"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 2 de abril de 2013

INTEGRANTES DO PRIMEIRO ESCALÃO DO GOVERNO ESTÃO PREOCUPADOS COM O ESCÂNDALO DO "FEIRÃO DA PETROBRAS"

 

Barril de pólvora – O chamado “Feirão da Petrobras”, balcão de negócios em que a estatal petrolífera está se desfazendo de empresas por dez por cento do valor tem todos os ingredientes para se transformar em um escândalo de grandes proporções e abalar as estruturas da campanha antecipada de Dilma Rousseff pela reeleição.
 
O imbróglio é tamanho, que integrantes do primeiro escalão do governo estão indignados com o assunto e nos bastidores falam com pessoas próximas sobre a falta de atitude de Dilma, que foi apresentada ao eleitorado nacional como uma especialista em questões de energia.

Um ministro, que ocupa cadeira de destaque na Esplanada dos Ministérios, telefonou a amigos no final de semana sugerindo a leitura da última edição da revista Época, que trouxe como presente de Páscoa mais uma confusão do governo do PT.

A indignação que toma conta das coxias do poder tem crescido nas últimas horas e já há quem analisa a possibilidade de deixar o governo para evitar qualquer tipo de contaminação provocada pelo caso. Se essa preocupação aterrissou na banda superior do governo é porque o escândalo é muito maior do que se imagina.

Entre empresários da cidade de São Paulo o assunto tomou conta das conversas, sendo que muitos já admitem a possibilidade de o desespero da Petrobras em dilapidar o patrimônio para fazer caixa ser uma operação orquestrada e que funciona como lavanderia financeira. E crescem as especulações sobre pessoas muito próximas ao Palácio do Planalto serem os beneficiários finais desse “feirão” da estatal petrolífera.

Se os partidos de oposição souberem levar o assunto adiante, o governo do PT pode cair em contradições ao tentar explicar o inexplicável. Resta saber se o rolo compressor palaciano permitirá que isso aconteça. O abafamento do caso não custará barato à presidente Dilma, que será obrigada a abrir a caixa de bondades para comprar o silêncio da base aliada.

02 de abril de 2013
ucho.info

AULA DE HISTÓRIA PARA PETRALHAS E AFINS

“A História Soviética”. Do que nos livramos (por enquanto).



Este vídeo deveria ser publicado periodicamente para aqueles que ainda vivem na ilusão de que o regime comunista é a solução dos que ainda vivem em bolsões de pobreza, excluídos da sociedade. Hoje no Brasil atravessamos uma crise sem precedentes em todos os sentidos e devemos continuar denunciando através da internet todas as mazelas antes que sejamos amordaçados sem aviso prévio! Não nos esqueçamos que esse tipo de governo não é uma tentativa de produzir igualdade entre as pessoas, e sim uma fórmula de criar uma sociedade onde existem apenas duas classes, a classe trabalhadora (os pobres) e a classe da Nomenklatura (os dirigentes e seus esbirros). Esta última apenas para gozar das benesses da riqueza produzida pela primeira. O sistema funciona assim:
A classe trabalhadora, para que todos sejam iguais, recebem talões de tickets do governo, para tudo. Só existem armazéns estatais. Quando tem sapatos no armazém, forma-se logo uma fila. O sujeito apresenta o ticket e recebe um par. Não interessa se é seu número. Quando acabam os sapatos, o resto da fila se desmancha. E os que receberam o par vão para a praça mais próxima para fazerem a troca entre si a fim de ajustarem seus números. O mesmo acontece com as roupas. Não é exagero. Essas descrições foram fornecidas por russos, até que o sistema comunista esboroou-se, a partir de 1989. É assim que funciona o sistema igualitário. Se gostaram da mostra, continuem votando no PT, para que todos nós fiquemos iguais (sempre bem por baixo). E tenham paciência de assistir o filme, que não é um filme montado em Hollywood. É tudo real. É a verdadeira História Soviética.
 


02 de abril de 2013

QUANDO O HUMOR DESENHA A REALIDADE



02 de abril de 2013

DEMOCRATICAMENTE IDIOTAS

 

Não são poucas as vozes respeitáveis a garantir que há uma gravíssima crise de representatividade no Poder Legislativo do Brasil. Arranhados pela vigência nauseabunda de uma espécie esquizofrênica de politicamente correto (deveras incorreto!), esses críticos optam por desconsiderar a realidade-
massacre dos processos eleitorais brasileiros e os resultados que, por definição democrática, emanam das urnas.



Raros são aqueles que, em suas linhas, traçam o fundamental: os parlamentares-bandidos são eleitos, e muitas vezes reeleitos sucessivamente a despeito de suas fichas criminais, com o sagrado voto dos cidadãos.

É desfaçatez pretender rogar sapiência e consciência ao eleitor que não sabe diferenciar a indelével responsabilidade de escolher seus representantes, das miudezas paliativas que aplacam sua pobreza e sua fome imediata. A magnitude da democracia se confunde com o bolso vazio e o ronco estomacal. Não que um seja maior ou mais importante que o outro, mas ambos foram reduzidos à mesma sintaxe. Moral da história: são poucos os que compreendem a real dimensão dos verbos democráticos e seus impactos na sociedade.

A situação ganhou tal proporção que, atualmente, uma correção de rota parece impossível. Por deterioração dos conceitos fundamentais, os maiores pilantras da nação são içados pelo povo às honrosas e confortáveis cadeiras de um Poder instituído, ainda que inerte, ineficiente e ao molde de sinecuras. Nenhum deputado ou senador chegou lá sozinho. Tornou-se legítimo representante de seu Estado graças à votação maciça dos eleitores.

Ou vão dizer que nenhum alagoano conhecia o histórico de Renan Calheiros e Fernando Collor de Mello? Que nenhum paulista tinha a mais remota noção do extenso currículo de Paulo Maluf? Que os maranhenses e, posteriormente, os amapaenses são alienados à trajetória pública do imortal José Sarney? “Bullshit!”, dirá o intelectual com vasta formação acadêmica em renomadas instituições internacionais e que, mesmo não conseguindo localizar no mapa o que é Rondônia e o que é Roraima, regressa ao Brasil tentando emplacar portentosas teorias civilizatórias e humanas num país de proporções continentais, culturas diversas e realidades desconhecidas.

Dá-se o descompasso: o crítico notável argumenta pela crise de representatividade no Congresso Nacional; o parlamentar sacaneia e locupleta respaldado pelo título de representante concedido por milhares de votos de seu quinhão geográfico; e o povo segue vivendo na medida no (im)possível. “Bullshit!”, ouso reiterar o intelectual em minha máxima insignificância.

Não há uma crise de representatividade vigente no Brasil. O que existe é uma falaciosa substância no cerne de uma democracia de arremedos. Como as reformas essenciais à nação não vão emergir nesse confortável cenário de frouxidão ética e mansidão crítica, sigamos nosso famélico caminho, tirando meleca do nariz através de estradas esburacadas e superfaturadas. Somos retumbante e democraticamente idiotas.

