Um painel político do momento histórico em que vivem o país e o mundo. Pretende ser um observatório dos principais acontecimentos que dominam o cenário político nacional e internacional, e um canal de denúncias da corrupção e da violência, que afrontam a cidadania. Este não é um blog partidário, visto que partidos não representam idéias, mas interesses de grupos, e servem apenas para encobrir o oportunismo político de bandidos. Não obstante, seguimos o caminho da direita. Semitam rectam.
"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)
"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
segunda-feira, 9 de janeiro de 2012
A MESMA IMPRENSA QUE APÓIA A OCUPAÇÃO DO MORRO DO ALEMÃO ATACA COM FEROCIDADE A AÇÃO DA CRACOLÂNDIA. O NOME DISSO É PARTIDARISMO!
Parte considerável da imprensa de São Paulo decidiu se opor à operação da Prefeitura e do Estado na Cracolândia. A oposição mais agressiva está nas sublinhas — às vezes, nem tanto… — das reportagens do Estadão.
Mas não só. A ação é caracterizada como atrapalhada, autoritária, violenta, desumana. É evidente que editores, repórteres e quem quer que responda pelo que sai publicado diriam que a situação não pode continuar como está — “é preciso fazer alguma coisa”.
Mas o quê? Nessa hora, é um alívio ser um “jornalista crítico e isento”: melhor ter a prerrogativa de atacar as ações do poder público do que a responsabilidade da decisão.
As ONGs e os padrecos de passeata que, nos últimos 10 anos, têm impedido qualquer ação mais efetiva de combate ao crack, estão pautando, como dizem alguns, o “olhar” dos jornalistas. Quando o assunto é droga, na melhor das hipóteses, esse “olhar” foi seqüestrado pelo que chamo “poesia da crueldade”; na pior, e é a mais freqüente, estamos lidando é com partidarismo mesmo: o que quer que se faça nessa área sem o apoio das entidades abrigadas pelo guarda-chuva do petismo será sempre considerado um erro.
Critiquei nesta madrugada as opiniões do psiquiatra Dartiu Xavier da Silveira. Em artigo no Estadão, atacou o que chama de “política repressiva”. No lugar, diz ele, é preciso haver uma “política preventiva|”.
Basta olhar para a degradação moral, ética, urbana, familiar, humana (escolham aí o critério) vigente na Cracolândia para se constatar que, no caso, não há mais “prevenção” possível. Não ali. A repressão ao crime, é uma questão de lógica elementar, também é uma forma de prevenção.
Setores da imprensa insistem, por exemplo, em chamar a operação de “dor e sofrimento”, nome que nunca teve. Quem recorreu a essas palavras foi o coordenador de Políticas sobre Drogas da Secretaria de Justiça e Defesa da Cidadania, Luiz Alberto Chaves de Oliveira.
Afirmou literalmente: “A falta de droga e a dificuldade de fixação vão fazer com que as pessoas busquem o tratamento. Como é que você consegue fazer o usuário se tratar? Não é pela razão, é pelo sofrimento. Dor e sofrimento fazem a pessoa pedir ajuda”.
É um ponto de vista que está longe de ser a estupidez que se imagina. Enquanto o usuário de droga tem à sua disposição o prazer que mata, ele caminha para a morte. E ponto! Em larga medida, é, sim, uma escolha individual. A questão é saber quanta “dor e sofrimento” o seu prazer suicida pode provocar a terceiros. No caso da Cracolândia, traficantes e viciados privatizaram uma área da cidade, que tem de ser devolvida aos paulistanos.
Em muitos aspectos, a Cracolândia é um “morro ocupado” na região central de São Paulo. Também por ali, a exemplo do que acontece nas regiões do Rio governadas pelo tráfico, trabalhadores, cidadãos comuns, mulheres, homens e crianças do povo vivem sob o cerco do crime.
Mas vejam que curioso: enquanto a imprensa carioca, em uníssono, apóia as ações da polícia (com um entusiasmo que avança para a colaboração), a paulistana desce o sarrafo no poder público. No Alemão ou na Cracolândia, a retomada da área não constitui uma ação de prevenção ao uso de drogas; lá e aqui, trata-se de uma operação de retomada de território. Nem mesmo se pretende, em ambos os casos, “zerar” o tráfico e o consumo de drogas — nas favelas onde se instalaram as UPPs, por exemplo, admite o próprio José Mariano Beltrame, o tráfico continua.
E por que, então, todo esse alarido de suposto apelo humanista em São Paulo, contrário à ação da Polícia, tanto quanto o mesmo humanismo estridente apóia de forma acrítica a ação das forças de segurança do Rio? Não que os dois estados, diga-se, vivam situações semelhantes. A Cracolândia de São Paulo era uma das poucas, se não era a única, regiões do estado sob o domínio efetivo do tráfico. No Rio, sabemos, falta ainda “pacificar” a esmagadora maioria das favelas.
A RESPOSTA
A resposta é uma só: PARTIDARISMO. No Rio, Sérgio Cabral governa com o apoio dos petistas. Mais: a cidade tem pela frente a Copa do Mundo e a Olimpíada. É preciso oferecer à opinião pública uma resposta, e as ONGs, os “intelectuais” e a imprensa decidiram colaborar.
Em São Paulo, esses mesmos setores são franjas do petismo e já estão engajados, ainda que de maneira oblíqua, na campanha de Fernando Haddad na disputa pela Prefeitura da Capital.
Aí se parte para o vale-tudo. Em reportagem do Estadão de hoje, fala-se em “procissão do crack”, com aspas. Essas aspas não reproduzem a fala de alguém, não indicam uma citação. Trata-se de uma imagem criada pela reportagem, que também recorre à palavra “peregrinação”.
São as famosas aspas que, no discurso oral, os falantes costumam marcar com os indicadores, lembrando que o sentido da palavra não é bem aquele.
Na campanha contra a ação da Prefeitura e do Estadao, vale usar a reportagem como metáfora.
Na região, lembra o texto, o “artista plástico” Zerella Neto chegou a instalar a imagem de uma “Nossa Senhora do Crack”. É verdade! Os próprios usuários consideraram um desrespeito à santa e a quebraram, mas o padre Julio Lancelloti, aquele…, gostou: “Eu acho que, agora quebrada, ela ficou mais parecida com o povo que está aqui”. É que ele “trabalha” com os moradores de rua, sabem? Lancelotti é o autor original da tese de que qualquer intervenção do poder público na região — desde que não seja executada pelo partido de sua preferência, o PT — é coisa de “higienistas”.
Como se nota, recorre-se a metáforas de cunho religioso, transformando os viciados em deserdados da terra que herdarão o Reino de Deus.
Por enquanto, eles seriam intocáveis. Pelo menso até a eventual chegada do PT ao poder em São Paulo. O tal Dartiu, em certo sentido, tem razão. Trata-se mesmo de uma questão político-eleitoral. Os zumbis do crack são hoje massa de manobra de poliqueiros. A mim interessa saber: o que diz a lei? Aplique-se a lei. Ponto!
Por Reinaldo Azevedo
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