Divulgação de gastos no ‘recesso’ irritou Dilma.
Dilma ficou “muito irritada” com a revelação de que seu “recesso” com parentes e amigos na base naval de Aratu (BA) custou R$657,9 mil aos cofres públicos, disse fonte de seu staff à coluna.
O site Contas Abertas mostrou a compra de oito TVs, sete DVDs, home theater, computador e cortinas de R$37,3 mil.
Em 2010, a estadia de Lula custou R$ 2 milhões, mas a Marinha só admitiu R$800 mil para “reforma estrutural”.
(Claudio Humberto).
Um painel político do momento histórico em que vivem o país e o mundo. Pretende ser um observatório dos principais acontecimentos que dominam o cenário político nacional e internacional, e um canal de denúncias da corrupção e da violência, que afrontam a cidadania. Este não é um blog partidário, visto que partidos não representam idéias, mas interesses de grupos, e servem apenas para encobrir o oportunismo político de bandidos. Não obstante, seguimos o caminho da direita. Semitam rectam.
"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)
"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
domingo, 1 de janeiro de 2012
QUANTO CUSTA O CONGRESSO NACIONAL?
CONGRESSO NACIONAL E A CASA DA MOEDA...
Congresso custou R$ 6,1 bi em 2011
A ONG Contas Abertas divulgou um estudo, feito a pedido do R7, onde demonstra que o Congresso Nacional custou cerca de seis bilhões ao erário em 2011. Segundo o documento, só o Senado gastou R$ 2,8 bilhões de janeiro a 30 de novembro do ano passado. Já a Câmara dos Deputados, gastou R$ 3,3 bilhões no mesmo período.
A verba foi usada na compra de materiais e pagamentos de salários, indenizações e aposentadoria para servidores.
Em 2010, o gasto foi de R$ 5,4 bilhões nos onze primeiros meses. Desta forma, houve um aumento de quase R$ 800 milhões nos gastos de 2011.
Neste ano, o Congresso deve gastar mais ainda porque está prevista e autorizada uma nova edição do concurso do Senado com 246 vagas abertas para cargos de nível superior. Os selecionados receberão salários que chegam a R$ 23,8 mil.
Claudio Humberto
* * *
AQUI SE FAZ , AQUI SE PAGA - JÁ OS APOSENTADOS ,. . . #@$&*§
Congresso custou R$ 6,1 bi em 2011
A ONG Contas Abertas divulgou um estudo, feito a pedido do R7, onde demonstra que o Congresso Nacional custou cerca de seis bilhões ao erário em 2011. Segundo o documento, só o Senado gastou R$ 2,8 bilhões de janeiro a 30 de novembro do ano passado. Já a Câmara dos Deputados, gastou R$ 3,3 bilhões no mesmo período.
A verba foi usada na compra de materiais e pagamentos de salários, indenizações e aposentadoria para servidores.
Em 2010, o gasto foi de R$ 5,4 bilhões nos onze primeiros meses. Desta forma, houve um aumento de quase R$ 800 milhões nos gastos de 2011.
Neste ano, o Congresso deve gastar mais ainda porque está prevista e autorizada uma nova edição do concurso do Senado com 246 vagas abertas para cargos de nível superior. Os selecionados receberão salários que chegam a R$ 23,8 mil.
Claudio Humberto
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AQUI SE FAZ , AQUI SE PAGA - JÁ OS APOSENTADOS ,. . . #@$&*§
PANIS ET CIRCENSES
É DISSO QUE O POVO GOSTA, É ISSO QUE O POVO QUER.
DF: governo dá mais verba ao Mané Garrincha do que para Saúde
O orçamento do governo do Distrito Federal para 2012 já está oficializado e deve ser publicado no Diário Oficial do DF da primeira semana do ano.
De acordo com Lei Orçamentária Anual (LOA), em 2012, o GDF poderá investir cerca de R$ 28,5 bilhões. São R$ 16,85 bilhões do orçamento próprio, mais R$ 10 bilhões do Fundo Constitucional do DF (FCDF), verba repassada para a União, além de R$ 1,6 bilhão de recursos das empresas estatais.
O recurso teve acréscimo de 7% em relação ao orçamento em 2011. As obras voltadas à realização da Copa do Mundo aparecem como prioridade dos gastos públicos. muito além das prioridades sociais.
Pela LOA aprovada para 2012, o Estádio Nacional de Brasília deve ser o campeão de sorver dinheiro público.
Estão previstos cerca de R$ 500 milhões do orçamento, enquanto que a previsão de gastos com a Saúde é de R$ 443 milhões e com a Educação de R$ 359 milhões.(CH).
DF: governo dá mais verba ao Mané Garrincha do que para Saúde
O orçamento do governo do Distrito Federal para 2012 já está oficializado e deve ser publicado no Diário Oficial do DF da primeira semana do ano.
De acordo com Lei Orçamentária Anual (LOA), em 2012, o GDF poderá investir cerca de R$ 28,5 bilhões. São R$ 16,85 bilhões do orçamento próprio, mais R$ 10 bilhões do Fundo Constitucional do DF (FCDF), verba repassada para a União, além de R$ 1,6 bilhão de recursos das empresas estatais.
O recurso teve acréscimo de 7% em relação ao orçamento em 2011. As obras voltadas à realização da Copa do Mundo aparecem como prioridade dos gastos públicos. muito além das prioridades sociais.
Pela LOA aprovada para 2012, o Estádio Nacional de Brasília deve ser o campeão de sorver dinheiro público.
Estão previstos cerca de R$ 500 milhões do orçamento, enquanto que a previsão de gastos com a Saúde é de R$ 443 milhões e com a Educação de R$ 359 milhões.(CH).
ENTREVISTA, UMBERTO ECO: "O EXCESSO DE INFORMAÇÃO PROVOCA AMNÉSIA"
(Foto: Eric Fougere/VIP Images/Corbis)
PROFESSOR
O pensador e romancista italiano Umberto Eco completa 80 anos nesta semana. Ele está escrevendo sua autobiografia intelectual.
O escritor italiano diz que a internet é perigosa para o ignorante e útil para o sábio porque ela não filtra o conhecimento e congestiona a memória do usuário.
O escritor e semiólogo Umberto Eco vive com sua mulher em um apartamento duplo no segundo e terceiro andar de um prédio antigo, de frente para o palácio Sforzesco, o mais vistoso ponto turístico de Milão.
É como se Alice Munro morasse defronte à Canadian Tower em Toronto, Hakuri Murakami instalasse sua casa no sopé do monte Fuji, ou então Paulo Coelho mantivesse uma mansão na Urca, à sombra do Pão de Açúcar.
"Acordo todo dia com a Renascença", diz Eco, referindo-se à enorme fortificação do século XV. O castelo deve também abrir os portões pela manhã com uma sensação parecida, pois diante dele vive o intelectual e o romancista mais famoso da Itália.
Um dos andares da residência de Eco é dedicado ao escritório e à biblioteca. São quatro salas repletas de livros, divididas por temas e por autores em ordem alfabética. A sala em que trabalha abriga aquilo que ele chama de "ala das ciências banidas", como ocultismo, sociedades secretas, mesmerismo, esoterismo, magia e bruxaria.
Ali, em um cômodo pequeno, estão as fontes principais dos romances de sucesso de Eco:
O nome da rosa (1980), O pêndulo de Foucault (1988), A ilha do dia anterior (1994), Baudolino (2000), A misteriosa chama da rainha Loana (2004) e O cemitério de Praga.
Publicado em 2010 e lançado com sucesso no Brasil em 2011, o livro provocou polêmica por tratar de forma humorística de um assunto sério: o surgimento do antissemitismo na Europa.
Por motivos diversos, protestaram a igreja católica e o rabino de Roma: aquela porque Eco satirizava os jesuítas ("são maçons de saia", diz o personagem principal, o odioso tabelião Simone Simonini), este porque as teorias conspiratórias forjadas no século XIX - como o Protocolo dos sábios do Sião - poderiam gerar uma onda de ódio aos judeus.
Desde o início da carreira, em 1962, como autor do ensaio estético Obra aberta, Eco gosta de provocar esse tipo de reação. Mesmo aos 80 anos, que completa em 5 de janeiro, parece não perder o gosto pelo barulho.
De muito bom humor, ele conversou com Época durante duas horas sobre a idade, o gênero que inventou - o suspense erudito -, a decadência europeia e seu assunto mais constante nos últimos anos: a morte do livro.
É de pasmar, mas o maior inimigo da leitura pelo computador está revendo suas posições - e até gostando de ler livros... pelo iPad que comprou durante sua última turnê americana.
ÉPOCA - Como o senhor se sente, completando 80 anos?
Umberto Eco - Bem mais velho! (Risos.) Vamos nos tornando importantes com a idade, mas não me sinto importante nem velho. Não posso reclamar de rotina. Minha vida é agitada. Ainda mantenho uma cátedra no Departamento de Semiótica e Comunicação da Universidade de Bolonha e continuo orientando doutorandos e pós-doutorandos. Dou muita palestra pelo mundo afora. E tenho feito turnês de lançamento de O cemitério de Praga. Acabo de voltar de uma megaexcursão pelos Estados Unidos. Ela quase me custou o braço. Estou com tendinite de tanto dar autógrafos em livros.
ÉPOCA - O senhor tem sido um dos mais ferrenhos defensores do livro em papel. Sua tese é de que o livro não vai acabar. Mesmo assim, estamos assistindo à popularização dos leitores digitais e tablets. O livro em papel ainda tem sentido?
Eco - Sou colecionador de livros. Defendi a sobrevivência do livro ao lado de Jean-Claude Carrière no volume Não contem com o fim do livro. Fizemos isso por motivos estéticos e gnoseológicos (relativo ao conhecimento). O livro ainda é o meio ideal para aprender. Não precisa de eletricidade, e você pode riscar à vontade. Achávamos impossível ler textos no monitor do computador. Mas isso faz dois anos. Em minha viagem pelos Estados Unidos, precisava carregar 20 livros comigo, e meu braço não me ajudava. Por isso, resolvi comprar um iPad. Foi útil na questão do transporte dos volumes. Comecei a ler no aparelho e não achei tão mau. Aliás, achei ótimo. E passei a ler no iPad, você acredita? Pois é. Mesmo assim, acho que os tablets e e-books servem como auxiliares de leitura. São mais para entretenimento que para estudo. Gosto de riscar, anotar e interferir nas páginas de um livro. Isso ainda não é possível fazer num tablet.
ÉPOCA - Apesar dessas melhorias, o senhor ainda vê a internet como um perigo para o saber?
Eco - A internet não seleciona a informação. Há de tudo por lá. A Wikipédia presta um desserviço ao internauta. Outro dia publicaram fofocas a meu respeito, e tive de intervir e corrigir os erros e absurdos. A internet ainda é um mundo selvagem e perigoso. Tudo surge lá sem hierarquia. A imensa quantidade de coisas que circula é pior que a falta de informação. O excesso de informação provoca a amnésia. Informação demais faz mal. Quando não lembramos o que aprendemos, ficamos parecidos com animais. Conhecer é cortar, é selecionar. Vamos tomar como exemplo o ditador e líder romano Júlio César e como os historiadores antigos trataram dele. Todos dizem que foi importante porque alterou a história. Os cronistas romanos só citam sua mulher, Calpúrnia, porque esteve ao lado de César. Nada se sabe sobre a viuvez de Calpúrnia. Se costurou, dedicou-se à educação ou seja lá o que for. Hoje, na internet, Júlio César e Calpúrnia têm a mesma importância. Ora, isso não é conhecimento.
ÉPOCA - Mas o conhecimento está se tornando cada vez mais acessível via computadores e internet. O senhor não acha que o acesso a bancos de dados de universidades e instituições confiáveis estão alterando nossa noção de cultura?
Eco - Sim, é verdade. Se você sabe quais os sites e bancos de dados são confiáveis, você tem acesso ao conhecimento. Mas veja bem: você e eu somos ricos de conhecimento. Podemos aproveitar melhor a internet do que aquele pobre senhor que está comprando salame na feira aí em frente. Nesse sentido, a televisão era útil para o ignorante, porque selecionava a informação de que ele poderia precisar, ainda que informação idiota. A internet é perigosa para o ignorante porque não filtra nada para ele. Ela só é boa para quem já conhece – e sabe onde está o conhecimento. A longo prazo, o resultado pedagógico será dramático. Veremos multidões de ignorantes usando a internet para as mais variadas bobagens: jogos, bate-papos e busca de notícias irrelevantes.
ÉPOCA - Há uma solução para o problema do excesso de informação?
Eco - Seria preciso criar uma teoria da filtragem. Uma disciplina prática, baseada na experimentação cotidiana com a internet. Fica aí uma sugestão para as universidades: elaborar uma teoria e uma ferramenta de filtragem que funcionem para o bem do conhecimento. Conhecer é filtrar.
ÉPOCA - O senhor já está pensando em um novo romance depois de O cemitério de Praga?
Eco - Vamos com calma. Mal publiquei um e você já quer outro. Estou sem tempo para ficção no momento. Na verdade, vou me ocupar agora de minha autobiografia intelectual. Fui convidado por uma instituição americana, Library of Living Philosophers, para elaborar meu percurso filosófico. Fiquei contente com o convite, porque passo a fazer parte de um projeto que inclui John Dewey, Jean-Paul Sartre e Richard Rorty - embora eu não seja filósofo. Desde 1939, o instituto convida um pensador vivo para narrar seu percurso intelectual em um livro. O volume traz então ensaios de vários especialistas sobre os diversos aspectos da obra do convidado. No final, o convidado responde às dúvidas e críticas levantadas. O desafio é sistematizar de uma forma lógica tudo o que já fiz...
ÉPOCA - Como lidar com tamanha variedade de caminhos?
Eco - Estou começando com meu interesse constante desde o começo da carreira pela Idade Média e pelos romances de Alessandro Manzoni. Depois vieram a Semiótica, a teoria da comunicação, a filosofia da linguagem. E há o lado banido, o da teoria ocultista, que sempre me fascinou. Tanto que tenho uma biblioteca só do assunto. Adoro a questão do falso. E foi recolhendo montes de teorias esquisitas que cheguei à ideia de escrever O cemitério de Praga.
ÉPOCA - Entre essas teorias, destaca-se a mais célebre das falsificações, O protocolo dos sábios de Sião. Por que o senhor se debruçou sobre um documento tão revoltante para fazer ficção?
Eco - Eu queria investigar como os europeus civilizados se esforçaram em construir inimigos invisíveis no século XIX. E o inimigo sempre figura como uma espécie de monstro: tem de ser repugnante, feio e malcheiroso. De alguma forma, o que causa repulsa no inimigo é algo que faz parte de nós. Foi essa ambivalência que persegui em O cemitério de Praga. Nada mais exemplar que a elaboração das teorias antissemitas, que viriam a desembocar no nazismo do século XX. Em pesquisas, em arquivos e na internet, constatei que o antissemitismo tem origem religiosa, deriva para o discurso de esquerda e, finalmente, dá uma guinada à direita para se tornar a prioridade da ideologia nacional-socialista. Começou na Idade Média a partir de uma visão cristã e religiosa. Os judeus eram estigmatizados como os assassinos de Jesus. Essa visão chegou ao ápice com Lutero. Ele pregava que os judeus fossem banidos. Os jesuítas também tiveram seu papel. No século XIX, os judeus, aparentemente integrados à Europa, começaram a ser satanizados por sua riqueza. A família de banqueiros Rotschild, estabelecida em Paris, virou um alvo do rancor social e dos pregadores socialistas. Descobri os textos de Léo Taxil, discípulo do socialista utópico Fourier. Ele inaugurou uma série de teorias sobre a conspiração judaica e capitalista internacional que resultaria em Os protocolos dos sábios do Sião, texto forjado em 1897 pela polícia secreta do czar Nicolau II.
ÉPOCA - O senhor considera os Procotolos uma das fontes do nazismo?
Eco - Sem dúvida. Adolf Hitler, em sua autobiografia, Minha luta, dava como legítimo o texto dos Protocolos. Hitler tomou como verdadeira uma falsificação das mais grosseiras, e essa mentira constitui um dos fundamentos do nazismo. A raiz do antissemitismo vem de muito antes, de uma construção do inimigo, que partiu de delírios e paranoias.
ÉPOCA - O personagem de O cemitério de Praga, Simone Simonini, parece concentrar todos os preconceitos e delírios europeus do século XIX. Ele é ao mesmo tempo antissemita, anticlerical, anticapitalicas e antissocialista. Como surgiu na sua mente alguém tão abominável?
Eco - Os críticos disseram que Simonini é o personagem mais horroroso da literatura de todos os tempos, e devo concordar com eles. Ele também é muito divertido. Seus excessos estão ali para provocar riso e revolta. No romance, Simonini é a única figura fictícia. Guarda todos os preconceitos e fantasias sobre um inimigo que jamais conhece. E se desdobra em várias personalidades: durante o dia, atua como tabelião falsificador de documentos; à noite, traveste-se em falso padre jesuíta e sai atrás de aventuras sinistras. Acaba virando joguete dos monarquistas, que se opõem à unificação da Itália, e, por fim, dos russos. Imaginei Simonini como um dos autores de Os protocolos dos sábios do Sião.
ÉPOCA - A falsificação sobre falsificações permitida pela ficção tornou o livro controverso. Ele tem provocado reações negativas. O senhor gosta de lidar com polêmicas?
Eco - A recepção tem sido positiva. O livro tem feito sucesso sem precisar de polêmicas. Quando foi lançado na Itália, ele gerou alguma discussão. O L'osservatore Romano, órgão oficial do Vaticano, publicou um artigo condenando os ataques do livro aos jesuítas. Não respondi, porque sou conhecido como um intelectual anticlerical - e já havia discutido com a igreja católica no tempo de O nome da rosa, quando me acusaram de atacar a igreja. O rabino de Roma leu O cemitério de Praga e advertiu em um pronunciamento que as teorias contidas no livro poderiam se tornar novamente populares a partir da obra. Respondi a ele que não havia esse perigo. Ao contrário, se Simonini serve para alguma coisa, é para provocar nossa indignação.
ÉPOCA - Além de falsário, Simonini se revela um gourmet. Ao longo do livro, o senhor joga listas e listas de receitas as mais extravagantes, que Simonini comenta com volúpia. O senhor gosta de gastronomia?
Eco - Eu sou MacDonald's! Nunca me incomodei com detalhes de comida. Pesquisei receitas antigas com um objetivo preciso: causar repugnância no leitor. A gastronomia é um dado negativo na composição do personagem. Quando Simonini discorre sobre pratos esquisitos, o leitor deve sentir o estômago revirado.
ÉPOCA - Qual o sentido de escrever romances hoje em dia? O que o atrai no gênero?
Eco - Faz todo o sentido escrever ficção. Não vejo como fazer hoje narrativa experimental, como James Joyce fez com Finnegan's Wake, para mim a fronteira final da experimentação. Houve um recuo para a narrativa linear e clássica. Comecei a escrever ficção nesse contexto de restauração da narratividade, chamado de pós-modernismo. Sou considerado um autor pós-moderno, e concordo com isso. Vasculho as formas e artifícios do romance tradicional. Só que procuro introduzir temas que possam intrigar o leitor: a teoria da comédia perdida de Aristóteles em O nome da rosa; as conspirações maçônicas em O pêndulo de Foucault; a imaginação medieval em Baudolino; a memória e os quadrinhos em A misteriosa chama; a construção do antissemitismo em O cemitério de Praga. O romance é a realização maior da narratividade. E a narratividade conserva o mito arcaico, base de nossa cultura. Contar uma história que emocione e transforme quem a absorve é algo que se passa com a mãe e seu filho, o romancista e seu leitor, o cineasta e seu espectador. A força da narrativa é mais efetiva do que qualquer tecnologia.
ÉPOCA -
Philip Roth disse que a literatura morreu. Qual a sua opinião sobre os apocalípticos que preveem a morte da literatura?
Eco - Philip Roth é um grande escritor. A contar com ele, a literatura não vai morrer tão cedo. Ele publica um romance por ano, e sempre de boa qualidade. Não me parece que nem o romance nem ele pretendem interromper a carreira (risos).
ÉPOCA - Mas por que hoje não aparecem romancistas do porte de Liev Tolstói e Gustave Flaubert?
Eco - Talvez porque ainda não os descobrimos. Nada acontece imediatamente na literatura. É preciso esperar um pouco. Devem certamente existir Tolstóis e Flauberts por aí. E têm surgido ótimos ficcionistas em toda parte.
ÉPOCA - Como o senhor analisa a literatura contemporânea?
Eco - Há bons autores medianos na Itália. Nada de genial, mas têm saído livros interessantes de autores bastante promissores. Hoje existe o thriller italiano, com os romances de suspense de Andrea Camilleri e seus discípulos. No entanto, um signo do abalo econômico italiano é que é mais possível um romancista viver de sua obra literária, como fazia (Alberto) Moravia. Hoje romance virou uma atividade diletante. É diferente do que ocorre nos Estados Unidos, aindaum polo emissor de ótima ficção e da profissionalização dos escritores. Além dos livros de Roth, adorei ler Liberdade, de Jonathan Franzen, um romance de corte clássico e repleto de referências culturais. A França, infelizmente, experimenta uma certa decadência literária, e nada de bom apareceu nos últimos tempos. O mesmo parece se passar com a América Latina. Já vão longe os tempos do realismo fantástico de García Márquez e Jorge Luis Borges. Nada tem vindo de lá que me pareça digno de nota.
ÉPOCA - E a literatura brasileira? Que impressões o senhor tem do Brasil? O país lhe parece mais interessante hoje do que há 30 anos?
Eco - O Brasil é um país incrivelmente dinâmico. Visitei o Brasil há muito tempo, agora acompanho de longe as notícias sobre o país. A primeira vez foi em 1966. Foi quando visitei terreiros de umbanda e candomblé - e mais tarde usei essa experiência em um capítulo de O pêndulo de Foucault para descrever um ritual de candomblé. Quando voltei em 1978, tudo já havia mudado, as cidades já não pareciam as mesmas. Imagino que hoje em dia o Brasil esteja completamente transformado. Não tenho acompanhado nada do que se faz por lá em literatura. Eu era amigo do poeta Haroldo de Campos, um grande erudito e tradutor. Gostaria de voltar, tenho muitos convites, mas agora ando muito ocupado... comigo mesmo.
ÉPOCA - O senhor foi o criador do suspense erudito. O modelo é ainda válido?
Eco - Em O nome da Rosa, consegui juntar erudição e romance de suspense. Inventei o investigador-frade William de Baskerville, baseado em Sherlock Holmes de Conan Dolyle, um bibliotecário cego inspirado em Jorge Luis Borges, e fui muito criticado porque Jorge de Burgos, o personagem, revela-se um vilão. De qualquer forma, o livro foi um sucesso e ajudou a criar um tipo de literatura que vejo com bons olhos Sim, há muita coisa boa sendo feita. Gosto de (Arturo) Pérez-Reverte, com seus livros de fantasia que lembram os romances de aventura de Alexandre Dumas e Emilio Salgari que eu lia quando menino.
ÉPOCA - Lendo seus seguidores, como Dan Brown, o senhor às vezes não se arrepende de ter criado o suspense erudito?
Eco - Às vezes, sim! (risos) O Dan Brown me irrita porque ele parece um personagem inventado por mim. Em vez de ele compreender que as teorias conspiratórias são falsas, Brown as assume como verdadeiras, ficando ao lado do personagem, sem questionar nada. É o que ele faz em O Código Da Vinci. É o mesmo contexto de O pêndulo de Foucault. Mas ele parece ter adotado a história para simplificá-la. Isso provoca ondas de mistificação. Há leitores que acreditam em tudo o que Dan Brown escreve - e não posso condená-los.
ÉPOCA - O que vem antes na sua obra, a teoria ou a ficção?
Eco - Não há um caminho único. Eu tanto posso escrever um romance a partir de uma pesquisa ou um ensaio que eu tenha feito. Foi o caso de O pêndulo de Foucault, que nasceu de uma teoria. Baudolino resultou de ideias que elaborei em torno da falsificação. Ou vice-versa. Depois de escrever O cemitério de Praga, me veio a ideia de elaborar uma teoria, que resultou no livro Costruire il Nemico (Construir o Inimigo, lançado em maio de 2011). E nada impede que uma teoria nascida de uma obra de ficção redunde em outra ficção.
ÉPOCA - Quando escreve, o senhor tem um método ou uma superstição?
Eco - Não tenho nenhum método. Não sou com Alberto Moravia, que acordava às 8h, trabalhava até o meio-dia, almoçava, e depois voltava para a escrivaninha. Escrevo ficção sempre que me dá prazer, sem observar horários e metodologias. Adoro escrever por escrever, em qualquer meio, do lápis ao computador. Quando elaboro textos acadêmicos ou ensaio, preciso me concentrar, mas não o faço por método.
ÉPOCA - Como o senhor analisa a crise econômica italiana? Existe uma crise moral que acompanha o processo de decadência cultural? A Itália vai acabar?
Eco - Não sou economista para responder à pergunta. Não sei por que vocês jornalistas estão sempre fazendo perguntas (risos). Talvez porque eu tenha sido um crítico do governo Silvio Berlusconi nesses anos todos, nos meus artigos de jornal, não é mesmo? Bom, a Itália vive uma crise econômica sem precedentes. Nos anos Berlusconi, desde 2001, os italianos viveram uma fantasia, que conduziu à decadência moral. Os pais sonhavam com que as filhas frequentassem as orgias de Berlusconi para assim se tornarem estrela da televisão. Isso tinha de parar, acho que agora todos se deram conta dos excessos. A Itália continua a existir, apesar de Berlusconi.
ÉPOCA - O senhor está confiante com a junção Merkozy (Nicolas Sarkozy e Angela Merkel) e a ascensão dos tecnocratas, como Mario Monti como primeiro ministro da Itália?
Eco - Se não há outra forma de governar a zona do Euro, o que fazer? Merkel tem o encargo, mas também sofre pressões em seu país, para que deixe de apoiar países em dificuldades. A ascensão de Monti marca a chegada dos tecnocratas ao poder. E de fato é hora de tomar medidas duras e impopulares que só tecnocratas como Monti, que não se preocupa com eleição, podem tomar, como o corte nas aposentadorias e outros privilégios.
ÉPOCA - O que o senhor faz no tempo livre?
Eco - Coleciono livros e ouço música pela internet. Tenho encontrado ótimas rádios virtuais. Estou encantado com uma emissora que só transmite música coral. Eu toco flauta doce (mostra cinco flautas de variados tamanhos), mas não tenho tido tempo para praticar. Gosto de brincar com meus netos, uma menina e um menino.
ÉPOCA - Os 80 anos também são uma ocasião para pensar na cidade natal. Como é sua ligação com Alessandria?
Eco - Não é difícil voltar para lá, porque Alessandria fica a uns 100 quilômetros de Milão. Aliás foi um dos motivos que escolhi morar por aqui: é perto de Bolonha e de Alessandria. Quando volto, sou recebido como uma celebridade. Eu e o chapéu Borsalino, somos produção de Alessandria! Reencontro velhos amigos no clube da cidade, sou homenageado, bato muito papo. Não tenho mais parentes próximos. É sempre emocionante.
Luís Antonio Giron, de Milão
PROFESSOR
O pensador e romancista italiano Umberto Eco completa 80 anos nesta semana. Ele está escrevendo sua autobiografia intelectual.
O escritor italiano diz que a internet é perigosa para o ignorante e útil para o sábio porque ela não filtra o conhecimento e congestiona a memória do usuário.
O escritor e semiólogo Umberto Eco vive com sua mulher em um apartamento duplo no segundo e terceiro andar de um prédio antigo, de frente para o palácio Sforzesco, o mais vistoso ponto turístico de Milão.
É como se Alice Munro morasse defronte à Canadian Tower em Toronto, Hakuri Murakami instalasse sua casa no sopé do monte Fuji, ou então Paulo Coelho mantivesse uma mansão na Urca, à sombra do Pão de Açúcar.
"Acordo todo dia com a Renascença", diz Eco, referindo-se à enorme fortificação do século XV. O castelo deve também abrir os portões pela manhã com uma sensação parecida, pois diante dele vive o intelectual e o romancista mais famoso da Itália.
Um dos andares da residência de Eco é dedicado ao escritório e à biblioteca. São quatro salas repletas de livros, divididas por temas e por autores em ordem alfabética. A sala em que trabalha abriga aquilo que ele chama de "ala das ciências banidas", como ocultismo, sociedades secretas, mesmerismo, esoterismo, magia e bruxaria.
Ali, em um cômodo pequeno, estão as fontes principais dos romances de sucesso de Eco:
O nome da rosa (1980), O pêndulo de Foucault (1988), A ilha do dia anterior (1994), Baudolino (2000), A misteriosa chama da rainha Loana (2004) e O cemitério de Praga.
Publicado em 2010 e lançado com sucesso no Brasil em 2011, o livro provocou polêmica por tratar de forma humorística de um assunto sério: o surgimento do antissemitismo na Europa.
Por motivos diversos, protestaram a igreja católica e o rabino de Roma: aquela porque Eco satirizava os jesuítas ("são maçons de saia", diz o personagem principal, o odioso tabelião Simone Simonini), este porque as teorias conspiratórias forjadas no século XIX - como o Protocolo dos sábios do Sião - poderiam gerar uma onda de ódio aos judeus.
Desde o início da carreira, em 1962, como autor do ensaio estético Obra aberta, Eco gosta de provocar esse tipo de reação. Mesmo aos 80 anos, que completa em 5 de janeiro, parece não perder o gosto pelo barulho.
De muito bom humor, ele conversou com Época durante duas horas sobre a idade, o gênero que inventou - o suspense erudito -, a decadência europeia e seu assunto mais constante nos últimos anos: a morte do livro.
É de pasmar, mas o maior inimigo da leitura pelo computador está revendo suas posições - e até gostando de ler livros... pelo iPad que comprou durante sua última turnê americana.
ÉPOCA - Como o senhor se sente, completando 80 anos?
Umberto Eco - Bem mais velho! (Risos.) Vamos nos tornando importantes com a idade, mas não me sinto importante nem velho. Não posso reclamar de rotina. Minha vida é agitada. Ainda mantenho uma cátedra no Departamento de Semiótica e Comunicação da Universidade de Bolonha e continuo orientando doutorandos e pós-doutorandos. Dou muita palestra pelo mundo afora. E tenho feito turnês de lançamento de O cemitério de Praga. Acabo de voltar de uma megaexcursão pelos Estados Unidos. Ela quase me custou o braço. Estou com tendinite de tanto dar autógrafos em livros.
ÉPOCA - O senhor tem sido um dos mais ferrenhos defensores do livro em papel. Sua tese é de que o livro não vai acabar. Mesmo assim, estamos assistindo à popularização dos leitores digitais e tablets. O livro em papel ainda tem sentido?
Eco - Sou colecionador de livros. Defendi a sobrevivência do livro ao lado de Jean-Claude Carrière no volume Não contem com o fim do livro. Fizemos isso por motivos estéticos e gnoseológicos (relativo ao conhecimento). O livro ainda é o meio ideal para aprender. Não precisa de eletricidade, e você pode riscar à vontade. Achávamos impossível ler textos no monitor do computador. Mas isso faz dois anos. Em minha viagem pelos Estados Unidos, precisava carregar 20 livros comigo, e meu braço não me ajudava. Por isso, resolvi comprar um iPad. Foi útil na questão do transporte dos volumes. Comecei a ler no aparelho e não achei tão mau. Aliás, achei ótimo. E passei a ler no iPad, você acredita? Pois é. Mesmo assim, acho que os tablets e e-books servem como auxiliares de leitura. São mais para entretenimento que para estudo. Gosto de riscar, anotar e interferir nas páginas de um livro. Isso ainda não é possível fazer num tablet.
ÉPOCA - Apesar dessas melhorias, o senhor ainda vê a internet como um perigo para o saber?
Eco - A internet não seleciona a informação. Há de tudo por lá. A Wikipédia presta um desserviço ao internauta. Outro dia publicaram fofocas a meu respeito, e tive de intervir e corrigir os erros e absurdos. A internet ainda é um mundo selvagem e perigoso. Tudo surge lá sem hierarquia. A imensa quantidade de coisas que circula é pior que a falta de informação. O excesso de informação provoca a amnésia. Informação demais faz mal. Quando não lembramos o que aprendemos, ficamos parecidos com animais. Conhecer é cortar, é selecionar. Vamos tomar como exemplo o ditador e líder romano Júlio César e como os historiadores antigos trataram dele. Todos dizem que foi importante porque alterou a história. Os cronistas romanos só citam sua mulher, Calpúrnia, porque esteve ao lado de César. Nada se sabe sobre a viuvez de Calpúrnia. Se costurou, dedicou-se à educação ou seja lá o que for. Hoje, na internet, Júlio César e Calpúrnia têm a mesma importância. Ora, isso não é conhecimento.
ÉPOCA - Mas o conhecimento está se tornando cada vez mais acessível via computadores e internet. O senhor não acha que o acesso a bancos de dados de universidades e instituições confiáveis estão alterando nossa noção de cultura?
Eco - Sim, é verdade. Se você sabe quais os sites e bancos de dados são confiáveis, você tem acesso ao conhecimento. Mas veja bem: você e eu somos ricos de conhecimento. Podemos aproveitar melhor a internet do que aquele pobre senhor que está comprando salame na feira aí em frente. Nesse sentido, a televisão era útil para o ignorante, porque selecionava a informação de que ele poderia precisar, ainda que informação idiota. A internet é perigosa para o ignorante porque não filtra nada para ele. Ela só é boa para quem já conhece – e sabe onde está o conhecimento. A longo prazo, o resultado pedagógico será dramático. Veremos multidões de ignorantes usando a internet para as mais variadas bobagens: jogos, bate-papos e busca de notícias irrelevantes.
ÉPOCA - Há uma solução para o problema do excesso de informação?
Eco - Seria preciso criar uma teoria da filtragem. Uma disciplina prática, baseada na experimentação cotidiana com a internet. Fica aí uma sugestão para as universidades: elaborar uma teoria e uma ferramenta de filtragem que funcionem para o bem do conhecimento. Conhecer é filtrar.
ÉPOCA - O senhor já está pensando em um novo romance depois de O cemitério de Praga?
Eco - Vamos com calma. Mal publiquei um e você já quer outro. Estou sem tempo para ficção no momento. Na verdade, vou me ocupar agora de minha autobiografia intelectual. Fui convidado por uma instituição americana, Library of Living Philosophers, para elaborar meu percurso filosófico. Fiquei contente com o convite, porque passo a fazer parte de um projeto que inclui John Dewey, Jean-Paul Sartre e Richard Rorty - embora eu não seja filósofo. Desde 1939, o instituto convida um pensador vivo para narrar seu percurso intelectual em um livro. O volume traz então ensaios de vários especialistas sobre os diversos aspectos da obra do convidado. No final, o convidado responde às dúvidas e críticas levantadas. O desafio é sistematizar de uma forma lógica tudo o que já fiz...
ÉPOCA - Como lidar com tamanha variedade de caminhos?
Eco - Estou começando com meu interesse constante desde o começo da carreira pela Idade Média e pelos romances de Alessandro Manzoni. Depois vieram a Semiótica, a teoria da comunicação, a filosofia da linguagem. E há o lado banido, o da teoria ocultista, que sempre me fascinou. Tanto que tenho uma biblioteca só do assunto. Adoro a questão do falso. E foi recolhendo montes de teorias esquisitas que cheguei à ideia de escrever O cemitério de Praga.
ÉPOCA - Entre essas teorias, destaca-se a mais célebre das falsificações, O protocolo dos sábios de Sião. Por que o senhor se debruçou sobre um documento tão revoltante para fazer ficção?
Eco - Eu queria investigar como os europeus civilizados se esforçaram em construir inimigos invisíveis no século XIX. E o inimigo sempre figura como uma espécie de monstro: tem de ser repugnante, feio e malcheiroso. De alguma forma, o que causa repulsa no inimigo é algo que faz parte de nós. Foi essa ambivalência que persegui em O cemitério de Praga. Nada mais exemplar que a elaboração das teorias antissemitas, que viriam a desembocar no nazismo do século XX. Em pesquisas, em arquivos e na internet, constatei que o antissemitismo tem origem religiosa, deriva para o discurso de esquerda e, finalmente, dá uma guinada à direita para se tornar a prioridade da ideologia nacional-socialista. Começou na Idade Média a partir de uma visão cristã e religiosa. Os judeus eram estigmatizados como os assassinos de Jesus. Essa visão chegou ao ápice com Lutero. Ele pregava que os judeus fossem banidos. Os jesuítas também tiveram seu papel. No século XIX, os judeus, aparentemente integrados à Europa, começaram a ser satanizados por sua riqueza. A família de banqueiros Rotschild, estabelecida em Paris, virou um alvo do rancor social e dos pregadores socialistas. Descobri os textos de Léo Taxil, discípulo do socialista utópico Fourier. Ele inaugurou uma série de teorias sobre a conspiração judaica e capitalista internacional que resultaria em Os protocolos dos sábios do Sião, texto forjado em 1897 pela polícia secreta do czar Nicolau II.
ÉPOCA - O senhor considera os Procotolos uma das fontes do nazismo?
Eco - Sem dúvida. Adolf Hitler, em sua autobiografia, Minha luta, dava como legítimo o texto dos Protocolos. Hitler tomou como verdadeira uma falsificação das mais grosseiras, e essa mentira constitui um dos fundamentos do nazismo. A raiz do antissemitismo vem de muito antes, de uma construção do inimigo, que partiu de delírios e paranoias.
ÉPOCA - O personagem de O cemitério de Praga, Simone Simonini, parece concentrar todos os preconceitos e delírios europeus do século XIX. Ele é ao mesmo tempo antissemita, anticlerical, anticapitalicas e antissocialista. Como surgiu na sua mente alguém tão abominável?
Eco - Os críticos disseram que Simonini é o personagem mais horroroso da literatura de todos os tempos, e devo concordar com eles. Ele também é muito divertido. Seus excessos estão ali para provocar riso e revolta. No romance, Simonini é a única figura fictícia. Guarda todos os preconceitos e fantasias sobre um inimigo que jamais conhece. E se desdobra em várias personalidades: durante o dia, atua como tabelião falsificador de documentos; à noite, traveste-se em falso padre jesuíta e sai atrás de aventuras sinistras. Acaba virando joguete dos monarquistas, que se opõem à unificação da Itália, e, por fim, dos russos. Imaginei Simonini como um dos autores de Os protocolos dos sábios do Sião.
ÉPOCA - A falsificação sobre falsificações permitida pela ficção tornou o livro controverso. Ele tem provocado reações negativas. O senhor gosta de lidar com polêmicas?
Eco - A recepção tem sido positiva. O livro tem feito sucesso sem precisar de polêmicas. Quando foi lançado na Itália, ele gerou alguma discussão. O L'osservatore Romano, órgão oficial do Vaticano, publicou um artigo condenando os ataques do livro aos jesuítas. Não respondi, porque sou conhecido como um intelectual anticlerical - e já havia discutido com a igreja católica no tempo de O nome da rosa, quando me acusaram de atacar a igreja. O rabino de Roma leu O cemitério de Praga e advertiu em um pronunciamento que as teorias contidas no livro poderiam se tornar novamente populares a partir da obra. Respondi a ele que não havia esse perigo. Ao contrário, se Simonini serve para alguma coisa, é para provocar nossa indignação.
ÉPOCA - Além de falsário, Simonini se revela um gourmet. Ao longo do livro, o senhor joga listas e listas de receitas as mais extravagantes, que Simonini comenta com volúpia. O senhor gosta de gastronomia?
Eco - Eu sou MacDonald's! Nunca me incomodei com detalhes de comida. Pesquisei receitas antigas com um objetivo preciso: causar repugnância no leitor. A gastronomia é um dado negativo na composição do personagem. Quando Simonini discorre sobre pratos esquisitos, o leitor deve sentir o estômago revirado.
ÉPOCA - Qual o sentido de escrever romances hoje em dia? O que o atrai no gênero?
Eco - Faz todo o sentido escrever ficção. Não vejo como fazer hoje narrativa experimental, como James Joyce fez com Finnegan's Wake, para mim a fronteira final da experimentação. Houve um recuo para a narrativa linear e clássica. Comecei a escrever ficção nesse contexto de restauração da narratividade, chamado de pós-modernismo. Sou considerado um autor pós-moderno, e concordo com isso. Vasculho as formas e artifícios do romance tradicional. Só que procuro introduzir temas que possam intrigar o leitor: a teoria da comédia perdida de Aristóteles em O nome da rosa; as conspirações maçônicas em O pêndulo de Foucault; a imaginação medieval em Baudolino; a memória e os quadrinhos em A misteriosa chama; a construção do antissemitismo em O cemitério de Praga. O romance é a realização maior da narratividade. E a narratividade conserva o mito arcaico, base de nossa cultura. Contar uma história que emocione e transforme quem a absorve é algo que se passa com a mãe e seu filho, o romancista e seu leitor, o cineasta e seu espectador. A força da narrativa é mais efetiva do que qualquer tecnologia.
ÉPOCA -
Philip Roth disse que a literatura morreu. Qual a sua opinião sobre os apocalípticos que preveem a morte da literatura?
Eco - Philip Roth é um grande escritor. A contar com ele, a literatura não vai morrer tão cedo. Ele publica um romance por ano, e sempre de boa qualidade. Não me parece que nem o romance nem ele pretendem interromper a carreira (risos).
ÉPOCA - Mas por que hoje não aparecem romancistas do porte de Liev Tolstói e Gustave Flaubert?
Eco - Talvez porque ainda não os descobrimos. Nada acontece imediatamente na literatura. É preciso esperar um pouco. Devem certamente existir Tolstóis e Flauberts por aí. E têm surgido ótimos ficcionistas em toda parte.
ÉPOCA - Como o senhor analisa a literatura contemporânea?
Eco - Há bons autores medianos na Itália. Nada de genial, mas têm saído livros interessantes de autores bastante promissores. Hoje existe o thriller italiano, com os romances de suspense de Andrea Camilleri e seus discípulos. No entanto, um signo do abalo econômico italiano é que é mais possível um romancista viver de sua obra literária, como fazia (Alberto) Moravia. Hoje romance virou uma atividade diletante. É diferente do que ocorre nos Estados Unidos, aindaum polo emissor de ótima ficção e da profissionalização dos escritores. Além dos livros de Roth, adorei ler Liberdade, de Jonathan Franzen, um romance de corte clássico e repleto de referências culturais. A França, infelizmente, experimenta uma certa decadência literária, e nada de bom apareceu nos últimos tempos. O mesmo parece se passar com a América Latina. Já vão longe os tempos do realismo fantástico de García Márquez e Jorge Luis Borges. Nada tem vindo de lá que me pareça digno de nota.
ÉPOCA - E a literatura brasileira? Que impressões o senhor tem do Brasil? O país lhe parece mais interessante hoje do que há 30 anos?
Eco - O Brasil é um país incrivelmente dinâmico. Visitei o Brasil há muito tempo, agora acompanho de longe as notícias sobre o país. A primeira vez foi em 1966. Foi quando visitei terreiros de umbanda e candomblé - e mais tarde usei essa experiência em um capítulo de O pêndulo de Foucault para descrever um ritual de candomblé. Quando voltei em 1978, tudo já havia mudado, as cidades já não pareciam as mesmas. Imagino que hoje em dia o Brasil esteja completamente transformado. Não tenho acompanhado nada do que se faz por lá em literatura. Eu era amigo do poeta Haroldo de Campos, um grande erudito e tradutor. Gostaria de voltar, tenho muitos convites, mas agora ando muito ocupado... comigo mesmo.
ÉPOCA - O senhor foi o criador do suspense erudito. O modelo é ainda válido?
Eco - Em O nome da Rosa, consegui juntar erudição e romance de suspense. Inventei o investigador-frade William de Baskerville, baseado em Sherlock Holmes de Conan Dolyle, um bibliotecário cego inspirado em Jorge Luis Borges, e fui muito criticado porque Jorge de Burgos, o personagem, revela-se um vilão. De qualquer forma, o livro foi um sucesso e ajudou a criar um tipo de literatura que vejo com bons olhos Sim, há muita coisa boa sendo feita. Gosto de (Arturo) Pérez-Reverte, com seus livros de fantasia que lembram os romances de aventura de Alexandre Dumas e Emilio Salgari que eu lia quando menino.
ÉPOCA - Lendo seus seguidores, como Dan Brown, o senhor às vezes não se arrepende de ter criado o suspense erudito?
Eco - Às vezes, sim! (risos) O Dan Brown me irrita porque ele parece um personagem inventado por mim. Em vez de ele compreender que as teorias conspiratórias são falsas, Brown as assume como verdadeiras, ficando ao lado do personagem, sem questionar nada. É o que ele faz em O Código Da Vinci. É o mesmo contexto de O pêndulo de Foucault. Mas ele parece ter adotado a história para simplificá-la. Isso provoca ondas de mistificação. Há leitores que acreditam em tudo o que Dan Brown escreve - e não posso condená-los.
ÉPOCA - O que vem antes na sua obra, a teoria ou a ficção?
Eco - Não há um caminho único. Eu tanto posso escrever um romance a partir de uma pesquisa ou um ensaio que eu tenha feito. Foi o caso de O pêndulo de Foucault, que nasceu de uma teoria. Baudolino resultou de ideias que elaborei em torno da falsificação. Ou vice-versa. Depois de escrever O cemitério de Praga, me veio a ideia de elaborar uma teoria, que resultou no livro Costruire il Nemico (Construir o Inimigo, lançado em maio de 2011). E nada impede que uma teoria nascida de uma obra de ficção redunde em outra ficção.
ÉPOCA - Quando escreve, o senhor tem um método ou uma superstição?
Eco - Não tenho nenhum método. Não sou com Alberto Moravia, que acordava às 8h, trabalhava até o meio-dia, almoçava, e depois voltava para a escrivaninha. Escrevo ficção sempre que me dá prazer, sem observar horários e metodologias. Adoro escrever por escrever, em qualquer meio, do lápis ao computador. Quando elaboro textos acadêmicos ou ensaio, preciso me concentrar, mas não o faço por método.
ÉPOCA - Como o senhor analisa a crise econômica italiana? Existe uma crise moral que acompanha o processo de decadência cultural? A Itália vai acabar?
Eco - Não sou economista para responder à pergunta. Não sei por que vocês jornalistas estão sempre fazendo perguntas (risos). Talvez porque eu tenha sido um crítico do governo Silvio Berlusconi nesses anos todos, nos meus artigos de jornal, não é mesmo? Bom, a Itália vive uma crise econômica sem precedentes. Nos anos Berlusconi, desde 2001, os italianos viveram uma fantasia, que conduziu à decadência moral. Os pais sonhavam com que as filhas frequentassem as orgias de Berlusconi para assim se tornarem estrela da televisão. Isso tinha de parar, acho que agora todos se deram conta dos excessos. A Itália continua a existir, apesar de Berlusconi.
ÉPOCA - O senhor está confiante com a junção Merkozy (Nicolas Sarkozy e Angela Merkel) e a ascensão dos tecnocratas, como Mario Monti como primeiro ministro da Itália?
Eco - Se não há outra forma de governar a zona do Euro, o que fazer? Merkel tem o encargo, mas também sofre pressões em seu país, para que deixe de apoiar países em dificuldades. A ascensão de Monti marca a chegada dos tecnocratas ao poder. E de fato é hora de tomar medidas duras e impopulares que só tecnocratas como Monti, que não se preocupa com eleição, podem tomar, como o corte nas aposentadorias e outros privilégios.
ÉPOCA - O que o senhor faz no tempo livre?
Eco - Coleciono livros e ouço música pela internet. Tenho encontrado ótimas rádios virtuais. Estou encantado com uma emissora que só transmite música coral. Eu toco flauta doce (mostra cinco flautas de variados tamanhos), mas não tenho tido tempo para praticar. Gosto de brincar com meus netos, uma menina e um menino.
ÉPOCA - Os 80 anos também são uma ocasião para pensar na cidade natal. Como é sua ligação com Alessandria?
Eco - Não é difícil voltar para lá, porque Alessandria fica a uns 100 quilômetros de Milão. Aliás foi um dos motivos que escolhi morar por aqui: é perto de Bolonha e de Alessandria. Quando volto, sou recebido como uma celebridade. Eu e o chapéu Borsalino, somos produção de Alessandria! Reencontro velhos amigos no clube da cidade, sou homenageado, bato muito papo. Não tenho mais parentes próximos. É sempre emocionante.
Luís Antonio Giron, de Milão
OS PORQUINHOS VÃO À PRAIA
As cestas de lixo nunca serão suficientes para os porquinhos. Porque o que conta é educação e cultura
Era lixo só. No domingo de Natal, ninguém se atrevia a ir à praia em Ipanema e Leblon, os bairros da zelite carioca. É o metro quadrado mais caro do Rio de Janeiro, mas o que sobra em dinheiro falta em educação. Todo mundo culpou a Comlurb, a companhia municipal de limpeza. Que direito tem a prefeitura de expor nossa falta de respeito com o espaço público?
É verdade que houve uma falha operacional. Os garis do sábado à noite teriam de dar mais duro para compensar a redução da equipe da Comlurb no domingo. A praia mais sofisticada da cidade, que vai do canto do Arpoador até o fim do Leblon, amanheceu com 25 toneladas de lixo espalhadas, um espetáculo nojento. Cocos são o maior detrito: 20 mil por dia. Mas tem muita embalagem de biscoito e sorvete. As criancinhas imitam os pais que deixam na areia latas de cerveja, copos de mate, garrafinhas de água, espetos de queijo coalho, canudos de plástico. É o porco pai, a porca mãe e a prole de porquinhos.
Adorei o atraso da Comlurb por seu papel didático. Quem andou no calçadão dominical e olhou aquela imundície pode ter pensado, caso tenha consciência: e se cada um cuidasse de seu próprio lixo como pessoas civilizadas? O Rio está cheio de farofeiro. De fora e de dentro. De todas as classes sociais. Gente que ainda não aprendeu que pode carregar seu próprio saquinho de lixo na praia. A areia que sujamos hoje será ocupada amanhã por nós mesmos, nossas crianças ou os bebês dos outros. Falo do Rio, mas o alerta serve para o Brasil inteiro neste verão. Temos um litoral paradisíaco. Por que maltratar as praias?
Na Cidade Maravilhosa, o terceiro maior orçamento da prefeitura é o da Comlurb. Só perde para Educação e Saúde. Por ano, a prefeitura gasta R$ 1 bilhão coletando lixo dos prédios e das ruas. “Para recolher a lambança que as pessoas fazem nas ruas, parques, praias, são gastos R$ 550 milhões”, me disse o prefeito Eduardo Paes. “Daria para construir 100 escolas num ano, ou 150 creches, ou 200 clínicas da família.”
No ano passado, Paes criou o “lixômetro”, uma medição do lixo público nos bairros. Quem reduzisse mais ao longo do ano ganharia benfeitorias. O campeão foi a Cidade de Deus, comunidade carente pacificada. Menos lixo no espaço público significa economia para o contribuinte e trabalho menos penoso para os garis. A multa no Rio, hoje, para quem joga lixo na rua é de R$ 146, mas jamais alguém foi multado. Os guardas municipais raramente abordam os sujismundos e preferem tentar educar, explicar que não é legal.
As cestas de lixo nunca serão suficientes para os porquinhos. Porque o que conta é educação e cultura
Os porquinhos adoram um argumento: não haveria cestas de lixo suficientes. Na orla, as 1.400 caçambas não dariam para o lixo do verão. A partir de fevereiro, as caçambas dobrarão de volume, de 120 litros para 240 litros. E nunca serão suficientes. Porque o que conta é educação e cultura. Ou você se sente incapaz de jogar qualquer coisa no chão e anda com o papel melado de bala até encontrar uma lixeira, ou você joga mesmo, sem culpa nem perdão. O outro argumento é igual ao dos políticos corruptos: todo mundo rouba, por que não eu? Pois é, todo mundo suja, a areia já está coalhada de palitinhos, plásticos e cocos, que diferença eu vou fazer? Toda a diferença do mundo. O valor de cada um ninguém tira.
Em alta temporada, 200 garis recolhem, de 56 quilômetros de praias no Rio, 70 toneladas de lixo aos sábados e 120 toneladas de lixo aos domingos. A praia com mais lixo é a da Barra da Tijuca. Em seguida, Copacabana. Tenham santa paciência. Quando vejo aquela família que leva da praia suas barracas, cadeirinhas e bolsas, mas deixa na areia um rastro de lixo, dá vontade de perguntar: na sua casa também é assim?
A tímida campanha do “Rio que eu amo eu cuido” mostra que muito mais conscientização será necessária. A China produziu um gigantesco rolo compressor antes das Olimpíadas: em outdoors nas ruas, programas de rádio e televisão, o governo pedia à população que não cuspisse e escarrasse na rua. Era uma forma de tentar mostrar ao mundo que o povo não era tão mal-educado.
Experimente responder a estas perguntas. Jogo lixo na rua? Já deixei lixo na praia? De carro, furo o sinal vermelho? Acelero no sinal amarelo para assustar o pedestre? Buzino sem parar e xingo no trânsito? Dirijo depois de beber? Deixo meu cachorro fazer cocô na rua sem recolher? Já fiz xixi publicamente? Corro de bicicleta na calçada, pondo em risco velhinhos e crianças? Abro a mala do carro estacionado para fazer ecoar meu som predileto?
Que tal ser um cidadão melhor e menos porquinho em 2012?
Ruth de Aquino
Era lixo só. No domingo de Natal, ninguém se atrevia a ir à praia em Ipanema e Leblon, os bairros da zelite carioca. É o metro quadrado mais caro do Rio de Janeiro, mas o que sobra em dinheiro falta em educação. Todo mundo culpou a Comlurb, a companhia municipal de limpeza. Que direito tem a prefeitura de expor nossa falta de respeito com o espaço público?
É verdade que houve uma falha operacional. Os garis do sábado à noite teriam de dar mais duro para compensar a redução da equipe da Comlurb no domingo. A praia mais sofisticada da cidade, que vai do canto do Arpoador até o fim do Leblon, amanheceu com 25 toneladas de lixo espalhadas, um espetáculo nojento. Cocos são o maior detrito: 20 mil por dia. Mas tem muita embalagem de biscoito e sorvete. As criancinhas imitam os pais que deixam na areia latas de cerveja, copos de mate, garrafinhas de água, espetos de queijo coalho, canudos de plástico. É o porco pai, a porca mãe e a prole de porquinhos.
Adorei o atraso da Comlurb por seu papel didático. Quem andou no calçadão dominical e olhou aquela imundície pode ter pensado, caso tenha consciência: e se cada um cuidasse de seu próprio lixo como pessoas civilizadas? O Rio está cheio de farofeiro. De fora e de dentro. De todas as classes sociais. Gente que ainda não aprendeu que pode carregar seu próprio saquinho de lixo na praia. A areia que sujamos hoje será ocupada amanhã por nós mesmos, nossas crianças ou os bebês dos outros. Falo do Rio, mas o alerta serve para o Brasil inteiro neste verão. Temos um litoral paradisíaco. Por que maltratar as praias?
Na Cidade Maravilhosa, o terceiro maior orçamento da prefeitura é o da Comlurb. Só perde para Educação e Saúde. Por ano, a prefeitura gasta R$ 1 bilhão coletando lixo dos prédios e das ruas. “Para recolher a lambança que as pessoas fazem nas ruas, parques, praias, são gastos R$ 550 milhões”, me disse o prefeito Eduardo Paes. “Daria para construir 100 escolas num ano, ou 150 creches, ou 200 clínicas da família.”
No ano passado, Paes criou o “lixômetro”, uma medição do lixo público nos bairros. Quem reduzisse mais ao longo do ano ganharia benfeitorias. O campeão foi a Cidade de Deus, comunidade carente pacificada. Menos lixo no espaço público significa economia para o contribuinte e trabalho menos penoso para os garis. A multa no Rio, hoje, para quem joga lixo na rua é de R$ 146, mas jamais alguém foi multado. Os guardas municipais raramente abordam os sujismundos e preferem tentar educar, explicar que não é legal.
As cestas de lixo nunca serão suficientes para os porquinhos. Porque o que conta é educação e cultura
Os porquinhos adoram um argumento: não haveria cestas de lixo suficientes. Na orla, as 1.400 caçambas não dariam para o lixo do verão. A partir de fevereiro, as caçambas dobrarão de volume, de 120 litros para 240 litros. E nunca serão suficientes. Porque o que conta é educação e cultura. Ou você se sente incapaz de jogar qualquer coisa no chão e anda com o papel melado de bala até encontrar uma lixeira, ou você joga mesmo, sem culpa nem perdão. O outro argumento é igual ao dos políticos corruptos: todo mundo rouba, por que não eu? Pois é, todo mundo suja, a areia já está coalhada de palitinhos, plásticos e cocos, que diferença eu vou fazer? Toda a diferença do mundo. O valor de cada um ninguém tira.
Em alta temporada, 200 garis recolhem, de 56 quilômetros de praias no Rio, 70 toneladas de lixo aos sábados e 120 toneladas de lixo aos domingos. A praia com mais lixo é a da Barra da Tijuca. Em seguida, Copacabana. Tenham santa paciência. Quando vejo aquela família que leva da praia suas barracas, cadeirinhas e bolsas, mas deixa na areia um rastro de lixo, dá vontade de perguntar: na sua casa também é assim?
A tímida campanha do “Rio que eu amo eu cuido” mostra que muito mais conscientização será necessária. A China produziu um gigantesco rolo compressor antes das Olimpíadas: em outdoors nas ruas, programas de rádio e televisão, o governo pedia à população que não cuspisse e escarrasse na rua. Era uma forma de tentar mostrar ao mundo que o povo não era tão mal-educado.
Experimente responder a estas perguntas. Jogo lixo na rua? Já deixei lixo na praia? De carro, furo o sinal vermelho? Acelero no sinal amarelo para assustar o pedestre? Buzino sem parar e xingo no trânsito? Dirijo depois de beber? Deixo meu cachorro fazer cocô na rua sem recolher? Já fiz xixi publicamente? Corro de bicicleta na calçada, pondo em risco velhinhos e crianças? Abro a mala do carro estacionado para fazer ecoar meu som predileto?
Que tal ser um cidadão melhor e menos porquinho em 2012?
Ruth de Aquino
2011: O ANO EM QUE A IMPRENSA PRESIDIU O PAÍS...
Dilma Rousseff correspondeu às espectativas – às minhas, pelo menos: foi um poste. E sem luz.
O ano que acaba hoje, foi marcado pelo curioso fato da criação de um regime político inusitado, a anarquia presidencialista. Nunca antes na história deste país tivemos um presidente que, em um ano, conseguisse a proeza de não fazer rigorosamente nada, nem de bom e nem de ruim – o que já é um adianto –, mas ela conseguiu. O fato de Dilma não ser chegada a pronunciamentos públicos também é um ponto positivo – seria neutro, mas se levarmos em conta o blablablá diário insuportável de Lula, é positivo.
O pulo para a sexta economia do mundo é sintomático: se Dilma nada fez, pelo menos não atrapalhou. Quem sabe, a continuar assim, nós alcançamos a China até o fim da sua ausência, perdão, seu governo?
A anarquia foi tão completa que assim como o Legislativo, o Judiciário não funcionou, apesar do segundo estar em todas as manchetes neste final de ano, não pelo que fizeram, mas pelo que deixaram de fazer – Justiça.
Quem brilhou mesmo foi a imprensa que, com a descoberta de fatos e com argumentos irrefutáveis, foi capaz de despertar a parte boa da opinião pública e ganhar força suficiente para fazer ministros corruptos caírem de podres, já que Dilma nada fez a não ser aceitar demissões. Isso sem contar com as várias denúncias que ficaram no ar a espera de uma solução.
Enfim, se 2011 não foi um ano positivo, pelo menos foi neutro.
Como diria Lula, num perdemo, nem ganhemo: empatemo.
Por Ricardo Froes
O ano que acaba hoje, foi marcado pelo curioso fato da criação de um regime político inusitado, a anarquia presidencialista. Nunca antes na história deste país tivemos um presidente que, em um ano, conseguisse a proeza de não fazer rigorosamente nada, nem de bom e nem de ruim – o que já é um adianto –, mas ela conseguiu. O fato de Dilma não ser chegada a pronunciamentos públicos também é um ponto positivo – seria neutro, mas se levarmos em conta o blablablá diário insuportável de Lula, é positivo.
O pulo para a sexta economia do mundo é sintomático: se Dilma nada fez, pelo menos não atrapalhou. Quem sabe, a continuar assim, nós alcançamos a China até o fim da sua ausência, perdão, seu governo?
A anarquia foi tão completa que assim como o Legislativo, o Judiciário não funcionou, apesar do segundo estar em todas as manchetes neste final de ano, não pelo que fizeram, mas pelo que deixaram de fazer – Justiça.
Quem brilhou mesmo foi a imprensa que, com a descoberta de fatos e com argumentos irrefutáveis, foi capaz de despertar a parte boa da opinião pública e ganhar força suficiente para fazer ministros corruptos caírem de podres, já que Dilma nada fez a não ser aceitar demissões. Isso sem contar com as várias denúncias que ficaram no ar a espera de uma solução.
Enfim, se 2011 não foi um ano positivo, pelo menos foi neutro.
Como diria Lula, num perdemo, nem ganhemo: empatemo.
Por Ricardo Froes
DILMA, A "EVITA DO TABLET", MIRA GESTÃO EFICAZ EM 2012
Com a imagem da "mãe dos pobres" em andamento, Dilma disfarça a corrupção de seu governo com programas sociais. Colada à imagem de Evita Peron, mulher oportunista que degradou, demoliu a Argentina junto com seu marido Peron que usou e abusou do populismo rasteiro. Movcc
Pós-faxina. Com o 1º ano de governo marcado pela queda de 7 ministros, presidente quer agora turbinar programas sociais e vencer crise econômica
Doze meses depois de subir a rampa do Planalto como herdeira do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff chega ao segundo ano de mandato com o desafio de construir uma marca de governo que vá além da "faxina" administrativa. Após enfrentar uma temporada de sobressaltos políticos, que culminaram com a queda de sete ministros, ela vestiu figurino mais popular, ganhou apoio na luta contra a corrupção, mas tropeçou na gestão do governo.
Na tentativa de desatar os nós que amarram os investimentos, Dilma vai remodelar a Casa Civil, redistribuir tarefas e turbinar os programas sociais. A construção da imagem de "mãe dos pobres" também já está em andamento. No Planalto, Dilma virou a "Evita de tablet", uma referência bem-humorada a Evita Peron, primeira-dama da Argentina de 1946 a 1952.
"Como é que eu faço para ir até ao alambrado cumprimentar o povo?", pergunta ela com frequência, agora, nas viagens pelos rincões do País.
Mais solta e menos carrancuda, Dilma parece encarnar a mãezona no contato com a população. Mas é o seu inseparável iPad a testemunha silenciosa das broncas federais.
"Você não sabe nada disso!" e "Esse projeto não para de pé" são os bordões preferidos da presidente, na hora do pito. Quem a acompanha há muito tempo sabe até decifrar sinais: o primeiro gesto de fúria aparece quando ela cruza os braços e chama o interlocutor de "meu querido".
Implacável nas cobranças, Dilma tem agora mais uma aflição: o agravamento da crise internacional e seu impacto sobre a economia. Diante do cenário de incertezas, ela fará corte drástico de despesas, apesar da pressão por gastos neste ano eleitoral.
Ao menos por enquanto, porém, a ordem é para acelerar o programa Brasil Sem Miséria e ações destinadas aos mais carentes. Figuram nessa lista a criação de postos de cadastramento do cartão SUS para moradores de rua, mais cisternas no plano Água para Todos e investimentos de R$ 125,7 bilhões no Minha Casa, Minha Vida, até 2014.
VERA ROSA / BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo
ANO BOM PARA OS BANDIDOS
Os bandidos no Brasil estão em polvorosa. Enquanto os nobres parlamentares brasileiros aprovam a Lei da Palmada e o desarmamento civil, os criminosos impõem, a ferro e fogo, a Lei da Bala. O Brasil é uma festa. Aqui, as pessoas chamam assassinos de “ex-ativista político” e terroristas de “jovens guerrilheiros ideológicos”. Tentem dar uma palmada no seu filho.
O moleque jogou gasolina na irmãzinha mais nova e tentou atear fogo na coitada. Você corre lá, arranca os fósforos da mão do guri e lhe aplica uma palmada no bumbum. Pronto. Você terá agora que lidar com todo tipo de militante politicamente correto e pró “direitos humanos” pelo resto da vida, militantes estes que lhe encherão o saco até você reconhecer que sim, “sou um monstro ignóbil, um ser vil, um destruidor de infâncias alheias e mereço ir para a cadeia por causa daquele atentado contra a juventude (a palmada)”.
Mas eu falava sobre a violência. De acordo com o Mapa da Violência 2012, 50 mil brasileiros morrem vítima da violência todos os anos. Um ser extraterrestre, vendo tais números, poderia me questionar. “Mas como?”. Simples, meu caro ET. Esses dados são consequência direta de uma política pró-bandido.
O pacote é completo e inclui a adequação de certas nomenclaturas à nova realidade (assassino de 17 anos de idade não é um assassino, e sim, um jovem em situação de risco e em conflito com a lei), a criação de mitos (vamos todos promover o desarmamento civil, ainda que 99% dos crimes sejam cometidos por bandidos com armas ilegais) e, também, a glorificação da carreira de bandido (no cinema, na literatura, na música popular brasileira, bandido é sempre o excluído lutando contra a falta de oportunidade de um mundo indiferente e capitalista, enquanto as forças da lei são os caretas).
O fato é que carreira de bandido, no Brasil, compensa, e muito. Ora, eu tenho uma arma ilegal (que eu comprei à luz do dia em um mercado popular) e a lei a meu favor (sabe como é, só faço 18 anos no ano que vem). Vou pular o muro da casa do leitor e roubar lá o que tiver de roubar, afinal, eu sei que o governo praticamente impede que cidadão de bem tenha uma arma legal para defender a si e a sua família.
Para o azar do leitor, ele estava em casa na hora do ocorrido e, ossos do ofício, toma um tiro e morre. Pergunta. O que acontecerá com o bandido? Nada, é um “jovem em conflito com a lei”. O que acontece ao leitor? Vira estatística.
Feliz Ano Novo, leitores, e se não desejo um Feliz Ano Novo para os bandidos também, é só porque eu sei que eles já tiveram um ótimo ano.
Rodolfo Oliveira
O1 de janeiro de 2012
O moleque jogou gasolina na irmãzinha mais nova e tentou atear fogo na coitada. Você corre lá, arranca os fósforos da mão do guri e lhe aplica uma palmada no bumbum. Pronto. Você terá agora que lidar com todo tipo de militante politicamente correto e pró “direitos humanos” pelo resto da vida, militantes estes que lhe encherão o saco até você reconhecer que sim, “sou um monstro ignóbil, um ser vil, um destruidor de infâncias alheias e mereço ir para a cadeia por causa daquele atentado contra a juventude (a palmada)”.
Mas eu falava sobre a violência. De acordo com o Mapa da Violência 2012, 50 mil brasileiros morrem vítima da violência todos os anos. Um ser extraterrestre, vendo tais números, poderia me questionar. “Mas como?”. Simples, meu caro ET. Esses dados são consequência direta de uma política pró-bandido.
O pacote é completo e inclui a adequação de certas nomenclaturas à nova realidade (assassino de 17 anos de idade não é um assassino, e sim, um jovem em situação de risco e em conflito com a lei), a criação de mitos (vamos todos promover o desarmamento civil, ainda que 99% dos crimes sejam cometidos por bandidos com armas ilegais) e, também, a glorificação da carreira de bandido (no cinema, na literatura, na música popular brasileira, bandido é sempre o excluído lutando contra a falta de oportunidade de um mundo indiferente e capitalista, enquanto as forças da lei são os caretas).
O fato é que carreira de bandido, no Brasil, compensa, e muito. Ora, eu tenho uma arma ilegal (que eu comprei à luz do dia em um mercado popular) e a lei a meu favor (sabe como é, só faço 18 anos no ano que vem). Vou pular o muro da casa do leitor e roubar lá o que tiver de roubar, afinal, eu sei que o governo praticamente impede que cidadão de bem tenha uma arma legal para defender a si e a sua família.
Para o azar do leitor, ele estava em casa na hora do ocorrido e, ossos do ofício, toma um tiro e morre. Pergunta. O que acontecerá com o bandido? Nada, é um “jovem em conflito com a lei”. O que acontece ao leitor? Vira estatística.
Feliz Ano Novo, leitores, e se não desejo um Feliz Ano Novo para os bandidos também, é só porque eu sei que eles já tiveram um ótimo ano.
Rodolfo Oliveira
O1 de janeiro de 2012
HACKERS & CRACKERS: OS DO BEM E OS DO MAL
Entre os cinco maiores hackers da internet, há quatro americanos e um japonês. São os ciberpiratas do século 21.
Mais parece uma luta de fantasmas travada nas sombras. Nessa história de hackers ou crackers, também parece fantasia na hora de apontar este ou aquele. Quase ninguém conhece um hacker ou um craker. Mas eles existem sim. Há até um site que os qualifica como os do bem e os do mal. E os relacionam por nome, idade e origem. É o IT Security, dos Estados Unidos. Recentemente ele listou os cinco maiores hackers éticos, aqueles que seriam os hackers do bem, e os dez maiores hackers malignos. Eu chamaria estes de crackers.
Os cinco maiores hackers conhecidos até hoje, desde o aparecimento da internet, fazem parte de uma lista em que se destacam os americanos Stephen Wozniak, um dos fundadores da Apple; Tim Berners-Lee, o inventor da web, Linus Torvalds, inventor do Linux, e Richard Stallman, inventor do projeto GNU de software livre. O quinto gênio da lista é o japonês Tsutomu Shimomura, tido como o homem que destruiu outro hacker famoso chamado Kevin Mitnick, considerado o maior, desde o advento da rede.
O japonês teve seu computador invadido pelo Mitnick e como vingança o denunciou ao FBI, a polícia federal americana, que o rastreou e o colocou na cadeia onde cumpriu pena.
Como já vimos aqui, nesse mundo de hackers e crackers o bem e o mal caminham juntinhos. Os hackers clandestinos são poucos, comparados à multidão que hoje opera legalmente contratada por empresas e governos, para testarem os sistemas de segurança. Outros chegam à legalidade ao invadirem sites de empresas e governos, sem permissão, e depois tentam vender seus serviços de proteção, atuando no mesmo estilo conhecido da velha máfia.
O certo mesmo é que não existe internauta imune às suas táticas e que não tenha sido vítima de seus vírus ou prejudicado pela queda de servidores que eles derrubam com seus ataques.
Aos poucos, o chamado cibercrime está deixando de ficar impune e muitos dos gênios do mal já repousaram ou repousam atrás das grades.
Como a utilização da Internet ainda é muito recente, cada país busca uma legislação específica para reger e punir os criminosos da rede. Não tem sido fácil essa caminhada, desde a tipificação do que é crime no mundo cibernético até a articulação legal entre os países para fazer frente aos crimes de alcance global, como existe nos casos de crimes tradicionais.
Um bom exemplo seria a Interpol (polícia internacional). Num assalto a banco tradicional, todos sabem o que fazer para buscar, prender e punir os criminosos. Num assalto virtual, um hacker instalado em sua casa no Rio de Janeiro, Brasil, pode muito bem invadir um banco e roubar seus fundos em Portugal, na Europa ou na Tailândia, na Ásia.
Ainda não existe um manual de como fazer para prender e punir esse ladrão. E também por isso é grande a onda de crimes praticados na Internet.
Nos últimos anos, diminuiu bastante o ataque solitário de um hacker. Agora eles passaram a atuar em grupos. É claro que as coisas mudaram muito desde 2005. A segurança da rede hoje é bem maior e a vigilância também.
Outro fato interessante é que mais de 90 por cento dos criminosos são homens, com idade entre 15 e 35 anos, no máximo. Cuidado com eles.
Hildeberto Aleluia
Mais parece uma luta de fantasmas travada nas sombras. Nessa história de hackers ou crackers, também parece fantasia na hora de apontar este ou aquele. Quase ninguém conhece um hacker ou um craker. Mas eles existem sim. Há até um site que os qualifica como os do bem e os do mal. E os relacionam por nome, idade e origem. É o IT Security, dos Estados Unidos. Recentemente ele listou os cinco maiores hackers éticos, aqueles que seriam os hackers do bem, e os dez maiores hackers malignos. Eu chamaria estes de crackers.
Os cinco maiores hackers conhecidos até hoje, desde o aparecimento da internet, fazem parte de uma lista em que se destacam os americanos Stephen Wozniak, um dos fundadores da Apple; Tim Berners-Lee, o inventor da web, Linus Torvalds, inventor do Linux, e Richard Stallman, inventor do projeto GNU de software livre. O quinto gênio da lista é o japonês Tsutomu Shimomura, tido como o homem que destruiu outro hacker famoso chamado Kevin Mitnick, considerado o maior, desde o advento da rede.
O japonês teve seu computador invadido pelo Mitnick e como vingança o denunciou ao FBI, a polícia federal americana, que o rastreou e o colocou na cadeia onde cumpriu pena.
Como já vimos aqui, nesse mundo de hackers e crackers o bem e o mal caminham juntinhos. Os hackers clandestinos são poucos, comparados à multidão que hoje opera legalmente contratada por empresas e governos, para testarem os sistemas de segurança. Outros chegam à legalidade ao invadirem sites de empresas e governos, sem permissão, e depois tentam vender seus serviços de proteção, atuando no mesmo estilo conhecido da velha máfia.
O certo mesmo é que não existe internauta imune às suas táticas e que não tenha sido vítima de seus vírus ou prejudicado pela queda de servidores que eles derrubam com seus ataques.
Aos poucos, o chamado cibercrime está deixando de ficar impune e muitos dos gênios do mal já repousaram ou repousam atrás das grades.
Como a utilização da Internet ainda é muito recente, cada país busca uma legislação específica para reger e punir os criminosos da rede. Não tem sido fácil essa caminhada, desde a tipificação do que é crime no mundo cibernético até a articulação legal entre os países para fazer frente aos crimes de alcance global, como existe nos casos de crimes tradicionais.
Um bom exemplo seria a Interpol (polícia internacional). Num assalto a banco tradicional, todos sabem o que fazer para buscar, prender e punir os criminosos. Num assalto virtual, um hacker instalado em sua casa no Rio de Janeiro, Brasil, pode muito bem invadir um banco e roubar seus fundos em Portugal, na Europa ou na Tailândia, na Ásia.
Ainda não existe um manual de como fazer para prender e punir esse ladrão. E também por isso é grande a onda de crimes praticados na Internet.
Nos últimos anos, diminuiu bastante o ataque solitário de um hacker. Agora eles passaram a atuar em grupos. É claro que as coisas mudaram muito desde 2005. A segurança da rede hoje é bem maior e a vigilância também.
Outro fato interessante é que mais de 90 por cento dos criminosos são homens, com idade entre 15 e 35 anos, no máximo. Cuidado com eles.
Hildeberto Aleluia
O BALANÇO DA SEGURANÇA NO RIO EM 2011 E AS PERSPECTIVAS DE FUTURO
O ano de 2011, ainda que de evidente avanço na área de segurança pública, principalmente com a expansão das Unidades de Polícia Pacificadora – chegaram a 18 as UPPs instaladas beneficiando 350 mil moradores – além da queda progressiva de tipos de crimes considerados estratégicos para melhoria dos níveis de segurança, também ficou marcado por casos de extrema violência com grande repercussão de mídia, alguns envolvendo agentes do próprio estado.
No fatídico 07 de abril de 2011, um jovem psicopata, ex-aluno da Escola Municipal Tasso da Silveira, no bairro de Bangu, deu causa a cenas de horror jamais vistas no país, matando brutalmente, a tiros 12 alunos, entre crianças e adolescentes, ferindo outras e suicidando-se em seguida, num cenário próprio de tragédias americanas.
Ressalte-se que um sargento da Polícia Militar, ali próximo de serviço, evitou que o massacre fosse ainda maior ao abordar e ferir o insano atirador. Algumas vítimas da chamada ‘Tragédia de Realengo’ permanecem com sequelas físicas e psicológicas até hoje. Um filme de terror que estudantes, professores e funcionários da Escola Tasso da Silveira jamais esquecerão.