02 de abril de 2013
Helder Caldeira (ipolitica.com.br)

MARCHA DA MACONHA DISTRIBUIRÁ DROGAS EM PROTESTO NO CENTRO DE SP

Manifestação, que ‘não pretende sair da licitude’, é contra projeto de deputado que cria cadastro de usuários
 
SÃO PAULO – O coletivo Marcha da Maconha SP distribuirá drogas gratuitamente nesta terça-feira, no Viaduto do Chá, no centro de São Paulo, em protesto contra o projeto de lei do deputado Osmar Terra (PMDB-RS), que cria o cadastro de usuários de drogas, prevê a internação involuntária e aumenta de 5 para 8 anos a pena mínima de prisão para traficantes - não há, na proposta, critérios para diferenciar usuário e traficante, segundo manifestantes.

Depois de debates e polêmica, o plenário da Câmara aprovou no último dia 12 regime de urgência para análise do projeto. As drogas a serem distribuídas só serão reveladas na ocasião. Segundo Renato Filev, membro do coletivo, o ato será “pacífico e não pretende sair da licitude”.

- Teremos entre 30 e 40 pessoas com uma grande variedade de substâncias para serem distribuídas para os transeuntes. A ideia é atentar as pessoas em relação ao retrocesso dessa proposta ante a Lei 11.343, de 2006. A intenção é discutir com a população, desconstruir o termo droga e o termo tráfico – salienta Filev.

Segundo ele, os próprios deputados têm urgência em votar o projeto de lei, ainda que a população não esteja ciente do conteúdo do texto. Além do protesto desta terça-feira, está prevista na Câmara Federal, a partir das 14h, uma audiência pública, requerida pelo deputado Otavio Leite (PSDB-RJ), na Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado para debater a internação compulsória de viciados em drogas. Devem participar da audiência, além de Osmar Terra, o deputado Givaldo Carimbão (PSB-AL), relator do projeto.

- Nossa intenção é discutir, também, com o Judiciário. Caso passe na Câmara essa proposta, argumentaremos no Senado. Se passar, argumentaremos com o Executivo – acrescenta Renato Filev.

Na convocação para a manifestação, os integrantes da Marcha da Maconha SP dizem ironizar “a hipocrisia e a ineficiência da guerra às drogas, que apesar de encarcerar cada vez mais, não inibe o consumo e ainda reprime e desinforma a sociedade civil ao passo que enriquece um violento mercado paralelo”.

Ao GLOBO, o deputado Osmar Terra disse que deve participar da audiência pública, mas salientou que o projeto “já é debatido há três anos, foi analisado por mais de cem parlamentares em comissões da Câmara e teve o regime de urgência votado no último dia 12, recebendo 344 a favor e apenas 6 contra”.

- Pode servir para esclarecer melhor o projeto, essa audiência. Essa proposta está amadurecida há bastante tempo. Vem do tempo que fui secretário de Saúde no Rio Grande do Sul. Ocupei o cargo por oito anos, sou estudioso no assunto. É natural que haja manifestação, não vejo nenhum problema - disse o deputado, que acredita que o projeto será votado na próxima semana, quando do retorno do deputado Henrique Alves (PMDB-RN) à presidência da Casa.

Em 21 de maio de 2011, a Polícia Militar entrou em confronto com cerca de mil manifestantes que participaram da Marcha da Maconha, na Avenida Paulista. O protesto, naquela ocasião, havia sido proibido pela Justiça na véspera, que considerou que o evento faria apologia às drogas.

Os manifestantes, porém, se reuniram no vão livre do Museu de Arte de São Paulo (Masp) para realizar uma passeata pela liberdade de expressão e o direito a debater a legalização e a regulamentação da produção, venda e consumo da droga.

Questionado sobre uma possível ação repressiva por parte da PM contra o ato desta terça-feira, Renato Filev foi enfático:

- Acreditamos que a PM, que estará lá com o intuito de coibir alguma ação criminosa, se aproveite das drogas que a gente estará distribuindo. Eles são, de fato, os agentes da lei. Se conseguirmos, também, conscientizá-los com nossa manifestação, será um avanço.

Culto em protesto

Também em São Paulo, ao meio-dia desta terça-feira, evangélicos contrários ao projeto de Osmar Terra realizarão, na região central da cidade, um culto direcionado a dependentes químicos na sede da Cristolândia, projeto de recuperação de usuários de drogas.

02 de abril de 2013
Leonardo Guandeline
 

PERDENDO O SENSO


          Artigos - Cultura 
       
O sr. Wyllys está choramingando por coisa pouca. Em matéria de character assassination, ele mal sentiu o gostinho de um veneno que há décadas me é servido em doses oceânicas.

Assustado com o número de mensagens falsas altamente comprometedoras que circulam em seu nome na internet, o deputado Jean Wyllys lançou do alto da sua tribuna na Câmara as perguntas desesperadas:
 
“Será que as pessoas perderam todo o senso? Que é que está acontecendo neste país?”

São perguntas que faço há pelo menos vinte anos. Mas não foi só nisso que antecedi o sr. Wyllys. Também foi vinte anos atrás que o meu nome passou a circular como signatário de mensagens nazistas, terroristas, racistas, anti-semitas, o diabo.
A isso veio acrescentar-se um caudal inesgotável de lendas urbanas que me apresentavam como espião da CIA ou do Mossad, como beneficiário de verbas do Partido Republicano, como agente comunista enrustido, como mentor secreto do Opus Dei e dos skinheads e, last not least, como guru de uma perigosa seita gnóstica.

O sr. Wyllys está choramingando por coisa pouca. Em matéria de character assassination, ele mal sentiu o gostinho de um veneno que há décadas me é servido em doses oceânicas. Mas a nossa diferença não é só quantitativa.
 
No caso dele, a mídia solícita e um punhado de ONGs correram para desmentir as mensagens, passando a reputação do deputado por um lava-rápido do qual saiu brilhando com o fulgor beatífico das vítimas inocentes; ao passo que, quando o atingido era eu, até figuras mais conhecidas como os srs. Leandro Konder, Emir Sader e Mário Augusto Jacobskind, à esquerda, ou os srs. Rodrigo Constantino, Anselmo Heydrich e Janer Cristaldo, à direita, se apressaram em legitimar o acervo lendário anônimo, aprimorando-o e acrescentando-lhe novas invencionices de sua própria criação.

A coisa avolumou-se a tal ponto que ultrapassou toda possibilidade de contestação ou revide. Embora o número de pessoas de nível universitário envolvidas nessa operação subisse a vários milhares,
caracterizando um fenômeno sociológico de dimensões alarmantes, o sr. Wyllys achou mais escandaloso e mais significativo o fato de que tratamento similar lhe fosse aplicado homeopaticamente, em dose única e diluição infinitesimal.
 
Quando ele pergunta o que há de errado na mente dos brasileiros, deveria aferir antes de tudo o seu próprio senso das proporções.
De qualquer modo, as perguntas valem por si.
 
