"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 25 de outubro de 2011

PASSADO A LIMPO


Para o PCdoB, até o passado é imprevisível. Na luta para livrar o ministro dos Esportes, Orlando Silva, das acusações que lhe foram feitas, o partido delirou: no (último) programa partidário para TV, tratou a História como massinha de moldar.

De repente, citam Luiz Carlos Prestes, Niemeyer, Drummond como grandes nomes do partido. Prestes, líder do PCB, linha russa, era inimigo do PCdoB, linha chinesa. Quando a União Soviética denunciou os crimes de Stalin, seu antigo ditador, Prestes e Niemeyer aceitaram as denúncias (Drummond já nem era comunista); o PCdoB ficou fiel a Stalin, rompeu com o PCB e mudou de nome.

Na época da ditadura, havia comunistas do PCB e do PCdoB na prisão. Quem falasse com o pessoal do PCdoB não era aceito para diálogo com a turma do PCB. Era esse o nível da inimizade, o tamanho da divergência: os heróis de um partido eram os que o partido inimigo considerava traidores.
Não, não houve erro ao recontar o passado. Houve manipulação deliberada, porque os dirigentes do PCdoB sabem melhor do que todos o que foi sua luta com o PCB. Houve uma tentativa de buscar para o partido os nomes históricos que, supõe o PCdoB, lhe dariam maior respeitabilidade. Tanto em russo, a língua preferida do PCB, como em chinês, o idioma do PCdoB, isso se define numa palavra extremamente precisa: falsificação. Se é desse jeito que pretendem salvar o ministro Orlando Silva, é melhor já ir pensando no nome de seu substituto.
Aliás, o PCdoB esqueceu Roberto Freire, que dirigiu o PCB. Discriminação?

Mexendo geral

Em tempo: o PCdoB só exacerbou uma tendência da maior parte dos políticos brasileiros. Não faz muito tempo, Marta Suplicy chamava Maluf de "nefasto"; nas eleições seguintes, ele a apoiou. Maluf e Lula se odiaram enquanto foi conveniente para os dois. Lula chamava Sarney de ladrão e fez o possível para desmoralizar Collor, antes de chamá-los para ser seus aliados. Serra e Fernando Henrique fundaram um novo partido porque, segundo diziam, não aguentavam conviver com Quércia - que, ao lado de Fernando Henrique, apoiou Serra para a Presidência.
Aliás, alguém lembra que Sarney começou na política pela esquerda?

Bola de cristal

No Brasil, é mais fácil prever o futuro do que o passado. Tão logo, em 2007, se decidiu que a Copa seria por aqui, quem não previu que iriam botar a mão?

Carlos Brickmann
Brickmann& Associados

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