Dois outros fatos de extrema violência ocorreram, envolvendo a participação de policiais militares. Na noite de 20 de junho, após uma desastrada e incompreendida incursão policial numa favela, em Nova Iguaçu, Baixada Fluminense, três jovens que retornaram para casa foram alvejados por uma guarnição da PM.
O menino Juan, de 11 anos, em companhia do irmão Wesley (14 anos) e de um amigo, atingido pelos tiros, resultou morto, tendo o seu corpo sido levado do local pelos policiais, só aparecendo num riacho, no município de Belford Roxo, dez dias depois.
Num erro grosseiro da perícia técnica, foi anunciado em princípio que o corpo encontrado era de uma menina. O exame posterior de DNA confirmou tratar-se do corpo do menino Juan. Um crime bárbaro praticado por quem tem a missão de servir e proteger.
Outro fato de extrema ousadia e gravidade, que chocou a sociedade, de afronta máxima ao Poder Judiciário e ao estado democrático de direito, ocorreu na noite de 11 de agosto, quando a juíza criminal Patrícia Acioli, da comarca de São Gonçalo, foi morta com 21 tiros, em frente à sua residência, em Niterói, desferidos por ocupantes de uma motocicleta.
O crime foi tramado e executado por policiais militares do 7º BPM, e o ex-comandante da unidade policial, um tenente-coronel, é acusado de mentor intelectual do crime e um tenente é apontado como o executor, numa ação criminosa que envolve a acusação a mais 9 policiais militares que serviam naquele batalhão.
Difícil acreditar que quem tem a missão de comandar, servir, proteger, liderar e dar o exemplo, como no caso dos oficias em questão, possam ter se associado e acumpliciado a subordinados hierárquicos para tramar um crime tão bárbaro e covarde.
Tragédias e crimes bárbaros à parte, precisamos estar preparados para enfrentar os desafios na área de segurança, apesar dos avanços com o fechamento, pelas UPPs, dos cinturões de morros da Zona Sul, do Centro e do Maciço da Tijuca.
O complexo da Maré e as favelas de Manguinhos e Jacarezinho encontram-se nos planos da Secretaria de Segurança para implantação de UPPs, em 2012. Segundo o secretário de Segurança José Beltrame, a meta até 2014 é beneficiar com as UPPs 1,5 milhão de moradores e pacificar ao todo 40 complexos de favelas, num total de 165 comunidades. Beltrame também promete atacar a corrupção policial avançando cada vez mais no combate ao desvio de conduta.
É ledo engano imaginar, porém, que a doutrina narcoterrorista estaria totalmente destroçada no âmbito do Estado do Rio de Janeiro. Ainda que hoje enfraquecida pela prisão e isolamento dos principais líderes das diferentes facções, além do duro golpe, com o advento das UPPs, na estrutura financeira e em seus arsenais, com a apreensão de armas e drogas em significativos números, o narcoterrorismo hoje no Rio atua em redes, estando subdividido em ‘células narcoterroristas’, com mudança (migração) constante de seus redutos, obviamente instalando-se em morros e favelas onde ainda não existem UPPs.
Não há dúvida, no entanto, que com a tomada, no final de 2010, do Complexo do Alemão e mais recentemente da Rocinha, os dois maiores e mais importantes quartéis-generais do tráfico no Rio, culminando com a prisão do traficante Nem, a doutrina narcoterrorista perdeu sua força de intimidação.
Por sua vez, fica claro que o processo de enfrentamento do narcoterrorismo no Rio ainda levará alguns anos para que ocorra em toda sua plenitude, e as incursões policiais, com base em dados do setor de inteligência, nos redutos do crime, são estratégia importante nesse processo de enfraquecimento do poder paralelo.
A realidade é que estamos diante de um cenário de uma nova guerra, diferente das guerras convencionais do passado. É a guerra urbana, com emprego de armas de grande destruição – até helicóptero policial já foi abatido –, onde as forças legais atuam em áreas acidentadas, de difícil progressão no terreno, em presença de população civil, onde o “inimigo” não se encontra devidamente identificado.
Uma guerra mais difícil por sua natureza atípica em que táticas de terrorismo urbano e de ações próprias de guerrilha são utilizadas por perigosos marginais. Uma guerra também midiática e transmita a cores em tempo real.
Nesse contexto de violenta guerra urbana fica, porém, a certeza de que tal guerra só poderá ser vencida pela ação proativa e permanente do aparelho policial sempre atuando nos limites da lei e com o monitoramento e duro combate ao envolvimento de policias com o crime. O poder da criminalidade do Rio está em processo de enfraquecimento, porém o preço da paz social será a eterna vigilância. O setor de segurança tem tudo para avançar positivamente no novo ano que se inicia. Jamais podemos perder a esperança de lutar por um mundo mais humano e menos violento.
Milton Corrêa da Costa
01 de janeiro de 2012
No fatídico 07 de abril de 2011, um jovem psicopata, ex-aluno da Escola Municipal Tasso da Silveira, no bairro de Bangu, deu causa a cenas de horror jamais vistas no país, matando brutalmente, a tiros 12 alunos, entre crianças e adolescentes, ferindo outras e suicidando-se em seguida, num cenário próprio de tragédias americanas.
Ressalte-se que um sargento da Polícia Militar, ali próximo de serviço, evitou que o massacre fosse ainda maior ao abordar e ferir o insano atirador. Algumas vítimas da chamada ‘Tragédia de Realengo’ permanecem com sequelas físicas e psicológicas até hoje. Um filme de terror que estudantes, professores e funcionários da Escola Tasso da Silveira jamais esquecerão.
Dois outros fatos de extrema violência ocorreram, envolvendo a participação de policiais militares. Na noite de 20 de junho, após uma desastrada e incompreendida incursão policial numa favela, em Nova Iguaçu, Baixada Fluminense, três jovens que retornaram para casa foram alvejados por uma guarnição da PM.
O menino Juan, de 11 anos, em companhia do irmão Wesley (14 anos) e de um amigo, atingido pelos tiros, resultou morto, tendo o seu corpo sido levado do local pelos policiais, só aparecendo num riacho, no município de Belford Roxo, dez dias depois.
Num erro grosseiro da perícia técnica, foi anunciado em princípio que o corpo encontrado era de uma menina. O exame posterior de DNA confirmou tratar-se do corpo do menino Juan. Um crime bárbaro praticado por quem tem a missão de servir e proteger.
Outro fato de extrema ousadia e gravidade, que chocou a sociedade, de afronta máxima ao Poder Judiciário e ao estado democrático de direito, ocorreu na noite de 11 de agosto, quando a juíza criminal Patrícia Acioli, da comarca de São Gonçalo, foi morta com 21 tiros, em frente à sua residência, em Niterói, desferidos por ocupantes de uma motocicleta.
O crime foi tramado e executado por policiais militares do 7º BPM, e o ex-comandante da unidade policial, um tenente-coronel, é acusado de mentor intelectual do crime e um tenente é apontado como o executor, numa ação criminosa que envolve a acusação a mais 9 policiais militares que serviam naquele batalhão.
Difícil acreditar que quem tem a missão de comandar, servir, proteger, liderar e dar o exemplo, como no caso dos oficias em questão, possam ter se associado e acumpliciado a subordinados hierárquicos para tramar um crime tão bárbaro e covarde.
Tragédias e crimes bárbaros à parte, precisamos estar preparados para enfrentar os desafios na área de segurança, apesar dos avanços com o fechamento, pelas UPPs, dos cinturões de morros da Zona Sul, do Centro e do Maciço da Tijuca.
O complexo da Maré e as favelas de Manguinhos e Jacarezinho encontram-se nos planos da Secretaria de Segurança para implantação de UPPs, em 2012. Segundo o secretário de Segurança José Beltrame, a meta até 2014 é beneficiar com as UPPs 1,5 milhão de moradores e pacificar ao todo 40 complexos de favelas, num total de 165 comunidades. Beltrame também promete atacar a corrupção policial avançando cada vez mais no combate ao desvio de conduta.
É ledo engano imaginar, porém, que a doutrina narcoterrorista estaria totalmente destroçada no âmbito do Estado do Rio de Janeiro. Ainda que hoje enfraquecida pela prisão e isolamento dos principais líderes das diferentes facções, além do duro golpe, com o advento das UPPs, na estrutura financeira e em seus arsenais, com a apreensão de armas e drogas em significativos números, o narcoterrorismo hoje no Rio atua em redes, estando subdividido em ‘células narcoterroristas’, com mudança (migração) constante de seus redutos, obviamente instalando-se em morros e favelas onde ainda não existem UPPs.
Não há dúvida, no entanto, que com a tomada, no final de 2010, do Complexo do Alemão e mais recentemente da Rocinha, os dois maiores e mais importantes quartéis-generais do tráfico no Rio, culminando com a prisão do traficante Nem, a doutrina narcoterrorista perdeu sua força de intimidação.
Por sua vez, fica claro que o processo de enfrentamento do narcoterrorismo no Rio ainda levará alguns anos para que ocorra em toda sua plenitude, e as incursões policiais, com base em dados do setor de inteligência, nos redutos do crime, são estratégia importante nesse processo de enfraquecimento do poder paralelo.
A realidade é que estamos diante de um cenário de uma nova guerra, diferente das guerras convencionais do passado. É a guerra urbana, com emprego de armas de grande destruição – até helicóptero policial já foi abatido –, onde as forças legais atuam em áreas acidentadas, de difícil progressão no terreno, em presença de população civil, onde o “inimigo” não se encontra devidamente identificado.
Uma guerra mais difícil por sua natureza atípica em que táticas de terrorismo urbano e de ações próprias de guerrilha são utilizadas por perigosos marginais. Uma guerra também midiática e transmita a cores em tempo real.
Nesse contexto de violenta guerra urbana fica, porém, a certeza de que tal guerra só poderá ser vencida pela ação proativa e permanente do aparelho policial sempre atuando nos limites da lei e com o monitoramento e duro combate ao envolvimento de policias com o crime. O poder da criminalidade do Rio está em processo de enfraquecimento, porém o preço da paz social será a eterna vigilância. O setor de segurança tem tudo para avançar positivamente no novo ano que se inicia. Jamais podemos perder a esperança de lutar por um mundo mais humano e menos violento.
Milton Corrêa da Costa
01 de janeiro de 2012
COPA 2014: DEVAGAR, QUASE PARADA.
É o que mostra o Portal da Transparência. Foram previstos R$ 27 bilhões de investimentos municipais, estaduais e federais, contratados apenas R$ 9,8 bilhões e executados apenas R$ 1,4 bilhões. Pouco mais de 5% das obras foram executadas.
Os investimentos federais não fogem à regra. Há uma previsão de investimentos de R$ 7,0 bilhões em aeroportos, foi contratado R$ 1,5 bilhão e executados tão somente R$ 224 milhões, ou 3,2%. Em portos, o número é o pior possível. Dos R$ 899 milhões previstos, nada foi ao menos contratado!
Os financiamentos prometidos para estádios devem alcançar R$ 3,3 bilhões. Já foram contratados R$ 2,2 milhões, mas apenas 276 milhões foram executados. Pouco mais de 8% e faltam apenas dois anos para a Copa das Confederações.
A jóia da coroa nos investimentos da Copa 2014 são aqueles destinados à mobilidade urbana. O Governo Federal prevê R$ 7,9 bilhões de financiamento. Contratou apenas 1,7 bilhão. As obras executadas não passam de R$ 75 milhões. Menos de 1%.
Por tudo isso, a Copa é um fracasso anunciado. A estas alturas, com o mundo derretendo e rindo da cara do Brasil que bancou a empreitada, talvez devêssemos torcer por isso mesmo. Melhor arranhar a imagem do que rasgar dinheiro público.
coroneLeaks
1 de janeiro de 2012
DÉLI: SUCESSOS URBANOS DO SÉCULO XX?
O peso crescente de uma megacidade indiana é motivo para pompa e comemorações
Essa foto de Nova Deli é cortesia do TripAdvisor
Há cem anos o mundo veio a Déli. Em 12 de dezembro de 1911 imensas fileiras de elefantes carregando príncipes percorreram o caminho da velha cidade do império mongol até um pedaço de terra transformado em um gigantesco anfiteatro rodeado por cúpulas. Cerca de 100 mil visitantes chegaram lá após atravessarem quilômetros em novas estradas e uma linha ferroviária especial. A festança era para um rei britânico que estava de passagem pela Índia, George V, para celebrar sua recente coroação, uma demonstração de força feita para atestar a permanência do domínio imperial.
Poucos dos que estavam presentes naquele dia sob o sol fresco de inverno podiam imaginar que os ocupantes ingleses seriam expulsos dentro de quatro décadas. A festa deixou todos maravilhados. Os jornais britânicos a chamaram de “o maior show do planeta”.
Esta semana os habitantes de Déli comemoraram o centenário com pouco mais do que um encolher de ombros pós-colonial.
“Não há muita badalação”, disse um ambulante, reparando na falta de agitação dos funcionários do governo. Ainda assim o evento também marcou a renascença de uma grande cidade, habitada por mais de dois milênios.
O rei George declarou Déli como a capital da Índia novamente, como ela havia sido sob o domínio mongol, relegando Calcutá a um simples entreposto comercial.
As largas avenidas e áreas verdes e os edifícios no novo estilo clássico de Sir Edwin Lutyen, com mais do que o ocasional floreio mongol: tudo isso fez muito bem à cidade.
William Dalrymple, um historiador, a chama de “um dos maiores sucessos urbanos do século XX”.
Agora, com o rápido crescimento econômico, Déli está florescendo. O censo deste ano mostrou que sua população – antes inchada devido aos refugiados punjabis, e mais recentemente por um constante fluxo de migrantes de todas as partes da Índia – chega a 16,7 milhões, comparado a apenas 410 mil em 1911. Contando os subúrbios o número aumenta para 21 milhões.
Já uma das maiores áreas urbanas do planeta, e crescendo rápido, sua dominância nacional é, portanto, assegurada (embora também o sejam a terrível poluição do ar, a falta de água limpa e o alastramento dos vastos guetos).
Os residentes de Déli são duas vezes mais ricos que a média dos indianos, ganhando cerca de 116.800 rúpias (2.170 dólares) por ano cada um. O status da cidade é comparável ao de um estado, como Washingtion, DC, nos Estados Unidos. Sua economia de $40 bilhões cresce 10,5% ao ano.
31/12/2011
Opinião e notícia
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Há cem anos o mundo veio a Déli. Em 12 de dezembro de 1911 imensas fileiras de elefantes carregando príncipes percorreram o caminho da velha cidade do império mongol até um pedaço de terra transformado em um gigantesco anfiteatro rodeado por cúpulas. Cerca de 100 mil visitantes chegaram lá após atravessarem quilômetros em novas estradas e uma linha ferroviária especial. A festança era para um rei britânico que estava de passagem pela Índia, George V, para celebrar sua recente coroação, uma demonstração de força feita para atestar a permanência do domínio imperial.
Poucos dos que estavam presentes naquele dia sob o sol fresco de inverno podiam imaginar que os ocupantes ingleses seriam expulsos dentro de quatro décadas. A festa deixou todos maravilhados. Os jornais britânicos a chamaram de “o maior show do planeta”.
Esta semana os habitantes de Déli comemoraram o centenário com pouco mais do que um encolher de ombros pós-colonial.
“Não há muita badalação”, disse um ambulante, reparando na falta de agitação dos funcionários do governo. Ainda assim o evento também marcou a renascença de uma grande cidade, habitada por mais de dois milênios.
O rei George declarou Déli como a capital da Índia novamente, como ela havia sido sob o domínio mongol, relegando Calcutá a um simples entreposto comercial.
As largas avenidas e áreas verdes e os edifícios no novo estilo clássico de Sir Edwin Lutyen, com mais do que o ocasional floreio mongol: tudo isso fez muito bem à cidade.
William Dalrymple, um historiador, a chama de “um dos maiores sucessos urbanos do século XX”.
Agora, com o rápido crescimento econômico, Déli está florescendo. O censo deste ano mostrou que sua população – antes inchada devido aos refugiados punjabis, e mais recentemente por um constante fluxo de migrantes de todas as partes da Índia – chega a 16,7 milhões, comparado a apenas 410 mil em 1911. Contando os subúrbios o número aumenta para 21 milhões.
Já uma das maiores áreas urbanas do planeta, e crescendo rápido, sua dominância nacional é, portanto, assegurada (embora também o sejam a terrível poluição do ar, a falta de água limpa e o alastramento dos vastos guetos).
Os residentes de Déli são duas vezes mais ricos que a média dos indianos, ganhando cerca de 116.800 rúpias (2.170 dólares) por ano cada um. O status da cidade é comparável ao de um estado, como Washingtion, DC, nos Estados Unidos. Sua economia de $40 bilhões cresce 10,5% ao ano.
31/12/2011
Opinião e notícia
2011: 12 MESES DE PROTESTOS
Confira o registro fotográfico e relatos de 12 meses de protestos pelo mundo
29/12/2011
Tudo começou quando um vendedor de frutas tunisiano chamado Mohamde Bouazizi pôs-se em chamas na cidade empobrecida de Sidi Bouzid para protestar contra sua falta de oportunidade em um dos países mais repressivos da região.
O sacrifício de Bouazizi foi o catalisador que moldou o ano que agora termina de uma forma que ninguém poderia ter imaginado. Pessoas em um país após outro foram às ruas para reivindicar mudanças, energizados e encorajados por seus antecessores.
A onda de descontentamento se espalhou da Tunísia para o Egito e Líbia, e teve sua força impulsionada pela economia enfraquecida na Grécia e pelo desencanto político na Espanha e Rússia até aparentemente dar a volta ao mundo e chegar na costa norte-americana para ocupar Wall Street. Atos desesperados como o de Mohamed Bouazizi pipocavam em todo o mundo e estes momentos foram capturados por câmeras de fotógrafos, registrando 12 meses de protestos.
Janeiro >– Tunísia: ondas de fumaça em uma rua durante confrontos entre polícia e manifestantes. Após 23 anos de governo, Zine – el-Abidine Ben Ali deixou o país em 14 de janeiro, e a Tunísia se tornou a faísca que desencadeou uma explosão de revolta em todo o mundo árabe. “Para mim foi muito importante estar lá, não apenas como fotojornalista, mas também como uma experiência pessoal. Tunísia e tunisianos transmitiram coragem e esperança para muitos jovens em países árabes. Eles também ensinaram os modos e os rituais da revolução a outros jovens. Foi incrível” – Alex Majoli/Magnum
Fevereiro >– Egito: manifestantes dormem debaixo de uma lona de plástico na frente do Parlamento do Egito, no Centro de Cairo. Hosni Mubarak deixou o cargo em 11 de fevereiro, depois de quase 30 anos na presidência do país. “Em fevereiro, eu fiquei em um hotel em Tahrir Square. O ruído dos protestos foi constante, alto e hipnotizante. Quando o presidente deixou o cargo, havia um sentimento gigante de vitória na praça e um senso de responsabilidade pelo país. Após a revolução, eu me mudei para o Cairo, para um apartamento perto da praça. Eu ainda ouço os protestos da minha janela: a Justiça ainda não está feita, virá depois” – Moises Saman/Magnum.
