Apesar de eleita com uma margem confortável de votos, Dilma adotou uma postura defensiva e recatada em seu primeiro ano de governo.
A presidente Dilma Rousseff chega ao fim do primeiro ano de mandato com seu time de ministros desfalcado e com poucos resultados a apresentar. Do período de lua de mel entre governante recém-empossada, população e imprensa, Dilma recolheu a boa vontade da maioria com a primeira mulher eleita presidente, agradeceu a confiança, garantiu conhecer a receita que trouxera ao país um belo 2010, e prometeu repeti-la em seu primeiro ano de mandato.
Mas a agenda de reformas do governo ficou em segundo plano. Ela não apareceu nos primeiros 100 dias, nem quando denúncias passaram a ameaçar o primeiro escalão de Brasília. Apesar de eleita com uma margem confortável de votos, Dilma adotou uma postura defensiva em seu primeiro ano de governo: evitou medidas polêmicas, diluiu os cortes nos gastos públicos e, mesmo com fama de durona, a presidente só demitiu ministros envolvidos em malfeitos quando suas situações se tornavam insustentáveis.
Um resultado discreto para quem a ouvia como candidata há um ano, e muito pouco, mesmo para quem não esperava muito do novo-velho governo petista. Em ano de demissão de sete ministros, convém ao governante evitar temas polêmicos.
Em 2010, como parte de uma administração prestes a encerrar o último ano de mandato com o PIB do país crescendo mais de 7%, a candidata Dilma Rousseff dizia conhecer o mapa da prosperidade.
Enquanto o mundo enfrentava uma das maiores crises do século, o Brasil navegava sem problemas graves, e crescia mantendo a inflação sob relativo controle.
A realidade do primeiro ano de Dilma à frente de seu governo, porém, foi um pouco mais dura. O crescimento do PIB não deve chegar à metade da marca de 2010; o índice de inflação ronda perigosamente o topo da meta; e as antigas propostas de mudanças foram esquecidas ou substituídas por versões diluídas das propostas originais.
Em entrevista dada em julho de 2010 ao programa 3 a 1, da TV Brasil, no início de sua campanha à presidência, a candidata Dilma listava a redução de tributos como um dos ingredientes que ajudaram o país a sobreviver em meio à crise mundial, e como parte fundamental da manutenção do crescimento do PIB nacional.
Entretanto, a presidente Dilma, em seu primeiro ano de governo, parece ter optado pelo atalho do protecionismo. A arrecadação recorde não parece suficiente para convencer o governo a desonerar a indústria e o comércio brasileiros.
Ao invés de retirar tributos que incidem sobre a produção, distribuição e venda dos produtos industrializados nacionais – facilitando a competição das indústrias nacionais com as indústrias estrangeiras – o governo preferiu render-se ao sentimento mercantilista: aumentou as barreiras comerciais e encareceu artificialmente os produtos importados.
Pode parecer óbvio, mas a intervenção governamental não tornou os produtos nacionais mais atraentes para os consumidores. Ela apenas tornou o produto de seus competidores estrangeiros mais caro. Os empresários brasileiros agradeceram, o governo agradou o lobby das indústrias e o consumidor morrerá com a notinha na mão. Pelo bem do país, logicamente.
Intervencionismo
Em março deste ano, três meses depois da posse de Dilma Rousseff, comentei a perda das minhas poucas esperanças no governo que se iniciava. Hoje, em janeiro de 2012, posso confirmar que as esperanças, de fato, me deixaram.
O governo afastou o Secretário Nacional de Políticas sobre Drogas, que defendia mudanças, e em nenhuma oportunidade mencionou qualquer alternativa ao proibicionismo – chegando até a flertar com a internação compulsória. As reformas prometidas durante a campanha foram esquecidas, mesmo com o governo contando com larga maioria parlamentar.
Apesar da retórica de racionalização da máquina pública e eficiência gerencial, a presidente decretou que a reforma o estado brasileiro seria “desperdício de energia política”.
Já a privatização dos aeroportos, caminha para se transformar em apenas uma parceria com a iniciativa privada. Não haverá construção de aeroportos privados, não haverá competição, não haverá venda de aeroportos públicos para a iniciativa privada.
A Infraero continuará como sócia na administração, e apenas arrumará parceiros com os quais possa compartilhar investimentos e a culpa pelos eventuais fracassos.
Em setembro, Dilma abriu o Debate da Assembleia Geral das Nações Unidas apresentando à ONU um país que poucos brasileiros reconheciam.
Um país que “vive praticamente em ambiente de pleno emprego”, mas que ainda tem 35% dos postos de trabalho na economia informal; um país que condena o protecionismo, mas que em seu governo jamais abriu mão das barreiras comerciais para proteger o mercado nacional “contra aventureiros que vêm de fora”; um país que vive sob rigorosa disciplina fiscal, mas que produz superávit com a ajuda de “artifícios contábeis” e substitui as promessas de cortes nos gastos de custeio por cortes de investimento.
Claro, sem jamais considerar deixar parte da receita estatal, que bate recordes todos os anos, nos bolsos dos pagadores de impostos.
E nós ainda nem sabemos quanto custarão a Copa do Mundo e as Olimpíadas.
O imposto para financiamento da saúde permanece como uma incógnita, mas deverá retornar às discussões no ano que vem. Ele que foi negado durante a campanha, colocado em dúvida antes da posse e posto como um desejo dos governadores nos primeiros meses de mandato, parece temporariamente esquecido nesses últimos meses do ano.
Sobre a matéria, Dilma afirmou que antes de criar novos impostos, o governo precisa provar à população que é capaz de solucionar os problemas de gestão dos recursos existentes. Resta saber se ela sustentará a mesma posição no próximo ano.
O mesmo se espera de sua postura em relação ao “controle social da mídia” que continua vivo nos planos de alguns partidos aliados do governo federal.
A presidente sempre se manifestou contrariamente à medida, e declarou acreditar na censura do controle remoto: fica nas mãos do espectador aprovar ou não a atração exibida em sua televisão. Os insatisfeitos não devem contar com a força governamental para barrar a exibição do programa, devem apenas mudar de canal.
Um liberal pode afirmar com segurança que nenhum dos candidatos à presidência da República nas eleições de 2010 apresentava um programa que se dedicasse adequadamente à extensão das liberdades individuais e à promoção de um mercado mais livre.
Entre os quatro principais candidatos, nenhum parecia acreditar que menos intervenção governamental é o melhor caminho para a prosperidade. Entre as propostas da candidata vencedora, algumas poucas, mesmo sem ser liberais, apresentavam alguma possibilidade de melhora do quadro atual. Mas foram engavetadas e devem permanecer guardadas até as próximas eleições, quando aqueles mesmos intervencionistas voltarão, com aqueles mesmos discursos que estamos acostumados a não acreditar.
Por Magno Karl
02.jan.2012
Um painel político do momento histórico em que vivem o país e o mundo. Pretende ser um observatório dos principais acontecimentos que dominam o cenário político nacional e internacional, e um canal de denúncias da corrupção e da violência, que afrontam a cidadania. Este não é um blog partidário, visto que partidos não representam idéias, mas interesses de grupos, e servem apenas para encobrir o oportunismo político de bandidos. Não obstante, seguimos o caminho da direita. Semitam rectam.
"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)
"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário