"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sábado, 10 de dezembro de 2011

NA RÚSSIA, MILHARES VAO ÀS RUAS CONTRA PUTIN

Milhares de russos foram às ruas do país neste sábado, protestar contra as fraudes ocorridas nas eleições parlamentares da semana passada, quando o Rússia Unida, partido do primeiro-ministro Vladimir Putin, venceu o pleito mais uma vez. Há protestos por todo o país, desde a gelada parte oriental, até o sul da Rússia, regiões separadas por oito horas de diferença no fuso horário.

O maior protesto ocorre na capital, Moscou, onde um número de manifestantes entre 25 mil (segundo a polícia russa) e 40 mil ou 50 mil segundo observadores independentes protesta contra Putin nas praças da Revolução e Bolotnaya, ambas no centro da cidade e próximas ao Kremlin. Em São Petersburgo, segunda maior cidade da Rússia, próxima à Finlândia, cerca de 10 mil pessoas tomaram a praça do Pioneiro, também no centro da cidade.

A presença das massas nas ruas mostra que, pela primeira vez desde que se tornou a figura dominante na política russa, Putin enfrenta uma oposição real, formada não apenas por radicais que tradicionalmente protestam contra o governo. Esta tendência, que vinha sendo destacada por analistas, ficou clara neste sábado, como detectou a reportagem do jornal americano The New York Times.

Em pé embaixo da neve, Yana Larionova, 26 anos, disse não estar surpresa por ver multidões lotando as pontes para a manifestação na praça Bolotnaya, muitas delas usando fitas brancas [símbolo do movimento contra Putin] presas aos casacos.
“As pessoas estão simplesmente cansadas, eles [o governo] cruzaram todos os limites”, disse Larionova, uma corretora de imóveis. “Você vê todas essas pessoas bem vestidas, que ganham bons salários, indo para as ruas num sábado e dizendo ‘chega’. É aí que você sabe que precisa de mudanças”.

O governo russo tenta dissuadir as manifestações de inúmeras formas. Dmitri O. Rogozin, embaixador da Rússia na Otan, afirmou que os protestos são uma tentativa de “destruir” a Rússia, como ocorreu no fim da União Soviética.
O próprio Putin acusou os Estados Unidos de estarem por trás das manifestações, uma acusação que costuma tirar legitimidade dos protestos na Rússia.

Há também formas mais prosaicas de contrapor a oposição. Este sábado (e apenas este) foi declarado pelo governo dia útil para os estudantes. A sede do Yaboklo, um partido liberal, foi “atacada” por uma sequência de telefonemas automáticos que elogiavam Putin.
De acordo com o jornal britânico The Guardian, em Penza, a 625 quilômetros de Moscou, o governo local ofereceu entrada gratuita no zoológico para tentar evitar as manifestações contra Putin.

As tentativas não parecem surtir efeito. De acordo com o Moscow Times, um jornal publicado em inglês na Rússia e que costuma ser crítico ao governo, a manifestação em Moscou neste sábado têm a presença de inúmeros líderes oposicionistas de diversas vertentes políticas e grupos nacionalistas, comunistas e do Solidarnost, um movimento liberal, sem violência entre eles.

Em editorial, o Moscow Times diz que “em menos de uma semana, a Rússia mudou“. Para o jornal, seria impossível pensar em protestos como esses antes das eleições, que escancararam a insatisfação dos russos.

As pessoas estão cheias de mentiras, de truques baratos – o mais recente a extensão dos dias escolares para hoje – cheias da necessidade de suspender suas crenças quando as notícias chegam na televisão. (…)
As pessoas estão cheias de ter que se defender contra o governo e estão começando a exigir alguma coisa do governo. (…)
Uma mensagem que se provou imensamente popular [nas discussões do jornal pela internet] foi da usuária “lady_spring” na qual ela pede um protesto civilizado, educado. “Vamos mostra que não somos um multidão, somos um povo, cidadãos”, escreveu ela. Que os deixem demonstrar isso hoje.

10/12/2011 Redação ÉpocaMundo Tags: Rússia, The Guardian, The Moscow Times, The New York Times

Confira abaixo os vídeos com cenas dos manifestantes na praça Bolotnaya, centro de Moscou:





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