"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



segunda-feira, 22 de agosto de 2011

PF COGITA INTIMAR ROSSI PARA PRESTAR 'ESCLARECIMENTOS'


A Polícia Federal cogita intimar o ex-ministro Wagner Rossi para depor no inquérito que apura irregularidades no Ministério da Agricultura.

A investigação foi aberta na semana passada, a partir da inquirição de Israel Leonardo Batista, ex-chefe da comissão de licitações do ministério.

Israel reafirmou no depoimento acusações que, levadas ao noticiário, adensaram o caldo de malfeitos que precipitou o pedido de demissão de Rossi, na última quarta-feira (17).

O inquérito da PF entra na segunda fase a partir desta segunda (22). Já intimados, começarão a ser ouvidos os personagens citados por Israel.

Entre eles o lobista Júlio Fróes; a chefe de gabinete da secretaria-executiva Karla França Carvalho; e o ex-segundo do ministério, Milton Ortolan.

Apura-se, entre outros malfeitos, a suspeita de direcionamento de licitações realizadas na gestão de Wagner Rossi, nomeado por Lula e mantido por Dilma Rousseff.

A PF trabalha com a perspectiva de que a oitiva de Rossi pode ser inevitável. O inquérito ficaria capenga sem os “esclarecimentos” do ex-ministro.

Partiu de Rossi, por exemplo, a autorização para que fosse contratada, no ano passado, a Fundação São Paulo, mantenedora da PUC-SP.

Em processo preparado pelo lobista Fróes, que dispunha de sala no ministério, a PUC foi contratada para treinar servidores ao preço de R$ 9,1 milhões.

Segundo Israel, Fróes distribuiu dinheiro a servidores após a assinatura do contrato com a PUC. No rastro da saída de Rossi, vieram à luz detalhes que tonificaram as suspeitas.

Descobriu-se que a participação da FGV na pseudolicitação foi fraudada. A proposta era forjada. A assinatura, falsa.

Em nota divulgada na sexta (19), a PUC se dispôs a devolver os cerca de R$ 5 milhões que já recebeu do ministério.

Ao demitir-se da Esplanada, Rossi como que viabilizou a eventual intimação da PF. No cargo, ele só poderia ser chamado a depor mediante autorização do STF.

A condição de ex-ministro privou Rossi da chamada prerrogativa de foro. Ele tampouco dispõe do privilégio como parlamentar. É ex-deputado federal.

Confirmando-se a intimação, a simples presença de Rossi nas dependências da PF representará um constrangimento adicional a Michel Temer.

O vice-presidente da República frequenta a crônica do caso como “padrinho” da nomeação de Rossi.

A cúpula do PMDB respirava aliviada depois que o “apadrinhado” decidiu deixar o governo por conta própria, livrando Temer do embaraço.

Associado a apurações em curso na Controladoria-Geral da União, o inquérito da PF pode prolongar o martírio da vinculação política.
Sérgio Lima, Folha
Josias de Souza

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