celso de Mello.
Os juízes do Supremo são os guardiães da Constituição e suas decisões projetam-se sobre o funcionamento das instituições. Se a votação está empatada, é porque a Corte dividiu-se quanto ao nó da questão: o mandato dos mensaleiros é deles ou encarna a vontade de seus eleitores?

Se é deles, uma vez condenados pelo Judiciário, é razoável que o percam, como perderia o emprego um motorista. Se o mandato é dos eleitores, paciência, a decisão é do Legislativo. Essa posição foi serenamente exposta pela ministra Rosa Weber.

Uma trapaça da História jogou em cima do ministro Celso de Mello a questão maior. Seu voto decidirá se o Judiciário pode cassar mandatos a partir de condenações criminais.

Interpretando a legislação da ditadura, o STF mandou para a cadeia o deputado Francisco Pinto por ter chamado o general Augusto Pinochet de ditador. Apequenou-se. Já o Congresso foi fechado em duas ocasiões porque defendeu a sua prerrogativa de julgar parlamentares. Engrandeceu-se.

Hoje, o Supremo está na gloriosa situação que Luiz de Camões chamou de “outro valor mais alto (que) se alevanta”. Fez o que muita gente gostaria que se fizesse e esperava por isso há tempo.

Mesmo assim, a poética camoniana pode ser tóxica para as instituições. Os três Poderes da República são independentes. O Judiciário condena, mas quem cassa é o Congresso. Se o Supremo decidir que os mensaleiros devem perder o mandato, cria-se um desequilíbrio entre os Poderes da República que só tem a ver com as delinquências dos mensaleiros num aspecto pontual.

Estabelece-se uma norma: 11 magistrados escolhidos monocraticamente pelo presidente da República podem cassar mandatos de parlamentares eleitos pelo povo. Essa responsabilidade é temerária e excessiva.

Hoje, se um larápio continua na Câmara ou no Senado, a responsabilidade é do Legislativo. Amanhã, outro Supremo poderá encarcerar outro Chico Pinto.

Ressalvada a diferença entre o regime democrático de hoje e a ditadura envergonhada do governo do marechal Castello Branco, vale relembrar um episódio no qual havia um poder mais alto alevantado.
Em 1966, mesmo tendo garantido que não cassaria mandatos de parlamentares, o Executivo passou a faca em seis deputados.
O presidente da Câmara, Adauto Lúcio Cardoso, recusou-se a aceitar a decisão. Ele não era maluco, era apenas um liberal valente. Enfrentara a esquerda no governo João Goulart e apanhara da polícia de Carlos Lacerda defendendo-a.

O marechal chamou a tropa e Adauto teve o seguinte diálogo com o coronel Meira Mattos, que comandou o sítio:
“Estou admirado de vê-lo aqui, coronel, não para cumprir um decreto, para o cerco ao Congresso”.
“E eu, admirado por sua atitude antirrevolucionária”, respondeu Meira Mattos.
“Eu sou, antes de mais nada, um servidor do poder civil”.
“E eu, deputado, um servidor do poder militar”.

Mais tarde, Castello nomeou Adauto para o Supremo Tribunal e lá ele abandonou a Corte quando seus pares legitimaram a censura à imprensa.

O Poder Judiciário de hoje nada tem a ver com o poder revolucionário do coronel. Sua tropa é a da opinião pública. Hoje, como em 1966, o que está em questão é a independência do Congresso, em cuja defesa Adauto foi a um extremo simbólico. Ele sabia que os seis deputados estavam fritos.
Se a decisão de cassar os mensaleiros ficar com a Câmara, é quase certo que eles perderão os mandatos.

Admita-se, contudo, que isso não aconteça. Dois ministros levantaram essa hipótese. Gilmar Mendes expôs o absurdo que seria a situação de um deputado ter mandato com hora para se apresentar na cadeia.

Joaquim Barbosa foi a um paralelo: “Na vida política dos Estados Unidos, essa discussão sequer chega a ocorrer. Um parlamentar envolvido em crimes tão graves como esses renuncia imediatamente, não permanece na Câmara à espera de uma proteção”.

Barbosa acertou quanto aos costumes, mas a Constituição americana não dá ao Judiciário o poder de cassar mandatos. É comum que os mensaleiros americanos renunciem para não serem expelidos pelas Casas legislativas.