A vida na sociedade baseia-se na aceitação geral e costumeira de certos princípios tácitos, que servem de critério de julgamento nos instantes de confrontação e dúvida. É o que Antonio Gramsci, dando ao termo uma conotação peculiar, denominava “senso comum”.
 
O próprio Gramsci reconhecia que o senso comum predominante nas nações ocidentais refletia, grosso modo, a cosmovisão cristã, mesmo em versão laicizada e amputada de quaisquer referências religiosas.
A demolição desse senso comum tornou-se desde os anos 60 o objetivo prioritário do combate cultural revolucionário. Mas nem de longe imaginem que “combate cultural” significa uma luta de idéias, uma disputa entre eruditos. Não significa nem mesmo propaganda ou “doutrinação”.
 
Às pessoas que me escrevem queixando-se da “doutrinação esquerdista” que seus filhos recebem nas escolas, venho há anos tentando explicar que os bons tempos da doutrinação e da propaganda já acabaram, que há décadas o sistema educacional ameaça a integridade mental das nossas crianças com algo de bem mais perverso e temível: um conjunto de técnicas de manipulação comportamental que permitem moldar ou modificar atitudes e hábitos diretamente, sem passar pela inculcação de idéias e crenças, isto é, sem qualquer apelo ao pensamento consciente.
 
Já falei disso no meu livro de 1996, O Jardim das Aflições, e recentemente a Vide Editorial publicou, a conselho meu, a obra-padrão sobre o assunto: Maquiavel Pedagogo ou O Ministério da Reforma Psicológica, de Pascal Bernardin.
 
A doutrinação comunista clássica baseava-se nas artes da dialética, da retórica e da propaganda, e procurava inculcar na mente do público uma concepção do mundo, da história e da política, o que não era possível sem mostrá-la como alternativa a alguma concepção concorrente, alimentando discussões. 
    
As novas técnicas não têm nada a ver com retórica e propaganda. Baseiam-se inteiramente nas chamadas “ciências da gestão”: engenharia social, marketing, gerenciamento, psicologia comportamental, programação neurolingüística, Storytelling, Social Learning e Reality Building.
 
Um dos efeitos mais diretos da aplicação dessas técnicas em escala de massas é a disseminação epidêmica de um estado crônico de “dissonância cognitiva”, um quadro mental descrito pioneiramente por Leon Festinger em 1957. Dissonância cognitiva é conflito entre as crenças e a conduta. Dissonâncias cognitivas temporárias são normais e até desejáveis no desenvolvimento humano.
 
Quando o quadro se torna crônico, rompe-se a unidade da consciência moral e o indivíduo tem de buscar fora dele mesmo, na aprovação grupal ou na repetição de slogans ideológicos, um sucedâneo da integridade perdida.
 
Ao espalhar-se entre a população, a incapacidade de julgar realisticamente a própria conduta resulta na queda geral do nível de moralidade, assim como na disseminação concomitante da criminalidade e das condutas destrutivas, mas isso, segundo os engenheiros sociais, é um preço módico a pagar pela dissolução do senso comum e pela implantação dos novos modelos de conduta desejados.
 
Antes de posar de vítima da falta de consciência moral dos outros, o sr. Wyllys deveria perguntar se o próprio movimento que ele representa não tem utilizado abundantemente essas técnicas para modificar a conduta de crianças, adolescentes e adultos.

02 de abril de 2013
Olavo de Carvalho
Publicado no Diário do Comércio.

O QUE O CAPITALISMO NÃO É

    
          Artigos - Cultura 
O capitalismo não é uma imposição do governo, nem o mercado é uma ideologia em que a teoria necessariamente precede a prática. O capitalismo é simplesmente o que ocorre quando as pessoas têm liberdade para fazer trocas, apoiadas em direitos de propriedade bem definidos.

Foi Karl Marx quem cunhou o depreciativo termo “capitalista” para identificar um sistema econômico que havia recebido de Adam Smith uma expressão mais descritiva e bonita: “sistema de liberdade natural”. A origem negativa do termo é um dos motivos pelos quais a discussão sobre o capitalismo necessita de um esclarecimento. Seja para atacá-lo ou defendê-lo, é importante entendermos primeiro o que o capitalismo não significa.

O capitalismo não é exclusivamente “capitalista”. A acumulação de capital é um fato existente em qualquer sociedade, independentemente de sua estrutura política e econômica. Max Weber já dizia em A ética protestante e o espírito do capitalismo que “a ganância pelo ouro é tão antiga quanto a história do homem”.
E que onde o capitalismo era mais atrasado encontrava-se “o reino universal da absoluta falta de escrúpulos na busca dos próprios interesses por meio do enriquecimento”. No entanto, as pessoas ainda encaram o capitalismo como um ordenamento moral, um modo de vida em que a acumulação de riqueza é o bem superior. Mas a defesa do capitalismo não significa a defesa de um homo economicus cuja única preocupação na vida é ganhar dinheiro.
Há muitas coisas mais importantes do que a acumulação de capital, como a família, a religião, a arte e a cultura. E isso realça a importância da economia de mercado. É verdade que no livre mercado há mais oportunidade para aquele que pretende enriquecer, mas nele o filósofo também tem mais oportunidade de aprender e o artista tem mais oportunidade de se expressar.
E é por meio do livre mercado que o filantropo, a pessoa que deseja ajudar o próximo, dispõe de mais recursos para fazer assistência social, e, através do sistema de preços livres, pode utilizar seus recursos de forma mais eficiente.

O capitalismo não é a burocracia internacional. As pessoas de esquerda costumam identificar pelo termo “neoliberal”, tanto as reformas modernizadoras que diminuem a participação do Estado na economia, quanto as organizações inter-governamentais como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional.

Como neoliberalismo e capitalismo são termos intercambiáveis no discurso vulgar, o FMI e o Banco Mundial aparecem como braços operadores do capitalismo internacional. Essa confusão também costuma ser feita por pessoas de direita que, definindo-se por sua oposição sem reservas à esquerda, acabam defendendo instituições burocráticas como se fossem partes integrantes do sistema capitalista.
Nesse caso, a esquerda tem razão em denunciar a arrogância de agências internacionais, que nada mais são do que uma forma de planejamento central de larga escala.

Enquanto o liberal entende que a prosperidade depende da utilização do conhecimento e dos incentivos dispersos na sociedade, os burocratas internacionais acreditam que podem comandar o desenvolvimento econômico na Zâmbia ou em Guiné-Bissau de seus escritórios em Washington e Nova York. O resultado não tem sido animador. O

 jornalista Andrew Mwenda, de Uganda, continua sem resposta para sua pergunta sobre exemplos históricos de países que tenham realmente prosperado graças à ajuda externa. De 1975 a 2000, o continente africano recebeu em auxílio externo uma média de 24 dólares per capita por ano.
Entretanto, o PIB africano per capita diminuiu a uma taxa média anual de 0,59%.

