"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sábado, 24 de setembro de 2011

O FIASCO DO PROTESTO CONTRA A MÍDIA GOLPISTA

O orador da manifestação que juntou menos de 20 milicianos culpa a mídia golpista pelo fiasco do protesto contra a mídia golpista

Os organizadores dos atos de protesto de 7 de setembro decidiram que nenhum partido seria mencionado nas palavras de ordem gritadas nas ruas ou inscritas nas faixas. Cautela dispensável: tão logo souberam que o alvo das manifestações era a corrupção impune, militantes do PT reivindicaram a carapuça e deixaram claro que quem combate a roubalheira é inimigo do partido. Açulados por blogueiros estatizados, jornalistas federais, companheiros vigaristas e comparsas da base alugada, atribuíram a paternidade do movimento à imprensa reacionária. E resolveram mostrar aos filhos dos granfinos quatrocentões como se faz uma manifestação de verdade.

Marcado para 17 de setembro, um sábado, o “protesto contra a mídia golpista” foi precedido de veementes exortações aos jovens guerreiros governistas, difundidas pelo Facebook e por sites da internet. Todos deveriam juntar-se no mesmo vão do Masp, na Avenida Paulista, onde 4 mil brasileiros honestos haviam exigido o fim da ladroagem. Desafiada até a véspera da manifestação a registrar o momento histórico, a coluna estranhou o sumiço dos milicianos nos dias seguintes. A explicação está no vídeo abaixo. O protesto contra a mídia golpista foi abortado pelo mais singelo e desmoralizante dos motivos: não apareceu ninguém. Corrijo-me. Apareceram menos de 20 gatos pingados e um orador. Que nem estudante é. Se não mentiu, é professor.

Enquanto filma o cenário de Saara, o combatente solitário fala para o nada: “Adoráveis alunos da juventude politizada do Brasil. Aqui é o professor Marcelo de Paula, de novo, de Sociologia”. Ouve-se o silêncio estrepitoso. O tribuno vai em frente. “Ó, tamo aqui no vão do Masp. Tá vendo como é complicado você fazê uma mobilização? Ó, esse aqui é o pessoal que compareceu até o momento para o protesto contra a mídia golpista”. O que se vê são transeuntes distraídos e meia dúzia de milicianos tão animados quanto uma Quarta-Feira de Cinzas.

“Qué dizê, não é fácil você fazê qualqué trabalho sem a participação da mídia, sem a mídia apoiando, cobrindo, dando visibilidade pro evento”, explica o professor que, simultaneamente, comanda a multidão que não há, grava imagens de uma paisagem desoladora e narra o próprio naufrágio. Ele faz o que pode para provar, em 1min48, que o ato de protesto contra a mídia golpista foi um fiasco por falta de apoio da mídia golpista.

“Mas tamo aqui. É assim que é a nossa luta. Difícil as pessoas aderirem, mas tem aqui alguns corajosos, com essas faixas aqui que vocês estão vendo”. Aparecem algumas faixas filmadas pelas costas. “Pessoas que vieram pelo Orkut, pelo Facebook, atendendo ao chamamento”. Fica feliz com a aparição de um companheiro que qualifica de “amigaço meu, gente boa esse cara”. Um pedaço de plástico cruza a tela voando baixo. O amigaço começa a sair à francesa enquanto passam, apressados, um mascarado e um punk da corrente moicana.

“Tem uma galerinha aí fazendo um protesto diferenciado”, entusiasma-se o narrador. A dupla passa direto, rumo a outra manifestação. “Isso é democracia, pluralidade de opinião, pessoal”, conforma-se. Mais alguns segundos e resolve dirigir-se aos ausentes. “Daqui a pouco chega mais gente. Seria muito bom se vocês estivessem aqui. Foi tudo muito em cima. Numa próxima com certeza vocês estarão aqui”.

Pela primeira vez na história, um orador conclamou uma plateia imaginária a voltar a um local onde não esteve. A câmera se aproxima de uma mostra de faixas, cada uma carregada por dois companheiros. “Movimento dos Sem Mídia. Campanha nacional pela democratização e regulamentação da mídia”, avisa uma inscrição. Outra fala em “corrupção da mídia”. Beleza? Vô nessa”, encerra abruptamente a aula o professor Marcelo. E dá o vídeo por concluído.

O PT, quem diria, tornou-se um fracasso de público. Como vêm reiterando nos últimos anos as comemorações do Dia do Trabalho, agora só junta gente se primeiro juntar muito sanduíche, muito refrigerante, um sorteio de apartamentos e duas ou três duplas sertanejas.


">

22/09/2011
Augusto Nunes

Nenhum comentário:

Postar um comentário