Contudo, indo-se ao cenário extremo do caso brasileiro, nos Estados Unidos ocorre o contrário. Três deputados condenados mantiveram-se nos mandatos. Dois foram reeleitos enquanto estavam na cadeia. O terceiro, Jay Kim, em 1998, foi condenado a um ano de prisão domiciliar por ter embolsado US$ 250 mil pelo caixa dois. Como era deputado, o juiz colocou-lhe uma pulseira eletrônica no tornozelo e ele só podia sair de casa para ir ao Congresso. Foi cassado pelos eleitores, nas prévias de seu partido.

16 de dezembro de 2012
Elio Gaspari, O Globo
 

O CLIMA POLÍTICO ESTÁ RUIM E PODE PIORAR

 

O ano termina e o clima político anda ruim. Piorou nos últimos meses e nada indica que vá melhorar nos próximos.O que provoca esse anuviamento não são as tensões naturais que existem entre oposição e governo. Nada há de extraordinário nelas. Estranho seria se vivessem de acordo.

Está em curso um duplo processo de desmoralização. O primeiro foi concebido para atingir o PT e sua principal liderança, o ex-presidente Lula. O segundo decorre do anterior e afeta o sistema político como um todo.

Alguns diriam que esse é que é grave. Que a campanha anti-PT é circunscrita e tem impacto limitado. Que seria, portanto, menos preocupante.

Pensar assim é, no entanto, um equívoco, pois um leva ao outro.
Em democracias imaturas como a brasileira, todo o sistema partidário sofre quando uma parte é atacada. Mais ainda, se for expressiva.

O PT não é apenas um partido grande. É, de longe, o maior. Sozinho, tem quase o dobro de simpatizantes que todos os demais somados.

Só um ingênuo imaginaria possível um ataque tão bem calibrado que nem um respingo atingisse os vizinhos. Na guerra moderna, talvez existam mísseis de precisão cirúrgica, capazes de liquidar um único individuo. Na política, porém, isso é fantasia.

A oposição institucional o reconhece e não foi ela a começar a demonização do PT. Até enxergou no processo uma oportunidade para ganhar alguma coisa. Mas suas lideranças mais equilibradas sempre perceberam os riscos implícitos.

Como vemos nas pesquisas, a população desconfia dos políticos de todos os partidos. Acha que, na política, não existem santos e todos são pecadores. Quando os avalia, não contrapõe “mocinhos” e “bandidos”.

Com seus telhados de vidro e conscientes de que processos desse tipo podem se tornar perigosos, os partidos de oposição nunca se entusiasmaram com a estratégia.

Foi a oposição extra-partidária quem pisou e continua a pisar no acelerador, supondo que é seu dever fazer aquilo de que se abstiveram os partidos.

Pôs sua parafernália em campo - jornais, redes de televisão, revistas e portais de internet - para fragilizar a imagem do PT. A escandalização do julgamento do mensalão foi o caminho.

Como argumento para esconder a parcialidade, fingem dar importância à ética que sistematicamente ignoraram e que, por conveniência, sacam da algibeira quando entendem ser útil.
Quem duvidar, que pesquise de que lado tradicionalmente estiveram as corporações da indústria de mídia ao longo de nossa história.

Os resultados da eleição municipal deste ano e os prognósticos para a sucessão presidencial em 2014 mostram que a escalada contra o PT não foi, até agora, eficaz.

Sempre existiu um sentimento anti-democrático no pensamento conservador brasileiro. Desde a República Velha, uma parte da elite se pergunta se nosso povo está “preparado para a democracia”. E responde que não.

Que ele precisa de tutores, “pessoas de bem” que o protejam dos “demagogos”. É uma cantilena que já dura mais de cem anos, mas que até hoje possui defensores.

A frustração da oposição, especialmente de seus segmentos mais reacionários, a aproxima cada vez mais da aversão à democracia. Só não vê quem não quer como estão se disseminando os argumentos autoritários.

Embora acuados, cabe aos políticos reagir. É a ideia de representação e o conjunto do sistema partidário que estão sendo alvejados e não somente o PT.

Para concluir com uma nota de otimismo: são positivos alguns sinais que vieram do Congresso esta semana. Embora mantenham, para consumo externo, um discurso cautelosamente radical, as principais lideranças do governo e da oposição trabalham para evitar confrontações desnecessárias.

Forma-se uma vasta maioria no Parlamento em defesa do Poder Legislativo, ameaçado de perder prerrogativas essenciais à democracia. Quem decide a respeito dos representantes do povo são os representantes do povo, como está na Constituição.