Durante o mesmo período, o PIB per capita do sul asiático cresceu a uma média de 2,94%, apesar de ter recebido em auxílio externo uma média de apenas 5 dólares per capita a cada ano. Políticas de abertura de mercado têm um efeito mais positivo do que o planejamento internacional financiado por impostos.

Na verdade, em vez de criar economias de mercado ativas e autônomas, as políticas do Banco Mundial diminuem a dependência dos governos por sua própria população, já que a receita não vem dos tributos extraídos do desenvolvimento econômico doméstico, mas das negociações com outros burocratas.
O poder da população é transferido para essas organizações, criando uma cultura de dependência em que a miséria local apenas aumenta o poder de barganha dos governos que recebem auxílio externo.
O resultado é a perpetuação da miséria.

O capitalismo não é a política norte-americana. Apesar de os Estados Unidos historicamente terem tido um de seus pilares no livre mercado, grandes contribuições para a compreensão do capitalismo foram feitas em outros paises. Sem contar que, ultimamente, o governo americano tem feito um ótimo trabalho de difamação do nome do livre mercado.
O crescimento nos gastos da atual administração superam a de qualquer outro presidente desde o democrata Lyndon Johnson, criador do programa assistencialista da Great Society. George W. Bush foi o primeiro presidente americano a assinar um orçamento de mais de 2 trilhões de dólares. E também foi o primeiro presidente americano a assinar um orçamento de mais de 3 trilhões de dólares.
Um aumento que inclui gastos significativos na previdência social e saúde pública, além dos gastos bélicos. As recentes aventuras no Oriente Médio também não podem ser consideradas políticas pró-capitalistas. A própria guerra e a permanência no Iraque são um experimento socialista de escala internacional, que já custou mais de 1 trilhão de dólares e cerca de 30 mil vidas.
Liberais defensores do capitalismo não acreditam que nações são violentamente construídas por meio da política, mas que se desenvolvem espontânea e pacificamente. É o socialismo que defende a prosperidade planejada. E o que o governo americano tem feito no Iraque é um planejamento de longo alcance.

O capitalismo não é a defesa irrestrita das grandes corporações. Os defensores do livre mercado entendem que os negócios podem tanto servir quanto prejudicar a população em geral.
Em um sistema intervencionista, toda empresa que quer aumentar o seu lucro tem duas opções: investir em produtividade, para competir pelos consumidores, ou investir em lobby, para competir pelos favores políticos.

A competição para servir à sociedade é capitalismo, a competição para servir ao governo é mercantilismo. São os mercantilistas que defendem legislações protecionistas de corporações contra a competição estrangeira e doméstica. Os liberais defendem um mercado aberto, em que a manutenção de um negócio depende do oferecimento de serviços e produtos que satisfaçam ao consumidor.

O capitalismo não é a perpetuação das elites. São os oponentes do capitalismo que, ao defender maior concentração de poder nas mãos de políticos e burocratas, constroem um sistema corrupto e estático, no qual há pouco espaço para a mobilidade social e pouca oportunidade para o desenvolvimento da criatividade humana.
Há doses de capitalismo em diferentes sociedades do mundo, mas não há uma sociedade onde a economia seja puramente livre, e nem o Brasil está entre as economias mais livres do mundo. Na verdade, de acordo com o ranking de liberdade econômica publicado anualmente pelo Fraser Institute, do Canadá, o Brasil encontra-se no 101º lugar entre 168 países examinados, empatado com Paquistão, Etiópia, Bangladesh e Haiti.
No Brasil, há excesso de burocracia para a entrada e a permanência no mercado, uma legislação trabalhista rígida, que empurra os trabalhadores para a informalidade e uma legislação tributária que já foi considerada pelo Fórum Econômico Mundial como a mais complexa de todo o mundo.
Os oponentes do livre mercado insistem no controle governamental da economia para resolver os problemas que foram criados pelo próprio governo. Defender o livre mercado é defender a estrutura de um sistema econômico dinâmico em que se estimula a produção de riquezas e se permite a mobilidade social.

O capitalismo não é a defesa do tratamento desigual das pessoas. Há diversas formas de tornar as pessoas mais iguais. Os igualitários normalmente não pretendem torná-las mais iguais em conhecimento ou em beleza, mas em recursos, pelo menos em alguns recursos que consideram fundamentais.
É bem verdade que o livre mercado não se baseia na igualdade de recursos. Mas isso não significa um tratamento desigual das pessoas. A igualdade liberal, da qual floresce o capitalismo, é a igualdade de direitos, a igualdade perante a lei. Isso significa que as questões de justiça e o uso da sua liberdade no mercado não dependem de quem você é, mas do que você faz. O capitalismo é um sistema econômico de cooperação mútua, apoiado em uma estrutura de direitos na qual prevalece a igualdade jurídica entre as pessoas. As pessoas no livre mercado não são iguais em “distribuição de renda”, mas são iguais em liberdade.

Por fim, capitalismo não é socialismo. O capitalismo não é uma imposição do governo, nem o mercado é uma ideologia em que a teoria necessariamente precede a prática. O capitalismo é simplesmente o que ocorre quando as pessoas têm liberdade para fazer trocas, apoiadas em direitos de propriedade bem definidos. É o socialismo que necessita da mobilização social para alcançar um objetivo comum entre todas as pessoas. O socialismo precisa da pregação e da concentração de poder na autoridade manipuladora.

O socialismo é a politização da vida econômica, é um discurso interminável do Fidel Castro, é a transformação de tudo o que é belo e espontâneo no dirigismo rígido da política. O livre mercado é apenas o conjunto de ações de agentes humanos livres sobre a alocação de recursos escassos. Se os propósitos desses agentes são morais, a ordem gerada será igualmente moral. E é quando nós conseguimos sinceramente compreender e avaliar o capitalismo que passamos a ter o discernimento para defendê-lo ou atacá-lo.

02 de abril de 2013
Diogo G. R. Costa é professor de relações internacionais no Ibmec-MG

A EMPREGADA TEM EMPREGADA


          Artigos - Governo do PT 
(Este não é um texto de crítica à PEC das domésticas; é apenas uma análise sobre o quanto o governo tem sufocado a classe média.)

A empregada em questão sou eu. Assalariada, cumpro horário, pago todos os impostos que me são cobrados.

Contratei uma empregada há muitos anos e desde então pude perceber o quanto é difícil para uma empregada (eu) manter uma empregada (ela).

O meu salário não é vinculado ao salário-mínimo. O salário-mínimo tem aumento uma vez por ano, e o meu, não. Para ser mais exata, o salário-mínimo aumentou seis vezes seguidas nos últimos anos, sem que o meu tenha aumentado. Com empregados assalariados, como eu, muitas vezes funciona assim.

Há seis anos, o salário-mínimo equivalia a cerca de R$ 350,00. Hoje equivale a quase R$ 800,00, um aumento de mais de 100%. Aumentando o salário-mínimo, aumenta também a contribuição previdenciária, hoje calculada em mais de R$ 120,00 por mês.

A cada mês, o Governo Federal rouba uma bela fatia do meu salário, a título de "contribuição" para o Imposto de Renda. É um furto consentido, sou "contribuinte".

E sequer um mísero centavo da mensalidade que eu "cedo gentilmente" para o Governo Federal reverte em algo proveitoso para mim. Não reverte em nada, absolutamente nada.

A saúde é um caos - na cidade onde moro, há déficit diário de mais de 80 vagas em UTI. A fila vai andando à medida que os da frente vão morrendo. Para não me arriscar, pego então parte do salário que o Governo não furtou e aplico na mensalidade de um plano de saúde.

A educação é outro caos, então lá vai outra (grande) parte do salário que restou e aplico na mensalidade de uma escola particular para os meus filhos.

Qualquer empregado, portanto, sente-se em uma daquelas corridas de cavalo do programa do Bozo de 1900-e-bolinha. Nós somos o cavalo retardatário, aquele que fica para trás vendo passarem por ele todos os outros cavalos. O nosso salário está aqui, nesse mesmo valor há anos, e passam correndo por nós todos os aumentos mensais, semestrais, anuais.
A lata de leite Ninho custava R$ 4,00, agora custa R$ 10,00. A escola aumentou 10%. O plano de saúde aumentou 8%. E seu salário lá, correndo atrás, em último lugar.

É especificamente por esse motivo que a PEC das empregadas domésticas tem gerado tantos comentários negativos por parte da classe média.

Fomos equiparados às empresas comuns sem termos os mecanismos e benefícios que elas possuem para reverter o impacto causado por qualquer aumento na folha de pagamento ou na carga tributária.
As empresas repassam para o preço final do produto ou serviço oferecido todos os aumentos que oneram o seu custo de produção/manutenção.
Como as famílias não são empresas, elas não possuem esses mecanismos.

Qualquer aumento nos gastos com a manutenção da empregada doméstica precisa ser absorvido pelos próprios patrões. Além disso, as empresas possuem diversos benefícios fiscais concedidos pelo Governo, não extensíveis às famílias - o que irá gerar, inclusive, grandes discussões judiciais, haja vista que os empregadores domésticos, tendo sido equiparados às empresas comuns, deverão buscar judicialmente a equiparação dos direitos, em nome da proteção ao princípio da igualdade.

Não somos escravocratas. Não somos "elite" (quem nos dera... nem estaríamos ligando para essa PEC). Não somos opressores. Nossa reclamação não é fruto do desejo de permanência da escravidão - como certos sociólogos andam dizendo em entrevistas concedidas por aí.

Somos apenas assalariados que têm plena consciência de que, com o aumento galopante do salário-mínimo a cada ano, com as mordidas do Imposto de Renda em nossos salários, com os gastos que temos com saúde e educação em razão da total ineficiência do Governo, com a inflação real e concreta que temos percebido nos últimos tempos etc., não teremos condições de manter nenhuma empregada doméstica em nossa residência.

E isso é ruim para nós? Sim, claro, é uma perda de conforto que possivelmente será minimizada com a contratação de diaristas eventuais. Mas isso é nada perto da perda que poderão sofrer as empregadas atualmente contratadas.

Caso algum dia, por força de todos esses fatores, eu não possa mais manter a minha empregada, ela terá que demitir também a empregada dela. Seu esposo é doente, aposentado por invalidez, e fica sob os cuidados da empregada que ela contratou - sem carteira assinada, sem direitos reconhecidos, sem ganhar sequer metade de um salário-mínimo, mas é uma moça que precisa desse dinheiro que a minha empregada tem a oferecer para ela.
A empregada da empregada da empregada.

PS: Ao falar "minha empregada", pessoa nenhuma demonstra com essa expressão o "sentimento elitista de posse sobre o escravo", como andam dizendo por aí. É "minha empregada" do mesmo jeito que falamos "o meu chefe", "a minha gerente", "o meu amigo". Patrulhamento cego gera mais danos do que benefícios à causa defendida.

02 de abril de 2013
Vivian Marassi


N. do E.:
Veja o comentário em vídeo de Nivaldo Cordeiro.

A PEC das domésticas
A aprovação do PEC das domésticas poderá gerar uma onda brutal de desemprego no setor. O artigo de José Paulo Kupfer (
http://blogs.estadao.com.br/jpkupfer/economia-domestica/) está muito bom para mostrar os detalhes desse mercado. Outro artigo importante aponta para um desdobramento importante sobre aqueles empregados que acompanham idosos. O risco de desemprego aqui é ainda maior (http://economia.estadao.com.br/noticias/economia-brasil,lei-muda-mercado-de-cuidador-de-idosos,149132,0.htm) Os que apoiaram essa esdrúxula medida legislativa são maus governantes, gente muito irresponsável.

DOMÉSTICAS E FRILAS


O Brasil está cheio de profissões inúteis. Sem ir muito longe, os cabineiros de elevador, como são chamados, pela legislação do trabalho, os ascensoristas. Há décadas, pobres diabos assalariados são pagos para subir e descer em prédios, dentro de caixotes exíguos, exercendo esta complexa atividade, que exige uma habilitação personalíssima, a de apertar botões numerados. Em uma entrevista para o Roda Viva, o sociólogo italiano Domenico di Masi se escandalizava: se a questão é dar um salário a alguém, dêem-no e mandem o rapaz passear, divertir-se. Ou freqüentar uma universidade. Por que encerrá-lo em um caixote para exercer uma função inútil?

Fosse só esta a profissão inútil alimentada na terrinha... Não sei se o leitor sabe, mas os zeladores de carros já são reconhecidos por lei. Sob a ameaça de riscar ou depredar seu carro, uma malta organizada de vagabundos lhe extorque uma significativa propina cada vez que você estaciona em lugar público... e está criada a profissão.

Como também o de jornalista. Mais que reconhecido, regulamentado. Em todas as democracias do Ocidente, jornalista é aquele que tira do jornalismo a maior parte de seus proventos. Exceto neste país incrível, onde só pode exercer a profissão quem tem um papelucho de uma escola de jornalismo. A lei infame foi parida pela junta de generais que assumiu o poder em 1969. As esquerdas, em geral tão raivosas quando se trata de contestar os atos gestados pelo regime militar, fazem boquinha de siri ante o dispositivo corporativista.

Reservas de mercado só fortalecem a guilda. Quem sabe faz, quem não sabe ensina. A regulamentação do jornalismo gera milhares de empregos na área acadêmica. Professores que muitas vezes jamais pisaram numa redação de jornal ensinam jornalismo, ganhando para isso muito mais que o jornalista e sem o risco de enfrentar os humores do mercado.

Isto sem falar nos juízes classistas, outra excrescência muito nossa, herança da era getulista. Sem qualquer habilitação profissional, sem curso nem concurso, um analfabeto qualquer podia exercer as funções de magistrado na Justiça do Trabalho, bastando para tanto ser indicado por um sindicato amigo. Se não havia sindicato amigo ao alcance do analfabeto, este criava o sindicato e se fazia indicar. Recebia como juiz alfabetizado, formado em Direito e concursado e aposentava-se com proventos integrais, após cinco anos de exercício do cargo.

Para o juiz togado, eram exigidos 35 anos para a aposentadoria, se homem, 30 anos se mulher. Após décadas de parasitismo incontestado, os classistas tiveram seus dias contados. Mas permanecerão, como a jabuticaba, na crônica das coisas nossas. De qualquer forma, resta ainda uma excrescência do Estado corporativo dos anos 30, o chamado quinto constitucional, via de acesso aos tribunais não por concurso, mas por interferência política, na base da escolha dos poderosos do momento.

Enquanto essas profissões inúteis e mesmo corruptas em suas origens proliferam, os senhores congressistas acabam de matar um ofício dos mais necessários às famílias, o de doméstica. A PEC n° 66/2012 amplia os direitos das empregadas domésticas e lhes garante direitos semelhantes aos trabalhadores do setor privado: jornada de 44 horas semanais, direito a hora extra, adicional por trabalho noturno, FGTS, salário-família e auxílio-creche. A doméstica, que mantinha uma relação informal e muitas vezes amistosa com os patrões, agora baterá ponto e se posicionará do outro lado do ringue.

Os jornais estão saudando a nova lei como um avanço que nos equipara à Europa, onde doméstica é privilégio de abastados. Também comparam o novo estatuto à libertação da escravidão. Parecem ignorar que muitos destes escravos contemporâneos, particularmente aqui em São Paulo, recebem bem mais que uma professora do secundário.

Sim, o Brasil entrou decididamente no Primeiro Mundo. Calcula-se em sete milhões o número de empregados domésticos no Brasil, sendo 97% mulheres. A profissão vivia em meio à informalidade, mas existia. Com a nova lei, tende a extinguir-se, a médio e longo prazo. O legislador agiu como o alfaiate que quer encontrar o terno ideal que sirva a todos e acaba não servindo em ninguém.

Como dizia Alberto Moravia, em seu ensaio A Razão como Fim só há uma solução definitiva para quem tem dor de cabeça. Corta-se a cabeça e a dor passa. É solução lógica. Mas não é humana. Não deixa de existir lógica na nova lei. Mas vai levar muita doméstica ao desemprego. Ou empurrá-las à condição de diaristas. Melhor emprego sem carteira assinada ou carteira assinada sem emprego? A pessoa mais autorizada para responder esta pergunta é o desempregado.

Curiosamente, os jornalistas que incensam a nova lei parecem ignorar que, a seu lado, trabalham milhares de colegas, regidos pelo eufemismo de frilas (freelancers) fixos. Isto é, o jornalista finge que cada dia é um novo frila, e trabalha todos os dias como os demais jornalistas. Sem carteira assinada. A situação pode se prolongar por anos.

Em meus dias de Folha, vi colegas mancheteando sobre índios que viviam a condição de trabalho escravo por trabalharem sem carteira assinada. Urgia denunciar os escravizadores à ONU. Viam longe meus colegas. Só não viam os colegas que viviam a mesma condição a seu lado. Estavam muito perto.


02 de abril de 2013
janer cristaldo

EM VÍDEO, LULA DIZ QUE MADURO É A VENEZUELA QUE CHÁVEZ SONHOU

Peça foi divulgada na noite desta segunda-feira, às vésperas da campanha presidencial

Às vésperas do início oficial da campanha eleitoral na Venezuela, o presidente em exercício Nicolás Maduro ganhou um aliado de peso: em um vídeo de dois minutos, divulgado na noite desta segunda-feira, o ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva destacou o papel de Maduro como chanceler, durante os oito anos em que foi presidente, principalmente sua atuação na criação da Celac (Comunidade dos Estados Latino-americanos e Caribenhos) e da Unasul (União de Nações Sul-americanas). E resume na última frase, a mensagem principal das imagens: “Maduro presidente é a Venezuela que Chávez sonhou”.
“Maduro se destacou na luta para construção de uma América Latina mais democrática e solidária. E sempre foi visível sua profunda afinidade com o nosso saudoso presidente Hugo Chávez. Mais do que isso, os dois compartilhavam as mesmas ideias sobre o destino de nosso continente e os grandes problemas mundiais”, diz o ex-presidente.

Lula ressalta ainda que a decisão de escolher um novo presidente caberá inteiramente ao povo venezuelano, mas não pode deixar de dar sua opinião. Outro vídeo, de apenas 42 segundos de duração, também foi divulgado na noite desta segunda-feira.

“Não quero interferir num assunto interno na Venezuela, mas não posso deixar de dar meu testemunho em nome do futuro desse país tão querido pelo povo brasileiro e pelo Mercosul. Uma frase resume tudo que sinto: Maduro presidente é a Venezuela que Chávez sonhou”.

02 de abril de 2013
O GLOBO

A APOSTA DOS CRIMINOSOS


Condenados a penas de prisão por corrupção e formação de quadrilha, os mensaleiros do PT agora acreditam que a impunidade virá pela escolha de um novo ministro do STF simpático à causa deles. Seria um tapa na cara da opinião pública brasileira.  
O Supremo Tribunal Federal (STF) precisou de 53 sessões plenárias e 138 dias para condenar. no ano passado, 25 dos 38 réus do processo do mensalão. No maior julgamento de sua história, aplicou penas que chegam a quase 270 anos de prisão e multas de 22 milhões de reais. Considerada um divisor de águas na luta contra a impunidade que beneficia os criminosos de colarinho-branco, essa decisão ainda não foi executada. Mas será? Nos bastidores da corte, um grupo de ministros trabalha para que isso nunca ocorra.
 
A impunidade passa pela indicação de um novo integrante para o STF simpático à tese da redução das penas impostas aos mensaleiros. Isso livraria da prisão em regime fechado o ex-ministro José Dirceu. Como se sabe. Dirceu foi condenado por ser o chefe da quadrilha que subornou parlamentares, no primeiro mandato do ex-presidente Lula, usando dinheiro desviado dos cofres públicos.
 
Do ponto de vista técnico, a esperança dos condenados se chama "embargos infringentes", recurso previsto no Código de Processo Penal que permite aos réus reabrir os processos quando suas condenações em tribunais não tiverem sido unânimes. O uso desse recurso no STF em casos de réus com foro privilegiado, sob a atual Constituição, seria algo inédito. Por essa razão, os ministros precisarão decidir. antes de mais nada, se é cabível extrapolar essa regra para a mais alta corte do país.
 
Os ministros estão divididos sobre essa questão. Portanto, não é de todo impossível que o julgamento do mensalão seja reaberto para reexa-me das condenações ou das partes em que houve divergência. Os advogados dos mensaleiros estão prontos para pedir ao Supremo que receba e discuta os "embargos infringentes".