Março – Bahrein: Crianças levam uma bandeira para o funeral de Issa al Radhi, 47, que foi morto por forças de segurança do Bahrein durante os protestos na aldeia de Sitra. “Os protestos foram os mais comoventes que eu cobri. Foi uma revolução fracassada, esmagada pela força do rei com as tropas da Arábia Saudita e com o apoio do governo dos EUA. A luta continua e já teve consequências terríveis. Eles são os manifestantes mais bem-educados e pacíficos que eu conheci” -Andrea Bruce/NOOR
Abril – Índia: Em 5 de abril, o ativista indiano Anna Hazare inicou uma greve de fome de quatro dias contra a corrupção, o que provocou protestos em todo o país em seu apoio e só terminou quando o governo cedeu a suas exigências sobre a criação de uma rigorosa lei anticorrupção. Em junho os protestos contra a corrupção continuaram em Nova Déli, incluindo uma enorme sessão de yoga em uma tenda ao ar livre. Lynsey Addario/VII
Maio – Espanha: manifestantes assistiram a uma assembleia pública na praça Puerta del Sol, em Madrid. Também chamado de Movimento 15-M, os protestos foram organizados por redes sociais e contaram com milhões de cidadãos. As manifestações pacíficas aconteceram a partir do dia 15 de maio, data próxima das eleições no país, marcadas para 22 de maio. Markel Redondo/Panos.
Junho:–b> Arábia Saudita: a polícia saudita aborda o veículo de uma mulher que dirigia em Riyadl, na Arábia Saudita, como parte de um protesto organizado em 17 de junho contra a proibição do país de motoristas do sexo feminino. Lynsey Addario / VII
Julho – Síria: depois de deixar o abrigo de um violento confronto com manifestantes em um acampamento improvisado no noroeste rural do país, um pai e suas duas filhas olham para os montes, onda as forças do governo foram vistas avançando para o local. Desde meados de março, o presidente Bashar al-Assad desencadeou uma série de medidas de repressão implacável, com um número de mortes de cerca de cinco mil pessoas, de acordo com relatórios das Nações Unidas. Zalmai.
Agosto – Líbia: combatentes rebeldes coletam munição de um estoque de armas em Khamis Katiba, em Trípoli. Depois de uma revolução de seis meses, as forças rebeldes finalmente conseguiram entrar na capital, assumindo o controle de Bab al-Aziziyah, onde residia Khadafi. Em outubro, os rebeldes capturaram e mataram o ditador, criando um vazio na liderança. Milícias rivais disputam o poder. “Cheguei a Trípoli ao meio-dia de segunda-feira, 22 de agosto. Entrando na cidade deserta foi um momento muito emocionante para mim; a cidade havia se tornado um símbolo de toda a luta revolucionária. Eu tinha resolvido cedo que faria todo o esforço para estar lá, se e quando Trípoli caisse. Tendo visitado Trípoli em 2003, eu sinceramente não esperava que o povo líbio fosse conseguir derrubar Khadafi e acabar com seu regime ditatorial de 42 anos de forma tão rápida e corajosa”. William Daniels
Setembro – Grécia: confrontos entre a polícia e manifestantes nas ruas de Salónica, em frente ao Centro de Exposições Internacional, onde mais de 25 mil pessoas se uniram para protestas contra as medidas de austeridades durante uma visita do primeiro ministro à cidade. “A Grécia tem uma longa história de manifestações e marchas. Este ano, porém, uma multidão profundamente diversa se reuniu nas ruas pela primeira vez. Em um movimento sem precedentes na Grécia, embora em sua maioria carente de autocrítica, as ruas se transformaram em campos de batalha, onde cada lado tem sua própria estratégia e organização, e também as suas próprias armas. A violência é muitas vezes descontrolada e chocante, mas assim que os confrontos terminaram, a paixão e a determinação deram lugar à melancolia e a dormência.” Giorgos Georgiou / Invision Images
Outubro – Ocupação de Wall Street, Nova York: “Comecei a fazer fotos no Parque Zuccotti na primeira semana de outubro, após a prisão de centenas de manifestantes durante uma travessia da ponte do Brooklyn. Todo mundo que conheço tem sido afetado de alguma forma pelo declínio da economia global e eu senti que uma revolta contra a política econômica dos EUA era iminente. Eu estava curioso para ver se uma “ocupação” em solo norte-americano seria possível, e se alguma coisa seria realmente realizada. Fotografei simplesmente todos que passavam na minha frente e pedi para que eles colocassem palavras no papel sobre a razão de estarem lá” Wayne Lawrence / Instituto
Novembro – Ocupação Oakland, Califórnia: manifestantes dançam em cima de um container depois de uma marcha a partir de Frank Ogawa até o Porto de Okaland durante a ocupação que colocou em greve toda a cidade. Chavez Ray / Bang / Polaris
Dezembro – Rússia: “A adrenalina na manifestação era quase vertiginosa, como se todos os presentes estivessem fazendo parte de algo ilegal e secreto. Pessoas fotografaram a si mesmas e as pessoas à sua volta para provarem que realmente estavam lá. O começo do fim? Talvez. Parece muito cedo para dizer isso. No entanto, só de tomar as ruas e ouvir suas próprias vozes gritando frases anti-governo parece ter gerado um extraordinário senso de poder”. James Hill
29/12/2011
Tudo começou quando um vendedor de frutas tunisiano chamado Mohamde Bouazizi pôs-se em chamas na cidade empobrecida de Sidi Bouzid para protestar contra sua falta de oportunidade em um dos países mais repressivos da região.
O sacrifício de Bouazizi foi o catalisador que moldou o ano que agora termina de uma forma que ninguém poderia ter imaginado. Pessoas em um país após outro foram às ruas para reivindicar mudanças, energizados e encorajados por seus antecessores.
A onda de descontentamento se espalhou da Tunísia para o Egito e Líbia, e teve sua força impulsionada pela economia enfraquecida na Grécia e pelo desencanto político na Espanha e Rússia até aparentemente dar a volta ao mundo e chegar na costa norte-americana para ocupar Wall Street. Atos desesperados como o de Mohamed Bouazizi pipocavam em todo o mundo e estes momentos foram capturados por câmeras de fotógrafos, registrando 12 meses de protestos.
Janeiro >– Tunísia: ondas de fumaça em uma rua durante confrontos entre polícia e manifestantes. Após 23 anos de governo, Zine – el-Abidine Ben Ali deixou o país em 14 de janeiro, e a Tunísia se tornou a faísca que desencadeou uma explosão de revolta em todo o mundo árabe. “Para mim foi muito importante estar lá, não apenas como fotojornalista, mas também como uma experiência pessoal. Tunísia e tunisianos transmitiram coragem e esperança para muitos jovens em países árabes. Eles também ensinaram os modos e os rituais da revolução a outros jovens. Foi incrível” – Alex Majoli/Magnum
Fevereiro >– Egito: manifestantes dormem debaixo de uma lona de plástico na frente do Parlamento do Egito, no Centro de Cairo. Hosni Mubarak deixou o cargo em 11 de fevereiro, depois de quase 30 anos na presidência do país. “Em fevereiro, eu fiquei em um hotel em Tahrir Square. O ruído dos protestos foi constante, alto e hipnotizante. Quando o presidente deixou o cargo, havia um sentimento gigante de vitória na praça e um senso de responsabilidade pelo país. Após a revolução, eu me mudei para o Cairo, para um apartamento perto da praça. Eu ainda ouço os protestos da minha janela: a Justiça ainda não está feita, virá depois” – Moises Saman/Magnum.
Março – Bahrein: Crianças levam uma bandeira para o funeral de Issa al Radhi, 47, que foi morto por forças de segurança do Bahrein durante os protestos na aldeia de Sitra. “Os protestos foram os mais comoventes que eu cobri. Foi uma revolução fracassada, esmagada pela força do rei com as tropas da Arábia Saudita e com o apoio do governo dos EUA. A luta continua e já teve consequências terríveis. Eles são os manifestantes mais bem-educados e pacíficos que eu conheci” -Andrea Bruce/NOOR
Abril – Índia: Em 5 de abril, o ativista indiano Anna Hazare inicou uma greve de fome de quatro dias contra a corrupção, o que provocou protestos em todo o país em seu apoio e só terminou quando o governo cedeu a suas exigências sobre a criação de uma rigorosa lei anticorrupção. Em junho os protestos contra a corrupção continuaram em Nova Déli, incluindo uma enorme sessão de yoga em uma tenda ao ar livre. Lynsey Addario/VII
Maio – Espanha: manifestantes assistiram a uma assembleia pública na praça Puerta del Sol, em Madrid. Também chamado de Movimento 15-M, os protestos foram organizados por redes sociais e contaram com milhões de cidadãos. As manifestações pacíficas aconteceram a partir do dia 15 de maio, data próxima das eleições no país, marcadas para 22 de maio. Markel Redondo/Panos.
Junho:–b> Arábia Saudita: a polícia saudita aborda o veículo de uma mulher que dirigia em Riyadl, na Arábia Saudita, como parte de um protesto organizado em 17 de junho contra a proibição do país de motoristas do sexo feminino. Lynsey Addario / VII
Julho – Síria: depois de deixar o abrigo de um violento confronto com manifestantes em um acampamento improvisado no noroeste rural do país, um pai e suas duas filhas olham para os montes, onda as forças do governo foram vistas avançando para o local. Desde meados de março, o presidente Bashar al-Assad desencadeou uma série de medidas de repressão implacável, com um número de mortes de cerca de cinco mil pessoas, de acordo com relatórios das Nações Unidas. Zalmai.
Agosto – Líbia: combatentes rebeldes coletam munição de um estoque de armas em Khamis Katiba, em Trípoli. Depois de uma revolução de seis meses, as forças rebeldes finalmente conseguiram entrar na capital, assumindo o controle de Bab al-Aziziyah, onde residia Khadafi. Em outubro, os rebeldes capturaram e mataram o ditador, criando um vazio na liderança. Milícias rivais disputam o poder. “Cheguei a Trípoli ao meio-dia de segunda-feira, 22 de agosto. Entrando na cidade deserta foi um momento muito emocionante para mim; a cidade havia se tornado um símbolo de toda a luta revolucionária. Eu tinha resolvido cedo que faria todo o esforço para estar lá, se e quando Trípoli caisse. Tendo visitado Trípoli em 2003, eu sinceramente não esperava que o povo líbio fosse conseguir derrubar Khadafi e acabar com seu regime ditatorial de 42 anos de forma tão rápida e corajosa”. William Daniels
Setembro – Grécia: confrontos entre a polícia e manifestantes nas ruas de Salónica, em frente ao Centro de Exposições Internacional, onde mais de 25 mil pessoas se uniram para protestas contra as medidas de austeridades durante uma visita do primeiro ministro à cidade. “A Grécia tem uma longa história de manifestações e marchas. Este ano, porém, uma multidão profundamente diversa se reuniu nas ruas pela primeira vez. Em um movimento sem precedentes na Grécia, embora em sua maioria carente de autocrítica, as ruas se transformaram em campos de batalha, onde cada lado tem sua própria estratégia e organização, e também as suas próprias armas. A violência é muitas vezes descontrolada e chocante, mas assim que os confrontos terminaram, a paixão e a determinação deram lugar à melancolia e a dormência.” Giorgos Georgiou / Invision Images
Outubro – Ocupação de Wall Street, Nova York: “Comecei a fazer fotos no Parque Zuccotti na primeira semana de outubro, após a prisão de centenas de manifestantes durante uma travessia da ponte do Brooklyn. Todo mundo que conheço tem sido afetado de alguma forma pelo declínio da economia global e eu senti que uma revolta contra a política econômica dos EUA era iminente. Eu estava curioso para ver se uma “ocupação” em solo norte-americano seria possível, e se alguma coisa seria realmente realizada. Fotografei simplesmente todos que passavam na minha frente e pedi para que eles colocassem palavras no papel sobre a razão de estarem lá” Wayne Lawrence / Instituto
Novembro – Ocupação Oakland, Califórnia: manifestantes dançam em cima de um container depois de uma marcha a partir de Frank Ogawa até o Porto de Okaland durante a ocupação que colocou em greve toda a cidade. Chavez Ray / Bang / Polaris
Dezembro – Rússia: “A adrenalina na manifestação era quase vertiginosa, como se todos os presentes estivessem fazendo parte de algo ilegal e secreto. Pessoas fotografaram a si mesmas e as pessoas à sua volta para provarem que realmente estavam lá. O começo do fim? Talvez. Parece muito cedo para dizer isso. No entanto, só de tomar as ruas e ouvir suas próprias vozes gritando frases anti-governo parece ter gerado um extraordinário senso de poder”. James Hill
COMPORTAMENTO TUPINIQUIM - OU DUPINIQUINHO...
Notícia para começar não tão bem o ano!!!
A imagem acima é da praia de Copacabana após a passagem de ano.
Muito lixo. Justamente no Reveillon em que a prefeitura do Hell de Janeiro promoveu a consciência ecológica, o respeito ao meio ambiente, ao próximo e a sí mesmo.
Fico imaginando se não tivessem promovido uma festa consciente de que forma estaria esta praia hoje pela manhã.
Aqui em Santos a prefeitura já recolheu aproximadas 25 toneladas de lixo na areia. Os festeiros encachaçados e extremamente educados brasileiros sabem muito bem trazer o lixo de casa espalhar pela areia, e ainda reclamar do poder público que demora para limpar a praia.
Sem contar as áreas destruídas do jardim onde o povaréu passa por cima feito estouro de boiada.
Ainda falta muito em educação para que o povo brasileiro chegue a um patamar mínimo de cidadania e consciência ecológica. Respeito ao patrimônio público.
E ao meio ambiente então...Anos Luz.
o mascate
A imagem acima é da praia de Copacabana após a passagem de ano.
Muito lixo. Justamente no Reveillon em que a prefeitura do Hell de Janeiro promoveu a consciência ecológica, o respeito ao meio ambiente, ao próximo e a sí mesmo.
Fico imaginando se não tivessem promovido uma festa consciente de que forma estaria esta praia hoje pela manhã.
Aqui em Santos a prefeitura já recolheu aproximadas 25 toneladas de lixo na areia. Os festeiros encachaçados e extremamente educados brasileiros sabem muito bem trazer o lixo de casa espalhar pela areia, e ainda reclamar do poder público que demora para limpar a praia.
Sem contar as áreas destruídas do jardim onde o povaréu passa por cima feito estouro de boiada.
Ainda falta muito em educação para que o povo brasileiro chegue a um patamar mínimo de cidadania e consciência ecológica. Respeito ao patrimônio público.
E ao meio ambiente então...Anos Luz.
o mascate
ESTE ANO PROMETE...
O brasileiro começa 2012 esmigalhado. Literalmente esmigalhado. Vai continuar vivendo das migalhas distribuídas pelo regime de Núcleos de Dominação Nacional (DND), marca desse terceiro governo Lula presidido por Dilma.
Ao apagar das luzes desse inerte e corrompido ano de 2011, o Congresso Nacional, grande casa de tolerância politiqueira desbragada, chantageou o grupo palaciano para aprovar o Orçamento de 2012. A malfeitoria se deu exatamente às 23h50 da antevéspera do Natal. Os malfeitores se deram bem.
O governo, acostumado a esse tipo de constrangimento, colocou no balcão de negociação mais de R$ 300 milhões, para atender às exigências das bases eleitorais dos 82 deputados e senadores que compõem a Comissão Misturebaa de Orçamento (CMO).
Cada um dos titulares e suplentes da comissão achacou individualmente do governo o compromisso de liberação imediata de R$ 3 milhões em emendas parlamentares. Dessas que a gente já sabe, saem sempre pior que o soneto.
VELHA PIADA
O "preço por cabeça" da chantagem política que esmigalhou os reajustes salariais dos servidores públicos e o devido aumento real das aposentadorias acima do salário mínimo acabou saindo mais caro. E o prejuízo ficou por conta da oportunista pior oposição que a política brasileira já teve na sua história.
Deu-se no meio da negociata a reedição da velha piada lusitana: um miserável espanhol, chamado Manuel, diante da vitrine cheia de coisas que ele queria mas não podia comprar, leu o anúncio: "Aproveite a ocasião". Não teve dúvidas, quebrou avitrine e pegou tudo o que podia.
Pois, foi bem assim que as coisas ocorreram no Congresso antes que o pano baixasse. Preocupado com as eleições municipais que vêm por aí e sabendo do quanto é nanica a bancada oposicionista diante da esmagadora maioria governista, o DEM aproveitou a ocasião: exigiu que a cota de R$ 3 milhões fosse estendida a cada um de seus 27 deputados, e não apenas aos seis que são da comissão.
Quer dizer, os servidores públicos e os aposentados que ganham mais de um salário mínimo que se explodam. O que importa é quando os balconistas vão meter a mão na grana que compra votos e consciências pelos seus currais eleitorais.
E o presidente do DEM, senador Zé Agripino ainda confessa o malfeito, com ares de grande benfeitor: "O que o nosso pessoal fez foi negociar a liberação de um limite mínimo de recursos ao partido, e o governo cumpriu o compromisso".
Para que não se demonize os oposicionistas é bom que se diga que a banda coalizada a esse terceiro governo Lula presidido por Dilma diga-se, a bem da verdade, que a chamada "base" pediu muito mais. Fez jús ao cognome de al-Qaeda da primeira-presidenta.
Depois de hoje, além dos 11 feriadões que o Brasil tem pela frente, 2012 é pura eleição. E não se fala em mais nada. Este ano promete.
sanatório da notícia
Ao apagar das luzes desse inerte e corrompido ano de 2011, o Congresso Nacional, grande casa de tolerância politiqueira desbragada, chantageou o grupo palaciano para aprovar o Orçamento de 2012. A malfeitoria se deu exatamente às 23h50 da antevéspera do Natal. Os malfeitores se deram bem.
O governo, acostumado a esse tipo de constrangimento, colocou no balcão de negociação mais de R$ 300 milhões, para atender às exigências das bases eleitorais dos 82 deputados e senadores que compõem a Comissão Misturebaa de Orçamento (CMO).
Cada um dos titulares e suplentes da comissão achacou individualmente do governo o compromisso de liberação imediata de R$ 3 milhões em emendas parlamentares. Dessas que a gente já sabe, saem sempre pior que o soneto.
VELHA PIADA
O "preço por cabeça" da chantagem política que esmigalhou os reajustes salariais dos servidores públicos e o devido aumento real das aposentadorias acima do salário mínimo acabou saindo mais caro. E o prejuízo ficou por conta da oportunista pior oposição que a política brasileira já teve na sua história.
Deu-se no meio da negociata a reedição da velha piada lusitana: um miserável espanhol, chamado Manuel, diante da vitrine cheia de coisas que ele queria mas não podia comprar, leu o anúncio: "Aproveite a ocasião". Não teve dúvidas, quebrou avitrine e pegou tudo o que podia.
Pois, foi bem assim que as coisas ocorreram no Congresso antes que o pano baixasse. Preocupado com as eleições municipais que vêm por aí e sabendo do quanto é nanica a bancada oposicionista diante da esmagadora maioria governista, o DEM aproveitou a ocasião: exigiu que a cota de R$ 3 milhões fosse estendida a cada um de seus 27 deputados, e não apenas aos seis que são da comissão.
Quer dizer, os servidores públicos e os aposentados que ganham mais de um salário mínimo que se explodam. O que importa é quando os balconistas vão meter a mão na grana que compra votos e consciências pelos seus currais eleitorais.