16 de dezembro de 2012
Marcos Coimbra é sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi

LULA E O FIM DO MUNDO

 

Garante o calendário maia que o mundo vai acabar na próxima sexta-feira, dia 21. Era para ser em 2011, mas houve erros nos cálculos. Agora, asseguram: desta semana não passa.

Mas se o iminente fim do mundo pode justificar desvarios de comportamento, como descreveu Assis Valente na bem-humorada canção “E o mundo não se acabou”, nada justifica o descaramento das reações que se viu em defesa de Lula desde que o jornal O Estado de S. Paulo publicou o teor do depoimento do réu condenado Marcos Valério, feito em setembro ao Ministério Público.

Da presidente Dilma Rousseff ao ex José Sarney (PMDB-AP), de ministros de Estado e a um rol de parlamentares petistas e aliados, todos seguiram à risca, e em coro, o mesmo script: defender o legado de Lula, denunciar o preconceito das elites contra um presidente operário, desqualificar o delator (que até recentemente era um servil aliado), demonizar a mídia conservadora, acusar o Ministério Público e o Judiciário.

Lula de nada disso precisaria se não tivesse beijado a boca de quem não devia.

A conhecida ladainha repetida durante a semana não completa nem o primeiro terço. O depoimento de Valério ao MP pode ou não ser verdade, o que só uma investigação dirá. Mas é notícia, e como tal foi tratado.

E nele nada há contra o Lula operário e sim sobre o tipo de esquema engendrado para se perpetuar no poder, algo já escancarado pela Suprema Corte durante o julgamento do mensalão. Apenas reacendeu-se a dúvida razoável se Lula sabia ou não do que fora arquitetado embaixo de seu nariz.

É certo que envolver o pagamento de contas pessoais no imbróglio faz o alerta vermelho soar. Mas esses, mesmo que tenham existido, dificilmente terão deixado rastros. Então, não há de fato com o que se preocupar.

Ou há? Já um depósito de gente do PT na conta do advogado de Valério pode ser mais difícil de explicar. Por que o PT pagaria o defensor de quem o PT chama de delinquente?

Talvez o nervosismo que tomou conta de todos e fez disparar as baterias em defesa de Lula e de ataque à tríade inimiga mídia-MP-Justiça se deva a outro processo: a operação Porto Seguro.

Na sexta-feira, o MP indiciou Rosemary Noronha, ex-chefe do gabinete da Presidência em São Paulo, protegida de Lula, e outros 23. Os crimes dessa trupe são de mais fácil compreensão do grande público. E deles, Lula está ainda mais perto.

Tanto é assim que a tropa de choque petista impediu que Rose e os irmãos Vieira, demitidos por Dilma na primeira hora, fossem a comissões da Câmara dos Deputados. Só não explicaram o porquê da blindagem a ex-funcionários. Coisa mesmo de fim do mundo.



 16 de dezembro de 2012
Mary Zaidan é jornalista, trabalhou nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, em Brasília.

DÂNDIS E MALABARISTAS DA POLÍTICA

 

O convívio intenso e longo com o poder tem um poderoso efeito narcotizante. Transforma pessoas simples e humildes, gente com histórias iguais a de seus semelhantes, em “deuses” de um Olimpo.A figura dos “olimpianos”, vale lembrar, foi emoldurada pelo sociólogo francês, Edgar Morin (Cultura de Massas no Século XX). Agrupa as celebridades das esferas das artes, do lazer, da cultura e da política, como artistas, músicos, reis, rainhas e princesas.
 
Nas últimas décadas, o habitat das celebridades se expandiu na esteira do Estado circense, onde os atores políticos se engalfinham na luta por maior visibilidade. Ao verem holofotes midiáticos correm em sua direção, na perspectiva de ganhar espaço e adornar a imagem.
 
E assim, os palcos da representação política se transformam em espelhos de Narciso, jogando os seus participantes na armadilha do falso retrato, da autocontemplação. Os homens públicos, daqui e d’alhures, acabam afixados à moldura narcisista.
 
Como conta a lenda, Narciso foi condenado pelos deuses a se apaixonar pela própria imagem. Tomou-se de amores pela imagem quando se contemplava nas águas transparentes de uma fonte. Obcecado pelo reflexo, Narciso não mais se afastava da fonte, definhando ali até a morte.
 