Uma decisão favorável à reabertura do processo, certamente, repercutirá muito mal perante a opinião pública, que comemorou no ano passado a inédita condenação à prisão de gente poderosa no Brasil. Perto da reação dos brasileiros ao tomar conhecimento de que o processo será reaberto, as questões de jurisprudência são a parte mais branda do caso. Os defensores acreditam que conseguirão derrubar a condenação por formação de quadrilha imposta a Dirceu, ao ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares e ao ex-presidente petista José Genoino, entre outros.
 
Se isso ocorrer mesmo, a pena de Dirceu cairá de dez anos e dez meses para sete anos e onze meses. Isso significa que ele se livrará da cadeia em tempo integral, sendo recolhido ao cárcere apenas para passar a noite. No caso do deputado José Genoino, a pena de prisão cairia de seis anos e onze meses para quatro anos e oito meses, decisão que impactaria o número de dias que ele %, dormirá na prisão.
 
O regimento interno do STF prevê a possibilidade de embargos infringentes quando há quatro votos contrários à condenação — exatamente a quantidade obtida pelos petistas no caso da formação de quadrilha. Ocorre que o regimento interno é anterior à Constituição de 1988 e a uma lei de 1990 que regulamentou o andamento das ações penais nos tribunais superiores. A Carta e a legislação ignoraram o tema, que, no entanto, permaneceu no regimento interno do STF.
 
Vale o regimento ou se considera que, ao ignorar a existência dos embargos infringentes, a Constituição e a lei estão dizendo que eles não são cabíveis? É essa a questão que divide o STF agora. "Não faz sentido entender que a norma prevista no regimento interno subsiste à lei", pondera um ministro.
 
Outro ministro lembra que o acolhimento dos embargos infringentes resultaria em uma anomalia gritante. Ela pode ser resumida assim: com apenas seis votos, o STF pode declarar a inconstitucionalidade de regras aprovadas no Congresso Nacional, mas nem com sete votos pode condenar definitivamente um réu de ação penal quando este obteve quatro votos a favor de sua absolvição.
 
Ou seja, nessa hipótese, um réu teria mais força jurídica do que um Poder da República. Esses argumentos não desanimam os advogados dos réus do mensalão. Eles dizem que a questão ainda está aberta e espalham que quatro ministros já concordam com a apresentação de embargos infringentes.
 
Para formarem a maioria no plenário, portanto, os advogados precisariam conquistar o apoio de Teori Zavascki, ministro que tomou posse no fim do ano passado e que não participou do julgamento do mensalão. e do futuro ministro que ainda será indicado pela presidente Dilma Rousseff para a vaga aberta pela aposentadoria de Carlos Ayres Britto. Dilma deve anunciar sua escolha nos próximos dias. Há muita especulação sobre quem será o 11 ° integrante do Supremo Tribunal Federal.
 
A claque dos mensaleiros anda a propagar que o STF precisa de um tributarista ou de um processualista, quando no fundo quer mesmo um petista. Joaquim Barbosa, presidente do STF, não esconde seu desagrado com o lobby político disfarçado de preocupação técnica. Ele fez chegar à presidente Dilma Rousseff o seguinte conselho: "O STF E não precisa de tributaristas ou criminalistas. Precisa de estadistas".
 
02 de abril de 2013
Daniel Pereira, Veja
 

"DE VOLTA DO FUTURO"


“Desesperado com tudo, eu ajustei minha máquina de volta para 2013, decidido a fazer o que estivesse ao meu limitado alcance para impedir um futuro tão maldito do meu país”


O ano é 2030. Cheguei aqui com minha DeLorean, na esperança de encontrar um país mais próspero e livre. Qual não foi minha surpresa quando dei logo de cara com uma enorme estátua de Lula!

Curioso, perguntei a um transeunte do que se tratava. Um tanto incrédulo com minha ignorância, o rapaz explicou que era a homenagem ao São Lula, ex-presidente e “pai dos pobres”. Havia uma estátua dessas em cada cidade grande do país. Afinal, tínhamos a obrigação de celebrar os 150 milhões de brasileiros incluídos no Bolsa Família.

Após o susto inicial, eu quis saber quem pagava por tanta esmola, e se isso não gerava uma nefasta dependência do Estado. O rapaz parece não ter compreendido minha pergunta. Disse que estava com pressa para entrar na fila do pão, e que seu cartão de racionamento ainda dava direito a uns bons cem gramas.

Em seguida, vi na televisão de uma loja um rosto conhecido, ainda que envelhecido. Era o ministro Guido Mantega! E pelo visto ele ainda era o ministro. Ele estava explicando o motivo pelo qual sua previsão de crescimento de 5% não se concretizou. A queda de 3% do PIB havia sido culpa da crise em Madagascar. Mas tudo iria melhorar no próximo ano.

Notei então o preço do aparelho de TV: 100 mil bolívares. Assustado, perguntei ao vendedor do que se tratava, explicando que eu era de fora. O homem disse que, em 2022, após a inflação chegar em 20% ao mês, o governo cortou três zeros da moeda. Pensei logo no bigodudo. Como isso não funcionou, o governo decidiu adotar o bolívar, moeda comum do Mercosul.

Descobri que os países “bolivarianos” chegaram a adotar o escambo, depois que suas respectivas moedas perderam quase todo o valor frente ao dólar. A moeda comum foi uma medida urgente, pois estava difícil efetuar as trocas. O criador de gado argentino precisava encontrar um produtor de soja brasileiro disposto a trocar o mesmo valor de gado por soja. Era um caos!

Levantei ainda alguns dados no jornal “Granma Brasil” (parece que o “controle democrático” da imprensa havia finalmente passado, e o governo se tornou o dono do único jornal no país). A inflação oficial era de “apenas” 30%, mas todos sabiam nas ruas que ela era ao menos o triplo disso. Um centenário Delfim Netto desqualificava os críticos do Banco Central como “ortodoxos fanáticos”.
Não havia mais miserável no Brasil, pois a linha de pobreza era calculada com base no mesmo valor nominal de 2010. Mas havia mendigos para todo lado. Um desses mendigos me pareceu familiar. Eu poderia jurar que era o Mr. X! Mas não poderia ser. Afinal, ele era um dos homens mais ricos do país, e tinha ótimo relacionamento com o governo. O BNDES era um grande parceiro seu.

Foi quando decidi ver que fim tinha levado o banco estatal. Soube que, após o décimo aumento de capital na Petrobras (que agora importava toda a gasolina vendida), e vários calotes dos “campeões nacionais”, o BNDES tinha se unido ao Banco do Brasil e à Caixa, esta falida nos escombros do Minha Casa Minha Vida, para formar o Banco do Povo. O símbolo era uma estrela vermelha.

O Tesouro já tinha injetado mais de US$ 2 trilhões no banco, para tampar os rombos criados na época da farra creditícia. Especialistas gregos foram chamados para prestar consultoria.

Com fome, procurei um restaurante. Todos eram muito parecidos, e tinham a mesma estrela vermelha na entrada. Soube então que era o resultado de um decreto do governo Mercadante em 2018. Em nome da igualdade, todos os restaurantes teriam que fornecer o mesmo cardápio pelo mesmo preço. Frango era item de luxo, e custava muito caro. Continuei faminto.

