O futuro parece que chegou, e estamos todos bem vivos...
Os alemães utilizam o termo "Zeitgeist" para descrever o clima cultural, intelectual, ético ou político de um lugar em uma determinada época. Numa tradução livre, seria a mentalidade, o "espírito de uma época". Pois bem, nada poderia refletir melhor o "Zeitgeist" econômico atual do que a gangorra que tomou conta dos mercados ultimamente.
É notável como as bolsas de valores mundo afora sobem e descem ao sabor de opiniões e comunicados dos governos. Declarações intervencionistas do BCE, do FED, do FMI ou de quaisquer autoridades públicas propondo aumento de gastos, aquisição de títulos de governos falidos ou políticas voltadas para injetar liquidez provocam imediato otimismo, enquanto sugestões em contrário são o prenúncio de cataclismos nos mercados. Definitivamente, vivemos o apogeu do keynesianismo.
Embora seja muito difícil para qualquer pessoa de bom senso entender como é possível que aumentos absurdos de gastos públicos ou endividamentos constantes e progressivos possam ser sadios ou benéficos, o que se vê atualmente é o mais absoluto desprezo às virtudes da prudência e da parcimônia, tão caras aos economistas clássicos.
De acordo com a teoria keynesiana, as recessões são causadas pela retração "exagerada" do consumo.
Se a sociedade está poupando mais do que seria desejável, o consumo e as vendas caem, os lucros minguam e produzem desemprego. Aos poucos, isto se transformará num círculo vicioso que só o governo poderá romper.
A base da teoria, portanto, é que os indivíduos, ao poupar seus recursos "em excesso", prejudicam a economia como um todo. Chamam a isso de "Paradoxo da Parcimônia". Segundo sua estranha lógica, algo benéfico para indivíduos, famílias e empresas de modo geral, ou seja, a parcimônia e a prudência nos gastos e o aumento dos níveis de poupança, é ruim para a sociedade.
Em resumo, e utilizando as palavras de Mr. Paul Krugman, atual keynesiano-mor, "a virtude individual pode ser um vício público... tentativas de consumidores de fazer a coisa certa, através do aumento da poupança, pode deixar todos em pior situação".
Entendeu, caro leitor?
No fundo, no fundo, o que ele está nos dizendo é que poupar pode ser uma atitude antipatriótica. O raciocínio em tela coloca em posições antagônicas a poupança e o consumo, sendo o consumo a virtude, enquanto a poupança seria o vício (aliás, é bastante sintomático que muitos dos que hoje defendem tais enormidades, no passado não paravam de vomitar vitupérios contra a chamada "sociedade de consumo").
Tudo balela! Numa economia de mercado, os preços (inclusive o preço do dinheiro) ditam a produção e o consumo ao longo do tempo. Os consumidores sinalizam a intensidade de suas preferências presentes e futuras através do incremento ou da redução de suas poupanças, com isso elevando ou reduzindo as taxas de juros.
Se o consumidor se retrai e poupa mais no presente, está sinalizando que provavelmente irá consumir mais no futuro e vice-versa. O sistema irá funcionar razoavelmente, a menos que o governo intervenha, deturpando os sinais do mercado e distorcendo a alocação intertemporal dos recursos.
A poupança pode ser induzida também por incertezas quanto ao futuro, caso em que os indivíduos reduzem seus gastos presentes em bens de consumo supérfluos – produtos cuja demanda é mais elástica –, com medo de que os recursos possam faltar-lhes até mesmo para o consumo de bens essenciais no futuro. Isso geralmente ocorre em épocas de crise recessiva, quando os níveis de desemprego crescem e, junto com eles, o temor quase generalizado de que o nosso emprego possa ser o próximo.
É nesta última hipótese que os keynesianos advogam mais e mais intervenções do governo. Só há um probleminha aqui: as pessoas passaram a consumir menos porque havia uma recessão instalada ou à vista, logo não foi a poupança que causou a recessão. Pelo contrário, aquela é provavelmente consequência desta.
As recessões são, na verdade, o "remédio" utilizado pelo mercado para esvaziar as famigeradas bolhas, normalmente induzidas por políticas intervencionistas, como manipulação das taxas de juros, financiamentos subsidiados, incentivos fiscais direcionados a setores específicos, políticas industriais paridas para beneficiar grupos organizados etc.
A liquidação dos maus investimentos, negócios equivocados e ineficientes, geralmente cria desemprego e outras privações temporárias, até que a estrutura de produção volte a estar em linha com as reais preferências dos consumidores.
Durante os períodos recessivos, os gastos do governo e outras tentativas de fomentar o consumo de forma artificial só irão postergar o realinhamento entre a demanda real e os investimentos, já que esses gastos não são guiados pelos sinais do mercado. Pelo contrário, normalmente são ditados por considerações políticas e, ainda pior, por grupos de interesses bem articulados. Em longo prazo, portanto, como diria Bocage, a emenda sairá muito pior do que o soneto.
Publicado pelo Diário do Comércio em 15/08/2011
João Luiz Mauad, 17/08/2011 OPINIÃO
Um painel político do momento histórico em que vivem o país e o mundo. Pretende ser um observatório dos principais acontecimentos que dominam o cenário político nacional e internacional, e um canal de denúncias da corrupção e da violência, que afrontam a cidadania. Este não é um blog partidário, visto que partidos não representam idéias, mas interesses de grupos, e servem apenas para encobrir o oportunismo político de bandidos. Não obstante, seguimos o caminho da direita. Semitam rectam.
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"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
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