Hoje, ele se refestela na fosforescência do Estado-Midiático. Como lembra Roger-Gérard Schwartzenberg, em seu clássico O Estado-Espetáculo, os profissionais do espetáculo e da política compartilham frequentemente as mesmas atitudes e os mesmos vezos, como se, diante de problemas de representação comparáveis, “reagissem recorrendo a procedimentos análogos.”
 
O Brasil está recheado de narcisistas, pessoas fascinadas pelo seu próprio brilho, um brilho ilusório, porque muitas perderam o poder, mas não o orgulho.
 
Que tipo de mal os narcisistas cometem contra si mesmos e contra a sociedade? O maior dos males é o da inação, o da inércia, o da perda do sentido de realidade. Presos no simulacro do poder, exibem um prestígio falso, que frequentemente conduz ao ócio.
 
Aliás, praestigium, do latim, significa nada mais nada menos que artifício, ilusão, malabarismo. Os malabaristas da política promovem a mistificação das massas, fazendo-as crer que o discurso é a ação, o verbo é a obra, a palavra é sinônimo de verdade.
 
Muitos se transformam em dândis, com seu prazer em surpreender, espantar. O mestre Baudelaire dizia: “creio que existe na ação política certa dose de provocação, por ser preciso suscitar uma reação”.
 
O dândi quer chamar a atenção, provocar, criar impacto. E, não raro, cai no exagero, fazendo da estética sua ação política mais forte. É useiro e vezeiro na arte do exagero. O dandismo é chegado à verborragia. Por isso, seus cultores são também conhecidos por exagerar na expressão.
 
Ademais, a cultura oral é uma das tradições mais ricas de nosso país, como demonstra a mais fecunda e abrangente obra sobre a cultura popular brasileira, do incomparável Luís da Câmara Cascudo, um patrimônio do Rio Grande do Norte.
 
A tradição de oralidade penetrou profundamente nas veias, mentes e corações da representação política, a ponto de se atribuir, por muito tempo, a grandeza dos homens públicos não aos projetos e feitos empreendidos, mas ao domínio do verbo no palanque ou na tribuna parlamentar.
 
Duas historinhas mostram os polos do discurso tradicional da política. A primeira é a do baiano, embevecido com a retórica complicada de seu candidato em comício numa pequena cidade interiorana. Não se cansou de bater palmas, concluindo categórico: “não entendi nada do que o homem falou, mas falou bonito; vai levar meu voto”.
 
A segunda historinha é a do candidato, que, arrebatado, enérgico, espumando de civismo, discorria sobre o sentido da liberdade. Argumentava que um povo livre sabe escolher os seus caminhos, seus governantes, eleger os seus vereadores, prefeitos e deputados. Para entusiasmar a multidão, levou um passarinho numa gaiola, que deveria ser solto no clímax do discurso.
 
No momento certo, tirou o passarinho da gaiola, e com ele na mão direita, jogou o verbo: “a liberdade é o sonho do homem, o desejo de construir seu espaço, sua vida, com orgulho, sem subserviência, sem opressão; Deus (citar Deus é sempre bom) nos deu a liberdade para fazermos dela o instrumento de nossa dignidade; quero que todos vocês, hoje, aqui e agora, comprometam-se com o ideal do homem livre. Para simbolizar esse compromisso, vamos aplaudir soltar esse passarinho, que vai ganhar o céu da liberdade”.
 
Ao abrir a mão, esmagara o passarinho. A frustração por ter matado o bichinho acabou com a euforia e as vaias substituíram os aplausos. Foi um desastre. É sempre assim quando não se controla a emoção. Em se tratando do discurso político, a emoção mata frequentemente a razão.
 
Juntando-se, então, o narcisista e o demagogo, o verborrágico e o reizinho cheio de empáfia, chega-se à receita do perfil que ainda teima em se apresentar às massas nacionais.
 
É o encontro do ruim com o pior, de Narciso com aquela figura canhestra – Justo Veríssimo - tão bem caracterizada pelo inesquecível Chico Anísio.
 
E quando isso ocorre, a política volta a ser aquilo que Paul Valéry mais temia: “a arte de impedir que as pessoas cuidem do que lhes dizem respeito”. Nesses tempos de grande influência da mídia, é bom ter cuidado, porque a espetacularização da política pode significar a ruína dos atores.
 
Não enganam mais como antigamente; são pegos quando escondem o lixo debaixo do tapete; e flagrados quando a maquiagem procura disfarçar a deficiência do pensamento. Como mostram esses tempos de denúncias e escândalos.
 
Neste apagar de luzes de 2012, reflitamos sobre o exercício da representação coletiva. Muito cuidado com os efeitos mágicos do Estado-Espetáculo. Luis XIV costumava lembrar que “os povos gostam do espetáculo; através dele, dominamos seu espírito e seu coração”.
 
Mas há um limite para tudo. Um dia, mais cedo ou mais tarde, o povo, cansado de ver tanto malabarismo, fará a mágica que nenhum representante gostaria de ver: mandá-lo de volta para sua casa sem o passaporte do mandato popular.

16 de dezembro de 2012
Gaudêncio Torquato, jornalista, professor titular da USP, consultor político e de comunicação

SORO DA VERDADE

 

Só na semana passada foram três os casos de acusados interessados em entregar o ouro aos mocinhos.
Parece efeito colateral do julgamento do processo do mensalão, cujo rigor no trato do Supremo Tribunal Federal terá repercussão em outras instâncias do Judiciário e pelo jeito funciona como uma espécie de soro da verdade.

Condenado a 40 anos de prisão, Marcos Valério Fernandes de Souza deu dois depoimentos (um ainda não divulgado) à Procuradoria-Geral da República com novas informações para tentar um alívio na execução da pena já recebida e obter benefícios nos outros processos a que responde.

Condenado a 39 anos de cadeia, Carlos Augusto de Almeida Ramos ameaça atuar como "garganta profunda" - o responsável por revelar ao jornal The Washington Post detalhes sobre o caso Watergate - apontando vínculos de integrantes da CPI do Cachoeira com a construtora Delta, em troca de prêmio pela delação.

Acusado de ser o chefe de uma quadrilha que fraudava pareceres e traficava influência no governo federal, Paulo Rodrigues Vieira trocou de advogado (o antigo era ligado a Márcio Thomaz Bastos) e analisa se não seria vantajoso para ele denunciar "gente mais graúda" implicada no inquérito da Operação Porto Seguro.

Indiciada por formação de quadrilha em decorrência da mesma investigação, Rosemary Noronha arrisca-se a ser processada por este e outros crimes como corrupção passiva, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro.

Se condenada, somadas as penas - considerando a dosimetria mínima e sem levar em conta os possíveis agravantes - seriam nove anos e quatro meses de prisão. Em regime fechado, como aprendemos que ocorre quando a condenação é superior a oito anos.

Na avaliação de quem entende desse tipo de riscado, Rose está hoje mais ou menos na situação de Marcos Valério em 2005: pode acreditar na eficácia da rede de proteção prometida a ele e na expectativa de que não haja penalidade tão pesada ou pode fazer um acordo com o Ministério Público a fim de se livrar do regime fechado.

Para Marcos Valério, pode ser tarde em relação à ação principal, já em fase de conclusão. Mas, para Rose e outros implicados, a hora é essa.

Palanque. Não foi ao acaso que Lula introduziu um "caco" sobre possível candidatura no discurso a empresários, na França.

Sinalizou que pode enveredar por esse caminho para mobilizar apoios nos campos político, empresarial e na sociedade. Não necessariamente para se candidatar mesmo, mas para motivar as pessoas em torno de sua figura com um tema que não envolva escândalos.

Seria uma tentativa de repetir a volta por cima dada em 2006 depois do escândalo que atingiu o PT no ano anterior.

Os tempos, no entanto, são outros. Na época a economia ia de bem a melhor, o mensalão ainda merecia do eleitorado o benefício da dúvida e a eleição estava relativamente próxima.

A ideia de Lula sair pelo País em "caravana" seria uma forma de preencher o vazio eleitoral de 2013.
Eco do passado. Em 1994, o então presidente do Senado, Humberto Lucena, foi condenado à perda do mandato, em decisão do Tribunal Superior Eleitoral confirmada pelo Supremo, mas acabou sendo anistiado pelo Congresso.

Lucena teve o registro da candidatura na eleição daquele ano cancelado pelo TSE por abuso do poder econômico porque usou a gráfica do Senado para imprimir 130 mil calendários de propaganda eleitoral na Paraíba, para onde enviou o material por meio da franquia postal do Senado.