Veio em minha direção uma multidão de mulheres desesperadas protestando. Quis saber o que era aquilo, e me explicaram que, em 2014, quase todas as empregadas domésticas perderam seus empregos por causa de mudanças nas leis. Havia ficado proibitivo contratá-las. Desde então, elas vagam pelas ruas protestando e mendigando, sem oportunidades de emprego. “O inferno está cheio de boas intenções”, pensei.

Um rebuliço começou perto de mim, e uma tropa de choque surgiu do nada e arrastou um sujeito até a cadeia. Descobri que ele foi acusado de homofobia e enquadrado na Lei Jean Willys, pegando 10 anos de prisão por ter dito abertamente que preferia um filho heterossexual a um filho gay. A pena foi acrescida de 2 anos pelo uso do termo gay, em vez de “homoafetivo”.

Desesperado com tudo, eu ajustei minha máquina de volta para 2013, decidido a fazer o que estivesse ao meu limitado alcance para impedir um futuro tão maldito do meu país.
 
02 de abril de 2013
Rodrigo Constantino

RICARDO IZAR DERROTA CANDIDATO DO GOVERNO NO CONSELHO DE ÉTICA

Ricardo Izar presidirá Conselho de Ética da Câmara
 

Deputado enfrentou Marcos Rogério (PDT-RO), o candidato oficial, e venceu a disputa por apenas um voto. Líder do PDT reclama de traições

 
Deputado Ricardo Izar PSD/SP
Izar não tinha apoio oficial nem do próprio partido (Saulo Cruz/Agência Câmara)
Em um resultado surpreendente, o deputado Ricardo Izar Júnior (PSD-SP) foi eleito nesta terça-feira o novo presidente do Conselho de Ética da Câmara. Ele derrotou o candidato oficial, Marcos Rogério (PDT-RO), por 11 votos a 10. A disputa que ganhou importância graças à perspectiva de que o colegiado tenha de se pronunciar sobre a perda de mandato dos quatro deputados condenados no processo do mensalão.
Marcos Rogério contava com o apoio declarado do presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) e de lideranças de PT e PMDB. Mas Izar resolveu se lançar na disputa. O pai dele, homônimo, presidia o Conselho de Ética na época do mensalão. "A votação de hoje mostrou que o Conselho de Ética é um colegiado independente. Aqui não tem pressão de partido, pressão de liderança, e cada deputado vai votar de acordo com a sua consciência", comemorou o novo presidente.
Izar, que não era apoiado oficialmente nem mesmo do PSD, apostava na votação secreta para obter o posto. E deu certo. Ele diz que, diferentemente das outras comissões, o conselho não costuma fazer parte dos acertos partidários. "O Conselho de Ética nunca fez parte de acordo nenhum na história da Casa", disse ele, pouco antes da votação.
Além de deputados de oposição, Izar obteve o apoio declarado de integrantes do PSB. "Nesta casa ainda existem pessoas de bem", comemorou Júlio Delgado (PSB-MG), após a vitória.
O líder do PDT, André Figueiredo (CE), se irritou com a derrota de seu candidato e queixou-se de traições: "É questionável está ética que faz com que deputados declinem o voto para um candidato e votem em outro", afirmou.
Manobra – Na semana passada, a eleição foi adiada graças a uma manobra do presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). Ele abriu a sessão de votações em plenário – mesmo sem quórum –, o que automaticamente impediu todas as comissões, inclusive o Conselho de Ética, de realizar qualquer deliberação. Alves evitou, assim, que a votação no colegiado fosse realizada em um momento em que Izar tinha grandes chances de vitória. Mas, uma semana depois, o deputado do PSD obteve o resultado almejado.
Ricardo Izar calculava, antes da votação, ter perdido alguns apoios – especialmente do PMDB, cujo líder, Eduardo Cunha (RJ), se esforçou para isolar o candidato do PSD. Cunha disse que, se Izar fosse eleito, o partido perderia a Corregedoria da Câmara.
Os quatro condenados no processo do mensalão que ainda têm mandato na Câmara devem perder o cargo assim que o Supremo Tribunal Federal (STF) determinar o cumprimento das sentenças. Apesar de os ministros da corte entenderem que a cassação é automática, boa parte dos deputados acredita que a punição depende do aval da Câmara – o que dá relevância ao Conselho de Ética. José Genoino (PT-SP), João Paulo Cunha (PT-SP), Pedro Henry (PP-MT) e Valdemar Costa Neto (PR-SP) foram condenados pelo STF.
Sobre os processos contra os mensaleiros, Izar foi evasivo: "Eu acho que não têm que passar pelo Conselho de Ética, porque já passaram uma vez. Mas se a Mesa Diretora encaminhar, vamos tratar como qualquer outro processo".
20 de abril de 2013
Gabriel Castro - Veja

CASAGRANDE EXPÕE "INFERNO" DAS DROGAS E DOPING NA EUROPA EM AUTOBIOGRAFIA

Ex-atacante abriu o seu passado controverso e se revela em livro prestes a ser lançado
 
Divulgação
Capa da autobiografia de Casagrande

Walter Casagrande Júnior prepara para a próxima semana o lançamento de “Casagrande e seus demônios”. Na autobiografia, escrita em parceria com Gilvan Ribeiro, ele conta a dificuldade vivida por sua dependência química e momentos importantes de sua trajetória, como a amizade com Sócrates.
 
“Casão faz questão de contar o inferno que viveu quando era viciado em drogas e sua internação, pois para ele é fundamental passar adiante a experiência, dividir as dores da dependência e alertar para os perigos de um vício frenético, sem preconceitos, desvios ou mentiras. A verdade ajuda a sanidade”, afirma o escritor Marcelo Rubens Paiva, que assina o prefácio.
 
No livro, apresentado por Antonio Prata, o ex-jogador conta também que fez uso de doping, por meio de injeções musculares fornecidas por seu clube, quando atuava na Europa, onde defendeu Porto, Ascoli e Torino. “Cansaço? Esquece. Se fosse preciso, dava para jogar três partidas seguidas”, conta o artilheiro, que disse ter se manifestado contra a atitude e se negado a manter o uso da substância proibida.
 
“Casagrande e seus demônios”, porém, não se resume às drogas. Rock, política, mulheres e Corinthians são alguns dos assuntos retratados na publicação, que separa um capítulo especial para Sócrates. Parceiro de Casão na Democracia Corinthiana, o Doutor chegou a se afastar do amigo antes de se reconciliar com ele, pouco antes de morrer, em 2011.
 
“Ainda bem que nos reaproximamos no final da vida dele. Caso contrário, a dor seria insuportável”, diz o ex-centroavante, criticado por Sócrates por aceitar trabalhar na TV Globo, em um dos trechos do livro, editado pela Globo Livros, que acaba de chegar ao mercado.
02 de abril de 2013
Gazeta