E o presidente do DEM, senador Zé Agripino ainda confessa o malfeito, com ares de grande benfeitor: "O que o nosso pessoal fez foi negociar a liberação de um limite mínimo de recursos ao partido, e o governo cumpriu o compromisso".
Para que não se demonize os oposicionistas é bom que se diga que a banda coalizada a esse terceiro governo Lula presidido por Dilma diga-se, a bem da verdade, que a chamada "base" pediu muito mais. Fez jús ao cognome de al-Qaeda da primeira-presidenta.
Depois de hoje, além dos 11 feriadões que o Brasil tem pela frente, 2012 é pura eleição. E não se fala em mais nada. Este ano promete.
sanatório da notícia
NO OLHO DO FURACÃO
A brutal transferência de renda dos mais pobres para os mais ricos nas sociedades dos principais países capitalistas da Europa.
A questão da carga tributária e de como os tributos incidem sobre a renda das diferentes classes da população são cruciais para o equilíbrio social dos países.
A política fiscal, que inclui a política tributária relativa à receita pública e a política orçamentária que se refere aos dispêndios do Governo, tem papel decisivo relativamente à melhoria da distribuição de renda nos países.
A tributação deve incidir mais, de modo progressivo, sobre a renda e o patrimônio do que sobre o consumo. A política fiscal neoliberal prejudica a distribuição de renda, piorando-a, ao reduzir a tributação sobre os mais ricos e ao diminuir as transferências financeiras, de renda, aos mais pobres, por meio do corte nos benefícios sociais (aposentadorias e pensões) e nas políticas sociais. Isto é que significa tornar os ricos mais ricos e os pobres mais pobres.
Os bancos foram salvos em 2008 pelos governos que, em decorrência disso, pioraram bastante suas situações fiscais, e agora os bancos querem quebrar os governos que os salvaram, obrigando-os a cortar benefícios sociais dos cidadãos comuns para pagar juros e amortizações da dívida pública a essas instituições financeiras.
Daí decorre a insatisfação das sociedades européias com os diferentes governos nacionais e com os políticos. Será uma brutal transferência de renda dos mais pobres para os mais ricos nas sociedades dos principais países capitalistas da Europa. E já começou.
Carlos Frederico Alverga
A questão da carga tributária e de como os tributos incidem sobre a renda das diferentes classes da população são cruciais para o equilíbrio social dos países.
A política fiscal, que inclui a política tributária relativa à receita pública e a política orçamentária que se refere aos dispêndios do Governo, tem papel decisivo relativamente à melhoria da distribuição de renda nos países.
A tributação deve incidir mais, de modo progressivo, sobre a renda e o patrimônio do que sobre o consumo. A política fiscal neoliberal prejudica a distribuição de renda, piorando-a, ao reduzir a tributação sobre os mais ricos e ao diminuir as transferências financeiras, de renda, aos mais pobres, por meio do corte nos benefícios sociais (aposentadorias e pensões) e nas políticas sociais. Isto é que significa tornar os ricos mais ricos e os pobres mais pobres.
Os bancos foram salvos em 2008 pelos governos que, em decorrência disso, pioraram bastante suas situações fiscais, e agora os bancos querem quebrar os governos que os salvaram, obrigando-os a cortar benefícios sociais dos cidadãos comuns para pagar juros e amortizações da dívida pública a essas instituições financeiras.
Daí decorre a insatisfação das sociedades européias com os diferentes governos nacionais e com os políticos. Será uma brutal transferência de renda dos mais pobres para os mais ricos nas sociedades dos principais países capitalistas da Europa. E já começou.
Carlos Frederico Alverga
HISTÓRIAS DO SEBASTIÃO NERY
O general e o hino
O general Camacho Leiva, ministro da Defesa da Colômbia, em outubro de 1979 foi visitar o que eles chamam de “Trapézio Amazônico”, a fronteira da Colômbia com o Brasil e o Peru, cuja cidade colombiana mais importante é Letícia, às margens do Solimões, diante da brasileira Benjamin Constant. O general chegou profissionalmente posudo, mandou as crianças ficarem em posição de sentido e deu voz de comando:
- Cantem o hino nacional!
A meninada cantou. Só que cantou o hino nacional do Brasil. O general-ministro voltou uma fera para Bogotá.
***
CARTAGENA
No dia seguinte, já lá em cima, na histórica Cartagena de Bolívar, García Márquez, Eduardo Galeano, esperando o telex ficar livre para também escrever sua matéria, o jornalista colombiano brincou comigo:
- Ontem eu contei a fúria do meu ministro da Defesa porque as crianças da nossa fronteira amazônica cantaram o hino de vocês. Quero ver agora se você vai escrever sobre o imperialismo brasileiro.
- Não vou, não. A menos que você me dê dados, provas. Na América Latina, desde que nascemos vivemos cantando hinos e ouvindo generais.
- Há setores da ditadura militar brasileira sonhando em ver o Brasil transformado nos Estados Unidos da América do Sul, penetrando na vida, na cultura e na economia dos países menores. Aqui, as universidades, os políticos mais sérios e os dirigentes mais responsáveis começam a preocupar-se. Todos sabemos que as nações são sobretudo interesses.
Acendeu um cigarro e foi para a janela fumar, enquanto eu escrevia.
***
NARCOFARC
Trinta e três anos se passaram. A Colômbia continuou virtualmente entregue aos mesmos dois grandes partidos, o Conservador e o Liberal. Em 79, já fazia outros 30 anos que os conservadores mandavam quatro anos e quatro anos os liberais governavam. Pouco importava se, por acaso, o povo elegia mais deputados de um ou de outro. Governava quem estivesse na vez.
Com isso, os conservadores eram cada vez mais conservadores e os liberais cada vez menos liberais. E mais. O grupo que ia para o poder entregava quase a metade dos cargos ao que saia. O povo foi ficando furioso com a farsa, mas sem instrumentos políticos legais para reagir.
Primeiro resultado: na eleição de 78, a abstenção foi a mais de 60%. Segundo resultado: a juventude, os intelectuais, os sindicatos desesperaram-se e foram para a guerrilha. Essa mesma guerrilha, que se degenerou em NarcoFarc, em 2008 fez 40 anos estarrecendo o mundo, seqüestrando e mantendo vivos na floresta, durante anos e anos, esqueletos humanos, como a esquálida mártir Ingrid Bettancourt, feitos moeda de seus narconegócios.
***
COLÔMBIA
Naquele 1979, previ e escrevi aqui (e está em meu livro “Sibéria, El Salvador, Nicarágua e outros mundos”):
1 – A Colômbia tem um dos mais antigos movimentos guerrilheiros do mundo e certamente o mais constante da América Latina. É o vômito nacional contra uma impostura política. E como a guerrilha não é solução, tanto que até agora (já em 79) não foi, o país vive um impasse cruel.
2 – A situação econômica se agrava, a inflação dispara, o povo mergulha numa pobreza de fazer dó e as empresas e interesses multinacionais ocupam o país completamente. Ou a Colômbia encaminha seus dramas políticos e econômicos, ou continuará refém da guerrilha.
Vinte e nove anos depois, vejo que infelizmente estava certo.
***
MAPAS
Quando o avião descia em Cartagena, tive a impressão de que descia ao lado dos Alagados de Salvador, na Bahia, à beira da Brasília Teimosa, do Recife, ou sobre a Favela da Maré, no Rio. Milhares de casas plantadas dentro do mangue, invadindo o mar de maré baixa e o povo miseravelmente vestido, os pés descalços, os rostos sofridos, transidos e desenganados.
Ali, no avião, tive raiva da geografia. Quando menino, tinha fascínio pelos lugares longe, principalmente de nome bonito, como aquela Cartagena misteriosa, fundada em 1533 pelo espanhol Pedro Heredia, hoje patrimônio cultural da Humanidade, com seu monumental conjunto colonial.
Se tivessem portos ou golfos, mais ainda. A escola primária foi um sonhar constante sobre os mistérios do mundo desenhados nos mapas. Quando os encontrei, descobri que a geografia era a miséria do povo pintada a cores nos mapas da infância. Ou será nos mapas da infâmia?
Os anos passam e nada muda.
| 02:32
O general e o hino
O general Camacho Leiva, ministro da Defesa da Colômbia, em outubro de 1979 foi visitar o que eles chamam de “Trapézio Amazônico”, a fronteira da Colômbia com o Brasil e o Peru, cuja cidade colombiana mais importante é Letícia, às margens do Solimões, diante da brasileira Benjamin Constant. O general chegou profissionalmente posudo, mandou as crianças ficarem em posição de sentido e deu voz de comando:
- Cantem o hino nacional!
A meninada cantou. Só que cantou o hino nacional do Brasil. O general-ministro voltou uma fera para Bogotá.
***
CARTAGENA
No dia seguinte, já lá em cima, na histórica Cartagena de Bolívar, García Márquez, Eduardo Galeano, esperando o telex ficar livre para também escrever sua matéria, o jornalista colombiano brincou comigo:
- Ontem eu contei a fúria do meu ministro da Defesa porque as crianças da nossa fronteira amazônica cantaram o hino de vocês. Quero ver agora se você vai escrever sobre o imperialismo brasileiro.
- Não vou, não. A menos que você me dê dados, provas. Na América Latina, desde que nascemos vivemos cantando hinos e ouvindo generais.
- Há setores da ditadura militar brasileira sonhando em ver o Brasil transformado nos Estados Unidos da América do Sul, penetrando na vida, na cultura e na economia dos países menores. Aqui, as universidades, os políticos mais sérios e os dirigentes mais responsáveis começam a preocupar-se. Todos sabemos que as nações são sobretudo interesses.
Acendeu um cigarro e foi para a janela fumar, enquanto eu escrevia.
***
NARCOFARC
Trinta e três anos se passaram. A Colômbia continuou virtualmente entregue aos mesmos dois grandes partidos, o Conservador e o Liberal. Em 79, já fazia outros 30 anos que os conservadores mandavam quatro anos e quatro anos os liberais governavam. Pouco importava se, por acaso, o povo elegia mais deputados de um ou de outro. Governava quem estivesse na vez.
Com isso, os conservadores eram cada vez mais conservadores e os liberais cada vez menos liberais. E mais. O grupo que ia para o poder entregava quase a metade dos cargos ao que saia. O povo foi ficando furioso com a farsa, mas sem instrumentos políticos legais para reagir.
Primeiro resultado: na eleição de 78, a abstenção foi a mais de 60%. Segundo resultado: a juventude, os intelectuais, os sindicatos desesperaram-se e foram para a guerrilha. Essa mesma guerrilha, que se degenerou em NarcoFarc, em 2008 fez 40 anos estarrecendo o mundo, seqüestrando e mantendo vivos na floresta, durante anos e anos, esqueletos humanos, como a esquálida mártir Ingrid Bettancourt, feitos moeda de seus narconegócios.
***
COLÔMBIA
Naquele 1979, previ e escrevi aqui (e está em meu livro “Sibéria, El Salvador, Nicarágua e outros mundos”):
1 – A Colômbia tem um dos mais antigos movimentos guerrilheiros do mundo e certamente o mais constante da América Latina. É o vômito nacional contra uma impostura política. E como a guerrilha não é solução, tanto que até agora (já em 79) não foi, o país vive um impasse cruel.
2 – A situação econômica se agrava, a inflação dispara, o povo mergulha numa pobreza de fazer dó e as empresas e interesses multinacionais ocupam o país completamente. Ou a Colômbia encaminha seus dramas políticos e econômicos, ou continuará refém da guerrilha.
Vinte e nove anos depois, vejo que infelizmente estava certo.
***
MAPAS
Quando o avião descia em Cartagena, tive a impressão de que descia ao lado dos Alagados de Salvador, na Bahia, à beira da Brasília Teimosa, do Recife, ou sobre a Favela da Maré, no Rio. Milhares de casas plantadas dentro do mangue, invadindo o mar de maré baixa e o povo miseravelmente vestido, os pés descalços, os rostos sofridos, transidos e desenganados.
Ali, no avião, tive raiva da geografia. Quando menino, tinha fascínio pelos lugares longe, principalmente de nome bonito, como aquela Cartagena misteriosa, fundada em 1533 pelo espanhol Pedro Heredia, hoje patrimônio cultural da Humanidade, com seu monumental conjunto colonial.
Se tivessem portos ou golfos, mais ainda. A escola primária foi um sonhar constante sobre os mistérios do mundo desenhados nos mapas. Quando os encontrei, descobri que a geografia era a miséria do povo pintada a cores nos mapas da infância. Ou será nos mapas da infâmia?
Os anos passam e nada muda.
Sebastião Nery, 01 de janeiro de 2012
O general Camacho Leiva, ministro da Defesa da Colômbia, em outubro de 1979 foi visitar o que eles chamam de “Trapézio Amazônico”, a fronteira da Colômbia com o Brasil e o Peru, cuja cidade colombiana mais importante é Letícia, às margens do Solimões, diante da brasileira Benjamin Constant. O general chegou profissionalmente posudo, mandou as crianças ficarem em posição de sentido e deu voz de comando:
- Cantem o hino nacional!
A meninada cantou. Só que cantou o hino nacional do Brasil. O general-ministro voltou uma fera para Bogotá.
***
CARTAGENA
No dia seguinte, já lá em cima, na histórica Cartagena de Bolívar, García Márquez, Eduardo Galeano, esperando o telex ficar livre para também escrever sua matéria, o jornalista colombiano brincou comigo:
- Ontem eu contei a fúria do meu ministro da Defesa porque as crianças da nossa fronteira amazônica cantaram o hino de vocês. Quero ver agora se você vai escrever sobre o imperialismo brasileiro.
- Não vou, não. A menos que você me dê dados, provas. Na América Latina, desde que nascemos vivemos cantando hinos e ouvindo generais.
- Há setores da ditadura militar brasileira sonhando em ver o Brasil transformado nos Estados Unidos da América do Sul, penetrando na vida, na cultura e na economia dos países menores. Aqui, as universidades, os políticos mais sérios e os dirigentes mais responsáveis começam a preocupar-se. Todos sabemos que as nações são sobretudo interesses.
Acendeu um cigarro e foi para a janela fumar, enquanto eu escrevia.
***
NARCOFARC
Trinta e três anos se passaram. A Colômbia continuou virtualmente entregue aos mesmos dois grandes partidos, o Conservador e o Liberal. Em 79, já fazia outros 30 anos que os conservadores mandavam quatro anos e quatro anos os liberais governavam. Pouco importava se, por acaso, o povo elegia mais deputados de um ou de outro. Governava quem estivesse na vez.
Com isso, os conservadores eram cada vez mais conservadores e os liberais cada vez menos liberais. E mais. O grupo que ia para o poder entregava quase a metade dos cargos ao que saia. O povo foi ficando furioso com a farsa, mas sem instrumentos políticos legais para reagir.
Primeiro resultado: na eleição de 78, a abstenção foi a mais de 60%. Segundo resultado: a juventude, os intelectuais, os sindicatos desesperaram-se e foram para a guerrilha. Essa mesma guerrilha, que se degenerou em NarcoFarc, em 2008 fez 40 anos estarrecendo o mundo, seqüestrando e mantendo vivos na floresta, durante anos e anos, esqueletos humanos, como a esquálida mártir Ingrid Bettancourt, feitos moeda de seus narconegócios.
***
COLÔMBIA
Naquele 1979, previ e escrevi aqui (e está em meu livro “Sibéria, El Salvador, Nicarágua e outros mundos”):
1 – A Colômbia tem um dos mais antigos movimentos guerrilheiros do mundo e certamente o mais constante da América Latina. É o vômito nacional contra uma impostura política. E como a guerrilha não é solução, tanto que até agora (já em 79) não foi, o país vive um impasse cruel.
2 – A situação econômica se agrava, a inflação dispara, o povo mergulha numa pobreza de fazer dó e as empresas e interesses multinacionais ocupam o país completamente. Ou a Colômbia encaminha seus dramas políticos e econômicos, ou continuará refém da guerrilha.
Vinte e nove anos depois, vejo que infelizmente estava certo.
***
MAPAS
Quando o avião descia em Cartagena, tive a impressão de que descia ao lado dos Alagados de Salvador, na Bahia, à beira da Brasília Teimosa, do Recife, ou sobre a Favela da Maré, no Rio. Milhares de casas plantadas dentro do mangue, invadindo o mar de maré baixa e o povo miseravelmente vestido, os pés descalços, os rostos sofridos, transidos e desenganados.
Ali, no avião, tive raiva da geografia. Quando menino, tinha fascínio pelos lugares longe, principalmente de nome bonito, como aquela Cartagena misteriosa, fundada em 1533 pelo espanhol Pedro Heredia, hoje patrimônio cultural da Humanidade, com seu monumental conjunto colonial.
Se tivessem portos ou golfos, mais ainda. A escola primária foi um sonhar constante sobre os mistérios do mundo desenhados nos mapas. Quando os encontrei, descobri que a geografia era a miséria do povo pintada a cores nos mapas da infância. Ou será nos mapas da infâmia?
Os anos passam e nada muda.
| 02:32
O general e o hino
O general Camacho Leiva, ministro da Defesa da Colômbia, em outubro de 1979 foi visitar o que eles chamam de “Trapézio Amazônico”, a fronteira da Colômbia com o Brasil e o Peru, cuja cidade colombiana mais importante é Letícia, às margens do Solimões, diante da brasileira Benjamin Constant. O general chegou profissionalmente posudo, mandou as crianças ficarem em posição de sentido e deu voz de comando:
- Cantem o hino nacional!
A meninada cantou. Só que cantou o hino nacional do Brasil. O general-ministro voltou uma fera para Bogotá.
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CARTAGENA
No dia seguinte, já lá em cima, na histórica Cartagena de Bolívar, García Márquez, Eduardo Galeano, esperando o telex ficar livre para também escrever sua matéria, o jornalista colombiano brincou comigo:
- Ontem eu contei a fúria do meu ministro da Defesa porque as crianças da nossa fronteira amazônica cantaram o hino de vocês. Quero ver agora se você vai escrever sobre o imperialismo brasileiro.
- Não vou, não. A menos que você me dê dados, provas. Na América Latina, desde que nascemos vivemos cantando hinos e ouvindo generais.
- Há setores da ditadura militar brasileira sonhando em ver o Brasil transformado nos Estados Unidos da América do Sul, penetrando na vida, na cultura e na economia dos países menores. Aqui, as universidades, os políticos mais sérios e os dirigentes mais responsáveis começam a preocupar-se. Todos sabemos que as nações são sobretudo interesses.
Acendeu um cigarro e foi para a janela fumar, enquanto eu escrevia.
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NARCOFARC
Trinta e três anos se passaram. A Colômbia continuou virtualmente entregue aos mesmos dois grandes partidos, o Conservador e o Liberal. Em 79, já fazia outros 30 anos que os conservadores mandavam quatro anos e quatro anos os liberais governavam. Pouco importava se, por acaso, o povo elegia mais deputados de um ou de outro. Governava quem estivesse na vez.
Com isso, os conservadores eram cada vez mais conservadores e os liberais cada vez menos liberais. E mais. O grupo que ia para o poder entregava quase a metade dos cargos ao que saia. O povo foi ficando furioso com a farsa, mas sem instrumentos políticos legais para reagir.