Em outubro, concorreu sub judice e foi declarado inelegível por três anos em novembro de 1994. Em dezembro o Congresso aprovou projeto de anistia. Transformado em lei (8.985), permitiu a Lucena concluir tranquilamente seu mandato.

16 de dezembro de 2012
DORA KRAMER - O Estado de S.Paulo

MINISTRO CONDENA FRASES ATRIBUÍDAS A CLARICE LISPECTOR NO FACEBOOK

Barbosa anunciou pena de dois anos de reclusão para aqueles que postarem fotos de refeições no instagram


Após julgar o Fim do Mundo inconstitucional, o presidente do STF, Joaquim Barbosa, anunciou punição severa para quem atribuir frases de efeito a Clarice Lispector no Facebook. "Pelos poderes de Macabéa, condeno aqueles que difamam a obra de Clarice com frases de auto-ajuda a ler em voz alta Marimbondos de Fogo, de José Sarney".


 Assim que concluiu a sentença, houve certo tumulto entre os ministros. Ricardo Levandowski tirou um livro de baixo da mesa e leu, elevando a voz: "Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro".

Ao saber da decisão, Ayres Britto divulgou imediatamente uma mensagem pelo twitter: "Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento." "Causa-me espécie", reagiu Barbosa.

Uma senhora da plateia que havia sussurrado a frase "vencer não é competir com o outro, é derrotar seus inimigos interiores" foi levada pela Polícia Federal para prestar esclarecimentos. Dois estagiários desligaram seus iPhones imediatamente.

Luís Fernando Veríssimo, Arnaldo Jabor e Dalai Lama entraram com representação no STF para que seus nomes sejam considerados por Barbosa.

Ao saber da decisão do ministro, o advogado de José Dirceu, José Luis de Oliveira, convocou uma coletiva às pressas. Diante de uma centena de repórteres, abriu o romance Perto do Coração Selvagem e declamou: "Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome". A seguir, encerrou a entrevista: "José Dirceu deseja um Feliz Natal a todos".

Minutos depois que a decisão entrou em vigor, o tráfego do Facebook caiu 97,9%. "Ninguém quer se arriscar", disse um especialista em direito penal que não quis se identificar.

16 de deembro de 2012
The i-piaui Herald

TUDO QUE FICA EM 'SIGILO' DÁ CÂNCER, ENGORDA OU É IMORAL...

Planalto não reduz ‘farra’ com cartão de crédito

Nem o “pibinho” contém a gula da Presidência da República, que já torrou R$ 7 milhões com cartões corporativos até abril de 2012 – últimos dados disponíveis no Portal da Transparência do governo federal.
Os gastos, sigilosos em nome da “segurança do Estado”, consumiram R$ 16, 9 milhões nos doze meses de 2011.
Mantido o ritmo nos próximos oito meses, a “farra” poderá se superar em 2012.

Ela tinha um

Os gastos com cartões corporativos estão sob sigilo desde o governo Lula. E pensar que Rosemary Noronha também tinha cartão...

16 de dezembro de 2012

TODA HONRA E MUITOS EUROS PARA O ASSASSINO RAONI


Ano passado, um leitor me enviou notícia sobre o cacique Raoni Metuktire, que recebeu o título de cidadão honorário de Paris. A capital da França, como salienta o redator, supondo que os leitores contemporâneos já não mais saibam que Paris é a capital da França.

Raoni estava no país em campanha pela suspensão das obras da Usina de Belo Monte, no Rio Xingu (PA). A prefeitura de Paris informou que a escolha de Raoni foi feita baseada na atuação em defesa da Floresta Amazônica e dos povos indígenas do Brasil.
Os franceses o consideram uma espécie de símbolo de luta pelos direitos humanos, pelo desenvolvimento sustentável e pela conservação da biodiversidade. Raoni é 12º cidadão honorário de Paris. Ao receber o título, Raoni usava trajes indígenas.

Raoni, se alguém não lembra, é aquele cacique que, nos anos 80, exibia orgulhosamente aos jornais a borduna com que matou onze peões de uma fazenda. Não só permaneceu impune, totalmente alheio à legislação brasileira, como foi recebido com honras de chefe de Estado na Europa. O papa João Paulo II, François Mitterrand e os reis da Espanha, entre outros, o receberam como líder indígena. Raoni, com seus belfos, se deu inclusive ao luxo de expor sua pintura em Paris.

