"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quinta-feira, 22 de setembro de 2011

LULA SEM COMPOSTURA

Mal conheço a deputada Ana Arraes. Fui muito amigo de seu pai, o saudoso governador Miguel Arraes de Alencar, de Pernambuco, meu colega de Câmara na legislatura de 1983 a 1986. E me considero amigo pessoal de seu filho, o hoje governador Eduardo Campos. Este, aliás, sabe sobejamente que fui leal a ele num momento em que a lealdade era artigo apreciável.

Discordo, porém, da indicação de sua mãe, a deputada, para o Tribunal de Contas da União. Afinal, estarão em causa convênios federais com Pernambuco e, mesmo se declarando impedida de atuar nesses processos, sua presença pairará sobre a Casa, de certa forma constrangendo seus novos pares.

Pensei muito antes de emitir esta opinião. Muito mais cômodo não fazê-lo, neste país que premia a omissão e valoriza as relações pessoais mais que certos princípios que deveriam ser pétreos na vida pública. Mas o comentário já está feito e dele não me arrependo de jeito nenhum.

Nessa “campanha” para o TCU, triste mesmo foi o papel do ex-presidente Lula, que fez campanha aberta pela candidata vitoriosa, a despeito de a boa postura recomendar, a quem já governou o Brasil, distância de embates assim. Claro que não me preocupo se ele se desgastou ou não com seu ex-ministro Aldo Rebelo, alias fiel amigo de Eduardo Campos. Interessa-me é anotar que estamos diante de um homem que perdeu inteiramente a noção dos limites.

Acha normal fazer palestras milionárias sempre para os mesmos “patrocinadores”, invariavelmente empresas que se beneficiaram de sua gestão e atualmente se valem de seu prestígio junto a Dilma Rousseff. Usa o jatinho da Camargo Correia, até para viagens internacionais, como se estivesse pegando carona no fusca de um vizinho.

Tudo para ele é “normal”. Nada o trava. Mais um pouco e começará a andar nu, aplaudido pelo séquito de acólitos que, vendo-o em campanha aberta pelo Planalto, supõem que a eleição já está decidida, ainda que o eleitorado não tenha sido consultado. Ainda que não seja hora de consultar eleitorado nenhum. Ainda que Lula tenha pela frente o “pequeno” problema de dizer a Dilma que ela não terá direito a disputar a reeleição.

Para o Brasil, a melhor coisa será que Lula vire passado de uma vez por todas. As novas gerações agradecerão um dia, se for assim.

Arthur Virgilio
Blog do Noblat

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