Primeiro resultado: na eleição de 78, a abstenção foi a mais de 60%. Segundo resultado: a juventude, os intelectuais, os sindicatos desesperaram-se e foram para a guerrilha. Essa mesma guerrilha, que se degenerou em NarcoFarc, em 2008 fez 40 anos estarrecendo o mundo, seqüestrando e mantendo vivos na floresta, durante anos e anos, esqueletos humanos, como a esquálida mártir Ingrid Bettancourt, feitos moeda de seus narconegócios.
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COLÔMBIA
Naquele 1979, previ e escrevi aqui (e está em meu livro “Sibéria, El Salvador, Nicarágua e outros mundos”):
1 – A Colômbia tem um dos mais antigos movimentos guerrilheiros do mundo e certamente o mais constante da América Latina. É o vômito nacional contra uma impostura política. E como a guerrilha não é solução, tanto que até agora (já em 79) não foi, o país vive um impasse cruel.
2 – A situação econômica se agrava, a inflação dispara, o povo mergulha numa pobreza de fazer dó e as empresas e interesses multinacionais ocupam o país completamente. Ou a Colômbia encaminha seus dramas políticos e econômicos, ou continuará refém da guerrilha.
Vinte e nove anos depois, vejo que infelizmente estava certo.
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MAPAS
Quando o avião descia em Cartagena, tive a impressão de que descia ao lado dos Alagados de Salvador, na Bahia, à beira da Brasília Teimosa, do Recife, ou sobre a Favela da Maré, no Rio. Milhares de casas plantadas dentro do mangue, invadindo o mar de maré baixa e o povo miseravelmente vestido, os pés descalços, os rostos sofridos, transidos e desenganados.
Ali, no avião, tive raiva da geografia. Quando menino, tinha fascínio pelos lugares longe, principalmente de nome bonito, como aquela Cartagena misteriosa, fundada em 1533 pelo espanhol Pedro Heredia, hoje patrimônio cultural da Humanidade, com seu monumental conjunto colonial.
Se tivessem portos ou golfos, mais ainda. A escola primária foi um sonhar constante sobre os mistérios do mundo desenhados nos mapas. Quando os encontrei, descobri que a geografia era a miséria do povo pintada a cores nos mapas da infância. Ou será nos mapas da infâmia?
Os anos passam e nada muda.
Sebastião Nery, 01 de janeiro de 2012
ROTATIVIDADE AUMENTA NO PAÍS O NÚMERO DOS QUE GANHAM ATÉ 2 MÍNIMOS
Confrontando-se o relatório anual do FGTS relativo a 2010, publicado no D.O de 26 de julho deste ano, com a excelente reportagem de Mariana Schreiber e Érica Fraga, Folha de São Paulo de 27, a partir do Censo Decenal do IBGE, verificamos que a rotatividade do mercado de trabalho é a responsável pela queda dos padrões salariais. As duas repórteres destacaram o fato de 49% da mão de obra empregada no ano 2000 ganhar até 2 salários mínimos mensais. Em 2010, a mesma faixa salarial passou a abranger 63% da força de trabalho.
Onde se encontra o processo de redistribuição de renda? No espaço. Uma ficção e nada mais. É virtual, não real. Como tantas coisas no Brasil, se o avanço foi anunciado não precisa acontecer. Uma farsa.
O relatório do FGTS a que me refiro, editado pela Caixa Econômica Federal, como escrevi recentemente, aponta a ocorrência de 17 milhões e 500 mil dispensas no exercício de 2010, gerando saques de 30 bilhões de reais no Fundo de Garantia. Portanto, o índice mensal de dispensas é de quase 1 milhão e 500 mil, equivalendo por outro lado a 500 mil diariamente. O número é constante: em 2009, o total de demissões foi praticamente igual. Logo, a rotatividade é constante. Os saques também atingiram a casa de 30 bilhões.
A média geral de salários, como se constata, não se alterou. Isso de um lado. De outro, a escala dos que ganham o piso só pode ter crescido, inclusive crescerá a partir do próximo dia primeiro. É que o salário mínimo vem sendo reajustado em percentuais superiores à inflação do IBGE. Ao contrário dos demais salários. Em janeiro de 2012, o salário mínimo sobe 14%, incluindo 75% dos aposentados e pensionistas do INSS. Os demais vencimentos vão ser reajustados em torno de 7%. A metade.
O que acontece? Uma compressão social que alarga o universo dos que ganham o básico legal. Assim, o salário mínimo que agrupava em 2010, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 27% da força de trabalho vai passar logicamente em 2011 a agrupar uma percentagem maior. O que resulta em flagrante injustiça: quem contribuiu ou contribui com mais passa a receber menos.
Onde está a lógica na questão? Não existe. A reportagem de Mariana Schreiber e Érica Fraga inclui opiniões de economistas, como Ricardo Paes de Barros e Naércio Menezes Filho.
Paes de Barros identifica a existência de forte problema na rotatividade, Naércio Menezes no fato de o mínimo ser corrigido por valores acima dos demais salários. A rotatividade, de fato, é altíssima.
Se levarmos em consideração que a mão de obra ativa brasileira é de 110 milhões de pessoas, verificamos que as 17 milhões e 500 mil demissões por ano significam a dispensa de quase 17% de toda a massa trabalhadora do país. Em dez dos que trabalharam, quase dois perdem o emprego e iniciam a luta para retornar ao mercado. E quando retornam, passam a receber menos do que ganhavam. Claro. Daí porque o contingente dos que ganham até 2 mínimos subiu, através do tempo, de 49% para 63.
Um desastre. Cai a arrecadação do FGTS, diminui a receita do INSS. Recua o nível de consumo como está se verificando. É que muitas categorias possuem piso profissional, acima do mínimo. A política de dispensa é exatamente para substituir os que recebem acima do nível do mar pelos que estão submergindo no oceano social do país.
E um feliz Ano Novo a todos.
Pedro Coutto
01 de janeiro de 2012
Onde se encontra o processo de redistribuição de renda? No espaço. Uma ficção e nada mais. É virtual, não real. Como tantas coisas no Brasil, se o avanço foi anunciado não precisa acontecer. Uma farsa.
O relatório do FGTS a que me refiro, editado pela Caixa Econômica Federal, como escrevi recentemente, aponta a ocorrência de 17 milhões e 500 mil dispensas no exercício de 2010, gerando saques de 30 bilhões de reais no Fundo de Garantia. Portanto, o índice mensal de dispensas é de quase 1 milhão e 500 mil, equivalendo por outro lado a 500 mil diariamente. O número é constante: em 2009, o total de demissões foi praticamente igual. Logo, a rotatividade é constante. Os saques também atingiram a casa de 30 bilhões.
A média geral de salários, como se constata, não se alterou. Isso de um lado. De outro, a escala dos que ganham o piso só pode ter crescido, inclusive crescerá a partir do próximo dia primeiro. É que o salário mínimo vem sendo reajustado em percentuais superiores à inflação do IBGE. Ao contrário dos demais salários. Em janeiro de 2012, o salário mínimo sobe 14%, incluindo 75% dos aposentados e pensionistas do INSS. Os demais vencimentos vão ser reajustados em torno de 7%. A metade.
O que acontece? Uma compressão social que alarga o universo dos que ganham o básico legal. Assim, o salário mínimo que agrupava em 2010, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 27% da força de trabalho vai passar logicamente em 2011 a agrupar uma percentagem maior. O que resulta em flagrante injustiça: quem contribuiu ou contribui com mais passa a receber menos.
Onde está a lógica na questão? Não existe. A reportagem de Mariana Schreiber e Érica Fraga inclui opiniões de economistas, como Ricardo Paes de Barros e Naércio Menezes Filho.
Paes de Barros identifica a existência de forte problema na rotatividade, Naércio Menezes no fato de o mínimo ser corrigido por valores acima dos demais salários. A rotatividade, de fato, é altíssima.
Se levarmos em consideração que a mão de obra ativa brasileira é de 110 milhões de pessoas, verificamos que as 17 milhões e 500 mil demissões por ano significam a dispensa de quase 17% de toda a massa trabalhadora do país. Em dez dos que trabalharam, quase dois perdem o emprego e iniciam a luta para retornar ao mercado. E quando retornam, passam a receber menos do que ganhavam. Claro. Daí porque o contingente dos que ganham até 2 mínimos subiu, através do tempo, de 49% para 63.
Um desastre. Cai a arrecadação do FGTS, diminui a receita do INSS. Recua o nível de consumo como está se verificando. É que muitas categorias possuem piso profissional, acima do mínimo. A política de dispensa é exatamente para substituir os que recebem acima do nível do mar pelos que estão submergindo no oceano social do país.
E um feliz Ano Novo a todos.
Pedro Coutto
01 de janeiro de 2012
MISCELÂNEA
Que tal um lourinho para a Suécia?
Merece ser recontada a história da briga entre o presidente Jânio Quadros e o governador Carlos Lacerda, em 1961. Eles começaram a se estranhar por conta da política externa independente. Quando Jânio nomeou um negro para embaixador do Brasil em Gana, Lacerda lembrou estar vaga nossa embaixada na Suécia, perguntando se iam mandar um lourinho…
O episódio se lembra porque neste ano de 2012 a presidente Dilma terá de indicar mais dois ministros para o Supremo Tribunal Federal. Aposentam-se, por completarem 70 anos, Cezar Peluso e Ayres de Brito. A moda, na mais alta corte nacional de justiça, tem sido do preenchimento das vagas conforme critérios de gênero e de etnia. De repente, descobriu-se que faltava uma mulher entre os doutos juristas, tendo sido nomeadas Ellen Gracie e Carmem Lúcia e agora Rosa Weber. Depois, faltava um negro, convocando-se Joaquim Barbosa. Estabeleceram-se cadeiras cativas, demonstrando que esses processos, uma vez iniciados, não têm fim.
O problema é que se a peculiar representatividade continuar incorporada à norma constitucional de alto saber jurídico e reputação ilibada, logo surgirá alguém no palácio do Planalto lembrando faltar no Supremo um jurista japonês, outro índio, um bispo e até um gay. É preciso tomar cuidado com os exageros, que aliás tem raízes no passado. O presidente Floriano Peixoto nomeou um médico, João Goulart, dois comunistas, e os generais-presidentes, vários direitistas…
***
“E QUEM DARÁ HABEAS CORPUS AO SUPREMO?”
Para ficarmos no Supremo e em Floriano Peixoto, vale lembrar que em plena revolta da Armada, com o país conturbado, o então presidente mandou prender alguns deputados, acusando-os de ligação com os revoltosos. Não podia, porque a Constituição de 1891 preceituava a imunidade parlamentar.
Rui Barbosa, já na oposição, impetrou habeas corpus para eles, junto ao Supremo. Era evidente a concessão, mas quando auxiliares indagaram do marechal o que aconteceria naquela hipótese, ele respondeu com outra pergunta: “E quem dará habeas corpus ao Supremo?”
Desnecessário dizer que os Meretíssimos escusaram-se de se pronunciar, os deputados continuaram presos e Rui Barbosa exilou-se na Inglaterra.
***
“NEGO PORQUE PEDE”
Coisas da República Velha? Nem pensar. Em 1955, alegando motivos de saúde, Café Filho havia se licenciado da presidência da República, de modo a assumir o presidente da Câmara, Carlos Luz, empenhado no golpe para negar posse a Juscelino Kubitschek, presidente eleito. A trama desandou quando o general Henrique Lott botou a tropa na rua e fez valer a Constituição.
Café Filho ficou bom de repente e quis voltar. O ministro da Guerra mandou cercar o quarteirão de sua residência, em Copacabana, mantendo-o preso enquanto obrigava o Congresso a votar seu impedimento. Foi quando o já ex-presidente impetrou recurso junto ao STF. Outra vez os doutos juristas saltaram de banda, não se pronunciando e até contribuindo para a consolidação da democracia, ou seja, a posse de JK.
Naqueles dias perguntaram a Milton Campos como votaria, caso fosse ministro do Supremo, e genial professor de democracia respondeu com muito realismo e humor: “Meu voto seria nego porque pede”.
No caso, se um presidente da República precisa de decisão judicial para reassumir, é porque não é mais presidente da República…
***
PRELIMINARES DE 2014
Inicia-se 2012 como preliminar para as eleições de 2014. No âmbito dos partidos, uma espécie de ensaio geral capaz de marcar o lugar dos principais atores no palco, cuidar da iluminação e da intensidade dos diálogos. Numa palavra, será no correr dos próximos doze meses que se definirão os protagonistas, ainda que obviamente sujeitos a substituições posteriores. Voltam-se as atenções para a oposição, ou seja, o ninho dos tucanos.
O PSDB precisa definir o perfil de seu candidato e, se possível, o próprio, porque sua trajetória será muito mais longa e áspera que a dos detentores do poder, tanto faz se Dilma ou Lula. Necessitarão, os tucanos, começar do zero em matéria de afirmação política. Mostrar porque são oposição, não só aumentando o diapasão de suas críticas ao governo, mas, em especial, elaborando um projeto alternativo para o país.
Se Aécio, Serra, Alckmin ou algum outro, será este ano a oportunidade de o futuro escolhido ordenar-se e sistematizar-se. Vale, para eles, o velho provérbio árabe de que bebe água limpa quem chega primeiro na fonte.
Do PT não há que falar, ou já falamos no parágrafo acima. Só o imponderável poderá afastar a atual presidente ou seu antecessor da disputa ainda distante.
E o PMDB, outrora maior partido nacional? Do jeito que as coisas vão, e pelos líderes de que hoje dispõe, a tendência é outra vez acomodar-se a reboque do PT. De preferência com Michel Temer de vice, caso os companheiros não sejam acometidos da febre totalitária de ocupar todos os cargos.
Na vaga possibilidade de serem expelidos, os peemedebistas precisarão encontrar um candidato próprio, tudo indica para perder e fazer encenação. Michel Temer? Sérgio Cabral? Tanto faz. Quanto aos demais, mera figuração. Eduardo Campos, pelo PSB, Cristóvam Buarque, pelo PDT, Marina Silva, sem os Verdes, Ciro Gomes, por legenda ainda indefinida?
Carlos Chagas
Merece ser recontada a história da briga entre o presidente Jânio Quadros e o governador Carlos Lacerda, em 1961. Eles começaram a se estranhar por conta da política externa independente. Quando Jânio nomeou um negro para embaixador do Brasil em Gana, Lacerda lembrou estar vaga nossa embaixada na Suécia, perguntando se iam mandar um lourinho…
O episódio se lembra porque neste ano de 2012 a presidente Dilma terá de indicar mais dois ministros para o Supremo Tribunal Federal. Aposentam-se, por completarem 70 anos, Cezar Peluso e Ayres de Brito. A moda, na mais alta corte nacional de justiça, tem sido do preenchimento das vagas conforme critérios de gênero e de etnia. De repente, descobriu-se que faltava uma mulher entre os doutos juristas, tendo sido nomeadas Ellen Gracie e Carmem Lúcia e agora Rosa Weber. Depois, faltava um negro, convocando-se Joaquim Barbosa. Estabeleceram-se cadeiras cativas, demonstrando que esses processos, uma vez iniciados, não têm fim.
O problema é que se a peculiar representatividade continuar incorporada à norma constitucional de alto saber jurídico e reputação ilibada, logo surgirá alguém no palácio do Planalto lembrando faltar no Supremo um jurista japonês, outro índio, um bispo e até um gay. É preciso tomar cuidado com os exageros, que aliás tem raízes no passado. O presidente Floriano Peixoto nomeou um médico, João Goulart, dois comunistas, e os generais-presidentes, vários direitistas…
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“E QUEM DARÁ HABEAS CORPUS AO SUPREMO?”
Para ficarmos no Supremo e em Floriano Peixoto, vale lembrar que em plena revolta da Armada, com o país conturbado, o então presidente mandou prender alguns deputados, acusando-os de ligação com os revoltosos. Não podia, porque a Constituição de 1891 preceituava a imunidade parlamentar.
Rui Barbosa, já na oposição, impetrou habeas corpus para eles, junto ao Supremo. Era evidente a concessão, mas quando auxiliares indagaram do marechal o que aconteceria naquela hipótese, ele respondeu com outra pergunta: “E quem dará habeas corpus ao Supremo?”
Desnecessário dizer que os Meretíssimos escusaram-se de se pronunciar, os deputados continuaram presos e Rui Barbosa exilou-se na Inglaterra.
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“NEGO PORQUE PEDE”
Coisas da República Velha? Nem pensar. Em 1955, alegando motivos de saúde, Café Filho havia se licenciado da presidência da República, de modo a assumir o presidente da Câmara, Carlos Luz, empenhado no golpe para negar posse a Juscelino Kubitschek, presidente eleito. A trama desandou quando o general Henrique Lott botou a tropa na rua e fez valer a Constituição.
Café Filho ficou bom de repente e quis voltar. O ministro da Guerra mandou cercar o quarteirão de sua residência, em Copacabana, mantendo-o preso enquanto obrigava o Congresso a votar seu impedimento. Foi quando o já ex-presidente impetrou recurso junto ao STF. Outra vez os doutos juristas saltaram de banda, não se pronunciando e até contribuindo para a consolidação da democracia, ou seja, a posse de JK.
Naqueles dias perguntaram a Milton Campos como votaria, caso fosse ministro do Supremo, e genial professor de democracia respondeu com muito realismo e humor: “Meu voto seria nego porque pede”.
No caso, se um presidente da República precisa de decisão judicial para reassumir, é porque não é mais presidente da República…
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PRELIMINARES DE 2014
Inicia-se 2012 como preliminar para as eleições de 2014. No âmbito dos partidos, uma espécie de ensaio geral capaz de marcar o lugar dos principais atores no palco, cuidar da iluminação e da intensidade dos diálogos. Numa palavra, será no correr dos próximos doze meses que se definirão os protagonistas, ainda que obviamente sujeitos a substituições posteriores. Voltam-se as atenções para a oposição, ou seja, o ninho dos tucanos.
O PSDB precisa definir o perfil de seu candidato e, se possível, o próprio, porque sua trajetória será muito mais longa e áspera que a dos detentores do poder, tanto faz se Dilma ou Lula. Necessitarão, os tucanos, começar do zero em matéria de afirmação política. Mostrar porque são oposição, não só aumentando o diapasão de suas críticas ao governo, mas, em especial, elaborando um projeto alternativo para o país.
Se Aécio, Serra, Alckmin ou algum outro, será este ano a oportunidade de o futuro escolhido ordenar-se e sistematizar-se. Vale, para eles, o velho provérbio árabe de que bebe água limpa quem chega primeiro na fonte.
Do PT não há que falar, ou já falamos no parágrafo acima. Só o imponderável poderá afastar a atual presidente ou seu antecessor da disputa ainda distante.
E o PMDB, outrora maior partido nacional? Do jeito que as coisas vão, e pelos líderes de que hoje dispõe, a tendência é outra vez acomodar-se a reboque do PT. De preferência com Michel Temer de vice, caso os companheiros não sejam acometidos da febre totalitária de ocupar todos os cargos.
Na vaga possibilidade de serem expelidos, os peemedebistas precisarão encontrar um candidato próprio, tudo indica para perder e fazer encenação. Michel Temer? Sérgio Cabral? Tanto faz. Quanto aos demais, mera figuração. Eduardo Campos, pelo PSB, Cristóvam Buarque, pelo PDT, Marina Silva, sem os Verdes, Ciro Gomes, por legenda ainda indefinida?
Carlos Chagas
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