Um dos quadros do assassino atingiu US$ 1.600 em uma lista de preços que começava a partir de mil dólares. No final do ano passado, Raoni recebeu o título de Dr. Honoris Causa pela UFMT (Universidade Federal do Mato Grosso).
Enfim, isso de universidades homenagear assassinos está virando praxe acadêmica. Fidel Ruz Castro também é Dr. Honoris Causa pela UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina.

Mas, pelo jeito, estadista nenhum se informou sobre a vida pregressa do cacique. Enfim, nestas décadas em que estadistas apertam a mão e abraçam um Kadafi, matar onze peões não é currículo. Os europeus, que há muito acham que o Brasil está invadindo a Amazônia (ouvi este papo de minha professora de sueco, em 1971, em Estocolmo), estão sempre dispostos a apoiar qualquer celebridade que lute contra represas e estradas no Terceiro Mundo.

Leio nos jornais que Raoni continua enganando na Europa. Na quinta-feira passada, finalizou em Paris sua campanha “Amazônia em Risco” com uma boa notícia. Ele conseguiu arrecadar quase 18 mil euros - cerca de 48 mil reais -, para construir uma aldeia indígena na fronteira entre o Mato Grosso e o Pará. O local servirá como proteção da área onde vive a tribo caiapó que estaria ameaçada e tem sido alvo de conflitos intensos.

Detalhe: no começou de sua carreira como líder indígena, Raoni era txucarramãe. Por razões que fogem ao humano entendimento, de repente virou caiapó. A verdade é que nem a imprensa nacional lembra que o cacique matou onze homens indefesos e muito se orgulha. Só lembra quem tem essa mania detestável de consultar arquivos do passado.

Nas duas últimas semanas, o líder indígena encontrou o presidente François Hollande e com o presidente da Comissão Europeia, João Manuel Barroso, na França, além de se reunir com representantes de associações de defesa de meio ambiente na Suíça e na Holanda. Na pauta do cacique estavam a preservação da Floresta Amazônica, a proteção dos povos indígenas e a controversa construção da usina hidrelétrica de Belo Monte cujas obras foram iniciadas em junho de 2011.

Há alguns anos, vi uma reportagem no 60 Minutes sobre uma região da Índia que abrigava quarenta milhões de habitantes. O programa começava mostrando mulheres e crianças carregando em baldes, para próprio consumo, uma água preta e lamacenta. Outras juntavam esterco de vaca, usado como combustível.

Havia um projeto de uma represa para abastecer de energia elétrica e água potável a região toda. Uma ONG vetou o projeto junto ao Banco Mundial, com a argumentação de que a represa ameaçava uma espécie qualquer de tigre. A represa gorou e quarenta milhões de pessoas continuaram a beber água podre e cozinhar com esterco de vaca.

A reportagem entrevistava em Nova York, em um elegante apartamento, a porta-voz da ONG que conseguiu sepultar a represa. Não sei se a moça percebeu a ironia, mas o repórter a filma enchendo um copo de límpida água de torneira.

O repórter quer saber porque privar milhões de pessoas de água limpa. A moça dizia mais ou menos o seguinte (cito de memória): não queremos que aquelas populações adquiram os hábitos de consumo do Ocidente. É como se dissesse: esses hábitos do Ocidente são privilégios de ocidentais. Vocês aí, continuem catando esterco de vaca.

Nos dias em que vivi no Paraná, durante semanas foi vedete dos noticiários televisivos um pequeno pássaro, uma espécie de pardal, que estaria ameaçado de extinção. Chamava-se curiango-do-banhado e habitava nos arredores de Curitiba.

Durante longos minutos, o bichinho era exibido em seus ângulos mais simpáticos, sempre com a mensagem: corre perigo de extinção. Ano seguinte, foi a vez de uma nova espécie de tapaculo, da família Rhinocryptidae, batizada com o nome popular de macuquinho-da-várzea. Também vivia nos arredores de Curitiba.
Algumas semanas mais tarde se soube ao que vinham o curiango-do-banhado e o macuquinho-da-várzea. Para preservá-los, era preciso preservar seu habitat natural. E para preservar seu habitat natural, as tais de ONGs fizeram uma ferrenha campanha para impedir a construção de uma barragem que abasteceria a capital paranaense.

Os ativistas do Primeiro Mundo sempre apoiarão qualquer vivaldino – não importa quantos tenha assassinado – que defendem causas que impedem ou retardam o desenvolvimento do Terceiro Mundo.

