Vai ao ar em janeiro na TV Globo “O brado retumbante”, minissérie de Euclydes Marinho em oito capítulos, sobre um presidente da República fictício vivendo seus dramas e comédias políticos e existenciais no Brasil real, que não é pré nem pós Dilma, mas um universo paralelo. O cotidiano e a intimidade de um presidente acidental, seus conflitos com a mulher e os filhos, a mãe tirânica e o velho tio picareta, as forças politicas em luta pelo poder, a imprensa e o Congresso, corruptos e faxineiros, arapongas e conspiradores, sua equipe de governo e a opinião pública. Tudo invenção, diversão, entretenimento. Mas, como dizia o escritor Julio Cortazar, a ficção é a história secreta das sociedades.
Nos Estados Unidos já foram feitos inúmeros filmes e séries sobre presidentes fictícios. Martin Sheen, Morgan Freeman, Harrison Ford e até Glenn Close viveram presidentes no universo da ficção, às voltas com conflitos internacionais, domésticos e pessoais. Sim, “é tudo mentira”, mas serve para o público penetrar no mundo fechado do poder, como voyeur do luxo e do lixo, das tramoias e ambições, dos ódios e paixões que movem personagens que decidem como nós viveremos, e até se viveremos.
No Brasil da ditadura nunca se ousou, por motivos óbvios. Imaginem uma minissérie com um general presidente? Mas a história de Collor daria uma boa ficção, com reviravoltas emocionantes, a CPI, o dia das camisas pretas, o impeachment e até um assassinato misterioso no final: quem matou PC Farias? Já a história que começa nas Diretas Já e vai à eleição de Tancredo, sua agonia e morte, e termina com a posse de Sarney, seria tão absurda que dificilmente um espectador estrangeiro acreditaria nela, seria inverossímil. O governo Sarney só poderia ser ficcionalizado em forma de chanchada.
Com Guilherme Fiuza e Denise Bandeira, integrei a equipe que escreveu o “Brado” com Euclydes. Nos divertimos, mas foi muito dificil. Por mais fantasias e tramoias que se inventasse, todo dia éramos superados pelos jornais. E como criar nomes melhores que Valdebran e Gedimar? É dura a vida de ficcionista no Brasil.
10 de dezembro de 2011
Nelson Motta
Fonte: O Globo
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"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
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