"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 4 de dezembro de 2011

ENTRE LUZES VERMELHAS, AMARELAS E COR DE ABÓBORA


Ao lado de i pads, i pods e smartphones, outro símbolo da sociedade contemporânea são as praças de alimentação.

As praças que já foram do condor e do povo, hoje recebem a estranha alcunha de praças de alimentação. O cenário parece ser sempre o mesmo: cadeiras e mesas padronizadas muito perto uma das outras formam uma ilha envolta por restaurantes e lanchonetes do estilo fast food, de onde saem bandejas de comida preparada a toque de caixa, e em cima dos quais se revelam letreiros coloridos, prevalecendo os tons em vermelho, amarelo e cor de abóbora.

Aliás, ouso dizer – só por palpite – que há por trás da combinação dessas três cores algum estudo conclusivo, sobre a maior capacidade que elas têm de atrair a atenção do consumidor faminto e sedento.

Por ali se propaga uma forma sonora muito particular. A mistura de vozes provoca um burburinho poderoso e incessante que não admite sotaques.
Nos shoppings cariocas, paulistas, maranhenses, o burburinho é sempre o mesmo, talvez com alguma variação de volume em decorrência da acústica local.

Uma criança se opõe à aproximação do garfo que sua mãe pacientemente ostenta no ar. Faz pirraça, chora, balança a cabeça, mas depois de algum tempo recolhe do prato uma batata frita, colocando-a na boca sorrateiramente.
Uma família abandona a mesa que tão logo passa a ser ocupada por outra família, que não consegue achar espaço para as compras que carrega.
Há uma sincronia entre as pessoas que fazem as refeições sem companhia. Abaixam a cabeça e se concentram em acabar a refeição rapidamente.

Quem se dispuser a observar o que acontece em volta talvez seja o único a fazê-lo, e por isso passará despercebido como se estivesse invisível. O exercício da contemplação combina melhor com a praça do condor, com a praça do povo.

Flávio de Sousa

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