Imagine alguém exigindo a paralisação da construção de uma usina hidrelétrica na França, Alemanha ou Estados Unidos, logo nestes dias em que a energia nuclear vem sendo contestada.
Seria tido como insano. Mas se a represa – ou usina – for no Brasil, é atentado ao meio-ambiente e aos “povos da floresta”, como agora se convencionou chamar os bugres.

Toda honra e toda glória – e também euros – ao assassino Raoni.


16 de dezembro de 2012
janer cristaldo

QUEBRADEIRA DE OVOS


          Artigos - Governo do PT 
Somam-se tenebrosas ameaças de regular a atividade da imprensa - o chamado marco regulatório - e agendam-se vigorosas manifestações em favor de José Dirceu e outras lideranças. É o povo nas ruas? Não. Claro que não. Não se confunda povo com militantes.

"Não se fazem omeletes sem quebrar ovos" é um conhecido provérbio português de muita conveniência e larga aplicação em todo exercício delinquente do poder. Ele pretende, cinicamente, justificar a "necessidade" de fazer o mal. Assim, quebravam ovos os que, nos anos 60 e 70 do século passado, se valiam da tortura e abusavam da violência institucionalizada.
Quebravam ovos os guerrilheiros e terroristas que, além de executar opositores e traidores, explodiam bombas, sequestravam personalidades, assaltavam joalherias, bancos e residências. O êxito da "causa" era a grande omelete que a história serviria aos vitoriosos nas luzidias baixelas do poder.
Em nome dela consideravam legítimo meter um revólver na cara do caixa do banco. Muitos viveram, desse modo, décadas inteiras. A serviço da causa. E às custas de ovos alheios.

Trinta anos depois, a democracia - ora vejam só! - entregou serenamente o poder aos quebradores de ovos derrotados pelas armas naqueles tempos loucos. Foi um toma lá sem qualquer dá cá. Tudo free.
Os minuciosos relatos que se sucedem nos últimos meses, reportando-se, vários deles, aos primeiros movimentos dos novos mandatários, ainda em 2002, revelam uma firme disposição de continuarem quebrando ovos como forma, já então, de preservar o poder conquistado.

O mensalão exigiu jornada dupla de trabalho no galinheiro. O financiamento de campanhas eleitorais, partidárias e pessoais nã
o deixou por menos. A profecia de José Dirceu - ou terá sido Zaratustra? -, segundo a qual "o PT governará o país por pelo menos vinte anos", exigia a quebradeira. Quem não entender isso não entenderá patavina do que aconteceu e do que vem por aí.

Não entenderá, por exemplo, como foi que a palavra "malfeitos" entrou no vocabulário nacional e foi adotada por parcela da imprensa, expulsando a expressão "atos de corrupção". Acontece que "malfeitos" soa como traquinagem de adultos, gente boa mas leviana. É muito menos nociva do que formação de quadrilha ou corrupção. Também na imprensa há quem quebre ovos da informação para o bem da causa.

Tem chamado atenção a vigorosa blindagem proporcionada ao ex-presidente Lula, suas persistentes negativas, e o furioso enfrentamento que seu partido trava ante o STF, a mídia e o jornalismo independente. Somam-se tenebrosas ameaças de regular a atividade da imprensa - o chamado marco regulatório - e agendam-se vigorosas manifestações em favor de José Dirceu e outras lideranças.

É o povo nas ruas? Não. Claro que não. Não se confunda povo com militantes. O povo não está para essas coisas. Homens e mulheres do povo estão ocupados com seus afazeres, com suas famílias. Os estudantes do povo estudam. Os agricultores do povo plantam e velam por suas colheitas. Só os militantes é que se arregimentam ao estalar de dedos do comando político, até mesmo para coisas tão abomináveis quanto defender meliantes.

Exagero? Não. Exagerada foi a quebradeira de ovos. Demasiada é a incoerência do ministro Gilberto Carvalho desqualificando as denúncias de Marcos Valério por provirem de alguém condenado a 40 anos de prisão. Mas que diabos, para quem trabalhava o careca? Não é o partido do ministro e o próprio Lula que afirmam não haver ocorrido crime algum? Então, para vocês, Gilberto Carvalho, o publicitário Marcos Valério é inocente como bebê de berçário! Será preciso, também, quebrar os ovos da nossa paciência e da lógica mais elementar?
 
16 de dezembro de 2012
Percival Puggina
Publicado no jornal Zero Hora.